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vigor da paixão, a intensidade com que exprime o amor,

como desejo, frêmito, encantamento da alma e do


corpo, superando completamente o negaceio de Casimiro
de Abreu, a esquivança de Álvares de Azevedo, o
desespero acuado de Junqueira Freire. A grande e
fecundante paixão por Eugênia Câmara percorreu-o como
corrente elétrica, reorganizando-lhe a personalidade,
inspirando alguns dos seus mais belos poemas de
Antologia de poesia brasileira: Romantismo esperança, euforia, desespero, saudade. Outros amores e
encantamentos constituem o ponto de partida igualmente
CASTRO ALVES concreto de outros poemas.
Gênero: Poesia Enquanto poeta social, extremamente sensível às
Estilo: Romantismo inspirações revolucionárias e liberais do século XIX,
Castro Alves viveu com intensidade os grandes
Autor: Castro Alves (Antônio Frederico de Castro Alves), episódios históricos do seu tempo e foi, no Brasil, o
poeta, nasceu em Muritiba, BA, em 14 de março de 1847, e anunciador da Abolição e da República, devotando-se
faleceu em Salvador, BA, em 6 de julho de 1871. É o apaixonadamente à causa abolicionista, o que lhe valeu
patrono da Cadeira nº 7. Era filho do médico Antônio José a antonomásia de "Cantor dos escravos". A sua poesia
Alves, mais tarde professor na Faculdade de Medicina de se aproxima da retórica, incorporando a ênfase oratória à
Salvador, e de Clélia Brasília da Silva Castro, falecida sua magia. No seu tempo, mais do que hoje, o orador
quando o poeta tinha 12 anos. Por volta de 1853, ao mudar- exprimia o gosto ambiente, cujas necessidades estéticas e
se com a família para a capital, estudou no colégio de Abílio espirituais se encontram na eloquência dos poetas. O
César Borges, futuro barão de Macaúbas, onde foi colega negro, escravizado, misturado à vida cotidiana em posição
de Rui Barbosa, demonstrando vocação apaixonada e de inferioridade, não se podia elevar a objeto estético.
precoce para a poesia. Mudou-se em 1862 para o Recife, Surgiu primeiro à consciência literária como problema
onde concluiu os preparatórios e, depois de duas vezes social, e o abolicionismo era visto apenas como sentimento
reprovado, matriculou-se na Faculdade de Direito em 1864. humanitário pela maioria dos escritores que até então
Cursou o 1º ano em 65, na mesma turma que Tobias trataram desse tema. Só Castro Alves estenderia sobre o
Barreto. Logo integrado na vida literária acadêmica e negro o manto redentor da poesia, tratando-o como herói,
admirado graças aos seus versos, cuidou mais deles e dos como ser integralmente humano.
amores que dos estudos. Em 66, perdeu o pai e, pouco
depois, iniciou a apaixonada ligação amorosa com Eugênia I. Poesia condoreira ou condoreirismo: o condoreirismo
Câmara, que desempenhou importante papel em sua lírica e foi um momento da literatura romântica em que os poetas
em sua vida. Nessa época Castro Alves entrou numa fase passaram a se preocupar com questões sociais,
de grande inspiração e tomou consciência do seu papel de abolicionistas e republicanas. Foi uma poesia mais
poeta social. Escreveu o drama Gonzaga e, em 68, vai para engajada e que propunha uma boa dose de espírito
o Sul em companhia da amada, matriculando-se no 3º ano libertário, por isso o símbolo do Condor para a geração.
da Faculdade de Direito de São Paulo, na mesma turma de Esta geração também pode ser chamada de Hugoana,
Rui Barbosa. No fim do ano o drama é representado com devido à influência estética do escritor francês Victor Hugo.
êxito enorme, mas o seu espírito se abate pela ruptura com As características principais são:
Eugênia Câmara. Durante uma caçada, a descarga • Poesia de cunho social
acidental de uma espingarda lhe feriu o pé esquerdo, que, • Poesia de cunho libertário
sob ameaça de gangrena, foi afinal amputado no Rio, em • Tematizava a questão abolicionista
meados de 69. De volta à Bahia, passou grande parte do • Uso comum de hipérboles e visão grandiosa da vida
ano de 70 em fazendas de parentes, à busca de melhoras • Uso de palavras grondiloquentes
para a saúde comprometida pela tuberculose. Em
novembro, saiu seu primeiro livro, Espumas flutuantes, Era um sonho dantesco!... tombadilho
único que chegou a publicar em vida, recebido muito Que das luzernas avermelho o brilho,
favoravelmente pelos leitores. Em sangue o se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite... Legiões de homens
O ROMANTISMO NO BRASIL teve início em 1836, com a negros como a noite
publicação da obra “Suspiros Poéticos e Saudades”, de Horrendos a dançar...
Gonçalves de Magalhães. O movimento esteve dividido em Negras mulheres, suspendendo as tetas
três períodos, a saber: Magras crianças, cujas bocas pretas
Primeira Geração: no contexto pós independência do país, Rega o sangue das mães:
a primeira geração esteve marcada pelo binômio Outras, moças, mas nuas e espantadas,
“nacionalismo-indianismo”. No turbilhão de espectros arrastadas,
Segunda Geração: é chamada de “Mal do Século” ou Em ânsia e mágoas vãs!
“Ultrarromantismo” e recebeu grande influência do poeta E rir-se a orquestra irônica, estridente...
inglês Lord Byron. E da ronda fantástica a serpente
Terceira Geração: chamada de “Condoreirismo” ou Faz doudas espirais...
“Geração Condoreira”, essa fase foi influenciada pela poesia Se o velho arqueja... se no chão resvala,
social do poeta francês Victor Hugo é também considerada Ouvem-se gritos... o chicote estala
pré-realista. E voam mais e mais...
Preso nos elos de uma só cadeia,
A obra: Duas vertentes se distinguem na poesia de Castro A multidão faminto cambaleia
Alves: a feição lírico-amorosa, mesclada da sensualidade E chora e dança ali...
de um autêntico filho dos trópicos, e a feição social e Um de raiva delira, outro enlouquece...
humanitária, em que alcança momentos de fulgurante Outro, que de martírios embrutece,
eloquência épica. Como poeta lírico, caracteriza-se pelo Cantando, geme e ri...
No entanto o capitão manda a manobra. admirador, levando-nos a crer que o encontro amoroso foi
E após fitando o céu que se desdobra realmente consumado.
Tão puro sobre o mar, TESTES:
Diz do fumo entre os densos nevoeiros; 1 – Enquadram-se os três sonetos em distintos Movimentos
"Vibrai o rijo chicote, marinheiros! Literários. Leia-os e analise-os
Fazei-os mais dançar!...”
E ri-se o orquestra irônica, estridente... Poema 1
E da ronda fantástica a serpente Já da morte o palor me cobre o rosto,
Faz doudas espirais... Nos lábios meus o alento desfalece,
Qual num sonho dantesco as sombras voam!... Surda agonia o coração fenece,
Gritos, ais, maldições, preces ressoam! E devora meu ser mortal desgosto!
E ri-se satanás!...
Senhor Deus dos desgraçados! Do leito embalde no macio encosto
Dizei-me vos. Senhor Deus! Tento o sono reter!… já esmorece
Se é loucura... se é verdade O corpo exausto que o repouso esquece…
Tanto horror perante os céus... Eis o estado em que a mágoa me tem posto!
Ó mar! por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Do teu manto este borrão?... Fazem que insano do viver me prive
Astros! noites! tempestades! E tenha os olhos meus na escuridade.
Rolai das imensidades!
Varrei os mares,tufão! Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos por piedade,
"O Navio Negreiro” é um poema épico dramático que Olhos por quem viveu quem já não vive!
integra a obra “Os Escravos” e junto com “Vozes d’África”, (Álvares de Azevedo, Lira dos 20 anos)
da mesma obra, vem a ser uma das principais realizações
épicas de Castro Alves. Poema 2
O tema de "O Navio Negreiro" é a denúncia da escravidão e
do transporte de negros para o Brasil. Faz uma recriação A Morte
poética das cenas dramáticas do transporte de escravos Oh! a jornada negra! A alma se despedaça...
nos porões dos navios negreiros, valendo-se em grande Tremem as mãos... O olhar, molhado e ansioso, espia,
parte dos relatos de escravos com quem conviveu na Bahia E vê fugir, fugir a ribanceira fria
quando menino. Por onde a procissão dos dias mortos passa.

II- Lírica amorosa: Casto Alves foi também o grande poeta No céu gelado expira o derradeiro dia,
do amor. Embora a poesia lírica amorosa ainda contenha Na última região que o teu olhar devassa!
um ou outro vestígio do amor platônico e da idealização da E só, trevoso e largo, o mar estardalhaça
mulher, de modo geral ela representa um avanço, por ter No indizível horror de uma noite vazia...
abandonado tanto o amor convencional e abstrato dos
clássicos quanto o amor cheio de medo e culpa dos Pobre! por que, a sofrer, a leste e a oeste, ao norte
primeiros românticos. Sua poesia amorosa é sensual, E ao sul, desperdiçaste a força de tua alma?
descrevendo a beleza e a sedução da mulher. O amor é Tinhas tão perto o Bem, tendo tão perto a Morte!
uma experiência viável e concreta, capaz de trazer tanto a
felicidade e o prazer quanto a dor. Paz à tua ambição! paz à tua loucura!
A conquista melhor é a conquista da Calma:
Marieta - Conquistaste o país do Sono e da Ventura!
Como o gênio da noite, que desata (Olavo Bilac)
o véu de rendas sobre a espada nua,
ela solta os cabelos... bate a lua Poema 3
nas alvas dobras de um lençol de prata.
A Morte
O seio virginal que a mão recata, Oh! que doce tristeza e que ternura
embalde o prende a mão... cresce, flutua... No olhar ansioso, aflito dos que morrem…
Sonha a moça ao relento... Além na rua De que âncoras profundas se socorrem
preludia um violão na serenata. Os que penetram nessa noite escura!

Furtivos passos morrem no lajedo... Da vida aos frios véus da sepultura


Resvala a escada do balcão discreta... Vagos momentos trêmulos decorrem…
matam lábios os beijos em segredo... E dos olhos as lágrimas escorrem
Como faróis da humana Desventura.

Afoga-me os suspiros, Marieta! Descem então aos golfos congelados


Oh surpresa! Oh! Palor! Oh! Pranto! Oh! Medo! Os que na terra vagam suspirando,
Ai! Noites de Romeu e Julieta!... Com os velhos corações tantalizados.

Por meio da mesma, percebemos a figura feminina Tudo negro e sinistro vai rolando
denotando um amor mais real, despertando a sensualidade Báratro a baixo, aos ecos soluçados
e a concretização do contato físico. Diferente das donzelas Do vendaval da Morte ondeando, uivando…
virginais e inacessíveis representadas pela segunda (Cruz e Sousa)
geração, a mulher se entrega aos encantos de seu
A leitura dos poemas comprova que o tema da morte tanto
quanto o tema do amor estão presentes em textos de todos
os movimentos literários e em produção de diferentes
poetas. Nos três poemas, o tema da morte é ponto
fundamental. Sobre isso, assinale a alternativa CORRETA.
a) Álvares de Azevedo, em diversos poemas, ao falar da
morte, tema pelo qual tem certa obsessão, usa
constantemente a palavra palor, cujo sentido cromático
se refere à palidez mórbida da morte, característica da
poesia desse autor.
Eugéne Delacroix. Grécia sobre as ruínas de Missolonghi. 1826.
b) Olavo Bilac toma a morte muito poucas vezes como .
tema, ainda que, ao fazê-lo, cria um eu lírico despojado de Imagem 2
tom confessional, próprio do Romantismo, mantendo
assim imparcialidade e impessoalidade.
c) O poema 3 apresenta elementos cromáticos e
sinestésicos, tais como doce tristeza e noite escura.
Contudo, embora seu tema seja a morte, o autor não utiliza
esse vocábulo, substituindo-o por metáforas, o que é
próprio daqueles que fazem parte do parnaso.
Victor Meirelles. A batalha dos Guararapes, 1879
d) Há, no poema 2, determinados elementos que revelam, à
semelhança do 3, preocupação com os aspectos formais,
Imagem 3
aproximando-os do Classicismo e do Arcadismo.
e) Existe uma ordem sequencial dos poemas que permite
ao leitor relacioná-los ao Simbolismo, Romantismo e
Parnasianismo. Dessa forma, pode-se afirmar que o poema
1 é simbolista, pois apresenta um discurso de cunho
confessional, peculiar a esse Movimento Literário.

2. Em relação à produção literária de Gonçalves Dias e


Castro Alves, ambos preocupados, em suas temáticas,
com a problemática das etnias, que determina o homem Thédore Géricault. A balsa da medusa. 1818.
brasileiro como ser culturalmente híbrido, analise as Imagem 4
afirmativas e coloque V nas Verdadeiras e F nas Falsas.
( ) A poética de Gonçalves Dias trata do homem indígena
em sua essência, apresentando-o integrado aos aspectos
culturais de seu grupo.
( ) A poética de Castro Alves toma como princípio a defesa
dos negros, escravos que eram vendidos aos colonos no
Brasil para serem explorados pelos senhores,
principalmente no plantio da cana e no fabrico do açúcar.
( ) Tanto Gonçalves Dias quanto Castro Alves ficaram
alheios às questões históricas brasileiras, pois José Maria de Medeiros. Iracema. 1881.
produziram poemas de tonalidade épica, embora neles não
fossem contempladas as temáticas indígena e O Romantismo não é só um período literário, ele também é
abolicionista. um movimento que abarca as artes plásticas. Assim, analise
( ) Nos poemas líricos, eles exaltaram o sentimento as imagens a seguir.
amoroso de modo diversificado. Enquanto Gonçalves Dias Acerca dos textos acima, assinale com V as afirmativas
idealiza a imagem feminina, Castro Alves imprime-lhe um Verdadeiras e com F as Falsas.
sentido sensual, o que já prenuncia o movimento posterior (V) É possível afirmar que esses textos têm em comum
ao Romantismo. complexos valores ideológicos, próprios da expressão
( ) Na poesia condoreira de Castro Alves, o poeta descreve plástica romântica.
como os negros são desterritorializados, os maus-tratos que (V) A Imagem 1 expressa uma das temáticas do
sofrem nos navios negreiros e o modo como perdem a Romantismo, isto é, a liberdade contra a tirania.
liberdade ao serem vendidos como escravos aos senhores (V) A Imagem 2 dialoga com o Romantismo por tratar de
de engenho. uma temática cara aos românticos, que é a exaltação do
Analise a alternativa que contém a sequência CORRETA. passado histórico e de caráter nacionalista.
a) F - F - V - V - F (V) A Imagem 3 expressa, de forma dramática, a tragédia de
b) V - V - V - F - F um naufrágio. Nessa obra, é possível identificar uma das
c) F - V - F - V - V características do Romantismo, a hipervalorização dos
d) F - F - F - F - V sentimentos, tanto as do mundo físico natural como as
e) V - V - F - V – V emoções pessoais.
(F) A Imagem 4 dialoga com a obra de José de Alencar, O
Imagem 1 Uraguai, cuja protagonista é Iracema.
A sequência CORRETA, de cima para baixo é:
a) V-V-V-V-F b) F-F-V-V-F c) F-V-V-F-F

d) V-V-V-F-V e) V-F-V-F-V

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