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Acordo de não persecução penal: aspectos controversos

Carlos Eduardo Carvalho Pinho Tavares1

Sumário: 1 Introdução; 2 Breve histórico do TNPP; 3


Da Decisão paradigma; 3.1 Revisão da jurisprudên-
cia; 4 Entendimento doutrinário; 5 Normas que regu-
lamentam o TNPP; 6 Análise crítica; 7 Conclusão. Re-
ferências

1 - INTRODUÇÃO
Primeiramente, imperioso destacar que o Acordo de Persecução Penal (ANPP) trata-
se de uma modalidade extrajudicial de resolução consensual de conflitos, na área criminal.
Ou seja, é um acordo entre o Ministério Público e o acusado, ainda na fase pré-processual,
que possibilita o não oferecimento da denúncia e, consequentemente, a não abertura da ação
penal, caso sejam cumpridos requisitos que serão discutidos em outro tópico.
O presente trabalho tem por objetivo a análise dos aspectos controversos do
instituto do Acordo de Não Persecução Penal, previsto no artigo 28-A do Código de
Processo Penal brasileiro, com redação dada pela Lei Federal nº 13.9642, de 24 de
dezembro de 2019, chamada de “Pacote Anticrime”.
Através de ampla pesquisa jurisprudencial perante o Supremo Tribunal Federal
e demais tribunais brasileiros. Serão identificados o entendimento majoritário e as de-
cisões divergentes dos tribunais superiores, bem como a decisão paradigma, as teses
e argumentos que foram discutidos e a aplicação da decisão nos demais tribunais.
Em seguida serão demonstrados os diferentes entendimentos doutrinários e as
possíveis correntes de pensamentos - baseados em obras de grandes autores -, bem
como será feita a análise da legislação aplicável ao caso em estudo, à luz do ordena-
mento jurídico pátrio.

1Graduado em Direito pela PUC Minas. Pós Graduando em Direito Processual pela PUC Minas Virtual.
Advogado no escritório Humberto & Francisco Advogados e Consultores.
E-mail: carlos.eduardo@humbertoefrancisco.adv.br

2BRASIL. Lei Federal nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019. Disponível em: http://www.pla-


nalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13964.htm Acesso em 01 jan. 2022.
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Por fim, serão apresentadas a análise crítica e a conclusão do que foi demons-
trado ao longo do desenvolvimento do trabalho, permitindo ao leitor identificar o posi-
cionamento do autor em relação ao Acordo de Não Persecução Penal.

2 – BREVE HISTÓRICO DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL


A lei 13.964/2019, que instituiu o Acordo de Não Persecução Penal (ANPP),
modificando o art. 28 e incluindo o art. 28-A, ambos do Código de Processo Penal
(CPP), é nova, entrando em vigência em 24 de dezembro de 2019, conforme dito
alhures. Porém, o instituto do ANPP já era previsto e aplicado, desde de 2017, nos
termos do art. 18 da Resolução nº 181/20173 do Conselho Nacional do Ministério Pú-
blico (CNMP) – que dispõe sobre instauração e tramitação do procedimento investi-
gatório criminal a cargo do Ministério Público -, modificado pela Resolução nº
183/2018, da mesma instituição.
Vejamos o que dizia o artigo 18 da resolução 181/2017 (com as modificações
da resolução 183/2018):

Art. 18. Não sendo o caso de arquivamento, o Ministério Público poderá pro-
por ao investigado acordo de não persecução penal quando, cominada pena
mínima inferior a 4 (quatro) anos e o crime não for cometido com violência ou
grave ameaça a pessoa, o investigado tiver confessado formal e circunstan-
ciadamente a sua prática, mediante as seguintes condições, ajustadas cumu-
lativa ou alternativamente:
I – reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, salvo impossibilidade de fazê-
lo;
II – renunciar voluntariamente a bens e direitos, indicados pelo Ministério Pú-
blico como instrumentos, produto ou proveito do crime;
III – prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período cor-
respondente à pena mínima cominada ao delito, diminuída de um a dois ter-
ços, em local a ser indicado pelo Ministério Público
IV – pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do
Código Penal, a entidade pública ou de interesse social a ser indicada pelo
Ministério Público, devendo a prestação ser destinada preferencialmente
àquelas entidades que tenham como função proteger bens jurídicos iguais ou
semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito;
V – cumprir outra condição estipulada pelo Ministério Público, desde que pro-
porcional e compatível com a infração penal aparentemente praticada.
§ 1º Não se admitirá a proposta nos casos em que:
I – for cabível a transação penal, nos termos da lei;
II – o dano causado for superior a vinte salários mínimos ou a parâmetro eco-
nômico diverso definido pelo respectivo órgão de revisão, nos termos da re-
gulamentação local;
III – o investigado incorra em alguma das hipóteses previstas no art. 76, § 2º,
da Lei nº 9.099/95;

3 BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público. Resolução n. 181 de 7 ago. 2017. Dispõe sobre
instauração e tramitação do procedimento investigatório criminal a cargo do Ministério Público.
Disponível em: https://www.cnmp.mp.br/portal/atos-e-normas-busca/norma/5277 Acesso em: 01 jan.
2022.
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IV – o aguardo para o cumprimento do acordo possa acarretar a prescrição


da pretensão punitiva estatal;
V – o delito for hediondo ou equiparado e nos casos de incidência da Lei nº
11.340, de 7 de agosto de 2006
VI – a celebração do acordo não atender ao que seja necessário e suficiente
para a reprovação e prevenção do crime.
§ 2º A confissão detalhada dos fatos e as tratativas do acordo serão registra-
dos pelos meios ou recursos de gravação audiovisual, destinados a obter
maior fidelidade das informações, e o investigado deve estar sempre acom-
panhado de seu defensor.
§ 3º O acordo será formalizado nos autos, com a qualificação completa do
investigado e estipulará de modo claro as suas condições, eventuais valores
a serem restituídos e as datas para cumprimento, e será firmado pelo membro
do Ministério Público, pelo investigado e seu defensor.
§ 4º Realizado o acordo, a vítima será comunicada por qualquer meio idôneo,
e os autos serão submetidos à apreciação judicial.
§ 5º Se o juiz considerar o acordo cabível e as condições adequadas e sufi-
cientes, devolverá os autos ao Ministério Público para sua implementação.
§ 6º Se o juiz considerar incabível o acordo, bem como inadequadas ou insu-
ficientes as condições celebradas, fará remessa dos autos ao procurador-
geral ou órgão superior interno responsável por sua apreciação, nos termos
da legislação vigente, que poderá adotar as seguintes providências:
I – oferecer denúncia ou designar outro membro para oferecê-la;
II – complementar as investigações ou designar outro membro para comple-
mentá-la;
III – reformular a proposta de acordo de não persecução, para apreciação do
investigado;
IV – manter o acordo de não persecução, que vinculará toda a Instituição.
§ 7º O acordo de não persecução poderá ser celebrado na mesma oportuni-
dade da audiência de custódia.
§ 8º É dever do investigado comunicar ao Ministério Público eventual mu-
dança de endereço, número de telefone ou e-mail, e comprovar mensalmente
o cumprimento das condições, independentemente de notificação ou aviso
prévio, devendo ele, quando for o caso, por iniciativa própria, apresentar ime-
diatamente e de forma documentada eventual justificativa para o não cumpri-
mento do acordo
§ 9º Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo ou não
observados os deveres do parágrafo anterior, no prazo e nas condições es-
tabelecidas, o membro do Ministério Público deverá, se for o caso, imediata-
mente oferecer denúncia.
§ 10 O descumprimento do acordo de não persecução pelo investigado tam-
bém poderá ser utilizado pelo membro do Ministério Público como justificativa
para o eventual não oferecimento de suspensão condicional do processo.
§ 11 Cumprido integralmente o acordo, o Ministério Público promoverá o ar-
quivamento da investigação, nos termos desta Resolução.
§ 12 As disposições deste Capítulo não se aplicam aos delitos cometidos por
militares que afetem a hierarquia e a disciplina.
§ 13 Para aferição da pena mínima cominada ao delito, a que se refere o
caput, serão consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao
caso concreto.

Com uma breve leitura do artigo alhures, surge a primeira discussão: é da com-
petência do CNMP editar normas de conteúdo penal e processual penal? A resolução
181 do CNMP é formal e materialmente constitucional?
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Justamente, a discussão da constitucionalidade da resolução 181 foi parar no


Supremo Tribunal Federal (STF), através das ADI’s 57904 e 57935, opostas pela As-
sociação de Magistrados do Brasil (AMB), e pelo Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil (CFOAB), respectivamente.
Resumidamente, a ADI 5790 foi ajuizada, inicialmente, em face da integralidade
da Resolução 181, momento em que a AMB sustentou que o CNMP, ao disciplinar o
procedimento investigatório criminal, violou o princípio da reserva legal (inconstitucio-
nalidade material), previsto no artigo 5°, inciso II6, da Constituição da República Fe-
derativa do Brasil, de 1988 (CRFB/88). A AMB alegou ainda que a resolução 181
ofenderia a competência exclusiva da União para legislar sobre direito penal e proces-
sual penal, mandamento expresso no art. 22, inciso I7 da CRFB/88, incorrendo, tam-
bém, em inconstitucionalidade formal. A ADI 5793 tinha praticamente o mesmo objeto
e, desse modo, desnecessário tecer maiores comentários.
Correta está a interpretação da inconstitucionalidade do art. 18 da resolução
181/2017 do CNMP, feita pela AMB e pela OAB. Entendemos no mesmo sentido, haja
vista a clareza da CRFB/88, especificamente do inciso I do art. 22, que prevê a com-
petência privativa da União para legislar sobre direito penal e processual “penal”.
Nota-se, indiscutivelmente, a necessidade de o Congresso Nacional editar uma
lei que viesse a dar ares constitucionais para o ANPP, incluindo-o no rol dos disposi-
tivos do CPP. É neste momento que “nasce” o Projeto de Lei nº 10.372/20188, dando
origem à Lei nº 13.964/2019, que modificou o artigo 28 e incluiu o artigo 28-A ao CPP,
dando a “roupagem” de lei infraconstitucional ao ANPP. A resolução 181/2017 do
CNMP, automaticamente foi tacitamente revogada.

4BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Processo Penal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5790,
Brasília, 06 de outubro de 2017. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?inci-
dente=5283027 Acesso em: 01 jan. 2022.

5BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Processo Penal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5793,
Brasília, 13 de outubro de 2017. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?inci-
dente=5288159 Acesso em: 01 jan. 2022.

6 “Art. 5° Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade. nos lermos seguintes: (...)
II - ninguém será obrigado afazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei:"
7 Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do
trabalho;

8BRASIL. Projeto de Lei nº 10.372, de 06 de junho de 2018. Disponível em: https://www.ca-


mara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2178170 Acesso em: 01 jan. 2022.
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Vale lembrar que a Lei 13.964/2019 manteve os requisitos e as condições para


celebração do ANPP, bem como as vedações, havendo poucas alterações de ordem
textual, porém o sentido é o mesmo.
Ocorre que, como toda lei que passa a formalmente fazer parte do ordena-
mento jurídico, problemas surgem na aplicabilidade da norma. Sobretudo as leis penal
e processual penal, que enfrentam a retroatividade benéfica ao réu (novatio legis in
mellius), e a aplicação da lei vigente ao tempo do fato (tempus regit actum), respecti-
vamente.
E foi exatamente a discussão da aplicação da norma no tempo que chegou à
Primeira Turma do STF, através do Agravo Regimental no Habeas Corpus nº 191.464/
SC9, de relatoria do Eminente Ministro Roberto Barroso, no qual foi requerida anula-
ção da decisão do STJ que indeferiu o recurso especial com o argumento de que a
decisão de primeira instância estava em desacordo com a nova sistemática do ANPP.

3 – DA DECISÃO PARADIGMA
O Agravo Regimental no Habeas Corpus nº 191.464/ SC, evidencia-se como
sendo a Decisão Paradigma, da qual foi dado um norte, uma direção a seguir pelos
tribunais estaduais e federais, no tocante à retroatividade da aplicação do artigo 28-
A do CPP, a partir da sua vigência em 24 de dezembro de 2019. A questão era sa-
ber em qual momento o ANPP poderia ser aplicado aos processos iniciados antes
da entrada em vigor da Lei 13.964/2019.
Resumindo o caso que deu origem ao HC 191.464 AGR/ SC, o réu foi conde-
nado em 1ª instância, pela prática dos crimes do art. 1°, I e II, c/c o art. 12, I, da Lei
8.137/9010, à pena de reclusão por 4 anos, 5 meses e 10 dias. Em sede de apela-
ção, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina confirmou a sentença condenatória. Ir-
resignado, o réu interpôs recurso especial ao STJ, o qual foi inadmitido na origem.

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STF. Agravo Regimental no Habeas Corpus nº 191.464/ SC. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/pa-
ginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=754484857 Acesso em: 01 jan. 2022.

10 Lei 8.137/90. Define crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo,
e dá outras providências.
Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e
qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;
II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer
natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;
Art. 12. São circunstâncias que podem agravar de 1/3 (um terço) até a metade as penas previstas nos
arts. 1°, 2° e 4° a 7°:
I - ocasionar grave dano à coletividade;
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Sendo assim, foi interposto Habeas Corpus perante ao STF contra a decisão
do Ministro Roberto Barroso, que negou seguimento ao HC, com base no art. 21,
§1º, do RI/STF, que versa sobre as regras que o relator deve seguir para negar se-
guimento aos HC’s sob seu julgamento.
Ao ter seu Habeas Corpus negado, o réu interpôs o referido Agravo Regimen-
tal. Extrai-se do relatório dos autos do HC 191464 AGR / SC:

“a parte agravante aduz que a decisão impugnada não está alinhada com o
entendimento mais recente do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tri-
bunal de Justiça (STJ). Nesse sentido, alega que a Sexta Turma do STJ en-
tende que “a norma em discussão é de natureza mista e mais benéfica ao réu
e deve retroagir em seu benefício em processos não transitados em julgado”.
Sustenta que o HC 191.464, Rel. Min. Gilmar Mendes, que trata da mesma
matéria, foi remetido para deliberação do Plenário, o que torna “justo que o
processamento da ação penal na origem seja suspenso”. Com essas consi-
derações, a defesa requer a nulidade da decisão proferida pelo STJ e a “sus-
pensão do processamento da Ação Penal n. 0008918-31.2012.8.24.0033 até
o julgamento final do HC 185.913/DF pelo Plenário desse Supremo Tribunal
Federal”.

Extrai-se do voto do Relator nos autos do HC 191464 AGR / SC:

“Inicialmente, indefiro o pedido de suspensão do habeas corpus até que haja


o julgamento do HC 185.913, Rel. Min. Gilmar Mendes. Não obstante a rele-
vância dos argumentos para que Sua Excelência afete o julgamento daquele
caso ao Plenário do Supremo Tribunal Federal (decisão monocrática de
23.09.2020), não há previsão legal que impeça o andamento de outros pro-
cessos. Atenho-me à celeridade com que devem ser julgados os habeas cor-
pus, como é o presente.
Quanto à pretensão recursal, a parte recorrente não trouxe novos argumentos
suficientes para modificar a decisão ora agravada.
Em essência, a decisão monocrática negou seguimento ao habeas corpus
porque: (i) o acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) está
alinhado com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) no sentido
de que, em princípio, “é incabível recurso contra decisão que não possui con-
teúdo decisório nem se reveste de lesividade”; e (ii) as peças que instruem a
impetração não evidenciam ilegalidade flagrante ou abuso de poder capaz de
justificar o imediato acolhimento da pretensão defensiva.
Discute-se a possibilidade de iniciar tratativas sobre o acordo de não
persecução penal (ANPP), a pedido da defesa, em processo em curso.
No caso, já havia sentença penal condenatória contra o paciente, con-
firmada em segundo grau e pelo próprio STJ, à época em que entrou em
vigor a Lei nº 13.964/2019.
Ao assentar a inadmissibilidade da pretensão defensiva, apoiei-me em enten-
dimento exposto pelos eminentes Min. Marco Aurélio no ARE 1171894 e Min.
Cármen Lúcia no HC 186.289.
(...)
A Lei nº 13.964/2019, no ponto em que institui o ANPP, pode ser consi-
derada lei penal de natureza híbrida: (i) tem natureza processual por es-
tabelecer a possibilidade de composição entre as partes com o fim de
evitar a instauração da ação penal; e (ii) tem natureza material em razão
da previsão de extinção da punibilidade de quem cumpre os deveres
estabelecidos no acordo (art. 28-A, § 13, do Código de Processo Penal
– CPP).
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Para leis penais materiais, a Constituição prevê a retroatividade penal


benéfica nos seguintes termos: “a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu” (art. 5º, XL). A garantia foi também assegurada no art.
2º, parágrafo único, do Código Penal. Por outro lado, para leis penais
processuais, a regra é a aplicação imediata, ressalvando-se a validade
de atos anteriores, conforme art. 2º do CPP (tempus regit actum).
(...)
A hipótese cuida da possibilidade de se instaurar a discussão sobre o ANPP
no curso do processo. Argumenta-se, com base na retroatividade penal be-
néfica, que o acordo deve ser viabilizado mesmo depois de recebida a de-
núncia, proferida sentença, em fase recursal e até mesmo depois do trânsito
em julgado.
(...)
A leitura do art. 28-A do CPP evidencia que a composição se esgota na
fase anterior ao recebimento da denúncia. Não apenas porque o dispo-
sitivo refere investigado (e não réu) ou porque aciona o juiz das garan-
tias (que não atua na instrução processual), mas sobretudo porque a
consequência do descumprimento ou da não homologação é especifi-
camente inaugurar a fase de oferta e de recebimento da denúncia (art.
28-A, §§ 8º e 10).
(...) Dessa forma, o ANPP não se conforma com a instauração da ação
penal, devendo ser estabelecido o ato de recebimento da denúncia
como marco limitador da sua viabilidade. Com efeito, a finalidade do
acordo é evitar que se inicie processo, razão pela qual, por consequên-
cia lógica, não se justifica discutir a composição depois de recebida a
denúncia. (Destaques nossos).

Numa verdadeira aula de direito penal e processual penal, o Ministro Roberto


Barroso indefere a suspensão do HC, inicialmente por não haver previsão legal para
suspensão no caso em tela e, sobretudo, para privilegiar o princípio da celeridade
processual, tão caro aos julgamentos de habeas corpus.
Quanto ao Agravo Regimental, os argumentos da defesa se prestavam a con-
seguir iniciar as tratativas sobre o ANPP com o processo já em curso. Ocorre que já
havia sentença condenatória, confirmada em segundo grau e pelo STJ.
Explica o Relator que o ANPP tem natureza híbrida, ou seja, elementos do di-
reito processual penal, pela possibilidade de composição entre as partes, com o fim
de evitar a instauração da ação penal; e elementos do direito penal, pela possibilidade
da extinção da punibilidade.
Nesse sentido, o Ministro Barroso fundamenta-se com base em três artigos
muito fortes no ordenamento jurídico, quais sejam, art. 5º, inciso XL, da CRFB/88; art.
2º, parágrafo único, do Código Penal; e art. 2º do Código de Processo Penal. A junção
dos referidos artigos forma a tríade que define a possibilidade de a lei retroagir em
benefício do réu.
E é exatamente nesse ponto que se discute a retroatividade da lei em benefício
do réu, haja vista sua hibridez com relação à lei penal. Mas até que parte do
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procedimento de persecução poderá a lei retroagir? Vejamos o que preveem os arti-


gos utilizados pelo Relator:
Art. 5º XL, CRFB/88 – “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”;
Art. 2º, parágrafo único, do Código Penal: “A lei posterior, que de qualquer
modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos
por sentença condenatória transitada em julgado”;
Art. 2º do Código de Processo Penal: “A lei processual penal aplicar-se-á
desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da
lei anterior”.
.
E é exatamente nesse ponto que se discute a retroatividade da lei em benefício
do réu, haja vista sua hibridez com relação à lei penal, bem como o aparente conflito
entre os citados artigos do Código Penal e do Código de Processo Penal. Mas até que
parte do procedimento de persecução poderá a lei retroagir?
Brilhantemente, ao lembrar que no caso em tela já havia sentença condenató-
ria, confirmada em 2ª instância e pelo STJ, o Relator esclarece que a possibilidade de
iniciar o ANPP se esgota com o recebimento da denúncia, e que o descumprimento
do acordo é justamente a fase em que se oferta e se recebe a denúncia, e, portanto,
o ato de recebimento da denúncia é o marco delimitador da viabilidade do acordo.
Nota-se que o ANPP é aplicado na fase pré-processual, não havendo que se
falar em violação do art. 2º, parágrafo único do CP, o qual prevê que a lei deve retro-
agir ainda que os fatos tenham sido decididos por sentença condenatória transitada
em julgado.
Nesse sentido, por unanimidade, a Primeira Turma seguiu o voto do Relator,
sedimentando a tese proposta pelo Ministro, assim ementada:

“A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos ter-


mos do voto do Relator, e fixou a seguinte tese: o acordo de não persecu-
ção penal (ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei nº 13.964/2019,
desde que não recebida a denúncia. Primeira Turma, Sessão Virtual de
30.10.2020 a 10.11.2020.” (Grifo e destaque nosso).

Percebe-se que a Primeira Turma, ao definir a referida tese, sedimentou o en-


tendimento de qual é o marco temporal da possibilidade do acusado se beneficiar do
Acordo de Não Persecução Penal, haja vista que a decisão deve ser seguida pelos
demais tribunais brasileiros a partir de sua publicação, em 10 de novembro de 2020,
privilegiando a segurança jurídica, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito.

3.1 - REVISÃO DA JURISPRUDÊNCIA


Interessante perceber que, não é de hoje, o Ministério Público incorre no erro
de, ao lançar suas resoluções, enunciados e portarias, acaba por “pesar a mão” no
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texto normativo, como se estivesse legislando ao invés de regulamentar. Assim foi


com a Resolução 181/ 2017, que foi contestada em sede de ADI, como foi também o
Enunciado 9811 da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Fede-
ral, que prevê o cabimento do oferecimento do ANPP no curso da Ação Penal. Evi-
dentemente que o STF enfrentou o tema. Vejamos:

Enunciado nº 98: É cabível o oferecimento de acordo de não persecução


penal no curso da ação penal, isto é, antes do trânsito em julgado, desde que
preenchidos os requisitos legais, devendo o integrante do MPF oficiante as-
segurar seja oferecida ao acusado a oportunidade de confessar formal e cir-
cunstancialmente a prática da infração penal, nos termos do art. 28-A do
CPP, quando se tratar de processos que estavam em curso quando da intro-
dução da Lei nº 13.964/2019, conforme precedentes, podendo o membro ofi-
ciante analisar se eventual sentença ou acórdão proferido nos autos confi-
gura medida mais adequada e proporcional ao deslinde dos fatos do que a
celebração do ANPP. Não é cabível o acordo para processos com sentença
ou acórdão após a vigência da Lei nº 13.964/2019, uma vez oferecido o ANPP
e recusado pela defesa, quando haverá preclusão.

O Relator, Ministro Edson Fachin, usou o mesmo entendimento da decisão pa-


radigma em alhures, para decidir contrariamente ao argumento da defesa, que se uti-
lizou do Enunciado 98 da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público
Federal, para tentar se valer do ANPP, mesmo após o oferecimento da denúncia, se-
não vejamos:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM


AGRAVO. MATÉRIA CRIMINAL. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PE-
NAL. INAPLICABILIDADE. JULGAMENTO MONOCRÁTICO PELO RELA-
TOR. POSSIBILIDADE. DEMONSTRAÇÃO DE REPERCUSSÃO GERAL.
DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL DESPRO-
VIDO. 1. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que o
acordo de não persecução penal (ANPP), introduzido pela Lei
13.964/2019, esgota-se na fase pré-processual, não sendo possível
aplicá-lo ao presente feito. Precedentes. 2. O relator pode decidir mono-
craticamente pedido ou recurso manifestamente inadmissível, improcedente,
prejudicado ou contrário à jurisprudência dominante ou a Súmula desta Corte,
nos termos do art. 557, caput, do CPC e do art. 21, § 1º, do RISTF. Prece-
dentes. 3. Nos termos da orientação firmada nesta Corte, cabe à parte recor-
rente demonstrar fundamentadamente a existência de repercussão geral da
matéria constitucional em debate no recurso extraordinário, mediante o de-
senvolvimento de argumentação que, de maneira explícita e clara, revele o
ponto em que a matéria veiculada no recurso transcende os limites subjetivos
do caso concreto do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico. 4.
Revela-se deficiente a fundamentação da existência de repercussão geral de
recurso extraordinário.

11MPF. 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal. Enunciado 98. Disponí-
vel em: http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/ccr2/enunciados Acesso em: 4 de jan. 2022.
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O que se restringe à alegação genérica de que a questão em debate é dotada


de repercussão geral. 5. Agravo regimental desprovido.12 (Grifos e destaques
nossos)

Percebe-se que a Suprema Corte firmou o entendimento para delimitar o marco


temporal do ANPP, haja vista que, do contrário, estaríamos diante de um acordo sem
limites, no qual o advogado do réu, diante de uma ação penal desfavorável ao seu
cliente, o invocaria para a seu benefício a qualquer tempo. Até porquê, antes da tese
firmada pelo STF, decisões quanto a possibilidade da aplicação do ANPP já com a
ação penal em curso eram tomadas.
Com relatoria do Eminente Desembargador, Carlos Eduardo Thompson Flores
Lenz, a 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4º Região decidiu, no julgamento
da Correição Parcial nº 5031486-65.2020.4.04.0000/RS13, que é possível o ofereci-
mento do ANPP nos processos em curso. Argumentou o Relator que “o oferecimento
de ANPP nos processos em cursos - inclusos aqueles já sentenciados e que se en-
contram perante os Tribunais em grau recursal - é fato excepcional que decorre de
uma interpretação sistemática e teleológica da legislação de regência que, rigorosa-
mente, visa a afastar da análise do Poder Judiciário aquelas condutas com menor
grau de reprovabilidade.”
O julgamento da referida correição no dia 09/07/2020, portanto, antes da tese
firmada pelo STF, que só permite a possibilidade do ANPP antes de oferecida a de-
núncia, julgada no dia 10/11/2020.
Ocorre que, no dia 15/07/2020, ou seja, pouquíssimos dias depois, a mesma
8ª Turma do TRF4, decidiu de maneira divergente, que o ANPP deveria ser oferecido
somente aos procedimentos de investigação que possuíam denúncia recebida,
quando do julgamento da Apelação Criminal nº 5015547-31.2019.4.04.7000/PR14.
Desta vez o Relator foi o Desembargador Leandro Paulsen.
Nota-se a importância da tese firmada pelo STF, de que “o acordo de não per-
secução penal (ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei nº 13.964/2019, desde

12STF - ARE: 1254952 SP 0000717-27.2009.4.03.6127. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/pagina-


dorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=758230790 Acesso em: 4 de jan. 2022.
13
TRF-4. Oitava Turma. COR: 5031486-65.2020.4.04.0000. Disponível em: https://trf-4.jusbra-
sil.com.br/jurisprudencia/886198866/correicao-parcial-turma-cor-50314866520204040000-5031486-
6520204040000/inteiro-teor-886198901 Acesso em: 4 de jan. 2022.

14 TRF-4. Oitava Turma. ACR: 5015547-31.2019.4.04.7000. Disponível em: https://trf-4.jusbra-


sil.com.br/jurisprudencia/876278076/apelacao-criminal-acr-50155473120194047000-pr-5015547-
3120194047000/inteiro-teor-876278110?ref=serp Acesso em: 4 de jan. 2022.
11

que não recebida a denúncia”, para solucionar e pacificar decisões tão conflitantes,
como as citadas da 8ª Turma do TRF4. Basta mudar a referência, ou seja, o Desem-
bargador, que a linha de raciocínio jurídico e a aplicação da mesma norma são dife-
rentes.
Entretanto, como estamos no Brasil, país no qual reina a insegurança jurídica,
em setembro de 2021, no julgamento do HC 185.913/DF15, o Ministro Gilmar Mendes
decidiu pelo cabimento do ANPP em casos em que o processo está em andamento,
mas ainda não transitados em julgado, mesmo se ausente confissão do réu até aquele
momento.
No caso em tela, o réu foi condenado a 1 ano, 11 meses e 10 dias, com base
no art. 33 da Lei de Drogas, após ser preso pelo porte de 26 gramas de maconha,
tendo a pena de reclusão convertida em restritiva de direitos.
O decano propôs tese divergente da decisão paradigma elencada no presente
artigo. A título de comparação, vejamos uma ao lado da outra:

Decisão Paradigma – Tese fixada pela 1ª Decisão Monocrática – Tese proposta pelo
Turma do STF. HC 191.464 AGR/ SC Min. Gilmar Mendes. HC 185.913/DF
“O acordo de não persecução penal (ANPP) “É cabível o acordo de não persecução penal em
aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei nº casos de processos em andamento (ainda não
13.964/2019, desde que não recebida a transitados em julgado) quando da entrada em
denúncia.” vigência da Lei 13.964/2019, mesmo se ausente
confissão do réu até aquele momento. Ao órgão
acusatório cabe manifestar-se motivadamente
sobre a viabilidade de proposta, conforme os re-
quisitos previstos na legislação, passível de con-
trole, nos termos do artigo 28-A, § 14, do CPP.”

Ora, se o Acordo de Não Persecução Penal é modalidade extrajudicial de re-


solução consensual de conflitos na área criminal – pré-processual -, entre o acusado
e o Ministério Público, não há que se falar na possibilidade do acordo em casos de
processo em andamento.
Ademais, a tese do Decano viola frontalmente o caput do art. 28-A, do CPP, ao
prever a desnecessidade da confissão do réu, haja vista que se trata de um dos re-
quisitos previsto para a concessão do acordo, assim como o caso não ser de

15 STF. Decisão monocrática. Gilmar Mendes. HC 185.913/DF. Disponível em: https://www.con-


jur.com.br/dl/voto-gilmar-anpp.pdf Acesso em: 5 de jan. 2022.
12

arquivamento, não ter o acusado se utilizado de violência ou grave ameaça, e a pena


mínima ser inferior a 4 anos.
Portanto, a tese firmada pela 1ª Turma do STF, com decisão colegiada unânime
(Ministros Rosa Weber, Marco Aurélio, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Alexandre
de Moraes), é a mais adequada, haja vista não violar a previsão legal, respeitando os
requisitos e o marco temporal do acordo. Nos basta saber como o Plenário do Su-
premo irá decidir a divergência de interpretação.

4 - ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO
Um aspecto absolutamente relevante sobre o ANPP, que gera enorme diver-
gência doutrinária é, se preenchidos os requisitos que o autoriza, se o acordo seria
direito subjetivo do acusado, ou seria discricionariedade do Ministério Público, haja
vista que o legislador foi omisso neste ponto.
Américo Bedê Freire Junior16 defende que o oferecimento do ANPP, preenchi-
dos todos os requisitos que o art. 28-A do CPP exige, é direito subjetivo do acusado.
Da mesma forma entende Aury Lopes Junior. O renomado autor completa sua tese
discordando do §14, do art. 28-A, do CPP, que prevê a negativa de proposta do acordo
pelo MP. Para ele, a negativa do ANPP e a consequente remessa para revisão no
órgão superior do MP, permite a manutenção da decisão denegatória, ou que outro
membro firme o acordo. Ou seja, pode tomar rumos diversos à homologação do
acordo.
Interessante destacar que o ANPP tem natureza jurídica idêntica à suspensão
condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei 9.099/95. Nesse sentido, Aury Lo-
pes Junior afirma que há a obrigatoriedade de o parquet oferecer o acordo:

É importante sublinhar que, presentes os pressupostos legais, não poderá o


Ministério Público deixar de oferecer a suspensão condicional do processo,
que poderá ser aceita ou não pelo réu. Não se pode esquecer que a medida
insere-se na lógica do consenso, não apenas no sentido de que o réu não é
obrigado a aceitar a proposta, mas também na perspectiva de que poderá
negociar a duração e demais condições. 17

16JUNIOR, Américo Bedê Freire. O Acordo de Não Persecução Penal: Permissões e Vedações. In:
Acordo de não Persecução Penal, Cunha, Rogério Sanches e outros, 2ª ed. Salvador: ed. JusPodivum,
2019, p. 336.
17 LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal. 17ª ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 1209.
13

Corroborando com a corrente doutrinária que, no mesmo sentido da suspensão


condicional, o acordo de não persecução penal é direito subjetivo do acusado, discorre
Nereu Giacomolli:

(...) presentes os pressupostos legais, a previsão abstrata se converte numa


obrigatoriedade. E, ainda que presentes os requisitos legais, o acusador está
obrigado a negociar a suspensão condicional do processo. Devendo, nas in-
frações de médio potencial ofensivo, motivar sua negativa. 18

Augusto Resende vai além. O autor delineia o ANPP como direito constitucional
de locomoção, uma vez que o acordo é capaz de afastar a pena de prisão, quando
preenchidos os seus requisitos e, por isso, o considera direito subjetivo do acusado:
(...) a esfera normativa do art. 5º, inciso XV, da Carta Constitucional de 1988
abrange o benefício legal do “Acordo de Não Persecução Penal”, na medida
em que se trata de instrumento despenalizador, impeditivo da persecução
penal em juízo e, desse modo, obstante da imposição da pena privativa de
liberdade. O instituto amplia a esfera de proteção da liberdade de locomoção
da pessoa, conferindo-lhe obstáculos ou guard rails ao seu cercamento em
virtude da prática de crime sem violência ou grave ameaça e com pena mí-
nima inferior a quatro anos.19

Na esteira dos direitos fundamentais e, usando como pano de fundo a recusa


do MP em aplicar o ANPP, Resende traz à baila o direito internacional para afirmar
que o acordo deve ser preservado pelo poder judiciário, por meio do habeas corpus,
interposto pelo defensor do acusado, diante de possíveis arbitrariedades cometidas
pela autoridade acusatória. In verbis:

Negar a possibilidade de controle jurisdicional à recusa do Ministério Público


caracteriza, inclusive, ilícito internacional da República Federativa do Brasil,
ante a clara violação ao direito humano à proteção judicial, positivado no art.
25 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, que diz que toda pes-
soa tem direito a um recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais compe-
tentes, que a projeta contra atos que violem seus direitos fundamentais reco-
nhecidos pela Constituição, pela lei ou pelo próprio Pacto de San José da
Costa Rica, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que este-
jam atuando no exercício de suas funções oficiais, o que é o caso dos mem-
bros do Ministério Público brasileiro.20

18 GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados Especiais Criminais – Lei 9.099/95. 3ª ed. Porto Alegre: Livra-
ria do Advogado. 2009, p. 192.

19 RESENDE, Augusto César Leite de. Direito (Subjetivo) ao Acordo de Não Persecução Penal e
Controle Judicial: Reflexões à Luz da Teoria dos Direitos Fundamentais. Revista Brasileira de Direito
Processual Penal, Porto Alegre, v. 6, n. 3, p. 1543 – 1582, set.-dez. 2020. P. 1555.
20 Ibidem, P. 1570 – 1571.
14

Nota-se que a corrente que considera o Acordo de Não Persecução Penal di-
reito subjetivo do acusado é evidentemente robusta, haja vista que se escora no topo
da pirâmide das leis, no direito constitucional e no direito internacional. Evidente que
para evocar o topo da pirâmide legal, o acusado deve preencher os requisitos exigidos
pela lei ordinária e haver a negativa do parquet quanto à aplicação do acordo.
Contrariamente, existe a corrente que se apoia na ideia de o ANPP tratar-se de
discricionariedade do Ministério Público, ao invés de ser direito subjetivo do acusado.
Os doutrinadores que defendem a referida corrente se baseiam na premissa prevista
no caput do art. 28-A do CPP, após preenchidos os requisitos, qual seja: “o Ministério
Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e su-
ficiente para reprovação e prevenção do crime”.
Nesse sentido, discorre Rogério Sanches:

No novo instituto, no espaço de discricionariedade regrada (poder-dever)


que lhe concede a legislação e a própria concepção do instituto sob o foco,
o MP poderá se negar a formular proposta ao investigado, pois poderá pon-
derar previamente e fundamentar se o acordo “é necessário e suficiente
para a reprovação e prevenção do crime” (condição subjetiva e cláusula
aberta de controle), no caso concreto.21

Renato Brasileiro de Lima (2020) afirma que “Partindo da premissa de que o


acordo de não persecução penal deve resultar da convergência de vontades, com
necessidade de participação ativa das partes, não nos parece correta a assertiva de
que se trata de direito subjetivo do acusado (...)”.

Notório que o autor, ao defender sua tese, se afasta por completo dos requisitos
e das condições que o a lei exige para o oferecimento do ANPP, bem como da obri-
gatoriedade do parquet em observá-los, o que tornaria o acordo direito subjetivo do
acusado. O autor entende que a discricionariedade está ligada à voluntariedade, e
que do contrário, poderia resultar no acordo determinado de ofício pelo juiz. Assim
dispõe Lima:
Caso fosse o ANPP aceito como direito subjetivo do investigado, o juiz pode-
ria determinar que o direito do investigado fosse assegurado de ofício, reti-
rando a característica essencial de voluntariedade (consenso) entre as partes
e decretando a obrigatoriedade de sua pactuação 22.

21 CUNHA, Rogério Sanches. Pacote Anticrime – Lei 13.964/2019: Comentários às alterações do CP,
CPP e LEP. 2ª Ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2021. P. 140.
22 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal: Volume Único. 8ª Ed. Salvador: Editora Jus-

podivm, 2020. P. 276.


15

No mesmo sentido, Rodrigo Cabral afirma que “para que exista acordo, deve
existir concordância entre as partes, de modo que não é possível se falar em acordo
forçado e é precisamente por essa razão que o art. 28-A, caput, CPP, dispõe que: o
Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal.”23
Expostas as duas correntes doutrinárias que discorrem se o ANPP se trata de
direito subjetivo do acusado, ou é discricionariedade do Ministério Público, imperioso
destacar que o Supremo Tribunal Federal defende a corrente na qual o ANPP é dis-
cricionariedade do MP, não podendo o magistrado oferecer o acordo sem a concor-
dância do parquet, não considerando, portanto, como sendo direito subjetivo do acu-
sado.24

5 - NORMAS QUE REGULAMENTAM O ANPP


A norma principal que regulamenta o Acordo de Não Persecução Penal é o art.
28-A, do CPP, com redação dada pela Lei 13.964/2019. O artigo traz em seu bojo os
requisitos, as condições e as vedações para a realização do ANPP. Vejamos:

Requisitos – art. 28-A, caput:


1 – Não ser caso de arquivamento do procedimento investigatório;
2 – Ter o investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal;
3 – Infração penal cometida sem violência ou grave ameaça;
4 – Infração penal cuja pena mínima cominada seja inferior a 4 anos;
5 – Necessidade e suficiência para a reprovação e prevenção do crime.

Condições - art. 28-A, incisos I a V (ajustadas cumulativa e alternativamente):


1 - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;
2 - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos,
produto ou proveito do crime;
3 - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima
cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na
forma do art. 46 do Código Penal;
4 - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Código Penal, a entidade
pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente,
como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou

23CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do Acordo de Não Persecução Penal. 2ª Ed. Salvador:
Editora Juspodivm, 2021. P. 222.

24STF. Inquérito 3438/ SP. Rel. Min, Rosa Weber. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pa-
ges/search/sjur291674/false Acesso em 6 de fev. de 2022.
16

5 - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que propor-
cional e compatível com a infração penal imputada.

Vedações – art. 28-A, §2º, incisos I a IV:


1 - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei;
2 - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal
habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas;
3 - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo
de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e
4 - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher
por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.

Quanto aos crimes que são passíveis de oferecimento do ANPP, os quais de-
vem ter pena mínima cominada inferior a 4 anos, o rol é bastante extenso, alcançando
desde furto até peculato e lavagem de dinheiro. O que interessa realmente é que o
acordo atinge a maior parte da demanda da justiça criminal, permitindo, assim, que as
autoridades policiais se concentrem nos crimes de maior potencial ofensivo.
Imperioso destacar que a constitucionalidade do requisito de confissão do in-
vestigado vem sendo questionada à luz do art. 5º, LXIII da CRFB/88, bem como do
art. 8, 2, g da Convenção Interamericana de Direitos Humanos. Vejamos os dispositi-
vos:
Art. 5º, LXIII, da CRFB/ 88: o preso será informado de seus direitos, entre os
quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família
e de advogado;
Art. 8º, 2, g, da CIDH/ 69: 2 - Toda pessoa acusada de delito tem direito
a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legal-
mente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em
plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
g. direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a de-
clarar-se culpada

Nesse contexto ressaltam-se os princípios da dignidade da pessoa humana, da


inafastabilidade da jurisdição, da legalidade, da presunção de inocência, do devido
processo legal e do contraditório e ampla defesa, ambos previstos na CRFB/ 88. Ve-
jamos:

Art. 1º, III, da CRFB/ 88: A República Federativa do Brasil, formada pela
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana;
Art. 5º, XXXV, da CRFB/ 88: a lei não excluirá da apreciação do Poder Judi-
ciário lesão ou ameaça a direito;
17

Art. 5º, XXXIX, da CRFB/ 88: não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal;
Art. 5º, LIV, da CRFB/ 88: ninguém será privado da liberdade ou de seus
bens sem o devido processo legal;
Art. 5º, LV, da CRFB/ 88: aos litigantes, em processo judicial ou administra-
tivo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla de-
fesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Art. 5º, LVII, da CRFB/ 88: ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória;

Por fim, importante destacar as normas que regulamentam a aplicação das leis
penais e processuais penais no tempo, ainda que sejam motivo de divergência, con-
forme demostrado em alhures:

Art. 5º XL, CRFB/88: a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
Art. 2º, § único, do Código Penal: A lei posterior, que de qualquer modo
favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por
sentença condenatória transitada em julgado;
Art. 2º, do Código de Processo Penal: A lei processual penal aplicar-se-á
desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da
lei anterior.

6 - ANÁLISE CRÍTICA
Diante de todo o exposto, nota-se que o instituto do Acordo de Não Persecução
Penal reveste-se de diversas divergências, tanto jurisprudências quanto doutrinárias.
Vale lembrar que o Brasil, há muito tempo, vive os problemas causados pela insegu-
rança jurídica, refletindo diretamente no tema pesquisado no presente artigo.
Pois bem, do ponto de vista jurisprudencial, a tese firmada pela 1ª Turma do
STF, quando do julgamento do Agravo Regimental no Habeas Corpus nº 191.464/ SC
(decisão paradigma), com o entendimento de que “O acordo de não persecução penal
(ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei nº 13.964/2019, desde que não rece-
bida a denúncia”, mostra-se a mais adequada. Haja vista que o acordo se trata de
modalidade pré-processual de resolução consensual de conflito criminal e, portanto,
deve ser oferecido apenas nos casos em que ainda não foi oferecida a denúncia.
Nesse sentido, a tese proposta pelo Ministro Gilmar Mendes, no julgamento do
HC 185.913/DF é completamente desprovida de lógica jurídica, pois, se o ANPP é um
acordo pré-processual, não há que se falar na aplicação do acordo aos processos em
andamento.
Quanto à análise da doutrina, a corrente que considera que o ANPP é direito
subjetivo do acusado mostra-se mais assertiva, pois, entende-se que se forem cum-
pridos os requisitos que o art. 28-A, do CPP exige, o MP fica obrigado a oferecer o
acordo, sendo certo que não se trata de discricionariedade do parquet.
18

A corrente divergente, que considera o oferecimento do ANPP ao acusado


mera discricionariedade do MP, data máxima vênia, apenas infla o parquet de poder,
e arremessa o investigado/ acusado na pesada ação penal, diante de um delito de
menor potencial ofensivo.
Insta salientar que a divergência doutrinária apontada seria evitada se o legis-
lador, um pouco mais atento, tivesse adotado o verbo “deverá”, no lugar do verbo
“poderá”, no caput do art. 28-A do CPP. Assim, o texto da norma ficaria da seguinte
forma: Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e
circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com
pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público “deverá” propor acordo
de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e pre-
venção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternati-
vamente.

7- CONCLUSÃO
O presente trabalho procurou esmiuçar boa parte das discussões acerca do
Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), sem a pretensão de esgotá-las, haja vista
as restrições que um artigo científico contem.
Ao longo da pesquisa, foi apresentada a origem do ANPP, criado pela Resolu-
ção 181/2017 do CNMP, alterada pela Resolução 183/2018 da mesma instituição e,
por fim, foi inserido no Código de Processo Penal – art. 28-A -, através da Lei
13.964/2019, o famoso e polêmico Pacote Anticrime.
Estudamos as decisões do Supremo Tribunal Federal na aplicação do ANPP,
e vimos que há divergência quanto a retroatividade do acordo. Como vimos, a 1ª
Turma fixou a tese (decisão paradigma) na qual ficou entendido que, cabe o ofereci-
mento do acordo, desde que a denúncia na fosse ainda oferecida. Na contramão deste
entendimento, o Ministro Gilmar Mendes propôs a tese, da qual discordamos, que o
ANPP é cabível também nos processos já em andamento.
No estudo da doutrina, foram elencadas as correntes de pensamento mais uti-
lizadas na interpretação do tema estudado. De um lado, os doutrinadores que defen-
dem ser o ANPP direito subjetivo do investigado. Fazemos coro para essa linha de
interpretação. Do outro lado, os que entendem que o acordo em questão é uma dis-
cricionariedade do Ministério Público. Vale lembrar que ambas as correntes são de-
fendidas por juristas tem alto quilate.
19

Estudamos também as normas que envolvem o ANPP, mostrando todos os


elementos de aplicação do acordo, como os requisitos, as condições e as vedações,
bem como os princípios constitucionais.
Por fim, conclui-se que o Acordo de Não Persecução Penal se mostra um ex-
celente instrumento para desafogar a justiça criminal, haja vista que, com a sua apli-
cação, evita-se a instauração da ação penal contra pessoas que, em tese, não fazem
parte da minoria criminosa no Brasil, e têm a chance de se arrependerem do delito
cometido sem maiores complicações criminais na justiça.

REFERÊNCIAS

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13964.htm

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