Base
Nacional Comum Curricular (BNCC).
O documento traz referências para a construção de currículos, materiais didáticos e formação de
professores da Educação Básica. Além disso, sobre como se dará o ensino nas quatro áreas do
conhecimento nos próximos anos.
Assim, o principal desafio dos professores é entender as mudanças propostas na Base para cada área do
conhecimento.
Neste post vamos refletir sobre como a BNCC trará impactos para o ensino da Língua Portuguesa e
quais as suas principais novidades.
Qual é o objetivo da BNCC?
A BNCC, como o próprio nome indica, é a base a ser seguida pelas escolas brasileiras. Ela detalha o que
todo aluno da educação básica tem direito de aprender, independente do lugar onde mora ou estuda.
O documento não diz o que se deve ensinar, mas
estabelece conhecimentos, competências e habilidades que se espera que todos os estudantes
desenvolvam ao longo da jornada escolar.
Dessa forma, reduzindo as desigualdades educacionais existentes ao garantir para todos os mesmos
conhecimentos essenciais e evitar que o aluno se sinta “deslocado” se for transferido de escola.
As dez competências gerais da BNCC
A BNCC propõe uma aprendizagem por competências e habilidades, as quais devem preparar os
estudantes para a realidade de seu cotidiano, para serem capazes de resolver problemas reais.
A partir disso, ela aponta 10 competências gerais que devem nortear o ensino básico.
Muito do que está posto na BNCC já está integrado com à educação da Língua Portuguesa graças
aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), em vigor desde 1998.
A principal diferença está em um foco maior nos multiletramentos, considerando a diversidade textual que
o uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) possibilita no cotidiano.
Além disso, a BNCC detalha, em diferentes habilidades, como levar novos gêneros textuais para a sala de
aula, na busca por um ensino contextualizado e que valoriza a vivência do aluno e a sua experiência com
as novas tecnologias da informação.
Quais são os quatro eixos da língua portuguesa?
O ensino da Língua Portuguesa está centrado no texto e na sua relação com os contextos de produção, e
no uso da linguagem através da leitura, escuta e produção em diversas mídias.
Dessa forma, o componente é dividido em quatro eixos temáticos, definidos pelas práticas de linguagem.
Eixo da leitura
A Leitura na BNCC tem um sentido amplo, considerando não só o texto escrito, mas também a imagem
estática (foto, desenho, infográficos), imagens em movimento (filmes e vídeos), e o som, afinal eles
acompanham muitos gêneros digitais.
Se antes o trabalho do professor estava focado em estratégias e modalidades de leitura, agora a BNCC
traz novas competências, tais como: a necessidade de trabalhar a intertextualidade, o desenvolvimento de
postura crítica, checagem de informações, entre outros.
Eixo da Produção de Textos
A produção textual ganha vários novos formatos com a BNCC. Da mesma forma que na leitura, essas
habilidades devem ser desenvolvidas por meio de situações efetivas pertencentes aos gêneros textuais
conhecidos pelos alunos.
Nesse sentido, a produção abraça diferentes ferramentas digitais, como edição de texto, áudio e vídeo, e
diferentes finalidades, como vlogs, playlists comentadas, fotografias, resenha de games, entre outros.
Eixo da Oralidade
Esse eixo compreende as práticas de linguagem que ocorrem em situação oral, com ou sem o contato
pessoal, portanto, está ligado ao conhecimento e uso da fala e habilidade de escuta. Assim, a BNCC
amplia o enfoque, com exemplos do que deve ser trabalhado, de acordo com as práticas dos diferentes
campos de atuação.
Aqui novamente a intertextualidade está presente, e entre as habilidades estão o uso de podcasts,
programas de rádio, webconferências, contação de histórias, entre outras.
Eixo da Análise Linguística/Semiótica
Além dos conhecimentos morfossintáticos, semânticos e ortográficos já trabalhados, o eixo da análise
linguística na BNCC traz a necessidade de um olhar analítico e integrado sobre os diferentes tipos de
linguagem através da semiótica.
Nesse ponto, a análise textual também abarca memes, vídeos, games e a relação entre texto e imagem.
Afinal, o aprendizado deve ser contextualizado em práticas de leitura e escrita, através de situações reais
de uso na linguagem.
A ideia é que tópicos como gramática e conjugação verbal sejam tratados como elementos que
influenciam os gêneros textuais e que os alunos entendam seu uso na prática.
Quais são as Unidades Temáticas de língua portuguesa?
Os campos de atuação, ou seja, os contextos em que os gêneros textuais são feitos e consumidos,
também têm destaque na BNCC. E essa é a maior novidade do documento para a Língua Portuguesa.
Seguindo uma divisão em cinco campos de atuação, a BNCC propõe um percurso de ensino para todas
as nove séries do Ensino Fundamental.
As habilidades são pensadas para cada campo, e evoluem progressivamente, acompanhando a evolução
dos estudantes.
Essa divisão tem a função didática de possibilitar a compreensão que os textos fazem parte não só da
prática escolar, mas de toda a vida social, contribuindo para a organização do conhecimento sobre a
língua.
Além disso, amplia a integração com as outras disciplinas.
Campo de atuação na vida cotidiana
Com o objetivo de fomentar a alfabetização ainda nos primeiros anos, esse campo é específico para os
anos iniciais do Ensino Fundamental. Ele traz conteúdos que mostram ao aluno como usar a linguagem
para atividades do cotidiano, na escola e em casa com a família.
São alguns gêneros textuais desse campo: agendas, listas, bilhetes, recados, avisos, convites, cartas,
cardápios, diários, receitas, regras de jogos e brincadeiras.
Campo artístico-literário
Colocar o aluno em contato com textos literários e artísticos ainda nas séries iniciais é um dos pontos que
tem o objetivo de instigar o gosto pela leitura nas crianças. Esse campo favorece a diversidade cultural e
experiências com estéticas. Por isso, deve estar presente em todo o Ensino Fundamental.
Alguns gêneros deste campo: lendas, mitos, fábulas, contos, crônicas, canção, poemas, poemas visuais,
cordéis, quadrinhos, tirinhas, charge/cartum, dentre outros.
Campo de estudo e pesquisa
As práticas de estudo e pesquisa têm o objetivo de ensinar o aluno a ler gráficos, interpretar textos de
divulgação científica e entender termos técnicos, colaborando com as outras áreas do conhecimento.
Esse campo atua de forma global no aprendizado, mostrando ao aluno que existem linguagens diversas e
que cada uma delas têm sua coerência ao ser aplicada no contexto adequado.
São alguns gêneros desse campo em mídia impressa ou digital: enunciados de tarefas escolares; relatos
de experimentos; quadros; gráficos; tabelas; infográficos; diagramas; entrevistas; notas de divulgação
científica; verbetes de enciclopédia.
Campo de atuação na vida pública
Esse campo trabalha temas que impactam questões de cidadania e coletividade. Por isso, ele é ensinado
através de habilidades como a compreensão dos direitos e deveres do cidadão, interpretação de leis e
estatutos, entre outras.
Assim, promover o contato com essas habilidades desde cedo ajuda no processo de transformação e
cidadania. Logo, é fundamental para que o aluno se insira na sociedade, aja de modo crítico, interaja
positivamente e proponha soluções.
Alguns gêneros textuais desse campo: notas; álbuns noticiosos; notícias; reportagens; cartas do leitor
(revista infantil); comentários em sites para criança; textos de campanhas de conscientização; Estatuto da
Criança e do Adolescente; abaixo-assinados; cartas de reclamação; regras e regulamentos.
Campo jornalístico-midiático
As práticas de leitura e produção do campo jornalístico-midiático se conectam com as de atuação na vida
pública, porém esse é específico para os anos finais do Ensino Fundamental.
O campo tem o objetivo de ampliar o contato e o entendimento das crianças e jovens com a informação e
opinião.
Para além de desenvolver a escuta, leitura e produção de textos, ele pretende desenvolver o interesse
pelos fatos que acontecem na sua comunidade, cidade e no mundo e como eles afetam a vida das
pessoas.
Alguns gêneros textuais desse campo:
Reportagem,
Reportagem multimidiática
Fotorreportagem
Foto-denúncia
Artigo de opinião
Editorial
Resenha crítica
Crônica
Comentário
Debate
Vlog noticioso
Vlog cultural
Meme
Charge
Anúncio publicitário
Propaganda
Jingle
Spot publicitário
BNCC Linguagem: competências específicas
Além das 10 competências gerais, a área de Linguagens também tem suas competências específicas que
devem ser garantidas pelo desenvolvimento das habilidades.
Compreender as linguagens como construção humana, histórica, social e cultural, de natureza dinâmica,
reconhecendo-as e valorizando-as como formas de significação da realidade e expressão de subjetividades e
identidades sociais e culturais.
Conhecer e explorar diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e linguísticas) em diferentes campos
da atividade humana para continuar aprendendo, ampliar suas possibilidades de participação na vida social e
colaborar para a construção de uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva.
Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e
digital –, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e
produzir sentidos que levem ao diálogo, à resolução de conflitos e à cooperação.
Utilizar diferentes linguagens para defender pontos de vista que respeitem o outro e promovam os direitos
humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, atuando
criticamente frente a questões do mundo contemporâneo.
Desenvolver o senso estético para reconhecer, fruir e respeitar as diversas manifestações artísticas e culturais,
das locais às mundiais, inclusive aquelas pertencentes ao patrimônio cultural da humanidade, bem como
participar de práticas diversificadas, individuais e coletivas, da produção artístico-cultural, com respeito à
diversidade de saberes, identidades e culturas.
Compreender a língua como fenômeno cultural, histórico, social, variável, heterogêneo e sensível aos contextos
de uso, reconhecendo-a como meio de construção de identidades de seus usuários e da comunidade a que
pertencem.
Apropriar-se da linguagem escrita, reconhecendo-a como forma de interação nos diferentes campos de atuação
COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL
da vida social e utilizando-a para ampliar suas possibilidades de participar da cultura letrada, de construir
conhecimentos (inclusive escolares) e de se envolver com maior autonomia e protagonismo na vida social.
Ler, escutar e produzir textos orais, escritos e multissemióticos que circulam em diferentes campos de atuação e
mídias, com compreensão, autonomia, fluência e criticidade, de modo a se expressar e partilhar informações,
experiências, ideias e sentimentos, e continuar aprendendo.
Empregar, nas interações sociais, a variedade e o estilo de linguagem adequados à situação comunicativa, ao(s)
interlocutor(es) e ao gênero do discurso/gênero textual.
Analisar informações, argumentos e opiniões manifestados em interações sociais e nos meios de comunicação,
posicionando-se ética e criticamente em relação a conteúdos discriminatórios que ferem direitos humanos e
ambientais.
Selecionar textos e livros para leitura integral, de acordo com objetivos, interesses e projetos pessoais (estudo,
formação pessoal, entretenimento, pesquisa, trabalho).
Envolver-se em práticas de leitura literária que possibilitem o desenvolvimento do senso estético para fruição,
valorizando a literatura e outras manifestações artístico-culturais como formas de acesso às dimensões lúdicas,
de imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial transformador e humanizador da experiência com a
literatura.
Mobilizar práticas da cultura digital, diferentes linguagens, mídias e ferramentas digitais para expandir as
formas de produzir sentidos (nos processos de compreensão e produção), aprender e refletir sobre o mundo e
realizar diferentes projetos autorais.