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Volume 15

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Atenção revisores. Eu sei que Idéia,


Côrte, Fôra e Pêlo não têm acento,
mas são meus guilty pleasures. Eu não
cobro nada pra fazer isso, pelo menos
deixem que eu tenha meus
maneirismos linguísticos. Grato.
Prólogo
O líder da Teocracia — o Pontifex Maximus.

Aqueles que detinham a maior autoridade em seus cultos — os Seis


Cardeais.

Os chefes do Judiciário, do Legislativo e do Executivo.

O Diretor do Instituto de Pesquisa, responsável pela pesquisa e


desenvolvimento de magia.

O Comandante-Chefe — também conhecido como o Grão-Marechal.

Estavam presentes os doze membros que compunham o corpo


administrativo da Teocracia Slane. Aqui se reuniam os que tinham a mais alta
autoridade em seu país, onde traçavam os futuros passos de sua nação.

Não era espaçoso nem opulento, e nenhum dos presentes nutriam


semblantes felizes.

Claro, diante das circunstâncias, poucas pessoas ficariam alegres. A


assembleia era composta de indivíduos que se consideravam confrades, e
estavam familiarizados o suficiente uns com os outros para permitir
ocasionais brincadeiras bem-humoradas. Em outras palavras, outrora estariam
com animosidade muito mais elevada, mas não neste momento. O ar na sala
parecia álgido.

“O Reino Feiticeiro deu início à sua invasão do Reino, ou talvez seja


mais preciso dizer que avançou o que começou há tempos. Que inimigo
aterrorizante, Re-Estize ficou às cegas por um mês inteiro. Nossos olhos e
ouvidos lá, as Escrituras da Flor do Vento e da Água Pura, foram
completamente suprimidas. Se não fosse a Astróloga da Longinquidade,
poderíamos ter descoberto ainda mais tarde... É justo concluir que o destino
do Reino está selado. Não nos resta muito tempo, então devemos começar a
recrutar aventureiros o mais rápido possível.”

“Já começamos a recrutar de forma diligente.”

Respondeu o Cardeal da Terra, Raymond Zurg Laurencin.

“Não é uma pena permitir que o Reino Feiticeiro saqueie os itens


mágicos de lá à bel-prazer? Especialmente os tesouros do Reino. O Amulet of
Immortality, Guardian Armor, Gauntlets of Vitality, e...”

O Diretor de Pesquisa disse enquanto contava com os dedos como se


quisesse enfatizar a importância do último item:
“...A Razor Edge.”

“Não nesse caso, pois não há nada que possamos fazer a respeito. O
número de pessoas que podemos infiltrar é limitado. Mesmo nosso próprio
povo dentro do Reino não será capaz de sair vivo.”

“...Não tardará para o Reino Feiticeiro estar à nossa porta. Desde que o
Capitão Guerreiro morreu em batalha, seu substituto, aquele chamado...
Ungra..us? É aquele com os itens agora, correto?”

O Grão-Marechal perguntou, ao que o Diretor de Pesquisa respondeu:

“Brain, eu presumo? Sim, se pudéssemos trazê-lo ao nosso rebanho


junto com esses itens, esse seria o cenário ideal. Não imagino ele como
aqueles tipinhos suicidas, o que acha? Ele pode ficar irritadiço a princípio,
mas depois ficará grato a nós.”

“De acordo com nossa investigação, ele não é desses.”

Disse a Cardeal de Fogo, Berenice, uma das duas únicas mulheres dentro
do corpo administrativo.

“Vejo que ele está consideravelmente elevado em seu conceito.”

Disse a outra mulher, a chefe do Judiciário, com um sorriso.

“Certamente. Nós, cardeais, temos ele bem alto em nosso conceito, mas
sabemos que ele não é do tipo que aceitaria nosso convite. É por isso que
ordenamos que não entrassem em contato com ele.”

“Então ele é como o Capitão Guerreiro... Mas, vamos considerar as


coisas de outro ângulo. Francamente, não dá para entender o que se passa na
cabeça daqueles que se permitem serem tão facilmente controlados por
emoções tão irracionais.”

Alguns olharam para o chefe do Legislativo após os dizeres, então o


orador sentiu a necessidade de se retratar:

“Sinto muito, talvez tenha me expressado mal. Ainda assim, na minha


opinião — levando em consideração o futuro da humanidade, tal desrespeito
imprudente pela vida é um péssimo traço de personalidade. Manterei esse
meu ponto de vista, independentemente de quem se oponha.”

“Não há falsos dizeres em tuas palavras.”

Pronunciou Dominic Ire Partouche, o Cardeal do Vento e uma das


pessoas que olharam antes:
“No entanto, assim como temos nossos limites morais, ele também tem
os dele.”

“Guelfi-sensei concorda?” O Diretor de Pesquisa perguntou, ainda


relutante em aceitar.

Zinédine Delan Guelfi, o Cardeal da Água — um homem idoso cuja


aparência era semelhante à de um tronco ressequido — assentiu em
confirmação.

“Se o senhor afirma, não mais questionarei a esse respeito.”

“Embora eu esteja feliz por tantos talentos terem vindo se juntar à nossa
nação, qual é a condição deles?”

Algumas equipes de aventureiros já haviam chegado à Teocracia. A


maioria era de classificação Mythril ou superior, também usavam a
inteligência da Escritura da Água Pura para convidar pessoas comuns com
potencial.

“Isso não é bo— ou melhor, não tem nada de bom.”

“Até conseguimos convencer eles a se unirem à gente, mas por terem


abandonado muitos nessa decisão que tomaram, acabou por deixar um
espinho no coração deles— o que quero dizer por isso é; são uns fracotes.”

Um dos participantes falou de uma forma que fez com que todos
soubessem que a conversa não precisava ser tão formal. Todavia, em resposta,
Yvon retrucou severamente:

“Sempre deve-se ser formal diante de teus chefes.”

Ao que percebeu seu erro, ele ficou envergonhado e prontamente se


corrigiu com “Digo, teus superiores”.

Era verdade que, se fosse uma reunião estritamente entre cardeais,


mesmo Yvon se permitiria ser informal de vez em quando. Isso só foi possível
porque todos os seis eram próximos.

“Como ia dizendo... achamos que devemos nos livrar desse ‘espinho’ o


mais rápido possível.”

“Mas como?” indagou a chefe do Judiciário. Raymond respondeu:

“Bem, se o ‘espinho’ se instalou porque eles não puderam salvar as


pessoas, então ele pode ser curado salvando as pessoas. Vamos enviá-los para
o Reino Dragonic. Façamos com que lutem contra os Beastmen de lá.”

“Oh, entendo,” aqueles ao redor dele disseram em voz alta.


A inteligência indicou que o Reino Dragonic se tornou diplomaticamente
mais próximo do Reino Feiticeiro, chegando até mesmo a comprar undeads de
lá. Undeads assustadoramente poderosos.

Se permitissem que isso continuasse, a influência da Teocracia dentro do


Reino Dragonic diminuiria, enquanto a do Reino Feiticeiro aumentaria ainda
mais. Como medida preventiva, esta proposta poderia ser uma jogada
brilhante. Ainda assim, os resmungos preocupados começaram a vir à tona.

“Se teleportarmos esses aventureiros recém-recrutados para além de


nossa vigilância, eles podem vazar nossas operações secretas durante a guerra.
Isso não exporia nossas ações secretas ao Reino Feiticeiro? Não seria mais
seguro mantê-los dentro de nossas fronteiras por ora?”

“Ao meu ver não representa um grande problema. Eles conhecem a


situação no Reino. Eles sabem muito bem do que tiveram de abrir mão por
causa dessa guerra. É improvável que pessoas assim trabalhem com uma
nação tão cruel. Embora haja a possibilidade de obterem as informações deles
através de magia de controle da mente.”

“Não sejamos precipitados. Em contrapartida, não acha que seria um


problema a mais se o Reino Feiticeiro descobrisse que recrutamos magic
casters capazes de usar magia de teletransporte?”

“Correto, seria.”

“Sempre fingimos usar itens mágicos para teletransportar, mas alguns


aventureiros podem ter percebido nossa tramoia. Então, mesmo que seja
imposto uma ordem de silêncio a eles, quem sabe que tipo de informação
poderia vazar? Talvez seja vantajoso guardarmos nossos segredos o máximo
possível do Reino Feiticeiro.”

Zinédine Delan Guelfi, o Cardeal da Água, tossiu algumas vezes antes de


falar.

“Ghum, perdão. Embora eu entenda seu modo de pensar, não acha que
revelar uma vantagem ao nosso oponente pode torná-lo mais cauteloso no que
tange a agir de forma imprudente? É o que penso.”

“Mesmo concordando com os dizeres do Sensei, a existência de alguém


como o Tríade Magic Caster torna, de certo modo, o uso da magia de
teletransporte algo não tão secreto.”

“Hmmm. Quantos mais saberiam de algo dessa importância? ‘Quais


magias o grande mago do Império é capaz’ é uma pergunta para a qual nem
nós temos uma resposta definitiva, esqueceu?”
“Alguém do calibre dele não mais se importa com informações
relacionadas à magia de teletransporte.”

Idéias de todos os tipos foram apresentadas. O Pontifex Maximus sentiu


que não seria capaz de chegar a uma decisão se isso continuasse, então
decidiu por uma votação simples. Assim, foi decidido que enviariam os
aventureiros para fornecer suporte ao Reino Dragonic.

Dito isso, os aventureiros recrutados eram iguais a mercenários aos olhos


da Teocracia, pois era difícil determinar a quem deviam suas lealdades. Os
membros dessa reunião pensaram que mesmo se os enviados escolhessem
ficar no Reino Dragonic, isso não representaria problema algum. Afinal,
resgatá-los do Reino não era para fortalecer a Teocracia, mas sim para evitar a
possibilidade de humanos fortes morrerem em vão.

“Se conseguirmos desenvolver a técnica para criar pergaminhos de


magia do quinto nível e além, até mesmo algo como magia de teletransporte
se tornará facilmente disponível.”

“Infelizmente, embora estejamos trabalhando nisso por séculos, ainda


não tivemos o menor progresso.”

Até agora haviam aperfeiçoado os métodos de fabricação de


pergaminhos de até 4º nível, mas isso era um segredo nacional. Essa era
apenas uma das múltiplas técnicas secretas que possuíam. Ao longo dos
séculos desenvolveram essas técnicas para proteger a fraca humanidade das
raças de maior poder. Tais foram seus avanços, que até conseguiram replicar a
poção de cura das lendas, conhecida como “Sangue de Deus”. Embora ainda
precisassem de mais pesquisas para melhorar sua relação custo-benefício, foi
um avanço sem igual.

“Ainda assim, por que o Rei Feiticeiro ordenaria tais massacres? Mesmo
que os suprimentos a caminho do Reino Sacro tenham sido roubados, isso foi
uma reação exagerada. O que os militares pensam a respeito?”

“Primeiramente; incutir medo.”

O Grão-Marechal levantou um dedo. Várias cabeças acenaram em


concordância.

“Segundo; no fim das contas, o Rei Feiticeiro é um undead.”

“‘Uma criatura que nutre profundo ódio pelos vivos, e que é controlado
por esse ódio’ Talvez alguns possam ter essa crença, mas eu discordo. Mesmo
se presumirmos que ele estava esperando um momento oportuno para ir à
guerra, se levarmos em conta suas ações anteriores, esse incidente parece que
não se encaixa.”
“Em nome dos militares, digo que também somos da opinião de que é
extremamente improvável que suas motivações sejam tão simples.”

Disse o Grão-Marechal com uma expressão austera. Sussurros vieram de


todos os cantos dizendo: “então diga isso sem fazer tanta pose” ou “parece
que adora ficar copiando o jeito do Raymond” ou que “ele não entende que há
hora e lugar para esse tipo de coisa”.

E logo mais concluiu enquanto levantava seu terceiro dedo:

“Ghrum, e por fim o mais provável é: para criar uma área natural de
geração de undeads, como uma nova Planície Katze.”

“Faz sentido,” alguém murmurou.

A Teocracia Slane era um país que ostentava uma abundância de magic


casters divinos, então o mais alto escalão presente entendia completamente o
que o Grão-Marechal queria dizer.

O plano do Rei Feiticeiro era provavelmente expandir aquela terra


profana infinitamente, para então absorver qualquer undead que lá surgisse
para seu reino. Tal coisa era normalmente impossível, mas o Rei Feiticeiro,
sendo ele mesmo um dos undeads, era uma exceção.

Eles ouviram que ele havia assumido o controle das Planícies Katze.
Talvez ele tivesse obtido algo de lá que o tenha motivado a fazer tal coisa.

“Se for isso mesmo, podemos antecipar o próximo movimento dele.”

“Mas o que lhe dá tanta certeza?”

“Isso servirá para criar uma fronteira entre suas terras profanas e o
Estado do Conselho. As terras profanas se tornarão uma barricada entre o
Reino Feiticeiro e o Estado do Conselho. E então—”

“—Serão capazes de lidarem conosco sem se preocuparem...?”

Um silêncio desolador tomou conta. Todos os membros presentes


achavam o Reino Feiticeiro comparável ao seu próprio país, especialmente
em termos de poder militar.

Todos tinham expressões amargas. Ninguém conseguia manter a


compostura.

A reação foi compreensível, pois foram lembrados do relatório de


inteligência que receberam sobre o Reino Feiticeiro durante sua reunião
anterior. A batalha do Reino Feiticeiro contra o Reino Re-Estize nas Planícies
Katze mostrou seu poder inegavelmente esmagador e malévolo.
O Reino Feiticeiro era extremamente complicado de se lidar, mesmo
para o trunfo da Teocracia, a Escritura Preta e seus membros Divinos. Além
disso, o verdadeiro poder do Reino Feiticeiro ainda era um mistério. Quanto
mais investigavam, mais pareciam olhar para um abismo de profundidade e
escuridão insondáveis.

“Não temos tropas o bastante para aguentar. O que nos restou se resume
em formar uma ampla aliança com o Estado do Conselho, huh...?”

“Ao que tudo indica, sim. Pois assim eles virão ao nosso resgate sempre
que estivermos em apuros!”

Todos sorriram sarcasticamente.

Reforços poderosos o suficiente para salvar a Teocracia nunca seriam


enviados. Isso não era segredo para ninguém.

Uma cooperação mútua era impossível para países com objetivos e


ideais completamente díspares. Algum reforço poderia ser esperado se uma
aliança fosse formada, mas não havia como o Platinum Dragonlord em pessoa
vir em seu auxílio.

Se a Teocracia ou o Estado do Conselho caíssem, então o Reino


Feiticeiro viria a exercer poder aterrador sobre a nação ainda de pé. Para
evitar esse resultado, a jogada correta seria conseguir uma cooperação
absoluta, onde uniriam forças contra o Reino Feiticeiro. Todavia, em um
cenário hipotético, se a aliança invadisse e vencesse o Reino Feiticeiro, o que
aconteceria depois? Naturalmente, os dois países voltariam a se ver como
inimigos em potencial.

Não era difícil imaginar que depois dessa possível guerra, sobreviventes
do antigo Reino Feiticeiro iriam para uma das duas nações vitoriosas e, à
medida que suas populações crescessem, não tardaria para entrarem em uma
espécie de guerra fria.

Assim, nunca confiariam completamente um no outro, mesmo que uma


aliança fosse formada.

Idealmente, só deveriam considerar tal meio se isso significasse uma


vitória completa para a Teocracia.

Se a guerra eventualmente estourasse entre a Teocracia e o Reino


Feiticeiro, ambas as nações seriam significativamente enfraquecidas. Assim, o
Estado do Conselho seria o único beneficiário.

A situação ideal seria que os três países se pressionassem mutuamente,


mas isso exigiria um equilíbrio de poder mais igualitário.
“Submeter-se ao Reino Feiticeiro não seria tão ruim. Poderíamos
trabalhar nas sombras por décadas, quiçá séculos, até fazê-los ruir de dentro
para fora. Além de nos proporcionar um melhor entendimento do que
acontece em suas entranhas.”

“O Império também se tornou um vassalo, então não é totalmente


inviável. Além disso, a julgar pela forma como o Império foi tratado, não é
uma opção tão ruim.”

“Caso façamos, acha mesmo que nosso povo aceitaria assim,


facilmente?”

“Seria muito difícil. Um passo em falso e começamos uma guerra civil.”

“Nada que um carimbo a ferro quente não resolva.”

“Ei, isso é um pouco extremo demais. Deixemos como último recurso.


Em primeiro lugar, ao contrário de nós, os cidadãos não têm acesso a todas
essas informações.”

“Acha que devemos tornar público tudo o que sabemos sobre o Reino
Feiticeiro? Não estamos mantendo em segredo precisamente porque sabemos
os tipos de distúrbios que algo assim causa?”

“Pare de dar desculpas. O Reino Feiticeiro também não teve que dedicar
muito tempo para pacificar e administrar seu povo após a fundação de sua
capital? Portanto, levará tempo para que possamos considerar tudo a nossa—”

“—Não, não podemos ter tanta certeza. Afinal, o Reino Feiticeiro


destruiu várias cidades e vilarejos.”

A capital era populosa, por isso era irreal pensar que havia tido muitas
mortes até as coisas se acalmarem. No entanto, nada era impossível para o
Reino Feiticeiro.

“Um undead, cheio de ódio pelos vivos, huh.”

"Baixamos a guarda porque não houve mortes desnecessárias em


E-Rantel, lembram?”

“Avassalaram o Império. Interferiram em assuntos dentro do Reino Sacro


e do Reino Dragonic, e agora fazem do Reino uma pedra em seu caminho.
Nesse ritmo, não haverá saída fácil para nós. ‘Submeta-se ou morra’, é o que
nos resta? Eu sei que é clichê, mas temos que fazer uma escolha. Se
quisermos fazer um acordo com o Reino Feiticeiro, teremos que lidar com um
de nossos problemas primeiro.”

“Mhm. Devemos lidar com aquele elfo decrépito e corrupto o mais


rápido possível. Embora nosso relacionamento futuro com o Reino Feiticeiro
ainda não esteja claro, não podemos cogitar a possibilidade de duas guerras
simultâneas.”

Um grande esforço já foi feito para exterminar o País dos Elfos, mesmo
antes do Reino Feiticeiro ser estabelecido. Foi graças a isso que os Elfos não
tentaram estabelecer relações amigáveis ​com o Reino Feiticeiro de antemão.

“O confronto direto com o Reino Feiticeiro é o pior cenário,


considerando seu poder militar avassalador. Ainda assim, é nosso dever
considerar sempre o pior cenário, assim, traçamos o melhor plano possível
diante dos fatos.”

“O Reino Feiticeiro provavelmente não intervirá enquanto estiver


lidando com o Reino, mas dependendo de como a situação evoluir, eles ainda
podem fazer movimentos para nos impedir. Posso ver diante dos meus olhos,
eles agindo livremente porque terão undeads surgindo naturalmente próximos
à nossa fronteira. Devemos tomar medidas cabíveis e nos prepararmos para
essa possibilidade.”

“Concordo... além disso, temos que garantir que o futuro da humanidade


seja preservado, mesmo que se restrinja a poucos.”

Alguns deles assentiram com admiração.

“Deixe algumas pessoas irem em busca de terras seguras. Eles serão os


restos de nossa esperança, ou a epítome do nosso desespero, se assim posso
dizer.”

Não havia nenhum país em que confiar fora da Teocracia, mas eles
também não estavam pedindo que se tornassem nômades.

A Teocracia tinha um abrigo fora de suas fronteiras. Não era um lugar de


lendas, mas um lugar que fôra habitado há 600 anos. Um santuário para a
espécie humana, que até então conhecia apenas o medo.

Era guardado por uma das Seis Escrituras, a Escritura do Pó.

“Se vamos evacuá-los, devemos começar os preparativos imediatamente.


Quais serão os escolhidos?”

“Não podemos ficar de braços cruzados. Nós obviamente ficaremos até o


fim. Quanto aos demais cidadãos, que tal fazê-los eleger um representante e
fazer essa pessoa escolher?”

“Discordo, Laurencin-sama deve ir com eles.”

“Eu?”
“No caso de sermos aniquilados, o senhor, como um ex-membro da
Escritura Preta, deveria ser o único a proteger e ensinar aqueles que restaram,
não concorda?”

“Há muito deixei de ser aquilo que já fui. Além disso, todos nós
devemos ficar até o fim, se algum de nós fugir, perderão a fé em nossa
organização.”

“Mas—”

“Não—”

“Eu estava pensando—”

À medida que a discussão se acirrava, o Pontifex Maximus finalmente


falou:

“Essa discussão é sem sentido. Por mais que tenha sua importância, não
é hora para isso.”

Ninguém se opôs.

“Concordo. Então, dando prosseguimento ao que é mais importante. Não


vejo problema em deixarmos que o povo élfico fuja, mas devemos usar tudo
que temos para caçar e perseguir aquele maldito Rei Elfo.”

O Pontifex Maximus havia se tornado uma pessoa completamente


diferente, com ódio palpável em seu rosto. Raymond concordou com a
cabeça.

“Dê à Morte Certa a chance de escolher.”

“Mhm. Mesmo que o Platinum Dragonlord já desconfie que a criança


dará as caras, é improvável que ele a mate, dada a situação atual. Minha
opinião pessoal é que o Rei Elfo deve sofrer como nenhum outro jamais
sofrera antes de ser executado. A felicidade da criança vem em primeiro lugar.
Conto com o empenho dos senhores!”

“Entendido.”
Para Tirar Férias Remuneradas
Parte 1
Após terminar de ler o conteúdo do fichário robusto à sua frente, Ainz
folheou todas as páginas até chegar de volta à primeira; para enfim, dar o seu
carimbo pessoal. Após um momento de hesitação, ele pressionou-o
firmemente na área marcada para aprovação. Com isso, a matéria impressa
nesse fichário — do ponto de vista de Ainz, continha algum tipo de solução
de altíssimo nível para uma questão política — foi aprovada e Albedo poderia
iniciar o processo de seleção do pessoal adequado para despachar.

Ele entregou o fichário para Lumière, que estava em silêncio. Isso


concluiu seus afazeres do dia. Ainz mudou sua linha de visão para o relógio.

Os ponteiros marcavam 10:30.

Ele começara a trabalhar às 10:00. Em outras palavras, apenas trinta


minutos se passaram. Este tinha sido o status quo ultimamente. Embora Ainz
terminasse seus deveres antes do meio-dia, hoje foi muito rápido. Um
ex-escravo assalariado como Satoru nunca experimentou começar sua jornada
de trabalho tão tarde, mas isso não era via de regra. Não era raro os
empregados de megacorporações começarem a trabalhar tarde e, segundo
Ulbert, a existência de tal sistema de turnos era uma espécie de privilégio em
si.

Portanto, a jornada trabalhista dos habitantes deste mundo (por exemplo,


aldeões como Enri e Nfirea), que começava e terminava com o nascer e o pôr
do sol, era a norma vigente.

Embora os habitantes das cidades desse mundo operassem de maneira


semelhante, eles tendiam a começar e terminar suas jornadas de trabalho mais
tarde do que os aldeões. O principal fator responsável por essa diferença no
estilo de vida se dava ao acesso à iluminação mágica. Em sua grande maioria,
aqueles que tinham acesso a fontes mágicas de luz eram nobres. Sendo assim,
quanto mais tarde iniciassem sua rotina de trabalho, mais tarde tendiam a
prolongar sua carga horária noite adentro.

Com isso, poderia afirmar-se que todos em Nazarick começavam sua


jornada trabalhista às 10:00? De forma alguma.

Nazarick havia se tornado a empresa abusiva entre as empresas abusivas.


Em primeiro lugar, as empregadas regulares eram divididas em turnos
diurno e noturno e suas horas de trabalho eram longas. Os subordinados de
Cocytus, que montavam guarda no 9º Andar, operavam de maneira
semelhante. Era difícil dizer quando eram os intervalos, já que raramente
tiravam tempo para descansar, lanchar e nem sequer uma pausa para fumar.

Mas mesmo assim, cerca de 90% dos operários com esse tipo de rotina
não fizeram nenhuma reclamação a respeito de sua condição trabalhista.

Como alguém que queria criar um ambiente de trabalho mais agradável,


Ainz levou em consideração as opiniões das empregadas regulares. Todavia,
tudo o que conseguira pensar depois de ouvir suas respostas foi: ...Qual o
problema delas, hein? Não, talvez fosse melhor dizer que a lealdade das
mesmas era realmente inabalável.

Ainz tremeu na base quando disseram seriamente que era completamente


normal trabalhar sem descanso quando em posse de itens para anular a fadiga.

E quanto aos outros 10% restantes, ao protesto que faziam era referente a
estarem insatisfeitos com suas jornadas trabalhistas, pois queriam trabalhar
ainda mais.

Essas conversas aconteceram não muito tempo atrás.

Talvez fosse apenas egoísmo, mas Ainz sempre quis fornecer a seus
funcionários benefícios generosos. Para esse fim, Ainz começou concentrando
sua atenção nas empregadas regulares.

A principal razão foi porque seus níveis eram extremamente baixos. Sua
aparência feminina atraente também foi um fator importante. Embora Ainz
não pretendesse ter algum tipo de favoritismo, ele não pôde deixar de fazer
comparações entre elas e os subordinados de Cocytus.

Se fosse uma ordem direta de Ainz, não havia dúvida de que todos em
Nazarick obedeceriam sem hesitar. Contudo, dado que sua ordem poderia
abalar o moral, ele teve que ser prudente ao dar suas instruções.

Então ele deu a seguinte desculpa:

No futuro, é possível que as empregadas regulares tenham que


supervisionar empregadas humanas. Quando esse dia chegasse, as
empregadas regulares teriam que explicar sua situação trabalhista para elas.
Seria bom melhorar as condições de trabalho agora para evitar o excesso de
trabalho às futuras empregadas humanas.
Por meio desse método, mesmo que ainda gerasse protesto, ele poderia
efetivamente reduzir suas horas de trabalho e fornecer-lhes dias de férias
adicionais.

Anteriormente, elas tiravam um dia de folga a cada 41 dias. Atualmente,


esse número havia dobrado.

Ainz sentia que nada havia mudado de fato, mas certamente havia
resistência se tentasse algo mais radical. Ou melhor, isso foi o que Ainz
entendeu, então preferiu dar um passo para trás. Consequentemente, ele não
incorporou o sistema completo — licenças pagas, férias, feriados, etc.

O que motivava Ainz a implementar esse sistema de férias,


independentemente das objeções dos NPCs, talvez fosse algo mais relativo
aos vestígios do que Satoru sonhava quando ainda era um assalariado.

Então, Ainz acabou tropeçando em outra idéia.

Se quisesse mudar a mentalidade de todos em relação ao trabalho em


Nazarick, então Ainz, que estava no topo da pirâmide de comando, não
poderia trabalhar sem parar. Ele queria implantar o pensamento de que “Se
nem mesmo meu superior trabalha tanto, creio que não haverá problema se
eu fizer o mesmo”. Seu plano consistia em convencê-las a partir desse
princípio.

Umas das razões era escusado dizer. Se um picareta sem talento como
ele assumisse a liderança por completo, Nazarick mergulharia em um caos
absoluto.

Todavia, o tiro saiu pela culatra.

Pois os habitantes de Nazarick pensaram ser mais que justo que Ainz não
trabalhasse tanto.

O resultado foi o visto acima, cujo único dever de Ainz consistia em


carimbar documentos, mas mesmo esse tipo de trabalho se tornava cada vez
mais raro.

Ele deveria ter visto isso com bons olhos, pois, quanto menos assumisse
as responsabilidades, menos chances Nazarick tinha de ir para uma vala sem
fundo. Ainda assim, Ainz se sentia mal por sobrecarregar os outros.

Ahh...
Ele olhou de canto de olho para as duas empregadas, seus olhos
brilhavam como chamas. Eram as designadas para o turno de hoje. Se seus
olhos se encontrassem, ele logo seria indagado com: “Há algo em que eu
possa ajudá-lo?”. Para evitar tal encontro, ele só podia olhá-las assim.

Não precisam ficar sérias assim... Ah, só queria que relaxassem um


pouco...Vocês deixam a atmosfera tão tensa que tá me dando dor de
estômago...

Quanto tempo faz desde que vi vocês sorrirem? Ainz não pôde deixar de
se perguntar. Ele suspirou mentalmente uma última vez antes de se virar para
a empregada ao lado e perguntar:

“Erm... Lumière...”

“Sim, Ainz-sama?”

“Só para confirmar, acabaram minhas tarefas por hoje?”

“Sim, Ainz-sama. Foram apenas essas.”

Ele perguntou à empregada de plantão que servia como secretária


enquanto Albedo estava fora.

Parecia que ninguém havia buscado uma audiência ou agendado


negociações hoje.

Mesmo assim, ainda havia a chance de que surgisse algo em cima da


hora, então ele não podia baixar a guarda. Isso porque toda vez que Entoma
transmitia um relatório emergencial através de magias como 「Message」,
sempre era algo sério o bastante para dar-lhe cólicas estomacais ao seu
inexistente sistema digestivo.

“Então é o caso...”

Ainz olhou para a outra mesa na sala.

Albedo insistiu que a mesa fosse colocada lá, mas ela não estava
presente.

Normalmente, Albedo estaria trabalhando lado a lado com Ainz, porém


ela estava bastante ocupada já que fazia apenas alguns dias desde que a
capital do Reino caíra. Ultimamente ela sempre era vista andando às pressas
por Nazarick e também não era raro vê-la indo resolver as coisas
pessoalmente.
Ao questionar à empregada se Albedo estava bem, ele descobriu que ela
estava bastante aborrecida. Talvez se deva a estar trabalhando em demasia, ou
porque não podia vê-lo com tanta frequência.

Se for por ela não ter me visto ultimamente, não vejo problema algum
em fazer uma visitinha com mais frequência.

Se apenas isso bastasse para melhorar seu humor, ele não via motivos
para recusar.

“......”

Se Ainz ficasse calado, ninguém mais falaria, assim, a sala ficou


completamente silenciosa.

Verdade seja dita, Ainz preferia um ambiente de trabalho leve e


descontraído, onde todos fossem livres para se expressarem. Infelizmente,
dado a tudo que aprendera ao longo dos últimos anos, ele sabia que isso seria
impossível.

Isso é bem solitário.

Tenho medo de passar o resto da minha vida sendo endeusado assim...


Bem, quanto a isso ainda não posso fazer nada, mas pelo menos mudar um
pouco de ares eu posso.

Ainz costumava gastar seu tempo livre de muitas formas diferentes.

Prática de equitação. Fingir ler e entender artigos acadêmicos,


informações de negócios e literatura política. Nada disso grudava em sua
mente, e o motivo era muito simples; ele não se empolgava ao ponto de
prestar atenção, apenas os folheava. Definitivamente não era porque sua
cabeça era oca. Ele também gostava de conduzir todos os tipos de
experimentos com magia.

Recentemente, além de seu treinamento de combate com Cocytus, ele


também estava realizando sessões de treinamento especial com o Pandora’s
Actor.

“Vejamos...” Ainz agiu como se estivesse murmurando para si, mas na


verdade anunciou intencionalmente para os ouvintes da sala.

Tudo já estava pré-arranjado.


Agora só restava colocar em prática seu plano para ajudar Aura e Mare a
fazerem alguns amiguinhos. Tudo o que havia feito fôra em preparação para a
execução bem-sucedida desse plano.

Quanto aos amigos que deveriam ter, sua primeira prioridade era achar
Elfos Negros. Os próximos na fila seriam raças relacionadas, como Elfos
Puros. Embora ele tivesse uma boa compreensão do que esse mundo tinha a
oferecer, ter Lizardmen ou Goblins como os primeiros amigos dos gêmeos era
algo que Ainz achava difícil de engolir.

Idealmente, eles deveriam começar com raças mais semelhantes.

Ainz olhou para Lumière.

“...Vou para o Sexto Andar, você irá me acompanhar.”

“Como desejar.”

Mesmo ela o seguindo sem que precisasse dizer uma só palavra, ele
ainda achava que era apropriado informar.

Ainz, junto com Lumière, se teletransportou para o 6º Andar com o


poder de seu anel.

Ele poderia simplesmente ter ordenado que Lumière trouxesse diante de


sua presença quem ele desejava ver. Na verdade, isso teria sido o mais
apropriado para o Supremo Governante de Nazarick, mas ele optou por abrir
mão de tais procedimentos para garantir que essa tarefa fosse concluída
perfeitamente. Como tal, seria melhor ir pessoalmente.

Então, no lugar da imagem de alguém grosseiro, visitar pessoalmente


traria uma imagem mais respeitosa e amigável.

Ter o senhorio do lugar em pessoa poderia aplicar uma singela pressão,


permitindo que as coisas fossem mais suaves do que o normal.

Quem desejava ver eram as três Elfas que haviam sido trazidas para cá
pelos Trabalhadores há tempos atrás.

...Deveríamos ter extraído algumas informações delas quando foram


postas no Sexto Andar... mas não fizemos naquela época.

Embora tenham-se passado anos desde então, as únicas informações


coletadas daquelas três resumiam-se a trivialidades. Elas não foram
questionadas sobre o País Élfico ou a respeito delas mesmas. Isso porque
Ainz queria que pensassem nele como alguém totalmente contra a escravidão,
como um undead muito complacente. Se ele as questionasse sem parar sobre a
localização de sua terra natal para obter informações sobre os Elfos, elas
poderiam ter a impressão de que foram poupadas por ele ter segundas
intenções.

Mas não seria o mesmo se as indagasse agora? Na verdade, não.

O estado atual de Nazarick em comparação a seus primórdios era tão


díspar quanto a noite e o dia.

A Grande Tumba de Nazarick já havia aceitado seres de várias origens.


Se o Reino Feiticeiro de Ainz Ooal Gown desejasse estabelecer contato
diplomático com o País Élfico, querer saber o máximo possível de antemão
não seria estranho.

Agora eu tenho uma boa desculpa para perguntar tudo. Não parece que
foram intimidadas pelos gêmeos... O melhor cenário é se elas falarem
abertamente o que pensam, mas não posso dar um passo maior que a perna.
Se eu tivesse imaginado isso naquela época, seria tão mais fácil dar ordens
agora...

À medida que esse pensamento ganhava forma, ele sentiu que não seria
correto ter ordenado que Aura e Mare fingissem bondade para com as Elfas.
Claro, ele não teria que pensar tanto se delegasse esse assunto a Demiurge ou
Albedo.

Ele havia entendido por alto como as empregadas regulares e os


subordinados de Cocytus pensavam. Embora muitas vezes se diga que não se
deve julgar um livro pela capa, talvez Ainz não conseguisse entender seus
modos de pensar por ele mesmo ser uma pessoa comum.

Ainz e Lumière caminharam por um túnel escuro. Mais à frente, em sua


saída, havia uma gigantesca ponte levadiça de treliça por onde raios de luz
solar eram vistos.

Mais à frente situava-se a arena circular do 6º Andar.

Embora o anel pudesse tê-los teletransportado direto para a residência


dos gêmeos, ele optou por não o fazer—

—Agindo como um conjunto de portas automáticas, a treliça


rapidamente se ergueu. Ainz se lembrou de seu primeiro dia nesse mundo,
quando percorreu o mesmo caminho para visitar os gêmeos. Seus olhos se
encontraram com a diminuta silhueta ao longe.
“Bem-vindo, Ainz-sama!”

A voz jovial da garota cumprimentou-o energicamente.

“Hm. Vim resolver uns assuntos aqui. Aura — conto com você para me
ajudar.”

A expansão do Reino Feiticeiro levou os Guardiões a serem designados a


diversas tarefas extras. Mesmo que a maior parte da atividade tenha ocorrido
fora de Nazarick, eles sempre se certificaram de manter pelo menos de dois a
três Guardiões de Andar — alguma combinação entre Albedo, Demiurge,
Mare, Aura, Cocytus e Shalltear — dentro de Nazarick, custe o que custasse.

Na maioria das vezes, isso significava que o trio Cocytus, Shalltear e


Albedo seguravam as pontas. No entanto, às vezes Cocytus tinha que atender
os Lizardmen. Shalltear, por sua vez, tinha que cuidar dos Dragões.

Nessas ocasiões, os outros tomavam seus lugares.

Isso não foi por ordem de Ainz.

De fato, Ainz havia pensado em nomear Cocytus como Chefe de Defesa


e Shalltear como Vice-Chefe, mas o tamanho das tarefas deles eram muito
diferentes em comparação com antes. Naquela época, ele acreditava que
apenas uma pessoa bastava para supervisionar Nazarick enquanto todos os
outros trabalhassem fora.

Mas depois ficou deveras envergonhado por sugerir esse plano, que
jogava toda a responsabilidade nas costas de uma única pessoa.

Como seu superior, ele estava com medo de atrapalhar os planos


originais dos Guardiões de Andar. Ainz ainda queria respeitar sua iniciativa.

De todo modo, Albedo e Demiurge possuíam intelectos muito maiores.


Contanto que aqueles dois estivessem de acordo, Ainz teria até vergonha de
pensar o contrário. Comparado a um plebeu como ele, as idéias dos Guardiões
sem dúvidas eram melhores.

“Ah! Pode deixar comigo, Ainz-sama! Em que posso te ajudar hoje?”

“—Hm.”

Diante do sorriso de Aura, Ainz adotou uma pose régia quando a


respondeu. Para ser honesto, ele não pretendia agir como o todo-poderoso à
princípio, mas segundo a personalidade austera que ele havia construído, a
maioria dos problemas em sua vida poderiam ser resolvidos com um simples
“Hm”. Contudo, rodeado pelas incertezas relativas a conseguir ou não realizar
sua próxima tarefa, ele subconscientemente elevou o tom.

Pareceu ter surtido efeito, já que Aura imediatamente assumiu uma


expressão mais séria.

Ele teve certeza de que ela entendera algo errado.

“Dro—”

Ele acidentalmente pensou em voz alta. Se lhe perguntassem o que


estava errado, ele não seria capaz de manter a encenação. Assim, Ainz
escolheu acreditar em sua capacidade de improvisar.

“...Primeiramente, estou aqui para visitar aquelas Elfas.”

“...Só pra confirmar, senhor. Quer ver as Elfas que a gente mantém em
cativeiro?”

Desculpe, eu não deveria ter agido desse jeito estranho para mascarar
meus erros... Ah, que isso, não me olhe desse jeito tão sério, por favor, apenas
sorria como sempre faz...

“...Correto. Eu gostaria de saber o que elas andam fazendo. Tenho algo


em mente e preciso que elas sanem algumas de minhas dúvidas.”

“Entendido, senhor, vou buscar elas imediatamente.”

Ainz sabia que isso aconteceria, ou melhor, ele sabia que todos os
habitantes de Nazarick teriam reagido da mesma maneira. Foi por isso que ele
preparou uma resposta — que na realidade era apenas uma desculpa
esfarrapada.

“N-não. Não há necessidade, pois tenho dois objetivos a cumprir aqui.”

“...Então são dois? Ter considerado tanto apenas pra ter uma conversa
com cativos...”

Era fácil dizer quais eram seus pensamentos apenas vendo o brilho em
seu olhar, “Como esperado de Ainz-sama.”

Não, é apenas o jeito que achei para contornar como você e o Mare
reagem quando eu peço algo.
Obviamente ele não poderia dizer em voz alta, então escolheu apenas
desviar o olhar.

“O primeiro objetivo consiste em usar minha presença física para aplicar


pressão mental nelas. O segundo... não está diretamente relacionado às Elfas.
Já que agora reinamos sobre toda a Grande Floresta de Tob, trouxemos todos
os tipos de criaturas para o Sexto Andar. Sendo assim, eu gostaria de ver por
mim mesmo o que mudou por aqui. Aura, se possível, quero que me leve para
onde as maiores mudanças ocorreram. Algum problema?”

Para resumir, Ainz tentou o seu melhor para evitar interferir nos
Andares, já que eram gerenciados diretamente pelos Guardiões; como
resultado, ele não tinha visto pessoalmente o que tinha mudado.

Esse era seu modo de dizer que confiava neles. Se o trabalho de um


subordinado fosse feito corretamente, a interferência de seus superiores seria
apenas um aborrecimento sem sentido.

Como essa era uma oportunidade rara, Ainz queria passar para ver por si
mesmo. O que ele não tinha certeza era como Aura interpretaria o que ele
acabara de dizer. O jeito de Aura mudou de repente. Ele podia sentir um nível
inimaginável de estresse emanando dela.

“—Eu entendo. Senhor, ‘o primeiro’ foi sobre isso!”

Aura respondeu com uma expressão séria:

“Ainz-sama, não há necessidade de perguntar se ‘tem algum problema’!


Ainz-sama, o senhor é o Supremo Governante de Nazarick, não importa o que
seja, o que o senhor ordenar é a lei, nada que o senhor faça jamais será um
problema!”

“Hã...? Erm, hm. Me sinto lisonjeado por dizer isso.”

“E disse que tá lisonjeado... Humm, eu acredito que onde ocorreram


mais mudanças foram nas Campinas, então é pra lá que vamos.”

“Campinas—”

Ainz procurou em suas memórias:

“—Onde levaram os monstros do tipo planta, não é?”


“Correto, senhor. Há também uma área segregada pra monstros do tipo
planta não-inteligentes e uma área pra monstros inteligentes do tipo planta.
Alguns dos quais se estabeleceram na vila que construímos há algum tempo e
estão vivendo como humanos. Gostaria de visitar lá também?”

A referida vila foi construída para que os humanos pudessem viver


dentro de Nazarick também. Caso encontrassem um Jogador, talvez fosse
necessário demonstrar que Nazarick e os nativos desse mundo poderiam
prosperar juntos. Foi por isso que a vila fôra construída.

Algumas casinhas e uma fazenda eram vistas. Dado à escala, talvez não
fosse um nome muito adequado, mas tinha sido o termo adotado.

“Ainda se lembra? A Dryad chamada Pinison?”

“...Ah, creio que sim.”

Isso foi uma mentira.

Ele não conseguia se lembrar do rosto dela, apenas uma vaga lembrança.
Comparado com Pinison, a luta contra a enorme Árvore Maligna foi muito
mais memorável. Pinison era apenas uma gota de água naquele oceano de
lembranças.

Verdade seja dita, Ainz era terrível em lembrar os rostos e nomes de


terceiros. Ele era do tipo que anotava secretamente suas primeiras impressões
de uma pessoa em seu cartão de visita, isso se lhe dessem um.

“Ela agora é como uma chefa da vila.”

Ao questioná-la, Ainz descobriu que muitos dos monstros do tipo planta


eram caprichosos, então o título de “Chefa” de Pinison era praticamente
autonomeado. No entanto, ela foi a primeira a chegar à Nazarick e também a
que ajudou a formar conexões entre os outros monstros do tipo planta. Para os
forasteiros, ela tinha alguma posição e era alguém que admiravam.

Havia monstros do tipo planta que eram mais fortes que Pinison, então
poderia acontecer alguma disputa pelo título. Como ela tinha o apoio de Aura
e Mare, no entanto, não houveram grandes problemas até agora.

Os recém-chegados do tipo planta geralmente recebiam as “boas-vindas”


de Aura e Mare. O conteúdo dessa recepção implicava em uma demonstração
das proezas de combate dos gêmeos e de suas invocações até que os monstros
forasteiros se submetessem. A diferença de poder pairaria sobre suas cabeças
toda vez que uma ordem fosse dada pelos gêmeos e, como tal, eles se
esforçariam para cumpri-la perfeitamente.

Além disso, ao testemunhar os Woodland Dragons — invocações de


itens de cash sob serviço de Mare —, os monstros se perguntaram se Mare era
ou não um deus.

Essa crença estava bem consolidada. Especialmente depois de ver que


Mare poderia conjurar uma tempestade e aumentar o valor nutricional da terra
para níveis sem iguais.

“Mas, duvido que todos os monstros o vejam como um deus. Existem


alguns que reconhecem esses eventos como resultados de magia druídica, mas
o reverenciam mesmo assim... Como devo dizer...”

Aura soltou um “hmm” e imergiu em pensamentos.

Ainz podia entender por alto. Isso era praticamente o mesmo que
Jogadores reverenciando aqueles com equipamentos superiores como deuses,
idols ou algo assim.

“—Hm, entendi o conceito. Enquanto tudo estiver sob seu controle, não
haverá problema. Use qualquer método ou abordagem que lhe convir, mm...
hmm, uhum. Enfim.”

Ainz lamentou sua péssima escolha de palavras. Dado o excelente


trabalho que aqueles dois haviam feito na administração do Andar, não havia
necessidade de acrescentar seu falatório sem sentido. A melhor resposta teria
sido apenas dizer: “Fizeram muito bem!”

Ainz deu uma olhadela no rosto de Aura. Não parecia que seus dizeres
tivessem afetando-a, mas era difícil dizer seus pensamentos.

Não posso dizer coisas que desmoralizem meus subordinados, ahh, até li
isso naqueles livros sobre gestão de negócios, não...?

Ainz fez uma anotação mental para prestar atenção ao que fosse dizer.
Além disso, ele teria que prestar atenção ao tom de sua fala também.

“...Ah! Embora seja bom dar uma olhada na vila, vamos nos ater à
Campina por ora. Afinal, foi sua sugestão. Desculpa pelos inconvenientes,
Aura.”

Aura imediatamente começou a acenar com os braços em pânico.


“P-por favor, não fale uma coisa dessas! Como eu disse, o senhor é o
Supremo Governante de Nazarick! Sinta-se à vontade pra ir aonde quiser. Eu
que fiz uma sugestão tola e sinto muito por isso!”

“N-Não...”

Porque está se desculpando? Ou melhor, por que você anda agindo


desse jeito hoje? Será que foi porque pisei na bola quando cheguei? Será que
ela pensou que eu tinha outros planos?

Enquanto Ainz ponderava, Aura continuou a divagar:

“Dentro de Nazarick— perdão, neste mundo inteiro não há onde


Ainz-sama não tenha permissão pra ir!”

Bem, há muitos lugares onde eu não posso ir, Ainz pensou.


Especialmente lugares de entrada exclusiva para mulheres.

Mesmo para esses lugares, Aura ainda poderia dizer: “Sinta-se à vontade
pra entrar, não tem problema”. Como seria uma situação extremamente
vergonhosa de se ouvir, Ainz preferiu ficar quieto.

Ele deu uma olhada em Lumière, cuja expressão facial dizia “Ela tem
razão” enquanto acenava a cabeça em resposta.

Estava ficando chato sempre ter que inventar desculpas diferentes.

Mas ele tinha que se certificar de não expor seus verdadeiros


sentimentos. Então disse gentilmente à Aura:

“Então devo pedir-lhe para mostrar o caminho.”

“Agora mesmo! Deixe comigo!”

Disse Aura enquanto batia pesadamente em seu peito, por fim completou
com:

“Então... quanto ao transporte? Deseja alguma montaria?”

“Sim, se importaria de arrumar alguma?”

“De modo algum, só um momento!”

Aura olhou para trás e ergueu uma sobrancelha, parecendo pensativa.


Alguns segundos se passaram.

“Sei que existem muitos, mas chamei Fenn e Quadracile aqui pois senti
que seriam os mais adequados. Isso é aceitável?”

“Não precisa da minha aprovação para tudo. Se você acredita que é


aceitável, então não vou discordar.”

“Beleza, muito obrigada, senhor. Poderia aguardar mais um momento


enquanto preparo eles?”

“Ah, conto com você.”

Ainz concluiu a conversa e começou a olhar ao redor da arena.

Caminhar pelo 5º e 6º Andar da Grande Tumba de Nazarick provocava


um tipo diferente de alegria em comparação com o 9º e o 10º. Embora
extremamente raro, era possível ver a Aurora Boreal em algumas épocas do
ano (em determinadas horas), naquela partezinha do mundo feita inteiramente
dentro do 5º Andar. Comparado a isso, a satisfação era muito mais atingível
apenas por passear pelo 6º Andar.

Ainz sorriu. Seu estômago inexistente estava um pouco melhor.

♦♦♦

Pedindo licença, Aura se afastou de seu mestre e Lumière enquanto


levava à mão em seu colar.

Os gêmeos usavam colares legacy-class que lhe permitiam a


comunicação bidirecional. Como itens, não eram particularmente fortes, mas
os gêmeos ainda os usavam de maneira bastante apropriada. Após serem
equipados, seu efeito demorava dois dias para ativar. Normalmente, itens com
tais condições eram poderosos, mas esses eram uma exceção. Além disso,
quem estivesse falando deveria segurar o colar, o que não era o ideal durante
lutas difíceis.

Com tantas limitações, sua maior vantagem era a capacidade de


comunicação ilimitada. Agora, se itens como esses eram úteis ao ponto de
ocuparem um slot de equipamento era um debate para o qual ainda não havia
resposta.

“...Mare, o Ainz-sama veio visitar a gente.”

Um momento depois, a voz de Mare reverberou em sua mente.


『Eh, eh? A-Ainz-sama veio aqui pessoalmente? Aconteceu alguma
coisa?』

“Não tá na cara? É uma inspeção surpresa, uma inspeção.”

『Eeeh?』

“Acho que o Ainz-sama veio ver se a gente e os Guardiões de Área estão


gerenciando as coisas do jeito certo. Embora hoje esteja inspecionando apenas
as Campinas, a gente precisa ter certeza de que os Guardiões de Área estão
atentos.”

『Então acha que ele começou a inspeção do nosso Andar porque


muitos estrangeiros vieram para cá? Ou ele está fazendo em um por um?』

“—Ah, quem sabe.”

De repente uma luz acendeu dentro da cabeça de Aura. Claro, poderia


ser nada mais do que um erro, mas ela pensou que Mare provavelmente tinha
razão.

“Ainz-sama me disse que veio aqui com dois objetivos, mas a gente sabe
como o Ainz-sama é, ele sempre tem mais coisas em mente. Sei lá, talvez
botar pressão na gente tenha sido um objetivo oculto.”

『Quê? Mesmo que o nosso trabalho fora de Nazarick esteja


aumentando aos poucos, ainda é importante garantir que os deveres mais
importantes e básicos sejam atendidos adequadamente, não é?』

Embora ainda estivesse confusa, ela tinha algumas pistas.

No passado, Shalltear e Cocytus costumavam observar o trabalho de


Albedo e Demiurge com inveja. Mas agora, todos eram enviados para
trabalharem fora de Nazarick em uma frequência cada vez maior. Eles
demonstraram com primazia sua lealdade durante a destruição do Reino por
meio de seu poderio militar. Com isso, seu mestre deve ter notado o clima
festivo entre eles.

Independentemente dos deveres, Aura e Mare eram Guardiões de Andar


de Nazarick. Defesa, gestão e governança eram responsabilidades que sempre
vinham com o Andar que lhes era atribuído. Então, estaria seu mestre
questionando-lhes se haviam esquecido seus deveres originais em detrimento
dos novos?
Se seu mestre expressasse preocupação com a ética de trabalho que
aplicavam, eles seriam uma vergonha para os Guardiões de Andar. Se os
outros Guardiões de Andar, especialmente a Supervisora Guardiã — Albedo
— ouvissem a respeito, eles certamente seriam repreendidos. Então talvez
fosse seu mestre dando-lhes uma colher de chá nesse quesito.

“Talvez o Ainz-sama queira que digamos aos outros Guardiões o que


anda acontecendo, para que todos possamos estar mais alertas.”

『Faz todo sentido. Então isso poderia ser um quarto objetivo? Mas
sinto que há algo mais.』

Aura não sabia, muito menos Mare. O pensamento de que Demiurge e


Albedo poderiam saber algo os fez ficar cabisbaixos.

“Enfim, precisamos dar um jeito nisso.”

『...Eh? Em que seria?』

“Ah, foi mal, esqueci de te contar. Eu disse que são dois objetivos,
lembra? A inspeção foi o primeiro. O segundo é visitar aquelas Elfas que tão
morando nos quartos vagos.”

『Ah, aquelas lá. Toda hora ficam falando realeza isso, realeza aquilo.
Elas são tão incômodas, espero que o Ainz-sama leve-as embora.』

A voz de Mare mostrava antipatia sincera por elas.

Mare, cujo passatempo consistia em ficar embaixo de seu futon o dia


todo, parecia ser considerado por aquelas três como alguém incapaz de cuidar
de si mesmo, e então elas acabaram zelando muito mais por ele do que por
Aura. Isso incluía pendurar o futon para secar, ajudá-lo a se vestir e, às vezes,
até tentar dar banho nele. Isso era um incômodo para Mare, mas como ele
havia sido encarregado de seu bem-estar por ordens de seu mestre, ele não
podia simplesmente recusar suas demonstrações de cuidado.

“—Ah, Fenn e Quadracile tão chegando. Não sei quanto tempo vai
demorar até a gente chegar, mas esteja pronto, Mare.”

『Mhm, conte comigo.』

Aura desligou o elo mental e voltou para seu mestre.

♦♦♦
A Campina no 6º Andar de Nazarick era o lar de flores desabrochando
de todas as cores. Se algum invasor sobrevivente do inferno acima chegasse a
ver isso, certamente começaria a suspeitar da localização de mímicos de flores
e outras armadilhas mortais. Todavia, nada do tipo estava presente.

Tinha toda a cara de ter várias armadilhas, mas a verdade era que não
havia contramedidas contra invasores instaladas no local.

Em YGGDRASIL havia monstros do tipo planta e inseto capazes de


imitar flores, mas nenhum foi implantado aqui. Nenhum Guardião de Área foi
designado para o local também.

Em suma, era apenas uma bela campina sob o controle direto de Aura e
Mare.

De fato, originalmente havia um plano para encher o local com


armadilhas.

Os invasores que chegassem ao 6º Andar provavelmente não aceitariam


o fato de uma bela campina como essa estar imaculada. Assim, agiriam com
cautela, permaneceriam à distância e usariam ataques imbuídos com efeitos
ígneos para queimar todo o lugar. Portanto, na ocasião discutiram a
possibilidade de plantar flores capazes de responder ao fogo, flores essas que
espalhariam veneno mortal ou paralisante. Mas esse plano foi repensado
devido à forte oposição das três mulheres da guilda. O resultado foi uma
campina simples e despretensiosa.

Era assim que Ainz se lembrava da Campina, mas parecia diferente


agora.

Um total de doze botões de flores grandes o suficiente para engolir uma


pessoa inteira surgiram abruptamente. Pareciam bastante estranhos, ou
melhor, pareciam um mau presságio.

Ainz tentou lembrar o que eram.

Esse mundo era lar de muitas criaturas desconhecidas. Mas Ainz tinha
certeza que um monstro semelhante existia em YGGDRASIL.

E, rápido como uma estrela cadente, o nome surgiu em sua mente.

“Isto é um Alraune, correto?”

“Isso mesmo!”
Nenhum foi implantado em Nazarick ou convocado depois de chegarem
a esse mundo, então deveria se tratar de uma espécie forasteira trazida da
Grande Floresta de Tob.

Algo semelhante a uma pá projetava-se do chão no centro da Campina.


Era o item divine-class, “Earth Recover”.

Por ser uma arma dessa classe, tinha capacidade defensiva absurdamente
alta, mas quase zero de poder ofensivo. Isso porque a maioria dos dados foi
usado para habilidades secundárias.

Na Campina também havia bestas mágicas que pareciam coelhos angorá,


os Spear Needles. A maneira como estavam sentados alinhados na Campina
enquanto mastigavam cenouras gigantes adicionava um toque idílico ao lugar,
quase um conto de fadas. Ainda assim, eles provavelmente não estavam
posicionados lá por uma questão de estética.

Ainz provavelmente nunca descobriria sem perguntar à Aura, mas


certamente era para fins de monitoramento.

Apesar de sua aparência, seu nível estava por volta de 60. Os Alraunes
seriam facilmente aniquilados, caso surgisse a necessidade.

“Só pra constar, a cenoura que aquele filhote tá mastigando foi colhida
nas fazendas. A Pinison e outros monstros do tipo planta tão usando os
poderes que tem pra fornecer nutrientes à vontade, aí as cenouras comuns
foram transformadas nessas cenouras grandonas.”

“Não foi crescimento, mas sim transformação? É seguro para o


consumo? Se bem que, devido ao nível deles, traços de veneno não teriam
nenhum efeito nos Spear Needles.”

“Não têm veneno. O Head Chef analisou e passou nos requisitos


mínimos pra ser ingrediente culinário. Infelizmente, não dão buffs como os
mantimentos que já temos em Nazarick — a única diferença é que são
grandonas e mais doces.”

“É praticamente um super alimento, então? Os fazendeiros do Reino


Feiticeiro poderiam cultivá-la?”

“Quem dera. Mesmo com a ajuda de monstros do tipo planta, ainda é


difícil cultivar muitas. Uma única cenoura daquela drena muitos nutrientes da
terra, e olha que a gente tá usando o poder do Earth Recover. Não que a terra
viraria um deserto, sabe, mas sem usar magia de recuperação, seria necessário
deixar o solo descansando por um ano todinho.”
Enquanto olhavam, o maior botão de flor se abriu gradualmente.

“Esta aqui é a Alraunelord, líder de todos os quatorze Alraunes que


temos.”

Aura deu uma rápida introdução para o botão que se abrira.

“Quatorze?”

Depois de uma ligeira recontagem, Ainz perguntou:

“Não são... doze?”

“Sim, os outros dois tão escondidos na Campina, porque são filhotinhos.


Devo fazer eles aparecerem?”

“...Não, não precisa.”

Monstros nascidos dentro de Nazarick contariam como monstros de


Nazarick? Que tipo de desempenho poder-se-ia esperar deles? Perguntas
surgiram uma após a outra. Antes que pudesse indagar Aura, a flor
desabrochou completamente.

Como esperado, um monstro de aparência feminina estava dentro.


Parecia muito com o que ele viu em YGGDRASIL. Mesmo com a alcunha de
“Lord”, não havia nada de extraordinário além de seu tamanho.

Seus cabelos e olhos eram da mesma cor de suas pétalas. Todo o corpo
estava tão verde quanto seu caule. Estava nua, mas sua pele parecia composta
de pequenos brotos, parecia bem estranho.

Seus olhos eram oblíquos e finos como uma linha. Sua expressão parecia
bastante hostil, beirando a raiva.

De repente, Ainz sentiu nostalgia, ao lembrar de uma garota do Reino


Sacro com um olhar semelhante.

Ainz era ruim em lembrar feições, mas aquele par de olhos o marcou
profundamente.

O rosto do monstro se contorceu de maneira maldosa.

“Bom dia, Aura-sama. Mais uma vez a senhora trouxe diante de nós um
lindo raio de sol. Em nome das raças verdes, ofereço-lhe nossa gratidão.”
A voz soou cristalina, livre de hostilidade. Era correto dizer que havia
muita reverência em seu tom. Parecia que o “sorriso” de antes era de pura
compaixão, mesmo que parecesse estar tramando algo.

Os indivíduos ao lado da Alraunelord tinham muitas farfalhas em suas


pétalas, mas nenhum florescia. Parecia que não tinham intenção de
desabrochar. No entanto, notava-se olhadelas para Ainz, pois seus olhos não
estavam completamente obscurecidos.

Como não conseguia entender o que suas ações significavam, era


inapropriado chamar isso de desrespeito. Talvez essa fosse a melhor maneira
de mostrar respeito na cultura Alraune.

“E...” os olhos da Alraunelord se voltaram para Ainz.

“Este é o governante da Grande Tumba de Nazarick. Além dessa


floresta, toda essa área também está sob seu domínio. O fundador do Reino
Feiticeiro que acolhe todas as espécies. O Rei dos Reis, o monarca absoluto,
Sua Majestade Ainz Ooal Gown!”

Aura o apresentou com orgulho. Ainz sentiu que o rosto da Alraunelord


se tornou mais hediondo. As pétalas dos outros Alraunes tremeram enquanto
escondiam seus rostos. Eles estavam alarmados ou com medo? Ou talvez essa
fosse outra maneira de mostrar adoração?

Era impossível julgar as feições, mas Ainz pensou que era o último.

“É-é um deleite conhecê-lo, soberano dessas terras, governante do Reino


Feiticeiro e, o mais importante, mestre de Aura-sama e Mare-sama, Vossa
Majestade Ainz Ooal Gown.”

A criatura abriu os braços como se fosse uma saudação:

“Me chamo Violet, é uma honra conhecê-lo.”

Pera aí, seu nome vem da cor do seu cabelo?

Pensou Ainz.

Um nome relativamente simples e direto, mas Ainz preferiu não dizer


em voz alta. Não era uma boa idéia tirar sarro do nome de alguém, ainda mais
diante do mesmo.
“Hum, me lembrarei. A propósito, esse lugar está sob a jurisdição de
Aura e Mare. Eu não vou intervir muito, e dificilmente receberá ordens
minhas, então apenas siga ordens deles.”

Poderia haver confusão se os comandos emitidos por um gerente de


departamento e o CEO fossem misturados, Ainz teve experiência pessoal com
isso. Como ele não sabia como os gêmeos administravam os Alraunes, era
melhor manter as coisas vagas.

Ele não sabia quais tarefas os Alraunes foram incumbidos, ou como


estavam sendo tratados. Então, não sabia o que dizer.

“Entendido, Vossa Majestade Rei Feiticeiro.”

Apesar de ter vindo de uma floresta, os modos dela são bastante


decentes.

Elogiou Ainz os modos do monstro.

Quando essa fêmea foi treinada? Ela foi educada pelos gêmeos? Ou
seria em outro lugar?

Ou talvez—

—Talvez o nuance tenha se perdido... Pode ser que ela esteja falando de
maneira mais alraunesca? Por exemplo, ela pode estar dizendo “Ainz é um
brotão”.

Embora fosse ótimo que pudessem se comunicar normalmente, Ainz se


perguntou se essa desconexão poderia criar algum problema. Bem, não era
como se ele realmente se importasse em ser chamado de brotão.

Ainz olhou para a Campina.

Embora os Alraunes estivessem bloqueando sua visão, a cena não estava


tão diferente em comparação com o que era.

A expressão de Ainz mudou para um sorriso indiscernível. Claro,


ninguém poderia ler suas expressões para começo de conversa. Ele então
balançou sua capa de uma maneira elegante, mas apropriada, enquanto se
virava. Diante dele estava Fenrir e Itzamna, Lumière também estava presente.

Quando ele deu um passo à frente, Aura apareceu ao seu lado e


perguntou:
“Pretende parar por aqui? Quer ver os outros Alraunes?”

“Não precisa, não há mais nada que me interesse por aqui. Eu vi o que
queria ver. Vai me levar para as Elfas agora?”

“É pra já!”

Respondeu Aura enquanto subia em cima de Fenrir juntamente com


Ainz.

À medida que se aproximava de seu destino, ele podia ver entre os


galhos a árvore um tanto estranha que servia como residência de Aura e Mare.

Em poucos segundos, as árvores em seu caminho ficaram para trás,


dando lugar a uma vasta planície e, bem no centro, uma árvore gigante era
vista. Sendo mais larga do que alta, seu dossel exuberante projetava uma
imensa sombra no chão.

Parados em frente a uma abertura no tronco da árvore estavam Mare e as


três Elfas.

Estavam todos lá para receber Ainz.

Ele não tinha certeza de quando foram avisados por Aura. Se não fosse
recente, poderiam estar há muito tempo esperando.

Isso foi devido a Ainz não agendar um horário com antecedência, então
ficou bastante envergonhado de si mesmo.

Para efeitos comparativos; digamos que um gerente de filial recebeu a


notícia de que o CEO da empresa principal estava para chegar no ponto de
ônibus mais próximo, certamente faria sentido estar o esperando para dar
boas-vindas, caso não estivesse poderia ser visto com indelicadeza. Porém, se
o mesmo não especificasse horário, seria educado por parte do CEO manter o
gerente esperando-o por um dia inteiro?

Desse ponto de vista, Ainz era o culpado por não os informar com
antecedência.

Ainz queria dizer a si mesmo que não teve culpa, mas uma vez que foi
responsável por tudo, ele realmente estava isento? Afinal, ele não tinha idéia
de quanto tempo estavam esperando sua chegada. Se tentasse se safar
dizendo: “Vocês não precisavam me esperar”, talvez magoasse seus
sentimentos, pois não estaria dando valor ao empenho que tinham tido.
Mare estava trajando sua roupa habitual. As Elfas, por outro lado,
estavam vestidas com roupas bastante simples. Ainz teria preferido se
estivessem melhor vestidas, mas como Aura e Mare decidiram, isso não era
algo que ele poderia interferir.

Talvez se seja o caso... não importa, contanto que a Aura e elas estejam
felizes com isso, não vejo problema.

Mas há outro ponto... Lumière e as empregadas regulares podem não


gostar desses uniformes de empregada.

As empregadas designadas para Ainz eram aparentemente mais


orgulhosas do que suas contrapartes. Portanto, caso fossem importar
candidatas a empregadas domésticas, mesmo que não fossem responsáveis
diretamente por elas, empregadas regulares poderiam, por exemplo, serem
informadas de tudo de errado que faziam. Isso segundo o relato de Sebas a
Ainz.

Embora as empregadas designadas para Aura e Mare pudessem não se


encaixar nos relatos de Sebas, ele não podia descartar completamente a
possibilidade de descontentamento por parte delas. Talvez se sentissem
desconfortáveis ​cercadas por outras com o mesmo uniforme que elas. Até
onde elas sabiam, roupas de empregada eram equipamentos de batalha.

Fenrir os trouxe para onde os quatro estavam.

“Agradeço por terem vindo nos recepcionar. Estou satisfeito com a


lealdade de vocês.”

Ainz os cumprimentou enquanto ainda estava montado em Fenrir.

Embora provavelmente devesse ter ouvido o que Mare queria dizer, ele
sentiu que agradecê-los primeiro possivelmente o colocaria em bons lençóis.

“Mu-muito obrigado!”

Mare sorriu e abaixou a cabeça. As Elfas seguiram o exemplo.

Isso é bom.

Ainz se deu um “toca aqui” mental, parabenizando-se por se comunicar


bem.

Todos ali pareciam estar tensos tanto na postura quanto na expressão


facial. Quando sentiram o olhar de Ainz analisando-as, engoliram em seco.
Independentemente de quem olhasse, todas pareciam nervosas. A
questão era se estavam realmente com medo ou era outra coisa? Talvez fosse
uma ansiedade por considerar que qualquer movimento errado pudesse
significar suas mortes e o nervosismo de conhecer uma pessoa famosa em
“carne” e osso.

Só por garantia, Ainz verificou se sua aura estava ativa. Como não
demonstrou hostilidade ou intenção assassina, elas não deveriam temê-lo...
correto?

Uma situação inesperadamente tensa. E eu achando que estava


arrasando...

Quando alguém do calibre de Ainz exibia emoções fortes, aqueles ao seu


redor se tornavam conscientes disso e ficavam sobrecarregados de medo. Em
outras palavras, as pessoas ao seu redor podiam estimar quais eram seus
pensamentos. Para evitar isso, Ainz procurou orientação de Cocytus, mas
ainda não conseguia ler muito bem a intenção hostil dos outros.

Ainz obrigou Cocytus, que detestava a idéia, a direcionar a intenção


assassina para si e acabou sentindo alguma pressão. No entanto, ele não tinha
certeza se isso era a coisa conhecida como intenção assassina. Talvez os
undeads não fossem bons em sentir esse tipo de coisa.

Os undeads eram completamente imunes a efeitos mentais, então talvez


sentir a intenção assassina pudesse ser contado como um tipo de efeito
mental.

Todavia, Shalltear podia sentir normalmente essa sensação. Na ocasião,


Cocytus disse: “Talvez. Aqueles. Com. Grande. Habilidade. De. Guerreiro.
Possam. Sentir. Melhor”. Ainz pensou consigo mesmo que provavelmente
deveria aprender a detectar essa sensação como um de seus objetivos futuros.
Ou talvez fosse apenas que Ainz seja muito bronco para tamanha
sensibilidade sensorial.

Opa — estou divagando de novo.

Mare começou a falar ao mesmo tempo em que Ainz começou a se


recompor.

“H-mm, o-o senhor, Ainz-sama q-queria v-ver essas E-Elfas hoje, há


algum problema?”
Embora Mare aparentasse mais tímido do que o normal, parece que ele já
tinha ouvido os detalhes de Aura. Isso facilitou as coisas.

Com um movimento exagerado, Ainz mudou sua linha de visão de Mare


para as Elfas. Por sua vez, elas encararam severamente seus pés, como se
estivessem tentando escapar de seu olhar. Estavam visivelmente abaladas.

Independentemente de como interpretasse, isso não parecia algo nascido


apenas de tensão.

É visível que estão com medo. Ainda estão de guarda alta, embora sejam
subordinadas a um par de crianças? Fala sério, após jurarem lealdade e
viverem pacificamente aqui por tanto tempo, teria sido ótimo se entendessem
que esse undead aqui é diferente dos demais... Bem, mas é pela minha
aparência. Mesmo que suas mentes entendam, o mesmo não pode ser dito de
seus corações.

Nesse mundo, dizia-se que os undeads odiavam os vivos e eram


considerados inimigos de toda a vida. Portanto, era natural que elas
estivessem em guarda e tremessem de medo com um undead diante delas.

Talvez a reação delas fosse diferente se vivessem com Shalltear e se


acostumassem com os undeads, mas quase não havia essas criaturas no 6º
Andar, então só restava aceitar esse desenrolar de eventos.

—É como dizem, uma imagem vale mais que mil palavras.

Isso era especialmente válido em YGGDRASIL. Técnicas categorizadas


como habilidades de jogador eram mais fáceis de entender vendo-as
diretamente do que apenas ouvindo uma explicação verbal. Claro, também
precisava-se praticar algumas vezes— não, centenas de vezes para aprender.

“—Não há problema algum, Mare. Eu quero fazer uma... quero dizer,


algumas perguntas para essas três que estão atrás de você.”

As Elfas começaram a hiperventilar cada vez mais rápido.

Não havia a menor necessidade de terem tanto medo, Ainz queria dizer
do fundo de seu coração. Mas infelizmente, ele não podia simplesmente dizer
todo contente “nada a temer, galerinha”. Afinal, não podia sair do seu
personagem de “Supremo Governante de Nazarick, Ainz Ooal Gown”,
contudo, seria problemático se elas não se sentissem à vontade.

“...Não há necessidade de estarem tão tensas. Eu não vim para lhes fazer
mal.”
Ele queria continuar com “então fiquem à vontade”, mas parou depois de
considerar que ele mesmo não acreditaria se estivesse no lugar delas. Se um
CEO convidasse ele e outros funcionários para uma reunião informal, ele
tinha sérias dúvidas que haveria alguém capaz de ignorar a hierarquia com
tanta facilidade.

Haah. Que situação chata...

Embora soubesse que seria uma péssima jogada, de repente ele sentiu
vontade de lançar 「Dominate」. Isso porque não estava confiante de que
poderia convencê-las ou fazê-las se sentirem à vontade.

Isso porque se lembrariam dos dizeres e do que fizeram mesmo depois


que a magia terminasse. Além disso, o uso de magia de controle mental é
considerado de teor bárbaro em outros países.

Ele não sabia como as Elfas interpretariam, mas certamente não


achariam agradável.

Na verdade, se algo assim fosse usado em alguém de Nazarick, até


mesmo Ainz ficaria possesso, esperando por uma oportunidade para matar
seja lá quem o fez.

Obviamente, Ainz não hesitaria em usar para reunir informações


importantes. Ele estaria disposto a lançar 「Control Amnesia」 sem sequer
hesitar.

Mas hoje não havia necessidade de ir tão longe. Não é como se ele
tivesse certeza de que fizeram algo ruim ou estavam escondendo informações.

—Zen...beru? Naquela época foi diferente. Se eu usar magia para obter


informações que eu posso obter apenas dialogando, isso levantaria dúvidas
sobre as habilidades de Aura e Mare.

Os gêmeos, ou melhor, todos na Grande Tumba de Nazarick nutriam


lealdade eterna a Ainz; todos acreditavam que tudo o que ele fizesse seria
correto e isso, segundo Ainz, era uma atitude deveras perigosa.

Justamente por isso, Ainz não queria dar a impressão de estar insatisfeito
com o trabalho deles. Ele não conseguia pensar nas ramificações negativas
que esse mal-entendido poderia levar, até porque, não era como se estivesse
insatisfeito com o trabalho deles.
E se fosse para usar magia de controle mental, ele deveria tê-lo feito
muito tempo atrás.

Ele optou por não fazer quando foram capturadas porque queria torná-las
aliadas de pura e espontânea vontade — ele queria ser visto como seu
salvador. Considerando que investiu nelas a este ponto, usar magia de
controle mental seria como jogar o trabalho de anos no lixo.

“—Hum. Antes de tudo, creio que aqui não é bom para conversarmos.
Vamos para outro lugar.”

Como não estava confiante em abrir seus corações através das palavras,
ele poderia simplesmente usar um método diferente. Essencialmente, uma
mudança de lugar se fazia necessária.

“Nesse caso, melhor a gente entrar!”

“S-sim! Por favor, entre!”

“Aa—”

Ainz olhou para cima — em direção à gigantesca árvore.

Como pensaram que esse lugar seria adequado para isso?

Em certo sentido, era certo afirmar que ainda estavam no território dos
Elfos, então qual diferença seria conversar aqui fora ou lá dentro? Se
entrassem, quem iria preparar as bebidas? Seriam Aura e Mare? Ou talvez
Lumière, já que ela estava presente?

Até que não é tão ruim. No final, a única diferença é se a conversa


ocorreria em uma atmosfera harmoniosa ou tensa. Ou abrem a boca por boa
vontade ou por pressão. Hmmm, não posso perder muito tempo nisso. É
estranho, e olha que já pensei em tudo e simulei suas perguntas e respostas...
como fiz no Reino Dwarf e no Reino Sacro... Será que estou perdendo o jeito
ultimamente?

Como foi convidado, ele deveria responder o mais rápido possível.


Infelizmente, sempre acabava pensando coisas demais em tais situações.

...Por falar nisso, nunca vi as empregadas regulares oferecendo bebidas


aos convidados sem que eu pedisse. N-não, acho que já fizeram isso... uma
vez... talvez.
Não era que elas mesmas preparassem as bebidas. Outrora, quando Ainz
as pediu, elas imediatamente forneceram um leque de sabores. Então
provavelmente estavam armazenados em algum lugar nos aposentos de Ainz.
As empregadas regulares estavam trabalhando com afinco todos os dias para
tornarem-se empregadas perfeitas. Era difícil pensar que esqueceriam ou
seriam apenas insensíveis a tais necessidades.

Assim sendo, certamente pensavam que; como Ainz não bebia, os outros
também não deveriam. Era semelhante a como dificilmente um funcionário
bebesse algo se o CEO não o fizesse.

Segundo seu modo de agir, a maneira correta de etiqueta seria;


prepararem bebidas para Ainz — mesmo cientes de que ele não era capaz de
beber — e, após oferecerem para seu mestre, as forneceriam para os demais.

Espero que todos os convidados que já tive me desculpem por isso…

Ele decidiu que mais tarde conversaria com Pestonya a respeito, pois
estava ficando frustrado por estar desperdiçando tanto poder cerebral em
coisas não relacionadas a esta reunião.

Calma aí, não é nisso que eu deveria estar pensando. Eu deveria decidir
o lugar para bebermos algo. Os gêmeos vão pensar que eu não gosto de
tomar chá na casa deles se eu ficar enrolando mais. Ai sim vai ser um pé no
saco. Mas—!

Consternado, Ainz olhou ao redor.

“Ah!”

Ainz firmou seus ombros para não tremerem com o repentino chamado
de Aura. Sua mente também foi forçosamente limpa de pensamentos
excessivos com esse susto.

“Ainz-sama, tá pensando em ter a conversa em outro lugar no Sexto


Andar?”

“Hum, mh. Correto. O clima está tão aprazível, então estava pensando
que talvez devêssemos fazer isso ao ar livre.”

“Já que é assim, vou fazer os preparativos. Tem uns guarda-sóis e uma
mesa por aqui! Lembro que eram as coisas que a Bukubukuchagama-sama
usava quando tinha que conversar com os outros Seres Supremos! A gente
pode usar. Há uma casa vazia na vila. Além disso, eu ainda não te mostrei,
mas há um gazebo aqui também, Ainz-sama!”
“Lembro-me de fazer isso com os outros.”

Ainz de repente se lembrou de quando se reunia com seus companheiros


para jogar conversa fora.

—Sinto que ando me lembrando deles cada vez menos ultimamente.

Talvez fosse porque ele parou de ver os resquícios de seus companheiros


nos NPCs. Poderia ser porque estava lentamente esquecendo seus
ex-companheiros ou talvez ele tenha começado a ver os NPCs cada vez mais
como entidades próprias. Seria bom se fosse o último caso, mas seria triste se
fosse o primeiro.

Todas as melhores e mais agradáveis memórias ​de Suzuki Satoru tinham


a ver com seus ex-companheiros.

—Não é isso! Não são memórias passadas! A Ainz Ooal Gown ainda
está aqui! Ainda está viva!

Ainz soltou um suspiro enquanto seu coração queimava com emoções


que não conseguia descrever. Em seguida, ele olhou para Aura e Mare.

...Ainda hoje em dia penso... como vocês se sentiram quando todos


foram abandonando a Guilda... Não, eles ainda eram NPCs naquela época.
Se naquele momento eu... opa.

Ele balançou sua cabeça.

Seus pensamentos estavam muito dispersos hoje. Ele tinha que se


certificar de que esse plano fosse bem-sucedido.

Ainz olhou ao redor novamente, parecia que ninguém havia notado que
algo estranho tinha ocorrido com ele.

Provavelmente estavam pensando que estava refletindo a respeito da


proposta de Aura. Agora era um bom momento para selar de vez seus
pensamentos.

“Bem... Não que esse Andar seja ruim, mas esta é uma ocasião tão rara,
podemos muito bem conversar em outro lugar. Talvez seja bom que vocês
conheçam melhor as terras onde habitam.”

Se quisesse contar com a boa vontade delas, seria melhor ir para um


lugar onde estivesse mais familiarizado, mas ele só queria sair daqui.
Nesse caso, onde mais ele poderia ir? Havia duas opções. Uma era
E-Rantel. A outra era o 9º Andar de Nazarick.

Daria uma boa impressão se as Elfas vissem as várias raças coexistindo


em E-Rantel, mas ele não podia garantir que tudo correria bem. Se algo
violento ocorresse, ele as protegeria, desse modo ganharia mais confiança por
parte delas. Entretanto, seria problemático se alguém fizesse algo capaz de dar
uma impressão negativa às Elfas. Por exemplo, se alguém fizesse uma
ceninha de escândalo acusando o Rei Feiticeiro de ser a raiz de todos os
males.

Se fosse para manipular os resultados, talvez ele pudesse controlar


alguns humanos e fazê-los agir para que tudo ocorresse bem, mas isso só
deixaria as Elfas desconfiadas.

Em suma, Ainz era uma fonte de medo em E-Rantel. Embora houvesse


pessoas que o admirasse, eram minoria. Infelizmente a proporção era algo
como 70|30. Portanto, seria uma má idéia se as deixasse ver que o povo o
temia. Além disso, havia a possibilidade de as Elfas interpretarem que as
várias raças de E-Rantel foram levadas para lá para serem escravas.

Pensando bem... melhor ir no Nono Andar. Nesse caso, em qual parte?

Deveria ser seus aposentos, assim ele aproveitaria e treinaria Lumière em


fornecer refrescos?

Ainz ponderou.

Beber algo na sala do CEO ou beber algo em uma lanchonete. Qual deles
o deixaria mais à vontade se estivesse no lugar delas?

“Creio que sei de um lugar perfeito. Não vamos perder mais tempo.
Iremos para o Nono Andar. Existe um excelente refeitório lá. É bem melhor
conversar almoçando — já almoçou, Mare?”

“N-não, ainda não”

“Vejo que cheguei em bom momento.”

Na verdade, Ainz também estava tentando conquistá-las enchendo seus


estômagos.

Como demorou para chegar, ele estava preocupado que já tivessem


terminado o almoço. Por outro lado, como não foram informadas de antemão
de sua chegada. Elas sequer poderiam ter tido tempo de almoçar, afinal, não
sabiam a hora exata em que ele chegaria.

“Bom. Então vamos conversar enquanto almoçamos.”

Ainz olhou para as Elfas:

“O que me dizem?”

As Elfas começaram a entrar em pânico, tentando empurrar a resposta


uma para a outra. A do meio acabou respondendo, mas foi mais por ter sido
pressionada de ambos os lados do que se prontificar voluntariamente como
representante.

“S-sim. Se Aura-sama e Mare-sama não se incomodarem.”

Certamente não era algo que ele pudesse decidir sem perguntar aos
gêmeos.

“Se não for problema, quero levá-las ao refeitório. O que acham? Eu


quero que vocês dois venham também, se possível.”

“Pra gente tá ótimo! Né, Mare?

“Uh, nn. Ah, não, digo, sim. Eu estou bem com isso, assim como a
onee-chan disse.”

“Perfeito. Vejamos—”

Ainz olhou para as Elfas.

“Vou lançar 「Gate」.”

Parte 2
Primeiro retornaram à entrada do 6º Andar com 「Gate」. Então, Ainz
enviou uma 「Message」 para Aureole abrir um portal para o 9º Andar.
Naturalmente, o portão entre o 8º e 9º Andar funcionava sem problemas. Se
não fosse esse o caso, era altamente provável que o sistema Ariadne fosse
acionado.

Realmente não havia necessidade de pegar este caminho indireto.


Embora ele não pudesse teletransportar todos para lá de uma vez devido ao
limite de capacidade do Anel de Ainz Ooal Gown, ele poderia ter feito a
viagem duas vezes. Foi apenas a extrema cautela de Ainz que o fez passar por
todos esses problemas apenas para dar às Elfas a impressão errada. O fato era
que ele estava extremamente relutante em mostrar as habilidades do anel para
as forasteiras.

Os subordinados de Cocytus, que estavam de guarda, curvaram suas


cabeças profundamente com a chegada de Ainz.

“—Obrigado por seu trabalho.”

Ainz deu-lhes uma rápida saudação magnânima, condizente com as


gravitas de um governante.

Seguindo Aura e Lumière, as três Elfas saíram do portal e se agruparam.


Elas ficaram atônitas no momento em que viram os monstros se curvando
para Ainz.

Não era como se os vassalos de Cocytus estivessem sendo hostis. Essa


foi uma reação natural, era o mesmo se uma pessoa normal passeasse por uma
floresta e do nada visse um tigre surgindo de um arbusto.

Uma das Elfas recuou um pouco.

Sua falta de ação diante da entrada estava incomodando Mare, que


caminhava atrás delas. Mesmo que ele tenha apenas a empurrado levemente
(restringindo muito de sua força), foi fatal para o senso de equilíbrio da Elfa
já bastante tensa.

“Ai...” lamentou enquanto caía miseravelmente no chão. As outras Elfas


ficaram pálidas, embora imediatamente tentassem levantá-la, a Elfa caída teve
problemas para se reerguer. Parecia que todas as forças tinham fugido de suas
pernas.

“...Não tenha medo. Em Nazarick não há ninguém que ousaria lhes


machucar.”

“S-sim...”

Dificilmente estavam duvidando das palavras de Ainz, mas mesmo


assim, sua tensão não diminuiu. As Elfas ao lado dela estavam balançando a
cabeça rapidamente, seus cabelos eram jogados de um lado para o outro
rapidamente devido à imensa velocidade com que faziam. Quanto à Elfa ainda
no chão, parecia que ela estava à beira das lágrimas.
Ainz poderia dizer com confiança que teria problemas se isso
continuasse. Ele tinha que, no mínimo, acalmar um pouco seus corações.

“...Vamos descansar um pouco antes de irmos para o refeitório... 「Gate


」. Aura, pegue-a.”

“Beleza!”

“N-não há necessidade de fazer algo assim, Aura-sama...”

“—Tá tudo bem, Relaxa aí. Vem cá.”

Aura rapidamente levantou a Elfa, ignorando suas súplicas, e a colocou


sobre o ombro. Em adendo, como ela usava uniforme de trabalho, não havia
como espiar por debaixo de sua saia.

O lugar conectado pelas extremidades escuras do「Gate」 era os


aposentos de Ainz.

Em seu interior havia três empregadas curvadas com equipamento de


limpeza.

“Vejo que estão fazendo um bom trabalho. Não vou demorar muito, vim
apenas descansar um pouco. Eu não me importo se continuarem com seu
trabalho.”

As empregadas responderam afirmativamente e se curvaram novamente


enquanto os demais convidados saíam do 「Gate」.

Boquiabertas, as Elfas começaram a observar o ambiente, pareciam um


bando de idiotas. Aparentemente acharam tudo ao seu redor bastante exótico,
diferente da casa dos gêmeos. Também pareciam menos tensas em
comparação com antes, provavelmente porque as empregadas regulares eram
muito mais agradáveis ​do que os vassalos monstruosos de Cocytus.

“Aura. Deixe-a sentar naquela cadeira ali.”

Depois que Ainz apontou para a cadeira de Albedo, Aura rapidamente


colocou a Elfa lá. A mesa de Albedo estava impecável como sempre. A
propósito, a mesa de Ainz também estava impecável, embora em um sentido
diferente da palavra.

“Mu-muito obrigada...”
Ainz tentou falar o mais gentilmente possível para a Elfa sentada e
cabisbaixa:

“Não há de quê. Eu posso entender seu choque, mas como eu disse antes,
pode relaxar. Ninguém em Nazarick faria mal a você, então peço que fique
menos tensa.”

Bem, não é como se essas palavras trouxessem alívio imediato e


milagroso.

Ainz virou as costas para as Elfas, foi até uma das empregadas e deu
uma ordem em tom de voz bem compassivo:

“Em breve vamos ao refeitório. Certifique-se de que não encontraremos


ninguém, exceto as empregadas durante nosso caminho até lá. Faça a mesma
coisa no refeit...”

Refeitório, ele queria dizer, mas em vez disso:

“Ignore essa última parte. Não há nenhum problema com o refeitório


sendo usado como de costume. Em vez disso, seria melhor usarem-no como
fazem normalmente.”

“Sim, irei imediatamente. Com sua licença.”

“Sinto muito por interromper seu trabalho, conto com você.”

“Não há o que desculpar, Ainz-sama.”

Ele a abordou porque era a empregada que estava mais perto, mas o
modo como ela olhava vitoriosa para suas colegas, deu a entender que ela
pensava diferente. Suas colegas franziram um pouco a testa com inveja
tangível.

A empregada recém-ordenada deu meia-volta para suas colegas e saiu da


sala a passos largos.

Ainz podia sentir — o que deveria ser raro para alguém de sua raça — as
outras empregadas olhando fixamente para suas costas. Sem dúvida, seus
olhos estavam cheios de expectativa ansiando por qualquer ordem especial.
Aliás, ele não conseguia perceber nada de Lumière, provavelmente porque ser
sua dama de companhia já denotava um cargo especial por si só.
Parecia que ele estava pisando em ovos (obviamente as empregadas não
tiveram intenção de causar isso), Ainz se forçou a desviar o olhar das
empregadas para as Elfas.

Ele confirmou que agora respiravam normalmente.

“Parece que não há mais problemas... vamos indo então.”

Ele não queria apressá-las, pois achava que seria forçoso, mas também
não queria perder tempo demais aqui.

Depois que confirmou que a Elfa poderia andar novamente, Ainz


assumiu a liderança e saiu da sala. As empregadas foram sumariamente
ignoradas, deixadas com olhares desgostosos para trás.

Enquanto estavam a caminho do refeitório, às vezes ele podia ouvir os


suspiros de admiração das Elfas atrás dele, dizendo “Incrível” e “Que lindo”.

Ainz queria se gabar, mas se conteve e continuou a avançar sem olhar


para trás.

Eles finalmente chegaram ao refeitório sem encontrar nenhum outro


NPC ao longo do caminho. O trajeto demorou mais do que o normal por
causa da lentidão das Elfas estupefatas — também porque Ainz diminuía o
passo enquanto passavam pelos lugares que ele tinha orgulho especial.
Resumindo, não houveram outros incidentes.

O refeitório de Nazarick foi criado com base nos refeitórios de empresas


e escolas. Curiosamente, nem a escola que frequentou ou a empresa que
trabalhou tinha um lugar assim, então ele não sabia se era uma representação
acurada. Em contrapartida, seu ambiente era um pouco diferente de um
restaurante.

Esta foi a primeira visita de Ainz desde a época em que visitou todos os
estabelecimentos em Nazarick, logo depois que vieram parar nesse mundo,
mas parecia que nada havia mudado muito. Ele podia ouvir burburinhos das
moças envolvidas em conversas animadas, assim como o som de talheres.

Provavelmente estava cheio de empregadas regulares e outros que


também trabalhavam no 9º Andar. Talvez houvesse Guardiões de Área
presentes. Era um pouco tarde para o almoço, mas talvez devido ao sistema de
turnos o local ainda estava animado. Se pudessem ver as empregadas
almoçando pacificamente, as Elfas deveriam entender que tipo de lugar era
aquele. Elas poderiam sentir-se deslocadas, mas ainda assim, essa atmosfera
do dia a dia deve acalmá-las. Foi por isso que ele não ordenou que
esvaziassem o refeitório.

Mas no momento em que Ainz entrou, o clima mudou de repente.

Primeiramente, ficou em completo silêncio.

As vozes alegres de antes e os sons animados dos que se banqueteavam


desapareceram completamente. O clima ficou frígido, estava completamente
inadequado para um refeitório.

Então — Todos encararam Ainz, seus olhos prestavam atenção, enquanto


seus corpos não moviam um músculo.

Era como se ele fosse um forasteiro.

Como se fosse um heteromorfo com carma negativo que acabou de


entrar em Alfheim.

“—Não se importem conosco. Continuem com o seu almoço.”

Alguns aqui e ali, principalmente as empregadas regulares, começaram a


comer novamente ao ouvir o que Ainz disse, mas não havia indicação de que
as animosidades retornariam. Todos comeram em silêncio.

Ainz não queria interromper o almoço de ninguém. Ele começou a se


sentir um pouco isolado, mas, pensando bem, não era como se não pudesse
entender como se sentiam.

Se um CEO que nunca tinha visitado até agora aparecesse de repente no


refeitório, provavelmente seria assim. Suzuki Satoru faria o mesmo nessa
situação. Quem sabe fosse diferente se fosse uma microempresa, daquelas em
que patrão e funcionário fossem mais próximos.

No meu caso é praticamente impossível...

Seria extremamente difícil mudar de repente sua imagem como o


“admirável ditador Ainz-sama” para o “Ainz-san amigão da vizinhança”.

Talvez se descobrissem que ele era um idiota, tal mudança poderia ser
possível, mas ele não conseguia se ver suportando o desprezo de todos (o que
era improvável).

“Bem, vamos entrar.”


Virando-se para o trio, Ainz tentou observar discretamente as reações das
Elfas.

Nem precisou de muito tempo para notar como seus ânimos haviam
despencado. Algo compreensível. Elas certamente notaram que antes havia
um clima harmonioso no refeitório. Foi isso que ele quis dizer com “o súbito
heteromorfo em Alfheim”.

Não havia como reverter, pelo menos ele não conseguia pensar em um
modo.

Talvez se acostumem com o tempo, Ainz entrou no refeitório com


pensamentos não tão otimistas.

Ele não queria deixar as empregadas ainda mais tensas, então se


aproximou de uma mesa aleatória mais afastada e apontou para o assento em
frente ao seu.

“Sentem-se.”

As Elfas começaram a se olhar com expressões perturbadas. Deu a


entender que estavam tentando decidir quem ficaria presa com o ônus de
sentar diante de Ainz. Essa conclusão fez muito sentido.

“...Entendi. Talvez os costumes élficos sejam diferentes dos nossos,


então vamos manter a informalidade e não nos preocupemos com isso.”

Ele tentou jogar um verde, agindo como se interpretasse sua hesitação de


forma diferente. Não seria bom se hesitassem muito, ele também temia a
reação dos gêmeos se elas ficassem muito indecisas.

“Por favor, pode se sentar à minha frente.”

Ainz apontou para a Elfa de pé na parte de trás. Se bem lembrava-se, ela


sempre ficava mais atrás, então achava justo que ela fosse a escolhida para
ficar de frente a ele.

Honestamente, Ainz não queria ser tratado como uma espécie de fardo.
Dito isso, como alguém que entendia seus sentimentos muito bem, ele decidiu
ser prático.

Foi rápido depois disso.

Os assentos ao lado da Elfa escolhida foram imediatamente ocupados.


Aura e Mare sentaram-se ao lado de Ainz.
Ele queria dizer muitas coisas sobre o fato de Lumière estar de pé atrás
dele, mas decidiu ficar calado.

“Bem... esta é a minha primeira vez usando o refeitório, então me


explique um pouco sobre como funciona.”

Ainz perguntou à Lumière, pois, como uma empregada regular, ela


certamente usou o refeitório exatamente como suas colegas empregadas
estavam fazendo agora.

“Vou pedir— já sei. Eu quero pedir bebidas, há algum tipo de cardápio?”

“Há bebidas gratuitas e um sistema de buffet. Há um self-service de


bebidas e saladas simples bem ali.”

Olhando para onde Lumière apontava, ele podia ver uma fileira de jarras
que pareciam conter as bebidas. Ao lado havia uma pilha de pratos.

“Também é possível selecionar pratos do cardápio.”

“Interessante...”

“Como o chef está na cozinha, acredito que ele irá preparar qualquer
prato que o senhor desejar, Ainz-sama.”

“Ele está aqui? Mas não há necessidade. Se houver um cardápio fixo de


almoço, vamos apenas selecionar os pratos de lá.”

Lumière entregou uma folha de papel.

Era um cardápio com inscrições em japonês. As Elfas provavelmente


não seriam capazes de ler isso. Sendo assim—

“...Já ouviram falar de Katsudon?”

As Elfas negaram.

“...Aura, Mare, o que essas Elfas costumam comer?”

“Apenas a comida normal, ué?”

“S-sim. N-na maioria das vezes, é o m-mesmo que o nosso.”


Nesse caso, os gêmeos nunca provaram katsudon? Não, eles geralmente
recebiam suas refeições pelo delivery interno e também podiam vir almoçar
aqui quando quisessem.

“Você nunca comeu katsudon?”

“A gente já comeu. Provavelmente é só que elas não sabem o que é pelo


nome.”

“Ah, então é isso...”

O cardápio não tinha nenhuma imagem anexada, então era lógico que
não podiam fazer uma associação entre aparência e nome.

Ainz queria pedir “a recomendação do chef”, mas temendo a situação em


que lhe diriam que tudo era recomendado, ele decidiu não o fazer.

“A propósito... isso me lembra de algo. Vocês costumam comer carne?”

Depois que viu as Elfas assentirem, Ainz selecionou um item do


cardápio.

“Gostaria de bife de hambúrguer para todos.”

“Quanto aos molhos, há demi-glace, molho japonês e molho de creme de


mostarda. O senhor também pode selecionar arroz ou pão para acompanhar.”

“...Que tal pão e demi-glace?”

Ele sabia como era demi-glace e molho ao estilo japonês, mas se


perguntou qual seria o sabor do creme de mostarda.

O fato de não poder saboreá-los devido a seu corpo era lamentável.

“Quero!”

“E-eu também. O-o mesmo para m-mim.”

Seguindo as vozes enérgicas dos gêmeos, as Elfas também concordaram


rapidamente. Parecia que não havia objeções.

“Então, esse será o meu pedido.”

Ufa.
Ainz respirou fundo. Não parecia que Lumière iria à cozinha retransmitir
o pedido, Ainz se perguntou o porquê. Talvez alguém que estivesse
trabalhando aqui viesse receber.

“Em relação às bebidas, Ainz-sama?”

“—Oh. Me esqueci completamente. Cada um peça o que quiser. Todos


concordam?”

“Sim. Então eu mesma terei a honra de escolher sua bebida, Ainz-sama.


O que será?”

“Algo adequado— ah, melhor ainda, traga-me um café quente.”

“Como desejar.”

Os outros foram buscar suas bebidas com Aura liderando o bando.

Subitamente, a cozinha ficou barulhenta depois que Lumière entregou o


pedido para alguém.

Enquanto olhava na direção, alguém saiu da cozinha.

Havia um cutelo gigante pendurado em sua cintura e um imenso wok nas


costas. Seu torso estava nu, exibindo um corpanzil com uma imensa tatuagem
em seu peito, onde lia-se “Carne Fresca!!”. E, por fim, uma corrente de ouro
no pescoço.

Embora seu rosto possa parecer o de um Orc, ele era um Ork, uma
espécie semelhante que estava muito mais próxima das feras selvagens.

Havia uma toque blanche branca em sua cabeça e um avental, também


branco, em volta da cintura.

Este homem era o Guardião de Área do refeitório e o supracitado Head


Chef de Nazarick.

Shihoutu Tokitu.

Ele rapidamente correu para Ainz e genuflectiu assim que chegou.

Isso não vai sujar suas roupas? Foi a primeira coisa que Ainz pensou ao
ver a cena.

“Ainz-sama! Seja muito bem-vindo!”


“Há quanto tempo, Shihoutu Tokitu. Fico feliz em ver que é o mesmo de
sempre.”

“HAH!”

Embora Ainz tenha dito que não tenha mudado nada, a última vez que o
encontrou foi quando visitou todos os NPCs. Como fazia tanto tempo, ele não
estava exatamente confiante em perceber mudanças, isso se tivesse acontecido
alguma.

“Parece que você andou emagrecendo, ou é impressão minha?”


“Se Ainz-sama acha isso, então é a verdade!”

Não é para pensar assim!

Ainz engoliu suas palavras.

“Percebi a ausência do seu pedido, Ainz-sama... mas agora eu entendi


tudo!”

Um sorriso másculo — embora ele não pudesse ter certeza, pois não
entendia as expressões de bestas-feras — brotou no rosto de Shihoutu Tokitu.

Nada disso, você não entendeu foi nada, pensou.

Finalmente alguém tinha entendido as intenções de Ainz?


Lamentavelmente, ele não julgava ser o caso.

“Eu devo preparar um prato adequado para um Ser Supremo, para o


Supremo Governante de Nazarick, Ainz-sama!”

Enquanto Ainz mentalmente murmurava “Lá vai ele inventar moda!”,


Shihoutu Tokitu levantou-se com vigor e gritou na direção da cozinha.

“A partir de agora é vai ou racha! Façam um prato adequado para o


Ainz-sama! Declaro que começou o festival de comida, e digo mais; não vai
parar por pelo menos uma semana!”

“Oooooh!” sons de admiração vieram das empregadas que ouviam


atentas.

“Ei, volta aqui.”

“HAH!”

Shihoutu Tokitu voltou para Ainz e novamente genuflectiu.

Era difícil dizer isso para alguém berrando sem parar “Eu vou fazer isso!
Vou fazer aquilo!”. De modo geral, Ainz costumava concordar com os desejos
dos NPCs, mas isso já era abusar de seu bom senso.

“...Parece que houve um problema de comunicação. Apenas


confirmando, você sabe que eu não posso comer devido ao meu corpo,
certo?”
“HAH! Então devemos fazer algo que possa ser apreciado pela visão e
pelo olfato! É isso que o senhor tem em mente, não é, Ainz-sama!
Entendido!”

Ainz chamou a atenção de Shihoutu Tokitu enquanto ele tentava se


levantar:

“Ei, volta aqui.”

“HAH!”

“Não seja precipitado. Estou tentando dizer que não posso comer, então
não desperdice nenhum ingrediente”.

“O que está dizendo Ainz-sama!? Nenhum ingrediente usado para


servi-lo poderia ser considerado um desperdício! Mentiras eu não digo!”

Disse Shihoutu Tokitu enquanto levantava-se e olhava para o refeitório.


Isso provocou uma salva de palmas. Não apenas as empregadas, mas até
mesmo Aura e Mare se juntaram ao coro. Em pânico, as Elfas rapidamente
fizeram o mesmo.

Vocês não precisam imitar até isso...

Ainz resmungou internamente.

“Se me der licença, vou começar imediatamente!”

“Ei, volta aqui.”

“HAH!”

Ainz juntou toda a honestidade de seu ser e falou para o já genuflectido


Shihoutu Tokitu:

“Veja bem. Eu não vim aqui para comer. Eu vim para ter uma conversa
agradável— entendeu, uma conversa agradável. Eu sei que deseja me dar
boas-vindas com o melhor de suas aptidões culinárias, mas no momento não
faço questão. Entende que eu apenas desejo ter uma conversa calma com
minhas convidadas?”

Ainz podia entender o porquê Shihoutu Tokitu estava tão fanaticamente


motivado. Alguém como o governante de Nazarick, que raramente visitava o
lugar, estava presente. Ele provavelmente só queria dar as melhores
boas-vindas possíveis, mas não era para isso que viera.
“HAH! Então vou deixar todas as mesas reservadas para o senhor!”

“Ei, volta aqui.”

“HAH!”

“Não faça tempestade em um copo d’água. Vou repetir só mais uma vez,
só vim aqui para bater um papo. Não há necessidade de exageros, entendeu?”

Ainz deu uma olhada rápida para os outros — especialmente as Elfas —


e notou que estavam apenas olhando para ele com expressões sérias.

As empregadas já estavam meio afastadas de seus assentos, preparadas


para sair a qualquer momento. Os gêmeos agiam como se isso fosse normal,
enquanto as Elfas pareciam estar com medo de que a situação saísse de
controle. Mesmo que ele tenha selecionado esse lugar especificamente porque
não queria que as Elfas se sentissem assim—

“—Não é falsa modéstia, eu só vim aqui para isso. Continue o que estava
fazendo antes. Por favor, me trate como faria com qualquer outro hóspede.”

“HAH! Mas! Tratar um Ser Supremo como o senhor da mesma forma


que os outros!?”

Ainz não poderia ser culpado por usar meios dissimulados. Ele limpou a
garganta e mudou seu tom para soar mais sério.

“—Shihoutu Tokitu.”

“HAH!”

“Estou dizendo que quero que esse lugar fique do mesmo jeito que
estava quando entrei. Se fez seus afazeres da forma correta, por que eu
precisaria pedir algo a mais? Ou está tentando fazer um prato especial porque
tem algo a esconder?”

Shihoutu Tokitu engoliu em seco e fez uma expressão cheia de


determinação (ou era o que parecia para Ainz).

“Me permita a palavra, Ainz-sama! Seu humilde servo, a quem foi


confiado esse local pelo Ser Supremo Amanomahitotsu-sama, nunca fez uma
única coisa que lhe causasse vergonha!”

“Eu sei.”
Shihoutu Tokitu parecia intrigado com a resposta instantânea.

“Mesmo que eu não passe muito tempo aqui, posso ver que você é
dedicado ao seu trabalho e é verdadeiramente leal àqueles que chama de Seres
Supremos. Minhas palavras foram bastante impensadas. Permita-me uma
retratação, peço que me desculpe.”

Ainz inclinou a cabeça.

“HOH! Ainz-sama! Não faça isso, eu imploro! Um Ser Supremo como o


senhor se curvando para mim! Por favor, erga seu nobre rosto!”

Ainz lentamente levantou a cabeça e olhou diretamente para Shihoutu


Tokitu.

“Shihoutu Tokitu. Estou feliz que aceitou minhas desculpas. Mas eu


quero que entenda. Eu só quero ter uma conversa e dar uma olhada em como
você e esse lugar são no dia a dia. Apenas me trate como um convidado
normal.”

Shihoutu Tokitu resmungou um pouco, mas ele aparentemente chegou a


um acordo consigo mesmo e assentiu.

“Entendido.”

“Ótimo, é assim que eu gosto. Pode chegar o dia em que convidaremos


VIPs — pessoas importantes de outros lugares — para Nazarick. Quando este
dia chegar, você poderá mostrar todo o seu talento culinário, estarei contando
com você.”

“HAH! —M-mas o senhor se curvou para mim...”

“Meu arrependimento por duvidar de você me levou a fazer isso, mas


também pode considerar como meu pedido de desculpas ao Amanoma-san,
que confiou a você esse lugar.”

Shihoutu Tokitu deu um sorriso sem graça, uma expressão de derrota


diante de tal explicação. Como se nada tivesse acontecido, ele imediatamente
voltou à sua expressão habitual. Claro, todos os ditames acima eram
exatamente o que parecia do ponto de vista de Ainz.

“—Nesse caso, Ainz-sama, com sua licença, eu vou voltar ao trabalho.”


Ainz observou as costas de Shihoutu Tokitu quando ele saiu e levantou a
voz um pouco para que alcançasse todos no refeitório.

“Desculpem-me pelo incomodo. Espero que todos voltem a almoçar sem


se preocupar.”

Como se estivessem substituindo a presença de Shihoutu Tokitu, Aura e


as outras voltaram para a mesa. Em algumas das mesas aqui e ali, as
empregadas começaram a comer novamente. Parecia que a atmosfera estava
menos tensa agora. Aparentemente o incidente com Shihoutu Tokitu ajudou a
aliviar um pouco o clima.

Aura e companhia seguravam suas bebidas preferidas enquanto Lumière


servia o café de Ainz.

Ele podia sentir a fragrância rica do café, um cheiro misterioso com


notas de algum tipo de fruto silvestre.

YGGDRASIL nunca teve colaborações com marcas famosas, mas tinha


muita variedade de itens e alimentos. Os jogos normais provavelmente só
colocariam um simples “grão de café”, mas YGGDRASIL tinha muitas
variedades. Cada uma também foi classificada de forma diferente, com as de
maior nota trazendo os melhores efeitos da comida.

Portanto, os grãos do inventário de Nazarick eram de boa qualidade e


esse café deveria estar delicioso.

Só o aroma já me diz que é um café de qualidade. Mas será que o gosto


é frutado?

Enquanto melancólico por seu corpo não ser capaz de provar, Ainz
esperou até que todos tomassem seus lugares para falar.

“Bem, vamos conversar enquanto saboreamos nossas bebidas.”

Duas das Elfas tinham refrigerante de melão enquanto a outra tinha chá
verde com gelo. Seguindo as palavras de Ainz, elas tomaram um gole. A
dupla do refrigerante de melão piscou surpresa, levando as mãos à boca. Dada
à reação, certamente acharam delicioso.
“Uau, que gostoso.”

“Tão doce.”

As duas rapidamente esvaziaram seus copos. Ainz estava contando que


isso acontecesse. Ele falou gentilmente com elas:

“—Que tal pegarem mais?”

“Podemos mesmo? Por favor, deixe-nos fazer isso.”

As duas imediatamente assentiram e se dirigiram à seção de bebidas.


Praticamente andavam saltitantes.

“Fico feliz que elas gostaram.”

“Ah, sim.”

Ainz falou com a Elfa restante. Ela provavelmente também estava


interessada em suas bebidas, pois rapidamente terminou seu chá e se levantou.
Em contrapartida, ambos os gêmeos foram de refrigerante cola e pelas suas
expressões, parecia algo corriqueiro para eles.

Muitas coisas inesperadas aconteceram no caminho, mas ao que tudo


indicava as Elfas haviam se acalmado. Eles não pareciam mais duvidar de
tudo o que ele dizia só por ser um undead.
Não tem erro, coisas doces sempre acertam na mosca. Não há mulheres
que odeiam coisas doces. Uma mulher que pode resistir a coisas doces
simplesmente não existe... É Mocchimochi-san, você estava certa o tempo
todo. Eu pensei que era apenas uma desculpa para ser tão gulosa...

Em sua mente, as outras duas integrantes femininas da Ainz Ooal Gown


fizeram gestos afirmativos — embora os Slimes não tivessem pescoço. E dada
à maneira como as Elfas agiram, isso contava como prova-mor de que sua
antiga amiga tinha razão. Ainda assim, ele ainda tinha suas suspeitas.

Finalmente chegou a hora. Eu passei por muitas simulações mentais,


mas ainda não sei se é a melhor hora para iniciar uma discussão sobre o
Reino Élfico...

Ainz lembrou-se do que ouvira das Elfas quando se encontraram pela


primeira vez.

Não havia um nome para o país dos Elfos que dizia estar localizado na
grande floresta do sul. Albedo supôs que era porque nunca tiveram a
necessidade de abrir relações diplomáticas com outras raças, até porque todas
as nações situavam-se bem longe de suas fronteiras. Como não precisavam
identificar sua terra como algo separado do resto, bastava chamá-la país.

No entanto, parecia que depois de ser governada por tanto tempo por um
rei, estava sendo chamada de Reino Élfico. Segundo relatos, esse rei era muito
forte. Quais eram seus pontos fortes e suas classes era algo que não
conseguiam descobrir. Nesse ponto, as Elfas olharam para os gêmeos,
provavelmente se indagando por que não sabiam.

Atualmente, o país dos Elfos estava envolvido em hostilidades com a


Teocracia, além disso, o povo élfico era vendido como escravo depois de
serem capturados pela Teocracia. Quando começou e o que motivou a guerra
eram perguntas para as quais essas Elfas não tinham respostas.

Essa falta de informação foi porque lá não tinha um sistema de educação


padronizado. Além do mais, as Elfas também não tinham interesse em
aprender sobre tais assuntos. Embora depois de ouvir o que elas disseram,
parecia que foram minimamente instruídas sobre habilidades e conhecimentos
mais importantes (principalmente no que tangia conhecimento sobre
monstros). Talvez sentissem que história e assuntos semelhantes não eram
úteis o suficiente para serem ensinados.

Quando indagadas sobre os Elfos Negros em seu país, elas responderam


que, embora nunca os tivessem visto, sabiam que existiam. Na verdade, Aura
e Mare foram os primeiros que conheceram. Elfos Negros era possivelmente
uma minoria no Reino Élfico, mas não parecia que tinha ocorrido uma guerra
racial entre Elfos. Dito isso, considerando a falta de conhecimento desse trio,
era perfeitamente possível que simplesmente não soubessem disso. E que
poderia desconsiderar tudo o que disseram.

Essa foi toda a informação que Ainz conseguiu obter naquele momento.

Ele tinha que se contentar com uma informação tão escassa só para que
elas não suspeitassem. Mas agora ele tinha uma ótima desculpa para ser
proativo em suas perguntas. A paciência é uma virtude, como diz o ditado.

Bem, acho que eu devo dar às cartas. Será que começo dizendo que
quero abrir relações diplomáticas entre nossas nações? Ou que tal dizer que
eu quero ir a uma aldeia de Elfos Negros para encontrar amigos para Aura e
Mare?

Elas estariam em guarda se a conversa fosse a respeito de algo a nível


nacional. Era mais fácil fazê-las falar se fosse um tema simples de simpatizar.
Além disso, ele não precisaria mentir, pois a segunda opção era o que o
motivava. Ainz era do tipo que podia mentir sem titubear, mas isso não
significava que gostasse. Era só que ele não hesitaria se houvesse algum
benefício a ser obtido.

Também era melhor não mentir, pois poderiam descobrir a verdade mais
tarde.

Esse seria o caminho mais fácil... mas não consigo imaginar como a
Aura e o Mare vão reagir se eu disser na frente deles.

Ele temia que se sentissem obrigados a fazer amigos. Ele mesmo sabia
que a amizade era algo que se formava gradualmente entre pessoas de
interesses em comum. Algo advindo de uma obrigação simplesmente não
seria verdadeiro. Ainz se lembrou de seus amigos de YGGDRASIL — seus
ex-companheiros de guilda. Amigos que fizera durante encontros casuais e
por meio de acasos do destino.

Só que ele não sabia se as crianças precisavam fazer amigos ou não.


Ainz, ou mais precisamente, Suzuki Satoru não teve nenhum durante sua
infância e, segundo ele mesmo, isso não lhe causou nenhum problema.

Ainz era desses, mas estava pensando em ajudá-los a fazer amigos


porque Yamaiko costumava dizer há muito tempo. Ao mesmo tempo, ele
também se lembrou de Ulbert respondendo com “Isso é como aqueles sonhos
impossíveis do pessoal que vive num mundo diferente do nosso”, rindo
sarcasticamente de suas palavras.
Ainz não sabia julgar qual lado tinha razão. De todo modo, não havia
nada a perder por ter amigos.

E se eu parar de pensar nisso em termos de fazerem amigos e dizer que


se trata de conhecerem Elfos Negros? Se fizerem amigos ou não, aí depende
deles. Claro, ainda prefiro que eles façam.

Porém, um fator a se levar em conta era a extrema disparidade de poder


entre as duas partes, isso não seria um obstáculo para o desenvolvimento de
amizades? Todos eram iguais em YGGDRASIL.

—Ainz franziu o cenho quando alguns de seus amigos vieram à mente,


mas ele imediatamente balançou a cabeça, limpando essas memórias.

Dificilmente teriam se tornado amigos se tivessem se conhecido no


mundo real com suas desigualdades sociais. Com esse pensamento, o primeiro
passo consistia em abordar os Elfos Negros no Reino Élfico em termos iguais.
Elfos Negros do alto escalão do Reino Feiticeiro se amigando com a minoria
de Elfos Negros do Reino Élfico não seria uma boa combinação.

Além de tentar esconder nosso status o máximo possível... hmm. Será


que todos os pais pensam isso? Eu me pergunto como Touch Me-san fazia
isso, uma pena eu não ter pedido mais detalhes.

Enquanto Ainz se preocupava com a conversa vindoura, as Elfas


voltaram para seus lugares. Todas traziam refrigerante de cola desta vez.

Droga, ainda não sei como abordar essas coisas... não posso ficar nessa
de improvisar o tempo todo.

Mas, não havia mais tempo. Enquanto os gêmeos estivessem aqui, ele só
podia dizer que se tratava de abrir relações diplomáticas. Se as coisas não
corressem bem, ele poderia abordar a idéia de fazer amigos como um tópico
paralelo. Ou talvez pudesse moldar as coisas até chegar no ponto que
desejava, ligando o desejo de aprofundarem relacionamentos com os Elfos
Negros como parte da diplomacia de baixo nível.

“Bem, então, vamos prosseguir para o tópico principal.”

As Elfas, que estavam bebendo suas bebidas como se fosse a última


bebida de suas vidas, de repente pararam.

“Estabeleci uma nação chamada Reino Feiticeiro. Meu plano é ter várias
raças vivendo em coexistência. Alguns humanos, Dwarfs, Goblins, Orcs e
Lizardmen já se tornaram cidadãos de nossa nação. Mesmo que os Elfos não
aprovem esse tipo de reinado, quero iniciar relações diplomáticas com seu
país, bem como relações comerciais. Como tal, desejo visitar sua nação.
Vocês cooperariam conosco?”

Mesmo que fosse apenas uma desculpa agora, não era ruim ter relações
diplomáticas e comerciais com o Reino Élfico. No entanto, havia um
problema crítico.

Ainz não poderia ir pessoalmente como emissário.

Participar das relações exteriores de outro país e fazer um tratado para


abrir relações diplomáticas era algo fora de suas capacidades. Embora tenha
corrido bem com os Dwarfs, ele duvidava que tivesse o mesmo sucesso
novamente. Em vez disso, era mais provável que terminasse o oposto do que
pretendia.

Portanto, ele queria enviar pessoas aptas com diplomacia em seu lugar.
Albedo era a melhor escolha, mas ele não queria atribuir nenhum trabalho
adicional a ela, pois estava demasiadamente ocupada administrando os
territórios que eram de propriedade de Re-Estize.

Ela provavelmente diria “Eu dou conta” se ele ordenasse, e de certo


modo ela realmente conseguiria lidar com mais afazeres. Mas, isso denotaria
muito mais esforço por parte dela, e Ainz queria manter a boa saúde mental
de seus subordinados.

Ainz ficaria extremamente feliz se a conversa rumasse para o tópico de


fazer amizades em vez de dar voltas e voltas em torno de algo secundário.

“Eh, Ah, Ainz Ooal Gown-sama? O que exatamente essa cooperação


implica?”

Ainz deu de ombros ligeiramente em sua resposta cautelosa.

“Primeiro, quero que me diga alguns detalhes. Além disso, pode me


chamar apenas de ‘Ainz’, tudo bem?”

“Responderemos tudo que sabemos—” Disse a Elfa com um olhar


determinado:

“M-mas rogo que nos perdoe por não podermos nos referir a Vossa
Majestade assim...”
Aura, Mare e as empregadas ao redor delas as espiavam secretamente
com expressões perplexas.

Se as Elfas o chamassem de “Ainz”, elas seriam informadas de que


estavam sendo “excessivamente íntimas” e deveriam “entender sua posição”.
Mas, se não o fizessem, seriam informadas, “como ousam recusar a ordem de
Ainz-sama?”. Elas provavelmente estavam se sentindo em conflito porque
sabiam da reação que as aguardava.

Ele não pretendia repreender as empregadas bisbilhoteiras. Não é como


se elas estivessem fazendo isso por malícia ou simples curiosidade. Ele sabia
que qualquer uma daria tudo para poder estar de plantão ao lado dele durante
essa conversa.

“...Oh, que pena. Então, voltando ao assunto; como é o seu país? Como
lidam com monstros vivendo naquela floresta?”

As Elfas tinham expressões confusas, como se tivesse recebido uma


pergunta incomum.

“Mesmo vivendo na floresta, nossas casas ficam no topo das árvores,


porque no chão é perigoso.”

“Construímos nossas casas transformando árvores usando magia


druídica.”

“As árvores adequadas para tal magia também são cultivadas usando
meios mágicos. Nós as chamamos de Árvores Élficas.”

Pelo o que acabara de descobrir, parecia que os Elfos podiam mudar a


forma das árvores usando a magia dos druidas. Como criar cavidades dentro
das árvores ou moldar pontes entre as árvores. Uma aldeia de Elfos era apenas
um lugar onde dezenas dessas estruturas estavam amontoadas.

Esse método de fazer coisas com árvores parecia estar no cerne da


cultura élfica. Não apenas casas ou móveis, eles também podiam criar armas e
armaduras. Era possível fazer com que as flechas de caça fossem duras como
ferro.

Ainz queria que demonstrassem essa magia, pois era algo inexistente em
YGGDRASIL. Elas ficaram surpresas com esse pedido pois, do ponto de
vista delas, a árvore em que os gêmeos moravam era um exemplo perfeito de
tal magia. Parecia que elas pensavam que era uma árvore élfica mutante
(porque parecia diferente) que só poderia ser transformada por aqueles dois.
Além disso, como essa magia só pode ser usada em Árvores Élficas, não
funcionava com outras árvores. Como os Elfos viviam em tais condições,
monstros que eram bons em subir em árvores como cobras ou aranhas eram
seus inimigos naturais. Embora fizessem uma vigília noturna, esses monstros
tendiam a ser bons em ocultação; então havia vítimas de vez em quando. Por
outro lado, dificilmente eram atacados por monstros que não podiam escalar.

Parecia que a capital élfica — o único lugar que os Elfos podiam chamar
de cidade, pois não eram uma raça populosa — era o único assentamento que
fôra construído em um lugar sem cobertura de floresta, na margem de um lago
em forma de meia-lua. O “parecia” foi adicionado porque essas Elfas nunca
visitaram a capital e só ouviram falar de terceiros.

Eles puderam estabelecer a cidade em uma planície porque havia um


monstro gigante no lago que capturava e comia qualquer monstro de grande
porte que chegasse nas proximidades.

Entendo... Ainz pensou.

Como a magia druídica também poderia fornecer água, viver nas árvores
era vantajoso para eles. Quanto aos monstros voadores, o dossel das Árvores
Élficas atuava como um escudo, assim como uma camuflagem.

Vivendo em tais circunstâncias, era natural que a maioria dos Elfos


ganhasse habilidades druídicas ou de rangers. Em outras palavras, eles não
poderiam sobreviver sem desenvolver tais habilidades.

Eu não sei como a seleção de profissões funciona nesse mundo, mas


parece que sem profissões como a de fazendeiro, os Elfos são mais propensos
a serem melhores lutadores do que humanos.

Ele continuou, indagando sobre a expectativa de vida e a população dos


Elfos.

Evidentemente, elas não estavam tão preocupadas com quanto tempo


viveriam, visto que não conheciam sua própria expectativa de vida. Parecia
que os mais velhos tinham mais de 300 anos. A propósito, essas Elfas nem
sabiam sua própria idade. Era provável que não tivessem o conceito de
aniversário.

Talvez devido à longevidade, não davam à luz com tanta frequência


como os humanos e, portanto, suas populações eram muito menores. No
entanto, após considerar as diferenças culturais, Ainz concluiu que o número
de filhos que tinham não era pequeno.
Na lore de YGGDRASIL, a expectativa de vida de um Elfo era de mil
anos... eles envelhecem rapidamente nos primeiros dez anos e depois nos
últimos dez anos, era isso? Não me lembro bem dos detalhes exatos, mas
acho que é algo assim. Ou me enganei? Além disso, se supostamente dão à
luz uma vez a cada década... se considerarmos duzentos anos como o início
da idade adulta e quatrocentos anos quando a infertilidade se instala... seria
vinte filhos? Vou procurar saber mais depois.

“Então— se eu fosse devolver vocês à sua antiga aldeia, para onde eu


iria?”

As Elfas trocaram olhares.

É claro que não vão falar. Afinal, são informações importantes.

Depois de um tempo, uma das Elfas perguntou hesitante:

“Pe-perdão... Mas vamos ser mandadas para nossas casas?”

“...Como é?”

Percebendo sua estranha escolha de palavras, Ainz percebeu seu erro.

“...Ah, é mesmo. Esqueci que sua aldeia foi atacada pela Teocracia.”

Essas Elfas não eram soldadas, apenas pessoas que viviam na aldeia que
foram capturadas durante o ataque da Teocracia. Do ponto de vista delas, seria
doloroso voltar àquele lugar. Além disso, sua segurança não podia ser
garantida.

“Vamos fazer assim. Em vez de devolver à sua aldeia, levaremos vocês


para um lugar seguro. Tem algum lugar assim em mente? Uma aldeia com
seus parentes ou, se não houver, que tal a capital?”

“A capital...”

“Por favor, nos perdoe. Não conhecemos nenhum outro lugar a não ser
os arredores da nossa aldeia...”

“Não consigo imaginar qual outro lugar possa ser ...”

Essas Elfas não estavam familiarizadas com o que rodeava sua aldeia,
mas isso não era algo limitado a essas garotas. É o mesmo para os aldeões do
Reino ou do Império.
As pessoas nesse mundo geralmente viviam suas vidas inteiras em seu
local de nascimento, especialmente se não fossem educados em alguma
escola. Embora mal soubessem dos arredores, as outras cidades em seu país
poderiam ser terras estrangeiras para eles.

Enquanto ponderava, as Elfas falaram novamente.

“Perdão... mas realmente vamos ter que sair daqui?”

“Isso é o que eu planejei fazer. Se vamos nos envolver em diplomacia


com o Reino Élfico, mantê-las poderia gerar insatisfação. Você entende, não
é? Eu as mantive aqui até agora como medida provisória, mas será difícil
continuar fazendo isso. Porém, quero que saibam que não sou cruel o
suficiente para libertá-las em uma terra sob o controle da Teocracia Slane. É
por isso que eu perguntei se conheciam algum local seguro—”

Embora Ainz não pretendesse ser o emissário, devolver essas três com
segurança provavelmente ajudaria na diplomacia.

Vendo que as Elfas queriam dizer algo, Ainz perguntou:

“Qual o problema?”

“É possível nos deixar continuar aqui?”

“...Hummm.”

Ainz moveu seu olhar para as bebidas na frente das Elfas. Não era
possível que fosse apenas por isso, certo?

“...Por quê? Eu posso entender se preferir não dizer, mas espero que diga
se não for pedir demais.”

“É que—”

A Elfa que os representava deu uma olhada rápida nos gêmeos.

“...Aura, Mare. Parece que suas bebidas estão quase acabando. Por que
não vão pegar um pouco mais?”

“Eh!?”

“Beleza! Já entendi, Ainz-sama— Vamos, Mare.”

Esplêndido!
Ainz admirou o raciocínio rápido de Aura.

Se estivesse no lugar de Aura, ele não teria entendido tão rapidamente a


indireta de os deixarem a sós. Ou talvez seus sentidos de “conversa de
adultos” tenham feito com que entendesse instantemente.

Alguém poderia raciocinar que Aura era melhor que Albedo ou


Demiurge na leitura subliminar. Ainz poderia imaginar Demiurge com um
sorriso dizendo: “Então é sobre isso, Ainz-sama”.

Aqueles dois entenderiam o completo oposto de minhas intenções... às


vezes parece que fazem de propósito. Calma aí, será que eles fazem de
propósito?

“Eh, eh?”

Aura arrastou o ainda confuso Mare pelos braços. Ainz falou depois que
estavam distantes o suficiente:

“Pode dizer agora?”

“S-sim.”

A Elfa respondeu, depois de confirmar que os gêmeos estavam longe o


suficiente. A audição de Elfos Negros era melhor do que o de um humano e,
por ser uma ranger, a de Aura era ainda mais aguçada nesse sentido. A Elfa
diante dele sussurrou seus dizeres com isso em mente, mas era altamente
provável que Aura ainda pudesse ouvi-los.

“Já estamos acostumadas com nossa vida aqui, e não podemos voltar
para nossa vida de antes... Esse lugar... A casa de Aura-sama e Mare-sama é
um paraíso.”

“Eh?”

Ainz inicialmente abaixou seu volume para combinar com o da Elfa, mas
ele soltou sua voz habitual com a súbita surpresa.

Por um momento pensou que estavam brincando, mas depois que viu as
outras duas concordando seriamente, ele entendeu que diziam isso do fundo
do coração.

Primeiro, parecia que a qualidade da comida em Nazarick estava em um


nível diferente. Normalmente, Elfos comiam frutas, carnes e vegetais assados
ou fervidos. A quantidade de esmero que Nazarick colocava em cada refeição
era completamente anormal.

As Elfas deram certeza de que não estavam confiantes de que poderiam


se ajustar às suas vidas anteriores depois de se acostumarem com a comida
daqui. A propósito, a pizza parecia ser o prato favorito delas.

Entendo... A diplomacia culinária não parece uma má ideia. Ser capaz


de ter acesso a uma cozinha tão requintada deve ser algo raro... Vocês são
mesmo Elfas ou são Dwarfs disfarçados!?

As Elfas também tinham outros motivos.

Segurança. Mesmo que vivessem em um lugar moderadamente seguro


como uma aldeia criada pela magia dos druidas, era impossível passar um ano
sem que quaisquer baixas ocorressem devido aos monstros. Em contraste,
pode-se dormir tranquilamente em Nazarick mesmo sem ter alguém para
vigiar a noite.

Elas disseram muitas coisas, mas se resumissem apenas a isso, então não
havia necessidade de tirar os gêmeos daqui. Como Ainz pensou que deveria
haver mais razões, ele acrescentou:

“E poder servir àqueles dois é algo que vocês gostam.”

“...Aah.”

Ainz assentiu com empatia.

Aqueles dois eram de raça semelhante aos Elfos e eram crianças fofas.
Elas certamente ficaram inseguras a princípio, mas a personalidade de Aura e
Mare provavelmente as conquistou.

Mesmo Ainz selecionaria os gêmeos se lhe perguntassem qual dos


Guardiões do Andar ele gostaria de servir. Mais precisamente, se alguém lhe
perguntasse, ele provavelmente diria algo como: “Não posso escolher porque
todos são maravilhosos”. Mas se fosse para ser sincero, seriam aqueles dois.
O próximo na fila seria Cocytus. Ele realmente não queria servir aos outros.

Mesmo assim, ele pensou que isso era algo que poderia ser dito na
presença dos gêmeos. Embora achasse que elas tinham algo mais a dizer,
parecia ser o fim da conversa.
Para falar a verdade, não entendi foi nada. Por que eles não podiam
ouvir isso? Havia algo na conversa anterior que as faria serem repreendidas
pelos gêmeos? ...Bem, tanto faz.

“Muito bem. Então permito que continuem servindo Nazarick como têm
feito até agora.”

Não havia razão para recusar seu desejo.

As Elfas pareciam felizes ao ouvir a resposta. Não parecia que estavam


fingindo.

“Todavia, se estivermos falando sobre vínculo empregatício,


precisaremos discutir primeiro salário e bem-estar. Vou mandar alguém
investigar isso.”

Parecia que não entendiam o que Ainz estava falando, mas essa era uma
questão importante para ele.

Como essas Elfas deveriam ser tratadas se tornaria um fator importante


quando estabelecessem relações amistosas com os Elfos Negros do Reino
Élfico. Eles poderiam dizer que depois de libertar as Elfas da escravidão e
cuidar delas, elas estavam apenas retribuindo o que haviam recebido. Mas,
havia um limite para tais desculpas. Sua situação atual de trabalho não
remunerado espelhava as práticas de uma empresa abusiva . Ele não queria
que os Elfos Negros que poderiam visitá-los no futuro tivessem tal impressão.

Nesse caso, ele usaria essas três para estabelecer o precedente de


Nazarick como uma empresa ética.

Ainz deu uma rápida olhada nas empregadas ao seu redor.

Elas estavam colocando as mãos atrás das orelhas como se quisessem


ouvi-los melhor enquanto tentavam fazer parecer que estavam descansando o
queixo nas palmas das mãos.

Elas não estavam nem um pouco preocupadas com sua cara de pau.

Ainz não sentiu vontade de repreendê-las, pois achava que era apenas
uma demonstração de lealdade, mas pelo menos queria que disfarçassem um
pouco melhor.

Eu deveria fazer um contrato com essas Elfas o mais rápido possível.


Além disso, devo tentar estender o tratamento da companhia ética dessas
Elfas para as empregadas regulares?
Era algo que valia a tentativa, mas ele temia que as empregadas viciadas
em trabalho dirigissem sua ira às Elfas, que seriam a causa do aumento de seu
tempo de lazer. Claro, ele não achava que iriam tão longe a ponto de matá-las,
mas precisava ter cuidado se decidisse estender o tratamento às empregadas.

“...Mudando de assunto, quero pedir a ajuda de vocês em nossa excursão


ao seu país. Quero que ajam como guias, se possível. Claro, Aura e Mare
também virão conosco. É só que não estamos familiarizados com a etiqueta
élfica, então ajudaria se atuassem como nossas mediadoras.”

As Elfas se entreolharam e negaram.

“Perdoe-nos, mas não temos confiança em agir como guias. Quanto a ser
mediadoras... embora tenhamos viajado pela nossa aldeia, também não temos
confiança nas regras de etiqueta...”

“É mesmo é...”

“Perdão!”

“Ah, não precisa se curvar.”

Seria incômodo visitar um lugar desconhecido sem um guia, mas não era
como se ele tivesse certeza de que essas Elfas poderiam ser úteis. Como
pretendia ir para o desconhecido, seria melhor não as forçar a vir. Elas podem
até acabar se tornando um fardo.

Ainz olhou para trás e chamou Lumière. Depois que ela aproximou seu
rosto, Ainz sussurrou “mais perto” e levantou sua xícara. Claro, o conteúdo
do copo não foi tocado. Só para ter certeza, ele gesticulou na direção dos
gêmeos com os olhos.

Ele pensou que estava sendo um pouco obtuso, mas parecia que ela
rapidamente entendeu e saiu com um simples “com licença”.

“E— O que os Elfos em sua maioria costumam pensar a respeito dos


Elfos Negros?”

“São seres esplêndidos.”

Ainz franziu as sobrancelhas, foi uma resposta um tanto suspeita.

Ele ficaria feliz se essa realmente fosse a opinião geral a respeito, mas
essa resposta parecia fora de lugar.
Ainz imediatamente pensou no motivo. Estavam considerando Aura e
Mare.

“—Não, não é isso. Estou perguntando sobre as relações entre a raça dos
Elfos Negros e sua raça.”

“São seres esplêndidos.”

“Não é possível...”

Estava fora de sua alçada fazer algo a respeito desse tipo de reverência.
Depois de serem tratadas como subordinadas dos gêmeos por tanto tempo,
elas não poderiam dizer algo como “Elfos Negros são uma raça inferior”.
Pois se dissessem, isso sim seria assustador.

“Como mencionei antes, pretendo iniciar relações diplomáticas com o


seu país. Também quero confiar isso aos gêmeos. É por isso que eu quero
saber como os Elfos em geral veem os Elfos Negros. Eu não quero que os
pequenos sejam maltratados se a sociedade élfica tiver opiniões negativas a
respeito deles. Então, eu preciso de uma resposta honesta.”

As Elfas se entreolharam.

“Com toda honestidade, senhor, como nossa aldeia não tinha Elfos
Negros, os encontramos aqui pela primeira vez. É por isso que nunca tivemos
qualquer prejulgamento deles. O máximo que sabemos é que migraram do
norte para a grande floresta.”

“Ouvimos falar de suas peles escuras por boatos e ficamos surpresas ao


ver que era verdade.”

“Não me lembro dos aldeões dizendo nada negativo sobre os Elfos


Negros, mas peço que tenha em mente que isso era algo de nossa aldeia.”

Parecia que não mais estavam tentando bajulá-lo ou enganá-lo. Então


essas jovens Elfas (talvez chamá-las de jovens fosse um pouco exagerado)
não tinham nenhuma opinião ruim sobre os Elfos Negros.

Mesmo sendo uma minoria, não parecia que eram perseguidos. Talvez
fosse porque os Elfos não tinham espaço para tais coisas quando estavam
sendo ameaçados por uma força externa — a Teocracia. Ou talvez a floresta
fosse apenas um lugar difícil de se viver.

“...A propósito, e sobre os undeads?”


“Inimigos que mancham a floresta.”

“Seres nojentos.”

“No entanto, raramente encontramos algum.”

“Ah, sim.”

Respostas imediatas.

Enquanto se perguntava o porquê ignoraram solenemente os sentimentos


do mestre dos gêmeos, Ainz optou por não dizer nada.

Ele pediu que falassem com honestidade, mas isso era honesto demais.
Essas garotas eram do tipo que seriam demitidas porque realmente
acreditavam nas palavras do CEO quando pediam para serem informais.

Agora com suas dúvidas sanadas, ele estava certo de que não poderia ser
o emissário. Talvez isso fosse melhor assim. Era uma ótima desculpa para se
dar. Certamente não era porque Ainz não era talentoso o suficiente.

Só restava tomar as medidas corretas na ordem certa — enviar


diplomatas, iniciar relações diplomáticas e depois seguir para o Reino Élfico.

Mas não temos esses diplomatas. ...O fato de não podermos confiar nos
humanos encarregados dos assuntos internos é um ponto fraco... Ou talvez
haja alguns e eu simplesmente não sei. Nesse caso, que tal pedir à Albedo
para despachar aventureiros? Não... esse sistema ainda é bem imaturo... ou
talvez eu esteja errado. Afinal, é de mim que estamos falando.

Se ele informasse Albedo, ela provavelmente diria que os aventureiros


funcionariam muito bem. Mas—

—Todo o xis da questão é a falta de tempo.

Devido às hostilidades com a Teocracia, o Reino Élfico foi praticamente


encurralado. E era assim desde de muito antes dessas Elfas serem capturadas.
Se as coisas corressem mal, era perfeitamente possível que o Reino Élfico
fosse destruído em breve.

O colapso do Reino Élfico não seria um revés para Ainz, até porque seria
muito mais eficaz estabelecer relações diplomáticas se o Reino Feiticeiro
pudesse oferecer sua ajuda nesse cenário. Então, seria melhor se eles apenas
esperassem o colapso? Talvez não dessa vez.
Eles não tinham o luxo de observar a situação de braços cruzados,
especialmente porque valorizava muito a raridade das vidas dos Elfos Negros.

Talvez eu deva enviar os dois na frente— não, não posso fazer isso. Não
me sinto confortável deixando que saiam sozinhos em um lugar desconhecido.
Eu mais do que ninguém sei que são muito mais do que crianças, são NPCS
de nível cem... Mas acho que o melhor a ser feito é simplesmente ignorar
esses assuntos de relações internacionais e focar em conseguir amigos para
eles. Isso só vai dar certo se eu for junto.

Ele não planejava enfrentar à Teocracia e salvar o País Élfico neste


momento. Mais precisamente, Ainz não queria transformar a Teocracia em
inimiga do Reino Feiticeiro devido à sua total falta de tato político.

Ele queria saber as opiniões de Albedo e Demiurge, mas temia que


pudessem descobrir que ele não passava de um impostor. Se não prestasse
total atenção a cada palavra dita, suas declarações vagas poderiam acabar
sendo levadas a sério e causar danos à Nazarick no futuro.

Não seria uma má idéia dizer para evacuarem apenas os Elfos Negros
depois de visitar o país dos Elfos. Nesse caso... há necessidade de levar
alguém além dos gêmeos?

Caso decidisse levar alguém junto, era melhor levar guardas furtivos
como Hanzos em vez de liderar algo como um exército.

Como aquela vez no Reino Dwarf.

“Entendi tudo...”

Ainz olhou para as três. Eles estariam na mesma posição daquele


Lizardman.

“H-há algum problema?”

“Não, só estou falando comigo mesmo.”

Ele poderia levar uma das três, deixando as outras duas aqui. Enquanto
ele as mantivesse como reféns, a Elfa acompanhante provavelmente não faria
nada que fosse negativo para Ainz.

Nada mal.
Mesmo que entendessem que estavam sendo mantidas reféns, ele poderia
insistir que não era o caso.

Ainz olhou para os gêmeos. Eles imediatamente entenderam suas


intenções. Aura, Mare e Lumière voltaram para a mesa.

“A propósito, que tipo de presentes faria os Elfos felizes? Coisas como


ouro e pedras preciosas?”

“Nosso povo não usa moedas de metal, então acho que o ouro não
funcionaria...”

“Acho que nossa aldeia ficaria mais feliz com a comida e talvez ervas
raras. Pequenos arranhões e afins podem ser curados por magia, mas venenos
e doenças precisam de um druida talentoso para curar. Portanto, pacotes de
ervas são altamente valorizadas.”

“Não precisamos de roupas, já que também as fazemos das Árvores


Élficas”

“Casas, flechas... e até roupas. Parece que a magia druídica dos Elfos é
muito conveniente. Você não pode fazer isso, certo, Mare?”

“Eh? Ah, n-não. E-eu não posso usar tal magia.”

Talvez esse tipo peculiar de magia druídica em si fosse o símbolo do


progresso dos Elfos. Ele queria essas técnicas se possível, mas dificilmente os
habitantes de Nazarick seriam capazes de usá-las. Isso só reafirmou que a
necessidade de que fazer os seres desse mundo se prostrarem diante de
Nazarick e trazê-los sob seu reinado seria o principal fator que poderia
inclinar a balança da vitória em uma hipotética guerra de guildas.

Mas—

Eu devo supor que havia guildas — aquelas que foram teletransportadas


no passado — que já fizeram isso. Eu deveria dizer à Albedo e fazer com que
ela repense nossa estratégia nacional de guerra.

Era lógico que se alguém como Ainz pudesse pensar nisso, outros
Jogadores também poderiam. Só idiotas pensariam em si mesmos como
alguém especial.

Talvez fosse uma boa idéia transportar grandes quantidades de comida


pelo 「Gate」 ao chegar às aldeias élficas, tornando-os mais amigáveis ​ao
Reino Feiticeiro.
Ele lembrava-se bem da eficácia que teve no Reino Dwarf. Tudo daria
certo, contanto que pudesse replicar o que conseguiu fazer lá e improvisar
conforme necessário.

Eu sempre procuro uma oportunidade de fugir daqui, não é...

“...A melhor maneira de chegar é primeiro encontrar o lago crescente,


visitar a capital real que se dizia estar em sua costa para coletar informações e
depois ir para a aldeia dos Elfos Negros.”

“A gente vai pra uma aldeia de Elfos Negros?”

Aura parecia querer dizer algo mais, mas não quis perguntar em detalhes
na frente das três.

Se possível, Ainz não pretendia dizer que iriam para lá apenas para que
fizessem amigos. Ele queria que fosse algo natural, não uma obrigação.

“Correto. Esse é o plano. E vou precisar da sua ajuda.”

Ele deliberadamente ignorou o comportamento de Aura, mas ainda


recebeu um par de afirmações energéticas em troca.

“O que farei depois... persuasão? Não posso dar a mesma desculpa que
usei para a expedição ao Reino Dwarf...”

Ele não estava confiante em resolver esse problema, mas precisava fazer
alguma coisa para trazer o conceito de férias remuneradas para Nazarick.

Nesse ponto — como se esperasse a conversa terminar — os pratos


foram trazidos.

“Bem, aproveitem o banquete.”

Com Ainz encorajando-as, as Elfas comeram sem se refrearem.

Parte 3
Qual decisão tomar diante de um desafio?

Havia diversos métodos apropriados para superar um e, desta vez, Ainz


escolheu usar a situação e a vantagem numérica.
Com Aura e Mare ao seu lado, Ainz sentou-se no trono na sala de
audiências preparada pelos Guardiões. Em sua mão estava o cajado original
da Ainz Ooal Gown, algo que não segurava há muito tempo.

O porte derradeiro do Supremo Governante de Nazarick e líder da guilda


Ainz Ooal Gown, por assim dizer.

Todavia, era incerto que sairia vitorioso diante do adversário que logo
entraria em cena. Seu oponente vindouro era nada menos que o chefão entre
os chefões. Um chefão mais temível do que o próprio Devourer of the Nine
Worlds, pensou Ainz enquanto engolia com sua garganta inexistente.

Ele já havia feito diversas simulações mentais, mas ainda eram limitadas
por ser apenas um mero humano. Quando se tratava do intelecto de seu
oponente, ele não estava nem no sopé da montanha.

Então—

Não há mais nada a fazer... exceto contar com a sorte!!

Ele estava colocando todas as suas fichas em sua capacidade de


improvisar. Ele tinha certeza de que seu eu futuro sobreviveria.

Lumière, que aguardava em frente à entrada, anunciou a chegada do


adversário.

“—Muito bem. Deixe-a entrar”

“Entendido, Ainz-sama.”

Todos já deveriam ter entendido quem era o misterioso oponente.

Não era outra senão a Chefona Final, também conhecida como


Supervisora Guardiã, Albedo.

No momento em que notou Ainz, Albedo mudou de seu rosto sorridente


habitual para uma expressão séria.

“Peço mil perdões por deixar o senhor me esperando.”

Vendo Albedo curvando-se profundamente perto da entrada, Ainz


ordenou que ela levantasse a cabeça.

“Não se preocupe, Albedo. Você me informou previamente que se


atrasaria. Então podemos dizer que chegou na hora certa.”
Quando contatado de antemão através do 「Message」, Albedo
informou que por estar ocupada com afazeres relacionados à Prisão
Congelada, sua aparência poderia não ser adequada para uma audiência.
Então, ela pediu algum tempo para se arrumar.

Sem motivo para recusar, Ainz estipulou um tempo, 30 minutos a mais


do que Albedo pediu. O fato de Albedo chegar dez minutos antes do horário
designado provavelmente devia-se à sua personalidade. Ou talvez fosse
apenas uma regra não dita, onde adultos tendiam a sempre chegar antes da
hora.

Albedo levantou a cabeça, caminhou diante do trono e genuflectiu.

Sem perder tempo, Ainz informou-a imediatamente.

“Albedo. Vou tirar férias remuneradas a partir de hoje.”

Ele poderia ter inventado várias desculpas, mas toda vez ia por esse
caminho, a conversa tendia a tomar rumos estranhos. Então ele sentiu que era
melhor declarar diretamente seu objetivo. Demiurge estava ausente desta vez,
então seria improvável que interpretasse suas palavras de um modo totalmente
distorcido.

Albedo franziu as sobrancelhas ligeiramente enquanto levantava a


cabeça. Ela então olhou de um lado para o outro, possivelmente verificando as
reações de Aura e Mare.

Ainz continuou a observar Albedo, preocupado com sua reação. Ela


respondeu com uma expressão séria:

“Incluindo Nazarick, tudo no Reino Feiticeiro pertence ao senhor,


Ainz-sama.”

—Quê?

Ele não conseguia entender o porquê de tais dizeres.

Não fazia sentido.

Como alguém poderia chegar a tal resposta?

Que saltos de lógica, que linha de pensamento levaria a essa conclusão?

Como Ainz deveria respondê-la?


Ele logo chegou a duas respostas plausíveis.

“Mas o que você está dizendo?” era uma, a outra era “Sim, exatamente
como supôs”. Claro, ele florearia essas palavras para fazê-las soar régias.

Ainz começou a forçar sua massa cerebral imaginária com todas as


forças, mas o tempo era seu inimigo. Albedo já estava na grande área, ele
precisava defender o mais rápido possível.

“...Parece que houve um mal-entendido, Albedo. Não é isso que estou


tentando dizer.”

Ele decidiu ser honesto. Teria sido melhor fingir como costumava fazer?

—Sim, Provavelmente.

De todo modo, ao sacrificar a alma de Suzuki Satoru, ele conseguiu


preservar a imagem de Ainz Ooal Gown, o Supremo Governante de Nazarick,
pelo menos por enquanto.

Albedo fez uma expressão como se tivesse percebido algo.

“R-rogo que me perdoe pelo meu erro, Ainz-sama.”

Ela se curvou novamente em pânico.

“Não, não interprete como se eu estivesse zangado. Você não precisa se


curvar.”

Apenas pessoas escrotas sentiriam prazer ao ver um inocente abaixando


a cabeça sem ter feito nada de errado.

“Parece que o termo 'férias remuneradas' foi mal interpretado.”

Nazarick não tinha salários nem folgas. Estava no auge das empresas
abusivas. Portanto, era muito provável que ela pensasse que o termo fosse
uma metáfora para outra coisa. Era lógico concluir que isso foi culpa de Ainz,
afinal, ele ainda tinha que implementar dito sistema em Nazarick. Claro, Ainz
ainda se justificaria apontando a obstinação dos NPCs por mais trabalho como
a raiz do problema.

Segundo o que dizia a experiência pessoal de Suzuki Satoru, mas pior


que uma empresa fosse, os funcionários tendiam a tolerar, desde que seus
relacionamentos interpessoais fossem bons. Por outro lado, se esses
relacionamentos fossem ruins, não importaria quão boa a empresa fosse; seus
funcionários tendiam a ficar desmotivados rapidamente.

Talvez Nazarick estivesse em bom funcionamento porque as relações


interpessoais entre seus habitantes eram ótimas.

“O erro foi meu. Me perdoe.”

Ainz abaixou a cabeça também.

“A-Ainz-sama! Por favor, levante a cabeça!”

Após ouvir Albedo em pânico, Ainz levantou a cabeça.

“...Creio que, como ambos nos curvamos, posso considerar que me


perdoou?”

“Sequer fez algo de errado, Ainz-sama...”

“—Se chegar o dia em que eu não possa me curvar para vocês, então
esse dia será o meu fim. Pois não serei mais eu.”

De olhos bem abertos, Albedo ofegou e então se curvou profundamente.

Houve uma comoção ao lado de Ainz, causada pela surpresa dos gêmeos
com a reação de Albedo.

Antes que pudesse perguntar qual era o problema, Albedo levantou a


cabeça.

“O senhor disse que são férias remuneradas, pretende levar esses dois
com o senhor, Ainz-sama?

Como esperado de Albedo.

Ter notado que Ainz estava planejando viajar apenas pela frase “férias
remuneradas”, Albedo era assustadoramente perspicaz. Se fosse Ainz no lugar
dela, provavelmente teria dito, “Como os dois estão aqui, está planejando
passar algum tempo no Sexto Andar?”.

“Estou planejando ir para o Reino Élfico, situado no sul, com esses


dois.”

“Então será o país dos Elfos...”


Albedo ponderou por um tempo antes de falar novamente:

“Entendo...”

O que ela tinha entendido? Talvez estivesse pensando que Ainz estava
indo para lá por diplomacia. Ainz tinha que ter certeza.

“...Não seja precipitada. Não vou lá por razões diplomáticas. Eu só quero


ver como é.”

“Claro.”

Uma resposta simples. Ainz pensou que ela diria algo mais...

Isso era muito mais assustador. Pois tinha a sensação de que um


mal-entendido de proporções apocalípticas estava se enraizando.

“...Como ia dizendo, viajarei para lá com esses dois. Se houver algo


urgente, entre em contato comigo através do 「Message」. Eu retornarei
imediatamente... isso é tudo, entendeu? Não pretendo fazer nada além disso.
Eu espero do fundo do meu coração que tenha ficado claro. Estamos
entendidos?”

“Sim, senhor. Então vai partir em breve, Ainz-sama?”

“S-sim, correto.”

Ele não tinha pensado tão à frente, mas considerando os avanços da


Teocracia, seria melhor que começassem quanto antes:

“Eu pretendo ir logo, mas Aura e Mare têm que se preparar, não é
mesmo?”

“Creio que ambos não veriam problema. Se decidisse partir neste


instante, seria natural que eles completassem seus preparativos
imediatamente, Ainz-sama.”

Ainz queria repreendê-la por colocar palavras nas bocas de terceiros,


mas os gêmeos concordaram de imediato.

“Mmmmmm—”

Se os gêmeos estavam de acordo, então não era o lugar de Ainz se opor.


“—Eu quero ter certeza de uma coisa. Não apenas de você, Albedo, mas
de Aura e Mare também. Preciso perguntar para vocês. A Grande Tumba de
Nazarick estabeleceu o Reino Feiticeiro, fez do Império um vassalo, estendeu
seu controle sobre os demi-humanos das terras selvagens e recentemente
destruiu o Reino Re-Estize. Pode-se dizer que o tamanho da organização
cresceu conforme a expansão de nosso território. Pois bem... isso me traz
algumas preocupações. Nosso domínio expandiu, mas temos uma expansão
correspondente de mão de obra?”

Uma boa organização não poderia parar de funcionar só porque uma ou


duas pessoas estavam de recesso.

Aura e Mare certamente faziam parte do alto escalão. Se


considerássemos Nazarick como uma empresa, eles seriam executivos.
Funcionários normais podiam deixar seus pares substituí-los, mas os
executivos não tinham esse luxo. Como tal, seria ruim se a organização
parasse apenas porque os dois estariam fora.

Pois se fosse o caso, o plano deveria ser adiado e talvez alterado.

“—Isso me preocupa. Talvez precisemos tomar algumas medidas


drásticas, se for o caso.”

“Creio que não haverá problemas. E, se necessário, sempre haverá eu e


Demiurge. Se também tivermos a cooperação de Pandora’s Actor, não haverá
problemas.”

“Esplêndido. Como esperado de você, Albedo. Já propôs uma solução


para minhas dúvidas. Fez um ótimo trabalho, digno do ser mais— digo, um
dos seres mais inteligentes de Nazarick e detentora do título de Supervisora
Guardiã. Absolutamente brilhante. Estou muito impressionado.”

Ele elogiou Albedo com todo o seu coração.

Ao contrário de Ainz, ela administrava diligentemente a organização. Se


alguém assim não merecesse tal elogio, então ninguém mais merecia.

“—Sou imensamente grata por elogios tão amáveis .”

Albedo recuperou sua postura depois de uma profunda reverência, mas


sua expressão estava um pouco intransigente.

Outra dúvida surgiu na cabeça de Ainz.


“Dessa vez serão Aura e Mare... mas tudo continuaria funcionando se
você e Demiurge tirassem férias?”

Albedo hesitou um pouco, mas respondeu sem perder tempo.

“Acredito que mesmo se estivéssemos ausentes, os outros poderiam nos


substituir sem problemas. Eles fariam o seu melhor para atender às suas
expectativas, Ainz-sama.”

“Hmmm... Albedo. Não é sobre o que você acredita. Eu preciso ter


certeza se podem ou não lidar com isso sem problemas... eu sei que está em
uma posição difícil, afinal levantaria dúvidas sobre as habilidades dos
Guardiões de Andar — seus colegas, e eu entendo que é doloroso para você .
Mas, pode me dizer se estão aptos, sem que suas emoções lhe atrapalhem? Se
disser que não, então teremos que treiná-los e reestruturar a Guilda quando
tivermos tempo livre. Bem... se mesmo alguém como eu foi capaz de prever
isso, tenho certeza que você já pensou o mesmo.”

“C-com licença, Ainz-sama... desculpe por interromper... mas.”

“Qual o problema, Mare”

“Eh, umm, si-sinto muito, mas n-não estou confiante de fazer o trabalho
incrível que a Albedo-san faz...”

Depois de um breve silêncio, a voz irritada de Albedo ecoou no Salão.

“—Isso é tudo que você tem a dizer!?”

O que deu nela?

Ele não sentiu que nenhuma das palavras de Mare justificasse a raiva de
Albedo. Na verdade, Ainz concordou com o que ele disse.

“Mare!”

Mare ficou acuado quando Albedo gritou. Ela estava muito aborrecida.

Antes que Ainz pudesse detê-la, Albedo continuou:

“Eu ouvi um Guardião de Andar, a elite hierárquica, dizer que não pode
fazer o trabalho que é esperado por um Ser Supremo?”

“Albedo! —Pare de fazer escândalo. Qual é o problema de alguém dizer


a verdade? Seria muito pior se dissesse que pode, sabendo que não é capaz”
“Perdoe minha insolência, mas permita-me continuar.”

Apesar da repreensão de Ainz, Albedo continuou em uma voz ainda


mais alta. Mas, como parecia que não estava mais direcionando sua raiva para
Mare, Ainz a deixou terminar.

“O problema não é reconhecer que não é capaz, mas sim não deixar bem
claro que dará seu melhor para estar apto a fazê-lo! Um Guardião de Andar
não pode dizer que é incapaz de fazer algo que um Ser Supremo espera e
simplesmente concluir seus dizeres.”

Eita.

Ainz grunhiu por dentro.

Ele não podia dizer que Albedo estava errada. O que Mare disse
certamente deixou a desejar se interpretado desse ponto de vista.

“...Ainz-sama, eu concordo com a Albedo. O Mare deveria é se retratar


por ter dito as coisas desse jeito. “

Disse Aura com indiferença. Sendo repreendido por sua própria irmã,
Mare soltou alguns sons lamentáveis.

“Como um Guardião de Andar—”

“Pare!” Ainz gritou com raiva para impedir Albedo de continuar. Claro,
foi apenas uma encenação, ele não estava realmente com raiva. O fato de que
sua supressão emocional não entrou em ação era prova disso.

Ainz elevou sua aura assim como sua voz. Ele optou por usar o efeito
visual da aura para assumir o controle da conversa, não para prejudicar os
outros. Ele escolheu usá-la porque sabia que Aura, Mare, Albedo e até
Lumière estavam equipados com itens que concediam imunidade contra
efeitos de status mental.

Ele não sabia o que Albedo teria dito se permitisse que continuasse.
Talvez mais tarde ela explicasse com calma para Mare, mas como havia a
chance de que isso pudesse resultar em ressentimentos, Ainz não poderia
deixá-la terminar.

“Mare. A Albedo tem razão. Se você expressar sua incapacidade de fazer


algo, também deve sugerir maneiras de melhorar.”
“P-por favor, me perdoe.”

“Por outro lado, Albedo. Você não acha que é vergonhoso um superior
forçar seus subordinados a fazerem algo que são incapazes de fazer?”

“…Não posso negar que é injusto.”

“Eu acho que ambas as partes erraram. Mas estou feliz por sua lealdade,
e quero que saiba que todos cometem erros. É preciso ser gentil ao corrigir
um erro, para que da próxima vez não fiquem receosos para reportarem caso
erros voltem a acontecer.”

Albedo era muito leal e capaz, mas ela tendia a ser dura com os outros.
Ainz concluiu que a única razão pela qual isso não causava grandes
problemas era porque havia rejeitado a maioria das sugestões dela sobre como
lidar com os outros. Se Albedo recebesse autoridade total, provavelmente
terminaria em expurgos em larga escala.

Embora possa ser um medo infundado... eu acho...

“Sim. Eu sei que exagerei. Perdoe-me, Mare.”

“Eh, Ah, não. Não fez nada de errado, Albedo-san. Eu que errei... Eu
sinto muito.”

Depois que se curvaram um para o outro (com Mare fazendo uma


reverência mais profunda), esse incidente poderia ser considerado resolvido
por enquanto.

“...Então, onde estávamos? Lembrei. Como irei tirar férias com esses
dois, quero que os gêmeos escolham seus substitutos. Em primeiro lugar,
transfiram seu trabalho para seus substitutos no prazo de três dias. Se
possível... confie-o aos Guardiões de Área sob seu comando em vez dos
Guardiões de Andar. Se não for possível—”

Ainz pensou que seria difícil entregar algo mais nas mãos de Albedo, já
que faz pouco tempo desde a destruição do Reino.

“Discutam o assunto com o Pandora’s Actor, tudo bem?”

Ele obteve uma resposta enérgica de ambos.

“Quanto à comitiva, Ainz-sama? Serão os Hanzos?”


Não era uma má sugestão, mais precisamente, Hanzos eram muito
convenientes. Para ser honesto, Ainz queria convocar mais se dinheiro e
dados não fossem um problema. Entretanto, os dados para invocações de
Hanzo foram usados, mas ainda havia dados para outros monstros do tipo
ninja na biblioteca. Seria ótimo se ele pudesse usar isso, mas—

—Se possível, eu preferiria não usar os ativos do tesouro, vai ter que ser
assim por enquanto, pelo menos até que eu junte meu próprio dinheiro. Ou
seria melhor priorizar o fortalecimento das defesas de Nazarick? Vou pensar
melhor a respeito quando estiver viajando. Aaah, queria tanto ter dinheiro...
Dinheiro que eu possa usar do jeito que eu quiser... Será que há alguém com
algum tesouro escondido? Tipo, de alguém que não pode reclamar mesmo
que eu roube.

“...Ainz-sama?”

“Hum? ...Ah, perdão. Parece que fiquei perdido em pensamentos. Sobre


a comitiva—”

Ainz parou antes de dizer “Hanzos são uma boa escolha”. Em geral,
dizia-se que funcionários excelentes eram bons em ler nuances. Embora Ainz
fosse um funcionário medíocre, talvez tenha acertado um crítico nesse
instante, porque sua intuição lhe disse para calar a boca por um momento.

Isso porque ele conseguiu ler algumas emoções levemente diferentes do


habitual tom de Albedo.

“—Não, originalmente não planejei levar os Hanzos. Por acaso há algum


trabalho que queria que os Hanzos façam?”

“Ah, não, como o senhor não planeja levar os Hanzos dessa vez, não
tenho porquê me opor à sua decisão, Ainz-sama...”

Albedo hesitou um pouco enquanto tentava ler o humor de Ainz:

“Houveram algumas reclamações, a respeito de que os Hanzos são os


únicos a serem chamados... há muitas pessoas que querem trabalhar para o
senhor, então eu queria perguntar se poderiam ter uma chance.”

Quando Ainz começou a encará-la, Albedo imediatamente apertou suas


mãos nervosamente.

“Me sinto aliviada de deixar o senhor a par de que há pessoas ansiosas


para servi-lo.”
Ainz mentalmente colocou a mão na testa enquanto respondia com um
“Uhum”.

Ainz— Suzuki Satoru era apenas uma pessoa comum, então nunca
imaginou que tal problema pudesse existir.

Era um fato que estava usando muito os Hanzos, mas deixar os outros
terem essa impressão era muito ruim.

O favoritismo sempre existia dentro de uma empresa. Era natural que


pessoas apreciadas por seus superiores fossem promovidas, mesmo que seu
talento fosse um pouco inferior em comparação com seus colegas. Ainda
assim, o favoritismo tendia a piorar as relações sociais dentro da empresa.

Isso não era bom. Ele não estava apenas pensando que; embora Nazarick
fosse uma empresa abusiva, de alguma forma estava funcionando bem por
causa da força de suas relações sociais internas, correto?

Ele não poderia dizer: “Irei com os Hanzos mesmo” em tal situação.

“Bem, vamos decidir a comitiva mais tarde— digo, em breve devemos


informá-los. Será interessante ver como você se preparará, assim minhas
escolhas não atrapalhariam, não acha?”

Ainz deu um sorriso enquanto se sentia totalmente diferente por dentro.

Albedo inclinou a cabeça com uma expressão que dizia: “Entendo.


Como esperado de Ainz-sama”.

“Sim, senhor. Eu informarei imediatamente todos os habitantes de


Nazarick.”

“Ótimo. Estou contando com você.”

Ainz se levantou e saiu da sala com apenas Lumière o seguindo. Ele


então soltou um grande suspiro como um assalariado que acabara de terminar
seu dia de trabalho.

♦♦♦

Albedo levantou a cabeça ao ouvir a porta fechar e seus olhos se


encontraram com os outros dois que levantaram a cabeça ao mesmo tempo.

“Ei, Albedo. Eu quero te perguntar uma coisa.”


“O que seria?”

Respondeu Albedo enquanto se levantava.

“Mesmo o Ainz-sama dizendo que vai visitar o Reino Élfico pra tirar
férias... o que ele realmente tá pretendendo? Não é possível que seja apenas
pra dar uma relaxada, né?”

“—Dificilmente.”

“Eh? Ju-jura mesmo?”

O Supremo Governante de Nazarick, Ainz Ooal Gown, era um rei sábio


cujo cada ação continha inúmeros significados. Deve-se pensar que havia
pelo menos três objetivos por trás de cada um.

A posição de um rei não era uma coisa para ser tomada de ânimos leves.
Não é como um casaco que pode tirar e colocar de acordo com o clima.
Mesmo tendo dito que seriam férias — mesmo que os outros países
acreditassem —, no final ele ainda era o ilustre rei do Reino Feiticeiro. Cada
movimento poderia ser considerado como parte da agenda do Reino
Feiticeiro. Qualquer idiota poderia entender isso.

Portanto, era lógico que havia outro significado oculto em seu ato de
tirar férias remuneradas no país dos Elfos.

“E aí, qual você acha que é o objetivo do Ainz-sama?”

“Como ele mencionou, melhorar nossa organização provavelmente faz


parte disso, mas estou certa que coletar informações é o objetivo principal.”

Albedo disse enquanto ponderava:

“Eu acho que o Demiurge teria uma resposta melhor... a Teocracia deve
estar implantando uma ofensiva em larga escala contra o Reino Élfico neste
exato momento.”

“Q-quer dizer aquela T-teocracia?”

Informações sobre a Teocracia Slane circulavam em Nazarick, então não


havia necessidade de explicar os fundamentos.

“Sim. Depois de perceberem que seu hipotético inimigo, o Reino


Feiticeiro, entrou em conflito com o Reino, eles naturalmente estão tentando
terminar sua guerra com os Elfos de uma vez por todas.”
“Porque é ruim lutar em dois frontes, né?”

“Correto. Embora a Teocracia não esteja em guerra conosco agora,


considerando a situação futura, é melhor não dividir suas forças entre os
frontes norte e sul. Nesse caso, é altamente provável que estejam movendo
uma grande ofensiva para atacar o Reino Élfico. É difícil pensar que
oferecerão um tratado de paz justo agora, mas não tenho certeza.”

Albedo não via problemas se o país dos Elfos fosse destruído pela
Teocracia. Pelo contrário, traria apenas benefícios se a Teocracia escravizasse
sua população, pois assim poderia usar de Casus Belli para libertar os Elfos.
Isso poderia aumentar a quantidade de opções que tinham contra a Teocracia,
mas parece que seu mestre pensava diferente da situação. Talvez ele estivesse
indo para lá porque queria obter mais informações antes de tomar uma
decisão.

Demiurge provavelmente teria respondido com certeza se estivesse


presente.

Albedo tinha vantagem sobre Demiurge quando se tratava de assuntos


internos, mas em questões militares o jogo virava. Ela sempre perdeu para
Demiurge nesse assunto. Enquanto esse pensamento se formava em sua
mente, ela inclinou a cabeça se perguntando o porquê de Demiurge estar tão
quieto ultimamente.

Demiurge está traçando planos em segredo? Ele está planejando algo


coletando informações secretas sobre a situação dentro do Reino Élfico? Eu
não acho que seja o caso, mas...

Como Demiurge costumava trabalhar fora de Nazarick, ele detinha mais


poderes arbitrários em comparação com os outros Guardiões. Ou melhor, era
mais correto dizer que os outros Guardiões não faziam pleno uso de seus
privilégios. Dito isso, ele sempre descrevia as informações coletadas e suas
ações em relatórios muito detalhados (que sempre acabavam sendo grandes
demais e chatos de ler) para seu mestre, relatórios esses que passavam por ela.
Era por isso que Albedo acreditava que ele não poderia estar tramando algo
sem que percebesse, já que não recebera nenhum relatório sobre o Reino
Élfico.

Considerando a personalidade de Demiurge, era improvável que ele


estivesse escondendo algo. Era mais provável que ainda não tivesse estudado
o tema.

Contudo, não era algo que ela poderia confiar cegamente.


Seria lógico ir encontrá-lo imediatamente depois de deixar esse lugar.
Não, ela deveria requisitar sua presença. Não seria nada bom conversar no
domínio dele, se ela tivesse seus subordinados de prontidão durante a
conversa, era provável que Demiurge tentasse sondar suas intenções.

Mas se ele trouxesse aqueles demônios... não, ele tomaria ações tão
impensadas? Será que ele está duvidando de mim? Ele ainda não fez nada,
então o problema é—

“V-vamos lutar contra a Teocracia?”

“Eh? Ah, sim, como ia dizendo; não sabemos se vai acontecer. Talvez até
o Ainz-sama não tenha certeza e é por isso que ele está usando a desculpa de
férias remuneradas."

A pergunta de Mare a acordou de seus pensamentos e, confusa, Albedo


respondeu rapidamente. Mesmo que ponderasse por um bom tempo, não
havia suspeita nos olhos dos gêmeos. Ela decidiu guardar seus pensamentos
sobre Demiurge para mais tarde.

Talvez seu mestre estivesse pensando em viajar não como o governante


de Nazarick, mas apenas como um undead em férias. Dessa forma, mesmo
que o pior acontecesse, os danos à Nazarick seriam minimizados.

“Talvez, e apenas desta vez, há alguns elementos que nem mesmo o


Ainz-sama tenha certeza, creio que seja por isso que ele está fazendo seus
movimentos sem envolver Nazarick.”

“Nem pensar!”

“Eeeh!? Está falando sobre o Ainz-sama, es-esqueceu?”

Os dois Elfos aumentaram o tom, cheios de surpresa,

A sabedoria de seu mestre conseguiu ler e controlar tudo até agora. Eles
testemunharam diversas vezes quando uma de suas ações corriqueiras acabou
sendo o golpe fatal para o oponente. De acordo com o que ouviram, ele havia
planejado para os próximos mil anos e estava fazendo jogadas dentro desse
itinerário.

Era natural duvidar de Albedo, que disse que seu mestre poderia estar
incerto sobre o que fazer.
“...Como esperado do Ainz-sama, até você não conseguiu ler todas as
intenções dele—”

Albedo sorriu sem graça para Aura, que falou com as mãos cruzadas
atrás da cabeça.

“Primeiramente, é impossível compreender as ramificações de todos os


planos do Ainz-sama. Digo a vocês por experiência própria... Mas com toda
honestidade, eu ainda não entendo a razão pela qual o Ainz-sama usou a
palavra ‘férias remuneradas'. Apenas tenham em mente que; como irão para o
país dos Elfos, é muito provável que tenham que enfrentar a Teocracia.”

Os dois Guardiões assentiram com expressões sérias.

“F-fomos autorizados a levar nossos próprios subordinados...”

“Além daqueles selecionados pelo Ainz-sama, você quer dizer...”

Albedo considerou a sugestão de Mare. Embora pudesse ser considerado


uma afronta ao seu mestre, também poderia deixá-lo feliz por terem preparado
alguns por conta própria.

“Se o Ainz-sama quer uma diminuta força de elite... não, será quê...”

Albedo começou a considerar o tema mais profundamente:

“Por ora, selecionem um grupo para a comitiva menor e outro para caso
precise de uma maior... Quanto a mim, discutirei com o Demiurge a respeito
dos objetivos de Ainz-sama e informo vocês mais tarde.”

Ainz-sama estava extremamente preocupado com a deterioração da


capacidade organizacional de Nazarick. Será que melhorar isso faz parte de
seus objetivos?

Após dá-los metas e dizer para não se preocuparem muito, ela recebeu
como resposta elogios sarcásticos. Provavelmente por sua incapacidade de
entender toda a extensão de seu desconforto e sua inabilidade de responder à
confiança depositada nela.

Ele estava especialmente preocupado com esse ponto...

Até o momento, haviam adquirido apenas uma pessoa a par com os


maiores intelectos de Nazarick. Ele estava dizendo que apenas isso não
bastava? Ou era outra coisa...?
Albedo falou depois que ouviu os gêmeos reconhecendo suas sugestões.

“Creio que terei um maior entendimento das intenções do Ainz-sama


depois que eu souber quem ele escolheu para a comitiva... espero que o
trabalho desta vez seja de altíssimo nível. Observem tudo sem baixar a guarda
e mantenham-se informados o tempo todo.”

Os dois Guardiões responderam alegres à Albedo.

Considerando sua força de combate, ela tinha certeza de que seriam


capazes de proteger seu mestre, mas o cuidado nunca é demais.

Ela precisava discutir com Demiurge e se preparar para a mobilização


total de Nazarick apenas por precaução.

Mesmo que vá desacelerar o modo como lido com os remanescentes do


Reino, devemos nos preparar por desencargo de consciência.

Albedo deixou a sala com os gêmeos, enquanto a caminho, ela


mentalmente organizava a ordem de suas próximas tarefas.
Passeio ao Estilo Nazarick
Parte 1
Pode-se dizer que não haviam pontos de bloqueio na Grande Floresta de
Evasha, o lar dos Elfos. Certamente havia lugares com monstros perigosos,
pequenas tribos demi-humanas e labirintos impossíveis, mas não havia
estruturas que pudessem ser chamadas de fortalezas ou barreiras físicas
intransponíveis. No entanto, existia um lugar que era digno dessa alcunha.

E era tudo graças a uma única pessoa.

Escondido atrás de árvores esparsas, o vice-capitão da Escritura do


Holocausto, Schoen, bisbilhotava à frente.

Lá estava uma menina de cerca de 8 anos de idade, ela parecia ainda


mais jovem do que sua idade sugeria, um traço comum da raça dos Elfos.

Sentava-se em uma pequena cadeira em cima de um diminuto declive.


Ela segurava um arco grande demais para sua altura e, ao seu lado, eram
vistas algumas flechas dentro da aljava que se situava ao lado da cadeira.

Era possível contar as flechas sem usar os dedos de ambas as mãos, mas
foram informados de antemão de que as flechas nunca acabavam. Não havia
dúvida de que era um item mágico.

Ninguém estava por perto, exceto a garota.

...E justamente isso o assustava.

Um herói poderia virar a maré da batalha sozinho. Era certo afirmar que
apenas um deles era igual a um exército de 10.000. Na verdade, a garota em
sua frente já havia tirado mais de 1.000 vidas do exército da Teocracia.

Um exército de 40.000 homens estava sendo acuado por uma garotinha


sentada em uma cadeira.

A estratégia indicada diante de uma situação dessas era contornar o


obstáculo. Não era como se tivessem que avançar a partir daqui. A grande
floresta em si era uma barreira natural, mas não era impossível fazer um
desvio.

Dito isso, a oponente não era um exército, mas uma única combatente.
Era fácil notar os movimentos de uma tropa de guerreiros, mas a garota era
muito boa no que fazia. Estando sozinha, ela tinha mais mobilidade que seus
homens. Uma vez que a perdessem de vista, seria difícil encontrá-la
novamente. Se um inimigo capaz de lutar sozinho contra um exército fosse
deixado por conta própria nas profundezas da grande floresta, não havia
necessidade de dizer que o moral da vanguarda cairia.

Também poderiam tentar atrasá-la, encurralando-a com uma pequena


parte de sua tropa enquanto deixavam o restante avançar. Isso não era
exatamente uma má idéia, exceto pela burrice óbvia de dividir suas forças em
uma terra hostil.

Então, pode-se dizer que esta seria a melhor chance deles: como a
oponente foi posicionada (embora ficar apenas sentada em uma cadeira
levante sérias dúvidas sobre isso) e instruída a agir dessa forma. O alto
escalão decidiu que assim que soubessem sua localização, ela deveria ser
neutralizada, mesmo que tivessem que sacrificar algumas de suas forças.

“Somente um herói pode enfrentar um herói”, dizia o aforismo. Nada se


resolveria enviando a ralé.

Desta vez não havia heróis no exército de invasão da Teocracia, então a


Escritura do Holocausto foi incumbida a dar seu jeito e resolver o problema.

A propósito, não havia heróis na Escritura do Holocausto. Costumava


haver um, mas foi transferido para a Escritura Preta. Na Teocracia, qualquer
um que entrasse no reino dos heróis seria movido para a Escritura Preta.

Infelizmente, Schoen ainda não entrou nesse reino.

Apesar disso, eles foram enviados para esse campo de batalha, pois
acreditava-se que; desde que trabalhassem em equipe, poderiam derrotar um
herói.

Era uma verdade.

A Escritura do Holocausto era capaz de matar heróis.

Mas havia uma grande diferença entre aqueles que acabaram de entrar no
reino dos heróis e aqueles que eram praticamente anômalos. Mesmo que
pudessem vencer os novatos, era impossível triunfarem contra seres atípicos.
Era por isso que Schoen observava a garota com seriedade.

Soldados comuns, soldados mais fortes, soldados de elite, anômalos...


Schoen, que tinha visto seres de vários níveis, tinha conhecimento e
inteligência suficientes para medir sua força com precisão e minimizar suas
baixas o máximo possível.

Embora não sejam comparáveis à Escritura Preta, os membros


escolhidos para a Escritura do Holocausto eram elites por direito próprio (de
certa forma, o mesmo era válido para as demais escrituras). Ele não queria
que eles fossem mortos sem motivo.

Dependendo do quão forte fosse, ele poderia ordenar que sacrificassem


alguns soldados para segurá-la enquanto esperavam que a Escritura Preta
fosse despachada da Teocracia.

Schoen soltou sua respiração lentamente.

Embora estivesse escondido atrás das árvores usando 「Invisibility」 e


「Silence」, ele ainda tinha que estar atento mesmo quando respirava. A
magia「Silence」não era originalmente de ramificação arcana, mas essa
versão foi desenvolvida para ser usada por magic casters.

Ele queria secar o suor da testa, mas considerando que qualquer um de


seus movimentos poderia levar à morte, ele optou por se conter. Schoen era
um magic caster talentoso, mas quando se tratava de furtividade, ele era
apenas um pouco melhor que uma pessoa comum se não usasse magia.

Muito possivelmente a garota Elfa era uma ranger ou arqueira. Se fosse o


primeiro, era possível que detectasse Schoen mesmo através da furtividade
mágica. Mesmo que não soubesse sua localização exata, ela poderia usar um
ataque de área — algo que foi confirmado de ela ser capaz — para
transformá-lo em espetinho humano.

Dificilmente Schoen morreria em um único ataque, mesmo que o


oponente fosse um herói, mas não estava confiante em escapar se fosse ferido.

Mais forte que seu medo da morte, era seu medo de morrer em vão sem
trazer as informações que coletou.

—Mas que pirralha desagradável.

Ela não tinha feito um único movimento desde que começou a


observá-la. Sua expressão contemplativa a fazia parecer uma boneca.

Mas, Schoen sabia que não era o caso.

Depois de um longo tempo em observação, o alvo finalmente se moveu.


O coração de Schoen fisgou em seu peito, preocupado que seu alvo o
tivesse notado.

Entretanto, não olhou em sua direção, mas isso não significava que
poderia baixar a guarda. Para aqueles que aprimoraram suas habilidades ao
limite, era fácil saber de tudo que ocorria em uma direção mesmo olhando
para o lado oposto. Na verdade, Schoen sabia que tal habilidade realmente
existia.

Com sua audição fortalecida por 「Elephant Ear」, ele logo ouviu um
grande grupo de pessoas se aproximando. Provavelmente o que fez a garota
olhar naquela direção.

Ele tinha certeza de quem se tratava — soldados da Teocracia.

Schoen sentia culpa, pois sabia o porquê foram enviados para cá.

Ele não podia avisá-los, pois isso era parte de seu dever.

Tudo que precisava fazer era prestar atenção na garota.

Sua verdadeira força só poderia ser compreendida se a vissem lutar.


Esses soldados eram os sacrifícios que o alto escalão enviou para esse
propósito. Vidas valiosas seriam perdidas hoje.

Schoen virou-se olhando para trás, certificando-se de que não seria


notado pelo alvo. Seus olhos, aprimorados pela magia de segundo nível 「
Hawk-eye」, avistaram uma flecha.

Enquanto fazia sua trajetória, a flecha solitária passou ao redor das


árvores em seu caminho e, em seguida, se multiplicou em várias flechas no ar,
transformando-se em uma chuva de flechas capaz de cobrir uma grande área.

A flecha não visava nada específico. Mesmo que pudesse localizar seu
alvo através do som, estavam no meio da floresta. Era impossível atirar com
precisão com todas as árvores ao redor. Por exemplo, uma 「Fireball」 seria
capaz de contornar essas obstruções.

Ela estava apenas fazendo bom uso do que sabia, combinando a


habilidade de atirar entre as aberturas das árvores com a habilidade de
multiplicar as flechas.

Os ouvidos aprimorados de Schoen captaram gritos de dor dos soldados.


Parecia que ninguém saiu ileso.
—Gritos? Eles ainda estão vivos?

Os soldados zanzavam confusos, temendo as flechas que vinham de onde


não podiam ver. Como ninguém conseguia descobrir a trajetória das flechas,
todos começaram a correr como baratas tontas. Não havia mais nenhum
espírito de luta.

Não que estivessem cometendo um erro grave. Na verdade, pode-se


dizer que estavam agindo corretamente, espalhando-se aleatoriamente, o que
permitiria que pelo menos alguns sobrevivessem.

A garota disparou outra flecha. Que passou entre os espaços das árvores
novamente e depois se multiplicou. Entre a chuva de flechas, os sons de
lamentos ​e o farfalhar da vegetação rasteira foi diminuindo.

Ele aprendeu algo importante graças aos sacrifícios desses soldados.

Ela não poderia matar um soldado comum em um único ataque. Claro,


considerando a habilidade — Arte Marcial — que fez as flechas se
multiplicarem, era lógico que cada flecha teria precisão e dano reduzidos. Um
herói poderia matar cada um daqueles soldados com um único ataque. Então
só poderia significar uma coisa.

—Ela não é grande coisa. Aquela pirralha nem mesmo está no reino dos
heróis

Essa foi a conclusão de Schoen.

Por treinar tanto para igualar seu rival, o Terceiro Assento da Escritura
Preta, “Tetra Espíritos”, que ele pôde ter certeza de sua conclusão.

Ela era mais fraca que Schoen, mas isso não significava que poderiam
enfrentá-la de peito aberto.

Magic casters e arqueiros eram fortes à sua maneira. Mesmo que fosse
mais forte do que ela em termos gerais, o resultado era incerto. Poderia ser
possível que ela estivesse escondendo sua verdadeira força depois de perceber
que estava sendo vigiada.

Mas, Schoen, o observador em questão, podia dizer que ainda estava


seguro.

Agora precisavam dar apenas um passo. Neutralizar o obstáculo que


impedia o avanço da Teocracia.
Ele ativou 「Silent Magic: Wall of Protection from Arrows」.

Ele não achava que apenas isso bastava, ela poderia notar algo suspeito e
escapar. Ainda mais dada à distância que estava.

Só restava fortalecer sua determinação.

「Silent Maximize Magic: Magic Arrow」.

Ele saiu do esconderijo atrás da árvore e ativou suas habilidades de


modo síncrono. Ele também ativou o trunfo de uma vez por dia de sua
profissão Devoto Arcano, a Escritura do Holocausto exigia que seus membros
tivessem. Isso permitiu que acessasse metamagias de fortalecimento que ainda
não havia aprendido. Naturalmente, ele escolheu 「Triplet Magic」.

Um total de 12 flechas mágicas foram disparadas ao mesmo tempo.

Não se podia escapar dessas flechas, mas em contrapartida, o dano de


apenas uma era baixo. Mesmo que não haja muita disparidade entre eles, seria
difícil matá-la mesmo com 「Maximize Magic」. Mas... essa seria a regra se
estivesse lutando sozinho.

Os subordinados diretos de Schoen estavam observando-lhe com 「See


Invisibility」.

A expressão da garota mudou em um instante.

Talvez fosse porque se assustou com o ataque repentino, ou ainda porque


viu mais de cem 「Magic Arrows」 seguindo o ataque de Schoen.

A Escritura do Holocausto era encarregada de assassinato e


contraterrorismo, o que exigia que seus membros fossem adaptáveis, de modo
que suas equipes consistiam de pelo menos quatro membros, cada um com
profissões diferentes.

Esse modo de operar era semelhante às táticas dos aventureiros no Reino


e Império. Secretamente, a Teocracia deu início às guildas de aventureiros,
então, de certo modo, poderia até chamá-los de irmãos de armas. A tática
desta vez contou com uma equipe composta por todos tendo uma profissão
em comum. Além disso, apenas aqueles que poderiam usar uma habilidade
específica foram selecionados. O resultado final foi uma equipe de magic
casters que também poderia usar 「Invisibility」.

Um, dois, três. Quatro acertos.


Era como se asas de luz traçassem rasantes em meio aos dosséis.

O alvo caiu no chão e ficou imóvel com o rosto para baixo. Mesmo
assim, apenas Schoen se aproximou dela.

Ele não achava que o alvo, uma arqueira, seria capaz disso, mas havia
ilusões capazes de fingir-se de morto. Ele não poderia baixar a guarda.

Ele colocou o pé sob o corpo dela e a virou.

Por ser atingida por suas flechas mágicas, não havia uma única parte do
corpo da criança que estivesse sem feridas. Schoen deu uma olhada mais de
perto em seu rosto. Não havia luz nos olhos vistos através da pequena
abertura de suas pálpebras inchadas.

Ele teve certeza de que estava morta.

“Huh. —Quem com ferro fere, com ferro será ferido, pirralha de merda”

Eles não selecionaram 「Magic Arrow」 apenas para ser um ato de


vingança simbólica. Rangers com sentidos aguçados eram capazes de sentir e
escapar de danos se fossem atacados com magias de área de efeito.

Ataques mentais eram situacionalmente eficazes em causar dano fatal em


um único golpe, mas havia uma alta probabilidade de que fosse anulado. Mas
como tinha outros dando-lhe suporte, ele optou por usar um método com
pequenas chances de dar errado.

Independentemente disso, ainda foi a melhor magia que poderiam ter


usado para se vingar dos soldados mortos.

Schoen franziu as sobrancelhas ao ver o semblante da criança morta,


pois havia paz de espírito em seu rosto.

Talvez fosse uma interpretação errônea por parte dele, mas caso fosse de
fato o caso, seria extremamente irritante. Essa Elfa matou quase mil de seus
companheiros da Teocracia, então ele queria que ela morresse em agonia,
lamentando até o último suspiro por suas ações.

Schoen se conteve antes que pudesse cuspir no cadáver. Era preciso tirar
o equipamento dela primeiro. Ele planejava fazê-lo aqui, pois não havia
inimigos por perto. Ele se sentiria enojado se tivesse que tocar sua própria
saliva no processo, então preferiu cuspir depois.

Primeiro, o arco.
Uma arma capaz de parar o exército da Teocracia. Deve ser algo bom.

“Ora ora...”

Schoen ficou sem ação ao ouvir a voz masculina em tons de indiferença.


Embora devesse ter respondido imediatamente, o susto o deixou sem ação.
Virando-se para olhar de onde vinha, Schoen se deparou com um único Elfo.

Não havia ninguém aqui, ele tinha certeza disso. Não deveria haver Elfos
além da garota. Ele até teve o cuidado de usar「See Invisibility」 enquanto
se aproximava do alvo.

“Humano, você sabia disso? Lutar entre a vida e a morte contra os fortes,
é o caminho mais rápido para tornar-se mais forte? Eu a tirei dos braços de
sua mãe e a joguei nesse campo de batalha quanto antes, pensando que ela se
sobressairia...”

A voz parecia desapontada. O Elfo olhou para o cadáver da garota com


desprezo:

“Sua imprestável. Você é ainda pior do que os outros fracassados que


desperdiçaram meu tempo. É o que eu sempre digo, quem não é capaz de
trazer à tona a essência do rei não é diferente do lixo.”

Schoen logo notou quem era o Elfo.

Seus olhos heterocromáticos eram a única prova que precisou.

O alvo final da Teocracia.

Um criminoso deplorável.

O Rei Elfo.

Uma existência contra a qual nem os heróis poderiam vencer, muito


menos Schoen. Alguém acima dos anômalos.

Não havia como vencer.

「Silent Magic: Invisibility」.

Em pânico, Shoen imediatamente ativou a magia e escapou para um


lugar próximo.
No entanto, os olhos do Rei Elfo seguiram-no. Mesmo que tenha se
movido a uma curta distância do local onde lançou 「Invisibility」, o Rei
Elfo o via normalmente.

No momento em que se deu conta, Schoen fugiu a toda velocidade. Não


seria possível esconder as marcas que deixava na grama mesmo com 「
Invisibility」 e 「Silence」, ainda assim era um risco a tomar.

Mesmo fugindo o mais rápido que podia, o Rei Elfo ainda o seguia com
os olhos. Não parecia que estava usando 「See Invisibility」 para vê-lo
perfeitamente. Ele estava vendo através de 「Invisibility」e 「Silence」
usando apenas sua extraordinária visão. Foi por isso que Schoen precisava
criar alguma distância entre eles. Se o oponente não estivesse usando
habilidades anti-furtivas para encontrá-lo, apenas aumentar a distância entre
tornaria mais fácil se esconder.

Por apenas um momento, ele se arrependeu de não usar 「Fly」 para


escapar, mas ele não poderia fazê-lo pois uma das profissões que adquiriu
drenou boa parte de sua mana.

Adeptos de Surshana tinham uma habilidade especial com limitados usos


por dia. Essa habilidade permitia que estendessem o tempo efetivo de uma
magia consumindo parte de sua mana. Aproveitando essa habilidade, ele já
havia esgotado a maior parte de sua mana para manter suas outras magias.
Portanto, ele não tinha mana suficiente para usar 「Fly」 de forma efetiva.

Além disso, só um louco usaria 「Fly」, pois ficaria indefeso diante do


Rei Elfo. Schoen não estava desesperado a esse ponto. Era mais lógico usar
depois que pudesse se afastar o suficiente e se esconder nas árvores.

“—Hah”

Ele ouviu as zombarias do Rei Elfo vindo por trás.

“É tão sem sentido matá-los, mas— eu tive o trabalho de vir até aqui,
então pode ser bom para aliviar meu tédio.”

Como um magic caster, Schoen não era exatamente do tipo atlético.


Mesmo assim, como alguém que estava na beira do reino dos heróis, ele
poderia cruzar grandes distâncias com pouco esforço. Depois que Schoen
conseguiu se afastar o suficiente, a voz do Rei Elfo de repente ecoou em seus
ouvidos, que estavam aprimorados pelo 「Elephant Ear」.

“Vá — mate todos, Behemoth.”


A terra tremeu e ele entendeu que algo enorme havia surgido sem sequer
olhar.

“DISPERSAR!”

Gritou, cancelando 「Silence」 para que sua voz pudesse alcançar seus
subordinados.

Ele nunca havia gritado tão alto em toda a sua vida. Mesmo o Rei Elfo
achando tolo de sua parte, ainda foi o melhor caminho.

Ele precisava que seus subordinados dessem tudo de si, mesmo que
significasse o sacrifício de alguns. Levar a informação para casa era a única
maneira de honrar as vidas perdidas.

Schoen, que estava mais próximo do Rei Elfo, certamente morreria.


Então ele voltou. Se morresse antes de seus subordinados, a chance de
escaparem seria mais alta.

Ele já tinha visto Earth Elementals antes. Eram seres estranhos de


aparência rotunda, menores que humanos e com braços grandes demais para
seus corpos. Mas, aquele que estava à sua frente não tinha traços de fofura.

Um corpo disforme feito de pedregulhos e minério, e tão grande quanto


as árvores ao seu redor, o suficiente para ser chamado de Earth
Elementallord.

Braços grossos e longos, pernas fortes e atarracadas. Talvez parecesse


cômico se fosse menor, mas sua silhueta exibia um poder sem igual. O Rei
Elfo estava atrás dele, olhando para a luta desesperada de Schoen com um
sorriso de escárnio.

Sua pose era repugnante.

Um assassino que matava sem se pôr em perigo.


Despreocupado com os sentimentos alheios, o Rei Elfo imediatamente
encurtou a distância com movimentos graciosos como se estivesse patinando
sobre o gelo. O elemental — Behemoth, ergueu seus dois braços gigantescos
no ar.
“—Tenta a sorte, seu cretino! 「Wall of Stone」.”

Um muro de pedra foi erguido entre o Rei Elfo e ele.

No momento seguinte, foi quebrado com um único golpe, seus pedaços


derreteram no ar.

Embora houvesse outros fatores, a resistência e a durabilidade de uma


barreira tendiam a ser proporcionais à força do conjurador. Isso era uma boa
prova do poder do elemental convocado.

Behemoth imediatamente ergueu o punho esquerdo.

Pelo canto do olho, Schoen viu o Rei Elfo parado ali com um sorriso de
satisfação e logo entendeu seus pensamentos torpes.

Ele sabia o que lhe aguardava. O Rei Elfo estava pensando que Schoen
morreria no próximo ataque. E certamente não estava errado.

O punho do Behemoth alcançaria Schoen antes que pudesse lançar outra


magia, seu destino estava selado.

Mesmo assim—

Consegui ganhar algum tempo...

Ele desperdiçou o tempo de seu oponente, mesmo que apenas por alguns
momentos, mas já era um feito e tanto.

Era mais do que suficiente.

Pelo menos uma pessoa sobreviveria para retornar à Teocracia por causa
disso. Poderia ser o fim de Schoen, mas não da Teocracia.

No momento seguinte, Schoen foi esmagado pelo punho de Behemoth,


mas não perdeu seu sorriso mesmo em seu fim.

♦♦♦

O rei dos Elfos — Decem Hougan, passou pelo portão do castelo,


soltando um suspiro por sentir-se desconfortável.

Demorou muito para voltar ao castelo, o que deixou-o de mau humor.


Ele retornou da maneira mais rápida possível, montando no infatigável
Behemoth. Mesmo assim, era tedioso perder tempo e ele odiava o estresse que
isso lhe causava.

Recuperar as armas que deu à sua criação fracassada certamente não foi
uma perda de tempo — ele deveria ser elogiado por isso. O equipamento que
deu a ela eram coisas que recebera de seu pai, equipamentos que ninguém
mais poderia replicar. Ele não podia deixar com que caíssem nas mãos de
humanos que não conseguiam entender seu valor.

Seu aborrecimento vinha do fato de que não havia mais ninguém que
pudesse completar uma tarefa tão importante.

Ele não tinha subordinados a quem pudesse confiar tais questões. Isso
porque todos eram fracos.

Todos eram inúteis.

Em seu ponto de vista, Elfos eram uma raça esplêndida, seu pai era a
prova disso. A raça dos Elfos poderia se tornar mais forte do que qualquer
outra. Se Decem fosse um tipo especial de Elfo como um Alto Elfo ou um
Elfolord, ele teria concluído que os outros eram apenas piores e ponto final.
No entanto, esse não era o caso. Seu pai também era apenas um Elfo. Isso
significava que qualquer Elfo poderia ser tão forte quanto.

É por isso que ele não conseguia entender o porquê de seus iguais serem
tão fracos.

Como ele poderia provar que sua raça era a mais poderosa?

Ele só tinha que conseguir algo que pudesse convencer os incrédulos.

Ele só tinha que fazer desse mundo o domínio dos Elfos — ou mais
precisamente, dele, que possuía uma linhagem tão sagrada.

E para isso, ele exigia excelentes mulheres fortes.

Infelizmente, ele não tinha como saber quais fêmeas tinham úteros
superiores até que as crianças fossem geradas. Assim, ele enviou todos os
seus filhos para a guerra, mas quase nenhum conseguiu retornar.

Ele estava incomodado com o fato de que, mesmo após fazer isso por
tanto tempo, ainda não obtivera resultados.
Uma fêmea se aproximou de Decem, que parecia bastante ameaçador
enquanto imerso em pensamentos.

“—Meu rei.”

“O que é?”

Ele dirigiu sua raiva colérica para a fêmea e então arregalou ligeiramente
os olhos com surpresa.

O olhar de uma pessoa forte (Decem) continha emoções fortes —


especialmente se estivesse cheio de hostilidade ou intenção assassina. Como
resultado, tendia a quebrar o espírito dos fracos. Mas de fato ele não dirigiu
sua intenção assassina para ela, apenas sua raiva. Mesmo assim, os seres mais
fracos deveriam ser afetados e, embora essa fêmea tenha ficado pálida, ela
resistiu.

Não deveria passar de uma mulher fraca.

Nesse caso, como ela resistiu? Talvez fosse porque estava exausto. Ele
realmente não se importava, mas deveria recompensá-la por isso.

Então, ele parou de encará-la. Decem era um homem misericordioso.

“Como está a criança?”

Quem deveria ser “a criança”? O que exatamente ela quis dizer com uma
pergunta vaga dessas, não deveria ela primeiro agradecer ao rei por trabalhar
com tanto afinco depois de uma longa viagem? Ele perdeu a motivação
imediatamente.

“Estou me referindo à Roogi.”

Roogi.

Ele não se lembrava de quem se tratava.

Decem não era bom em lembrar de nomes, afinal, quase não havia
ninguém que fosse digno de ser lembrado por ele.

Do seu ponto de vista, lembrar de proles inúteis era um desperdício de


memória. Não é que sua memória fosse limitada, mas não faz sentido guardar
coisas sem importância. Na verdade, ele não conseguia entender o porquê de
tantas pessoas tentarem memorizar inutilidades.
A fêmea desviou o olhar para o arco nas mãos de Decem.

“Então, ela morreu?”

De repente uma luz acendeu em sua cabeça. Era sobre aquela fracassada,
aquela que ousou morrer apesar de ter lhe dado armas tão preciosas. Ele
sentiu-se envergonhado por saber que metade de seu precioso sangue corria
nas veias daquilo. Ou melhor, o que o irritava era saber que metade do que
corria em suas veias foi morta por meros humanos.

“Sim, ela morreu.”

“En...entendi...”

Sua voz saiu fraca.

Possivelmente estava sentindo vergonha ao lembrar que seu sangue fluía


através daquela criação fracassada, que por sinal tinha saído mais forte que a
própria mãe. Assim sendo, essa mulher deveria sentir ainda mais vergonha.

Mas era dever do rei dar uma segunda chance.

Decem sentiu-se comovido ao ver como era um rei gentil ao ponto de ser
misericordioso mesmo com os incompetentes.

“Vá para meus aposentos mais tarde. Vou lhe dar outra chance.”

Decem começou a andar sem esperar resposta. Ele deveria levar essas
armas ao tesouro primeiro.

Depois que voltou do tesouro, Decem limpou-se dos detritos do campo


de batalha e deitou na cama em seu quarto.

Enquanto esperava, um homem pediu sua permissão para entrar. Ele não
podia ver a mulher de antes atrás dele.

“...O que quer?”

“Trago-lhe informações, meu Rei. A mulher que Vossa Majestade


convocou, chamada Myuugi, cometeu suicídio”

“Suicídio?”

“Sim. Ela pulou do alto do castelo”


“Como é? Ela morreu ao cair daquela altura... que seja, às vezes esqueço
que vocês são fracos.”

Decem ponderou. Ele não conseguia pensar em uma razão para o


suicídio, até porque ele tinha acabado de chamá-la para sua cama, ela deveria
estar alegre. Talvez não tenha sido suicídio, mas sim assassinato, por alguém
que invejava os prazeres que ela teria com o rei.

“...Você tem certeza de que é um suicídio?”

“Sim. Temos certeza, houve uma testemunha.”

Decem pensou por um momento que talvez a testemunha fosse o


assassino, mas se realmente foi um suicídio, qual poderia ter sido o motivo?
Depois de refletir por um tempo, Decem finalmente encontrou a resposta.

“Entendo... Só pode ser isso. Ela se arrependeu de dar à luz uma filha
imprestável e se matou como um pedido de desculpas, o que acha?”

“...Ninguém sabe o que se passava na cabeça dela, mas Vossa Majestade


certamente tem razão.”

O homem respondeu inexpressivo.

“...Nesse caso, dê a ela um funeral adequado. Ela pediu desculpas com a


própria vida. É dever de um rei saber perdoar.”

“Sou grato pela consideração misericordiosa, meu rei”

Decem acenou majestosamente para o homem que se curvava


profundamente. Como ele pensava, os reis deveriam ser misericordiosos para
com os inferiores.

Sentindo-se extremamente compassivo, Decem decidiu recompensar a


lealdade do homem — ele não se lembrava de seu nome — antes que partisse.

“Você tem filhas?”

“...Sim... eu tenho.”

“Hoje é seu dia de sorte. Envie para mim as que forem maiores de idade.
Se não tiver nenhuma, sua esposa servirá meu propósito.”

O homem parecia profundamente comovido. Depois de tremer dos pés à


cabeça, ele falou como se estivesse espremendo palavras entre os dentes.
“Entendido, meu Rei...”

O homem saiu da sala e Decem começou a esquecer aquela fêmea. Não


valia a pena guardar lembranças de uma mulher inútil.

Parte 2
Voando acima da grande floresta que se estendia do sul do Reino
Feiticeiro ao sul da Teocracia.

Ainz olhou para a terra abaixo enquanto ventos uivantes sopravam ao


seu redor.

“Então é isso que chamam de Grande Floresta. É mais como um mar de


árvores... sim, o Grande Mar de Árvores.”

Por ser noite, o fundo da vegetação profunda dava a ilusão de ser pintado
de preto. Quando os ventos passavam nos dosséis, o observador até chegaria a
pensar que estava vendo as ondas do mar. Ele sentiu que era realmente
merecedor do nome. Na verdade, essa floresta era maior do que a Grande
Floresta de Tob e a Cordilheira Azerlisiana juntas. Pode até ser maior que
todo o Reino.

No que diz respeito ao Reino Feiticeiro, de agora em diante entraremos


no Grande Mar de Árvores.

Até onde a visão alcançava, nenhum ponto de referência era visto nesta
colossal floresta. Certamente havia várias espécies que fundaram civilizações
independentes que mudaram o habitat para algo que melhor lhes servisse, mas
ele não encontrou nenhum sinal dessas mudanças acima das árvores.

—Talvez usem os dosséis como cobertura natural. Suas civilizações


provavelmente evoluíram sempre mantendo em mente a camuflagem, assim
não seriam presas fáceis de monstros voadores.

Apesar disso, ele notou duas coisas.

A primeira consistia de um lago em forma de lua crescente que dizia-se


ser a localização da capital élfica. Ele o notou com relativa rapidez devido ao
seu grande tamanho.

A outra era a estrada de terra que vinha desde a Teocracia Slane.


Foi feita artificialmente para limpar a floresta, facilitando o avanço dos
exércitos da Teocracia.

Parecia um fio de cabelo se comparada à imensa floresta, mas na verdade


deveria ter mais de 100 metros de largura. Ainz não seria capaz de percebê-la
a partir de tamanha altitude se não fosse minimamente dessa largura. Ele
achava que era muito trabalho para nada, mas possivelmente não havia outra
maneira de criar uma passagem segura nesse lugar. Considerando a
quantidade de tempo e trabalho despendidos no projeto, ficava tangível a
obsessão da Teocracia em acabar com o Reino Élfico.

Meio que não faz sentido. Por que isso é a única coisa que se destaca? A
Teocracia parou de avançar?

Se queriam destruir as aldeias élficas, não seria melhor derrubar as


árvores e depois criar incêndios florestais? A floresta não estava nem seca,
nem úmida. Destruir as aldeias élficas seria fácil como tirar doces de crianças,
desde que prestem atenção nos arredores quando começarem os incêndios.

Eles querem levar os Elfos como escravos e por isso não queimam tudo?
Se for, parece que a Teocracia não está tendo dificuldade alguma
então...Talvez haja muita diferença entre a força de suas tropas.

Ele não conseguiu ver nenhuma área queimada, mas não era prova de
que não havia, afinal, ele estava muito alto. Talvez Aura tivesse notado se
estivesse aqui.

Aquelas luzes ali devem ser o acampamento da vanguarda da


Teocracia...

Os humanos não podiam ver no escuro, então quanto maior o


acampamento, maior a probabilidade de ser brilhante o suficiente para ser
visto de longe.

Mas, por vários motivos — principalmente sua posição no céu — era


difícil ter uma boa idéia da distância entre o acampamento e a capital. Ele não
podia estimar quanto tempo levaria para o exército chegar à capital se
prosseguissem em linha reta enquanto limpavam a floresta.

Após concluir que tinha visto tudo o que precisava ver, Ainz ativou 「
Greater Teleportation」.

A partir do chão seria fácil notá-lo se estivesse no céu sem qualquer


cobertura. Havia muitos seres com visão aprimorada, então não poderia ser
descuidado mesmo de noite.
Claro, se fosse percebido, ele poderia escapar facilmente antes que
pudessem chegar até onde estava. Ainda assim, não havia mérito em deixar
que notassem sua presença. Então, Ainz não dissipou 「Perfect Unknowable
」.

Pela análise de Ainz a partir das informações que reunira, a maioria dos
seres vivos nesse mundo eram fracos.

Todavia, não podia afirmar que não havia ninguém igual a ele em
regiões onde sua informação era escassa. Era prudente prosseguir assumindo
que “talvez” existam.

Algum inimigo poderia preparar contramedidas se informações a seu


respeito vazassem e, com menos cartas na manga, a derrota ficaria cada vez
mais perto.

...Bem, agora é saber mais da capital dos Elfos.

A noite estava um breu. A floresta sombria não deixava a luz do luar


penetrar, mas não que fosse um empecilho para Ainz. Ele pousou usando 「
Fly」, o que permitia que flutuasse logo acima do solo. Isso foi para evitar
que pisasse na vegetação rasteira e avançasse em direção ao seu alvo sem
deixar pegadas.

Ele tinha uma boa noção de até que ponto o exército da Teocracia havia
avançado. Agora restava coletar informações na Capital Real dos Elfos.

A área diante dele se abriu gradualmente.

As moradias dos Elfos eram feitas de árvores baixas e pujantes chamadas


Árvores Élficas e a Capital Real, onde um grande número delas estava
reunida, parecia uma floresta. A construção era a mesma de qualquer outra
aldeia élfica, ficava especialmente impressionante se um grande número fosse
aglutinado. Talvez fosse porque parecia mais densa do que uma capital
humana, mas a sensação claustrofóbica foi forte o bastante para deixá-lo
acanhado. Ainz sentiu vontade de evitar o lugar porque o lembrava de seu
antigo mundo.

Não havia árvores ao redor da Capital Real, em vez disso, foram


derrubadas e convertidas em um grande campo gramado.

Não se tratava de um fenômeno natural, mas algo que os Elfos fizeram


para melhor defender seu território. Fôra feito para proporcionar melhor
visibilidade, dificultando a aproximação de inimigos que pudessem se
esgueirar.

Por outro lado, talvez possa ser considerado como a estratégia de


sobrevivência das Árvores Élficas.

Ele inicialmente não pensou nada de mais quando soube que os Elfos
cultivavam árvores com magia, mas poderia haver a possibilidade de que as
Árvores Élficas estivessem usando os Elfos para se multiplicarem.

Ele podia imaginar essas árvores como uma espécie de monstro. Era algo
que valia a pena investigar para sanar suas dúvidas.

Ainz tentou ver o que mais havia à frente enquanto pensava em como
investigar isso e se deveria ou não delegar a Mare.

Pode haver guardas à espreita, inspecionando as pastagens sem


cobertura. Deve ser complicado atravessar sem usar magia.

Dito isso, seria possível para um ranger do nível de Aura. Rangers de


alto nível tinham a capacidade de permanecer ocultos mesmo que não
houvesse cobertura. Se a diferença de nível entre as contrapartes fosse alta o
suficiente, era possível que o observador não notasse nada fora do comum,
mesmo se olhasse bem nos olhos do ranger. Ele tinha ouvido de Aura que as
capacidades furtivas de um ranger altamente qualificado eram boas o bastante
para fazer um terceiro pensar que não era nada além de uma pedra na estrada,
mas Ainz tinha suas dúvidas sobre a veracidade dessa afirmação. Em sua
viagem até aqui, ele fez experimentos ao ordenar que Aura se escondesse, e
constatou que era mais ou menos capaz de detectá-la desde que ela não usasse
nenhum item mágico ou habilidades especiais para aumentar suas aptidões.
Isso porque Aura tinha seus níveis divididos entre as profissões de Ranger e
Domador de Feras. Além do mais, Ainz era de nível máximo, então seus
atributos base eram bem elevados. Ainz sentiu arrependimento por não poder
experimentar pessoalmente o que Aura falou.

Deixando esse assunto de lado, Ainz não era furtivo o bastante para se
infiltrar na Capital Real sem usar magia. Então, ele lançou 「Perfect
Unknowable」 e ainda por cima se transformou em um Elfo com magia de
ilusão.

Embora fosse difícil anular seu 「Perfect Unknowable」 considerando a


força de uma pessoa comum desse mundo, ele ainda tinha que ter tanto
cuidado como quando estava voando. Foi por isso que ele chegou a criar uma
ilusão também.
Ele jamais se considerava o sabichão quando se tratava do conhecimento
sobre as habilidades e técnicas especiais desse Novo Mundo. Afinal, o
conhecimento de Ainz veio de seu tempo em YGGDRASIL e mesmo isso não
era perfeito.

Ele assumiu que poderia haver alguém com habilidades capazes de ver
através da invisibilidade, assim como ele mesmo fazia, durante todo o tempo.

Ainz também equipou um item mágico chamado Ghillie Cloak como


parte de sua build furtiva. Apesar de se cobrir com camadas de furtividade,
ele também preparou medidas para enganar o inimigo caso fosse descoberto.
Cuidado nunca era demais.

Hora de começar.

Depois que chegou no limite entre a floresta e a pastagem — não havia


mais cobertura adiante — Ainz observou a capital.

Ele podia ver Elfos fazendo rondas nas pontes que ligavam o círculo
externo de árvores que compunham a Capital Real.

Eram equivalentes às muralhas de uma cidade, sendo as pontes alusões


às referidas muralhas.

Ele não tinha certeza se não tinham meios para ver através de seu 「
Perfect Unknowable」 ou se simplesmente não estavam prestando atenção,
mas os soldados continuavam a agir normalmente. Bem, após tanto preparo
para ficar oculto, teria sido embaraçoso se conseguissem detectá-lo tão
rapidamente.

Após se certificar de que não estaria na linha de visão daqueles soldados,


Ainz pegou um pergaminho.

Ele deu início a ativação e— hesitou.

Ele tentou de novo e— hesitou.

Ele havia resolvido usar antes de vir, mas mesmo assim, ele não pôde
deixar de sentir que era um desperdício. Ele se via relutante em ativar o
pergaminho toda vez que pensava que deveria haver uma maneira melhor.

Ele não teria hesitado se estivesse em uma batalha com sua vida em
jogo, mas o fato de que não estava em uma situação tão desesperadora foi a
raiz de sua hesitação.
Depois de um tempo, Ainz conseguiu clarear a cabeça e finalmente
ativou o pergaminho. Ele teria hesitado novamente se pensasse em qualquer
coisa.

A magia ativada foi 「God’s Eye」.

Uma magia de 9º nível que criava um olho intangível e invisível. Esta foi
provavelmente a primeira vez que ele usou algo assim desde a época com os
Lizardmen.

Seu alcance era muito maior do que o 「Remote Viewing」 e também


podia atravessar por obstáculos como paredes.

Embora fosse uma excelente magia para espionagem, não era a melhor
que havia. E mesmo sendo invisível a olho nu, poderia ser facilmente
descoberta por magias de detecção de segundo nível. Além disso, mesmo
sendo intangível, se fosse destruída em um ataque, quem a lançasse receberia
o dano. Como era considerada pertencente à adivinhação, o oponente poderia
encontrar sua localização através de medidas anti-adivinhação ou mesmo
receberia um ataque se acionasse qualquer defesa automatizada. O principal
problema era que esse olho mágico não tinha nenhum HP e não usava o nível
ou as defesas de Ainz para escalonar suas capacidades.

Mesmo assim, como era mais vantajoso do que observar diretamente, às


vezes era valioso.

O olho flutuava a uma velocidade constante — tão lento que testou a


paciência de Ainz — e finalmente alcançou as muralhas da cidade.

Três guardas Elfos equipados com arcos estavam patrulhando como uma
equipe, mas ninguém notou a aproximação do 「God’s Eye」.

Parece que não há ninguém com habilidades anti-invisibilidade aqui,


mas... isso não garante que não há ninguém entre os Elfos que tenha
profissões com tais habilidades.

Não havia razão para ignorarem o olho se notassem-no, então sua


suposição estava correta. No entanto, ele não deveria ser descuidado porque
era sua primeira missão de coleta de informações em um lugar até então
desconhecido.

O 「God’s Eye」 de Ainz passou sob as passarelas e entrou na capital.


Ele imediatamente fez o olho recuar após entrar na cidade, e então o moveu
na frente dos três guardas de antes. Parecia que estavam conversando, mas
ainda não haviam notado o olho.
“Uuufa. Até agora tudo bem...”

Ainz deu um suspiro de alívio.

Assim como Nazarick, as bases de guildas tinham armadilhas que eram


ativadas no momento em que eram invadidas, enfraquecendo ou anulando
certos tipos de magia. Poderiam desativar 「Invisibility」, reduzir a força de
elementos sagrados, etc. Ainz verificou se a cidade élfica tinha tais
armadilhas implantadas.

Ele teria que verificar novamente em pontos cruciais da cidade, mas


parecia que as partes de acesso público não tinham armadilhas.

Ainz não queria gastar muito tempo sustentando 「Perfect Unknowable


」. Considerando a quantidade de mana que restaria, ele não teria muita
margem de manobra.

Ainz gradualmente fez o olho se mover para as partes mais profundas da


cidade. Ele queria encontrar os Elfos que residiam em árvores
correspondentes a lojas.

Se comparasse a uma cidade comum, as lojas deveriam estar agrupadas


em um local de fácil acesso. Considerando que também tinham que manter o
estoque à mão, não seria estranho se estivessem localizadas nas árvores
maiores.

Depois de um tempo, Ainz resmungou baixinho.

“—Não consigo encontrar!”

Essa cidade, feita de milhares de árvores, não passava de uma floresta


para o olho humano. Ele não conseguiu encontrar nada parecido com uma
placa porque era noite e também não havia placas de identificação nas
árvores. Eram apenas um amontoado de árvores sem nenhuma característica
individual que ele pudesse notar. Ele nem mesmo tinha certeza de que a
árvore que estava olhando não era a mesma árvore que viu minutos antes.

Se fosse uma cidade humana, haveria uma via com lojas em ambos os
lados. Também poderiam estar agrupadas em torno da praça central.

De relance ele não encontrou nada similar. Como sua experiência havia
se provado inútil, ele não teve escolha a não ser confiar em sua intuição.
Essa cidade não era nada acolhedora para um viajante. Seria difícil—
não, impossível encontrar o que procurava em meio a isso.

Dito isso, não era como se ele precisasse vasculhar tudo ainda hoje. Não
seria bom ter pressa, em vez disso, ir devagar e com segurança seria a melhor
jogada.

Mesmo assim, Ainz continuou sua busca por mais um tempo. Ele já
havia ativado o 「God’s Eye」, então poderia usá-lo até que o tempo se
esgotasse.

Após sua longa busca, tudo que restou foram suspiros.

—Não adianta perder tempo nisso se até os comerciantes estão


dormindo.

Era perda de tempo fazer algo assim sem um plano. Mesmo que fosse
mais arriscado, ele deveria voltar para procurar pela manhã. Ele
provavelmente obteria uma pista observando a maneira como as pessoas se
movimentavam. Ainz não tinha certeza de quanto tempo levaria para atingir
seu objetivo se não fizesse isso.

Ainz selecionou um lugar aleatório e enviou o「God’s Eye」 para


dentro. Elfos usavam as passarelas entre as árvores para se moverem pelas
entradas de suas casas que correspondiam ao primeiro ou segundo andar de
uma casa humana. Então ele decidiu se infiltrar no primeiro andar. Era o
mesmo princípio de um ladrão vendo o que tinha de valor nas gavetas.
Começar do segundo andar seria uma péssima escolha.

Depois que o 「God’s Eye」 atravessou a parede, ele o manobrou até


encontrar Elfos dormindo no terceiro andar.

Ele encontrou um pai, mãe e duas crianças dormindo. Parecia que era
uma casa de família.

Tinha ouvido falar, mas... é tão primitivo...

Os quatro estavam dormindo profundamente em grandes amontoados de


folhas coletadas no que supostamente era um quarto. Aldeias humanas
também usavam grama seca no lugar de um colchão, então poderia ser
considerado um equivalente cultural.

De acordo com as Elfas de Nazarick, era assim que um quarto normal


dos Elfos se parecia. Embora desse muito trabalho coletar uma grande
quantidade de folhas, elas podiam ser usadas por um longo tempo sem
problemas. Quando as indagou sobre serem picadas por insetos, responderam
que uma magia era lançada nas folhas para evitar isso.

As crianças — dois meninos — dormiam como anjinhos enquanto


respiravam calma e lentamente.

“Dormir, huh... como era mesmo?”

Muito tempo se passou desde que ganhara este corpo. Seu corpo não
tinha as três necessidades básicas e proporcionava insensibilidade à dor, muito
possivelmente por isso que ele conseguiu seguir firme em seu caminho até
agora, mas ainda havia um pingo de arrependimento em seu coração. Quando
viu suas feições solenes aproveitando um bom sono, ele se sentiu nostálgico e
com um pouco de inveja. Isso para não falar de quando via pratos deliciosos à
sua frente.

Fazer o que, né...

Ainz deu de ombros e ativou 「Greater Teleportation」. No instante


seguinte se deparou com uma grande cortina feita de videiras.

Não era estranho ver essas formações feitas de trepadeiras na floresta,


mas se alguém prestasse mais atenção, descobriria que ela estava escondendo
uma pequena cabana por detrás.

Esta era a base temporária do grupo nos últimos dias, a Green Secret
House, um abrigo criado por um item mágico.

Fenrir, que estava sentado ao lado da casa, levantou-se lentamente para


farejar os arredores, soltando um rosnado enquanto olhava na direção de
Ainz.

Mas, sua linha de visão estava um pouco desalinhada de onde Ainz


realmente estava.

Assim como seu experimento com Aura, mesmo Fenrir não conseguia
sentir completamente alguém sendo oculto pelo 「Perfect Unknowable」.
Por sinal, ele deveria ser elogiado pelo fato de ter conseguido sentir Ainz, que
mantinha uma magia tão poderosa de ocultação.

Ainz cancelou a magia.

Agora que podia vê-lo, Fenrir abaixou a cabeça com um olhar de


remorso.
Embora não pudesse falar, Fenrir era bastante inteligente. Seu ato de
abaixar a cabeça não foi devido a um instinto animal, ele estava claramente
transmitindo seu pedido de desculpas. Obviamente, Ainz não o culpava por
nada.

Do seu ponto de vista, ele era um intruso que tinha posto seus pés aqui.
Essa era a reação natural de um guarda protegendo seu mestre; o real
problema seria se ele não tivesse esboçado reação alguma.

Desta vez, ele levou apenas Fenrir em vez dos habituais Hanzos. Embora
Ainz tenha dito que levaria muitos subordinados de alto nível, ele não
permaneceu fiel às suas palavras devido a certas razões. Na situação atual,
onde não podia prever como seu plano de obter amigos para os gêmeos
funcionaria, ele preferiu não expor informações sobre suas tropas.

E o outro motivo.

Ele parou de permitir que os Guardiões saíssem sozinhos após o


incidente da lavagem cerebral de Shalltear.

Mas qual foi o resultado? Apesar de Nazarick ter começado a ser mais
ativa desde então, o inimigo não apareceu novamente. O único que mordeu a
isca foi o homem de armadura platina chamado Riku Agneía, que confrontou
Ainz — que na verdade era Pandora’s Actor — quando estava sozinho em
campo de batalha. Era como se o inimigo que fez lavagem cerebral em
Shalltear não existisse.

Assim concluiu que; como ele conseguiu fisgar Riku quando não havia
Hanzos por perto, talvez o inimigo tivesse uma maneira de detectar a presença
dos Hanzos.

Talvez seja alguma habilidade de um item de World-Class.

Ou talvez com algum tipo de Talento.

Portanto, ele estava realizando um experimento arriscado ao não trazer


os Hanzos.

Ele informou Albedo, mas mesmo Ainz podia ver que havia muitas
falhas em seu raciocínio. Aparentemente ele a convenceu, pois sorria o tempo
todo, o que o fez duvidar se ela não estava apenas fingindo. Talvez fosse bom
ter uma conversa depois que voltasse.

“—Bom garoto.”
Sentindo-se um pouco melancólico, Ainz deixou Fenrir com uma
saudação curta. Ele então colocou a mão na porta da Green Secret House —
tão camuflada que não se poderia encontrá-la sem saber que estava lá de
antemão — e empurrou um pouco.

A porta não se moveu.

Infelizmente, como o item mágico não tinha um buraco de fechadura


(embora pudesse ser aberto à força por algo como o Ebynogoi – O Destruidor
dos Sete Portões), era preciso pedir a alguém dentro para abrir se estivesse
trancado.

Ainz usou a aldrava. Era possível observar dentro da Green Secret House
se alguém tornasse a porta translúcida. Depois de alguns momentos, ele ouviu
a porta sendo destrancada.

E então abriu.

“Bem-vindo!”

“Se-seja um-muito... em casa...”

Aura respondeu cheia de energia como sempre. Mare seguiu lentamente


com suas boas-vindas, seus olhos estavam completamente sonolentos.

Ambos vestiam pijamas, Mare até mesmo usava um gorro de dormir.


Dada a hora, não havia nada de estranho.

“Sinto muito por deixar vocês me esperando, cheguei mais tarde do que
imaginei.”

Disse Ainz enquanto entrava.

O espaço interno estava bem iluminado por uma luz de tons quentes e
era muito maior do que se poderia esperar de sua aparência externa.

A porta dava direto na sala de estar e a cozinha e outros cômodos eram


vistos de lá. Havia também 4 portas que eram conectadas aos quartos
individuais.

“Que nada, sem problemas. Até pensei que ia demorar mais quando você
informou que poderia se atrasar”

“Foi o que eu pensei, mas... Melhor não conversarmos aqui. Vamos


sentar primeiro.”
Ele queria dizer à Aura que ela poderia ir dormir. Mas era melhor
compartilhar o que havia descoberto com eles, mesmo que fosse pouco. Ainz
não confiava muito em sua memória, então seria melhor resolver isso o mais
rápido possível.

Embora sentindo-se culpado por fazê-los concordar com seus motivos


egoístas, ele os convidou para a sala de estar para contar-lhes sobre o que viu.

Agora sentado nas cadeiras, ele encontrou Aura olhando atentamente em


contraste com Mare, que se recostou no assento com os olhos semicerrados.
Parecia que iria dormir a qualquer momento. Ainz se sentiu ainda mais
culpado quando os comparou com as crianças adormecidas de antes.

Não estou sendo empático com aqueles que precisam dormir porque eu
não preciso? Sou muito desnaturado...

“Quer ir dormir Mare? Eu não me importo, amanhã de manhã a Aura


pode repassar nossa conversa.”

“Que nada...”

Aura deu um tabefe na cabeça de Mare:

“Acorda aí, vai. Tá sendo rude com Ainz-sama, não percebeu?”

“Waahg, oh, B-bem-vindo de volta.”

Mare fez uma pequena reverência. Ainz queria rir, mas não podia.

“Esse menino, viu... Vou te falar...” Aura estava ficando com raiva da
atitude de Mare.

“Não é bom forçar alguém a ficar acordado. Isso pode afetar nossa
operaç—”

Lembrando-se de seus dias de YGGDRASIL, Ainz fechou a boca de


repente.

Antigamente, ele acreditava que isso não afetava seu trabalho de


escritório, mas realmente era verdade? Além disso, era diferente quando fazia
isso para se entreter versus quando era obrigado a agradar alguém.

Ainz— Suzuki Satoru costumava reclamar quando tinha que ficar até
tarde por causa de seu chefe.
Por outro lado, ele não deveria estar comparando crianças com adultos,
mas também não era certo comparar as habilidades físicas de uma criança
NPC de nível 100 com um adulto comum como Suzuki Satoru.

Os dois olharam para Mare, cujos olhos — semicerrados de sonolência


— pareciam estar olhando para eles.

A cabeça de Mare foi se abaixando aos poucos, fazendo-o entrar em


pânico e ficar de olhos arregalados. Ele então voltou a cabeça para sua
posição anterior.

Ele estava quase no limite.

“—Bem. Então vamos fazer assim. Mare, vá dormir para que isso não
afete o trabalho de amanhã. Não faz bem para a mente ficar acordado à força.
Como disse antes, Aura, você pode deixá-lo a par de nossa conversa
amanhã?”

Era para ela ter concordado imediatamente. Em vez disso, ela fez uma
expressão perplexa, provavelmente pensando que o comportamento de Mare
era muito desleixado para um Guardião. No entanto, foi apenas por um
momento. Ela fez uma profunda reverência, como se tivesse se convencido.

“...Tá bom. Vou levar o Mare pro quarto dele. Consegue ficar de pé?”

“Uh, uh?”

Ele sequer conseguia dar uma resposta legível para Aura, então ficar de
pé está fora de questão.

“—Hmmm. Pode deixar que eu o levo, Aura.”

Aura parecia querer dizer algo, mas Ainz a ignorou, levantou-se e


colocou Mare em seus braços.

Talvez fosse porque Mare tivesse de pijama e com quase nenhum


equipamento, mas ele parecia bastante leve. Não, crianças normais
provavelmente pesavam apenas isso.

Seria mais difícil se ele estivesse totalmente equipado, não que eu não
conseguiria carregar ele... É apenas que, aquela coisa é muito pesada...
talvez mais pesada do que todos os outros equipamentos dos Guardiões.
Já que ambas as mãos — ele poderia carregá-lo com uma mão se
quisesse — estavam ocupadas, ele deixou Aura ir à frente para abrir a porta.
Ele entrou no quarto de Mare e o deitou lentamente na cama.

Mare estava de olhos fechados e respirava devagar. Ele provavelmente


começou a dormir enquanto estava nos braços de Ainz.

Ainz saiu silenciosamente do quarto, tomando cuidado para não fazer


nenhum barulho. Aura seguiu o exemplo, saindo de forma ainda silenciosa,
como esperado de uma exímia arqueira.

Ambos voltaram para a sala e tomaram seus lugares novamente.

Imediatamente, Aura inclinou a cabeça e começou a falar:

“Senhor, espero que possa nos perdoar por descansarmos enquanto


trabalhava tanto. Peço perdão em nome do Mare. Entendo totalmente se
estiver zangado e desconfortável com a ética de trabalho dos Guardiões, mas
se fosse pra trabalhar de noite, com certeza iríamos equipar os itens para
remover a necessidade de dormir e assim não veria esse lado vergonhoso
nosso. Se tiver em dúvida do porquê não usamos hoje, é porque nossa força
nas batalhas seria reduzida um pouco, pois equipar o item significa deixar de
fora nosso equipamento focado em batalha. Por isso optamos por não usar,
pois a gente ficaria mais forte pra estar de guarda e te proteger, Ainz-sama...”

Aura explicou rapidamente. Ele podia sentir a ansiedade atacando


através de sua maneira incomum de falar.

“Não, tenha calma, não precisa se preocupar tanto. Afinal, estamos aqui
de férias. Não há nada de errado em dormir cedo. E quanto a você, Aura? Não
está com sono?”

“Ah, não, eu nunca ia agir dessa forma...”

“...Você está tensa, muito tensa. Veja bem, eu não estou sentindo raiva
alguma. Confesso que em vez disso, me sinto feliz por ter visto um lado
diferente do Mare, entende? Não precisa falar desse modo, vocês estão muito
tensos perto de mim. Fiquei até curioso sobre como os outros se comportam
no dia a dia. —Por exemplo, o que o Cocytus faz?”

“...O jeito normal dele não é muito diferente...”

Aura voltou à sua expressão normal.


“Interessante. Nesse caso, que tal eu dar uma espiada nele usando o 「
Perfect Unknowable」 enquanto ele está sozinho?”

Ainz sorriu sutilmente — embora seu rosto não mostrasse, sua voz
transmitia seus sentimentos — e Aura replicou com um sorriso semelhante ao
de uma criança brincalhona.

“Pode responder com sinceridade, tem certeza que não quer dormir?”

“Normalmente fico acordada por volta dessa hora, então tô bem.”

Segundo Aura, era comum ela ficar acordada até tarde da noite para
brincar com seus pets de hábitos noturnos. Essa “brincadeira” parecia ser
importante para os Domadores de Feras, já que os monstros acumulavam
estresse e não operariam com todo o potencial se negligenciassem o cuidado.
Dito isso, não era como se ela estivesse reduzindo suas horas de sono. Ela
apenas compensaria dormindo até tarde se passasse à noite acordada. O
mesmo modo que alguém que trabalhava no turno da noite faria.

A propósito, se algum dos gêmeos tivesse que sair de Nazarick, eles


equipariam o item mencionado para anular o sono e ficar alerta.

Hm— O que eu faço a respeito disso? É natural que aqueles com mais
responsabilidades trabalhem mais, mas as raças que precisam dormir não
deveriam dormir melhor? Especialmente as crianças, pois precisam de um
bom descanso para crescerem bem. Talvez eu devesse discutir isso com a
Albedo... já perdi tempo demais pensando!

Depois que respirou fundo, Ainz falou sobre o acampamento da


Teocracia que viu no Grande Mar de Árvores, embora ele não tenha
conseguido descobrir a força de suas tropas ou a que distância estavam da
capital élfica. O que importava era que seus exércitos ainda estavam
avançando. Entrar em conflito com a Teocracia não era parte da missão atual
de Ainz.

Depois, ele começou a explicar o tópico mais importante de sua


exploração da Capital Real dos Elfos.

Ele contou tudo sem esconder nada. Não adiantava ocultar quaisquer
tópicos. Ele só tinha que ser honesto quando algo era impossível. Além disso,
Aura era diferente daqueles dois. Talvez ela aceitasse suas palavras sem más
interpretações, talvez até sugerisse algo construtivo.

“Então é desse jeito...” Aura, que ouviu sua explicação, assentiu


levemente:
“Nesse caso, será melhor observar lá de dia, assim como você disse,
Ainz-sama.”

“Também acho. É o que planejo fazer, mas o que vocês dois vão fazer
nesse meio-tempo?”

“Sobre isso... acha melhor que eu... não vá junto, né?”

“Isso mesmo. Acho que há uma chance muito pequena de você ser
descoberta, mas ainda não posso afirmar com certeza. É melhor não vazar
quem realmente somos na situação atual.”

“Pode deixar que eu falo pro Mare amanhã sobre o que vamos fazer.
Mas, tava planejando ir junto com você, Ainz-sama. Que tal eu investigar os
arredores da cidade pra encontrar algum rastro deixado pelos Elfos?”

Ainz concordou com a cabeça.

Se as mercadorias estiverem sendo transportadas para a Capital Real,


deveriam deixar algum tipo de rastro para trás, por mais tênue que fosse. As
trilhas mais usadas não são diferentes das estradas.

Se conseguissem encontrá-las, também poderiam esperar encontrar


lugares frequentados pelos Elfos, como os assentamentos élficos do outro
lado da estrada.

Tudo isso se baseava na suposição de que os Elfos não usavam algo


como 「Forestwalker」, mas a idéia de Aura era muito boa. Não havia uma
única razão para se opor.

“Excelente sugestão. Creio que você não levaria nem um dia para
investigar toda a área. Trabalhe com o Mare para procurar quaisquer rastros
deixados por eles. Estou contando com vocês.”

“Beleza! Deixa comigo!!”

“Nesse caso, por volta do meio-dia de amanhã vou realizar outra busca
lá— na verdade é hoje, considerando o horário”

“Então eu vou ir de noite, acho que é mais fácil ser notada de dia.”

“Uhum, confio em suas escolhas. Bem, hora de irmos para a cama... Boa
noite, Aura.”
“Tá bom. Boa noite, Ainz-sama.”

Ainz se levantou junto com Aura.

Ele e Aura foram por caminhos diferentes, entrou no quarto e deitou na


cama. Claro, Ainz não precisava dormir por ser um undead. Então acabou
tirando um livro de seu inventário.

Era um dos livros sobre administração que ele lia frequentemente,


intitulado “Tornar-se Um Bom Líder”. Para ser franco, Ainz não achava que
ler esses livros o estivesse ajudando, mas ainda era melhor ler do que não o
ler.

Ainz começou a virar as páginas.

♦♦♦

Ainz ficou cabisbaixo por um tempo. Ele desperdiçou dois pergaminhos


preciosos na infiltração, um na primeira noite e outro no meio-dia do segundo
dia. Somente no meio-dia do terceiro dia Ainz finalmente conseguiu encontrar
informações importantes. Dito isto, as únicas coisas que encontrou foram as
árvores com lojas, mas isso lhe permitiu ter uma noção da planta da capital.

Para uns não era nada de mais, mas para ele era um grande passo. Ainz
estava tão feliz que sua supressão emocional foi desencadeada. Portanto, ele
resolveu não desperdiçar essa chance. Ainz fez questão de decorar o caminho
para a loja.

Ele optou por recuar. Mesmo que ainda houvesse algum tempo para a
magia continuar ativa. Embora se sentisse extremamente curioso, querendo
enviar o 「God’s Eye」 para a árvore colossal que era o castelo real, ele
conseguiu se controlar.

Nas culturas humanas, os reis nem sempre eram os seres mais fortes de
suas civilizações. Isso devia-se a dois motivos. Seria difícil prosperar se
seguissem apenas os mais fortes e não aqueles que tomassem boas decisões.
Era o método de sobrevivência de espécies fracas — que também eram
populosas — em um mundo cruel. A outra razão era que geralmente
ocupavam áreas mais seguras. Esse era o ponto em comum entre o Reino,
Império e Reino Sacro.

No entanto, para as raças que viviam em lugares de constante conflito,


era natural que o mais forte fosse o rei.
Desse ponto, o Rei Elfo provavelmente era uma pessoa forte. Nesse
caso, não fazia sentido se jogar em perigo apenas por serem precipitados.

Até o presente momento, Ainz havia coletado várias informações sobre o


mundo, mas ainda não havia encontrado um ser forte que pudesse se igualar a
ele, no que tangia a seres que não fossem monstros. Se não tivesse se
deparado com aquele misterioso guerreiro chamado Riku, ele teria sido
descuidado e desprezado o Rei Elfo. Mas Riku o deixou mais cauteloso do
que nunca.

Ele dispersou o olho e lançou 「Greater Teleportation」.

Ainz voltou para sua base e trocou as informações que encontrou com os
gêmeos — desta vez, Mare estava de olhos bem abertos —, que haviam
acabado de retornar.

Ele foi informado de que, embora só tivessem notado após o segundo dia
de investigação, onde perceberam que os Elfos estavam usando as árvores
para se locomoverem, eles finalmente encontraram várias trilhas. Cada uma
levaria um montante diferente de tempo para ser investigada, dependendo da
distância até o assentamento mais próximo nessas estradas.

Ainz expressou desconforto, indagando a possibilidade de serem vistos


pelos Elfos se decidissem investigar.

Em resposta, Aura disse que viajariam com Fenrir. Ela confiantemente


proclamou que enquanto estivessem dentro da floresta, não seriam
descobertos. Ela estava tão certa de sua opinião que fez Ainz concluir que
suas preocupações eram infundadas. Todavia, Ainz não deu seu aval. Em vez
disso, ele pediu que esperassem um pouco mais. Ele tinha certeza que
descobriria algo bom hoje.

E assim, na noite do terceiro dia.

Ainz aproximou-se da capital real novamente usando 「Perfect


Unknowable」. Naturalmente, ele se infiltrou em um local diferente, um que
não havia visitado até então. Ele não podia garantir que não deixara nenhum
rastro em suas incursões anteriores, um que algum excelente ranger Elfo
conseguisse notar.

Ele sempre se movia usando 「Fly」 para não deixar nenhuma pegada,
mas isso era apenas do ponto de vista de Ainz, um total leigo em furtividade e
espionagem. Ele não poderia afirmar com certeza que não quebrou nenhum
galho ou fez as folhas se curvarem em direções diferentes enquanto
bisbilhotava.
Falando sério, às vezes me pergunto o porquê eu sou neurótico assim…,
mas seria bem chatinho se as aldeias élficas da região começassem a pensar
que há alguma entidade misteriosa rodando o lugar. Principalmente se forem
capturados pela Teocracia e depois vazassem essa informação.

Era altamente improvável que essa “entidade misteriosa” fosse rastreada


até o Reino Feiticeiro, mas deixar a Teocracia com o pé-atrás não seria sábio.
Ele estava com medo de como a Teocracia reagiria. A reação inesperada deles
poderia atrapalhar seus planos.

...Não faria mal dar uma pausa e perguntar o que a Albedo e o


Demiurge pensam, mas se eu fizer isso agora, meus planos para Aura e Mare
fazerem amigos iriam por água abaixo.

Portanto, a única opção que restava para Ainz era ser o mais cuidadoso
possível.

Ainz pegou um pergaminho e rapidamente o ativou. Ele não hesitou


porque tinha certeza de que desta vez haveria resultados concretos.

“Ótimo!” Ainz sussurrou depois de se infiltrar na Árvore Élfica do alvo


com 「God’s Eye」.

Seu alvo estava dormindo, abarrotado em uma pilha de folhas. Era um


Elfo.

Os Elfos eram fundamentalmente uma raça esbelta, mais baixa em cerca


de 10 a 20% quando comparado aos humanos. Além disso, quase não tinham
pêlos no corpo e não tinham barbas. Como também pareciam joviais por um
longo período de suas vidas, era extremamente difícil estimar sua idade
apenas pela aparência. A maioria parecia muito mais jovem do que sua idade
real.

Ainz não tinha certeza de que esse Elfo detinha a informação que
buscava, mas havia uma razão para Ainz o escolher como seu alvo apesar
disso.

Pois esse Elfo morava sozinho.

Sequestrar uma família inteira causaria problemas, era muito mais fácil
se fosse apenas uma única pessoa.

Ele também tinha outro motivo, mas só poderia confirmar se estava certo
mais tarde.
Como memorizou a rota, Ainz se teletransportou diretamente com 「
Greater Teleportation」.

O Elfo não acordou com a intrusão de Ainz. Ele só poderia sentir Ainz se
fosse um ranger de alto nível.

Ainz então lançou a magia de 4º nível 「Charm Species」 nele.

A magia funcionou sem falhas graças a ele estar dormindo e a grande


diferença entre seus níveis.

“Acorde,” Falou Ainz.

Seu 「Perfect Unknowable」 foi dissipado no momento em que ele


lançou uma magia com a intenção de prejudicar — segundo às regras de
YGGDRASIL, se lançasse alguma magia que causasse resistência, sua magia
de ocultação seria cancelada. Ele continuou a acordá-lo enquanto balançava
os ombros suavemente com as mãos, tomando cuidado para não o machucar.

“...Nhhm?”

O Elfo resmungou como um idiota, mas fazia parte, pois havia acabado
de acordar.

“Não resista, entendeu?”

Ainz terminou com isso e ativou 「Greater Teleportation」 enquanto


segurava a mão do Elfo.

Essa magia permitia que alguém se teletransportasse com outras pessoas,


mas todas tinham que estar de acordo e não resistir ao teletransporte.
Funcionou aqui porque o status de “encantado” era considerado como acordo.
O status de “dominado” também deve funcionar da mesma forma, mas ele
não usou essa opção de dominação de alto nível pois estava em guarda contra
certas coisas.

Seu sequestro foi perfeitamente executado. Poderia até ser considerado


como um criminoso de primeira classe.

Ótimo. Assim como eu planejei!

Seu plano estava indo de vento em popa, é claro que estaria feliz. Ele
sorria abertamente em uma faceta óssea—
“—Hm!? M-mas que lugar é este? Onde é isso?”

Ao ver a mudança repentina em seu entorno e sentir o chão onde pisava,


o Elfo se levantou completamente acordado. Ele não parecia ainda estar
pensando que isso era um sonho. Ou talvez Elfos nem tivessem o conceito de
sonhos para começo de conversa.

“Fale baixo.”

“M-mesmo falando isso, eu...”

“Eu usei magia de teletransporte. Tenha calma. Não há ninguém aqui que
faria mal a você.”

“M-magia de teletransporte?”

O Elfo continuou em pânico, mas agora contido internamente. A única


razão pela qual parou foi porque o encantamento ainda estava em vigor.

“Bem, estamos em casa.”

Ainz abriu a porta entreaberta por completo e levou o Elfo para a Green
Secret House.

Aura e Mare observavam pelas frestas das portas ligeiramente abertas de


seus quartos.

Ele também pensou em deixar o cativo ver que haviam Elfos Negros, na
esperança de que isso o abrisse seu coração. Mas considerando os problemas
que poderia causar no futuro, ele achou melhor não.

Embora os Elfos Negros não fossem considerados inimigos segundo as


três Elfas, não significava que isso ainda era a norma vigente. Talvez agora os
Elfos Negros fossem considerados inimigos na Capital Real.

Claro, não seria um problema se Ainz sussurrasse “eles não são


inimigos”.

“Que lugar é este... Não me diga que é o Mundo da Árvore Divina...?”

Ainz não sabia nada sobre o Mundo da Árvore Divina, mas ele podia
adivinhar que provavelmente era algo de seus mitos e lendas. Ou, talvez—

Será algo a ver com algum jogador de YGGDRASIL? Preciso investigar,


mas... não quero perder tempo nisso. Depois eu investigo melhor.
Ainz o fez sentar em um sofá na sala e tirou um bloco de notas. Continha
uma lista de perguntas que precisava fazer. Ele não podia perder tempo. Se
algo falhasse no processo, ele teria que matar o sujeito. Embora fosse
extremamente improvável, alguém que desaparecesse repentinamente da
Capital Real ainda poderia causar problemas futuros.

“Diga ao seu amigão aqui o que você sabe, de forma bem resumida de
preferência.”

Ainz continuou sem esperar por sua resposta:

“Existe a possibilidade de você morrer se alguém usar magia ou outros


meios para obter informações suas?”

“Huh? Nunca ouvi falar de algo assim em mim, por quê?”

O Elfo parecia não ter a menor idéia do que Ainz estava falando, mas
havia a possibilidade de que ele simplesmente não soubesse, mesmo que
houvesse tal armadilha.

Se bem me lembro, foram necessárias três perguntas antes de ser


ativada daquela vez...

Ainz levou esses cenários em consideração enquanto preparava as


perguntas, então ele só precisava seguir à risca a ordem decrescente de
questões.

“Você sabe a localização de alguma aldeia de Elfos Negros?”

“...Não sei o lugar exato, mas sei a região que fica na grande floresta,”

Parecia que era mais ao sul da Capital Real. Ele entrou em mais detalhes,
dizendo que estava em um lugar chamado Árvores Trigêmeas, onde as árvores
eram enormes. Mas, Ainz não conseguia entender o motivo dele não conhecer
bem o lugar.

Ele teria que contar com Aura, que estava apenas de ouvinte.

“Próxima pergunta...”

Quando estava montando o questionário, os gêmeos ficaram surpresos


que ele não incluiu esta pergunta. Agora pensando com calma, parecia
importante, então ele proferiu a terceira pergunta.
“—Diga-me o que você sabe sobre a Teocracia.”

“A Teocracia... ahhh, aquele país horrível! Eles nos atacam sem motivo
nenhum! Um país sem honra, regido por idiotas, um bando de miseráveis ​que
sequestram nosso povo às centenas."

Assim começou o desabafo do sujeito em relação à Teocracia, que


continuou por um tempo até que Ainz o deteve.

Mas parecia que o cativo, que era apenas um plebeu, não sabia o quão
longe a Teocracia havia avançado. Ele nem tinha certeza se os Elfos estavam
ganhando ou perdendo. No entanto, cada vez mais notando o patrulhamento
intenso, a opinião comum entre os Elfos era que a situação não era boa.

Três perguntas foram feitas, mas não havia indicação de que nenhuma
armadilha tivesse sido ativada. Como pensava, aquela vez foi uma exceção.
Nesse caso, ele poderia perguntar ao Elfo tudo o que queria ouvir, porém sem
perder muito tempo.

“Como são as relações entre os Elfos e os Elfos Negros? São


amigáveis?”

“Sim... eu acho?”

Antes que Ainz pudesse perguntar o motivo da pequena pausa, o Elfo


começou a falar novamente:

“Eu não odeio eles, e quem eu conheço também não. Para nós, eles são
como parentes distantes. Mas assim, isso é apenas o modo como eu e os que
conheço são. Não sei o que eles pensam de nós, você sabe? É bem raro ver
um, então não sei o que pensam de nós.”

“Você sabe alguma coisa sobre o Reino Feiticeiro?”

“Não, o que é?”

Resposta instantânea. Bem, ele esperava por algo assim, então não ficou
surpreso. De todo modo, Ainz determinou que nada nas informações
adquiridas até agora constituía um obstáculo para seu plano.

“Isso é tudo que eu queria perguntar— muito obrigado.”

“Sem problemas. Somos amigos, né?”


Ainz involuntariamente sorriu sem graça com a resposta. Ele estava
planejando fazer amigos para os outros, mas quando a palavra foi apontada
para ele, soou vazia. Para Ainz, apenas seus companheiros de guilda poderiam
ser chamados de amigos.

“Claro que sim.”

Mare espiou com a cabeça para fora da porta atrás do Elfo quando Ainz
lhe enviou um sinal. Ainz continuou a falar com o cara para desviar sua
atenção:

“Eu também queria saber mais a respeito da cultura élfica, mas estamos
sem tempo...”

Ele viu os olhos do Elfo ficarem sonolentos e então desmaiou de lado


sobre o sofá.

O Elfo estava respirando calmamente, um sinal de sono profundo. Essa


mudança repentina de eventos foi causada por Mare usando 「Sandman's
Sand」.

Ainz fez Aura, que estava logo atrás Mare, confirmar que o Elfo estava
dormindo.

“...Aura. Você acha que podemos achar a aldeia dos Elfos Negros usando
o que esse sujeito disse?”

“Provavelmente sim. Mas talvez eu tenha que passar um pente fino


quando a gente chegar perto, pra encontrar a localização exata”

Isso já estava de bom tamanho para Ainz. Em seguida ele lançou 「


Control Amnesia」 no Elfo.

Esta foi a principal razão pela qual ele o sequestrou — selecionou — um


Elfo que morasse sozinho.

Como era difícil estimar a idade de um Elfo, ele não podia ter certeza de
que acharia um adulto com algum conhecimento útil, mesmo que sequestrasse
um de aparência madura. Havia uma chance de o Elfo acabar sendo uma
pessoa muito jovem que nunca saiu da Capital Real.

Por outro lado, ele teria mais certeza se sequestrasse um Elfo que tivesse
filhos, mas isso criaria diversas pontas soltas para lidar posteriormente.
Se matasse todos para evitar o incômodo, estaria sinalizando para toda a
cidade que uma família inteira tinha desaparecido sem deixar vestígios. Isso
certamente criaria problemas para eles. E dificilmente poderia criar um
cenário que desse a entender que tinha escapado durante a noite devido a
dívidas ou algo assim.

E não havia como sua mana durar o suficiente para lançar 「Control
Amnesia」 em uma família inteira.

Portanto, ele selecionou um Elfo que morasse sozinho.

Ainz extraiu as memórias do Elfo em um único movimento. A


manipulação precisa das memórias, certificando-se de que os detalhes
permanecessem consistentes, era difícil. No entanto, era bem mais fácil
removê-las em lotes sem se importar muito com os detalhes.

Além disso, as memórias que ele precisava apagar eram recentes. Esta
foi a razão pela qual ele tentou levar o menor tempo possível para suas
perguntas. Se não precisasse apagar as memórias do Elfo com 「Control
Amnesia」, Ainz teria passado o máximo de tempo possível — talvez até a
magia terminar e além, e até usando「Charm Species」mais vezes — para
questioná-lo.

Como controlou o número de perguntas e concluiu o questionário em


pouco tempo, ele facilmente conseguiu apagar as memórias até o momento
em que foi dormir. Não, ele até acabou apagando um pouco mais, até
momentos antes de o Elfo ir para a cama.

Foi o meio mais econômico que encontrou para limpar memórias


gastando pouco MP. Olhando o resultado final, seu MP restante, mesmo que
um pouco baixo, parecia que teria valido cada decisão que tomou.

Por fim, foi o melhor que pôde fazer, então mesmo que o Elfo acordasse
com algumas dúvidas, ele apenas tinha que ser paciente e esperar a mente do
Elfo preencher os buracos.

Mesmo com um valor baixo de MP, ainda tinha o bastante para concluir
as tarefas restantes.

“Vou indo então. Aura, Mare, podem me dar uma ajudinha como
planejamos?”

“Tá! Conte comigo!”

“Ah, S-sim. Eu farei o meu melhor.”


Aura e Mare seguraram os membros do Elfo, balançando-o enquanto
carregavam-no com Ainz liderando o caminho. Considerando quanto eram
fortes, apenas um deles daria conta de carregar, mas se sem querer deixassem
o Elfo bater em algo, seria considerado um dano, ele poderia acordar. Então
Ainz teria que lançar 「Control Amnesia」 novamente e ele não tinha certeza
de que seu MP restante era suficiente para isso.

Obviamente—

—Eu fiz um plano diferente para esse caso, então não deve ser um
problema.

Ainz primeiro saiu da Green Secret House sozinho e ativou 「Perfect


Unknowable」. Ele abriu um 「Gate」 logo depois.

Naturalmente, do outro lado do portal estava a casa desse Elfo.

Ainz adentrou o portal sozinho e entrou no quarto do Elfo. Ele


imediatamente começou a olhar ao redor enquanto tentava ouvir qualquer
som.

...Uuuufa. É seguro.

Aparentemente não havia ninguém por perto para se alarmar com o


repentino 「Gate」. Ainda assim, por um momento Ainz continuou a ouvir
atentamente, observando a situação.

...Parece que... está tudo nos conformes.

Um ranger no nível de Aura poderia permanecer em completo silêncio,


mas não era como se fizessem isso o tempo todo só porque conseguiam. Teria
um toque de humor negro se existisse um ranger veterano que, nesse pouco
tempo, conseguira perceber que algo estava errado e ficasse de prontidão
nessa casa. Assim, Ainz só podia supor que o local estava seguro.

Ainz dissipou 「Perfect Unknowable」 e enfiou a cabeça no portal para


fins de enviar um sinal para os gêmeos. Eles trouxeram o homem, balançando
pelos membros, através da passagem sombria.

Os três executaram seu plano em silêncio.

Primeiramente, Aura e Mare colocaram cuidadosamente o homem em


sua cama de folhas. Seria um erro crasso se ele recebesse dano justo agora e
acabasse acordando.
「Sandman's Sand」 causava um sono mais profundo do que 「Sleep
」. Apenas um leve tremor acordaria alguém encantado por 「Sleep」, mas
apenas um dano acordaria alguém que fosse alvo de 「Sandman's Sand」.

Se o deixassem como estava e ninguém viesse acordá-lo ou provocasse


dano, ele morreria de emaciação. Isso era algo que Ainz não queria, ainda
mais após passar por tanto escrutínio para não alertar ninguém de nada fora
do comum.

Eles começaram a se preparar para acordar o sujeito depois de deixá-lo


na cama. Ainz olhou ao redor, tentando encontrar o objeto que viu quando
entrou.

Era uma estranha escultura de madeira (pelo menos era assim que a via)
com uma barriga saliente que lembrava o cruzamento entre uma toupeira e um
sapo. Eles não encontraram nenhum animal assim nos poucos dias que
passaram na floresta. Talvez fosse uma fera mítica vinda de lendas élficas.
Ainz pegou a escultura em suas mãos.

Como eu pensei, é de madeira. Mas... é mais pesado do que esperava.


Nada mal... só espero que ele não morra por isso... bem, não há nada que eu
possa fazer se acontecer.

Era muito improvável que suspeitassem do envolvimento de Ainz,


mesmo que conduzissem uma investigação de assassinato.

Ao ver Ainz com a escultura, os gêmeos carregaram o Elfo sob a


prateleira onde estava posicionada.

Depois que Ainz deu-lhes um aceno de cabeça, os dois entraram


primeiro no 「Gate」. Ainz os seguiu e parou bem na frente do portal.

Ele então arremessou a estranha escultura no ar.

Isso era o melhor que podia fazer para não causar uma morte suspeita
que fosse ligada a ele posteriormente.

Ainz imediatamente entrou no 「Gate」 sem esperar que a escultura o


atingisse e dissipou o 「Gate」 sem pensar duas vezes.

“Bom. Só vou ver como ele está. Vocês dois me esperem aqui.”

“Tá! Entendido! Não vai demorar muito né? Boa sorte, Ainz-sama!”
“Ah, e-eu acho que o-o senhor vai ficar bem, mas... p-por favor tome
cuidado porque eu acho que sua mana pode estar baixa, Ainz-sama.”

Recebendo o incentivo dos gêmeos, Ainz usou 「Perfect Unknowable」


novamente e lançou 「Greater Teleportation」 para aparecer no quarto do
Elfo.

“—Caralho! Isso doeu! Por que essa coisa caiu sozinha!? E por que eu
vim dormir aqui de baixo!? Eu bebi ontem... eu lembro que não... Mas que
merda, tá doendo...”

Ainz olhou para o Elfo bem acordado, que agora descontava sua raiva na
prateleira. Ele riu do Elfo, que cada vez mais resmungava da dor.

Deu certinho! Um crime perfeito!

O Elfo não parecia estar atuando e também não parecia suspeitar de


nada— ou melhor, parecia estar em dúvidas como a escultura caíra, mas
provavelmente não achou que um desconhecido entrou em seu quarto e jogou
em cima dele.

“...Será quê...”

Ainz parou antes que pudesse ativar 「Greater Teleportation」 ao ouvir


a suspeita na voz do elfo.

Ele notou alguma coisa? Talvez não relacionada a nós, mas que houve
um intruso? Será que há algum equipamento de segurança aqui — um item
mágico, afinal é uma loja? Eu jurava que não tinha nenhum...

“...Tsungoga-sama está tentando me dizer alguma coisa?”

Tsungoga-sama? Eu não me lembro de nada assim em YGGDRASIL...

“Tsungoga-sama. Tsungoga-sama. Por favor, me dê um sinal do que está


tentando dizer.”

O Elfo se ajoelhou com a cabeça encostada no chão e a escultura em


suas mãos erguidas. A pose correta que um devoto altamente religioso
tomaria.

...Então é apenas a religião nativa? E porque ele está falando sozinho,


hein? Será que suspeita que tenha alguém além dele? Ou está apenas rezando
para esse deus chamado Tsungoga?
O Elfo parecia ser uma pessoa diferente daquela que sequestraram. Ainz
hesitou por um momento sobre se deveria ou não sequestrar o Elfo novamente
e matá-lo, mas acabou decidindo não o fazer. Era mais provável que estivesse
apenas orando, mas ainda era melhor estar em guarda. Ainz queria deixar
algum dispositivo para monitorá-lo, se possível, mas isso seria difícil até
mesmo para Ainz. Não havia nenhuma magia conveniente em seu repertório.
O máximo que podia fazer era usar magia para espioná-lo de vez em quando.

Ainz estalou a língua — embora não tivesse uma — e voltou para a


Green Secret House usando 「Greater Teleportation」.

Os gêmeos, que estavam esperando por ele, sorriram quando Ainz


dissipou 「Perfect Unknowable」 e fez um joinha, indicando que estava tudo
bem. Honestamente, ele ficou um pouco desconfortável com o
comportamento do Elfo, mas como não podia fazer nada a respeito, optou por
não contar aos gêmeos para evitar desconforto.

“Tudo certo, pessoal. Agradeço toda a cooperação que fizeram até agora.
Com isso, o trabalho de hoje está feito.”

Os gêmeos pareciam confusos com o misancene exagerado, mas logo


depois sorriram e Ainz finalizou:

“Como está ficando tarde, espero que durmam cedo para não ficarem
sonolentos amanhã.”

Os gêmeos responderam com um enérgico “Sim!”.

“Com isso, mesmo que ainda não seja tarde da noite, vou dizer quando
partiremos. Por sinal, eu não me importo que acordem quando quiser, mas não
durmam até meio-dia, me ouviram? Vamos combinar o seguinte; se
acordarem antes das nove horas, eu lhes trarei café da manhã diretamente de
Nazarick.”

Eles responderam com um alto “SIM!”. Enquanto Aura cutucava Mare


levemente com o cotovelo, não parecia que ela o estava intimidando.

“Enfim, isso é tudo — obrigado por terem trabalhado com tanto afinco!”

Ao ouvir as palavras de Ainz, os dois também replicaram com o mesmo


“Obrigado por ter trabalhado com tanto afinco!”.

“Bem, isso é tudo pessoal!”


Parte 3
Eles partiram em direção à aldeia dos Elfos Negros.

Confiando nos dizeres do Elfo, eles avançavam pela floresta montando


no dorso de Fenrir. Se pudessem ter descoberto o local através de exploração
aérea, poderiam ter ido sem fazer paradas, mas infelizmente, não puderam
encontrar nada mesmo com os dons de Aura.

Era difícil respirar enquanto eles corriam pela floresta — era como se
Ainz estivesse sendo cercado por todos os lados pelo ar da vegetação
verdejante. Esse aroma peculiar e extremamente pujante de uma floresta fez
sua cavidade nasal coçar. Pode ter sido apenas sua imaginação, mas ele sentia
que o ar era diferente do encontrado na Grande Floresta de Tob. Partindo do
princípio que não fosse imaginação, o ar da região continha diversas nuances.
Embora esse mundo possa se assemelhar à YGGDRASIL, cada lugar tinha
uma peculiaridade única.

Enquanto pensava sem pressa a respeito, o desejo de querer viajar por


toda a vastidão desse Novo Mundo colocou um pouco de emoção em seu
coração.

Se um Zé Ninguém corresse pelo Grande Mar de Árvores com suas


trepadeiras suspensas, árvores emaranhadas e mais obstáculos sem fim,
dificilmente conseguiria seguir em linha reta e, antes que percebesse, já
estaria seguindo uma direção completamente oposta.

Segundo o que ouviram do sujeito, a distância até a aldeia dos Elfos


Negros era de cerca de uma semana de viagem.

Mesmo os Elfos estando adaptados às florestas, se pudessem progredir


15 quilômetros por dia dentro desse tumulto arbóreo, já teriam feito um ótimo
trabalho. Com base nisso, as aldeias seriam separadas por cerca de 100
quilômetros. Ainz e companhia cobriram essa distância em pouco mais de
uma hora. Se não precisassem verificar os arredores, teriam chegado ainda
mais rápido.

Isso apenas demonstrava o quão incrível Fenrir era. A habilidade 「


Forestwalker」 de Fenrir, foi particularmente útil, pois todas as árvores,
matagais e empecilhos eram desviados como se estivessem contornando
Fenrir; assim, eles foram capazes de viajar praticamente em linha reta.
Independentemente do quão bom Fenrir fosse, eles não teriam chegado tão
longe em tão pouco tempo se não fosse por 「Forestwalker」.
Mas—

“Deve ser em algum lugar por aqui...”

Aura, que se sentava à frente de Ainz, inclinou a cabeça um tanto


perdida.

Como as aldeias élficas eram erigidas nas árvores, era visualmente difícil
encontrá-las. Mas isso era de se esperar, foi justamente por isso que sua
civilização se desenvolveu para usar árvores como casas. A Capital Real dos
Elfos, com todas as árvores ao redor cortadas, era a exceção.

Dito isso, apenas um mestre da camuflagem conseguiria esconder algo


de Aura — uma ranger altamente qualificada. Era muito difícil imaginar que
ela deixaria algo passar despercebido, então apenas concluíram que ainda não
haviam chegado em seu destino.

“Contanto que não percamos a noção da distância até o nosso alvo, não
há problema. O problema seria se chegássemos perto demais.”

Ainz tocou a máscara que tinha equipado com a mão:

“Almejo encontrá-los antes que nos encontrem. Quero coletar


informações a respeito deles, então vamos nos esconder em algum lugar onde
não seremos descobertos.”

O que ele mais temia era que tivessem chegado a um local


completamente errado. Ainda assim, mesmo temendo, não o preocupava.

Se alguém lhe dissesse para ir a um lugar sem um único ponto de


referência (como o Mar de Árvores), Ainz certamente não seria capaz de ir.
As instruções que recebera do Elfo foram: “Quando você tiver andado uns
dois mil e quinhentos passos, vai ver uma pedra enorme, de lá vire na direção
onde três árvores estão alinhadas, aí avance cerca de três mil passos”, e
assim por diante. Na ocasião, Ainz pensou que sua explicação era tudo,
menos clara.

Aura não compartilhava desse pensamento.

Com certeza houveram ocasiões em que mesmo Aura ficou confusa e


teve que procurar na área ao redor, mas ela ainda estava confiante e os guiou
até aqui.

Será que todos os rangers sempre foram tão incríveis, ou é apenas a


Aura que é...?
Quando visitou o Reino Dwarf, Ainz não sentiu que era o caso, mas essa
viagem o levou a concluir que teria sido impossível chegar tão longe sem um
ranger para guiá-lo.

Mesmo YGGDRASIL tinha florestas tão densas, mas dada às proporções


de realidade e fantasia, concluía-se que era um ambiente ajustado para os
jogadores. Ele não achava que uma selva real seria tão formidável.

Mas o fato era que vivenciar algo dessa magnitude trazia-lhe um pouco
de emoção.

São nessas regiões arcaicas que... as coisas podem acontecer... eu posso


entender totalmente esse desejo pelo desconhecido... Os World Searchers,
huh...

Exploradores eram aqueles que perseguiam esse anseio. A síntese de um


verdadeiro aventureiro que Ainz procurava.

Largar essa vida e sair por aí explorando o mundo, heh...

Se vendo considerar novamente tais anseios, Ainz balançou a cabeça.


Não havia como ele fazer uma coisa dessas. Uma atitude que nunca seria
permitida para Ainz Ooal Gown, o Supremo Governante da Grande Tumba de
Nazarick.

Porém, talvez lhe fosse permitido, nem que seja apenas uma fração. De
forma que não abandonasse Nazarick, mas sim que tirasse férias como essas.

Qual é, isso não quer sair da minha cabeça. Não posso ficar me
enganando também, não digo que não tenha a ver com todo esse fardo que eu
carrego, dá vontade de largar tudo e fugir... O que me resta é ficar andando
em círculos sem evoluir? Sou incapaz de evoluir porque sou um undead? Ou
porque faz parte do meu jeito? Pensar nisso me deixa até deprimido... Haaah.
Bem, não adianta ficar com esses pensamentos infelizes. Enfim... desta vez é
com a Aura e Mare, mas que tal trazer o Cocytus e Demiurge se houver uma
próxima vez?... Não dou uma volta com eles desde aquela vez...

Ainz lembrou quando adquiriram o Navio Fantasma nas Planícies Katze.

Chega! Melhor parar com essa negatividade toda e me focar em coisas


boas. Se eu fosse fazer algo assim de novo, seria muito difícil sem um ranger,
mas tentar superar esse desafio usando apenas sabedoria e discernimento
pode ser bem divertido.
Foi precisamente porque Aura estava presente que foram capazes de
chegar tão longe e de forma tão rápida, o único ponto negativo foi a sensação
que Ainz sentia por não ter feito nada.

Claro, Ainz poderia simplesmente dizer que ele mesmo lidaria com a
situação. Se o fizesse, Aura seria atenciosa e deixaria tudo em suas mãos. Se
cometesse um erro, ela certamente pensaria em algo para ajudá-lo enquanto
tomava cuidado para não o ofender. Porém—

—Credo, tudo menos isso. Já basta a sensação de estar completamente


perdido ao administrar o Reino Feiticeiro!

Portanto, a melhor maneira de conseguir o que queria era ter uma


aventura sem Aura. Dessa forma, todos poderiam queimar os miolos e se
divertirem. Todavia, Ainz só pensava dessa maneira porque tinha confiança
de que poderia sobreviver durante uma aventura.

Por exemplo, se ele estivesse em algum lugar desconhecido e perdesse o


rumo, ele poderia retornar de qualquer lugar usando 「Teleport」.

Outro exemplo seria, mesmo que alguma besta mágica desconhecida


pulasse de um matagal para cima dele, ele seria capaz de lidar de alguma
forma e, na pior das hipóteses, ainda poderia fugir de volta para Nazarick.

Enviar aventureiros para o desconhecido. Isso por si só não é um erro.


Até o Ainzach achou interessante. Mas não posso considerar um aventureiro
no mesmo padrão que eu. Só de olhar a Aura desbravando esse lugar, posso
sentir a necessidade de treinar adequadamente os aventureiros.

Não era como se Ainz quisesse que os aventureiros morressem.

Mesmo realizando treinamento na Grande Floresta de Tob, mas...

Os perigos encontrados na Grande Floresta de Tob, que estava sob o


controle completo de Nazarick, eram muito diferentes dos daqui. Pode não ser
uma má idéia treinar os aventureiros na Grande Floresta de Tob e realizar o
exame final aqui, mas os pormenores exigiam discussões com Mare.

“Uh, hm, Ainz-sama?”

“Oi? Ah, aconteceu algo, Aura? Fiquei distraído pensando umas coisas.
O que quer falar?”

“Ah, bem, o que a gente faz agora?”


Ainz olhou para o céu. Ele não podia vê-lo através das milhões de folhas.
O sol poente não era mais visível para saberem que horas eram.

“Hm. O mesmo que fizemos antes, montaremos um acampamento que


fique oculto dos Elfos Negros, ou qualquer outra vida inteligente, e
passaremos a noite lá.”

“Beleza! Ah, pode me dar um tempinho pra eu conferir uma coisa?”

“Claro,” Ainz respondeu e Aura agilmente pulou de Fenrir. No entanto,


assim que Aura parecia que estava prestes a sair correndo, Ainz rapidamente a
chamou de volta.

“Um momento, Aura. Leve o Fenrir junto com você. Não se preocupe
em nos deixar a pé. Vou invocar um monstro como substituto do Fenrir. Tudo
bem, Mare?”

“S-sim, Ainz-sama.”

Mare, que estava atrás de Ainz, respondeu apreensivo. A ordem da


montaria era: Aura na frente, seguido por Ainz e Mare respectivamente.

Por poderem sentir qualquer um que se aproximasse graças às incríveis


habilidades de Fenrir, Ainz e Mare estavam extremamente gratos por ele estar
lá, já que os mesmos não conseguiam fazê-lo. No entanto, não poderiam
privar Aura de tamanha vantagem.

Seria uma coisa se ela tivesse magias de invocação como Ainz, mas
Aura não tinha. Ele estava preocupado em deixá-la vagar pelo desconhecido
sem proteção. Usar um item mágico como substituto era uma maneira de lidar
com isso, mas ela perderia tempo se fosse invocar um monstro. Quando levou
em consideração limites de tempo e similares, Ainz concluiu que não seria
sábio que fosse sozinha.

Acho que estou me preocupando demais, mas a Aura vai terminar o que
tem que fazer mais rápido se levar o Fenrir junto.

Aura mostrou uma atitude como se fosse dizer algo, mas no fim
respondeu: “Tá bom”. E então, Ainz e Mare desmontaram, ela montou em
Fenrir e partiu. A silhueta de uma menina montada em seu lobo
imediatamente desapareceu nas árvores da floresta.

“Vejamos, Mare. Vamos nos esconder nesta área, então temos que ser
discretos. Se alguém nos encontrar aqui, todo o trabalho da Aura será em
vão.”
“S-sim. Uh, hm, então, vamos usar a Green Secret House?”

“Boa sugestão, mas antes disso precisamos tirar uma pedra do sapato.”

Se Ainz estivesse sozinho, 「Perfect Unknowable」 seria a solução mais


eficaz, mas ele não poderia lançar essa magia em outros além de si mesmo.
Além disso, a magia não estava no repertório de Mare, então era necessário
que tomassem medidas completamente diferentes, e foi por isso que a
invocação de monstros foi mencionada anteriormente.

Ainz tirou uma pequena estatueta de seu inventário — era um item


mágico.

Statue of the Magical Beast: Cerberus.

Um item mágico do mesmo criador da Statue of Animal: Warhorse que


usara no passado. Os músculos na estatueta foram detalhadamente esculpidos,
era uma magnífica obra de arte que passava a sensação de movimento.

Quando Ainz a ativou, instantaneamente dilatou e a fera mágica surgiu.

O que apareceu foi, obviamente, Cerberus.

Ele podia morder com suas três cabeças de cachorro que lembravam a de
um leão, arranhar com suas garras afiadas e picar com sua cauda venenosa
que parecia uma serpente. Todos os seus ataques também podiam ser
imbuídos de dano de ígneo e possuía resistência completa a fogo e veneno.
Era uma fera de grande porte e de alto nível com habilidades de combate
consideráveis.

Essa força pode ser melhor compreendida se considerá-la em termos de


monstros que podem ser invocados através de 「Summon Monster 10th」.

Vale ressaltar que, se fosse lutar contra um jogador do mesmo nível de


Ainz, a criatura não representaria um grande estorvo. Com isso dito, era o
melhor que tinham em mãos.

O papel de um monstro invocado era atacar o ponto fraco de um inimigo,


acionar armadilhas, aumentar o número de jogadas disponíveis ou
simplesmente servir como escudo. Eles não foram feitos para derrotar outros
jogadores por conta própria.
Certamente, se Cerberus fosse aprimorado pelo uso de uma habilidade,
ele seria capaz de sair-se melhor nas lutas. Por exemplo, alguns dos undeads
que Ainz invocou estavam usando Geta of Strength.

Ainda assim, se comparado com jogadores com profissões marciais na


mesma faixa de nível, independentemente se tivessem upado níveis em
profissões favoráveis ou não para lidarem com feras, contando que não sejam
incompatíveis e nem que o jogador usasse uma build sem sentido. Se lutassem
apenas um contra um, um jogador raramente perderia.

A primeira razão pela qual Ainz escolheu Cerberus e não um Eyeball


Corpse ou outro undead foi porque ele julgou que as habilidades sensoriais de
um monstro do tipo fera mágica seriam maiores.

A segunda foi porque concluiu que um monstro com olfato e audição


excepcionais se destacaria em seu papel como detector no Mar de Árvores,
então ter uma boa visão não adiantaria muito.

Cerberus pode perder para Fenrir em termos de níveis, mas ele ainda
tinha três cabeças. Não havia dúvida de que seu olfato era três vezes melhor
— provavelmente.

“Uau.”

Disse Mare surpreso ao ver essa fera mágica pela primeira vez.
Definitivamente não era porque o achava forte.

“Ouça, Cerberus. Quando farejar alguém se aproximando que não seja


um de nós, você nos informará, entendido?”

“Grr,” as cabeças de Cerberus rosnaram. Foi um modo de rosnar que


transmitira sua ânsia e confiança. Ainz, mesmerizado com aquele sentimento
de “Deixe conosco”, mostrou sua expressão orgulhosa para Mare — embora
ele provavelmente não pudesse dizer.

“Vamos fazer um teste, a quantas centenas de metros consegue discernir


um cheiro?”

Cerberus parou de se mover imediatamente.

“O que há de errado?”

“Deu merda.” “Hein?” “Calma pessoal.” era o que suas cabeças


transmitiam, pois a ansiedade de não saberem o que estava a “centenas de
metros” se fez presente.
Mesmo que ele desse a entender isso, Ainz só pôde dizer que era mais do
que plausível que a verdade fosse totalmente diferente.

“—Ora, vamos. Você tem três cabeças. Então consegue farejar melhor do
que o Fenrir, não é?”

“Kuuun,” Cerberus graciosamente grunhiu e deitou para expor sua


barriga.

Talvez parecesse fofo se feito por um cachorrinho, até Ainz acariciaria


sua barriga indefesa se fosse o caso. No entanto, ele estava lidando com
Cerberus, não seria nada gracioso. Mesmo que resumidamente fosse apenas
um cachorro muito grande, sua aparência dantesca cortava qualquer clima de
fofura.

Enquanto Ainz encarava Cerberus, Mare se aproximou e esfregou sua


barriga.

“...Hum? O que aconteceu?”

Enquanto atento a Mare, que estava esfregando sua barriga, Cerberus


levantou-se lentamente e com uma expressão determinada rosnou: “Farei o
meu melhor”, “Vamos conseguir”, “Isso é impossível”, em resposta à
pergunta de Ainz. Parecia que havia três sentimentos distintos.

Ainz notou que um terço dos sentimentos eram negativos.

“...Eu entendo se for demais para dar conta, tudo bem? Será muito pior
se insistir e falhar... Pelo menos pode discernir os cheiros ao nosso redor e nos
avisar quando um estranho se aproximar?”

Embora o próprio Ainz tenha dito, ele logo concluiu que talvez centenas
de metros fossem impossíveis, afinal.

“He-heh-heh... eu devo dar conta disso.” “Isso é possível.” “Vamos


conseguir.” Ainz assentiu com esse sentimento.

“Então vá.”

Cerberus soltou um uivo e começou a farejar os arredores.

Aliás, Ainz também poderia dar ordens mentalmente. Era possível dar
ordens a monstros invocados mesmo que magias como 「Silence」 fossem
usadas. Se alguém quisesse interferir na conexão entre o invocador e
invocado, precisaria de uma profissão extremamente específica conhecida
como Especialista Anti-Invocador. Ele deu ordens verbalmente porque pensou
que Mare ficaria confuso ao ver Cerberus tomando atitudes depois de apenas
encarar Ainz.

“Enfim, vamos seguir como o seu plano de antes, Mare. Vamos usar a
Green Secret House e nos abrigarmos lá. É melhor não sermos vistos por
ninguém.”

“Sim!”

Mare parecia satisfeito por sua própria sugestão ter sido aceita.

Fôra uma sugestão bem precisa.

Nem Ainz nem Mare possuíam técnicas de ocultação que pudessem


apagar seus rastros. Portanto, se andassem despretensiosamente, poderiam
deixar sinais para trás, e talvez algum exímio rastreador notasse e relatasse a
seus superiores.

Por isso era sábio permanecerem onde estavam. Usar magia como 「
Camouflage」, que estava disponível para druidas e rangers, seria o ideal,
mas infelizmente não fazia parte de seus repertórios. Mesmo Mare sendo um
druida, ele era um tipo de druida extremamente nichado. Suas magias eram
voltadas para o genocídio em massa, e se não recorresse a itens para
auxiliá-lo, seu repertório druídico não passava de algumas magias do tipo
buff.

Após considerarem tudo, trazer a Green Secret House — um esconderijo


onde não deixariam pegadas ou outros sinais de sua presença se não saíssem
dele — foi a melhor decisão que puderam tomar.

Mas estava tudo bem sentar e relaxar mesmo com Aura ainda
trabalhando?

Não, até Ainz conhecia a expressão “o homem certo para o trabalho”.


Outrora, quando ainda um mero assalariado, ele lembrava-se de ouvir isso
quando encontrou um problema cabeludo em sua linha de trabalho. E então
ele lembrou dos dizeres de Punitto Moe: “Um trabalhador incompetente que
não sabe a hora de parar é a maior das dores de cabeça”.

Portanto, era melhor parar do que se meter em problemas.


Se tratado apenas como o Rei Feiticeiro delegando tarefas para um
Guardião de Andar, então não haveria nenhum problema. No entanto, por qual
motivo Ainz começou esta viagem?

Para enraizar as férias em Nazarick.

Além disso, sendo ele o adulto do grupo, ver crianças trabalhando


enquanto ele não fazia nada, o fez sentir uma enorme culpa.

Ainz ficou desesperado, ele pensou em várias formas de ajudar, mas não
podia fazer nada benéfico à Aura. A única desculpa que conseguiu inventar
foi que estava fazendo companhia a Mare.

Até quando vou me enganar com essa de cuidar de criança... só estou


fugindo, né? Essa é a única maneira de apoiar à Aura que consegui achar...
Será que não tem outra? Ser respeitado por fazer minha parte... não, se
tornar um adulto que cumpre o mínimo de suas responsabilidades?

Ele deveria aceitar a dura verdade de que agora não havia nada que
pudesse fazer?

Por mais que pensasse, não conseguia encontrar a resposta que


procurava.

Um tanto desanimado, Ainz disse a Mare:

“...Vamos esperar dentro da Green Secret House até a Aura retornar.”

“Sim, senhor!”

Ainz sentiu um pouco de acalento depois da resposta alegre de Mare.

♦♦♦
Ankyloursus.

Se visto à distância poderia ser confundido com um urso, mas se


permanecesse nesse ledo engano por muito tempo, seria seu fim. Tinha cerca
de dois a três metros de comprimento. Com dois pares de membros dianteiros
e duas patas traseiras. Garras afiadas e pontiagudas com mais de 60
centímetros de comprimento saíam em duas das quatro patas dianteiras, sua
dureza supera até mesmo a do aço, armas naturais de combate. Uma cauda
longa e grossa brotava de suas costas, em sua ponta havia uma massa
semelhante a um martelo.
E, por fim, grande parte de seu corpo estava protegido por uma densa
blindagem semelhante a escamas. O poder contido em sua presença era
aterrorizante; um único ataque daquelas garras poderia cortar um guerreiro ao
meio, de armadura e tudo.

Isso era o que deveria se ter mais cuidado.

A criatura em si não tinha habilidades especiais para dar status de terror,


nem poderia usar nenhuma magia poderosa. O Ankyloursus só podia usar 「
Fragrance」, e por si só não era útil em combate. Portanto, embora esteja
entre os principais predadores do Mar de Árvores, não era a besta-fera mais
forte da região.

No entanto, não poderia ser tratado com ânimos leves.

Um ser tão grande e tão forte poderia matar até monstros que tivessem
habilidades especiais ou pudessem usar magia.

Não seria estranho confundi-lo com uma espécie diferente se o visse —


realmente era um Ankyloursus digno da alcunha de “Lord”.

O monstro ergueu a cabeça do estômago do animal que vinha devorando


até então e soltou um rosnado baixo e grave que encheria o coração de quem
ouvisse de medo. Longas entranhas pendiam do canto de sua boca.

Ao bufar, expeliu a respiração entorpecida pelas vísceras e farejou o ar.


Seu rosto estava molhado de sangue, mas foi capaz de sentir que havia dois
odores que nunca havia sentido antes. Como ambos os odores estavam
misturados, poderia ser uma fêmea acasalando.

Sua barriga já estava cheia. Não faria mal algum ignorá-los.

No entanto, era desconfortante.

Esta área era o seu território. Nunca que ele permitiria alguém fazer o
que bem entendesse como se fosse o dono do lugar.

Ele se apoiou nas patas traseiras e, depois de usar suas garras para
arranhar uma árvore, esfregou o corpo contra a mesma. Uma demonstração
clara de que este era o seu território, e então caminhou em direção à fonte do
cheiro.

Ao longo do caminho, usou 「Fragrance」. Com isso, foi capaz de


apagar seu próprio odor corporal e o cheiro do sangue impregnado. Ao fazer
isso, o enorme corpo do Ankyloursus se aproximou de sua presa. Se não
usasse essa tática, suas caçadas seriam bastante infrutíferas.

O odor ficou mais forte.

Não havia indícios de que tivessem notado sua presença. Caso contrário,
estariam agindo de forma diferente. Por exemplo, parar tudo e procurar pela
fonte do som. Ou tentar fugir. No entanto, não estavam fazendo nada disso.
Ou talvez estivessem pensando que ganhariam por estarem em dois?

Ao aproximar-se mais silenciosamente que pôde do local. Não conseguiu


avistar sua presa que possivelmente ainda estava escondida entre as árvores.

Mas isso não o impediria. Era sempre assim quando derrubava sua presa.
Se os visse, ele também seria visto. Ele sabia manter-se calmo enquanto
farejava tudo ao seu redor, ele avançaria de uma vez — encurtando a distância
em um piscar de olhos, esse era seu modo de caça.

Ao chegar perto, notou que os odores estavam se movendo.

Seria como suas caçadas de rotina e ele começou a correr. Apesar de ser
enorme, corria por entre as árvores como uma rajada de vento.

Como não tinha nenhuma habilidade como 「Forestwalker」, quando


fez dessa área seu território, ele derrubou todas as árvores que poderiam
interferir em seu deslocamento. Deixando claro que, nenhuma árvore de
meia-tigela seria capaz de parar seu ataque, mas se sua vítima estivesse alerta,
poderia se aproveitar delas para escapar.

Não havia como negar que era um ser poderoso, mas nem todas as suas
caçadas eram bem-sucedidas. Essa foi a razão pela qual fez os preparativos.

A fonte do cheiro estava à sua frente.

Duas formas pretas, uma pequena e uma grande. A pequena estava em


cima da grande.

Não se tratava de acasalamento. Muito provavelmente eram dois animais


diferentes.

Isso não era incomum. Haviam animais que se ajudavam mutuamente.


Por cima estaria o mais esperto com alguma habilidade, enquanto em baixo
estaria o mais apto a fugir, esse tipo de coisa.

Fosse o que fossem, ambos não passavam de mera comida.


Ele sorriu.

A essa distância, já não havia mais como fugirem. O pequenino não


tinha muita carne, mas o que estava embaixo era bem grande. Como sua
barriga ainda estava cheia, deveria enterrá-los para fartar-se mais tarde.

Todavia, algo estava estranho.

Ele avançava enquanto pisava com força no chão. Eles notariam, mesmo
que fossem distraídos, e logo tomariam algum tipo de ação.

Porque não estavam com medo? Por que não estavam fugindo? Quase
todos os animais que o via tinham essas reações. As únicas exceções eram
membros de sua própria raça.

Estariam eles paralisados ​de medo?

Pensou por um momento enquanto corria.

A carne de presas aterrorizadas não era muito saborosa. Quanto às suas


preferências, a tenra carne de presas que morriam lentamente era muito
melhor, sua favorita. Quando desistiam de viver após terem suas entranhas
arrancadas enquanto ainda moribundos, era a mais saborosa de todas.

“GRRROOOOAAAAAR!”

Ele se levantou e berrou na frente da presa.

Isso não era mera intimidação, era para incutir medo.

—Vá e corra, tente se manter vivo! Faça com que sua carne seja mais
saborosa ainda, é tudo que quero.

Murmurou mentalmente. A essa distância, já não lhes restava


escapatória. Foi só por ter certeza da caçada ser bem-sucedida que lhe foi
garantido mostrar-lhes uma pequena chance de fugir.

“Oh? Eu nunca vi um desses antes. Que urso fofo.”

O pequeno disse.

Essa forma, lembrou. Eu vi coisas nas árvores que eram como você.
Ankyloursi também podiam subir em árvores, mas devido a seus corpos
enormes, essa escalada os deixava muito vulneráveis. Por isso, quando achava
suas presas em cima de uma árvore, ele preferia derrubar a árvore primeiro.
Na ocasião em que se deparou com esses seres, sua barriga estava tão saciada
e suas presas tão longe, ele os deixou fugir.

Mas como estes estavam no chão, não havia necessidade de se conter.

A criatura preta na parte de baixo o encarava sem se mover.

Ele pisou com sua pata dianteira e grandes garras brotaram dela.

Ele precisava atacar o de baixo, para que não fugissem.

Assim que planejou o que fazer, um som de *ching* passou por ele, sua
perna dianteira ficou quente — e logo uma dor intensa tomou conta.

Ele perdeu o equilíbrio e veio caindo de trás para frente.

Em pânico, olhou para a perna dianteira que tinha a dor latejante.

Ainda estava lá.

Ele não perdera um membro, mas tamanha era sua dor que não
conseguia se mover.

“GuuUU.”

Quando olhou bem, notou uma coisa longa e serpentina que pendia da
mão da pequena criatura. Tinha sido atacado por aquilo? Seria veneno.
Quando era um filhote, foi picado por uma enorme cobra venenosa e a
sensação de formigamento era semelhante a essa.

“Calminha aí. Eu não vou te machucar. Fica calminho, viu?”

Quando o pequeno balançou a mão, um alto estampido veio de uma


árvore próxima. A arma serpentina havia atingido a árvore. A força do
impacto tirou um naco da casca, parecia que tinha explodido de dentro para
fora.

Eu também sei fazer isso. Mesmo com esse pensamento, calafrios


percorreram todo seu corpo.

Ele havia se enganado quanto a seu tamanho?

Pois pouco a pouco ele começou a ver o diminuto ser parecendo


assustadoramente grande diante de seus olhos.
“Tá tudo bem, relaxa bichinho. Eu não sou assustadora. Olha pra mim,
eu sou de boa.”

Enquanto bradava, o pequeno ser saiu de cima do maior. Ele desceu ao


chão e se aproximou com as duas patas dianteiras bem esticadas. Realmente é
pequeno. Mas como sua força é tão grande assim?

Eu sou o caçador e eles são a caça— essa é a regra. Então como—


como essa criaturinha se aproxima de mim sem sentir nenhum medo?

Era como se— sua presa fosse um predador alfa.

Ele moveu seus olhos do pequeno e olhou para o grande.

Ele os observava atentamente.

Isso também era algo que não conseguia entender.

Ao longo de sua vida, havia se deparado com diversos animais, mas


nenhum nunca se comportou assim.

Todos davam meia-volta e fugiam de medo.

Quando era muito jovem — na época em que se separou de sua mãe e


deixou o ninho —, ele teve que fugir das presas que tentou caçar, pois eram
muito mais fortes que ele. Portanto, não havia vergonha em fugir de coisas
que não entendia.

Agora, havia algo enrolado em sua pata traseira—

“Hora da ponte aérea.”

Seu campo de visão girou em círculos.

Foi tomado por uma súbita sensação de leveza, como se estivesse sendo
puxado para cima, e então um choque percorreu suas costas.

Por alguma razão, estou deitado de lado.

Quando se levantou, a coisa longa e serpentina estava enrolada em torno


da perna traseira que havia sido puxada, e o pequeno ser segurava na outra
extremidade.
Não sei o que está acontecendo, mas aquele pequeno me derrubou? Eu
caí, por essa pequenez—

“Ei. Eu disse pra você não fugir.”

O pequeno rosnou, mostrando os dentes.

Era um som que dizia: “Não se engane, você será minha refeição”.
Talvez fosse um predador de emboscada. Isso significava que aquele ser que
virá na árvore daquela vez era tão forte quanto esse?

“Hmmm. Você é teimoso, hein. E eu não posso deixar Ainz-sama


esperando plantado lá... talvez seja melhor eu te matar e esfolar do que tentar
te levar vivo. Se bem que seria um baita desperdício. Posso até te usar pra
fazer uns experimentos. Hmmm... E o Ainz-sama também disse que matar só
em último caso...”

A criatura o encarava. Talvez significasse que não fosse um corredor. E


por isso usava aquela coisa parecida com uma serpente para capturar presas.

Ele tentou remover a todo custo o que prendia sua perna, no entanto,
falhou.

Enrolava-se firmemente. Já que era assim, ele usou as garras de que


tanto se orgulhava.

Não deveria haver nada que resistiria a seu poderoso corte.

Gu?

Grunhiu perplexo. Não aconteceu nada. Mesmo tendo cortado tudo em


seu caminho até então, desta vez não conseguiram.

“É, tanto faz. Mas não tô afim de lutar.”

Houve o som de terra movida e grama deslizando enquanto seu corpo era
puxado. A coisa serpentina o ligava até a força motriz responsável por esse
feito.

Ele estava sendo arrastado pelo pequeno ser.

Não havia mais dúvidas. Aquele pequenino possuía uma força absurda.

“Não vai dar pra evitar. Eu realmente não gosto de fazer isso, mas vou
tentar de novo... e se não der certo, você já era.”
A coisa parecida com uma cobra foi removida de sua perna.

Wuh-PSSSH!

Antes mesmo que pudesse pensar: “Eu deveria fugir”, uma pontada de
dor percorreu seu corpo.

“GwoOOO!”

Chibatadas agonizantes de dor vieram em rápida sucessão. Seus braços,


pernas, rosto, barriga e cauda não doíam tanto assim, mas se fosse tentar
cobrir alguma parte do corpo, seriam as costas. Caso ficasse enrolado como
um caracol, seria banhado em agonia.

Quando tentou engolir a dor para fugir, seu corpo foi imobilizado por
uma pressão tremenda. Quando olhou, notou a criatura grande com uma de
suas patas pisando em suas costas, imobilizando-o. Tamanha era a força que
parecia que afundaria no chão.

Seria um pesadelo? Já era difícil aparecer um, que dirá dois que eram
mais poderosos do que ele.

A dor continuou.

Cada vez que esse som ecoava, uma dor aguda percorria algum lugar de
seu corpo. A cacofonia de estampidos era como o som de uma tempestade.

Quando finalmente perdeu a vontade de resistir, o som finalmente parou.


Não havia nenhuma parte de seu corpo que não doía. Todo o seu corpo estava
ardendo, e ele tinha a sensação de que havia inchado duas ou até três vezes o
seu tamanho normal.

“Prontinho, agora você é bonzinho e obediente, né?”

Eu serei comida dos fortes. Depois de tanto fazer isso, chegou a minha
vez; um dia é da caça, outro do caçador.

“Bom garoto. Agora sim tá do jeito que eu gosto. Agora entendeu quem
manda, né? Então vamos indo.”

Mesmo com dentes tão pequenos, esse pequenino vai conseguir me


devorar? Ou ele pretende me compartilhar com esse maior?
Agora que desisti de viver, não há dúvida de que minha carne será
saborosa.

♦♦♦

Dentro da Green Secret House, Ainz trabalhava junto com Mare.

Primeiro, eles dispuseram os pratos em cima de uma mesa obsidiana


produzida usando magia. Havia também sopa quente, mas foi colocada dentro
de um refratário para mantê-la aquecida, eles planejaram servi-la logo antes
de jantarem. Eles prepararam copos cheios de gelo para três e colocaram uma
jarra cheia de suco no centro.

Mesmo com a porta da Green Secret House fechada, o ambiente estava


perfeitamente ventilado, isso foi graças ao funcionamento de um mecanismo
mágico onde nem sons nem cheiros saíam de dentro. No entanto, seria
desativado quando a porta fosse aberta, isso significava que, quando Aura
voltasse o cheiro da comida vazaria para fora.

Esses aromas distintos seriam detectados a surpreendente distâncias.


Dentre todos que conhecia, Aura provavelmente não cometeria um erro tão
banal como retornar à base sem confirmar que a área ao redor era segura, mas
ele não podia descartar a possibilidade de que um cheiro fora do alcance
sensorial de Aura não fosse notado por alguém. Nessa floresta, se alguém com
inteligência e cultura sentisse o aroma de alguma comida deliciosa,
certamente acharia suspeito.

Os próprios Elfos Negros não possuíam olfato a par dos animais. No


entanto, tudo era possível nesse mundo, até mesmo poderia haver uma
profissão que permitisse algo tão específico. E mesmo que a própria pessoa
não fosse capaz, talvez se estivesse junto com uma fera mágica capaz de
informar-lhe, por gestos ou algo do tipo, que detectara algo.

Resumidamente, Ainz e Mare estavam trabalhando diligentemente em


algo que poderia fazer o trabalho de Aura ser desperdiçado. Ainz estava
totalmente ciente disso.

Então, o que os levou a prepararem alegremente uma refeição fôra


porque; essa foi a única idéia que Ainz teve para escapar de seus sentimentos
de culpa.

Ou seja, era para dar boas-vindas à Aura com uma deliciosa refeição
quando ela chegasse em casa cansada do trabalho.

Mesmo pesando os prós e contras, Ainz decidiu continuar.


Afinal, bastava não serem descobertos. Mesmo que o problema fosse o
cheiro saindo, valia o risco, pois só sairia quando Aura abrisse a porta.

A maneira mais infalível era fechar a porta assim que Aura entrasse e
contar com suas precauções.

Para Ainz, o mais importante seria o sentimento de surpresa de Aura ao


abrir a porta e “tchã-ram!” aí está a comida.

Por precaução, ele voltou à Nazarick e pediu ao Head Chef que


preparasse pratos de fraco aroma. Além disso, o Wind Elemental que Mare
invocou com um item mágico jogava o ar ao redor deles para o céu. Todo o ar,
incluindo os cheiros, seria enviado para as copas das árvores, onde finalmente
começaria a se espalhar. As partículas de cheiro eram mais pesadas que o ar,
ele não sabia se isso ainda era válido nesse mundo. Por alguma razão,
poderiam não descer, e mesmo que o fizesse, quando chegasse ao solo, já teria
se tornado consideravelmente tênue.

Ainda assim, havia algumas falhas em seus preparativos, isso porque


quando a corrente ascendente foi criada, as folhas se moviam levemente —
não a ponto de Ainz se preocupar — mas se alguém de olhos aguçados
estivesse assistindo do céu, poderia sentir que algo estava fora do lugar. No
entanto, alguns dias atrás, quando Ainz estava fazendo reconhecimento aéreo,
pássaros eram as únicas coisas que vira no céu, então não valia a pena se
preocupar.

“Uh, hm, Ainz-sama. Já está na hora de eu devolver isto para o senhor.”

Assim que terminaram os preparativos, Mare ofereceu um orbe que Ainz


lhe emprestara.

Era um item mágico de alta qualidade que ele chamou de Elemental


Gacha. Dentro da esfera transparente, semelhante a vidro, havia quatro luzes
se movendo em círculos.

Permitia invocar e usar um elemental por uma hora, quatro vezes.

Os tipos que podiam ser invocados eram fogo, água, vento e terra. Havia
também os compostos de fogo + terra = magma; água + vento = nevasca; terra
+ água = pântano; fogo + água = efervescente; terra + vento = tempestade de
areia; fogo + vento = tornado ígneo e muito mais.

Entre esses, os de elementos bases como fogo, água, vento e terra podem
se manifestar de três formas:
· Alto nível - com níveis na casa dos 40;
· Médio nível - com níveis na casa dos 20;
· Baixo nível - com níveis abaixo de 10.

Nessas ocasiões, se fosse de alto nível, viria apenas um. Em nível médio
o número era aleatório, mas variava de 1 a 3. O número de elementais de
nível baixo também era aleatório, mas era um mínimo de 3 e podendo ir no
máximo até 6.

Em relação aos compostos, podem se manifestar como sendo de alto


nível, podendo chegar na casa dos 50. Os de nível médio chegariam por volta
do nível 30 no máximo. E os de nível baixo seguindo a regra de virem abaixo
do nível 10. No entanto, sempre viria um, independentemente de qual nível.

Após saber disso, seria lógico pensar que era um item bastante útil, mas
infelizmente o elemental era escolhido aleatoriamente. Além disso, a
probabilidade de vir um de nível alto era extremamente rara. Como
comparativo, a taxa de aparição de um de alto nível era similar à taxa de
ganhar um anel Shooting Star no gacha.

Era estrategicamente inútil não ser capaz de invocar algo que se


adequasse ao oponente ou à situação. Se invocasse um Earth Elemental ao
voar no céu, tudo o que poderia fazer era vê-lo cair como uma pedra. Na
verdade, eles tiveram que usar o item três vezes até que Mare pôde invocar
um Wind Elemental.

“Não precisa. Agora é seu, Mare. Como deve ter percebido, é um item
meio duvidoso, então eu ficaria feliz se pudesse guardá-lo para mim, se não se
importar. Se pudesse invocar, digamos, os elementais de classificação mais
alta, elementais corrompidos ou elementais sagrados... então seria um ótimo
item. Além disso, foi restrito para que apenas druidas possam usá-lo. Se não o
quiser, serei obrigado a deixar ele pegando poeira na Tesouraria.”

Poderia ser útil para iniciantes no jogo, mas quando se tratava de Ainz e
Mare, a história era outra. Por essa razão, ele originalmente o deixou em seu
inventário pensando que o daria a alguém cujos níveis fossem baixos.

“O, o senhor tem certeza disso?”

“Sim, aceite de bom grado. Sei que estando com você, será muito mais
valorizado.”

“Um-muito obrigado! Uh, hum... então os elementais invocados por isso


vem do mesmo elemento que usamos previamente?”
“Como?”

“Uhh, é que eu tenho um outro item de invocar elementais, mas para usar
ele tem que lançar uma magia com o elemento correspondente, ou que o tenha
como elemento secundário, antes de ativá-lo.”

Em outras palavras, se Mare quisesse invocar um elemental com dados


de fogo usando um item, ele teria que usar magia que tivesse chamas como
elemento secundário, por exemplo — embora Mare não pudesse usar — 「
Fireball」 antes de usá-lo.

“Acredito que os pré-requisitos provavelmente foram atendidos, mas por


que não testamos da próxima vez que tivermos mais tempo?”

“S-sim! Será u-uma honra.”

No passado — isso foi antes de confiar completamente neles — ele


investigou as habilidades de todos os NPCs e, ao fazê-lo, também aprendeu
sobre seus equipamentos.

O item que poderia convocar elementais que Mare mencionou


certamente poderia convocar um único elemental de alto nível, mas só poderia
fazê-lo uma vez a cada 24 horas, e a duração da criatura invocada não era nem
dez minutos. Se fosse para ser honesto, o valor do item em si era baixo. Havia
muitos outros muito mais poderosos.

E, no entanto, Mare tinha um imenso carinho pelo item, isso porque fôra
um presente de Bukubukuchagama.

Ainz sabia que esse sentimento era compartilhado entre todos os NPCs.

Apesar de haver itens muito melhores, os NPCs não mudariam seus


próprios itens. Se fossem mudar, seria apenas por outro equipamento que
haviam recebido por seus criadores. Claro, se Ainz desse algo, como fez
agora, eles usariam o item, mas nunca enviariam uma requisição para trocar
seus equipamentos por vontade própria. A única vez foi quando fizeram
exercícios de combate e Albedo veio implorando que queria pegar emprestado
várias coisas.

São limitados.

Era uma maneira extremamente rude de ver as coisas, mas foram as


palavras que passaram por sua mente.

Isso valia para ele também—


“—Uh, hum, há algo de errado?”

Ele fôra trazido de volta à realidade pela expressão preocupada de Mare.


Parece que Ainz se perdera em pensamentos uma vez mais.

“Hum? Oh, não, não é nada de mais. Eu estava pensando se eu estivesse


em seu lugar, como eu deveria usar esse item, apenas isso. Com certeza,
convocar um elemental com antecedência é—”

Cerberus se moveu do outro lado da porta.

Quando Ainz abriu a mesma, Cerberus soltou um rosnado, as três


cabeças olharam para a mesma direção. Não havia dúvida do significado
“alguém está vindo”.

Ainz e Mare olharam um para o outro.

“Eu fiz de tudo para não deixar nenhum cheiro sair daqui, mas... meu
plano falhou?”

“Eu, eu não acho que é isso... mas...”

Cerberus não farejou Aura e Fenrir quando invocado. Mesmo assim,


notou seus cheiros impregnados em Ainz e Mare, então ele não deveria reagir
assim.

Os dois olharam juntos na direção que Cerberus estava olhando. Não


parecia haver nada escondido nas árvores. Mare colocou a mão atrás das
orelhas, tentando ouvir qualquer som vindo daquela direção.

“Uh, mhm, definitivamente parece que tem algo vindo...”

“Quer dizer que... não são eles, é isso?”

Quando Aura e Fenrir partiram, eles não fizeram nenhum som.

“Eu, eu sinto muito. Disso... disso eu não sei. Mas, o senhor tem razão.
Eu acho que se fosse minha irmã, ela estaria vindo muito mais
silenciosamente... e... eu não acho que há qualquer chance dela fazer barulho
de propósito só para nos avisar que vasculhou a área e sabe que não há
problema...”

Em outras palavras, ele também só podia supor.


“Não nos resta muito o que fazer. Vamos seguir o plano de antes.”

Ainz ativou 「Perfect Unkowable」 e deu um comando para Cerberus


acompanhá-lo.

Ao contrário de quando dava comandos verbais, comandos mentais não


seriam interferidos por 「Perfect Unkowable」. No entanto, mesmo Cerberus
não podia ver Ainz, assim, ter um bom posicionamento era importante. Se
cometessem um erro, era possível que Cerberus o atingisse sem querer.

Hmmm, 「Perfect Unkowable」 é muito prático. É uma pena que o


Pandora’s Actor não possa usar mesmo quando se transforma em mim. Bem,
há outros meios de contornar isso, como o uso de pergaminhos. O problema
são os custos de materiais, limites de tempo e mais um monte de coisas
chatas.

Enquanto resmungava mentalmente, Ainz avançou seguindo Cerberus.


Em pouco tempo, Ainz pôde ouvir o som da grama sendo pisoteada, e ele viu
uma silhueta enorme.

Um urso?

No entanto, isso era diferente do seu urso médio. Parecia ter seis pernas e
seu pêlo aparentava estar encharcado e grudado em seu corpo. É algum tipo
de fera mágica com a habilidade especial de atirar água?

Mas o que mais chamou a atenção de Ainz foi Aura sentada em suas
costas. Ela estava segurando um chicote na mão e fez a besta mágica do tipo
urso tremer de medo quando o estalava em intervalos regulares.

Ao lado estava Fenrir os acompanhando.

...Aura não tinha esse tipo de animal antes... Mas o que está
acontecendo aqui?

Parecia que tinham notado Cerberus, pois o encararam com cautela. Mas,
a razão pela qual eles não partiram para o ataque foi provavelmente porque
não puderam confirmar se era um Cerberus selvagem ou um Cerberus que
Ainz havia invocado. Eles pareciam estar pensando que se fosse um servo de
Ainz, deveria de alguma forma transmitir esse vínculo, ou seria diferente para
um monstro invocado?

Ainz cancelou 「Perfect Unknowable」.

“Ainz-sama!”
No instante seguinte o olhar de cautela desapareceu de seu rosto e Aura
gritou de alegria:

“Hey! Irra!”

Aura balançou o chicote para o urso que parecia bastante relutante em


avançar. Soltando um grito que só poderia ser interpretado como abuso de
animais, o urso aterrorizado caminhou até Ainz.

Quando chegou na frente de Ainz, Aura desmontou do urso.

“Bem-vinda, Aura.”

“Tô de volta, Ainz-sama. Tenho certeza que você tem algumas


perguntas, então deixa eu já responder elas agora. Esta fera mágica aqui é do
tipo urso, como parecia ser o dono da região, então eu domei ele! Eu usei um
chicote pra pôr na cabeça dele quem é que manda por aqui. E foi isso que fiz,
o que achou, Ainz-sama?”

Ainz se perguntou o que era essa coisa

“...Para dizer a verdade, eu não sei o quão poderosa essa fera mágica é...
é forte o suficiente para que os Elfos Negros e outros animais tenham medo?”

“Ah, saquei. Você sendo tão forte, até fica estranho julgar a força de uma
coisinha fraca como ele. Deixa eu ver aqui, não que é muito forte, mas parece
ter força mais do que suficiente pra controlar essa área. Então, eu no lugar de
um Elfo Negro comum, acho que nem chegaria perto por ser perigoso demais.
Pelo o que notei, parece que ninguém se aproxima dessa área inteira por medo
desse carinha aqui. Então recomendo montar um acampamento temporário
nessa região, já que dificilmente um intruso vai se atrever a chegar perto.”

“Que maravilha.”

Será bem útil, pensou Ainz.

Certamente havia um mérito maior em colocá-lo sob seu controle, em


vez de apenas matá-lo. Como não estava claro quanto tempo iriam gastar
procurando e observando os Elfos Negros. Se matassem o dono do território,
o equilíbrio da floresta ficaria um caos, e os Elfos Negros provavelmente
viriam investigar para saber o que estava acontecendo. Então seria melhor
deixá-lo viver.

Seja como for—


“Aura. Não é como se eu estivesse questionando seu julgamento, mas
você já não tem feras mágicas demais para tomar conta? Não acha que pode
acabar forçando sua habilidade ao limite? O que me preocupa é caso alguma
escape do seu controle.”

Na maioria das vezes, era costume libertar as que estivessem há mais


tempo, muitas vezes não era que a pessoa queria libertar, mas sim que era
obrigada a libertar.

Era o mesmo para monstros invocados e criados. Em YGGDRASIL,


alguns poucos experimentaram o recebimento de mensagens de aviso
informando que deveriam selecionar qual animal queriam liberar.

“Tá de boa! Os Domadores de Feras têm conexões com as feras mágicas


sob seu controle, mas com essa aqui eu não tenho nadica de nada. O que tô
querendo dizer é; não usei nenhuma habilidade. Eu fiz à moda antiga, e
mostrei pra ele quem é que manda. E também não tô usando a habilidade da
minha profissão de domador pra aumentar os atributos dele.”

“Hmm... se eu entendi bem, não podemos dizer que ele é completamente


leal, é isso?

Ainz concluiu que era possível que seus instintos selvagens despertassem
e de repente atacasse quem estivesse por perto. Mesmo indagando-a, ele não
podia imaginar que Aura ignoraria essa possibilidade. Ela provavelmente
havia julgado que ninguém nessa comitiva sofreria algum dano. Todavia, era
preciso confirmar quanto antes.

Ainz, ao tentar estipular seu nível, de repente se lembrou de seu animal


de estimação.

“...A propósito, qual é mais forte, Hamsuke ou ele?”

Aura tinha um semblante aflito.

Não, mesmo que não fique assim... Não é óbvio que essa fera tipo urso é
mais forte?

“Posso responder com sinceridade?”

“É claro. Eu posso ser o mestre da Hamsuke, mas não quero que se


contenha por isso, diga-me o que pensa.”
“Nesse caso... se for só por aptidão física, é mais forte que a antiga
Hamsuke. M-mas! A Hamsuke pode usar magia, então se considerar isso, é
difícil prever qual venceria numa luta. Porque se a magia usada for eficaz, a
batalha é decidida num piscar de olhos. Além disso... a atual Hamsuke já
conseguiu a profissão de Guerreiro. Então se ela usar armadura, acho que ela
ganha sem problema.”

A imagem de Hamsuke dormindo apareceu na mente de Ainz. E por


alguma razão, havia um Death Knight ao lado dela.

Ele ficou um pouco irritado.

Certamente, Hamsuke era como um animal de estimação, então Ainz não


se importava que ela fosse meio preguiçosa. Além disso, ela ajudava muito
quando trabalhava como montaria de Momon. Ainz estava plenamente ciente
do quanto ela havia treinado para adquirir a profissão de Guerreiro e outras
habilidades. Mesmo assim, ele ficava irritado sempre que via alguém
brincando enquanto outros trabalhavam tanto.

“Não precisa ir tão longe para defender a Hamsuke, Aura,” ele queria
dizer, mas engoliu suas palavras por consideração aos sentimentos de Aura.
Ela nunca elogiaria Hamsuke sem motivo.

“Entendi...”

Ele poderia dizer algo além disso? Ainz, que não queria dizer algo como
“Hamsuke é incrível mesmo, eu sei”, decidiu mudar de assunto:

“—Mas, como um ser tão forte veio parar aqui? Ou será que feras
mágicas como essa são comuns no Grande Mar de Árvores? É algo que eu
gostaria de investigar. Nós não vimos nenhuma fera mágica de alto nível em
nossa jornada até agora, não é?”

“Isso mesmo. Pode até ter tido um aqui e outro ali, mas eu mesma não
vi. Talvez se a gente procurar direitinho, podemos até achar alguns. O que
acha?”

“Não, não vale o incômodo. Até porque não foi por isso que viemos.”

“Entendi, Ainz-sama. Explorar é uma coisa tão legal. Um bicho desses


não tinha nem na Grande Floresta de Tob. Então assim, há uma alta
probabilidade de que há plantas e animais únicos — plantas medicinais
nativas e essas coisas. Além disso, pode haver lugares onde tem fenômenos
especiais únicos.”
Nesse mundo mágico, existiam lugares onde aconteciam fenômenos
inexplicáveis.

Água que corria de baixo para cima; uma colina onde um pilar de luz cor
de arco-íris se erguia em dias que granizava; um deserto onde um enorme
tornado ocorria uma vez a cada poucas décadas. Parecia que tudo isso poderia
ser visto a olhos nus. Isso mesmo, poderia — infelizmente, ainda não havia
nenhum desses locais misteriosos dentro dos territórios englobados pelo
Reino Feiticeiro.

Em YGGDRASIL, lugares como esses tinham efeitos únicos, onde


materiais e monstros raros podiam ser encontrados.

Essa regra também se aplicava aqui? Por exemplo, no Pilar de Luz


Prismática podia-se conseguir o drop Rainbow Stone, era como se fosse luz
solidificada. Era um famoso material que ajudava na criação de itens mágicos.

Não seria de grande ajuda no fortalecimento de Nazarick se esse tipo de


região especial pudesse ser colocada sob o controle do Reino Feiticeiro?

“Não parece provável que os Elfos conheçam a fundo a região onde


habitam. Se for o caso, então é exatamente como disse, Aura. No futuro
vamos explorar essa região— e será ótimo enviar os aventureiros.”

Os undeads que Ainz produzia eram incapazes de fazer coisas como


descobrir novas espécies de plantas medicinais. Talvez fosse hora de montar
um grupo de aventuras com uma equipe de undeads sendo usados como
burros de carga, afinal.

“Enfim— vamos voltar. Mare está esperando por nós.”

“Beleza! Só me diga uma coisinha, Ainz-sama. Só pra confirmar, aquilo


é um Cerberus que você invocou?”

“Sim, acertou em cheio. Estou usando-o para substituir o Fenrir.”

Ainz caminhou junto com Aura. Claro, Fenrir e Cerberus também


estavam com eles. O urso parecia não querer ir, mas com apenas um estalo do
chicote de Aura, ele veio obedientemente.

“...A propósito, Aura. O que planeja fazer com seu mais novo
animalzinho? Considerando que não foi colocado completamente sob seu
controle, como acha que lidaremos com essa questão?”
“Bem, eu queria ver se você me deixaria levar ele com a gente pra
Nazarick, pode?”

“Pretende soltá-lo no Sexto Andar?”

Uma coisa era ser inteligente o bastante para dialogar como Hamsuke,
outra bem diferente era deixar uma fera selvagem vagar sem rumo pelo 6º
Andar. Afinal, mesmo uma fera mágica nesse nível poderia acabar matando as
empregadas regulares. Se fosse assim, uma parte dos NPCs seria impedida de
entrar no 6º Andar. Isso sem falar no dano aos monstros do tipo planta. Havia
também a questão do que fazer com sua integridade.

“Não. Eu tava pensando é em tentar domar as feras mágicas sem usar


minhas Habilidades de Domador de Feras. Aí pensei em usar ele nesse
experimento.”

“Hum. Eu compreendo seu desejo e realmente quero ajudá-la com isso,


mas...”

Ganhar poderes exclusivos desse mundo era impossível para seres de


YGGDRASIL. Do ponto de vista de Ainz, que estava pensando em melhorar
suas próprias habilidades, já que não podia mais aumentar de níveis, ele
deveria ter aceitado a proposta de Aura. Entretanto—

“Por que tem que ser justo ele? Melhor partir de algo mais fraco... que tal
começar com uma que esteja em torno do nível um?”

Uma fera de nível baixo não causaria transtornos — mesmo que as


empregadas regulares fossem atacadas, elas provavelmente poderiam dar
conta com a força de seus equipamentos.

“Acho que sim...”

Aura mostrou sinais de que não era bem o que queria:

“Se tá dizendo, Ainz-sama, então eu vou—”

“—Não, eu não estou dizendo, entendeu? Só estou perguntando o porquê


escolheu esse urso. É que você realmente gosta de ursos?”

De repente, Aura olhou para trás por cima do ombro.

“...Fen. Olha os modos.” Foi tudo o que ela disse em um tom


ligeiramente frio, e imediatamente voltou a olhar para frente.
“—Desculpe, Ainz-sama. O Fen tava agindo meio estranho...”

Ainz olhou para trás, mas não parecia que Fenrir fosse fazer nada. No
entanto, provavelmente foi devido à repreensão. Ainz olhou de volta para
Aura e a indagou.

“Bem, não se preocupe com isso. Mas diga-me, por que aquele urso?”

“Bem, eu sei que ele não pode falar como a Hamsuke, mas ele parece
bastante inteligente. Fen e os outros não podem falar, mas são muito espertos,
não são? Eu não acho que não saber falar seja algo que determine inteligência,
sabe? Então, assim, é melhor treinar aqueles que têm alguma inteligência.”

Fazia todo sentido, Ainz não se lembrava de ouvir Fen falar, mas ele
certamente era um ser pensante. Suzuki Satoru não chegou a ter animais de
estimação, mas esse grau de sapiência era bem diferente de um cachorro bem
treinado segundo o que ouvira. Claro, todos os furos de seu pensamento
poderiam ser respondidos apenas com “são animais mágicos”.

“Às vezes noto que o Fen compreende o que o Mare Diz, então aqueles
com um certo grau de inteligência são mais adequados para treinar. Também
poderia criar um desde filhote, o que acha...?”

“Levaria muito tempo, não? Então algo que cresça em pouco tempo
como um cachorro... Aah, não sei se isso será útil pro treinamento.”

Já que iam treinar feras mágicas, era melhor que tivessem alguma
utilidade. Levando isso em conta, não havia outra escolha senão aceitar a
proposta de Aura.

“...Eu permito, mas apenas fora de Nazarick. Há aquele lugar para onde
levamos os humanos da Capital Real, aquele lugar onde moram, lembra-se?
Que tal lá?”

“A falsa Nazarick que eu construí daquela vez? Os aventureiros tão


usando... E se eu não deixar ele solto no Sexto Andar, e o deixar ele isolado
até terminar o treinamento?”

“...Tudo bem, mas você promete que vai deixá-lo preso?”

“Sim! Muito obrigada por ser paciente comigo e aceitar, Ainz-sama.”

Ainz sorriu para Aura cabisbaixa.


“Não tem de quê. Assim como a Albedo está realizando exercícios de
combate, sua atitude de tentar melhorar a si mesma é magnífica. Todos vocês
NPCs são o meu— digo, são o orgulho e alegria da Ainz Ooal Gown.”

Os olhos de Aura ficaram bem abertos, e ela ficou sem saber como agir.

Por ser algo tão repentino, Ainz se repreendeu. Ele disse algo que não
deveria? Ele não tinha nenhuma lembrança disso. Não—

—Eu lembro que não disse nada de mais. Será que eu devo me colocar
na perspectiva dela? Ser o orgulho e a alegria da Chagama-san é tudo que
importa, e ela não dá a mínima para os outros, é isso? Ou será que ela está...
feliz? Não parece que ela está sorrindo... Hmm. Melhor eu tomar alguma
atitude me preparando para o pior, em vez de esperar o melhor.

Seria ainda mais estranho se desculpar por qualquer coisa. Portanto,


Ainz só tinha uma medida que poderia tomar.

“Ah, já ia me esquecendo. Para mostrar como valorizamos seu trabalho,


preparamos uma refeição. Eu e o Mare fizemos— bem, não sabemos cozinhar
então buscamos de Nazarick e montamos a mesa.”

Ele tentou disfarçar o melhor que pôde.

“Hohoho,” enquanto ria de forma fajuta, aproveitou a oportunidade para


espiar a aparência de Aura.

Hum? Ela não está brava? Pode ser um sorriso forçado, ou pode ser um
sorriso de bajulação. Será que ela está sorrindo mesmo?

Aura sorria de orelha a orelha, de modo tão puro que ele não podia
acreditar que era insincero. De onde vinha essa felicidade? Dos elogios? Ou
por saber que fizeram uma refeição para ela?

É... eu preciso elogiar mais os NPCs.

Ainz fortaleceu sua determinação. Ele lembrava por alto o que um dos
ex-membros da guilda disse em tons desmotivados: “Gratidão é algo que é
preciso ser dito. Se você apenas pensa, mas não demonstra. Logo vai ver a
cara feia que sua esposa vai começar a fazer”.

Foi Touch-san que disse?


Enquanto tentava se lembrar, a Green Secret House apareceu. Quando
chegaram à frente, Mare, que estava monitorando as coisas por dentro, abriu a
porta.

“Bem-vinda de volta, o-onee-chan.”

“É, cheguei em casa.”

Ela podia ver uma mesa de jantar completamente arrumada atrás de


Mare. Aura fez uma varredura completa do que tinha na mesa, aumentando a
ansiedade de Ainz.

“Nossa, parece que tá uma delícia!”

Vendo a feição alegre de Aura, Ainz ficou aliviado. Ele estava um pouco
preocupado que ela dissesse algo como, “Ow, eu tava com vontade de
katsudon hoje...” — claro, mesmo sabendo que ela não seria rude assim.
Como raramente tinha a chance de dividir uma mesa com alguém, ele estava
preocupado que sua sensibilidade gastronômica tivesse se tornado
extremamente entorpecida e grosseira.

“Sim, o Head Chef vai adorar saber disso. Além disso, também preparei
a porção do Fenrir, mas...”

Em cima de um toco que montaram próximo à base, colocaram um


enorme pedaço de carne exclusivamente para Fenrir. Era de uma vaca que
estavam criando como gado. O sangue ainda escorria, demonstrando seu
frescor e suculência. A fazenda de gado leiteiro ficava em um local perto de
Nazarick, um grande terreno onde o gado era deixado em um vasto pasto.

O Head Chef comentou que: “Para essa raça, eu pessoalmente prefiro o


sabor da carne quando são alimentados com grãos em vez de capim”. Talvez
seus dizeres como especialista culinário tivessem influência, ou os outros
pensavam o mesmo, mas o fato era que essa carne não era muito popular
dentro de Nazarick.

Originalmente eles não podiam pastar, por isso veio o pensamento de


criar gado, para que assim ficassem mais saborosos. No entanto, não tinham
mão de obra suficiente para isso. Em E-Rantel, várias pessoas foram movidas
à força para criar o bairro demi-humano — apelido —, então quase não havia
pessoas que tivessem habilidades relacionadas à criação de animais e, mesmo
que houvesse, teriam ido embora na direção das vilas fronteiriças. Apesar dos
pesares, era apenas a opinião de alguém exigente com os ingredientes, não
havia problema se fosse a ração de uma fera mágica.
“...E quanto àquele urso, pretende alimentá-lo?”

“Ele vai ficar bem. Parece que comeu logo antes de me encontrar. Além
disso, faz parte do treinamento não dar comida até que ele entenda
completamente que eu sou a chefe dele.”

“Oh, sim... Digo, você tem razão. Mesmo para humanos ou outras raças,
quando quebramos suas mentes, eles nos obedecem totalmente.”

Eles entraram na Green Secret House enquanto papeavam.

“Pode comer, garoto.”

Aura disse pouco antes de passar pela porta e Fenrir, que estava
esperando pacientemente, afundou os dentes na carne. Ankyloursus apenas
observava tudo de ombros baixos, olhando-o dessa forma, realmente parecia
possuir algum grau de inteligência, assim como Aura disse.

Aliás, Cerberus não precisava de jantar. E mesmo que o alimentasse,


seria inútil. Não era como se não houvesse casos em que fossem fortalecidos
dando-lhes comidas com buffs, mas na situação atual, Ainz não sentia um
pingo de necessidade de fazer esse tipo de coisa. “Ei? É sério isso?”
“Bullying não é legal!” “Tenho fominha”. Após tomar sua decisão, Ainz teve
um palpite de que essas eram as reações de Cerberus, mas certamente era
apenas sua imaginação.

Os três chegaram à mesa que Ainz havia preparado.

“Aproveitem.”

Os dois disseram: “Agradecemos pela refeição”, em uníssono.


Naturalmente, Ainz não comeu. Aura foi a primeira a comer.

“Ainz-sama! Tá delicioso!”

“Mm-hmm”, Mare concordou com as palavras de sua irmã. Ainz sorriu


para os dois.

“Fico feliz que gostaram. Informarei o Head Chef depois... tenho uma
coisa a dizer enquanto estão comendo, como agora sabemos, graças à
investigação da Aura, que ficaremos bem mesmo se construirmos uma base
temporária nessa região. Vamos escolher um local para realocar a Green
Secret House, depois eu quero que tomemos medidas para encontrar a aldeia
dos Elfos Negros.”
Os dois pararam de comer e ouviram seriamente o que Ainz tinha a
dizer. Bem, até Suzuki Satoru teria feito o mesmo se seu chefe começasse a
falar algo relacionado ao trabalho.

“Depois disso, estabeleceremos relações amistosas com eles. Nosso


plano agora é— enquanto a Aura permitir, realizar Missão: Lamento do Ogro
Vermelho.”

Ainz sorriu. Ele já havia feito isso com seus amigos, na ocasião disseram
que era um truquezinho sujo. Na verdade, enquanto pensava em qual monstro
usar para esse plano, Aura trouxe o “homem certo para o trabalho”. Se ela
aprovasse, não haveria outra mão para jogar tão boa quanto esta.

Não ter total controle sob a criatura era um elemento de incerteza no


plano, mas por sua vez, isso também aumentaria o realismo.

Ele não sabia se diferia pelo indivíduo ou pela raça, mas não havia
uniformidade na habilidade de atuação dos monstros. Curiosamente, o Evil
Lord Wrath teve um desempenho excelente, mas de acordo com Shizu parecia
que “o Circlet Demon era um ator ruim”.

Ele queria esconder suas identidades e força. Mas não seria melhor se
pudessem simplesmente serem convidados a entrar? Preferencialmente,
poderiam fazer aos poucos ao longo dos anos, mas quando considerou a
Teocracia, ele não achou que lhes restava tanto tempo.

“É um lamento de choro? Ou lamento de estar gritando? Qual desses,


Ainz-sama?”

Ainz mais uma vez sorriu para a curiosidade de Aura. Ao mesmo tempo,
foi uma das muitas coisas que ele aprendeu com seus amigos.

Parecia que o nome da estratégia tinha um significado mais profundo,


mas Ainz agiu como se soubesse, sem realmente saber. De todo modo, ele
poderia explicar qual era essa estratégia usando suas experiências reais como
base. Ainz foi dizer e—

“—Oh! É ‘O Ogro Vermelho Que Chorou, não é? Eu li esse livro


recentemente!”

Tendo sua estratégia confrontada por algo que não conhecia, Ainz se
calou e lentamente olhou para o céu.

Se tivesse visto um majestoso céu azul acima, sua mente não sofreria
tanto ao ser confrontado pela inocência de uma criança, também poderia ter
aprendido uma coisa ou duas. Ele poderia ter recebido o conforto de que era
pequeno diante da grandeza do mundo.

No entanto, tudo o que viu foi o teto da Green Secret House. Depois de
olhar um pouco para as vigas de madeira, ele virou o rosto para ver o sorriso
puro e inocente de Mare.

A possibilidade ainda permanecia de que Mare estava tendo a conclusão


errada.

“...É mesmo? Você não cansa de me surpreender, Mare. Eu nunca li esse


livro antes. Então o nome é Ogro Vermelho Que Chorou...?”

“Sim! Se for como no livro... vamos usar aquele urso no plano, não é!?”

Minha nossa, ele acertou na mosca.

“...Ah, huh. Sim. Você com certeza é incrível, Mare...”

E assim, Ainz sorriu para ambos.


O Árduo Trabalho de Aura

Parte 1
A aldeia dos Elfos Negros no Grande Mar de Árvores.

Não era diferente de uma aldeia de Elfos.

Por exemplo, a raça chamada Elfos Selvagens já foram Elfos comuns. A


mudança de habitat produziu mudanças não apenas na cultura, mas também
fisicamente, de modo que atualmente eram reconhecidos como uma nova
espécie.

Então, a razão pela qual as mudanças físicas ou mágicas não ocorreram


nos Elfos Negros foi porque, além de serem da mesma raça dos Elfos, eles
viviam no mesmo ambiente. Também quase não havia diferenças culturais, e
seu modo de vida era centrado nas Árvores Élficas. Assim, as profissões que
ganharam foram, assim como com os Elfos, principalmente ligadas a Ranger
e Druida.

As diferenças eram apenas a cor da pele, formas de repelir animais,


costumes e outros pormenores na melhor das hipóteses.

O dito repelente produzia seu efeito de repulsa usando aromas. Os Elfos


Negros aprenderam essa preciosa sabedoria dos Treants e outros habitantes da
floresta onde viviam antes de se mudarem para o Grande Mar de Árvores.
Ervas de odor forte foram plantadas ao redor da aldeia, criadas e espalhadas
em torno de um emplastro especial que repelia animais e — embora sua
eficácia tivesse que ser consideravelmente dividida entre duração e área de
efeito — usavam magia druídica.

Este método também se provou eficaz no Grande Mar de Árvores, e


comparado a outros povoados — sem contar a Capital Real — as aldeias dos
Elfos Negros eram seguras.

No entanto, os Elfos não conheciam esse método. Caso se popularizasse,


o efeito de repulsa produzido pelos odores diminuiria. Feras mágicas, assim
como outros animais, podiam parecer ignorantes, mas de forma alguma eram.
Pelo contrário, se descobrissem que a comida estava do outro lado desse véu
fétido, o nível de perigo aumentaria. Por essas razões, mesmo que não
nutrissem sentimentos ruins por seus parentes, eles não poderiam ensinar-lhes
esse método de mão beijada.

Contudo, no dia de hoje, os Elfos Negros, acreditando em sua própria


“segurança”, logo descobririam que estavam pisando em ovos.

Um rugido intenso pôde ser ouvido ao longe.

Essa era uma ocorrência rotineira no Grande Mar de Árvores. Seja no


raiar do sol ou tarde da noite, não havia dias em que os ruídos de animais não
pudessem ser ouvidos.

Além disso, havia espécies que, apesar de pequenas, tinham bramidos


surpreendentes. Então ouvir um único rugido não significava que algo estava
acontecendo.

Certamente eram assustadores. Havia várias espécies de feras mágicas


que podiam incutir poderes especiais em seus rugidos. Quem os ouvia ficava
assustado, confuso, perdia a vontade de lutar e, às vezes, havia alguns que
chegavam a causar exaustão.

Mas se fosse ouvido à distância, esses efeitos especiais não se


manifestariam. Resumindo, um único rugido distante não denotava perigo.

Todavia, naquele dia, um Elfo Negro pediu que todos ficassem em


guarda. A altura do mandante não estava fora da média para um Elfo Negro.
Contudo, seus membros longos, esbeltos e flexíveis, cujos movimentos
fluídos e eficientes davam à sensação de um poder oculto, facilmente o fazia
parecer maior do que sua real estatura.

Sua aparência jovial era bem harmônica e, mesmo dentro da aldeia, era
muito popular entre as mulheres.

Não havia ninguém entre os Elfos Negros vivendo no Grande Mar de


Árvores que não o conhecesse. Um experiente arqueiro de primeira linha,
ostentando o antigo e honroso sobrenome da Casa Blueberry — uma das 13
famílias ancestrais — que se tornaram as figuras centrais durante a Grande
Migração.

Em suas mãos, Blueberry Egnia segurava um arco composto ao estilo


cultural dos Elfos Negros, do qual havia poucos nesta aldeia.

Era um arco que ninguém poderia usar a menos que tivesse obtido uma
pontuação extremamente boa no “Torneio de Tiro com Arco” realizado na
estação em que as flores de Becoa desabrochavam — uma vez a cada três
anos.

Obedecendo ao chamado de Egnia, os soldados Elfos negros se reuniram


imediatamente. Embora fossem chamados de soldados, eram rangers que não
haviam saído para caçar, não soldados em tempo integral.

A aldeia onde Egnia morava era a maior nas proximidades. E, no


entanto, havia apenas cerca de 200 habitantes, então não tinham margem de
manobra para alocar guerreiros em tempo integral no local.

Na frente de seus colegas que se uniram a ele com olhares perplexos,


Egnia moveu levemente as orelhas — enquanto se concentrava nos sons
distantes, ele anunciou com uma voz firme:

“Vocês já devem saber o porquê os reuni aqui. Aquele rugido de agora a


pouco, eu já ouvi uma vez. É o rugido de um Ursus adulto, e dos grandes.”

Egnia sentiu que todos à sua volta imediatamente ficaram tensos.

Era óbvio o motivo. Qualquer Elfo Negro vivendo nesta floresta, mesmo
que fosse uma criança, sabia o nome da fera mágica que deveria ser mais
temida — Ankyloursus.

Na área ao redor dessa aldeia, havia várias espécies de monstros cujo


nível de perigo era alto, mas o Ankyloursus era o que estava no topo dessa
lista.
Talvez teriam chance se fosse um filhote, mas não era exagero dizer que
atacar um adulto — um totalmente crescido — significava morte. Sua couraça
repelia até flechas e sua força física poderia facilmente dividir um Elfo Negro
ao meio. Além disso, devido a todas as suas destrezas físicas serem altas,
fugir era consideravelmente difícil; verdadeiramente um monstro
aterrorizante.

“...Eu também ouvi um rugido, mas é mesmo de um Ursus? Tem certeza


de que não interpretou errado?”

Perguntou a Elfa Negra.

Uma dos 3 vice-mestres da caça, e uma ranger habilidosa que segurava


um arco composto como o de Egnia em suas mãos.

Parecia que mesmo ela estava em dúvida, se tratava mesmo de um


Ursus.

Além disso, um pássaro fofo chamado Uivador Plumado, por exemplo,


poderia imitar os rugidos de várias espécies de monstros. E havia outros
animais na floresta com habilidades semelhantes a essa.

Com esse tipo de animal nas cercanias, identificar o animal certo a partir
de um único barulho distante era extremamente difícil. A pergunta dela era
razoável. Todavia, Egnia era o melhor ranger dessa floresta. Ele superava
todos não apenas em sua habilidade com um arco, mas também na alta
amplitude de seus sentidos, e até mesmo sua competência de analisar esses
sinais tênues era a melhor dentre todos. Sua pergunta não se originou por
desconfiar de Egnia, mas sim pela esperança que ele estivesse errado.

“Sinto muito, mas não há dúvida. Mesmo que passe eras, jamais vou
esquecer daquele rugido que me fez ficar arrepiado — daqueles que faz você
sentir quanto é fraco. Ainda hoje posso ouvir se fechar meus olhos. Então
jamais me enganaria dessa forma.”

O próximo a falar foi o Mestre da Caça.


Os pilares da hierarquia na aldeia eram o Mestre da Caça, o Conselho de
Anciãos, o Farmacêutico Chefe e o Mestre do Rito. O Conselho de Anciãos
era composto por três membros, então ao todo haviam seis regentes.

Não havia um arco composto em suas mãos, contudo, era um ótimo


especialista em armadilhas, mas tirando isso da equação, suas habilidades
estavam muito atrás das de Egnia. Mesmo não podendo competir com um
arqueiro, não havia dúvida de que era influente e, embora fosse mais jovem
que Egnia, tinha uma personalidade calma e serena, um Mestre da Caça que
ninguém ousava falar mal.

“Um Ursus adulto... podemos confirmar que ele invadiu nosso


território?”

Na maioria dos casos, ele rugiria ao lutar contra um inimigo forte ou um


membro hostil de sua própria espécie. Caso contrário, poderia também estar
anunciando sua vitória ou declarando seu território. Às vezes até poderia estar
procriando. Entretanto, o mais provável era que alguém tenha entrado em seu
território.

Pois uma vez que um Ankyloursus estabelecesse seu território — a área


se expandiria à medida que seu corpo crescesse — ele raramente tentaria
dominar outro. E também era muito raro que caçasse fora dele.

Assim, era razoável pensar que alguém havia invadido.

“Haah... Que saco. Eu não sei quem ou o que invadiu o território dele.
Mas espero que o idiota que fez isso acabe na barriga do Ursus, assim aprende
a não perturbar a paz alheia.”

Os Elfos Negros ao redor concordaram com a reclamação do Mestre da


Caça. Egnia deu um sorriso irônico para seus colegas.

Considerando os instintos do Ankyloursus, contanto que não o


provocassem impensadamente, era de conhecimento comum que, de certa
forma, ele mantinha o ambiente equilibrado.
“O que diz é certo, mas não sabemos se já entrou ou não no território,
não é? Quando ouvi o Ursus rugir aquela vez, foi quando dois deles estavam
brigando. E a luta naquela vez aconteceu fora de seu território.”

“Hum, perdão por interromper, Egnia-san, eu tenho uma dúvida... Eu


mesmo ouvi algo muito baixo, mas já que mencionou, também acredito que é
o rugido de um Ursus. Porém, o território dele é bem longe daqui, não? Então,
por que chamou a todos?”

“Bem, não sei se aconteceu alguma coisa com o Ursus, mas algo fora do
comum está acontecendo para ele estar desse jeito. Talvez esteja mudando seu
território, ou talvez um rival apareceu. Enfim, há muitas possibilidades. Por
exemplo...”

Depois de respirar, Egnia continuou e disse:

“Talvez uma poderosa fera mágica esteja lutando e perca, mas ainda
pode conseguir fugir do Ursus. E pode acabar vindo à nossa porta. Então, por
precaução devemos colocar toda a aldeia em alerta. Mesmo que seja amanhã;
vamos na direção do rugido para ter uma noção do que aconteceu e do estado
da floresta.”

Todos os presentes concordaram.

Seria problemático se não entendessem as mudanças na floresta e


compartilhassem informações. Era extremamente importante para aqueles que
viviam das graças da natureza.

“—A caçada de hoje está cancelada. Talvez seja mais seguro impedir que
qualquer um entre na floresta, muito menos para caçar. Ainda temos comida?”

“Os estoques estão bem. Tiramos a sorte grande ultimamente. Mas por
via das dúvidas, devemos informar o mais rápido possível o Mestre de Rito do
que está acontecendo, para que ele possa começar a produzir frutos. Não
sabemos quantos dias levará até terminarmos de confirmar a segurança dos
arredores.”
“A seguir... bem. É de bom tom conversar com os Anciãos a respeito.
Pediremos aos Anciãos que disseminem a informação para todos, talvez assim
algum desavisado entenda o que está acontecendo e que não é para entrar na
floresta.”

Após Egnia solicitar os ditames, todos trocaram opiniões. Ninguém


disse: “Você se preocupa à toa”. A floresta trazia bênçãos, mas também
lançava infortúnios. Ser cauteloso e não negligenciar os menores dos maus
presságios era crucial para viver no Mar de Árvores.

Era preciso deixar todos avisados da possibilidade de que a ordem da


floresta estivesse abalada.

“E quanto às demais aldeias? Devemos contatá-las assim que tivermos


alguma noção da situação? Ou é melhor informar agora mesmo?”

“As duas opções têm seus méritos, mas também podem estar
equivocadas... Por que não deixamos as decisões nas mãos dos Anciãos?”

“Ei, calma aí, é melhor termos uma opinião geral. Se for decidido por
maioria, será útil termos nosso posicionamento bem embasado caso aqueles
velhos cabeças-duras fedendo a peido proponham algo sem sentido.”

“...Olha os modos, Ganen. Ninguém aqui duvida que eles podem ser
inflexíveis às vezes, mas os Anciãos têm experiência de sobra. Vamos apenas
escolher um caminho que pode ser considerado mais seguro se fizermos bom
uso da sabedoria deles.”

O Vice-Mestre da Caça — Plum Ganen — foi repreendido pelo Mestre


da Caça.

“Mas—”

Ganen, frustrado, tentou protestar, mas sua boca foi coberta pela mão de
Egnia.
“—Já falou demais. Como estão todos cientes do porquê os chamei, há
algo mais que precisamos considerar. E você, conhece bem a ameaça que um
Ursus representa, não é?”

Sabendo que Ganen ficaria calado, Egnia removeu a mão e soltou um


suspiro interno.

Todo mundo está cansado de saber que não tem problema se opor aos
Anciãos, eu só gostaria que você considerasse a hora e o lugar.

“Enfim, devemos priorizar o que vamos fazer sobre a vigilância, então


vamos deixar a conversa com os velhos peidões para mais tarde, tudo bem?
Afinal, é muita gente.”

“Se vamos ficar de guarda o dia todo, melhor fazer isso em três turnos. E
é bom considerar os dias seguintes.”

Eles de certa forma estavam acostumados a vigiar o dia todo, se alguém


lhes lançasse alguma magia que removesse a fadiga, poderiam prolongar para
até o dia seguinte.

Se fossem fazer uma investigação até nos limites do território do Ursus,


eles evitariam ao máximo que seus sentidos ficassem entorpecidos.

“Você tem razão. E também—”

Eles ouviram mais um rugido. Com uma expressão tensa, todos olharam
intensamente na direção do som.

“Parece que está mais perto, não?”

Disse um deles, expressando o desconforto de todos. Egnia assentiu com


uma simples concordância.

“Como o Egnia disse há pouco, não pode estar perseguindo algo que
entrou em seu território e depois escapou?”
Ankyloursi tinham uma tendência a reivindicarem suas presas. Se um
animal que consideravam sua presa escapasse, eles o perseguiriam mesmo
fora de seu território. Mas perseguir enquanto rugia era um pouco diferente da
imagem que tinham em suas mentes, era mais compreensível se viesse de
quem estivesse fugindo com o rabo entre as pernas.

“Se for isso mesmo, uma presa fugitiva, ajudamos o Ursus a pegar
quando ela chegar aqui, ele vai ficar de barriga cheia e a aldeia vai ficar mais
segura, não acham...?”

“Nem pense nisso! Só vai deixá-lo ainda mais irritado. Primeiro, há uma
boa chance de que a presa tenha a capacidade de fugir do Ursus por mais um
bom tempo. Se a presa vier em nossa direção, devemos pelo menos afastá-la.”

“Não, arriscado demais. Vai querer o Ursus rondando perto da aldeia?


Imagine o problema se ele pensar que aqui é sua praça de alimentação.
Devemos posicionar alguns fora da aldeia, e se o Ursus ou a presa aparecem,
vamos dar um jeito de levá-los para uma direção diferente.”

Era ótimo ver esse conglomerado de opiniões, mas não era como se
pudessem perder muito tempo com isso. Ele realmente não queria se
intrometer, mas não podia deixar de falar. Egnia bateu palmas uma vez e
chamou a atenção de todos para ele.

“Seja qual for a situação, o fato é que isso é anormal. Devemos agir
agora. Se o Ursus retornar ao seu território, tudo bem. Mas se não acontecer...
se ele perder a presa de vista mesmo depois de deixar seu território—”

Egnia olhou para todos:

“—Ainda mais se perder nas proximidades da aldeia, seria um dia


daqueles.”

Quando imaginaram a possibilidade, todos franziram a testa.

“Primeiramente, o importante é pedir a ajuda de todos na aldeia, apenas


nós não daremos conta. O poder dos druidas será absolutamente necessário.
Então, o Farmacêutico-Chefe deve ter algum veneno capaz de afetar até
mesmo um Ursus.”

Para feras mágicas do tipo besta como o Ursus, em vez de tentar


derrotá-las com ataques físicos, a magia que manipulava mentes era mais
eficaz. Mesmo contra um oponente protegido por uma couraça, gordura e
músculos volumosos, era possível causar dano superior ao de arcos e flechas
usando magia — por exemplo, levaria dano se tocasse nas chamas dos Fire
Elementals que os druidas podiam convocar — e outros métodos semelhantes.

Eles dificilmente venceriam se lutassem diretamente, mas se usassem


magia e outros métodos, então poderiam repetir os feitos do passado, onde de
alguma forma, triunfaram contra uma fera mágica que rivalizava com um
Ursus.

“Já perdemos tempo demais discutindo. Precisamos agora mesmo,


mas...”

Egnia olhou para o Mestre da Caça:

“—Podemos deixar essas responsabilidades para você?”

“Haa—”

O Mestre da Caça relutantemente balançou a cabeça:

“...Acho que não tem outro caminho. Atenção pessoal. Quero os


melhores fortalecendo as defesas da aldeia. Aos demais, alertem todos.
Quando terminarem sua parte, protejam os incapazes de lutar. Beniri, lide com
a divisão do pessoal. Ganen vá ao Farmacêutico Chefe, e você, Ovei vá ao
Mestre do Rito e conte aos outros. Eu irei ao Conselho de Anciãos. Estão
esperando o quê? RÁPIDO! SEM MOLEZA! VÃO!”

Quando Egnia se preparava para sair, o Mestre da Caça enviou-lhe um


sinal, então ele foi ao seu encontro.
“Já tem um tempo que penso nisso... você é a pessoa com as habilidades
mais notáveis em toda a aldeia, não deveria assumir o papel de líder de uma
vez?”

“Não faria tudo ser mais burocrático ainda? Meu nome, embora seja uma
herança de minha família, é um pouco conhecido nas outras aldeias.”

“Um pouco é ser humilde demais."

Ignorando as palavras do Mestre da Caça, Egnia continuou:

“Se eu aceitasse um cargo desse, só geraria mais conflitos entre as


aldeias, mais do que já tem.”

“...Gah, minha cabeça até dói...Você acha que as coisas seriam diferentes
se os Anciãos dessem um passo para trás, um pequeno, sabe? Só um tiquinho
mesmo...”

“Deixa de sonhar acordado. O que aconteceria é; se intrometerem menos


agora, menos eles vão se intrometer no futuro, sabe como eles são. E mesmo
que todos os Anciãos se aposentem, o problema viria das outras aldeias.
Podemos dizer que aqueles cabeças-duras que mantêm as coisas
equilibradas.”

“O que podemos fazer para dar um jeito nisso?”

“Nada, não tem como.”

“Esperar até que algo sem solução aconteça, então?”

O Mestre da Caça ficou em silêncio.

“É, estou indo defender a aldeia.”

“Tudo bem, estou contando com você.”

Despedindo-se do Mestre da Caça, Egnia assumiu sua posição e


enquanto continuava sua vigília na direção do rugido, parecia que a
informação estava se espalhando rapidamente dentro da aldeia. Isso não foi
apenas porque os rangers estavam espalhando as notícias, era graças a um
sistema bem desenvolvido de entrega de informações que usavam no dia a
dia, uma solução que desenvolveram por viverem cercados de monstros.

Menos de dez minutos depois, o Mestre do Rito começou a produzir


comida. O Farmacêutico Chefe também já havia enviado a Egnia o potente
veneno e seu antídoto, só por precaução.

O tempo passou com eles em alerta.

Eles não ouviram o rugido do Ursus desde então. A tensão entre os


rangers começou a diminuir. Foi o mesmo para Egnia; ele relaxou os ombros
e massageou a rigidez das mãos que seguravam seu arco.

O Ursus pegou sua presa? Ou pode ter retornado ao seu território porque
sua presa escapou. Seja qual for a resposta, o Mestre da Caça estava de pé ao
lado dele.

“...Só por segurança, melhor ir investigar seu território, algo rápido.


Posso contar com você para isso?”

“—Pensei que nunca ia perguntar. Deixe comigo.”

Ele já estava pensando para onde iria quando adentrasse em seu


território.

Egnia encarou intensamente a direção onde ficava o território da criatura,


tentando ver quaisquer resquícios da silhueta do Ursus. Não tardou para ter a
sensação de ter visto algo grande atrás das árvores.

“Chichii!”

Egnia vibrou os lábios e fez um som que parecia o piar de um pássaro.


Não era um som qualquer, era algo especial que Egnia poderia emitir através
do domínio de sua profissão, informaria a seus colegas que ouvissem para
estarem em guarda. Ao fazer isso, os aliados atentos a esse som não seriam
pegos por um ataque surpresa ou ficariam encurralados.
A tensão no ar voltou a se intensificar.

Ao sentir que todos estavam bem atentos a seus movimentos, Egnia


indicou, usando o queixo, a direção onde acabara de ver o vulto. Seus olhos e
ouvidos prestavam total atenção na dita direção.

Por favor, que seja minha imaginação.

Tomara que tenha interpretado errado.

Que seja apenas um mal-entendido.

Ele só viu a silhueta por um momento. Em um piscar de olhos tinha


desaparecido em meio às sombras das árvores longínquas. Era mais do que
possível que tivesse se confundido. No entanto, como um ranger altamente
competente, a excelente visão de Egnia frustrou até mesmo suas próprias
expectativas.

“...É o Ankyloursus...”

Apesar de falar por reflexo — seus dizeres foram audíveis para todos,
trazendo o terror que batia à sua porta.

Não havia como negar, qualquer um podia vê-lo agora.

Uma enorme sombra se aproximava lentamente por entre as árvores.

Era o Destruidor do Grande Mar de Árvores — o Ankyloursus.

No entanto—

“H-hey, Blueberry-san. Aquela... coisa não é... grande demais? Os Ursi


são todos grandes assim?”

Indagou um jovem arqueiro enquanto engolia seco.


Por estar distante e escondido pelas árvores, eles não puderam confirmar
definitivamente. Ao compará-lo com as árvores ao redor, poderiam obter uma
aproximação grosseira. Era muito grande, ou melhor, era gigantesco.

“...Sumomo. O que eu vi antes não era tão grande. Não pensei que ficaria
maior. Eu sei que crescem rápido, mas isso é um espécime anormal... se não
tivermos sorte, o que estamos lidando aqui é um...”

Egnia disse como se as palavras estivessem sendo espremidas dele:

“...Lord.”

O clima ficou austero.

Seres muito díspares do tamanho usual, com pêlos de cores diferentes,


outras mudanças peculiares ou com poderes únicos, eram chamados de
espécimes anormais nessa aldeia. Entretanto, mesmo entre essas gamas de
mutações havia aqueles que se sobressaiam acima de todos. Eram seres de
evolução atípica, que reinavam no auge de sua espécie e, ocasionalmente,
tinham atributos acima da média em todos os quesitos. Portanto, tais
indivíduos recebiam a alcunha de Lord.

Se o que estava diante de seus olhos fosse isso, significava que seria
muito mais forte que os outros de sua espécie.

Mesmo um Ankyloursus comum era um oponente preocupante, mas se


toda a aldeia lutasse junta, provavelmente seriam capazes de rechaçá-lo. No
entanto, se a fera mágica diante de seus olhos fosse realmente um Ursuslord,
era totalmente inimaginável que houvesse sobreviventes.

“Não pode ser! Só tinha ouvido dizer que tinha um ser do tipo Lord mais
ao norte!”

Um dos arqueiros exclamou tão intensamente que perdigotos voaram de


sua boca. No entanto, eles controlaram o volume de suas vozes para não
provocar o Ursus.

“Que porra aconteceu na Aldeia de Aju?”


Era uma aldeia de Elfos Negros — eles souberam por boatos que existia
um Lord nas proximidades da Aldeia de Aju. Lords não eram algo que
apareciam com frequência. Sendo assim, poderiam considerar que se tratava
do mesmo espécime de Lord que habitava nas proximidades da Aldeia de
Aju.

“—Eles foram exterminados?”

Se o Lord mudasse seu território, ou se estivesse começando a se mover


na direção dessa aldeia, alguém da Aldeia de Aju deveria ter vindo avisá-los.
Mas ninguém tinha vindo. Apesar disso, a criatura estava bem ali.

O silêncio recaiu sobre todos. Se avançassem na direção de onde


ouviram o rugido pela primeira vez, encontrariam a Aldeia de Aju.

...Então a Aldeia de Aju virou um campo de alimentação, deve que o


Ursus aprendeu que há comida dentro da barreira fétida, e é por isso que está
se comportando desta maneira.

Ninguém queria dizer isso, mas todos chegaram à mesma conclusão.

Pinceladas de desespero deram cor à tensa atmosfera que se formou.

Mesmo que tivesse adquirido o gosto por Elfos Negros na Aldeia de Aju,
não deveria saber que havia comida fresca aqui.

Haviam muitos Ankyloursi com preferências culinárias. Eles eram


onívoros, mas tinham alimentos específicos que preferiam comer. Se os Elfos
Negros satisfizessem seus gostos exigentes, eles teriam que abandonar essa
aldeia, e mesmo que fizessem isso, não significava que não os perseguiria.
Portanto, era preciso levá-lo para longe e depois despistá-lo.

No entanto, havia um problema.

“Não, ainda não podemos concluir que a Aldeia de Aju foi exterminada.

Todos os olharam para Egnia, que finalizou:


“Como testemunhei antes, há um Ursus nessa área. Se viesse um Lord da
Aldeia de Aju, se tivesse invadido o território do Ursus. Seria estranho não os
ouvir brigando. O que estou tentando dizer é... o Ursus que originalmente fez
da região seu território, provavelmente evoluiu e se tornou um Lord.”

Ainda havia uma chance de que fosse o Lord da Aldeia de Aju. Se o


Lord invasor e o Ursus não fossem de sexos diferentes, provavelmente não
haveria briga. Também havia a possibilidade, por menor que fosse, que
estivessem cooperando mutuamente.

Contudo, se a Aldeia de Aju sobrevivera ou não, não era importante para


suas circunstâncias atuais. O que deveriam estar pensando agora era, se o
Ursus não mudar de direção, o que eles deveriam fazer, qual seria a melhor
decisão a se tomar?

Se fosse esse o caso—

“—Lutar contra um Lord é suicídio. Não há outra maneira senão


convocar elementais e fugir enquanto ganham algum tempo para nós.”

“Você acha que vai adiantar alguma coisa!? Ele vai nos perseguir e vai
nos achar! O melhor é encher a barriga dele com tudo que temos em estoque.”

“Concordo! Ursi têm tendência a se comportarem como ursos. Devem


adorar mel! Vamos preparar uma carne no mel e jogar—”

Naquele momento, um rugido tão estrondoso foi ouvido que deu a


impressão de fazer os céus, a terra, as árvores e até seus corações tremerem.
Não podia mais se esconder nas sombras das árvores.

O Ankyloursuslord avançava lentamente.

A respiração dos Elfos Negros tornou-se rápida e curta. Suas mentes


ficaram brancas. Quaisquer que fossem as sugestões que tinham momentos
antes foram obliteradas.
Ao sentirem a diferença entre suas respectivas forças, eles amuaram.
Não era como se aquele rugido tivesse um efeito especial que induzisse medo
ou outros efeitos mentais.

Esta foi a simples, e fatal, reação daqueles que entenderam onde estavam
na cadeia alimentar. Tamanho fôra o choque que os Elfos Negros se viram
impotentes, como seres prestes a serem pisoteados.

—Mas que droga.

Quase todos estavam convencidos da tragédia vindoura, e tentaram


controlar sua angústia. No entanto, ainda era cedo para desistir.

“—ACORDEM!!”

O grito de repreenda os despertou.

“Ac, acr, acordar? Mas o que faremos!?”

“Sei lá, porra!”

Egnia respondeu à pergunta estridente da Elfa Negra sendo curto e


grosso.

“Haa, por que você acha que eu sei?”

“Você só está nervoso...”

“Você não colabor— Escuta aqui! De onde tirou que eu teria algum
plano milagroso!? Eu não tenho, mas não podemos ficar parados! Ficar
parado aqui não vai resolver nada! Vamos nos espalhar, depois vemos o
que—”

Seu objetivo também era aterrorizá-los? Pois o ritmo do Ursuslord era


surpreendentemente lento.

Sua cabeça estava abaixada tentando farejar os Elfos Negros entre as


flores plantadas ao redor da aldeia. Por alguma razão, a palavra “rastejar-se”
combinava com sua atitude que dava essa impressão. Estava ferido? Se não,
estava enfermo ou mesmo sendo afetado por algum tipo de veneno? Cada
vislumbre dessas possibilidades dava-lhes esperança, mas sem dúvida era
apenas uma espécie de escapismo em vista de uma situação extrema.

Vale a pena atacar? Não há necessidade de provocar ainda mais sua ira.
Não tenho dúvida que está vindo em nossa direção. Devemos fazer o primeiro
movimento... as flechas serão capazes de atingi-lo. Além disso, tenho certeza
que todos se preparam para o pior. Se eu for capaz de chamar sua atenção,
talvez eu consiga separá-lo da aldeia... Calma... Há também uma maneira
alternativa de fazer isso...

“...Óleo.”

Quando Egnia murmurou, por um momento olhares perplexos


apareceram nos arqueiros ao seu redor, mas instantaneamente entenderam o
que quis dizer.

“É isso! Vamos banhá-lo com óleo e depois ateamos fogo usando um


Fire Elemental!”

“Grande daquele jeito, vai ser difícil evitar o óleo!”

“E invocamos Water Elementals para garantir que as chamas não se


espalhem!”

Não havia muito óleo na aldeia. Não é como se fosse difícil de encontrar,
mas sim que não lhes era de muita utilidade, era um dos bens que não
armazenavam propositalmente.

Gritando “Estou indo”, um dos Elfos Negros saiu correndo, indo para o
centro da aldeia. Ele provavelmente pretendia informar um dos druidas que
geralmente estava no armazém. Seria um problema se gastassem todo o seu
poder mágico em comida, sem saber sobre o estado atual das coisas.

No mesmo instante, o rugido do Ursuslord tremeu o ar. Mesmo que


tenha surtido o mesmo efeito de antes, agora eles tinham se decidido e não
seriam mais abalados.
“Mas o que está acontecendo?”

Um dos Elfos Negros indagou curiosamente. Não era apenas Egnia,


todos os rangers faziam a mesma pergunta.

Por causa da natureza dos Ankyloursi, deveriam ter feito uma investida
imediatamente, mas não havia sinal disso. Parecia que estava desmotivado—
não, quando se tratava de um Lord, provavelmente tinha objetivos mais
obtusos.

Enquanto examinavam a situação, desta vez o Ursuslord se levantou e


rugiu.

Fazer-se parecer maior e intimidar seu oponente era uma típica ação de
um animal. Entretanto, o que não entendiam era, por que não estava
atacando?

Não era um mero animal selvagem, mas sim uma fera mágica. O
Ursuslord era um ser bastante inteligente. Mesmo que tenha confirmado que
fracotes estavam bem a sua frente, por que ele seguia o ditado de ladra, mas
não morde?

Seus rugidos de agora a pouco tinham algum tipo de significado?

“Ei, será que ele não está treinando seus filhotes?”

Isso explicaria razoavelmente o comportamento anormal, Egnia também


concordou em pensamentos com quem quer que tenha dito.

Um pai levaria a criança junto quando saísse para caçar, a criança


aprenderia observando a caça do pai e aprenderia como capturar cada tipo de
presa. Era uma regra da natureza, se saísse do ninho sem adquirir nenhuma
habilidade de caça, morreria dias depois de fome. O comportamento atípico
do Ursuslord poderia ser ele tentando ensinar seu filhote, que estava
observando-o de algum lugar, sobre a comida conhecida como Elfo Negro.
“Se for isso, podemos fazer algo considerando o futuro, não seria melhor
por na cabeça dos filhotes que nós somos uma presa que não vale a pena?
Será um problemão se formos lembrados como mera comida.”

“Mas o Ursus não vai ficar fora de controle se fizermos algo com sua
cria?”

“O filhote pode não ser tão inocente... pode ser que a carne com mel não
faça nada. Se for um treino de caça, provavelmente só comerá isca viva. Mas
compensa tentar, não?”

De repente, o Ursuslord torceu o focinho e começou a correr na direção


dos Elfos Negros.

Aquela aparência abatida que tinha até um momento atrás já havia


desaparecido. Curiosamente, eles não podiam sentir uma intenção assassina
iminente. Havia algo diferente. Por apenas um instante, Egnia olhou para trás
do Ursuslord. Ele teve a sensação de que tinha o comportamento
característico de um animal domado—

—Estou imaginando coisas. Até porque não deve haver nenhum ser
capaz de domar um Ursuslord.

“Não faz sentido... eu não entendo o que está acontecendo.”

Não era apenas Egnia, muitos de seus amigos também estavam confusos.

Eles não podiam ler quais ações o Ankyloursuslord tomaria. Seria um


erro tentar entender a fera mágica que era o rei da floresta, este foi o primeiro
inimigo que sua experiência e intuição de rangers se provaram inúteis.

No entanto, mesmo sem saber como agir, eles atravessaram uma das
pontes e recuaram. Era um fato inegável que o Ursuslord avançava na direção
deles. Se não tivessem agido, se tornariam a presa do Ursuslord.

O Ursuslord, que agora havia chegado à base da Árvore Élfica, onde


ninguém permanecia, apoiou-se nas patas traseiras.
Era gigantesco.

Alcançava facilmente as pontes suspensas.

E então moveu um de seus braços maciços.

O ataque sacudiu ferozmente a Árvore Élfica, e seu tronco foi arrancado


como se tivesse explodido.

As pontes que ligavam as árvores se curvaram, e os Elfos Negros se


agarraram desesperadamente aos lados para não perderem o equilíbrio.

A circunferência externa da Árvore Élfica era especialmente forte.


Afinal, havia tido seu crescimento acelerado usando magia, garantindo-lhes
grandes quantidades de nutrição para crescerem fortes e graúdas. A imensa
árvore, que tinha a robustez de repelir qualquer ataque de monstro, foi
reduzida a cacos em um instante. Esta era a prova basal de que a força física
do Ursuslord excedia em muito a de qualquer outro monstro invasor que já
presenciaram.

“Que monstro maldito...”

“Podemos dizer que é tão forte quanto imaginávamos, mas diante dessa
coisa... é realmente terrível...”

“—Não é hora de ficar impressionado. O que vamos fazer? Como


podemos limitar os números de vítimas?”

Precisou de apenas um ataque para perderem a vontade de lutar e


passarem a lamentar.

Ninguém podia julgá-los, afinal, ao testemunhar em primeira mão um


ataque que eles mesmo nem sequer seriam capazes de replicar, onde até
mesmo um raspão resultava em morte era de fato aterrorizante.

O Ursuslord continuava a atacar a mesma Árvore Élfica, como se


quisesse descontar sua ira.
Era um comportamento muito anormal, mas não parecia que estava
confuso por ser vítima de algum ataque mental. Parecia que guardava algum
tipo de rancor especial contra as Árvores Élficas. Às vezes ele parava e dava
uma espiada em Egnia e nos outros Elfos Negros, antes de começar a atacar a
árvore novamente.

Não parece que está ensinando um filhote... não é...?

Não havia nenhum sinal da existência de um filhote em qualquer lugar


ao redor do Ursuslord.

Egnia olhou para a aljava presa em sua cintura, assim como para as
flechas dentro dela.

Algum Elfo Negro o atacou, só para provocar ele? É por isso que
guarda rancor contra as Árvores Élficas?

Os Elfos Negros eram os únicos que achavam que as Árvores Élficas não
tinham cheiro, mas não era necessariamente verdade que criaturas com um
excelente olfato, como o Ankyloursus, não notassem. Se fosse apenas isso,
então só precisavam abandonar essa aldeia e estariam seguros por enquanto.

Não, nada é tão fácil assim. Ele vai ficar com fome depois de descontar
essa fúria toda... e pode vir atrás de nós ao farejar nossos cheiros. Realmente,
é melhor dar a carne coberta de mel, e rezar para que seja suficiente para
satisfazê-lo. Mas, o que me preocupa são essas olhadas que ele dá... parece
que está pensando em algo.

O olhar do Ursuslord tinha nuances de tremulação.

“Será que seu objetivo é nos manter presos aqui?”

“Pode ter um espécime diferente indo para a aldeia de outra direção?...


Mas ele realmente faria isso? Ainda mais um Ursuslord?”

“Talvez queira nos expulsar daqui, não? Talvez haja outro Ursus
esperando para nos emboscar para onde fugirmos, ou algo assim.”
“Eu nunca ouvi falar de Ursi caçando juntos... não consigo pensar em
nada mais. Então não temos outra escolha a não ser cada um fugir para um
lado, huh? Se cada um fugir levando provisões, pode ser que ele se acalme
enquanto estiver comendo, o que acham?”

“—É só isso que nos resta?”

“Não me olhe assim. Não é como se estivéssemos abandonando para


sempre. Podemos voltar assim que o Ursus se for.”

Mesmo consolados, não conseguiam imaginar as coisas indo tão bem.

Isso foi por causa dos sons de moagem que o Ursuslord fazia enquanto
cortava a Árvore Élfica. Pois talvez quisesse fazer dessa área seu território.

Se seu motivo fosse esse, então não havia outra maneira senão Egnia e
os outros deixarem tudo para trás e abandonarem a aldeia.

Através dos efeitos da magia, o crescimento de uma Árvore Élfica era


incrivelmente veloz. Mas mesmo que crescesse rápido, não era da noite para o
dia. Para os Elfos Negros que viviam em simbiose com as Árvores Élficas,
abandonar uma era o mesmo que perder tudo. Quantos sacrifícios teriam que
fazer se não tivessem permissão para habitar as aldeias vizinhas até que
pudessem mais uma vez crescer uma grande Árvore Élfica?

“É. Vamos fugir da aldeia enquanto damos a carne com mel para o
Ursus.”

Todos concordaram com as palavras do Mestre da Caça, que continuou:

“Por enquanto, Sumomo e Prune vão preparar a carne com mel. Os


outros ficarão aqui e chamarão a atenção do Ursuslord para que ele não entre
na aldeia.”

Os dois jovens arqueiros correram para o centro da aldeia.

O Ursuslord, que já havia reduzido uma Árvore Élfica a pedaços e já


passara para a próxima, de repente parou de balançar as garras.
Antes que Egnia e os outros poderiam pensar: “O que deu nele?” o
Ursuslord começou a se mover.

Visando o centro da aldeia.

“Pare!!”

Egnia imediatamente sacou duas flechas de sua aljava e as preparou. No


canto de sua visão, ele viu que seus amigos estavam segurando seus arcos,
prontos para atirar.

Ele simultaneamente ativou uma habilidade e disparou as duas flechas.

Ambas as flechas atingiram o enorme corpo do Ursuslord e— foram


repelidas.

No instante seguinte, várias flechas foram disparadas.

Todas as flechas foram repelidas, mesmo atingindo o rosto ou as patas do


Ursuslord. Já as que não acertaram, acabaram perfurando o chão ou as árvores
próximas a ele.

Não que tivessem uma mira ruim. Mesmo que a criatura se movesse, seu
corpo era tão grande que fez dele um alvo fácil.

O objetivo daquelas flechas não era causar dano, mas sim chamar a
atenção do inimigo e ganhar algum tempo.

No entanto, o Ursuslord não parou nem por um instante. Tudo o que fez
foi dar uma olhada na direção deles.

“Que droga!”

—Nosso oponente está no topo da cadeia alimentar, certo? Então por


que caralhos ele ignora seres de baixo escalão como nós? Ele não nos vê
como fracos? Parece que ele tem algo em mente... será que já atacou uma
vila de Elfos Negros em algum outro lugar antes? Ele sabe que os mais
indefesos estão no centro da aldeia? Então está tentando deduzir sua
localização nos intimidando? Talvez tenha aprendido a caçar desse jeito
quando era fraco, então ao invés de nos ignorar, o Ursuslord está visando
alvos mais fracos!?

Era precisamente porque esse tipo de caçada tinha dado certo no passado
que faria a mesma coisa novamente, fazia todo o sentido. Mesmo que tenha se
tornado um Lord poderoso, ele ainda fazia bom uso de suas experiências
passadas.

Ao considerar essa possibilidade, então atacar as Árvores Élficas sem


parar foi provavelmente para reunir os mais fortes, ou algo nesse sentido. Ao
ver suas ações por essa ótica, as contradições e seus comportamentos
estranhos de repente faziam total sentido.

E mesmo isso pode ser baseado em uma experiência bem-sucedida em


uma caçada anterior. Seja como for, no momento em que consideraram essa
possibilidade, havia apenas uma coisa que Egnia e os outros poderiam fazer a
respeito.

Não permitir que o Ursuslord fosse para o centro da aldeia — onde as


crianças e os outros deveriam estar.

“Atrás dele!”

O Mestre da Caça nem precisou dizer nada. Todos pularam da ponte e


correram pelo chão.

Se corressem pelas pontes suspensas das Árvores Élficas, teriam que


fazer pequenos, mas inevitáveis desvios. Era extremamente perigoso correr
em um lugar onde as patas do Ursuslord podiam facilmente alcançá-los, mas
eles não tiveram escolha a não ser fazê-lo. Além disso, mesmo que o
Ursuslord se virasse e começasse a atacá-los, eles ainda conseguiriam ganhar
algum tempo.

Parecia difícil para o grande Ursuslord correr pelos amontoados de


Árvores Élficas, e mesmo que houvesse um precipício separando suas
destrezas de corrida, isso não lhes afetaria se corressem pela aldeia. Pelo
contrário, Egnia, que se orgulhava de ter as habilidades físicas mais
destacadas entre os Elfos Negros, conseguiu diminuir a distância rapidamente.

Ele podia ouvir gritos vindos da direção que estavam indo.


Não era de alguém sendo atacado, mas sim porque as pessoas no centro
da aldeia viram a figura do Ursuslord.

Porra!

Havia uma praça no centro da aldeia, mas não ficava no chão. Era um
lugar que parecia uma bandeja de madeira suspensa no ar e era mantida no
lugar pelas pontes que se estendiam das árvores.

Quando o Ursuslord chegou ao local, ele se levantou e, após erguer seus


dois braços imensos, rugiu novamente.

Era mais alto do que antes e teve potência mais do que suficiente para
fazer todos lá dentro ficarem sem ação. A praça estava suspensa do chão por
enquanto, mas o enorme corpo do Ursuslord poderia facilmente alcançá-la.

Tamanho fôra o rugido que aterrorizara todos que viam as dimensões


daquela estrutura maciça. Essa combinação dera a ele um poder de luta que
deixou muitos dos que viram — pessoas de baixo nível, arqueiros novatos e
crianças — petrificados.

Egnia jogou de lado seu arco composto e esvaziou ambas as mãos.

Esses arcos eram os tesouros dos Elfos Negros. Os materiais usados para
confeccioná-los não eram desta floresta, mas sim da terra onde viveram.
Haviam poucas peças sobressalentes para consertá-los e nunca mais poderiam
ser feitos. Ele provavelmente seria repreendido pelos Anciões por tratar algo
tão importante com tanta rispidez. Contudo, ele não teve tempo de guardá-lo
com o devido esmero.

“UoOOO!”

Egnia gritou para elevar seu próprio moral e pulou no Ursuslord para
tentar desviar sua atenção da multidão. Quando se agarrou àquele corpo
imenso, usou a pele dura e áspera como apoio para escalar como se estivesse
correndo pelas costas.

“—GoO!”

O Ursuslord se enfureceu, torcendo seu corpo para tentar se desvencilhar


de Egnia.

Em um instante, seu corpo se desprendeu, e parecia que seria


arremessado pela força centrífuga, mas de alguma forma ele conseguiu
resistir. Assim, ele foi capaz de alcançar a parte de trás de sua cabeça. A raiva
do Ursuslord ficou ainda mais colérica.

Era óbvio o porquê. Mesmo um Elfo Negro agiria da mesma maneira se


uma abelha estivesse zumbindo em seu pescoço.

Egnia se aproximou do pescoço do Lord, como se estivesse preso a ele, e


segurou com todas as forças para não cair.

Era estranho que não estivesse rolando no chão ou arranhando-o com


aquelas garras monstruosas, hoje a sorte estava do lado de Egnia, e deveria ser
grato por isso.

“O que estão esperando!? Saiam daqui!”

Ele não pretendia fazer qualquer barulho, mas não podia evitar. Na
verdade, os movimentos do Ursuslord pareciam se tornar mais intensos em
resposta à sua voz. Flechas vieram voando como se quisessem impedi-lo.
Alguém forte e com boa mira poderia ajudar em algo, e Egnia dificilmente
seria atingido.

No entanto, nenhum dos disparos de Egnia perfurou sua couraça. Não


havia sinal de que as flechas estavam ferindo o Ursuslord. Se não pudessem
sequer arranhá-lo, de nada adiantariam flechas cobertas de veneno.

Egnia segurou o mais firme que pôde. Não havia como ele se separar do
Ursuslord, agora.

O que parecia ser uma quantidade anormalmente longa de tempo se


passou, e o movimento do Ursuslord se tornou um pouquinho mais lento.
Nutrir tanta raiva provavelmente o havia desgastado. Ainda assim, seu
oponente era um Lord. Sua resiliência nem deveria ser algo mensurável pelo
bom senso. Não havia dúvida de que não tardaria para se recuperar e logo
entraria em fúria novamente.

As mãos de Egnia estavam dormentes. Dificilmente suportaria o


próximo sacolejo.

Esta era sua última chance.

Ele estendeu uma mão à cintura e sacou a adaga de lá.

E então, em uma respiração, ele se levantou até que estivesse a uma


distância onde pudesse alcançar as partes do Ursuslord que pareciam
vulneráveis — seus olhos e nariz. Tinha partes, como o pescoço, que não
tinham armadura. Porém, havia uma densa camada de carne e pele nesses
lugares. Ele não tinha confiança de que poderia causar qualquer dano com a
adaga que empunhava.

Naquele momento, o corpo de Egnia flutuou suavemente. No instante em


que ele soltou uma mão, o Ursuslord sacudiu violentamente seu corpo.
Mesmo que por um milagre ele tivesse conseguido fazer uso de toda a
extensão de sua força, não havia como ser capaz de suportar em sua postura
atual sem uma mão segurando.

Sua visão girou em círculos, ele podia ouvir gritos vindos de algum
lugar.

Merd—

Uma vez que percebeu o que estava acontecendo, imediatamente jogou


fora sua adaga e levou a mão à cintura. O que ele tirou foi uma pequena
algibeira de couro.

Ele caiu no chão com força. O impacto havia expelido todo o ar de seus
pulmões e, por um instante, ficou totalmente sem ar.

No entanto, mesmo em agonia, sua determinação suplantava a dor.

Egnia, que estava caído, olhou nos olhos do Ursuslord que se erguia na
frente dele.

Ele não conseguia se mover.

Seu corpo estava petrificado pela pressão emanada pela criatura.

Ele sabia que tudo estaria acabado se fizesse um movimento errado.

O bufar do Ursuslord chegou até ele. O fato de ter um cheiro tão


agradável era surpreendente— ou melhor, era até espantoso.

Egnia teve a impressão de ver escárnio vindo da bocarra da criatura.

Não havia mais nenhum pensamento ou hesitação restante. Ele já havia


se preparado para o pior.

Pode vir. Coma minha carne junto disto.

Ser comido pelo Ursuslord era a pior coisa que poderia acontecer. Pois a
criatura tomaria gosto pelo sabor de Elfos Negros.
No entanto, e se não gostasse do sabor?

Ele afrouxou o cordel ao redor da boca da algibeira de couro que


segurava com força.

Era o veneno que lhe fôra dado de antemão. Quando considerou o


tamanho do Ursuslord, achou que a dose contida lá era ínfima.

Todavia, mesmo que não fosse mortal, seria capaz de fazer a criatura
tomar asco dos Elfos Negros.

Quando abrisse aquela boca grande e o mordesse, ele estenderia os


braços jogando veneno contido em ambas as mãos.

Seria frustrante se o atacasse com suas garras.

Se ele fosse mordido, não terminaria apenas com seus braços.

Mas Egnia havia se preparado para isso.

Não, ele havia decidido há muito tempo.

Ele viveu e logo morreria em prol dessa aldeia.

A razão pela qual era mais forte que os outros era porque se dedicara
para este dia.

Venha logo. Prove o gostinho dos Elfos Negros daqui, quero ver se não
vai querer vomitar.

O Ursuslord desviou o olhar dele.

—O que ele pensa que está fazendo?

O Ursuslord deu um rugido, balançou sua cauda e braços. Então repetiu


os ataques nas Árvores Élficas como se estivesse descontando sua raiva em
algo. Era quase como se ignorasse Egnia, mas não fazia o menor sentido.
Porque ele sentiu que ambos se entreolharam.

“Egnia! Depressa!”

Confuso e incapaz de entender a situação, Egnia de repente notou a voz


de um de seus colegas arqueiros.
Ele estava em paz com seu destino, mas não era como se quisesse ser
comido por escolha própria.

Eles seriam capazes de escapar? O Ursuslord parecia não ter nenhum


interesse neles, mas ele sabia que os notava. Ele se perguntou, quais eram os
planos da criatura?

Está fugindo é— a resposta certa?

Ele não sabia. Seu oponente não deixava nenhum sinal que pudesse
interpretar.

Assim que Egnia chegou no auge de sua confusão, uma flecha passou
como um raio de luz e atingiu a Árvore Élfica bem na frente da fera mágica.

*Kooooooooon*, o som estridente foi suficiente para dar arrepios,


claramente ressoou e se espalhou como uma onda. Todos os Elfos Negros —
até o Ursuslord — pararam de se mover, tudo ao redor ficou completamente
silencioso, como se alguém tivesse jogado um balde de água fria.

Logo em seguida, uma voz adorável rompeu o silêncio.

“Hum... você já aprontou até demais.”

Era como se o mundo se tornasse um lugar mais reluzente.

A figura que apareceu de repente por trás de Egnia era apenas criança
Elfa Negra. Estranhamente, não era residente da aldeia. Parecia ser um
menino extremamente bonito, ou uma menina. Não, se olhasse bem de perto,
notaria uma garota incrivelmente bela. E ao se dar conta—

“Tão, tão bela.”

Egnia, deixou escapar.

Como uma garota poderia ser tão bela? Era mais bela que o orvalho da
manhã quando aglutinava e gotejava nas folhas atingidas pela luz da aurora,
ela cintilava como joias.

Era como se ela emitisse uma luz própria. Por isso tivera a impressão do
mundo estar mais brilhante.

Além disso, era como se o vislumbre da vida ficasse evidente nos aromas
emanados de seus movimentos graciosos.
O nariz de Egnia aspirava fora de seu controle.

Ele queria levar um pouquinho desse aroma para seus pulmões, para que
pudesse se espalhar por todo seu sangue.
O que é essa fragrância? Era como se cada uma de suas células
estivessem dançando de alegria.

As mãos daquela garota de beleza inigualável — ela estava usando


luvas, então não ser capaz de ver seus dedos era frustrante —estavam
segurando um arco surpreendentemente requintado. Aquela incrível peça de
artesanato não era apenas um enfeite, emanava um poder maior do que
qualquer outro arco que Egnia já tinha visto, era o que sua intuição de
arqueiro gritava.

“Quão—”

Mas quem se importava com tudo isso?

O desequilíbrio da menina com um laço desproporcionalmente grande


em relação ao corpo fôra mais um fator para aumentar sua beleza.

Tudo nela era encantador.

Ela reluzia.

“Ei, monstrengo. Sai daí, vai. Eu não vou deixar você aprontar mais das
suas por aqui.”

Fofa.

Muito fofa.

Super fofa.

Sua beleza era tamanha que acabara se esquecendo que ouvira sua voz
momentos atrás. No entanto, dessa vez seu cérebro estava respondendo
adequadamente à voz.

Repetia várias vezes em sua cabeça como um refrão. E toda vez que
acontecia, ficava à beira de arrepios.

Como em um estalar de dedos, a garota de beleza exuberante apontou


um dedo para o Ursuslord.

Por que?, ele se perguntou, seria tão belo se apontasse o dedo para ele.

Foi frustrante.

Lamentável.
Ele estava triste que aqueles lindos olhos não o percebiam.

“Gurururuu!”

O Ursuslord rosnou.

Não era um rosnado destinado a intimidar, mas sim um rosnado de


medo.

O Ursuslord estava cauteloso com a bela garota.

Naturalmente.

Quem quer que seja, ficaria acuado ao ser encarado por algo tão belo.
Qualquer um pensaria se tratar de uma deusa.

Claro, pode haver quem acredite que feras mágicas podem não ter esse
tipo de senso estético. Entretanto, era um modo muito arcaico de pensar.

Egnia negou veementemente.

Ele tinha motivos para tal.

Feras mágicas que possuíam grande poder eram lindas. Se assim for,
paradoxalmente, não seria de estranho se essa garota de beleza inigualável
possuísse poder incomparável.

Isso mesmo. Não haveria nada de estranho nisso.

No instante em que o Ursuslord deu um sinal de que ia tentar se mover,


Egnia arregalou os olhos de surpresa.

A bela garota já tinha uma flecha em seu arco.

Depois que a garota se revelou, Egnia não tirou os olhos dela nem por
um instante. Mesmo um piscar de olhos teria sido um sacrilégio, e ele tentara
não fazer nenhuma vez. No entanto, uma flecha estava em seu arco.

Não, não era estranho.

Ela era uma garota de beleza sem igual que só poderia ter sido gerada
pelo próprio mundo. Sendo esse o caso, não havia dúvida de que ela era capaz
de qualquer coisa.
Egnia tinha essa convicção.

Um clarão de luz passou por ele e—

“GwoOO!”

—O Ursuslord gritou.

Ele não estava nem aí para onde a flecha havia atingido. Mais importante
do que isso era não tirar os olhos da garota nem por um instante.

“▓, ▓▓▓!? ▓▓▓▓▓▓▓▓!?”

“▓▓▓!”

“▓▓▓▓▓!?”

Muitas palavras eram ditas, mas aos seus ouvidos eram apenas ruídos.

Era irritante.

Calem-se! Assim não vou conseguir ouvir a voz dessa beldade!

Do ponto de vista de Egnia, que estava tentando distinguir a voz da


garota, todo o resto era descartável.

Os passos do Ursuslord estavam desaparecendo na distância.

“▓!? ▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓!?”

Eu falei para calarem a boca! Como vão se redimir se eu não conseguir


entender o que ela está dizendo por causa de vocês!

“...Você tá bem?”

A garota de beleza inigualável o abordou.

Ela falou com ele, apenas ele e mais ninguém.

Ele tinha sido o escolhido!

Egnia ficara tão ansioso que não conseguia dizer nada. Incapaz de
raciocinar, ele não sabia quais palavras usar. Até mesmo respirar estava
difícil. Mesmo assim, tomar esse tipo de atitude era um sinal de desrespeito.
Apesar disso, reunindo toda a energia de seu corpo, Egnia espremeu a
resposta mais adequada.

“Kew, vsch, ob.”

“...Hm?...Eh?...Que isso?”

A bela garota olhou para ele com dúvida. Mesmo essa expressão foi
inimaginavelmente adorável. Ou melhor, ele tinha certeza de que qualquer
coisa que ela fizesse seria fofa.

“Sinto, sinto muito. Parece que o Egnia está confuso, deve ter sentido
muito medo do Ursuslord.”

“Hmmm.”

Isso foi tudo que a garota de beleza inigualável respondeu em tons


monótonos às palavras do Mestre da Caça. Logo, Egnia, que finalmente havia
recuperado um pouco da sanidade, corou ao se dar conta da própria gafe.

“Sinsm! ‘uition, obh’ado!”

“...? Ah, ‘obrigado por atirar aquela flecha’, é o que tá dizendo, né?”

Os arqueiros ao redor provavelmente também pensaram na primeira


coisa que deveriam dizer para a bela garota. Quando desceram das árvores,
lutando para serem os primeiros a falar, abaixaram a cabeça para ela e
expressaram sua gratidão.

“Ah, não foi nada de mais.”

Não é isso.

Era um mal-entendido.

Ele não estava agradecendo por salvá-lo. Ele precisava agradecê-la por
aparecer diante dele— bem aqui.

“Sinsm!”

“...Tem certeza que tá bem? Será que não bateu a cabeça àquela hora que
caiu? Melhor chamar um clérigo pra você?... Ou seria um druida? Aquela fera
mágica pode ter algum tipo de habilidade especial.”
“Tem razão. Parece que o Egnia sofreu algum traumatismo, melhor levar
ele de uma vez.”

Não tardou para ele ser colocado em uma maca feita de duas varas de
madeira e corda. Ele não se queixava de nenhuma dor, mas era inteiramente
plausível que estivesse entorpecido após ver tamanha beleza diante de seus
olhos. As pessoas eram capazes de ignorar sua própria dor em situações
extremas. Sendo esse o caso, seria razoável que não sentisse nenhuma dor se
uma garota de beleza inigualável lhe abordasse.

Para dizer a verdade, ele queria acompanhá-la, estar ao seu lado e


respirar o mesmo ar que ela. No entanto, seria de bom grado retribuir a
preocupação que demonstrara por ele. Era tão bonita e fofa, que ficou claro
para qualquer um o tamanho de sua gentileza. Então deveria evitar magoá-la a
qualquer custo.

Por sua razão ter conseguido persuadir sua ânsia por mais dessa beleza,
Egnia concordou em ser levado.

Enquanto via a garota diminuindo em seu campo de visão, notou que ela
estava conversando com o Mestre da Caça, e então pensou:

...O que é esse pulsar violento no meu coração... será que é... Amor!!?

Blueberry Egnia. Aos 254 anos, encontrou seu primeiro amor.

Parte 2

Continua…………
Tô sem saco para traduzir esse volume, então essa
parte está demorando mais que o habitual.

Favor, não colocar tradução automática aqui!

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