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“Não nesse caso, pois não há nada que possamos fazer a respeito. O
número de pessoas que podemos infiltrar é limitado. Mesmo nosso próprio
povo dentro do Reino não será capaz de sair vivo.”
“...Não tardará para o Reino Feiticeiro estar à nossa porta. Desde que o
Capitão Guerreiro morreu em batalha, seu substituto, aquele chamado...
Ungra..us? É aquele com os itens agora, correto?”
Disse a Cardeal de Fogo, Berenice, uma das duas únicas mulheres dentro
do corpo administrativo.
“Certamente. Nós, cardeais, temos ele bem alto em nosso conceito, mas
sabemos que ele não é do tipo que aceitaria nosso convite. É por isso que
ordenamos que não entrassem em contato com ele.”
“Embora eu esteja feliz por tantos talentos terem vindo se juntar à nossa
nação, qual é a condição deles?”
Um dos participantes falou de uma forma que fez com que todos
soubessem que a conversa não precisava ser tão formal. Todavia, em resposta,
Yvon retrucou severamente:
“Correto, seria.”
“Ghum, perdão. Embora eu entenda seu modo de pensar, não acha que
revelar uma vantagem ao nosso oponente pode torná-lo mais cauteloso no que
tange a agir de forma imprudente? É o que penso.”
“Ainda assim, por que o Rei Feiticeiro ordenaria tais massacres? Mesmo
que os suprimentos a caminho do Reino Sacro tenham sido roubados, isso foi
uma reação exagerada. O que os militares pensam a respeito?”
“‘Uma criatura que nutre profundo ódio pelos vivos, e que é controlado
por esse ódio’ Talvez alguns possam ter essa crença, mas eu discordo. Mesmo
se presumirmos que ele estava esperando um momento oportuno para ir à
guerra, se levarmos em conta suas ações anteriores, esse incidente parece que
não se encaixa.”
“Em nome dos militares, digo que também somos da opinião de que é
extremamente improvável que suas motivações sejam tão simples.”
“Ghrum, e por fim o mais provável é: para criar uma área natural de
geração de undeads, como uma nova Planície Katze.”
Eles ouviram que ele havia assumido o controle das Planícies Katze.
Talvez ele tivesse obtido algo de lá que o tenha motivado a fazer tal coisa.
“Isso servirá para criar uma fronteira entre suas terras profanas e o
Estado do Conselho. As terras profanas se tornarão uma barricada entre o
Reino Feiticeiro e o Estado do Conselho. E então—”
“Não temos tropas o bastante para aguentar. O que nos restou se resume
em formar uma ampla aliança com o Estado do Conselho, huh...?”
“Ao que tudo indica, sim. Pois assim eles virão ao nosso resgate sempre
que estivermos em apuros!”
Não era difícil imaginar que depois dessa possível guerra, sobreviventes
do antigo Reino Feiticeiro iriam para uma das duas nações vitoriosas e, à
medida que suas populações crescessem, não tardaria para entrarem em uma
espécie de guerra fria.
“Acha que devemos tornar público tudo o que sabemos sobre o Reino
Feiticeiro? Não estamos mantendo em segredo precisamente porque sabemos
os tipos de distúrbios que algo assim causa?”
“Pare de dar desculpas. O Reino Feiticeiro também não teve que dedicar
muito tempo para pacificar e administrar seu povo após a fundação de sua
capital? Portanto, levará tempo para que possamos considerar tudo a nossa—”
A capital era populosa, por isso era irreal pensar que havia tido muitas
mortes até as coisas se acalmarem. No entanto, nada era impossível para o
Reino Feiticeiro.
Um grande esforço já foi feito para exterminar o País dos Elfos, mesmo
antes do Reino Feiticeiro ser estabelecido. Foi graças a isso que os Elfos não
tentaram estabelecer relações amigáveis com o Reino Feiticeiro de antemão.
Não havia nenhum país em que confiar fora da Teocracia, mas eles
também não estavam pedindo que se tornassem nômades.
“Eu?”
“No caso de sermos aniquilados, o senhor, como um ex-membro da
Escritura Preta, deveria ser o único a proteger e ensinar aqueles que restaram,
não concorda?”
“Há muito deixei de ser aquilo que já fui. Além disso, todos nós
devemos ficar até o fim, se algum de nós fugir, perderão a fé em nossa
organização.”
“Mas—”
“Não—”
“Essa discussão é sem sentido. Por mais que tenha sua importância, não
é hora para isso.”
Ninguém se opôs.
“Entendido.”
Para Tirar Férias Remuneradas
Parte 1
Após terminar de ler o conteúdo do fichário robusto à sua frente, Ainz
folheou todas as páginas até chegar de volta à primeira; para enfim, dar o seu
carimbo pessoal. Após um momento de hesitação, ele pressionou-o
firmemente na área marcada para aprovação. Com isso, a matéria impressa
nesse fichário — do ponto de vista de Ainz, continha algum tipo de solução
de altíssimo nível para uma questão política — foi aprovada e Albedo poderia
iniciar o processo de seleção do pessoal adequado para despachar.
Mas mesmo assim, cerca de 90% dos operários com esse tipo de rotina
não fizeram nenhuma reclamação a respeito de sua condição trabalhista.
E quanto aos outros 10% restantes, ao protesto que faziam era referente a
estarem insatisfeitos com suas jornadas trabalhistas, pois queriam trabalhar
ainda mais.
Talvez fosse apenas egoísmo, mas Ainz sempre quis fornecer a seus
funcionários benefícios generosos. Para esse fim, Ainz começou concentrando
sua atenção nas empregadas regulares.
A principal razão foi porque seus níveis eram extremamente baixos. Sua
aparência feminina atraente também foi um fator importante. Embora Ainz
não pretendesse ter algum tipo de favoritismo, ele não pôde deixar de fazer
comparações entre elas e os subordinados de Cocytus.
Se fosse uma ordem direta de Ainz, não havia dúvida de que todos em
Nazarick obedeceriam sem hesitar. Contudo, dado que sua ordem poderia
abalar o moral, ele teve que ser prudente ao dar suas instruções.
Ainz sentia que nada havia mudado de fato, mas certamente havia
resistência se tentasse algo mais radical. Ou melhor, isso foi o que Ainz
entendeu, então preferiu dar um passo para trás. Consequentemente, ele não
incorporou o sistema completo — licenças pagas, férias, feriados, etc.
Umas das razões era escusado dizer. Se um picareta sem talento como
ele assumisse a liderança por completo, Nazarick mergulharia em um caos
absoluto.
Pois os habitantes de Nazarick pensaram ser mais que justo que Ainz não
trabalhasse tanto.
Ele deveria ter visto isso com bons olhos, pois, quanto menos assumisse
as responsabilidades, menos chances Nazarick tinha de ir para uma vala sem
fundo. Ainda assim, Ainz se sentia mal por sobrecarregar os outros.
Ahh...
Ele olhou de canto de olho para as duas empregadas, seus olhos
brilhavam como chamas. Eram as designadas para o turno de hoje. Se seus
olhos se encontrassem, ele logo seria indagado com: “Há algo em que eu
possa ajudá-lo?”. Para evitar tal encontro, ele só podia olhá-las assim.
Quanto tempo faz desde que vi vocês sorrirem? Ainz não pôde deixar de
se perguntar. Ele suspirou mentalmente uma última vez antes de se virar para
a empregada ao lado e perguntar:
“Erm... Lumière...”
“Sim, Ainz-sama?”
“Então é o caso...”
Albedo insistiu que a mesa fosse colocada lá, mas ela não estava
presente.
Se for por ela não ter me visto ultimamente, não vejo problema algum
em fazer uma visitinha com mais frequência.
Se apenas isso bastasse para melhorar seu humor, ele não via motivos
para recusar.
“......”
Quanto aos amigos que deveriam ter, sua primeira prioridade era achar
Elfos Negros. Os próximos na fila seriam raças relacionadas, como Elfos
Puros. Embora ele tivesse uma boa compreensão do que esse mundo tinha a
oferecer, ter Lizardmen ou Goblins como os primeiros amigos dos gêmeos era
algo que Ainz achava difícil de engolir.
“Como desejar.”
Mesmo ela o seguindo sem que precisasse dizer uma só palavra, ele
ainda achava que era apropriado informar.
Quem desejava ver eram as três Elfas que haviam sido trazidas para cá
pelos Trabalhadores há tempos atrás.
Agora eu tenho uma boa desculpa para perguntar tudo. Não parece que
foram intimidadas pelos gêmeos... O melhor cenário é se elas falarem
abertamente o que pensam, mas não posso dar um passo maior que a perna.
Se eu tivesse imaginado isso naquela época, seria tão mais fácil dar ordens
agora...
À medida que esse pensamento ganhava forma, ele sentiu que não seria
correto ter ordenado que Aura e Mare fingissem bondade para com as Elfas.
Claro, ele não teria que pensar tanto se delegasse esse assunto a Demiurge ou
Albedo.
“Hm. Vim resolver uns assuntos aqui. Aura — conto com você para me
ajudar.”
Mas depois ficou deveras envergonhado por sugerir esse plano, que
jogava toda a responsabilidade nas costas de uma única pessoa.
“—Hm.”
“Dro—”
“...Só pra confirmar, senhor. Quer ver as Elfas que a gente mantém em
cativeiro?”
Desculpe, eu não deveria ter agido desse jeito estranho para mascarar
meus erros... Ah, que isso, não me olhe desse jeito tão sério, por favor, apenas
sorria como sempre faz...
Ainz sabia que isso aconteceria, ou melhor, ele sabia que todos os
habitantes de Nazarick teriam reagido da mesma maneira. Foi por isso que ele
preparou uma resposta — que na realidade era apenas uma desculpa
esfarrapada.
“...Então são dois? Ter considerado tanto apenas pra ter uma conversa
com cativos...”
Era fácil dizer quais eram seus pensamentos apenas vendo o brilho em
seu olhar, “Como esperado de Ainz-sama.”
Não, é apenas o jeito que achei para contornar como você e o Mare
reagem quando eu peço algo.
Obviamente ele não poderia dizer em voz alta, então escolheu apenas
desviar o olhar.
Para resumir, Ainz tentou o seu melhor para evitar interferir nos
Andares, já que eram gerenciados diretamente pelos Guardiões; como
resultado, ele não tinha visto pessoalmente o que tinha mudado.
Como essa era uma oportunidade rara, Ainz queria passar para ver por si
mesmo. O que ele não tinha certeza era como Aura interpretaria o que ele
acabara de dizer. O jeito de Aura mudou de repente. Ele podia sentir um nível
inimaginável de estresse emanando dela.
“Campinas—”
Algumas casinhas e uma fazenda eram vistas. Dado à escala, talvez não
fosse um nome muito adequado, mas tinha sido o termo adotado.
Ele não conseguia se lembrar do rosto dela, apenas uma vaga lembrança.
Comparado com Pinison, a luta contra a enorme Árvore Maligna foi muito
mais memorável. Pinison era apenas uma gota de água naquele oceano de
lembranças.
Havia monstros do tipo planta que eram mais fortes que Pinison, então
poderia acontecer alguma disputa pelo título. Como ela tinha o apoio de Aura
e Mare, no entanto, não houveram grandes problemas até agora.
Ainz podia entender por alto. Isso era praticamente o mesmo que
Jogadores reverenciando aqueles com equipamentos superiores como deuses,
idols ou algo assim.
“—Hm, entendi o conceito. Enquanto tudo estiver sob seu controle, não
haverá problema. Use qualquer método ou abordagem que lhe convir, mm...
hmm, uhum. Enfim.”
Ainz deu uma olhadela no rosto de Aura. Não parecia que seus dizeres
tivessem afetando-a, mas era difícil dizer seus pensamentos.
Não posso dizer coisas que desmoralizem meus subordinados, ahh, até li
isso naqueles livros sobre gestão de negócios, não...?
Ainz fez uma anotação mental para prestar atenção ao que fosse dizer.
Além disso, ele teria que prestar atenção ao tom de sua fala também.
“...Ah! Embora seja bom dar uma olhada na vila, vamos nos ater à
Campina por ora. Afinal, foi sua sugestão. Desculpa pelos inconvenientes,
Aura.”
“N-Não...”
Mesmo para esses lugares, Aura ainda poderia dizer: “Sinta-se à vontade
pra entrar, não tem problema”. Como seria uma situação extremamente
vergonhosa de se ouvir, Ainz preferiu ficar quieto.
Ele deu uma olhada em Lumière, cuja expressão facial dizia “Ela tem
razão” enquanto acenava a cabeça em resposta.
Disse Aura enquanto batia pesadamente em seu peito, por fim completou
com:
“Sei que existem muitos, mas chamei Fenn e Quadracile aqui pois senti
que seriam os mais adequados. Isso é aceitável?”
♦♦♦
『Eeeh?』
“Ainz-sama me disse que veio aqui com dois objetivos, mas a gente sabe
como o Ainz-sama é, ele sempre tem mais coisas em mente. Sei lá, talvez
botar pressão na gente tenha sido um objetivo oculto.”
『Faz todo sentido. Então isso poderia ser um quarto objetivo? Mas
sinto que há algo mais.』
“Ah, foi mal, esqueci de te contar. Eu disse que são dois objetivos,
lembra? A inspeção foi o primeiro. O segundo é visitar aquelas Elfas que tão
morando nos quartos vagos.”
『Ah, aquelas lá. Toda hora ficam falando realeza isso, realeza aquilo.
Elas são tão incômodas, espero que o Ainz-sama leve-as embora.』
“—Ah, Fenn e Quadracile tão chegando. Não sei quanto tempo vai
demorar até a gente chegar, mas esteja pronto, Mare.”
♦♦♦
A Campina no 6º Andar de Nazarick era o lar de flores desabrochando
de todas as cores. Se algum invasor sobrevivente do inferno acima chegasse a
ver isso, certamente começaria a suspeitar da localização de mímicos de flores
e outras armadilhas mortais. Todavia, nada do tipo estava presente.
Tinha toda a cara de ter várias armadilhas, mas a verdade era que não
havia contramedidas contra invasores instaladas no local.
Em suma, era apenas uma bela campina sob o controle direto de Aura e
Mare.
Esse mundo era lar de muitas criaturas desconhecidas. Mas Ainz tinha
certeza que um monstro semelhante existia em YGGDRASIL.
“Isso mesmo!”
Nenhum foi implantado em Nazarick ou convocado depois de chegarem
a esse mundo, então deveria se tratar de uma espécie forasteira trazida da
Grande Floresta de Tob.
Por ser uma arma dessa classe, tinha capacidade defensiva absurdamente
alta, mas quase zero de poder ofensivo. Isso porque a maioria dos dados foi
usado para habilidades secundárias.
Apesar de sua aparência, seu nível estava por volta de 60. Os Alraunes
seriam facilmente aniquilados, caso surgisse a necessidade.
“Só pra constar, a cenoura que aquele filhote tá mastigando foi colhida
nas fazendas. A Pinison e outros monstros do tipo planta tão usando os
poderes que tem pra fornecer nutrientes à vontade, aí as cenouras comuns
foram transformadas nessas cenouras grandonas.”
“Quatorze?”
Seus cabelos e olhos eram da mesma cor de suas pétalas. Todo o corpo
estava tão verde quanto seu caule. Estava nua, mas sua pele parecia composta
de pequenos brotos, parecia bem estranho.
Seus olhos eram oblíquos e finos como uma linha. Sua expressão parecia
bastante hostil, beirando a raiva.
Ainz era ruim em lembrar feições, mas aquele par de olhos o marcou
profundamente.
“Bom dia, Aura-sama. Mais uma vez a senhora trouxe diante de nós um
lindo raio de sol. Em nome das raças verdes, ofereço-lhe nossa gratidão.”
A voz soou cristalina, livre de hostilidade. Era correto dizer que havia
muita reverência em seu tom. Parecia que o “sorriso” de antes era de pura
compaixão, mesmo que parecesse estar tramando algo.
Era impossível julgar as feições, mas Ainz pensou que era o último.
Pensou Ainz.
Quando essa fêmea foi treinada? Ela foi educada pelos gêmeos? Ou
seria em outro lugar?
Ou talvez—
—Talvez o nuance tenha se perdido... Pode ser que ela esteja falando de
maneira mais alraunesca? Por exemplo, ela pode estar dizendo “Ainz é um
brotão”.
“Não precisa, não há mais nada que me interesse por aqui. Eu vi o que
queria ver. Vai me levar para as Elfas agora?”
“É pra já!”
Ele não tinha certeza de quando foram avisados por Aura. Se não fosse
recente, poderiam estar há muito tempo esperando.
Isso foi devido a Ainz não agendar um horário com antecedência, então
ficou bastante envergonhado de si mesmo.
Desse ponto de vista, Ainz era o culpado por não os informar com
antecedência.
Ainz queria dizer a si mesmo que não teve culpa, mas uma vez que foi
responsável por tudo, ele realmente estava isento? Afinal, ele não tinha idéia
de quanto tempo estavam esperando sua chegada. Se tentasse se safar
dizendo: “Vocês não precisavam me esperar”, talvez magoasse seus
sentimentos, pois não estaria dando valor ao empenho que tinham tido.
Mare estava trajando sua roupa habitual. As Elfas, por outro lado,
estavam vestidas com roupas bastante simples. Ainz teria preferido se
estivessem melhor vestidas, mas como Aura e Mare decidiram, isso não era
algo que ele poderia interferir.
Talvez se seja o caso... não importa, contanto que a Aura e elas estejam
felizes com isso, não vejo problema.
Embora provavelmente devesse ter ouvido o que Mare queria dizer, ele
sentiu que agradecê-los primeiro possivelmente o colocaria em bons lençóis.
“Mu-muito obrigado!”
Isso é bom.
Só por garantia, Ainz verificou se sua aura estava ativa. Como não
demonstrou hostilidade ou intenção assassina, elas não deveriam temê-lo...
correto?
É visível que estão com medo. Ainda estão de guarda alta, embora sejam
subordinadas a um par de crianças? Fala sério, após jurarem lealdade e
viverem pacificamente aqui por tanto tempo, teria sido ótimo se entendessem
que esse undead aqui é diferente dos demais... Bem, mas é pela minha
aparência. Mesmo que suas mentes entendam, o mesmo não pode ser dito de
seus corações.
Não havia a menor necessidade de terem tanto medo, Ainz queria dizer
do fundo de seu coração. Mas infelizmente, ele não podia simplesmente dizer
todo contente “nada a temer, galerinha”. Afinal, não podia sair do seu
personagem de “Supremo Governante de Nazarick, Ainz Ooal Gown”,
contudo, seria problemático se elas não se sentissem à vontade.
“...Não há necessidade de estarem tão tensas. Eu não vim para lhes fazer
mal.”
Ele queria continuar com “então fiquem à vontade”, mas parou depois de
considerar que ele mesmo não acreditaria se estivesse no lugar delas. Se um
CEO convidasse ele e outros funcionários para uma reunião informal, ele
tinha sérias dúvidas que haveria alguém capaz de ignorar a hierarquia com
tanta facilidade.
Embora soubesse que seria uma péssima jogada, de repente ele sentiu
vontade de lançar 「Dominate」. Isso porque não estava confiante de que
poderia convencê-las ou fazê-las se sentirem à vontade.
Mas hoje não havia necessidade de ir tão longe. Não é como se ele
tivesse certeza de que fizeram algo ruim ou estavam escondendo informações.
Justamente por isso, Ainz não queria dar a impressão de estar insatisfeito
com o trabalho deles. Ele não conseguia pensar nas ramificações negativas
que esse mal-entendido poderia levar, até porque, não era como se estivesse
insatisfeito com o trabalho deles.
E se fosse para usar magia de controle mental, ele deveria tê-lo feito
muito tempo atrás.
Ele optou por não fazer quando foram capturadas porque queria torná-las
aliadas de pura e espontânea vontade — ele queria ser visto como seu
salvador. Considerando que investiu nelas a este ponto, usar magia de
controle mental seria como jogar o trabalho de anos no lixo.
“—Hum. Antes de tudo, creio que aqui não é bom para conversarmos.
Vamos para outro lugar.”
Como não estava confiante em abrir seus corações através das palavras,
ele poderia simplesmente usar um método diferente. Essencialmente, uma
mudança de lugar se fazia necessária.
“Aa—”
Em certo sentido, era certo afirmar que ainda estavam no território dos
Elfos, então qual diferença seria conversar aqui fora ou lá dentro? Se
entrassem, quem iria preparar as bebidas? Seriam Aura e Mare? Ou talvez
Lumière, já que ela estava presente?
Assim sendo, certamente pensavam que; como Ainz não bebia, os outros
também não deveriam. Era semelhante a como dificilmente um funcionário
bebesse algo se o CEO não o fizesse.
Ele decidiu que mais tarde conversaria com Pestonya a respeito, pois
estava ficando frustrado por estar desperdiçando tanto poder cerebral em
coisas não relacionadas a esta reunião.
Calma aí, não é nisso que eu deveria estar pensando. Eu deveria decidir
o lugar para bebermos algo. Os gêmeos vão pensar que eu não gosto de
tomar chá na casa deles se eu ficar enrolando mais. Ai sim vai ser um pé no
saco. Mas—!
“Ah!”
Ainz firmou seus ombros para não tremerem com o repentino chamado
de Aura. Sua mente também foi forçosamente limpa de pensamentos
excessivos com esse susto.
“Hum, mh. Correto. O clima está tão aprazível, então estava pensando
que talvez devêssemos fazer isso ao ar livre.”
“Já que é assim, vou fazer os preparativos. Tem uns guarda-sóis e uma
mesa por aqui! Lembro que eram as coisas que a Bukubukuchagama-sama
usava quando tinha que conversar com os outros Seres Supremos! A gente
pode usar. Há uma casa vazia na vila. Além disso, eu ainda não te mostrei,
mas há um gazebo aqui também, Ainz-sama!”
“Lembro-me de fazer isso com os outros.”
—Não é isso! Não são memórias passadas! A Ainz Ooal Gown ainda
está aqui! Ainda está viva!
Ainz olhou ao redor novamente, parecia que ninguém havia notado que
algo estranho tinha ocorrido com ele.
“Bem... Não que esse Andar seja ruim, mas esta é uma ocasião tão rara,
podemos muito bem conversar em outro lugar. Talvez seja bom que vocês
conheçam melhor as terras onde habitam.”
Ainz ponderou.
Beber algo na sala do CEO ou beber algo em uma lanchonete. Qual deles
o deixaria mais à vontade se estivesse no lugar delas?
“Creio que sei de um lugar perfeito. Não vamos perder mais tempo.
Iremos para o Nono Andar. Existe um excelente refeitório lá. É bem melhor
conversar almoçando — já almoçou, Mare?”
“O que me dizem?”
Certamente não era algo que ele pudesse decidir sem perguntar aos
gêmeos.
“Uh, nn. Ah, não, digo, sim. Eu estou bem com isso, assim como a
onee-chan disse.”
“Perfeito. Vejamos—”
Parte 2
Primeiro retornaram à entrada do 6º Andar com 「Gate」. Então, Ainz
enviou uma 「Message」 para Aureole abrir um portal para o 9º Andar.
Naturalmente, o portão entre o 8º e 9º Andar funcionava sem problemas. Se
não fosse esse o caso, era altamente provável que o sistema Ariadne fosse
acionado.
“S-sim...”
“Beleza!”
“Vejo que estão fazendo um bom trabalho. Não vou demorar muito, vim
apenas descansar um pouco. Eu não me importo se continuarem com seu
trabalho.”
“Mu-muito obrigada...”
Ainz tentou falar o mais gentilmente possível para a Elfa sentada e
cabisbaixa:
“Não há de quê. Eu posso entender seu choque, mas como eu disse antes,
pode relaxar. Ninguém em Nazarick faria mal a você, então peço que fique
menos tensa.”
Ainz virou as costas para as Elfas, foi até uma das empregadas e deu
uma ordem em tom de voz bem compassivo:
Ele a abordou porque era a empregada que estava mais perto, mas o
modo como ela olhava vitoriosa para suas colegas, deu a entender que ela
pensava diferente. Suas colegas franziram um pouco a testa com inveja
tangível.
Ainz podia sentir — o que deveria ser raro para alguém de sua raça — as
outras empregadas olhando fixamente para suas costas. Sem dúvida, seus
olhos estavam cheios de expectativa ansiando por qualquer ordem especial.
Aliás, ele não conseguia perceber nada de Lumière, provavelmente porque ser
sua dama de companhia já denotava um cargo especial por si só.
Parecia que ele estava pisando em ovos (obviamente as empregadas não
tiveram intenção de causar isso), Ainz se forçou a desviar o olhar das
empregadas para as Elfas.
Ele não queria apressá-las, pois achava que seria forçoso, mas também
não queria perder tempo demais aqui.
Esta foi a primeira visita de Ainz desde a época em que visitou todos os
estabelecimentos em Nazarick, logo depois que vieram parar nesse mundo,
mas parecia que nada havia mudado muito. Ele podia ouvir burburinhos das
moças envolvidas em conversas animadas, assim como o som de talheres.
Talvez se descobrissem que ele era um idiota, tal mudança poderia ser
possível, mas ele não conseguia se ver suportando o desprezo de todos (o que
era improvável).
Nem precisou de muito tempo para notar como seus ânimos haviam
despencado. Algo compreensível. Elas certamente notaram que antes havia
um clima harmonioso no refeitório. Foi isso que ele quis dizer com “o súbito
heteromorfo em Alfheim”.
Não havia como reverter, pelo menos ele não conseguia pensar em um
modo.
“Sentem-se.”
Honestamente, Ainz não queria ser tratado como uma espécie de fardo.
Dito isso, como alguém que entendia seus sentimentos muito bem, ele decidiu
ser prático.
Olhando para onde Lumière apontava, ele podia ver uma fileira de jarras
que pareciam conter as bebidas. Ao lado havia uma pilha de pratos.
“Interessante...”
“Como o chef está na cozinha, acredito que ele irá preparar qualquer
prato que o senhor desejar, Ainz-sama.”
As Elfas negaram.
O cardápio não tinha nenhuma imagem anexada, então era lógico que
não podiam fazer uma associação entre aparência e nome.
“Quero!”
Ufa.
Ainz respirou fundo. Não parecia que Lumière iria à cozinha retransmitir
o pedido, Ainz se perguntou o porquê. Talvez alguém que estivesse
trabalhando aqui viesse receber.
“Como desejar.”
Embora seu rosto possa parecer o de um Orc, ele era um Ork, uma
espécie semelhante que estava muito mais próxima das feras selvagens.
Shihoutu Tokitu.
Isso não vai sujar suas roupas? Foi a primeira coisa que Ainz pensou ao
ver a cena.
“HAH!”
Embora Ainz tenha dito que não tenha mudado nada, a última vez que o
encontrou foi quando visitou todos os NPCs. Como fazia tanto tempo, ele não
estava exatamente confiante em perceber mudanças, isso se tivesse acontecido
alguma.
Um sorriso másculo — embora ele não pudesse ter certeza, pois não
entendia as expressões de bestas-feras — brotou no rosto de Shihoutu Tokitu.
“HAH!”
Era difícil dizer isso para alguém berrando sem parar “Eu vou fazer isso!
Vou fazer aquilo!”. De modo geral, Ainz costumava concordar com os desejos
dos NPCs, mas isso já era abusar de seu bom senso.
“HAH!”
“Não seja precipitado. Estou tentando dizer que não posso comer, então
não desperdice nenhum ingrediente”.
“HAH!”
“Veja bem. Eu não vim aqui para comer. Eu vim para ter uma conversa
agradável— entendeu, uma conversa agradável. Eu sei que deseja me dar
boas-vindas com o melhor de suas aptidões culinárias, mas no momento não
faço questão. Entende que eu apenas desejo ter uma conversa calma com
minhas convidadas?”
“HAH!”
“Não faça tempestade em um copo d’água. Vou repetir só mais uma vez,
só vim aqui para bater um papo. Não há necessidade de exageros, entendeu?”
“—Não é falsa modéstia, eu só vim aqui para isso. Continue o que estava
fazendo antes. Por favor, me trate como faria com qualquer outro hóspede.”
Ainz não poderia ser culpado por usar meios dissimulados. Ele limpou a
garganta e mudou seu tom para soar mais sério.
“—Shihoutu Tokitu.”
“HAH!”
“Estou dizendo que quero que esse lugar fique do mesmo jeito que
estava quando entrei. Se fez seus afazeres da forma correta, por que eu
precisaria pedir algo a mais? Ou está tentando fazer um prato especial porque
tem algo a esconder?”
“Eu sei.”
Shihoutu Tokitu parecia intrigado com a resposta instantânea.
“Mesmo que eu não passe muito tempo aqui, posso ver que você é
dedicado ao seu trabalho e é verdadeiramente leal àqueles que chama de Seres
Supremos. Minhas palavras foram bastante impensadas. Permita-me uma
retratação, peço que me desculpe.”
“Entendido.”
Enquanto melancólico por seu corpo não ser capaz de provar, Ainz
esperou até que todos tomassem seus lugares para falar.
Duas das Elfas tinham refrigerante de melão enquanto a outra tinha chá
verde com gelo. Seguindo as palavras de Ainz, elas tomaram um gole. A
dupla do refrigerante de melão piscou surpresa, levando as mãos à boca. Dada
à reação, certamente acharam delicioso.
“Uau, que gostoso.”
“Tão doce.”
“Ah, sim.”
Não havia um nome para o país dos Elfos que dizia estar localizado na
grande floresta do sul. Albedo supôs que era porque nunca tiveram a
necessidade de abrir relações diplomáticas com outras raças, até porque todas
as nações situavam-se bem longe de suas fronteiras. Como não precisavam
identificar sua terra como algo separado do resto, bastava chamá-la país.
No entanto, parecia que depois de ser governada por tanto tempo por um
rei, estava sendo chamada de Reino Élfico. Segundo relatos, esse rei era muito
forte. Quais eram seus pontos fortes e suas classes era algo que não
conseguiam descobrir. Nesse ponto, as Elfas olharam para os gêmeos,
provavelmente se indagando por que não sabiam.
Essa foi toda a informação que Ainz conseguiu obter naquele momento.
Ele tinha que se contentar com uma informação tão escassa só para que
elas não suspeitassem. Mas agora ele tinha uma ótima desculpa para ser
proativo em suas perguntas. A paciência é uma virtude, como diz o ditado.
Bem, acho que eu devo dar às cartas. Será que começo dizendo que
quero abrir relações diplomáticas entre nossas nações? Ou que tal dizer que
eu quero ir a uma aldeia de Elfos Negros para encontrar amigos para Aura e
Mare?
Também era melhor não mentir, pois poderiam descobrir a verdade mais
tarde.
Esse seria o caminho mais fácil... mas não consigo imaginar como a
Aura e o Mare vão reagir se eu disser na frente deles.
Ele temia que se sentissem obrigados a fazer amigos. Ele mesmo sabia
que a amizade era algo que se formava gradualmente entre pessoas de
interesses em comum. Algo advindo de uma obrigação simplesmente não
seria verdadeiro. Ainz se lembrou de seus amigos de YGGDRASIL — seus
ex-companheiros de guilda. Amigos que fizera durante encontros casuais e
por meio de acasos do destino.
Droga, ainda não sei como abordar essas coisas... não posso ficar nessa
de improvisar o tempo todo.
Mas, não havia mais tempo. Enquanto os gêmeos estivessem aqui, ele só
podia dizer que se tratava de abrir relações diplomáticas. Se as coisas não
corressem bem, ele poderia abordar a idéia de fazer amigos como um tópico
paralelo. Ou talvez pudesse moldar as coisas até chegar no ponto que
desejava, ligando o desejo de aprofundarem relacionamentos com os Elfos
Negros como parte da diplomacia de baixo nível.
“Estabeleci uma nação chamada Reino Feiticeiro. Meu plano é ter várias
raças vivendo em coexistência. Alguns humanos, Dwarfs, Goblins, Orcs e
Lizardmen já se tornaram cidadãos de nossa nação. Mesmo que os Elfos não
aprovem esse tipo de reinado, quero iniciar relações diplomáticas com seu
país, bem como relações comerciais. Como tal, desejo visitar sua nação.
Vocês cooperariam conosco?”
Mesmo que fosse apenas uma desculpa agora, não era ruim ter relações
diplomáticas e comerciais com o Reino Élfico. No entanto, havia um
problema crítico.
Portanto, ele queria enviar pessoas aptas com diplomacia em seu lugar.
Albedo era a melhor escolha, mas ele não queria atribuir nenhum trabalho
adicional a ela, pois estava demasiadamente ocupada administrando os
territórios que eram de propriedade de Re-Estize.
“M-mas rogo que nos perdoe por não podermos nos referir a Vossa
Majestade assim...”
Aura, Mare e as empregadas ao redor delas as espiavam secretamente
com expressões perplexas.
“...Oh, que pena. Então, voltando ao assunto; como é o seu país? Como
lidam com monstros vivendo naquela floresta?”
“As árvores adequadas para tal magia também são cultivadas usando
meios mágicos. Nós as chamamos de Árvores Élficas.”
Ainz queria que demonstrassem essa magia, pois era algo inexistente em
YGGDRASIL. Elas ficaram surpresas com esse pedido pois, do ponto de
vista delas, a árvore em que os gêmeos moravam era um exemplo perfeito de
tal magia. Parecia que elas pensavam que era uma árvore élfica mutante
(porque parecia diferente) que só poderia ser transformada por aqueles dois.
Além disso, como essa magia só pode ser usada em Árvores Élficas, não
funcionava com outras árvores. Como os Elfos viviam em tais condições,
monstros que eram bons em subir em árvores como cobras ou aranhas eram
seus inimigos naturais. Embora fizessem uma vigília noturna, esses monstros
tendiam a ser bons em ocultação; então havia vítimas de vez em quando. Por
outro lado, dificilmente eram atacados por monstros que não podiam escalar.
Parecia que a capital élfica — o único lugar que os Elfos podiam chamar
de cidade, pois não eram uma raça populosa — era o único assentamento que
fôra construído em um lugar sem cobertura de floresta, na margem de um lago
em forma de meia-lua. O “parecia” foi adicionado porque essas Elfas nunca
visitaram a capital e só ouviram falar de terceiros.
Como a magia druídica também poderia fornecer água, viver nas árvores
era vantajoso para eles. Quanto aos monstros voadores, o dossel das Árvores
Élficas atuava como um escudo, assim como uma camuflagem.
“...Como é?”
“...Ah, é mesmo. Esqueci que sua aldeia foi atacada pela Teocracia.”
Essas Elfas não eram soldadas, apenas pessoas que viviam na aldeia que
foram capturadas durante o ataque da Teocracia. Do ponto de vista delas, seria
doloroso voltar àquele lugar. Além disso, sua segurança não podia ser
garantida.
“A capital...”
“Por favor, nos perdoe. Não conhecemos nenhum outro lugar a não ser
os arredores da nossa aldeia...”
Essas Elfas não estavam familiarizadas com o que rodeava sua aldeia,
mas isso não era algo limitado a essas garotas. É o mesmo para os aldeões do
Reino ou do Império.
As pessoas nesse mundo geralmente viviam suas vidas inteiras em seu
local de nascimento, especialmente se não fossem educados em alguma
escola. Embora mal soubessem dos arredores, as outras cidades em seu país
poderiam ser terras estrangeiras para eles.
Embora Ainz não pretendesse ser o emissário, devolver essas três com
segurança provavelmente ajudaria na diplomacia.
“Qual o problema?”
“...Hummm.”
Ainz moveu seu olhar para as bebidas na frente das Elfas. Não era
possível que fosse apenas por isso, certo?
“...Por quê? Eu posso entender se preferir não dizer, mas espero que diga
se não for pedir demais.”
“É que—”
“...Aura, Mare. Parece que suas bebidas estão quase acabando. Por que
não vão pegar um pouco mais?”
“Eh!?”
Esplêndido!
Ainz admirou o raciocínio rápido de Aura.
“Eh, eh?”
Aura arrastou o ainda confuso Mare pelos braços. Ainz falou depois que
estavam distantes o suficiente:
“S-sim.”
“Já estamos acostumadas com nossa vida aqui, e não podemos voltar
para nossa vida de antes... Esse lugar... A casa de Aura-sama e Mare-sama é
um paraíso.”
“Eh?”
Ainz inicialmente abaixou seu volume para combinar com o da Elfa, mas
ele soltou sua voz habitual com a súbita surpresa.
Por um momento pensou que estavam brincando, mas depois que viu as
outras duas concordando seriamente, ele entendeu que diziam isso do fundo
do coração.
Elas disseram muitas coisas, mas se resumissem apenas a isso, então não
havia necessidade de tirar os gêmeos daqui. Como Ainz pensou que deveria
haver mais razões, ele acrescentou:
“...Aah.”
Aqueles dois eram de raça semelhante aos Elfos e eram crianças fofas.
Elas certamente ficaram inseguras a princípio, mas a personalidade de Aura e
Mare provavelmente as conquistou.
Mesmo assim, ele pensou que isso era algo que poderia ser dito na
presença dos gêmeos. Embora achasse que elas tinham algo mais a dizer,
parecia ser o fim da conversa.
Para falar a verdade, não entendi foi nada. Por que eles não podiam
ouvir isso? Havia algo na conversa anterior que as faria serem repreendidas
pelos gêmeos? ...Bem, tanto faz.
“Muito bem. Então permito que continuem servindo Nazarick como têm
feito até agora.”
Parecia que não entendiam o que Ainz estava falando, mas essa era uma
questão importante para ele.
Elas não estavam nem um pouco preocupadas com sua cara de pau.
Ainz não sentiu vontade de repreendê-las, pois achava que era apenas
uma demonstração de lealdade, mas pelo menos queria que disfarçassem um
pouco melhor.
“Perdoe-nos, mas não temos confiança em agir como guias. Quanto a ser
mediadoras... embora tenhamos viajado pela nossa aldeia, também não temos
confiança nas regras de etiqueta...”
“É mesmo é...”
“Perdão!”
Seria incômodo visitar um lugar desconhecido sem um guia, mas não era
como se ele tivesse certeza de que essas Elfas poderiam ser úteis. Como
pretendia ir para o desconhecido, seria melhor não as forçar a vir. Elas podem
até acabar se tornando um fardo.
Ainz olhou para trás e chamou Lumière. Depois que ela aproximou seu
rosto, Ainz sussurrou “mais perto” e levantou sua xícara. Claro, o conteúdo
do copo não foi tocado. Só para ter certeza, ele gesticulou na direção dos
gêmeos com os olhos.
Ele pensou que estava sendo um pouco obtuso, mas parecia que ela
rapidamente entendeu e saiu com um simples “com licença”.
Ele ficaria feliz se essa realmente fosse a opinião geral a respeito, mas
essa resposta parecia fora de lugar.
Ainz imediatamente pensou no motivo. Estavam considerando Aura e
Mare.
“—Não, não é isso. Estou perguntando sobre as relações entre a raça dos
Elfos Negros e sua raça.”
“Não é possível...”
Estava fora de sua alçada fazer algo a respeito desse tipo de reverência.
Depois de serem tratadas como subordinadas dos gêmeos por tanto tempo,
elas não poderiam dizer algo como “Elfos Negros são uma raça inferior”.
Pois se dissessem, isso sim seria assustador.
As Elfas se entreolharam.
“Com toda honestidade, senhor, como nossa aldeia não tinha Elfos
Negros, os encontramos aqui pela primeira vez. É por isso que nunca tivemos
qualquer prejulgamento deles. O máximo que sabemos é que migraram do
norte para a grande floresta.”
Mesmo sendo uma minoria, não parecia que eram perseguidos. Talvez
fosse porque os Elfos não tinham espaço para tais coisas quando estavam
sendo ameaçados por uma força externa — a Teocracia. Ou talvez a floresta
fosse apenas um lugar difícil de se viver.
“Seres nojentos.”
“Ah, sim.”
Respostas imediatas.
Ele pediu que falassem com honestidade, mas isso era honesto demais.
Essas garotas eram do tipo que seriam demitidas porque realmente
acreditavam nas palavras do CEO quando pediam para serem informais.
Agora com suas dúvidas sanadas, ele estava certo de que não poderia ser
o emissário. Talvez isso fosse melhor assim. Era uma ótima desculpa para se
dar. Certamente não era porque Ainz não era talentoso o suficiente.
Mas não temos esses diplomatas. ...O fato de não podermos confiar nos
humanos encarregados dos assuntos internos é um ponto fraco... Ou talvez
haja alguns e eu simplesmente não sei. Nesse caso, que tal pedir à Albedo
para despachar aventureiros? Não... esse sistema ainda é bem imaturo... ou
talvez eu esteja errado. Afinal, é de mim que estamos falando.
O colapso do Reino Élfico não seria um revés para Ainz, até porque seria
muito mais eficaz estabelecer relações diplomáticas se o Reino Feiticeiro
pudesse oferecer sua ajuda nesse cenário. Então, seria melhor se eles apenas
esperassem o colapso? Talvez não dessa vez.
Eles não tinham o luxo de observar a situação de braços cruzados,
especialmente porque valorizava muito a raridade das vidas dos Elfos Negros.
Talvez eu deva enviar os dois na frente— não, não posso fazer isso. Não
me sinto confortável deixando que saiam sozinhos em um lugar desconhecido.
Eu mais do que ninguém sei que são muito mais do que crianças, são NPCS
de nível cem... Mas acho que o melhor a ser feito é simplesmente ignorar
esses assuntos de relações internacionais e focar em conseguir amigos para
eles. Isso só vai dar certo se eu for junto.
Não seria uma má idéia dizer para evacuarem apenas os Elfos Negros
depois de visitar o país dos Elfos. Nesse caso... há necessidade de levar
alguém além dos gêmeos?
Caso decidisse levar alguém junto, era melhor levar guardas furtivos
como Hanzos em vez de liderar algo como um exército.
“Entendi tudo...”
Ele poderia levar uma das três, deixando as outras duas aqui. Enquanto
ele as mantivesse como reféns, a Elfa acompanhante provavelmente não faria
nada que fosse negativo para Ainz.
Nada mal.
Mesmo que entendessem que estavam sendo mantidas reféns, ele poderia
insistir que não era o caso.
“Nosso povo não usa moedas de metal, então acho que o ouro não
funcionaria...”
“Acho que nossa aldeia ficaria mais feliz com a comida e talvez ervas
raras. Pequenos arranhões e afins podem ser curados por magia, mas venenos
e doenças precisam de um druida talentoso para curar. Portanto, pacotes de
ervas são altamente valorizadas.”
“Casas, flechas... e até roupas. Parece que a magia druídica dos Elfos é
muito conveniente. Você não pode fazer isso, certo, Mare?”
Mas—
Era lógico que se alguém como Ainz pudesse pensar nisso, outros
Jogadores também poderiam. Só idiotas pensariam em si mesmos como
alguém especial.
Aura parecia querer dizer algo mais, mas não quis perguntar em detalhes
na frente das três.
Se possível, Ainz não pretendia dizer que iriam para lá apenas para que
fizessem amigos. Ele queria que fosse algo natural, não uma obrigação.
“O que farei depois... persuasão? Não posso dar a mesma desculpa que
usei para a expedição ao Reino Dwarf...”
Ele não estava confiante em resolver esse problema, mas precisava fazer
alguma coisa para trazer o conceito de férias remuneradas para Nazarick.
Parte 3
Qual decisão tomar diante de um desafio?
Todavia, era incerto que sairia vitorioso diante do adversário que logo
entraria em cena. Seu oponente vindouro era nada menos que o chefão entre
os chefões. Um chefão mais temível do que o próprio Devourer of the Nine
Worlds, pensou Ainz enquanto engolia com sua garganta inexistente.
Ele já havia feito diversas simulações mentais, mas ainda eram limitadas
por ser apenas um mero humano. Quando se tratava do intelecto de seu
oponente, ele não estava nem no sopé da montanha.
Então—
“Entendido, Ainz-sama.”
Ele poderia ter inventado várias desculpas, mas toda vez ia por esse
caminho, a conversa tendia a tomar rumos estranhos. Então ele sentiu que era
melhor declarar diretamente seu objetivo. Demiurge estava ausente desta vez,
então seria improvável que interpretasse suas palavras de um modo totalmente
distorcido.
—Quê?
“Mas o que você está dizendo?” era uma, a outra era “Sim, exatamente
como supôs”. Claro, ele florearia essas palavras para fazê-las soar régias.
Ele decidiu ser honesto. Teria sido melhor fingir como costumava fazer?
—Sim, Provavelmente.
Nazarick não tinha salários nem folgas. Estava no auge das empresas
abusivas. Portanto, era muito provável que ela pensasse que o termo fosse
uma metáfora para outra coisa. Era lógico concluir que isso foi culpa de Ainz,
afinal, ele ainda tinha que implementar dito sistema em Nazarick. Claro, Ainz
ainda se justificaria apontando a obstinação dos NPCs por mais trabalho como
a raiz do problema.
“—Se chegar o dia em que eu não possa me curvar para vocês, então
esse dia será o meu fim. Pois não serei mais eu.”
Houve uma comoção ao lado de Ainz, causada pela surpresa dos gêmeos
com a reação de Albedo.
“O senhor disse que são férias remuneradas, pretende levar esses dois
com o senhor, Ainz-sama?
Ter notado que Ainz estava planejando viajar apenas pela frase “férias
remuneradas”, Albedo era assustadoramente perspicaz. Se fosse Ainz no lugar
dela, provavelmente teria dito, “Como os dois estão aqui, está planejando
passar algum tempo no Sexto Andar?”.
“Entendo...”
O que ela tinha entendido? Talvez estivesse pensando que Ainz estava
indo para lá por diplomacia. Ainz tinha que ter certeza.
“Claro.”
Uma resposta simples. Ainz pensou que ela diria algo mais...
“S-sim, correto.”
“Eu pretendo ir logo, mas Aura e Mare têm que se preparar, não é
mesmo?”
“Mmmmmm—”
“Eh, umm, si-sinto muito, mas n-não estou confiante de fazer o trabalho
incrível que a Albedo-san faz...”
Ele não sentiu que nenhuma das palavras de Mare justificasse a raiva de
Albedo. Na verdade, Ainz concordou com o que ele disse.
“Mare!”
Mare ficou acuado quando Albedo gritou. Ela estava muito aborrecida.
“Eu ouvi um Guardião de Andar, a elite hierárquica, dizer que não pode
fazer o trabalho que é esperado por um Ser Supremo?”
“O problema não é reconhecer que não é capaz, mas sim não deixar bem
claro que dará seu melhor para estar apto a fazê-lo! Um Guardião de Andar
não pode dizer que é incapaz de fazer algo que um Ser Supremo espera e
simplesmente concluir seus dizeres.”
Eita.
Ele não podia dizer que Albedo estava errada. O que Mare disse
certamente deixou a desejar se interpretado desse ponto de vista.
Disse Aura com indiferença. Sendo repreendido por sua própria irmã,
Mare soltou alguns sons lamentáveis.
“Pare!” Ainz gritou com raiva para impedir Albedo de continuar. Claro,
foi apenas uma encenação, ele não estava realmente com raiva. O fato de que
sua supressão emocional não entrou em ação era prova disso.
Ainz elevou sua aura assim como sua voz. Ele optou por usar o efeito
visual da aura para assumir o controle da conversa, não para prejudicar os
outros. Ele escolheu usá-la porque sabia que Aura, Mare, Albedo e até
Lumière estavam equipados com itens que concediam imunidade contra
efeitos de status mental.
Ele não sabia o que Albedo teria dito se permitisse que continuasse.
Talvez mais tarde ela explicasse com calma para Mare, mas como havia a
chance de que isso pudesse resultar em ressentimentos, Ainz não poderia
deixá-la terminar.
“Por outro lado, Albedo. Você não acha que é vergonhoso um superior
forçar seus subordinados a fazerem algo que são incapazes de fazer?”
“Eu acho que ambas as partes erraram. Mas estou feliz por sua lealdade,
e quero que saiba que todos cometem erros. É preciso ser gentil ao corrigir
um erro, para que da próxima vez não fiquem receosos para reportarem caso
erros voltem a acontecer.”
Albedo era muito leal e capaz, mas ela tendia a ser dura com os outros.
Ainz concluiu que a única razão pela qual isso não causava grandes
problemas era porque havia rejeitado a maioria das sugestões dela sobre como
lidar com os outros. Se Albedo recebesse autoridade total, provavelmente
terminaria em expurgos em larga escala.
“Eh, Ah, não. Não fez nada de errado, Albedo-san. Eu que errei... Eu
sinto muito.”
“...Então, onde estávamos? Lembrei. Como irei tirar férias com esses
dois, quero que os gêmeos escolham seus substitutos. Em primeiro lugar,
transfiram seu trabalho para seus substitutos no prazo de três dias. Se
possível... confie-o aos Guardiões de Área sob seu comando em vez dos
Guardiões de Andar. Se não for possível—”
Ainz pensou que seria difícil entregar algo mais nas mãos de Albedo, já
que faz pouco tempo desde a destruição do Reino.
—Se possível, eu preferiria não usar os ativos do tesouro, vai ter que ser
assim por enquanto, pelo menos até que eu junte meu próprio dinheiro. Ou
seria melhor priorizar o fortalecimento das defesas de Nazarick? Vou pensar
melhor a respeito quando estiver viajando. Aaah, queria tanto ter dinheiro...
Dinheiro que eu possa usar do jeito que eu quiser... Será que há alguém com
algum tesouro escondido? Tipo, de alguém que não pode reclamar mesmo
que eu roube.
“...Ainz-sama?”
Ainz parou antes de dizer “Hanzos são uma boa escolha”. Em geral,
dizia-se que funcionários excelentes eram bons em ler nuances. Embora Ainz
fosse um funcionário medíocre, talvez tenha acertado um crítico nesse
instante, porque sua intuição lhe disse para calar a boca por um momento.
“Ah, não, como o senhor não planeja levar os Hanzos dessa vez, não
tenho porquê me opor à sua decisão, Ainz-sama...”
Ainz— Suzuki Satoru era apenas uma pessoa comum, então nunca
imaginou que tal problema pudesse existir.
Era um fato que estava usando muito os Hanzos, mas deixar os outros
terem essa impressão era muito ruim.
Isso não era bom. Ele não estava apenas pensando que; embora Nazarick
fosse uma empresa abusiva, de alguma forma estava funcionando bem por
causa da força de suas relações sociais internas, correto?
Ele não poderia dizer: “Irei com os Hanzos mesmo” em tal situação.
♦♦♦
“Mesmo o Ainz-sama dizendo que vai visitar o Reino Élfico pra tirar
férias... o que ele realmente tá pretendendo? Não é possível que seja apenas
pra dar uma relaxada, né?”
“—Dificilmente.”
A posição de um rei não era uma coisa para ser tomada de ânimos leves.
Não é como um casaco que pode tirar e colocar de acordo com o clima.
Mesmo tendo dito que seriam férias — mesmo que os outros países
acreditassem —, no final ele ainda era o ilustre rei do Reino Feiticeiro. Cada
movimento poderia ser considerado como parte da agenda do Reino
Feiticeiro. Qualquer idiota poderia entender isso.
Portanto, era lógico que havia outro significado oculto em seu ato de
tirar férias remuneradas no país dos Elfos.
“Eu acho que o Demiurge teria uma resposta melhor... a Teocracia deve
estar implantando uma ofensiva em larga escala contra o Reino Élfico neste
exato momento.”
Albedo não via problemas se o país dos Elfos fosse destruído pela
Teocracia. Pelo contrário, traria apenas benefícios se a Teocracia escravizasse
sua população, pois assim poderia usar de Casus Belli para libertar os Elfos.
Isso poderia aumentar a quantidade de opções que tinham contra a Teocracia,
mas parece que seu mestre pensava diferente da situação. Talvez ele estivesse
indo para lá porque queria obter mais informações antes de tomar uma
decisão.
Mas se ele trouxesse aqueles demônios... não, ele tomaria ações tão
impensadas? Será que ele está duvidando de mim? Ele ainda não fez nada,
então o problema é—
“Eh? Ah, sim, como ia dizendo; não sabemos se vai acontecer. Talvez até
o Ainz-sama não tenha certeza e é por isso que ele está usando a desculpa de
férias remuneradas."
“Nem pensar!”
A sabedoria de seu mestre conseguiu ler e controlar tudo até agora. Eles
testemunharam diversas vezes quando uma de suas ações corriqueiras acabou
sendo o golpe fatal para o oponente. De acordo com o que ouviram, ele havia
planejado para os próximos mil anos e estava fazendo jogadas dentro desse
itinerário.
Era natural duvidar de Albedo, que disse que seu mestre poderia estar
incerto sobre o que fazer.
“...Como esperado do Ainz-sama, até você não conseguiu ler todas as
intenções dele—”
Albedo sorriu sem graça para Aura, que falou com as mãos cruzadas
atrás da cabeça.
“Se o Ainz-sama quer uma diminuta força de elite... não, será quê...”
“Por ora, selecionem um grupo para a comitiva menor e outro para caso
precise de uma maior... Quanto a mim, discutirei com o Demiurge a respeito
dos objetivos de Ainz-sama e informo vocês mais tarde.”
Após dá-los metas e dizer para não se preocuparem muito, ela recebeu
como resposta elogios sarcásticos. Provavelmente por sua incapacidade de
entender toda a extensão de seu desconforto e sua inabilidade de responder à
confiança depositada nela.
Era possível contar as flechas sem usar os dedos de ambas as mãos, mas
foram informados de antemão de que as flechas nunca acabavam. Não havia
dúvida de que era um item mágico.
Um herói poderia virar a maré da batalha sozinho. Era certo afirmar que
apenas um deles era igual a um exército de 10.000. Na verdade, a garota em
sua frente já havia tirado mais de 1.000 vidas do exército da Teocracia.
Dito isso, a oponente não era um exército, mas uma única combatente.
Era fácil notar os movimentos de uma tropa de guerreiros, mas a garota era
muito boa no que fazia. Estando sozinha, ela tinha mais mobilidade que seus
homens. Uma vez que a perdessem de vista, seria difícil encontrá-la
novamente. Se um inimigo capaz de lutar sozinho contra um exército fosse
deixado por conta própria nas profundezas da grande floresta, não havia
necessidade de dizer que o moral da vanguarda cairia.
Então, pode-se dizer que esta seria a melhor chance deles: como a
oponente foi posicionada (embora ficar apenas sentada em uma cadeira
levante sérias dúvidas sobre isso) e instruída a agir dessa forma. O alto
escalão decidiu que assim que soubessem sua localização, ela deveria ser
neutralizada, mesmo que tivessem que sacrificar algumas de suas forças.
Apesar disso, eles foram enviados para esse campo de batalha, pois
acreditava-se que; desde que trabalhassem em equipe, poderiam derrotar um
herói.
Mas havia uma grande diferença entre aqueles que acabaram de entrar no
reino dos heróis e aqueles que eram praticamente anômalos. Mesmo que
pudessem vencer os novatos, era impossível triunfarem contra seres atípicos.
Era por isso que Schoen observava a garota com seriedade.
Mais forte que seu medo da morte, era seu medo de morrer em vão sem
trazer as informações que coletou.
Entretanto, não olhou em sua direção, mas isso não significava que
poderia baixar a guarda. Para aqueles que aprimoraram suas habilidades ao
limite, era fácil saber de tudo que ocorria em uma direção mesmo olhando
para o lado oposto. Na verdade, Schoen sabia que tal habilidade realmente
existia.
Com sua audição fortalecida por 「Elephant Ear」, ele logo ouviu um
grande grupo de pessoas se aproximando. Provavelmente o que fez a garota
olhar naquela direção.
Schoen sentia culpa, pois sabia o porquê foram enviados para cá.
Ele não podia avisá-los, pois isso era parte de seu dever.
A flecha não visava nada específico. Mesmo que pudesse localizar seu
alvo através do som, estavam no meio da floresta. Era impossível atirar com
precisão com todas as árvores ao redor. Por exemplo, uma 「Fireball」 seria
capaz de contornar essas obstruções.
A garota disparou outra flecha. Que passou entre os espaços das árvores
novamente e depois se multiplicou. Entre a chuva de flechas, os sons de
lamentos e o farfalhar da vegetação rasteira foi diminuindo.
—Ela não é grande coisa. Aquela pirralha nem mesmo está no reino dos
heróis
Por treinar tanto para igualar seu rival, o Terceiro Assento da Escritura
Preta, “Tetra Espíritos”, que ele pôde ter certeza de sua conclusão.
Ela era mais fraca que Schoen, mas isso não significava que poderiam
enfrentá-la de peito aberto.
Magic casters e arqueiros eram fortes à sua maneira. Mesmo que fosse
mais forte do que ela em termos gerais, o resultado era incerto. Poderia ser
possível que ela estivesse escondendo sua verdadeira força depois de perceber
que estava sendo vigiada.
Ele não achava que apenas isso bastava, ela poderia notar algo suspeito e
escapar. Ainda mais dada à distância que estava.
O alvo caiu no chão e ficou imóvel com o rosto para baixo. Mesmo
assim, apenas Schoen se aproximou dela.
Ele não achava que o alvo, uma arqueira, seria capaz disso, mas havia
ilusões capazes de fingir-se de morto. Ele não poderia baixar a guarda.
Por ser atingida por suas flechas mágicas, não havia uma única parte do
corpo da criança que estivesse sem feridas. Schoen deu uma olhada mais de
perto em seu rosto. Não havia luz nos olhos vistos através da pequena
abertura de suas pálpebras inchadas.
“Huh. —Quem com ferro fere, com ferro será ferido, pirralha de merda”
Talvez fosse uma interpretação errônea por parte dele, mas caso fosse de
fato o caso, seria extremamente irritante. Essa Elfa matou quase mil de seus
companheiros da Teocracia, então ele queria que ela morresse em agonia,
lamentando até o último suspiro por suas ações.
Schoen se conteve antes que pudesse cuspir no cadáver. Era preciso tirar
o equipamento dela primeiro. Ele planejava fazê-lo aqui, pois não havia
inimigos por perto. Ele se sentiria enojado se tivesse que tocar sua própria
saliva no processo, então preferiu cuspir depois.
Primeiro, o arco.
Uma arma capaz de parar o exército da Teocracia. Deve ser algo bom.
“Ora ora...”
Não havia ninguém aqui, ele tinha certeza disso. Não deveria haver Elfos
além da garota. Ele até teve o cuidado de usar「See Invisibility」 enquanto
se aproximava do alvo.
“Humano, você sabia disso? Lutar entre a vida e a morte contra os fortes,
é o caminho mais rápido para tornar-se mais forte? Eu a tirei dos braços de
sua mãe e a joguei nesse campo de batalha quanto antes, pensando que ela se
sobressairia...”
Um criminoso deplorável.
O Rei Elfo.
Mesmo fugindo o mais rápido que podia, o Rei Elfo ainda o seguia com
os olhos. Não parecia que estava usando 「See Invisibility」 para vê-lo
perfeitamente. Ele estava vendo através de 「Invisibility」e 「Silence」
usando apenas sua extraordinária visão. Foi por isso que Schoen precisava
criar alguma distância entre eles. Se o oponente não estivesse usando
habilidades anti-furtivas para encontrá-lo, apenas aumentar a distância entre
tornaria mais fácil se esconder.
“—Hah”
“É tão sem sentido matá-los, mas— eu tive o trabalho de vir até aqui,
então pode ser bom para aliviar meu tédio.”
“DISPERSAR!”
Gritou, cancelando 「Silence」 para que sua voz pudesse alcançar seus
subordinados.
Ele nunca havia gritado tão alto em toda a sua vida. Mesmo o Rei Elfo
achando tolo de sua parte, ainda foi o melhor caminho.
Ele precisava que seus subordinados dessem tudo de si, mesmo que
significasse o sacrifício de alguns. Levar a informação para casa era a única
maneira de honrar as vidas perdidas.
Pelo canto do olho, Schoen viu o Rei Elfo parado ali com um sorriso de
satisfação e logo entendeu seus pensamentos torpes.
Ele sabia o que lhe aguardava. O Rei Elfo estava pensando que Schoen
morreria no próximo ataque. E certamente não estava errado.
Mesmo assim—
Ele desperdiçou o tempo de seu oponente, mesmo que apenas por alguns
momentos, mas já era um feito e tanto.
Pelo menos uma pessoa sobreviveria para retornar à Teocracia por causa
disso. Poderia ser o fim de Schoen, mas não da Teocracia.
♦♦♦
Recuperar as armas que deu à sua criação fracassada certamente não foi
uma perda de tempo — ele deveria ser elogiado por isso. O equipamento que
deu a ela eram coisas que recebera de seu pai, equipamentos que ninguém
mais poderia replicar. Ele não podia deixar com que caíssem nas mãos de
humanos que não conseguiam entender seu valor.
Seu aborrecimento vinha do fato de que não havia mais ninguém que
pudesse completar uma tarefa tão importante.
Ele não tinha subordinados a quem pudesse confiar tais questões. Isso
porque todos eram fracos.
Em seu ponto de vista, Elfos eram uma raça esplêndida, seu pai era a
prova disso. A raça dos Elfos poderia se tornar mais forte do que qualquer
outra. Se Decem fosse um tipo especial de Elfo como um Alto Elfo ou um
Elfolord, ele teria concluído que os outros eram apenas piores e ponto final.
No entanto, esse não era o caso. Seu pai também era apenas um Elfo. Isso
significava que qualquer Elfo poderia ser tão forte quanto.
É por isso que ele não conseguia entender o porquê de seus iguais serem
tão fracos.
Como ele poderia provar que sua raça era a mais poderosa?
Ele só tinha que fazer desse mundo o domínio dos Elfos — ou mais
precisamente, dele, que possuía uma linhagem tão sagrada.
Infelizmente, ele não tinha como saber quais fêmeas tinham úteros
superiores até que as crianças fossem geradas. Assim, ele enviou todos os
seus filhos para a guerra, mas quase nenhum conseguiu retornar.
Ele estava incomodado com o fato de que, mesmo após fazer isso por
tanto tempo, ainda não obtivera resultados.
Uma fêmea se aproximou de Decem, que parecia bastante ameaçador
enquanto imerso em pensamentos.
“—Meu rei.”
“O que é?”
Ele dirigiu sua raiva colérica para a fêmea e então arregalou ligeiramente
os olhos com surpresa.
Nesse caso, como ela resistiu? Talvez fosse porque estava exausto. Ele
realmente não se importava, mas deveria recompensá-la por isso.
Quem deveria ser “a criança”? O que exatamente ela quis dizer com uma
pergunta vaga dessas, não deveria ela primeiro agradecer ao rei por trabalhar
com tanto afinco depois de uma longa viagem? Ele perdeu a motivação
imediatamente.
Roogi.
Decem não era bom em lembrar de nomes, afinal, quase não havia
ninguém que fosse digno de ser lembrado por ele.
De repente uma luz acendeu em sua cabeça. Era sobre aquela fracassada,
aquela que ousou morrer apesar de ter lhe dado armas tão preciosas. Ele
sentiu-se envergonhado por saber que metade de seu precioso sangue corria
nas veias daquilo. Ou melhor, o que o irritava era saber que metade do que
corria em suas veias foi morta por meros humanos.
“En...entendi...”
Decem sentiu-se comovido ao ver como era um rei gentil ao ponto de ser
misericordioso mesmo com os incompetentes.
“Vá para meus aposentos mais tarde. Vou lhe dar outra chance.”
Decem começou a andar sem esperar resposta. Ele deveria levar essas
armas ao tesouro primeiro.
Enquanto esperava, um homem pediu sua permissão para entrar. Ele não
podia ver a mulher de antes atrás dele.
“Suicídio?”
“Entendo... Só pode ser isso. Ela se arrependeu de dar à luz uma filha
imprestável e se matou como um pedido de desculpas, o que acha?”
“...Sim... eu tenho.”
“Hoje é seu dia de sorte. Envie para mim as que forem maiores de idade.
Se não tiver nenhuma, sua esposa servirá meu propósito.”
Parte 2
Voando acima da grande floresta que se estendia do sul do Reino
Feiticeiro ao sul da Teocracia.
Por ser noite, o fundo da vegetação profunda dava a ilusão de ser pintado
de preto. Quando os ventos passavam nos dosséis, o observador até chegaria a
pensar que estava vendo as ondas do mar. Ele sentiu que era realmente
merecedor do nome. Na verdade, essa floresta era maior do que a Grande
Floresta de Tob e a Cordilheira Azerlisiana juntas. Pode até ser maior que
todo o Reino.
Até onde a visão alcançava, nenhum ponto de referência era visto nesta
colossal floresta. Certamente havia várias espécies que fundaram civilizações
independentes que mudaram o habitat para algo que melhor lhes servisse, mas
ele não encontrou nenhum sinal dessas mudanças acima das árvores.
Meio que não faz sentido. Por que isso é a única coisa que se destaca? A
Teocracia parou de avançar?
Eles querem levar os Elfos como escravos e por isso não queimam tudo?
Se for, parece que a Teocracia não está tendo dificuldade alguma
então...Talvez haja muita diferença entre a força de suas tropas.
Ele não conseguiu ver nenhuma área queimada, mas não era prova de
que não havia, afinal, ele estava muito alto. Talvez Aura tivesse notado se
estivesse aqui.
Após concluir que tinha visto tudo o que precisava ver, Ainz ativou 「
Greater Teleportation」.
Pela análise de Ainz a partir das informações que reunira, a maioria dos
seres vivos nesse mundo eram fracos.
Todavia, não podia afirmar que não havia ninguém igual a ele em
regiões onde sua informação era escassa. Era prudente prosseguir assumindo
que “talvez” existam.
Ele tinha uma boa noção de até que ponto o exército da Teocracia havia
avançado. Agora restava coletar informações na Capital Real dos Elfos.
Ele inicialmente não pensou nada de mais quando soube que os Elfos
cultivavam árvores com magia, mas poderia haver a possibilidade de que as
Árvores Élficas estivessem usando os Elfos para se multiplicarem.
Ele podia imaginar essas árvores como uma espécie de monstro. Era algo
que valia a pena investigar para sanar suas dúvidas.
Ainz tentou ver o que mais havia à frente enquanto pensava em como
investigar isso e se deveria ou não delegar a Mare.
Deixando esse assunto de lado, Ainz não era furtivo o bastante para se
infiltrar na Capital Real sem usar magia. Então, ele lançou 「Perfect
Unknowable」 e ainda por cima se transformou em um Elfo com magia de
ilusão.
Ele assumiu que poderia haver alguém com habilidades capazes de ver
através da invisibilidade, assim como ele mesmo fazia, durante todo o tempo.
Hora de começar.
Ele podia ver Elfos fazendo rondas nas pontes que ligavam o círculo
externo de árvores que compunham a Capital Real.
Ele não tinha certeza se não tinham meios para ver através de seu 「
Perfect Unknowable」 ou se simplesmente não estavam prestando atenção,
mas os soldados continuavam a agir normalmente. Bem, após tanto preparo
para ficar oculto, teria sido embaraçoso se conseguissem detectá-lo tão
rapidamente.
Ele havia resolvido usar antes de vir, mas mesmo assim, ele não pôde
deixar de sentir que era um desperdício. Ele se via relutante em ativar o
pergaminho toda vez que pensava que deveria haver uma maneira melhor.
Ele não teria hesitado se estivesse em uma batalha com sua vida em
jogo, mas o fato de que não estava em uma situação tão desesperadora foi a
raiz de sua hesitação.
Depois de um tempo, Ainz conseguiu clarear a cabeça e finalmente
ativou o pergaminho. Ele teria hesitado novamente se pensasse em qualquer
coisa.
Uma magia de 9º nível que criava um olho intangível e invisível. Esta foi
provavelmente a primeira vez que ele usou algo assim desde a época com os
Lizardmen.
Embora fosse uma excelente magia para espionagem, não era a melhor
que havia. E mesmo sendo invisível a olho nu, poderia ser facilmente
descoberta por magias de detecção de segundo nível. Além disso, mesmo
sendo intangível, se fosse destruída em um ataque, quem a lançasse receberia
o dano. Como era considerada pertencente à adivinhação, o oponente poderia
encontrar sua localização através de medidas anti-adivinhação ou mesmo
receberia um ataque se acionasse qualquer defesa automatizada. O principal
problema era que esse olho mágico não tinha nenhum HP e não usava o nível
ou as defesas de Ainz para escalonar suas capacidades.
Três guardas Elfos equipados com arcos estavam patrulhando como uma
equipe, mas ninguém notou a aproximação do 「God’s Eye」.
Se fosse uma cidade humana, haveria uma via com lojas em ambos os
lados. Também poderiam estar agrupadas em torno da praça central.
De relance ele não encontrou nada similar. Como sua experiência havia
se provado inútil, ele não teve escolha a não ser confiar em sua intuição.
Essa cidade não era nada acolhedora para um viajante. Seria difícil—
não, impossível encontrar o que procurava em meio a isso.
Dito isso, não era como se ele precisasse vasculhar tudo ainda hoje. Não
seria bom ter pressa, em vez disso, ir devagar e com segurança seria a melhor
jogada.
Mesmo assim, Ainz continuou sua busca por mais um tempo. Ele já
havia ativado o 「God’s Eye」, então poderia usá-lo até que o tempo se
esgotasse.
Era perda de tempo fazer algo assim sem um plano. Mesmo que fosse
mais arriscado, ele deveria voltar para procurar pela manhã. Ele
provavelmente obteria uma pista observando a maneira como as pessoas se
movimentavam. Ainz não tinha certeza de quanto tempo levaria para atingir
seu objetivo se não fizesse isso.
Ele encontrou um pai, mãe e duas crianças dormindo. Parecia que era
uma casa de família.
Muito tempo se passou desde que ganhara este corpo. Seu corpo não
tinha as três necessidades básicas e proporcionava insensibilidade à dor, muito
possivelmente por isso que ele conseguiu seguir firme em seu caminho até
agora, mas ainda havia um pingo de arrependimento em seu coração. Quando
viu suas feições solenes aproveitando um bom sono, ele se sentiu nostálgico e
com um pouco de inveja. Isso para não falar de quando via pratos deliciosos à
sua frente.
Esta era a base temporária do grupo nos últimos dias, a Green Secret
House, um abrigo criado por um item mágico.
Assim como seu experimento com Aura, mesmo Fenrir não conseguia
sentir completamente alguém sendo oculto pelo 「Perfect Unknowable」.
Por sinal, ele deveria ser elogiado pelo fato de ter conseguido sentir Ainz, que
mantinha uma magia tão poderosa de ocultação.
Do seu ponto de vista, ele era um intruso que tinha posto seus pés aqui.
Essa era a reação natural de um guarda protegendo seu mestre; o real
problema seria se ele não tivesse esboçado reação alguma.
Desta vez, ele levou apenas Fenrir em vez dos habituais Hanzos. Embora
Ainz tenha dito que levaria muitos subordinados de alto nível, ele não
permaneceu fiel às suas palavras devido a certas razões. Na situação atual,
onde não podia prever como seu plano de obter amigos para os gêmeos
funcionaria, ele preferiu não expor informações sobre suas tropas.
E o outro motivo.
Mas qual foi o resultado? Apesar de Nazarick ter começado a ser mais
ativa desde então, o inimigo não apareceu novamente. O único que mordeu a
isca foi o homem de armadura platina chamado Riku Agneía, que confrontou
Ainz — que na verdade era Pandora’s Actor — quando estava sozinho em
campo de batalha. Era como se o inimigo que fez lavagem cerebral em
Shalltear não existisse.
Assim concluiu que; como ele conseguiu fisgar Riku quando não havia
Hanzos por perto, talvez o inimigo tivesse uma maneira de detectar a presença
dos Hanzos.
Ele informou Albedo, mas mesmo Ainz podia ver que havia muitas
falhas em seu raciocínio. Aparentemente ele a convenceu, pois sorria o tempo
todo, o que o fez duvidar se ela não estava apenas fingindo. Talvez fosse bom
ter uma conversa depois que voltasse.
“—Bom garoto.”
Sentindo-se um pouco melancólico, Ainz deixou Fenrir com uma
saudação curta. Ele então colocou a mão na porta da Green Secret House —
tão camuflada que não se poderia encontrá-la sem saber que estava lá de
antemão — e empurrou um pouco.
Ainz usou a aldrava. Era possível observar dentro da Green Secret House
se alguém tornasse a porta translúcida. Depois de alguns momentos, ele ouviu
a porta sendo destrancada.
E então abriu.
“Bem-vindo!”
“Sinto muito por deixar vocês me esperando, cheguei mais tarde do que
imaginei.”
O espaço interno estava bem iluminado por uma luz de tons quentes e
era muito maior do que se poderia esperar de sua aparência externa.
“Que nada, sem problemas. Até pensei que ia demorar mais quando você
informou que poderia se atrasar”
Não estou sendo empático com aqueles que precisam dormir porque eu
não preciso? Sou muito desnaturado...
“Que nada...”
Mare fez uma pequena reverência. Ainz queria rir, mas não podia.
“Esse menino, viu... Vou te falar...” Aura estava ficando com raiva da
atitude de Mare.
“Não é bom forçar alguém a ficar acordado. Isso pode afetar nossa
operaç—”
Ainz— Suzuki Satoru costumava reclamar quando tinha que ficar até
tarde por causa de seu chefe.
Por outro lado, ele não deveria estar comparando crianças com adultos,
mas também não era certo comparar as habilidades físicas de uma criança
NPC de nível 100 com um adulto comum como Suzuki Satoru.
“—Bem. Então vamos fazer assim. Mare, vá dormir para que isso não
afete o trabalho de amanhã. Não faz bem para a mente ficar acordado à força.
Como disse antes, Aura, você pode deixá-lo a par de nossa conversa
amanhã?”
Era para ela ter concordado imediatamente. Em vez disso, ela fez uma
expressão perplexa, provavelmente pensando que o comportamento de Mare
era muito desleixado para um Guardião. No entanto, foi apenas por um
momento. Ela fez uma profunda reverência, como se tivesse se convencido.
“...Tá bom. Vou levar o Mare pro quarto dele. Consegue ficar de pé?”
“Uh, uh?”
Ele sequer conseguia dar uma resposta legível para Aura, então ficar de
pé está fora de questão.
Seria mais difícil se ele estivesse totalmente equipado, não que eu não
conseguiria carregar ele... É apenas que, aquela coisa é muito pesada...
talvez mais pesada do que todos os outros equipamentos dos Guardiões.
Já que ambas as mãos — ele poderia carregá-lo com uma mão se
quisesse — estavam ocupadas, ele deixou Aura ir à frente para abrir a porta.
Ele entrou no quarto de Mare e o deitou lentamente na cama.
“Não, tenha calma, não precisa se preocupar tanto. Afinal, estamos aqui
de férias. Não há nada de errado em dormir cedo. E quanto a você, Aura? Não
está com sono?”
“...Você está tensa, muito tensa. Veja bem, eu não estou sentindo raiva
alguma. Confesso que em vez disso, me sinto feliz por ter visto um lado
diferente do Mare, entende? Não precisa falar desse modo, vocês estão muito
tensos perto de mim. Fiquei até curioso sobre como os outros se comportam
no dia a dia. —Por exemplo, o que o Cocytus faz?”
Ainz sorriu sutilmente — embora seu rosto não mostrasse, sua voz
transmitia seus sentimentos — e Aura replicou com um sorriso semelhante ao
de uma criança brincalhona.
“Pode responder com sinceridade, tem certeza que não quer dormir?”
Segundo Aura, era comum ela ficar acordada até tarde da noite para
brincar com seus pets de hábitos noturnos. Essa “brincadeira” parecia ser
importante para os Domadores de Feras, já que os monstros acumulavam
estresse e não operariam com todo o potencial se negligenciassem o cuidado.
Dito isso, não era como se ela estivesse reduzindo suas horas de sono. Ela
apenas compensaria dormindo até tarde se passasse à noite acordada. O
mesmo modo que alguém que trabalhava no turno da noite faria.
Hm— O que eu faço a respeito disso? É natural que aqueles com mais
responsabilidades trabalhem mais, mas as raças que precisam dormir não
deveriam dormir melhor? Especialmente as crianças, pois precisam de um
bom descanso para crescerem bem. Talvez eu devesse discutir isso com a
Albedo... já perdi tempo demais pensando!
Ele contou tudo sem esconder nada. Não adiantava ocultar quaisquer
tópicos. Ele só tinha que ser honesto quando algo era impossível. Além disso,
Aura era diferente daqueles dois. Talvez ela aceitasse suas palavras sem más
interpretações, talvez até sugerisse algo construtivo.
“Também acho. É o que planejo fazer, mas o que vocês dois vão fazer
nesse meio-tempo?”
“Isso mesmo. Acho que há uma chance muito pequena de você ser
descoberta, mas ainda não posso afirmar com certeza. É melhor não vazar
quem realmente somos na situação atual.”
“Pode deixar que eu falo pro Mare amanhã sobre o que vamos fazer.
Mas, tava planejando ir junto com você, Ainz-sama. Que tal eu investigar os
arredores da cidade pra encontrar algum rastro deixado pelos Elfos?”
“Excelente sugestão. Creio que você não levaria nem um dia para
investigar toda a área. Trabalhe com o Mare para procurar quaisquer rastros
deixados por eles. Estou contando com vocês.”
“Nesse caso, por volta do meio-dia de amanhã vou realizar outra busca
lá— na verdade é hoje, considerando o horário”
“Então eu vou ir de noite, acho que é mais fácil ser notada de dia.”
“Uhum, confio em suas escolhas. Bem, hora de irmos para a cama... Boa
noite, Aura.”
“Tá bom. Boa noite, Ainz-sama.”
♦♦♦
Para uns não era nada de mais, mas para ele era um grande passo. Ainz
estava tão feliz que sua supressão emocional foi desencadeada. Portanto, ele
resolveu não desperdiçar essa chance. Ainz fez questão de decorar o caminho
para a loja.
Ele optou por recuar. Mesmo que ainda houvesse algum tempo para a
magia continuar ativa. Embora se sentisse extremamente curioso, querendo
enviar o 「God’s Eye」 para a árvore colossal que era o castelo real, ele
conseguiu se controlar.
Nas culturas humanas, os reis nem sempre eram os seres mais fortes de
suas civilizações. Isso devia-se a dois motivos. Seria difícil prosperar se
seguissem apenas os mais fortes e não aqueles que tomassem boas decisões.
Era o método de sobrevivência de espécies fracas — que também eram
populosas — em um mundo cruel. A outra razão era que geralmente
ocupavam áreas mais seguras. Esse era o ponto em comum entre o Reino,
Império e Reino Sacro.
Ainz voltou para sua base e trocou as informações que encontrou com os
gêmeos — desta vez, Mare estava de olhos bem abertos —, que haviam
acabado de retornar.
Ele foi informado de que, embora só tivessem notado após o segundo dia
de investigação, onde perceberam que os Elfos estavam usando as árvores
para se locomoverem, eles finalmente encontraram várias trilhas. Cada uma
levaria um montante diferente de tempo para ser investigada, dependendo da
distância até o assentamento mais próximo nessas estradas.
Ele sempre se movia usando 「Fly」 para não deixar nenhuma pegada,
mas isso era apenas do ponto de vista de Ainz, um total leigo em furtividade e
espionagem. Ele não poderia afirmar com certeza que não quebrou nenhum
galho ou fez as folhas se curvarem em direções diferentes enquanto
bisbilhotava.
Falando sério, às vezes me pergunto o porquê eu sou neurótico assim…,
mas seria bem chatinho se as aldeias élficas da região começassem a pensar
que há alguma entidade misteriosa rodando o lugar. Principalmente se forem
capturados pela Teocracia e depois vazassem essa informação.
Portanto, a única opção que restava para Ainz era ser o mais cuidadoso
possível.
Ainz não tinha certeza de que esse Elfo detinha a informação que
buscava, mas havia uma razão para Ainz o escolher como seu alvo apesar
disso.
Sequestrar uma família inteira causaria problemas, era muito mais fácil
se fosse apenas uma única pessoa.
Ele também tinha outro motivo, mas só poderia confirmar se estava certo
mais tarde.
Como memorizou a rota, Ainz se teletransportou diretamente com 「
Greater Teleportation」.
O Elfo não acordou com a intrusão de Ainz. Ele só poderia sentir Ainz se
fosse um ranger de alto nível.
“...Nhhm?”
O Elfo resmungou como um idiota, mas fazia parte, pois havia acabado
de acordar.
Seu plano estava indo de vento em popa, é claro que estaria feliz. Ele
sorria abertamente em uma faceta óssea—
“—Hm!? M-mas que lugar é este? Onde é isso?”
“Fale baixo.”
“Eu usei magia de teletransporte. Tenha calma. Não há ninguém aqui que
faria mal a você.”
“M-magia de teletransporte?”
Ainz abriu a porta entreaberta por completo e levou o Elfo para a Green
Secret House.
Ele também pensou em deixar o cativo ver que haviam Elfos Negros, na
esperança de que isso o abrisse seu coração. Mas considerando os problemas
que poderia causar no futuro, ele achou melhor não.
Ainz não sabia nada sobre o Mundo da Árvore Divina, mas ele podia
adivinhar que provavelmente era algo de seus mitos e lendas. Ou, talvez—
“Diga ao seu amigão aqui o que você sabe, de forma bem resumida de
preferência.”
O Elfo parecia não ter a menor idéia do que Ainz estava falando, mas
havia a possibilidade de que ele simplesmente não soubesse, mesmo que
houvesse tal armadilha.
“...Não sei o lugar exato, mas sei a região que fica na grande floresta,”
Parecia que era mais ao sul da Capital Real. Ele entrou em mais detalhes,
dizendo que estava em um lugar chamado Árvores Trigêmeas, onde as árvores
eram enormes. Mas, Ainz não conseguia entender o motivo dele não conhecer
bem o lugar.
Ele teria que contar com Aura, que estava apenas de ouvinte.
“Próxima pergunta...”
“A Teocracia... ahhh, aquele país horrível! Eles nos atacam sem motivo
nenhum! Um país sem honra, regido por idiotas, um bando de miseráveis que
sequestram nosso povo às centenas."
Mas parecia que o cativo, que era apenas um plebeu, não sabia o quão
longe a Teocracia havia avançado. Ele nem tinha certeza se os Elfos estavam
ganhando ou perdendo. No entanto, cada vez mais notando o patrulhamento
intenso, a opinião comum entre os Elfos era que a situação não era boa.
Três perguntas foram feitas, mas não havia indicação de que nenhuma
armadilha tivesse sido ativada. Como pensava, aquela vez foi uma exceção.
Nesse caso, ele poderia perguntar ao Elfo tudo o que queria ouvir, porém sem
perder muito tempo.
“Sim... eu acho?”
“Eu não odeio eles, e quem eu conheço também não. Para nós, eles são
como parentes distantes. Mas assim, isso é apenas o modo como eu e os que
conheço são. Não sei o que eles pensam de nós, você sabe? É bem raro ver
um, então não sei o que pensam de nós.”
Resposta instantânea. Bem, ele esperava por algo assim, então não ficou
surpreso. De todo modo, Ainz determinou que nada nas informações
adquiridas até agora constituía um obstáculo para seu plano.
Mare espiou com a cabeça para fora da porta atrás do Elfo quando Ainz
lhe enviou um sinal. Ainz continuou a falar com o cara para desviar sua
atenção:
“Eu também queria saber mais a respeito da cultura élfica, mas estamos
sem tempo...”
Ainz fez Aura, que estava logo atrás Mare, confirmar que o Elfo estava
dormindo.
“...Aura. Você acha que podemos achar a aldeia dos Elfos Negros usando
o que esse sujeito disse?”
Como era difícil estimar a idade de um Elfo, ele não podia ter certeza de
que acharia um adulto com algum conhecimento útil, mesmo que sequestrasse
um de aparência madura. Havia uma chance de o Elfo acabar sendo uma
pessoa muito jovem que nunca saiu da Capital Real.
Por outro lado, ele teria mais certeza se sequestrasse um Elfo que tivesse
filhos, mas isso criaria diversas pontas soltas para lidar posteriormente.
Se matasse todos para evitar o incômodo, estaria sinalizando para toda a
cidade que uma família inteira tinha desaparecido sem deixar vestígios. Isso
certamente criaria problemas para eles. E dificilmente poderia criar um
cenário que desse a entender que tinha escapado durante a noite devido a
dívidas ou algo assim.
E não havia como sua mana durar o suficiente para lançar 「Control
Amnesia」 em uma família inteira.
Além disso, as memórias que ele precisava apagar eram recentes. Esta
foi a razão pela qual ele tentou levar o menor tempo possível para suas
perguntas. Se não precisasse apagar as memórias do Elfo com 「Control
Amnesia」, Ainz teria passado o máximo de tempo possível — talvez até a
magia terminar e além, e até usando「Charm Species」mais vezes — para
questioná-lo.
Por fim, foi o melhor que pôde fazer, então mesmo que o Elfo acordasse
com algumas dúvidas, ele apenas tinha que ser paciente e esperar a mente do
Elfo preencher os buracos.
Mesmo com um valor baixo de MP, ainda tinha o bastante para concluir
as tarefas restantes.
“Vou indo então. Aura, Mare, podem me dar uma ajudinha como
planejamos?”
Obviamente—
—Eu fiz um plano diferente para esse caso, então não deve ser um
problema.
...Uuuufa. É seguro.
Era uma estranha escultura de madeira (pelo menos era assim que a via)
com uma barriga saliente que lembrava o cruzamento entre uma toupeira e um
sapo. Eles não encontraram nenhum animal assim nos poucos dias que
passaram na floresta. Talvez fosse uma fera mítica vinda de lendas élficas.
Ainz pegou a escultura em suas mãos.
Isso era o melhor que podia fazer para não causar uma morte suspeita
que fosse ligada a ele posteriormente.
“Bom. Só vou ver como ele está. Vocês dois me esperem aqui.”
“Tá! Entendido! Não vai demorar muito né? Boa sorte, Ainz-sama!”
“Ah, e-eu acho que o-o senhor vai ficar bem, mas... p-por favor tome
cuidado porque eu acho que sua mana pode estar baixa, Ainz-sama.”
“—Caralho! Isso doeu! Por que essa coisa caiu sozinha!? E por que eu
vim dormir aqui de baixo!? Eu bebi ontem... eu lembro que não... Mas que
merda, tá doendo...”
Ainz olhou para o Elfo bem acordado, que agora descontava sua raiva na
prateleira. Ele riu do Elfo, que cada vez mais resmungava da dor.
“...Será quê...”
Ele notou alguma coisa? Talvez não relacionada a nós, mas que houve
um intruso? Será que há algum equipamento de segurança aqui — um item
mágico, afinal é uma loja? Eu jurava que não tinha nenhum...
“Tudo certo, pessoal. Agradeço toda a cooperação que fizeram até agora.
Com isso, o trabalho de hoje está feito.”
“Como está ficando tarde, espero que durmam cedo para não ficarem
sonolentos amanhã.”
“Com isso, mesmo que ainda não seja tarde da noite, vou dizer quando
partiremos. Por sinal, eu não me importo que acordem quando quiser, mas não
durmam até meio-dia, me ouviram? Vamos combinar o seguinte; se
acordarem antes das nove horas, eu lhes trarei café da manhã diretamente de
Nazarick.”
“Enfim, isso é tudo — obrigado por terem trabalhado com tanto afinco!”
Era difícil respirar enquanto eles corriam pela floresta — era como se
Ainz estivesse sendo cercado por todos os lados pelo ar da vegetação
verdejante. Esse aroma peculiar e extremamente pujante de uma floresta fez
sua cavidade nasal coçar. Pode ter sido apenas sua imaginação, mas ele sentia
que o ar era diferente do encontrado na Grande Floresta de Tob. Partindo do
princípio que não fosse imaginação, o ar da região continha diversas nuances.
Embora esse mundo possa se assemelhar à YGGDRASIL, cada lugar tinha
uma peculiaridade única.
Como as aldeias élficas eram erigidas nas árvores, era visualmente difícil
encontrá-las. Mas isso era de se esperar, foi justamente por isso que sua
civilização se desenvolveu para usar árvores como casas. A Capital Real dos
Elfos, com todas as árvores ao redor cortadas, era a exceção.
“Contanto que não percamos a noção da distância até o nosso alvo, não
há problema. O problema seria se chegássemos perto demais.”
Mas o fato era que vivenciar algo dessa magnitude trazia-lhe um pouco
de emoção.
Porém, talvez lhe fosse permitido, nem que seja apenas uma fração. De
forma que não abandonasse Nazarick, mas sim que tirasse férias como essas.
Qual é, isso não quer sair da minha cabeça. Não posso ficar me
enganando também, não digo que não tenha a ver com todo esse fardo que eu
carrego, dá vontade de largar tudo e fugir... O que me resta é ficar andando
em círculos sem evoluir? Sou incapaz de evoluir porque sou um undead? Ou
porque faz parte do meu jeito? Pensar nisso me deixa até deprimido... Haaah.
Bem, não adianta ficar com esses pensamentos infelizes. Enfim... desta vez é
com a Aura e Mare, mas que tal trazer o Cocytus e Demiurge se houver uma
próxima vez?... Não dou uma volta com eles desde aquela vez...
Claro, Ainz poderia simplesmente dizer que ele mesmo lidaria com a
situação. Se o fizesse, Aura seria atenciosa e deixaria tudo em suas mãos. Se
cometesse um erro, ela certamente pensaria em algo para ajudá-lo enquanto
tomava cuidado para não o ofender. Porém—
“Oi? Ah, aconteceu algo, Aura? Fiquei distraído pensando umas coisas.
O que quer falar?”
“Um momento, Aura. Leve o Fenrir junto com você. Não se preocupe
em nos deixar a pé. Vou invocar um monstro como substituto do Fenrir. Tudo
bem, Mare?”
“S-sim, Ainz-sama.”
Seria uma coisa se ela tivesse magias de invocação como Ainz, mas
Aura não tinha. Ele estava preocupado em deixá-la vagar pelo desconhecido
sem proteção. Usar um item mágico como substituto era uma maneira de lidar
com isso, mas ela perderia tempo se fosse invocar um monstro. Quando levou
em consideração limites de tempo e similares, Ainz concluiu que não seria
sábio que fosse sozinha.
Acho que estou me preocupando demais, mas a Aura vai terminar o que
tem que fazer mais rápido se levar o Fenrir junto.
Aura mostrou uma atitude como se fosse dizer algo, mas no fim
respondeu: “Tá bom”. E então, Ainz e Mare desmontaram, ela montou em
Fenrir e partiu. A silhueta de uma menina montada em seu lobo
imediatamente desapareceu nas árvores da floresta.
“Vejamos, Mare. Vamos nos esconder nesta área, então temos que ser
discretos. Se alguém nos encontrar aqui, todo o trabalho da Aura será em
vão.”
“S-sim. Uh, hm, então, vamos usar a Green Secret House?”
“Boa sugestão, mas antes disso precisamos tirar uma pedra do sapato.”
Ele podia morder com suas três cabeças de cachorro que lembravam a de
um leão, arranhar com suas garras afiadas e picar com sua cauda venenosa
que parecia uma serpente. Todos os seus ataques também podiam ser
imbuídos de dano de ígneo e possuía resistência completa a fogo e veneno.
Era uma fera de grande porte e de alto nível com habilidades de combate
consideráveis.
Cerberus pode perder para Fenrir em termos de níveis, mas ele ainda
tinha três cabeças. Não havia dúvida de que seu olfato era três vezes melhor
— provavelmente.
“Uau.”
Disse Mare surpreso ao ver essa fera mágica pela primeira vez.
Definitivamente não era porque o achava forte.
“O que há de errado?”
“—Ora, vamos. Você tem três cabeças. Então consegue farejar melhor do
que o Fenrir, não é?”
“...Eu entendo se for demais para dar conta, tudo bem? Será muito pior
se insistir e falhar... Pelo menos pode discernir os cheiros ao nosso redor e nos
avisar quando um estranho se aproximar?”
Embora o próprio Ainz tenha dito, ele logo concluiu que talvez centenas
de metros fossem impossíveis, afinal.
“Então vá.”
Aliás, Ainz também poderia dar ordens mentalmente. Era possível dar
ordens a monstros invocados mesmo que magias como 「Silence」 fossem
usadas. Se alguém quisesse interferir na conexão entre o invocador e
invocado, precisaria de uma profissão extremamente específica conhecida
como Especialista Anti-Invocador. Ele deu ordens verbalmente porque pensou
que Mare ficaria confuso ao ver Cerberus tomando atitudes depois de apenas
encarar Ainz.
“Enfim, vamos seguir como o seu plano de antes, Mare. Vamos usar a
Green Secret House e nos abrigarmos lá. É melhor não sermos vistos por
ninguém.”
“Sim!”
Mare parecia satisfeito por sua própria sugestão ter sido aceita.
Por isso era sábio permanecerem onde estavam. Usar magia como 「
Camouflage」, que estava disponível para druidas e rangers, seria o ideal,
mas infelizmente não fazia parte de seus repertórios. Mesmo Mare sendo um
druida, ele era um tipo de druida extremamente nichado. Suas magias eram
voltadas para o genocídio em massa, e se não recorresse a itens para
auxiliá-lo, seu repertório druídico não passava de algumas magias do tipo
buff.
Mas estava tudo bem sentar e relaxar mesmo com Aura ainda
trabalhando?
Ainz ficou desesperado, ele pensou em várias formas de ajudar, mas não
podia fazer nada benéfico à Aura. A única desculpa que conseguiu inventar
foi que estava fazendo companhia a Mare.
Ele deveria aceitar a dura verdade de que agora não havia nada que
pudesse fazer?
“Sim, senhor!”
♦♦♦
Ankyloursus.
Um ser tão grande e tão forte poderia matar até monstros que tivessem
habilidades especiais ou pudessem usar magia.
Esta área era o seu território. Nunca que ele permitiria alguém fazer o
que bem entendesse como se fosse o dono do lugar.
Ele se apoiou nas patas traseiras e, depois de usar suas garras para
arranhar uma árvore, esfregou o corpo contra a mesma. Uma demonstração
clara de que este era o seu território, e então caminhou em direção à fonte do
cheiro.
Não havia indícios de que tivessem notado sua presença. Caso contrário,
estariam agindo de forma diferente. Por exemplo, parar tudo e procurar pela
fonte do som. Ou tentar fugir. No entanto, não estavam fazendo nada disso.
Ou talvez estivessem pensando que ganhariam por estarem em dois?
Mas isso não o impediria. Era sempre assim quando derrubava sua presa.
Se os visse, ele também seria visto. Ele sabia manter-se calmo enquanto
farejava tudo ao seu redor, ele avançaria de uma vez — encurtando a distância
em um piscar de olhos, esse era seu modo de caça.
Seria como suas caçadas de rotina e ele começou a correr. Apesar de ser
enorme, corria por entre as árvores como uma rajada de vento.
Não havia como negar que era um ser poderoso, mas nem todas as suas
caçadas eram bem-sucedidas. Essa foi a razão pela qual fez os preparativos.
Ele avançava enquanto pisava com força no chão. Eles notariam, mesmo
que fossem distraídos, e logo tomariam algum tipo de ação.
Porque não estavam com medo? Por que não estavam fugindo? Quase
todos os animais que o via tinham essas reações. As únicas exceções eram
membros de sua própria raça.
“GRRROOOOAAAAAR!”
—Vá e corra, tente se manter vivo! Faça com que sua carne seja mais
saborosa ainda, é tudo que quero.
O pequeno disse.
Essa forma, lembrou. Eu vi coisas nas árvores que eram como você.
Ankyloursi também podiam subir em árvores, mas devido a seus corpos
enormes, essa escalada os deixava muito vulneráveis. Por isso, quando achava
suas presas em cima de uma árvore, ele preferia derrubar a árvore primeiro.
Na ocasião em que se deparou com esses seres, sua barriga estava tão saciada
e suas presas tão longe, ele os deixou fugir.
Ele pisou com sua pata dianteira e grandes garras brotaram dela.
Assim que planejou o que fazer, um som de *ching* passou por ele, sua
perna dianteira ficou quente — e logo uma dor intensa tomou conta.
Ele não perdera um membro, mas tamanha era sua dor que não
conseguia se mover.
“GuuUU.”
Quando olhou bem, notou uma coisa longa e serpentina que pendia da
mão da pequena criatura. Tinha sido atacado por aquilo? Seria veneno.
Quando era um filhote, foi picado por uma enorme cobra venenosa e a
sensação de formigamento era semelhante a essa.
Foi tomado por uma súbita sensação de leveza, como se estivesse sendo
puxado para cima, e então um choque percorreu suas costas.
Era um som que dizia: “Não se engane, você será minha refeição”.
Talvez fosse um predador de emboscada. Isso significava que aquele ser que
virá na árvore daquela vez era tão forte quanto esse?
Ele tentou remover a todo custo o que prendia sua perna, no entanto,
falhou.
Gu?
Houve o som de terra movida e grama deslizando enquanto seu corpo era
puxado. A coisa serpentina o ligava até a força motriz responsável por esse
feito.
Não havia mais dúvidas. Aquele pequenino possuía uma força absurda.
“Não vai dar pra evitar. Eu realmente não gosto de fazer isso, mas vou
tentar de novo... e se não der certo, você já era.”
A coisa parecida com uma cobra foi removida de sua perna.
Wuh-PSSSH!
Antes mesmo que pudesse pensar: “Eu deveria fugir”, uma pontada de
dor percorreu seu corpo.
“GwoOOO!”
Quando tentou engolir a dor para fugir, seu corpo foi imobilizado por
uma pressão tremenda. Quando olhou, notou a criatura grande com uma de
suas patas pisando em suas costas, imobilizando-o. Tamanha era a força que
parecia que afundaria no chão.
Seria um pesadelo? Já era difícil aparecer um, que dirá dois que eram
mais poderosos do que ele.
A dor continuou.
Cada vez que esse som ecoava, uma dor aguda percorria algum lugar de
seu corpo. A cacofonia de estampidos era como o som de uma tempestade.
Eu serei comida dos fortes. Depois de tanto fazer isso, chegou a minha
vez; um dia é da caça, outro do caçador.
“Bom garoto. Agora sim tá do jeito que eu gosto. Agora entendeu quem
manda, né? Então vamos indo.”
♦♦♦
Ou seja, era para dar boas-vindas à Aura com uma deliciosa refeição
quando ela chegasse em casa cansada do trabalho.
A maneira mais infalível era fechar a porta assim que Aura entrasse e
contar com suas precauções.
Os tipos que podiam ser invocados eram fogo, água, vento e terra. Havia
também os compostos de fogo + terra = magma; água + vento = nevasca; terra
+ água = pântano; fogo + água = efervescente; terra + vento = tempestade de
areia; fogo + vento = tornado ígneo e muito mais.
Entre esses, os de elementos bases como fogo, água, vento e terra podem
se manifestar de três formas:
· Alto nível - com níveis na casa dos 40;
· Médio nível - com níveis na casa dos 20;
· Baixo nível - com níveis abaixo de 10.
Nessas ocasiões, se fosse de alto nível, viria apenas um. Em nível médio
o número era aleatório, mas variava de 1 a 3. O número de elementais de
nível baixo também era aleatório, mas era um mínimo de 3 e podendo ir no
máximo até 6.
Após saber disso, seria lógico pensar que era um item bastante útil, mas
infelizmente o elemental era escolhido aleatoriamente. Além disso, a
probabilidade de vir um de nível alto era extremamente rara. Como
comparativo, a taxa de aparição de um de alto nível era similar à taxa de
ganhar um anel Shooting Star no gacha.
“Não precisa. Agora é seu, Mare. Como deve ter percebido, é um item
meio duvidoso, então eu ficaria feliz se pudesse guardá-lo para mim, se não se
importar. Se pudesse invocar, digamos, os elementais de classificação mais
alta, elementais corrompidos ou elementais sagrados... então seria um ótimo
item. Além disso, foi restrito para que apenas druidas possam usá-lo. Se não o
quiser, serei obrigado a deixar ele pegando poeira na Tesouraria.”
Poderia ser útil para iniciantes no jogo, mas quando se tratava de Ainz e
Mare, a história era outra. Por essa razão, ele originalmente o deixou em seu
inventário pensando que o daria a alguém cujos níveis fossem baixos.
“Sim, aceite de bom grado. Sei que estando com você, será muito mais
valorizado.”
“Uhh, é que eu tenho um outro item de invocar elementais, mas para usar
ele tem que lançar uma magia com o elemento correspondente, ou que o tenha
como elemento secundário, antes de ativá-lo.”
E, no entanto, Mare tinha um imenso carinho pelo item, isso porque fôra
um presente de Bukubukuchagama.
Ainz sabia que esse sentimento era compartilhado entre todos os NPCs.
São limitados.
“Eu fiz de tudo para não deixar nenhum cheiro sair daqui, mas... meu
plano falhou?”
“Eu, eu sinto muito. Disso... disso eu não sei. Mas, o senhor tem razão.
Eu acho que se fosse minha irmã, ela estaria vindo muito mais
silenciosamente... e... eu não acho que há qualquer chance dela fazer barulho
de propósito só para nos avisar que vasculhou a área e sabe que não há
problema...”
Um urso?
No entanto, isso era diferente do seu urso médio. Parecia ter seis pernas e
seu pêlo aparentava estar encharcado e grudado em seu corpo. É algum tipo
de fera mágica com a habilidade especial de atirar água?
Mas o que mais chamou a atenção de Ainz foi Aura sentada em suas
costas. Ela estava segurando um chicote na mão e fez a besta mágica do tipo
urso tremer de medo quando o estalava em intervalos regulares.
...Aura não tinha esse tipo de animal antes... Mas o que está
acontecendo aqui?
Parecia que tinham notado Cerberus, pois o encararam com cautela. Mas,
a razão pela qual eles não partiram para o ataque foi provavelmente porque
não puderam confirmar se era um Cerberus selvagem ou um Cerberus que
Ainz havia invocado. Eles pareciam estar pensando que se fosse um servo de
Ainz, deveria de alguma forma transmitir esse vínculo, ou seria diferente para
um monstro invocado?
“Ainz-sama!”
No instante seguinte o olhar de cautela desapareceu de seu rosto e Aura
gritou de alegria:
“Hey! Irra!”
“Bem-vinda, Aura.”
“...Para dizer a verdade, eu não sei o quão poderosa essa fera mágica é...
é forte o suficiente para que os Elfos Negros e outros animais tenham medo?”
“Ah, saquei. Você sendo tão forte, até fica estranho julgar a força de uma
coisinha fraca como ele. Deixa eu ver aqui, não que é muito forte, mas parece
ter força mais do que suficiente pra controlar essa área. Então, eu no lugar de
um Elfo Negro comum, acho que nem chegaria perto por ser perigoso demais.
Pelo o que notei, parece que ninguém se aproxima dessa área inteira por medo
desse carinha aqui. Então recomendo montar um acampamento temporário
nessa região, já que dificilmente um intruso vai se atrever a chegar perto.”
“Que maravilha.”
Ainz concluiu que era possível que seus instintos selvagens despertassem
e de repente atacasse quem estivesse por perto. Mesmo indagando-a, ele não
podia imaginar que Aura ignoraria essa possibilidade. Ela provavelmente
havia julgado que ninguém nessa comitiva sofreria algum dano. Todavia, era
preciso confirmar quanto antes.
Não, mesmo que não fique assim... Não é óbvio que essa fera tipo urso é
mais forte?
“Não precisa ir tão longe para defender a Hamsuke, Aura,” ele queria
dizer, mas engoliu suas palavras por consideração aos sentimentos de Aura.
Ela nunca elogiaria Hamsuke sem motivo.
“Entendi...”
Ele poderia dizer algo além disso? Ainz, que não queria dizer algo como
“Hamsuke é incrível mesmo, eu sei”, decidiu mudar de assunto:
“—Mas, como um ser tão forte veio parar aqui? Ou será que feras
mágicas como essa são comuns no Grande Mar de Árvores? É algo que eu
gostaria de investigar. Nós não vimos nenhuma fera mágica de alto nível em
nossa jornada até agora, não é?”
“Isso mesmo. Pode até ter tido um aqui e outro ali, mas eu mesma não
vi. Talvez se a gente procurar direitinho, podemos até achar alguns. O que
acha?”
“Não, não vale o incômodo. Até porque não foi por isso que viemos.”
Água que corria de baixo para cima; uma colina onde um pilar de luz cor
de arco-íris se erguia em dias que granizava; um deserto onde um enorme
tornado ocorria uma vez a cada poucas décadas. Parecia que tudo isso poderia
ser visto a olhos nus. Isso mesmo, poderia — infelizmente, ainda não havia
nenhum desses locais misteriosos dentro dos territórios englobados pelo
Reino Feiticeiro.
“...A propósito, Aura. O que planeja fazer com seu mais novo
animalzinho? Considerando que não foi colocado completamente sob seu
controle, como acha que lidaremos com essa questão?”
“Bem, eu queria ver se você me deixaria levar ele com a gente pra
Nazarick, pode?”
Uma coisa era ser inteligente o bastante para dialogar como Hamsuke,
outra bem diferente era deixar uma fera selvagem vagar sem rumo pelo 6º
Andar. Afinal, mesmo uma fera mágica nesse nível poderia acabar matando as
empregadas regulares. Se fosse assim, uma parte dos NPCs seria impedida de
entrar no 6º Andar. Isso sem falar no dano aos monstros do tipo planta. Havia
também a questão do que fazer com sua integridade.
“Por que tem que ser justo ele? Melhor partir de algo mais fraco... que tal
começar com uma que esteja em torno do nível um?”
Ainz olhou para trás, mas não parecia que Fenrir fosse fazer nada. No
entanto, provavelmente foi devido à repreensão. Ainz olhou de volta para
Aura e a indagou.
“Bem, não se preocupe com isso. Mas diga-me, por que aquele urso?”
“Bem, eu sei que ele não pode falar como a Hamsuke, mas ele parece
bastante inteligente. Fen e os outros não podem falar, mas são muito espertos,
não são? Eu não acho que não saber falar seja algo que determine inteligência,
sabe? Então, assim, é melhor treinar aqueles que têm alguma inteligência.”
Fazia todo sentido, Ainz não se lembrava de ouvir Fen falar, mas ele
certamente era um ser pensante. Suzuki Satoru não chegou a ter animais de
estimação, mas esse grau de sapiência era bem diferente de um cachorro bem
treinado segundo o que ouvira. Claro, todos os furos de seu pensamento
poderiam ser respondidos apenas com “são animais mágicos”.
“Às vezes noto que o Fen compreende o que o Mare Diz, então aqueles
com um certo grau de inteligência são mais adequados para treinar. Também
poderia criar um desde filhote, o que acha...?”
“Levaria muito tempo, não? Então algo que cresça em pouco tempo
como um cachorro... Aah, não sei se isso será útil pro treinamento.”
Já que iam treinar feras mágicas, era melhor que tivessem alguma
utilidade. Levando isso em conta, não havia outra escolha senão aceitar a
proposta de Aura.
“...Eu permito, mas apenas fora de Nazarick. Há aquele lugar para onde
levamos os humanos da Capital Real, aquele lugar onde moram, lembra-se?
Que tal lá?”
Os olhos de Aura ficaram bem abertos, e ela ficou sem saber como agir.
Por ser algo tão repentino, Ainz se repreendeu. Ele disse algo que não
deveria? Ele não tinha nenhuma lembrança disso. Não—
—Eu lembro que não disse nada de mais. Será que eu devo me colocar
na perspectiva dela? Ser o orgulho e a alegria da Chagama-san é tudo que
importa, e ela não dá a mínima para os outros, é isso? Ou será que ela está...
feliz? Não parece que ela está sorrindo... Hmm. Melhor eu tomar alguma
atitude me preparando para o pior, em vez de esperar o melhor.
Hum? Ela não está brava? Pode ser um sorriso forçado, ou pode ser um
sorriso de bajulação. Será que ela está sorrindo mesmo?
Aura sorria de orelha a orelha, de modo tão puro que ele não podia
acreditar que era insincero. De onde vinha essa felicidade? Dos elogios? Ou
por saber que fizeram uma refeição para ela?
Ainz fortaleceu sua determinação. Ele lembrava por alto o que um dos
ex-membros da guilda disse em tons desmotivados: “Gratidão é algo que é
preciso ser dito. Se você apenas pensa, mas não demonstra. Logo vai ver a
cara feia que sua esposa vai começar a fazer”.
Vendo a feição alegre de Aura, Ainz ficou aliviado. Ele estava um pouco
preocupado que ela dissesse algo como, “Ow, eu tava com vontade de
katsudon hoje...” — claro, mesmo sabendo que ela não seria rude assim.
Como raramente tinha a chance de dividir uma mesa com alguém, ele estava
preocupado que sua sensibilidade gastronômica tivesse se tornado
extremamente entorpecida e grosseira.
“Sim, o Head Chef vai adorar saber disso. Além disso, também preparei
a porção do Fenrir, mas...”
“Ele vai ficar bem. Parece que comeu logo antes de me encontrar. Além
disso, faz parte do treinamento não dar comida até que ele entenda
completamente que eu sou a chefe dele.”
“Oh, sim... Digo, você tem razão. Mesmo para humanos ou outras raças,
quando quebramos suas mentes, eles nos obedecem totalmente.”
Aura disse pouco antes de passar pela porta e Fenrir, que estava
esperando pacientemente, afundou os dentes na carne. Ankyloursus apenas
observava tudo de ombros baixos, olhando-o dessa forma, realmente parecia
possuir algum grau de inteligência, assim como Aura disse.
“Aproveitem.”
“Ainz-sama! Tá delicioso!”
“Fico feliz que gostaram. Informarei o Head Chef depois... tenho uma
coisa a dizer enquanto estão comendo, como agora sabemos, graças à
investigação da Aura, que ficaremos bem mesmo se construirmos uma base
temporária nessa região. Vamos escolher um local para realocar a Green
Secret House, depois eu quero que tomemos medidas para encontrar a aldeia
dos Elfos Negros.”
Os dois pararam de comer e ouviram seriamente o que Ainz tinha a
dizer. Bem, até Suzuki Satoru teria feito o mesmo se seu chefe começasse a
falar algo relacionado ao trabalho.
Ainz sorriu. Ele já havia feito isso com seus amigos, na ocasião disseram
que era um truquezinho sujo. Na verdade, enquanto pensava em qual monstro
usar para esse plano, Aura trouxe o “homem certo para o trabalho”. Se ela
aprovasse, não haveria outra mão para jogar tão boa quanto esta.
Ele não sabia se diferia pelo indivíduo ou pela raça, mas não havia
uniformidade na habilidade de atuação dos monstros. Curiosamente, o Evil
Lord Wrath teve um desempenho excelente, mas de acordo com Shizu parecia
que “o Circlet Demon era um ator ruim”.
Ele queria esconder suas identidades e força. Mas não seria melhor se
pudessem simplesmente serem convidados a entrar? Preferencialmente,
poderiam fazer aos poucos ao longo dos anos, mas quando considerou a
Teocracia, ele não achou que lhes restava tanto tempo.
Ainz mais uma vez sorriu para a curiosidade de Aura. Ao mesmo tempo,
foi uma das muitas coisas que ele aprendeu com seus amigos.
Tendo sua estratégia confrontada por algo que não conhecia, Ainz se
calou e lentamente olhou para o céu.
Se tivesse visto um majestoso céu azul acima, sua mente não sofreria
tanto ao ser confrontado pela inocência de uma criança, também poderia ter
aprendido uma coisa ou duas. Ele poderia ter recebido o conforto de que era
pequeno diante da grandeza do mundo.
No entanto, tudo o que viu foi o teto da Green Secret House. Depois de
olhar um pouco para as vigas de madeira, ele virou o rosto para ver o sorriso
puro e inocente de Mare.
“Sim! Se for como no livro... vamos usar aquele urso no plano, não é!?”
Parte 1
A aldeia dos Elfos Negros no Grande Mar de Árvores.
Sua aparência jovial era bem harmônica e, mesmo dentro da aldeia, era
muito popular entre as mulheres.
Era um arco que ninguém poderia usar a menos que tivesse obtido uma
pontuação extremamente boa no “Torneio de Tiro com Arco” realizado na
estação em que as flores de Becoa desabrochavam — uma vez a cada três
anos.
Era óbvio o motivo. Qualquer Elfo Negro vivendo nesta floresta, mesmo
que fosse uma criança, sabia o nome da fera mágica que deveria ser mais
temida — Ankyloursus.
Com esse tipo de animal nas cercanias, identificar o animal certo a partir
de um único barulho distante era extremamente difícil. A pergunta dela era
razoável. Todavia, Egnia era o melhor ranger dessa floresta. Ele superava
todos não apenas em sua habilidade com um arco, mas também na alta
amplitude de seus sentidos, e até mesmo sua competência de analisar esses
sinais tênues era a melhor dentre todos. Sua pergunta não se originou por
desconfiar de Egnia, mas sim pela esperança que ele estivesse errado.
“Sinto muito, mas não há dúvida. Mesmo que passe eras, jamais vou
esquecer daquele rugido que me fez ficar arrepiado — daqueles que faz você
sentir quanto é fraco. Ainda hoje posso ouvir se fechar meus olhos. Então
jamais me enganaria dessa forma.”
“Haah... Que saco. Eu não sei quem ou o que invadiu o território dele.
Mas espero que o idiota que fez isso acabe na barriga do Ursus, assim aprende
a não perturbar a paz alheia.”
“Bem, não sei se aconteceu alguma coisa com o Ursus, mas algo fora do
comum está acontecendo para ele estar desse jeito. Talvez esteja mudando seu
território, ou talvez um rival apareceu. Enfim, há muitas possibilidades. Por
exemplo...”
“Talvez uma poderosa fera mágica esteja lutando e perca, mas ainda
pode conseguir fugir do Ursus. E pode acabar vindo à nossa porta. Então, por
precaução devemos colocar toda a aldeia em alerta. Mesmo que seja amanhã;
vamos na direção do rugido para ter uma noção do que aconteceu e do estado
da floresta.”
“—A caçada de hoje está cancelada. Talvez seja mais seguro impedir que
qualquer um entre na floresta, muito menos para caçar. Ainda temos comida?”
“Os estoques estão bem. Tiramos a sorte grande ultimamente. Mas por
via das dúvidas, devemos informar o mais rápido possível o Mestre de Rito do
que está acontecendo, para que ele possa começar a produzir frutos. Não
sabemos quantos dias levará até terminarmos de confirmar a segurança dos
arredores.”
“A seguir... bem. É de bom tom conversar com os Anciãos a respeito.
Pediremos aos Anciãos que disseminem a informação para todos, talvez assim
algum desavisado entenda o que está acontecendo e que não é para entrar na
floresta.”
“As duas opções têm seus méritos, mas também podem estar
equivocadas... Por que não deixamos as decisões nas mãos dos Anciãos?”
“Ei, calma aí, é melhor termos uma opinião geral. Se for decidido por
maioria, será útil termos nosso posicionamento bem embasado caso aqueles
velhos cabeças-duras fedendo a peido proponham algo sem sentido.”
“...Olha os modos, Ganen. Ninguém aqui duvida que eles podem ser
inflexíveis às vezes, mas os Anciãos têm experiência de sobra. Vamos apenas
escolher um caminho que pode ser considerado mais seguro se fizermos bom
uso da sabedoria deles.”
“Mas—”
Ganen, frustrado, tentou protestar, mas sua boca foi coberta pela mão de
Egnia.
“—Já falou demais. Como estão todos cientes do porquê os chamei, há
algo mais que precisamos considerar. E você, conhece bem a ameaça que um
Ursus representa, não é?”
Todo mundo está cansado de saber que não tem problema se opor aos
Anciãos, eu só gostaria que você considerasse a hora e o lugar.
“Se vamos ficar de guarda o dia todo, melhor fazer isso em três turnos. E
é bom considerar os dias seguintes.”
Eles ouviram mais um rugido. Com uma expressão tensa, todos olharam
intensamente na direção do som.
“Como o Egnia disse há pouco, não pode estar perseguindo algo que
entrou em seu território e depois escapou?”
Ankyloursi tinham uma tendência a reivindicarem suas presas. Se um
animal que consideravam sua presa escapasse, eles o perseguiriam mesmo
fora de seu território. Mas perseguir enquanto rugia era um pouco diferente da
imagem que tinham em suas mentes, era mais compreensível se viesse de
quem estivesse fugindo com o rabo entre as pernas.
“Se for isso mesmo, uma presa fugitiva, ajudamos o Ursus a pegar
quando ela chegar aqui, ele vai ficar de barriga cheia e a aldeia vai ficar mais
segura, não acham...?”
“Nem pense nisso! Só vai deixá-lo ainda mais irritado. Primeiro, há uma
boa chance de que a presa tenha a capacidade de fugir do Ursus por mais um
bom tempo. Se a presa vier em nossa direção, devemos pelo menos afastá-la.”
Era ótimo ver esse conglomerado de opiniões, mas não era como se
pudessem perder muito tempo com isso. Ele realmente não queria se
intrometer, mas não podia deixar de falar. Egnia bateu palmas uma vez e
chamou a atenção de todos para ele.
“Seja qual for a situação, o fato é que isso é anormal. Devemos agir
agora. Se o Ursus retornar ao seu território, tudo bem. Mas se não acontecer...
se ele perder a presa de vista mesmo depois de deixar seu território—”
“Haa—”
“Não faria tudo ser mais burocrático ainda? Meu nome, embora seja uma
herança de minha família, é um pouco conhecido nas outras aldeias.”
“...Gah, minha cabeça até dói...Você acha que as coisas seriam diferentes
se os Anciãos dessem um passo para trás, um pequeno, sabe? Só um tiquinho
mesmo...”
O Ursus pegou sua presa? Ou pode ter retornado ao seu território porque
sua presa escapou. Seja qual for a resposta, o Mestre da Caça estava de pé ao
lado dele.
“Chichii!”
“...É o Ankyloursus...”
Apesar de falar por reflexo — seus dizeres foram audíveis para todos,
trazendo o terror que batia à sua porta.
No entanto—
“...Sumomo. O que eu vi antes não era tão grande. Não pensei que ficaria
maior. Eu sei que crescem rápido, mas isso é um espécime anormal... se não
tivermos sorte, o que estamos lidando aqui é um...”
“...Lord.”
Se o que estava diante de seus olhos fosse isso, significava que seria
muito mais forte que os outros de sua espécie.
“Não pode ser! Só tinha ouvido dizer que tinha um ser do tipo Lord mais
ao norte!”
Mesmo que tivesse adquirido o gosto por Elfos Negros na Aldeia de Aju,
não deveria saber que havia comida fresca aqui.
“Não, ainda não podemos concluir que a Aldeia de Aju foi exterminada.
“Você acha que vai adiantar alguma coisa!? Ele vai nos perseguir e vai
nos achar! O melhor é encher a barriga dele com tudo que temos em estoque.”
Esta foi a simples, e fatal, reação daqueles que entenderam onde estavam
na cadeia alimentar. Tamanho fôra o choque que os Elfos Negros se viram
impotentes, como seres prestes a serem pisoteados.
“—ACORDEM!!”
“Você não colabor— Escuta aqui! De onde tirou que eu teria algum
plano milagroso!? Eu não tenho, mas não podemos ficar parados! Ficar
parado aqui não vai resolver nada! Vamos nos espalhar, depois vemos o
que—”
Vale a pena atacar? Não há necessidade de provocar ainda mais sua ira.
Não tenho dúvida que está vindo em nossa direção. Devemos fazer o primeiro
movimento... as flechas serão capazes de atingi-lo. Além disso, tenho certeza
que todos se preparam para o pior. Se eu for capaz de chamar sua atenção,
talvez eu consiga separá-lo da aldeia... Calma... Há também uma maneira
alternativa de fazer isso...
“...Óleo.”
Não havia muito óleo na aldeia. Não é como se fosse difícil de encontrar,
mas sim que não lhes era de muita utilidade, era um dos bens que não
armazenavam propositalmente.
Gritando “Estou indo”, um dos Elfos Negros saiu correndo, indo para o
centro da aldeia. Ele provavelmente pretendia informar um dos druidas que
geralmente estava no armazém. Seria um problema se gastassem todo o seu
poder mágico em comida, sem saber sobre o estado atual das coisas.
Por causa da natureza dos Ankyloursi, deveriam ter feito uma investida
imediatamente, mas não havia sinal disso. Parecia que estava desmotivado—
não, quando se tratava de um Lord, provavelmente tinha objetivos mais
obtusos.
Fazer-se parecer maior e intimidar seu oponente era uma típica ação de
um animal. Entretanto, o que não entendiam era, por que não estava
atacando?
Não era um mero animal selvagem, mas sim uma fera mágica. O
Ursuslord era um ser bastante inteligente. Mesmo que tenha confirmado que
fracotes estavam bem a sua frente, por que ele seguia o ditado de ladra, mas
não morde?
“Mas o Ursus não vai ficar fora de controle se fizermos algo com sua
cria?”
“O filhote pode não ser tão inocente... pode ser que a carne com mel não
faça nada. Se for um treino de caça, provavelmente só comerá isca viva. Mas
compensa tentar, não?”
—Estou imaginando coisas. Até porque não deve haver nenhum ser
capaz de domar um Ursuslord.
Não era apenas Egnia, muitos de seus amigos também estavam confusos.
No entanto, mesmo sem saber como agir, eles atravessaram uma das
pontes e recuaram. Era um fato inegável que o Ursuslord avançava na direção
deles. Se não tivessem agido, se tornariam a presa do Ursuslord.
“Podemos dizer que é tão forte quanto imaginávamos, mas diante dessa
coisa... é realmente terrível...”
Egnia olhou para a aljava presa em sua cintura, assim como para as
flechas dentro dela.
Algum Elfo Negro o atacou, só para provocar ele? É por isso que
guarda rancor contra as Árvores Élficas?
Os Elfos Negros eram os únicos que achavam que as Árvores Élficas não
tinham cheiro, mas não era necessariamente verdade que criaturas com um
excelente olfato, como o Ankyloursus, não notassem. Se fosse apenas isso,
então só precisavam abandonar essa aldeia e estariam seguros por enquanto.
Não, nada é tão fácil assim. Ele vai ficar com fome depois de descontar
essa fúria toda... e pode vir atrás de nós ao farejar nossos cheiros. Realmente,
é melhor dar a carne coberta de mel, e rezar para que seja suficiente para
satisfazê-lo. Mas, o que me preocupa são essas olhadas que ele dá... parece
que está pensando em algo.
“Talvez queira nos expulsar daqui, não? Talvez haja outro Ursus
esperando para nos emboscar para onde fugirmos, ou algo assim.”
“Eu nunca ouvi falar de Ursi caçando juntos... não consigo pensar em
nada mais. Então não temos outra escolha a não ser cada um fugir para um
lado, huh? Se cada um fugir levando provisões, pode ser que ele se acalme
enquanto estiver comendo, o que acham?”
Isso foi por causa dos sons de moagem que o Ursuslord fazia enquanto
cortava a Árvore Élfica. Pois talvez quisesse fazer dessa área seu território.
Se seu motivo fosse esse, então não havia outra maneira senão Egnia e
os outros deixarem tudo para trás e abandonarem a aldeia.
“É. Vamos fugir da aldeia enquanto damos a carne com mel para o
Ursus.”
“Pare!!”
Não que tivessem uma mira ruim. Mesmo que a criatura se movesse, seu
corpo era tão grande que fez dele um alvo fácil.
O objetivo daquelas flechas não era causar dano, mas sim chamar a
atenção do inimigo e ganhar algum tempo.
No entanto, o Ursuslord não parou nem por um instante. Tudo o que fez
foi dar uma olhada na direção deles.
“Que droga!”
Era precisamente porque esse tipo de caçada tinha dado certo no passado
que faria a mesma coisa novamente, fazia todo o sentido. Mesmo que tenha se
tornado um Lord poderoso, ele ainda fazia bom uso de suas experiências
passadas.
“Atrás dele!”
Porra!
Havia uma praça no centro da aldeia, mas não ficava no chão. Era um
lugar que parecia uma bandeja de madeira suspensa no ar e era mantida no
lugar pelas pontes que se estendiam das árvores.
Era mais alto do que antes e teve potência mais do que suficiente para
fazer todos lá dentro ficarem sem ação. A praça estava suspensa do chão por
enquanto, mas o enorme corpo do Ursuslord poderia facilmente alcançá-la.
Esses arcos eram os tesouros dos Elfos Negros. Os materiais usados para
confeccioná-los não eram desta floresta, mas sim da terra onde viveram.
Haviam poucas peças sobressalentes para consertá-los e nunca mais poderiam
ser feitos. Ele provavelmente seria repreendido pelos Anciões por tratar algo
tão importante com tanta rispidez. Contudo, ele não teve tempo de guardá-lo
com o devido esmero.
“UoOOO!”
Egnia gritou para elevar seu próprio moral e pulou no Ursuslord para
tentar desviar sua atenção da multidão. Quando se agarrou àquele corpo
imenso, usou a pele dura e áspera como apoio para escalar como se estivesse
correndo pelas costas.
“—GoO!”
Ele não pretendia fazer qualquer barulho, mas não podia evitar. Na
verdade, os movimentos do Ursuslord pareciam se tornar mais intensos em
resposta à sua voz. Flechas vieram voando como se quisessem impedi-lo.
Alguém forte e com boa mira poderia ajudar em algo, e Egnia dificilmente
seria atingido.
Egnia segurou o mais firme que pôde. Não havia como ele se separar do
Ursuslord, agora.
Sua visão girou em círculos, ele podia ouvir gritos vindos de algum
lugar.
Merd—
Ele caiu no chão com força. O impacto havia expelido todo o ar de seus
pulmões e, por um instante, ficou totalmente sem ar.
Egnia, que estava caído, olhou nos olhos do Ursuslord que se erguia na
frente dele.
Ser comido pelo Ursuslord era a pior coisa que poderia acontecer. Pois a
criatura tomaria gosto pelo sabor de Elfos Negros.
No entanto, e se não gostasse do sabor?
Todavia, mesmo que não fosse mortal, seria capaz de fazer a criatura
tomar asco dos Elfos Negros.
A razão pela qual era mais forte que os outros era porque se dedicara
para este dia.
Venha logo. Prove o gostinho dos Elfos Negros daqui, quero ver se não
vai querer vomitar.
“Egnia! Depressa!”
Ele não sabia. Seu oponente não deixava nenhum sinal que pudesse
interpretar.
Assim que Egnia chegou no auge de sua confusão, uma flecha passou
como um raio de luz e atingiu a Árvore Élfica bem na frente da fera mágica.
A figura que apareceu de repente por trás de Egnia era apenas criança
Elfa Negra. Estranhamente, não era residente da aldeia. Parecia ser um
menino extremamente bonito, ou uma menina. Não, se olhasse bem de perto,
notaria uma garota incrivelmente bela. E ao se dar conta—
Como uma garota poderia ser tão bela? Era mais bela que o orvalho da
manhã quando aglutinava e gotejava nas folhas atingidas pela luz da aurora,
ela cintilava como joias.
Era como se ela emitisse uma luz própria. Por isso tivera a impressão do
mundo estar mais brilhante.
Além disso, era como se o vislumbre da vida ficasse evidente nos aromas
emanados de seus movimentos graciosos.
O nariz de Egnia aspirava fora de seu controle.
Ele queria levar um pouquinho desse aroma para seus pulmões, para que
pudesse se espalhar por todo seu sangue.
O que é essa fragrância? Era como se cada uma de suas células
estivessem dançando de alegria.
“Quão—”
Ela reluzia.
“Ei, monstrengo. Sai daí, vai. Eu não vou deixar você aprontar mais das
suas por aqui.”
Fofa.
Muito fofa.
Super fofa.
Sua beleza era tamanha que acabara se esquecendo que ouvira sua voz
momentos atrás. No entanto, dessa vez seu cérebro estava respondendo
adequadamente à voz.
Repetia várias vezes em sua cabeça como um refrão. E toda vez que
acontecia, ficava à beira de arrepios.
Por que?, ele se perguntou, seria tão belo se apontasse o dedo para ele.
Foi frustrante.
Lamentável.
Ele estava triste que aqueles lindos olhos não o percebiam.
“Gurururuu!”
O Ursuslord rosnou.
Naturalmente.
Quem quer que seja, ficaria acuado ao ser encarado por algo tão belo.
Qualquer um pensaria se tratar de uma deusa.
Claro, pode haver quem acredite que feras mágicas podem não ter esse
tipo de senso estético. Entretanto, era um modo muito arcaico de pensar.
Feras mágicas que possuíam grande poder eram lindas. Se assim for,
paradoxalmente, não seria de estranho se essa garota de beleza inigualável
possuísse poder incomparável.
Depois que a garota se revelou, Egnia não tirou os olhos dela nem por
um instante. Mesmo um piscar de olhos teria sido um sacrilégio, e ele tentara
não fazer nenhuma vez. No entanto, uma flecha estava em seu arco.
Ela era uma garota de beleza sem igual que só poderia ter sido gerada
pelo próprio mundo. Sendo esse o caso, não havia dúvida de que ela era capaz
de qualquer coisa.
Egnia tinha essa convicção.
“GwoOO!”
—O Ursuslord gritou.
Ele não estava nem aí para onde a flecha havia atingido. Mais importante
do que isso era não tirar os olhos da garota nem por um instante.
“▓▓▓!”
“▓▓▓▓▓!?”
Muitas palavras eram ditas, mas aos seus ouvidos eram apenas ruídos.
Era irritante.
“▓!? ▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓!?”
“...Você tá bem?”
Egnia ficara tão ansioso que não conseguia dizer nada. Incapaz de
raciocinar, ele não sabia quais palavras usar. Até mesmo respirar estava
difícil. Mesmo assim, tomar esse tipo de atitude era um sinal de desrespeito.
Apesar disso, reunindo toda a energia de seu corpo, Egnia espremeu a
resposta mais adequada.
“...Hm?...Eh?...Que isso?”
A bela garota olhou para ele com dúvida. Mesmo essa expressão foi
inimaginavelmente adorável. Ou melhor, ele tinha certeza de que qualquer
coisa que ela fizesse seria fofa.
“Sinto, sinto muito. Parece que o Egnia está confuso, deve ter sentido
muito medo do Ursuslord.”
“Hmmm.”
“...? Ah, ‘obrigado por atirar aquela flecha’, é o que tá dizendo, né?”
Não é isso.
Era um mal-entendido.
Ele não estava agradecendo por salvá-lo. Ele precisava agradecê-la por
aparecer diante dele— bem aqui.
“Sinsm!”
“...Tem certeza que tá bem? Será que não bateu a cabeça àquela hora que
caiu? Melhor chamar um clérigo pra você?... Ou seria um druida? Aquela fera
mágica pode ter algum tipo de habilidade especial.”
“Tem razão. Parece que o Egnia sofreu algum traumatismo, melhor levar
ele de uma vez.”
Não tardou para ele ser colocado em uma maca feita de duas varas de
madeira e corda. Ele não se queixava de nenhuma dor, mas era inteiramente
plausível que estivesse entorpecido após ver tamanha beleza diante de seus
olhos. As pessoas eram capazes de ignorar sua própria dor em situações
extremas. Sendo esse o caso, seria razoável que não sentisse nenhuma dor se
uma garota de beleza inigualável lhe abordasse.
Por sua razão ter conseguido persuadir sua ânsia por mais dessa beleza,
Egnia concordou em ser levado.
Enquanto via a garota diminuindo em seu campo de visão, notou que ela
estava conversando com o Mestre da Caça, e então pensou:
...O que é esse pulsar violento no meu coração... será que é... Amor!!?
Parte 2
Continua…………
Tô sem saco para traduzir esse volume, então essa
parte está demorando mais que o habitual.