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Resumo
O treinamento pliométrico (TP), por ser utilizado em diversos esportes com o
objetivo de desenvolver a potência muscular, tornou-se uma ferramenta muito popular de
condicionamento físico, por isso, nas ú ltimas décadas surgiram vá rios estudos sobre este
assunto, e neste artigo, vamos analisar a literatura disponível relacionada ao TP e seus
efeitos, sistemas neurais e morfoló gicos, desempenho atlético, prevençã o de lesõ es e sua
aplicaçã o em idosos.
Abstract
Plyometric training (PT), because it is used in various sports in order to develop muscle
power, has become a very popular tool for improving fitness; therefore several studies
emerged in recent decades on this subject. In this article we examine the available literature
related to PT and its effects, morphological and neural systems, athletic performance, injury
prevention and its application in the elderly.
Acredita-se que o treino pliométrico (TP) começou a ser desenvolvido por atletas do
atletismo no começo do século XX, onde realizavam saltos como parte do treinamento.
Alguns dos primeiros estudos sobre os benefícios do TP foram realizados em 1967, por
Yury Verkhoshanski, treinador soviético, que descobriu melhoras no sistema
neuromuscular. Nas décadas de 1970 e 1980, muitos pesquisadores da Europa e Estados
Unidos comprovaram através de estudos os benefícios fisioló gicos do TP (BOMPA, 2004).
Estudo realizado por Kubo et al. (1999) sugere que a rigidez das estruturas do
tendã o tem um efeito favorá vel sobre CAE, possivelmente devido a um armazenamento
adequado da energia elá stica.
Segundo Kubo et al. (1999), muitos estudos anteriores indicam que o CAE é o
resultado da energia de deformaçã o armazenada nas estruturas de tendã o. Estas noçõ es
indicam que o desempenho do CAE é influenciado nã o só pela força e energia fornecida
pelos mú sculos, mas também pelas propriedades elá sticas do tendã o. Os resultados do
estudo indicam que o efeito do pré-alongamento foi mais pronunciado nos indivíduos com
estruturas mais compatíveis do tendã o, ou seja, um tendã o mais rígido.
No estudo de Spurrs, Murphy e Watsford (2003), onde também foi avaliada rigidez
do sistema musculotendíneo e foram observados incrementos nesta estrutura, sendo a
conclusã o dos autores que a rigidez é um bom indicativo da potência reativa do indivíduo,
ou seja, da sua capacidade de absorver e poder restituir a energia elá stica durante açõ es
contundentes (correr, por exemplo).
O treino pliométrico ativa de forma mais intensa as fibras do tipo IIa e IIx e, em
menor proporçã o, as fibras do I. Isso foi demonstrado no estudo de Isaacs et al. (2012).
Neste trabalho, 8 indivíduos saudá veis nã o-treinados foram submetidos a um ataque agudo
de exercícios pliométricos. As fibras musculares foram analisadas através de bió psia
muscular. Os resultados mostraram dano no sarcolema (14,3% das fibras do tipo IIx, 10,3%
de IIa 7,6% do tipo I) e no sarcô mero – disco Z (86% da fibras do tipo IIx, 84% de IIa 27%
do tipo I). Dessa forma atletas que apresentam predominâ ncia de fibras de contraçã o
rá pida podem levar vantagem no desenvolvimento do CAE e em exercícios que exijam
potência muscular.
Bosco (1983) appud Villa, J.G.; García-Ló pez, J. (2003), estabeleceu um protocolo de
avaliaçã o do CAE através de três tipos de saltos. Cada um deles visa analisar características
específicas do CAE. O Squat Jump (SJ) é um salto de referência que nã o utiliza
contramovimento, portanto, nã o há o armazenamento de energia elá stica e força reativa.
Parte de uma posiçã o de joelhos semiflexionados para um salto má ximo. O
Countermovement Jump (CMJ) avalia a força explosiva e a capacidade de reutilizaçã o da
energia elá stica armazenada no momento de estiramento muscular (contramovimento). É
realizado partindo de uma posiçã o de joelhos semiflexionados. Move-se rapidamente em
flexo-extensã o dos joelhos, visando uma contraçã o excêntrica seguida por uma contraçã o
concêntrica potente em um salto má ximo. O Drop Jump (DJ) é um salto realizado partindo-
se de uma queda de uma altura pré-determinada e em seguida de uma pequena e rá pida
flexã o de joelhos, em busca da açã o reflexiva dos fusos musculares. Avalia a força explosiva
dos membros inferiores com o uso do reflexo de estiramento. Todos os saltos devem ser
realizados com as mã os posicionadas nos quadris, evitando, assim, a interferência do efeito
impulsivo que os membros superiores podem provocar (HARMAN et al., 1990).
O Orgã o Tendinoso de Golgi (OTG) e o Reflexo Miotá tico sã o responsá veis pela
melhora no desempenho. O reflexo miotá tico é determinado pela velocidade do
estiramento, dessa forma, um estímulo rá pido resultará em uma contraçã o muscular rá pida
e explosiva (BOMPA, 2004). Portanto, durante a contraçã o concêntrica com pré-
alongamento rá pido há um aumento da ativaçã o neuromuscular ocasionando a melhora do
rendimento muscular. O exercício pliométrico pode desenvolver força explosiva através da
dessensibilizaçã o do OTG, já que esse receptor é inibidor da tensã o muscular exagerada,
limitando a produçã o má xima de força muscular. Assim, a dessenssibiliaçã o aumenta o
limiar de ativaçã o, de forma que pode ser aplicada maior quantidade de força e carga sobre
o sistema musculoesquelético (ROSSI, L.P.; BRANDALIZE, M., 2007).
Essa dessensibilizaçã o do OTG foi observada por Toumi et al. (2004). Neste estudo
foram analisados indivíduos divididos em três grupos distintos, sendo dois de treinamento
pliométrico com velocidade controlada na fase excêntrica (TG1: 0,4 m/s -1 e TG2: 0,2 m/s-1)
e um grupo controle, que nã o realizou treinamento. Os dois grupos de treinamento
obtiveram resultados positivos ao que se refere a potência muscular, velocidade de salto e
atividade elétrica no SJ e no CMJ. No TG1, foi observada uma diminuiçã o na fase de
transiçã o, o que pode ser explicado, conforme o autor, o tipo de treino aplicado para tal
grupo, que maximizou os fatores de excitaçã o, tais como o recrutamento, aumento da
frequência de disparo e sincronizaçã o das fibras musculares, o que, por fim, pode ter
minimizado os fatores inibitó rios, diminuindo a atividade do OTG.
Muitos estudos têm relatado os benefícios do treino pliométrico para atletas que
necessitam de força rá pida e explosã o. Os ganhos sã o principalmente observados em testes
de saltos (altura do salto – CMJ e DJ e relaçã o CMJ/SJ e DJ/SJ) e velocidade da corrida
(sprint). Isso porque o desempenho, tanto nos saltos quanto na corrida, dependem
diretamente da performance do CAE. O desempenho da potência muscular está relacionado
com a velocidade de transiçã o entre a fase excêntrica e a concêntrica, ou seja, com tempo
de contato com o solo, sendo que o CMJ retrata o desempenho do CAE de longa duraçã o e o
DJ de curta duraçã o (Pardal, 2004).
Alam et al. (2012) demonstraram em seu estudo com atletas de handebol que um
programa de treinamento pliométrico ao longo de 6 semanas, com 3 sessõ es semanais de
90 minutos, além do treino normal de handebol, incrementa significativamente a altura do
salto, a capacidade de lançamento da medicine Ball e velocidade em corrida de 30m, se
comparado ao grupo controle que só realizou o treino específico da modalidade.
A economia na corrida também foi verificada por Turner, Owings e Schwane (2003).
Neste estudo foram avaliados 18 corredores em longa distâ ncia, nã o altamente treinados,
distribuídos aleatoriamente em dois grupos (grupo controle – GC e grupo experimental –
GE). O GC permaneceu com o treinamento em corrida e o GE, além do treino em corrida, foi
submetido a um protocolo de TP (saltos com variaçã o de intensidade) de três sessõ es
semanais, durante 6 semanas. Apesar de o treino ter sido realizado em baixas intensidades
e com sessõ es de curta duraçã o, os autores relatam que a melhora na EC pode estar
relacionada a outros fatores que nã o o CAE, uma vez que nã o houve diferenças
significativas no CMJ realizado antes e apó s as 6 semanas de treinamento. Assim, a EC pode
estar pautada apenas com incremento no tempo de treino. Ainda, colocam que os testes
indiretos usados para a determinaçã o da altura do CMJ podem ter mascarados os reais
resultados no que se refere ao desempenho da altura do salto e performance do CAE.
Superfícies de treinamento
Markovic (2007), em seu estudo de revisã o sobre treino pliométrico, cita vá rios
artigos que tratam do treino pliométrico realizado em superfícies diferentes das
convencionais mais rígidas (areia, por exemplo). Este autor conclui que o treinamento
realizado na á gua ou na areia, pode produzir resultados semelhantes aos dos treinamentos
realizados em superfície rígida, salientando que foi observado que as dores musculares sã o
menores quando o TP é realizado em superfícies nã o rígidas.
Prevenção de lesões
O treino pliométrico tem sido apontado como um exercício que causa benefícios
neuromusculares, desenvolvimento proprioceptivo e estabilidade, além de alterar os
fatores de risco biomecâ nico. Por esses motivos, o TP poderia contribuir na prevençã o de
lesõ es (VESCOVI, 2009).
Hillbom (2001) appud Rossi (2007) sugere que a pliometria pode ser usada como
um tipo de reeducaçã o neuromuscular, pois desenvolve um mecanismo promotor de
ajustes posturais e de ativaçã o muscular, necessá rios para proteger articulaçõ es na maioria
dos esportes.
Neste sentido, Caserotti et al. (2008) realizou um estudo com mulheres idosas
dividas em idosas (acima de 60 anos) e muito idosas (acima de 80 anos). Ambos os grupos
foram submetidos a exercícios explosivos de alta intensidade (75-80% de 1RM). Avaliaram
variá veis que compõ e a potência muscular. A velocidade de reaçã o dos membros inferiores,
saltos com contramovimento e força muscular má xima. Os resultados foram positivos em
todos os aspectos. Os dois grupos tiveram melhoras significativas e, consequentemente,
ganhos de potência muscular.
Conclusão
O CAE é responsá vel por atividades diá rias como caminhar, correr, saltar. Portanto
seu desempenho é importante tanto para atletas quanto para pessoas comuns e também
para idosos. O TP proporciona um CAE mais desenvolto, com capacidade de apresentar
potência e explosã o. Por isso o TP tem se mostrado eficiente no desempenho esportivo, na
prevençã o de lesõ es e para melhorar a qualidade de vida de idosos, desde que seja aplicado
corretamente e por um profissional capacitado. Os estudos demonstram que os ganhos de
potência, estabilidade, agilidade e força sã o mais efetivos quando o período de treinamento
e intensidade sã o maiores. Apesar disso, poucas semanas de treino sã o suficientes para
serem observadas algumas alteraçõ es e adaptaçõ es neuromusculares.
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