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9 788538 736851
e Movimento
Ana Cristina Arantes
Max Gunther Haetinger
Ana Cristina Arantes
Max Gunther Haetinger
1.ª edição
Edição revisada
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
__________________________________________________________________________________
A684e
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-3685-1
Psicomotricidade....................................................................................................................41
Entendendo a Psicomotricidade . ...............................................................................................................41
A dimensão multidisciplinar da Psicomotricidade.....................................................................................45
Sedentarismo e incapacidade motora ........................................................................................................47
Recreação e lazer....................................................................................................................71
Recreação e lazer na Educação . ................................................................................................................71
A escola contemporânea ............................................................................................................................75
O espaço físico para as atividades da Educação Infantil............................................................................77
Referências . .........................................................................................................................159
Apresentação
Oi, amigos e colegas!
H
oje iniciamos uma nova caminhada. Nossa meta é a compreensão do desenvolvimento motor
infantil e do modo como ele contribui no desenvolvimento integral da criança. Vamos estu-
dar conceitos, realizar atividades e agregar nossas experiências de magistério para que juntos
possamos explorar o universo da criança e do movimento.
A cada passo de nosso percurso, aprofundaremos o tema por meio de textos específicos e
práticas em grupo. Também vamos abordar alguns assuntos relacionados à educação escolar na in-
fância. Estaremos sempre buscando entender que a sala de aula transcende o educar e representa
um prolongamento do lar das crianças, sendo uma experiência decisiva para o desenvolvimento de
meninos e meninas.
Como educadores, precisamos ter em mente que a aprendizagem está fundamentada em um
processo de troca no qual todos os agentes da Educação (professores, alunos, funcionários, pais e
comunidade) devem compartilhar seus conhecimentos sem preconceitos, nem pré-conceitos, estabe-
lecendo uma “avenida de duas mãos”, destacada por Paulo Freire como a essência do ato de educar.
Assim, aprendemos e ensinamos ao mesmo tempo.
Portanto, vamos compartilhar nossos saberes e nos entregar à aventura de uma educação interativa,
que promove a integração, o conhecimento, o brincar e a alegria em todos os cantos da sala de aula.
Procurem aproveitar o máximo as experiências proporcionadas por nossa disciplina, pois elas
representam uma grande oportunidade para vocês construírem novos conhecimentos. Como diz
Edgar Morin, o aprender constante é um meio de percebermos os problemas do complexo mundo em
que vivemos.
Ana Cristina Arantes
Max Gunther Haetinger
Atividade física,
Educação Física:
conceitos e histórico
Ana Cristina Arantes*
O movimento é uma característica dos seres humanos vivos. Entretanto, ele
pode ser estudado e compreendido sob vários aspectos que se relacionam, favore-
cendo seu entendimento de maneira articulada.
Historicamente falando, o movimento é considerado como uma atividade
humana muito importante e tem recebido a atenção de estudiosos das mais di-
ferentes áreas do conhecimento: medicina, antropologia, educação física, entre
outras. Praticado e investigado pelo homem desde as primeiras civilizações, o
movimento tem por fim último a sobrevivência – pessoal e da espécie humana.
Movimentos iniciais
Nos primórdios da civilização o homem era nômade. Caminhava pelos
campos em busca de alimento e de um lugar melhor para se instalar, visando à
proteção para seu clã. O movimento ou a atividade física exercida por ele consistia
na caça, na pesca e na obtenção de alimentos disponíveis nas árvores, uma vez que
era, em princípio, um ser extrativista.
Naquela época – é interessante que se esclareça – não havia divisão de fun-
ções tal como conhecemos hoje. Entretanto, sabe-se que à medida que o grupo se
desenvolvia os homens assumiram funções externas, tornando-se responsáveis por
trazer a caça e a pesca para os seus. À mulher coube, além do plantio das sementes
(feito nas proximidades da moradia), a organização do espaço interno, a confecção
do vestuário, o preparo dos alimentos e o cuidado com a prole. Pouco a pouco, a
organização humana foi sendo ampliada, gerando muitas outras funções.
Quando o ser humano deixou de ser nômade e criou vínculo com o lugar em
que vivia, passou a defendê-lo de outros clãs. A partir dessa situação, surgiram
os guerreiros, cuja atribuição era a de lutar e defender seu núcleo. Por isso havia a
Douto r a e m H i s t ó r i a
necessidade de sempre estarem fisicamente preparados para os eventuais ataques e Filosof i a d a E d u c a ç ã o
de outros grupos. pela Un i v e r s i d a d e d e
São Pau lo (U SP). M e s -
Havia, portanto os que caçavam e pescavam; as mulheres que cuidavam da tre em E d u c a ç ã o Fís ic a
pela US P. P e d a g o g a e
casa e das crianças; os guerreiros protegiam o núcleo humano; e havia o sacerdo- especialis ta e m A d mi-
te, pagé ou xamã, cuja função era a de aconselhar, orar, cumprir e orientar rituais nistração e Su p e rv is ã o
Escolar ( F F C L - Ti b i r i ç á ,
para as diferentes necessidades do grupo, as celebrações da vida e da morte, da SP). G ra d u a d a e m Ed u -
semeadura e da colheita, pedidos e invocações para todas as urgências dos ho- cação Fí s ic a p e la U SP.
mens. Muitas vezes, essas celebrações, pedidos e invocações eram praticados sob 7
Atividade física, Educação Física: conceitos e histórico
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Atividade física, Educação Física: conceitos e histórico
Propósitos do movimento
humano: ideias iniciais
Historicamente, no tocante da intenção, pode-se afirmar que o movimento
foi gradualmente se caracterizando por uma prática com vários objetivos, válidos
inclusive para os dias atuais:
visa ao bem-estar, a prevenção de doenças, a manutenção da saúde;
prepara o indivíduo para disputas; e
desenvolve aptidão física específica para determinados fins, como a
guerra.
Quanto a sua nomenclatura (atividade física ou Educação Física), o movi-
mento apresenta importante distinção.
Pode-se afirmar que é a partir da elaboração e da divulgação das escolas
ou dos cinco métodos ginásticos europeus, a partir de 1800 (LANGLADE; LAN-
GLADE, 1970, p. 23), que o conhecimento acumulado desde a Grécia antiga foi
revisto, ampliado e analisado, por assim dizer, formando a essência desta impor-
tante área de conhecimento, de pesquisa e de prática profissional.
A Educação Física atual se fundamenta nos estudos da filosofia, da psicolo-
gia, da sociologia e da fisiologia, além dos aspectos didático-pedagógicos propria-
mente ditos (FONSECA, 1987, p. 12). Portanto, para o professor que irá orientar
um adequado programa para seus alunos, ou uma pessoa que deseja praticar exer-
cícios físicos com segurança, é indispensável observar, informar-se, conhecer e
estudar os tópicos de filosofia, psicologia, sociologia e fisiologia demandados pela
área da atividade física e da Educação Física.
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Atividade física, Educação Física: conceitos e histórico
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Atividade física, Educação Física: conceitos e histórico
Platão, grande filósofo grego, sobre a educação das crianças, recomendava “Música para a alma
e ginástica para o corpo”.
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Atividade física, Educação Física: conceitos e histórico
1. Você já havia pensado sobre a história do movimento humano, como ele foi utilizado e quais as
transformações por que passou ao longo da história? Comente.
2. Você agora está convencido que a prática da Educação Física é muito importante e que para
favorecer a sua compreensão é necessário conhecimento sobre seu conteúdo? Comente sua res-
posta.
OLIVEIRA, Vitor Marinho de. O que É Educação Física. São Paulo: Brasiliense, 1989.
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Bebês e humanidade:
uma história paralela
Ana Cristina Arantes
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Bebês e humanidade: uma história paralela
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Bebês e humanidade: uma história paralela
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Bebês e humanidade: uma história paralela
Definição do processo
de crescimento humano
O processo de crescimento representa algo diretamente mensurável: o au-
mento do peso e da estatura de uma pessoa. Essa alteração pode ser vista a olho
nu, pois mesmo sem a utilização de instrumento sabemos que uma criança cresceu
(aumentou seu tamanho) ou engordou (aumentou sua massa corporal) valendo-nos
apenas da observação cotidiana. Cabe aqui a ressalva de que esse aumento da
massa corporal pode se dar por duas maneiras:
pelo aumento do número de células;
pelo aumento do tamanho das células – gerando o peso excessivo, por
exemplo.
A compleição física pode ser definida como a quantidade de massa corporal
distribuída pela estatura. Observa-se que, muitas vezes, uma pessoa tem o mesmo
peso e a mesma estatura que outra e, no entanto, a massa se distribui de forma
diferente, dando a falsa impressão que a primeira é mais magra que a segunda ou
vice-versa (ARANTES, 1990, p. 3).
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Bebês e humanidade: uma história paralela
Fatores intervenientes
Atualmente, sabemos que somos fruto da hereditariedade1 que determina o
nosso fenótipo: cor dos olhos, cor do cabelo, estatura, peso, compleição física, e
nascemos com a capacidade de realizar certas tarefas descritas por Froebel como
“dons”, tais como sermos capazes de aprender a ler e escrever, observar a natu-
reza, cuidar de nosso corpo e desenvolver as habilidades manuais (ARANTES,
1997, p. 116; ARANTES et al., 2001).
Um segundo fator é representado pelo meio ambiente que nos molda, muitas
vezes agindo de maneira positiva ou negativa, ampliando ou inibindo as nossas
capacidades, transformando-as em habilidades (MAGILL, 2000).
Quanto ao patrimônio genético, não podemos intervir, mas como educa-
dores talvez possamos alterar alguns aspectos da vida de nossos alunos para que
ocorram mudanças que os auxiliem a compreender os saberes escolares.
Aqui os fatores intervenientes não são provenientes da herança genética.
Assim postulando, todas as condições não hereditárias, aquelas ligadas ou de-
pendentes do nível socioeconômico e a tudo que for “externo” ao sujeito, estão
inseridas nos fatores do meio ambiente.
Meio socioeconômico: quando a família possui condições, seus filhos dor-
mem em quartos ventilados e limpos, a água servida é tratada, filtrada e fervida,
evitando a contaminação por doenças. A família com condições econômicas fa-
voráveis alimenta seus entes de forma equilibrada, com carne (alimento plástico
responsável pelo crescimento e a reparação de células), vegetais (legumes e verdu-
ras); oferece condições para o desfrute das horas de estudo, de trabalho, ocupação
e de lazer (importante elemento de descarga psíquica), dando oportunidade para
prática de atividade física (elemento de autotestagem, autoconhecimento, sociali-
zação e formação de conceitos do mundo concreto).
Uma família interessada em um bom e adequado processo de crescimento e
de desenvolvimento de seus filhos também deve nutrir seus familiares com afeto
e segurança espiritual, fazendo com que todos se sintam acolhidos por um ben-
querer recíproco.
1 Hereditariedade: herança
genética dos nossos ante-
passados.
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Bebês e humanidade: uma história paralela
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Bebês e humanidade: uma história paralela
3. Qual é a relação entre as adaptações pelas quais a humanidade passou e o processo de desenvol-
vimento do bebê?
TANI, Go et al. Educação Física Escolar: uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: Edusp,
1980.
OLIVEIRA, Vitor Marinho de. Educação Física Humanista. Rio de Janeiro: Livro Técnico, 1985.
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Bebês e humanidade: uma história paralela
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Fundamentos do
desenvolvimento motor
Max Gunther Haetinger*
A primeira linguagem que a criança compreende
é a linguagem do corpo, a linguagem da ação.
Jean Piaget
O
corpo e o movimento são elementos relevantes para a socialização e a
aprendizagem das crianças, desde seus primeiros anos de vida. O desen-
volvimento motor infantil está vinculado ao corpo, ao movimento e ao
desenvolvimento integral do homem, podendo ser observado a partir das interações
entre nossa biologia, nosso comportamento, as tarefas que realizamos e as condições
do ambiente em que vivemos.
Essas ideias talvez pareçam óbvias, mas no passado o estudo do desenvolvi-
mento motor fundamentou-se nos processos cognitivos e afetivos do ser humano.
Diversos autores e educadores enfatizavam somente as dimensões cognitiva e afetiva
da aprendizagem.
Nos anos 1970, as pesquisas voltadas para o desenvolvimento motor passaram
a considerar as atividades físicas, abarcando diferentes áreas do conhecimento, como
a fisiologia do exercício, a biomecânica, a psicologia desenvolvimentista e social, a
aprendizagem e o controle motor. No entanto, o desenvolvimento motor foi aborda-
do a partir de modelos que separavam o corpo humano de sua afetividade e de sua
cognição.
Atualmente, entendemos o desenvolvimento motor como um processo dinâmi-
co que se concretiza ao longo de nossa vida, uma ecologia que relaciona o indivíduo,
suas ações e seu ambiente, como no quadro a seguir.
(GALLAHUE; OZMUN, 2001, p. 6)
21
Fundamentos do desenvolvimento motor
3. Infância (2 – 10 anos)
a) período de aprendizado 24 – 36 meses
b) infância precoce 3 –5 anos
c) infância intermediária/avançada 6 – 10 anos
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Fundamentos do desenvolvimento motor
Platão
Habilidades de estabilidade
A habilidade de estabilidade é expressa por três padrões de movimento.
Movimentos axiais: são os movimentos como inclinação, alongamento,
giros, rotações, entre outros, que a criança executa a partir da postura cor-
poral estática. Esses movimentos evoluem a partir dos dois meses de idade
e, posteriormente, influenciam os padrões de movimentos manipulativos
como lançar, aparar, chutar e bater.
Equilíbrio estático: engloba ações corporais de equilíbrio. A criança começa
a apresentar essa habilidade a partir dos dez meses, ao ficar em pé. Também
se manifesta no equilíbrio em um pé (aproximadamente aos cinco anos) ou
nos apoios invertidos (equilíbrio com a cabeça virada para baixo).
Equilíbrio dinâmico: compreende ações que a criança pratica para manter o
seu equilíbrio usando o próprio corpo ou um objeto. Engloba atos como ca-
minhar em linhas retas e circulares, equilibrar-se em cima de objetos (traves
ou cadeiras) ou alternar os pés sobre objetos – ações realizadas por crianças
a partir dos três anos. Já aos seis anos, inclui as atividades de rolamento do
corpo para a frente.
Habilidades locomotoras
As habilidades locomotoras aparecem dos 13 meses aos seis anos de idade
e estão distribuídas em seis padrões de movimento.
Caminhada: deslocamento de um pé e outro, alternadamente, mantendo
sempre um deles em contato com o chão. Começa aos 13 meses, quando a
criança já fica em pé e dá os seus primeiros passos, progredindo para a ação
de andar para trás (18 meses), até subir e descer escadas (2 anos).
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Fundamentos do desenvolvimento motor
Habilidades manipulativas
As habilidades manipulativas são fundamentais para o desenvolvimento
motor desde os primeiros momentos de vida, pois representam uma condição básica
para a interação com os objetos (aqui se entendendo objeto como qualquer coisa
que não seja o próprio sujeito). Elas podem ser apresentadas desde os dois meses
de idade e estão classificadas nos padrões de movimento a seguir.
Alcançar, segurar e soltar objetos: a criança apresenta essa habilidade desde
os dois meses, quando começa a segurar os dedos da mãe, por exemplo. O
ato de pegar com a mão inteira acontece aos cinco meses. Já o pegar e soltar
com controle ocorre somente depois de um ano.
Pegar: corresponde a receber um objeto em movimento com as mãos.
Quando esse domínio motor evolui, a criança consegue receber e controlar
objetos menores. Aos dois anos, a criança tende a perseguir uma bola para
pegá-la, por exemplo. Com dois e meio, responde a bolas aéreas, mas ain-
da não coordena a ação do corpo para pegá-las. Por volta dos cinco anos,
consegue apanhar uma bola em movimento usando somente as mãos.
Lançar: ato de imprimir força a um objeto, lançando-o na direção desejada.
Essa é uma ação mais elaborada e requer maior desenvolvimento motor. Por
25
Fundamentos do desenvolvimento motor
isso, apresenta-se geralmente a partir dos dois ou três anos. Nessa idade, a
criança consegue ficar parada e lançar algo em direção de outro objeto (por
exemplo, lançar uma bolinha na cabeça de um boneco). Entre quatro e cinco
anos, ela já pode realizar um lançamento combinado com o movimento de
seu corpo (por exemplo, dar um passo ou girar o corpo e lançar o objeto).
Chutar: significa imprimir força sobre um objeto com o pé para que esse ob-
jeto se desloque. Essa ação começa com a criança empurrando a bola com
o pé, com 18 meses de idade. Aos dois anos, ela chuta com a perna reta e
poucos movimentos corporais. Com três anos, começam a se esboçar movi-
mentos mais elaborados (flexão da perna e balanço do corpo). Somente aos
cinco anos é realizado um chute mais definido e equilibrado.
Bater: ação realizada para efetivar um contato súbito do braço com objeto(s),
ou entre objetos, batendo-os com as mãos. A partir dos dois anos de idade,
esse movimento acontece no plano vertical. Aos quatro anos, a criança con-
segue mover os braços horizontalmente para bater. Já aos cinco anos, gira o
tronco e o quadril, projetando o peso de seu corpo.
Lembramos que os padrões motores descritos representam um potencial mé-
dio das crianças. O desenvolvimento dessas habilidades depende das características
físico-biológicas e biomecânicas do indivíduo, das tarefas que realiza, do ambiente
em que vive e dos aspectos afetivos e sociais vivenciados.
Os conceitos apresentados servem de referência para você observar e compre-
ender a realidade de seus alunos, sem avaliá-los por suas performances motoras ou
cobrar padrões de habilidade incompatíveis com o nível de desenvolvimento dos edu-
candos. Considerar o ser integralmente, sua cultura, seu ambiente e suas experiências
é uma tarefa essencial para todo educador que pretende colaborar na aprendizagem
de seus alunos.
Destacamos o texto do professor João Luiz Martins, um educador preocupado com as relações
entre movimento e aprendizagem. Seu artigo aborda a importância do brinquedo no universo infantil
e a r elação da criança com o ato de brincar.
O lúdico e o aprendizado
(MARTINS, 2003, p. 123-134)
26
Fundamentos do desenvolvimento motor
criança despende energia, imagina, constrói normas e cria alternativas para resolver os imprevis-
tos que surgem no ato de brincar.
O brinquedo facilita a apreensão da realidade e é muito mais um processo do que um pro-
duto. Não é o fim de uma atividade ou o resultado de uma experiência. É, ao mesmo, a atividade
e a experiência, envolvendo a participação total do indivíduo. Exige movimentação física, envol-
vimento emocional, além do desafio mental que provoca. E neste contexto, a criança só ou com
companheiros integra-se ou volta-se contra o ambiente em que está.
Por ser essencialmente dinâmico, o brinquedo possibilita a emergência de comportamentos
espontâneos e improvisados. Os padrões de desempenho e as normas podem ser criados pelos
participantes; há liberdade para se tomar decisões.
A direção que o brinquedo assume é determinada pelas variáveis de personalidade da crian-
ça, do grupo e do contexto social em que as crianças vivem.
O brinquedo é a essência da infância; é o veículo do crescimento, é um meio extremamen-
te natural que possibilita à criança explorar o mundo, tanto quanto o adulto, possibilitando-lhe
descobrir-se e entender-se, conhecer os seus sentimentos, as suas ideias e a sua forma de reagir.
Através da atividade lúdica e do jogo, a criança forma conceitos, seleciona ideias, estabelece
relações lógicas, integra percepções, faz estimativas compatíveis com o seu crescimento físico e o
seu desenvolvimento. E, o fundamental, a criança vai se socializando.
Que fatores influenciam o comportamento de brincar?
Muitos seres vivos brincam, mas somente os seres humanos organizaram a brincadeira em
forma de jogo. A capacidade de jogar surgiu nas mais antigas civilizações, em todos os recantos
do globo. Os jogos e os brinquedos desempenham papéis relevantes no desenvolvimento infantil
e na transmissão da cultura, de geração em geração.
Originariamente, muitos jogos tinham um sentido religioso ou supersticioso. Jogos de azar,
de tabuleiro e dados tais como ludo remontam há pelo menos cinco mil anos. O xadrez da Índia,
o go do Japão e o wan da África são jogos de estratégia muito antigos que aguçam a capacidade
de planejar e de calcular. Faz de conta, vestir-se de gente grande, para imitar os adultos, fazer o
que o manda o mestre (mestre mandou), esconde-esconde, pegador, pique, e jogos de adivinhação
estão entre os muitos passatempos que desenvolvem a capacidade infantil em qualquer parte do
mundo.
No que diz respeito a jogos e brinquedos, as crianças de famílias de recursos menores po-
dem, em certos casos, ser mais bem servidas do que as crianças privilegiadas. Os brinquedos que
elas próprias confeccionam com barro, palha, madeira, pregos e restos de materiais disponíveis
envolvem criatividade e destreza, ao passo que os jogos eletrônicos, de plástico, produzidos em
larga escala e comercializados de forma agressiva, muitas vezes promovem uma brincadeira soli-
tária e passiva. A obsessão com a violência em muitos desses jogos, por sua vez, tem despertado
preocupação a nível internacional.
De acordo com vários autores e pedagogos, que estudam o comportamento de brincar da
criança, o brinquedo é influenciado pela idade, sexo, presença de companheiros e de outras pesso-
as, além dos aspectos ligados à novidade, surpresa, complexidade e variabilidade.
Portanto, cabe ao educador:
valorizar o brinquedo para encorajá-lo nos educandos, sem ter a sensação que está
perdendo tempo;
reconhecer as limitações do elemento competitivo no brinquedo infantil;
equilibrar o brinquedo diretivo e espontâneo;
27
Fundamentos do desenvolvimento motor
observar o brinquedo infantil para conhecer melhor as crianças e para que possa avaliar
até que ponto a atividade está oferecendo prazer à criança;
estimular os brinquedos sociais que favorecem os comportamentos interativos entre as
crianças.
A criança pode brincar só, brincar perto de um companheiro, brincar sem conseguir um grau
elevado de cooperação e pode conseguir brincar a partir de uma divisão de tarefas para atingir
um objetivo comum. O brinquedo pode prever uma diferenciação de papéis, pode ser cooperativo,
competitivo ou impregnado de momentos de cooperação e de competição.
Muitas são as habilidades sociais reforçadas pelo brinquedo: cooperação, comunica-
ção eficiente, competição honesta, redução da agressividade. O brinquedo permite às crianças
progredirem até atingirem um nível de proficiência formidável.
As brincadeiras permitem às crianças identificar, generalizar, classificar, agrupar, ordenar,
seriar, simbolizar, combinar e estimar. E, juntamente com estas operações, a atenção está sendo
desenvolvida, o mesmo ocorrendo com respeito às relações espaciais e temporais.
A expressão corporal e todo o desenvolvimento de gestos, posturas, a relação que se estabelece
entre o corpo e a mente da criança e o ambiente em que se encontra, tudo isso se reveste de uma
enorme importância ao desenvolvimento infantil.
Há uma infinidade de brinquedos e brincadeiras que seduzem a criança e a envolvem inte-
gralmente. Quanto mais o brinquedo possibilitar a exploração livre da criança, melhor. Quanto
menos isso ocorrer, mais a criança estará na condição de mera espectadora. Ela se envolve afe-
tivamente, com o mundo, tanto quanto o adulto, possibilitando-lhe descobrir-se e entender-se,
conhecer os seus sentimentos e forma de reagir.
Através da atividade lúdica e do jogo, a criança forma conceitos, seleciona ideias, melhora a
sua parte motora e se prepara para o aprendizado futuro.
O esporte é em muitas ocasiões intensamente trabalhado, o que gera tanto interesse como a
apatia por parte daquelas crianças que não conseguem adquirir habilidades rapidamente e, conse-
quentemente, não se destacam como atletas, por isso devemos trabalhar principalmente atividades
interativas, que são atividades em que o papel do grupo e das habilidades individuais é ressaltado.
Vamos agora compartilhar um texto sobre o Tempo. Pode parecer que isso não importa para a edu-
cação, mas lembre-se: o tempo está presente em tudo, em todos os processos de desenvolvimento huma-
no, no ensino e na aprendizagem. O aluno precisa de tempo, assim como o professor, a escola e os pais.
O texto de Débora Dias Gomes, apresentado a seguir, sintetiza a importância do tempo em nos-
so cotidiano, com a precisão e a sensibilidade que só existe no coração dos poetas.
Tempo
(Débora Dias Gomes)
Imagine que você tenha uma conta corrente e a cada manhã você acorde com um saldo do dia
para o dia seguinte. Todas as noites o seu saldo é zerado. Mesmo que você não tenha conseguido
gastá-lo durante o dia, o que você faz??? Irá gastar cada centavo, é claro!
28
Fundamentos do desenvolvimento motor
Pois bem, todos nós somos clientes deste banco de que estamos falando. Ele se chama tempo.
Todas as manhãs, são creditados na sua conta 86 400 segundos, porém todas as noites esse
saldo é debitado, como perda. Não é permitido acumular esse saldo para o dia seguinte.
Todas as manhãs a sua conta será reinventada e todas as noites as sobras do dia se evaporam.
Não há volta. Você precisa viver o momento presente, gastando o seu tempo com inteligência
e vontade, selecionando apenas ações essenciais.
Utilize o seu depósito diário. Não desperdice.
Invista no que for melhor, na sua saúde, felicidade e sucesso e na daqueles que estiverem ao
seu alcance.
O relógio está correndo. Doe-se ao momento presente com entusiasmo. Faça o melhor para o
seu dia a dia e para o dos outros que estão ao seu redor.
Você acredita?
Para você perceber o valor de um Ano, pergunte a um estudante que repetiu a série.
Para você perceber o valor de um Mês, pergunte a uma mãe que teve o seu bebê prematura-
mente. Para você perceber o valor de uma Semana, pergunte a um editor de um jornal semanal.
Para você perceber o valor de uma Hora, pergunte aos amantes que estão esperando um grande
encontro.
Para você perceber o valor de um Minuto, pergunte a uma pessoa que perdeu um trem.
Para você perceber o valor de um Segundo, pergunte a uma pessoa que conseguiu evitar um
acidente terrível.
Para você perceber o valor de um Milésimo de segundo, pergunte a quem venceu a medalha
de prata de uma olimpíada.
Valorize cada minuto de sua vida.
Que você possa dividir todos os momentos da sua vida com pessoas especiais o suficiente
para você gastar o seu tempo com sentimento de prazer por estar sendo útil.
Lembre-se: o tempo não espera por ninguém.
O ontem pertence a uma ciência chamada história.
O amanhã é um mistério que não deve causar ansiedade.
O hoje é dádiva. Por isso é chamado de presente!!!
1. A tarefa agora é explorar e refletir sobre o dia a dia com os alunos, sob a perspectiva do desen-
volvimento motor. Formulamos um quadro que relaciona as principais habilidades motoras,
seus respectivos padrões de movimento, as atividades abrangidas nesses movimentos, e a idade
da criança que os realiza.
Reunidos em grupos de três, vocês deverão preencher a tabela a seguir. Descrevam uma atividade
pedagógica para cada um dos padrões de habilidades motoras apresentados, indicando a idade
dos alunos que participaram dessas práticas propostas em sua sala de aula.
29
Fundamentos do desenvolvimento motor
30
O corpo e o movimento
na Educação Infantil
Max Gunther Haetinger*
Fatores físicos
das atividades motoras infantis
A
s habilidades motoras e seus padrões são elementos fundamentais para o
estudo do desenvolvimento motor infantil. Devemos sempre respeitar a pro-
gressão dessas habilidades quando propomos atividades para nossos alunos.
Agora, vamos conhecer os fatores físicos e mecânicos relacionados com o de-
senvolvimento motor. Os fatores mecânicos estão vinculados a três aspectos inter-
-relacionados:
os fatores estabilizadores;
os fornecedores de força;
os receptores de força.
O fator de estabilidade relaciona-se com o fator força, pois todos estamos su-
jeitos à lei da gravidade. E isso representa uma influência no centro e na linha de
gravidade do corpo e na base de apoio do indivíduo.
Já os fornecedores de força são as leis da física que alteram os movimentos de
pessoas e objetos, como a inércia, a aceleração e a ação-reação. Por essa razão, os
fatores mecânicos acabam relacionando-se também com os espaços, as superfícies
e as distâncias percorridas no meio ambiente, e variam conforme a interação entre
sujeitos, objetos e meio.
Para melhor compreensão desses conceitos, vamos considerar as habilidades
motoras (locomotoras, de estabilidade e manipulativas) e observar o diagrama apre- * Com a colaboração
de Daniela Haetinger e
sentado por Gallahue e Ozmun (2001). Luis Lucini.
31
O corpo e o movimento na Educação Infantil
Força Velocidade
Fase reflexiva Fase reflexiva
Centro de Fase reflexiva
gravidade Inércia
Área de Resistência Agilidade
Fase Fase
superfície Fase aeróbica
Aceleração rudimentar rudimentar
Linha de fundamental Coordenação
fundamental
gravidade Distância Flexibilidade
Ação-reação Fase Fase Equílibrio
especializada Fase
Base de apoio especializada Composição
especializada
corporal Energia
33
O corpo e o movimento na Educação Infantil
Nosso texto em destaque aborda as habilidades motoras estudadas até o momento sob
o ponto de vista prático. A autora, Gloria Medrano Mir, fornece-nos dicas muito interessantes sobre
como trabalhar essas habilidades na Educação Infantil.
Desenvolvimento postural
Dentro deste item podemos distinguir:
sustentação da cabeça;
posição sentado;
posição de pé.
[...] em todas as aprendizagens que a criança deve realizar, é muito importante dar-lhe o
oportunidade de experimentar e vivenciar, sem forçar a aquisição. As escolas infantis devem,
entre uma de suas tarefas fundamentais, criar ambientes enriquecidos que proporcionem a maior
quantidade possível de oportunidades.
34
O corpo e o movimento na Educação Infantil
Domínio da marcha
Sustentando-se com uma mão, é capaz de fazer os movimentos da marcha, para deslocar-se,
aos nove meses.
Aos 11, caminha com certa desenvoltura se tiver ajuda e entre os 12 e os 14 meses caminha
sozinha.
Manipulação
É de considerável importância, visto que está relacionada ao desenvolvimento afetivo e cog-
nitivo. Constituirá uma das condutas instrumentais básicas para a adaptação da criança ao meio e
à descoberta e estruturação do espaço.
Para que possa ser efetivada com orientação intencional e eficácia, é necessário um processo
de maturação e treinamento com relação a duas funções básicas, preensão e visão, e coordenação
entre ambas.
[...]
Ao longo da infância, a criança deverá adquirir o progressivo controle e o domínio de sua
capacidade de manipulação para realizar aprendizagens básicas como rasgar, cortar, desenhar,
escrever, entre outras.
Lateralidade
A base orgânica da motricidade e da percepção é constituída pelo sistema nervoso. Neste,
cada hemisfério cerebral é responsável pelo controle da atividade de uma parte do organismo. O
hemisfério esquerdo controla a atividade da parte direita do corpo e o direito, da parte esquerda.
Existe um hemisfério dominante. As pessoas cujo hemisfério dominante é o esquerdo são
destras e aquelas nas quais domina o direito são canhotas. Existem pessoas sem uma dominância
definida, que podem ser ambidestras. Parece, inclusive, que há diferenças sexuais quanto à domi-
nância hemisférica ou lateralidade: as mulheres são menos lateralizadas do que os homens.
[...]
No caso dos homens destros, a linguagem, o manejo dos números, a solução de problemas
lógicos, o processamento de materiais sequenciais, entre outros, dependem fundamentalmente
da atividade do hemisfério esquerdo. O desenho, a imaginação, o gosto musical, por exemplo,
dependem do direito. No caso dos homens canhotos e das mulheres, a especialização não está
tão definida. Entretanto, ainda não há um acordo entre os pesquisadores sobre se a dominância
hemisférica funciona também de maneira especializada com relação às emoções. Apesar da espe-
cialização, os dois hemisférios atuam de maneira conjunta e complementar.
35
O corpo e o movimento na Educação Infantil
Também parece que as pessoas têm estilos hemisféricos, isto é, dão preferência a um ou a ou-
tro hemisfério em suas atuações. As analíticas e verbais parecem preferir o hemisfério dominante
e as intuitivas e globais, o hemisfério menor.
Importa conhecer a realidade da diferença hemisférica e da lateralidade para atuar adequa-
damente com as crianças, especialmente nas primeiras etapas da vida. É necessário respeitar a
lateralidade infantil. Deve-se observar as preferências da criança nesse sentido.
A criança da atualidade
Na Educação Infantil, as crianças são o foco, a razão, a motivação, a causa e
o efeito de nosso trabalho. Por isso, é tão importante entendermos a criança que faz
parte da nossa realidade, reconhecendo-a em um sentido mais amplo, considerando
todas as nuances de seu universo.
As crianças da atualidade fazem parte de uma geração nascida em uma épo-
ca de intensa revisão de paradigmas. Na Educação, estamos reavaliando nossas
práticas pedagógicas e centrando o processo de aprendizagem no aluno (e não mais
no professor). No campo filosófico, revê-se o conceito de verdade (já não existem
certezas absolutas) e as relações entre homens, tempo e espaço, as quais se encon-
tram em plena transformação por causa do avanço tecnológico. No âmbito social,
são adotados novos valores, comportamentos, meios de produção, de informação e
de comunicação.
Refletindo sobre esses aspectos, destacamos a relação das crianças com a mí-
dia. Mesmo com a crescente difusão das novas tecnologias de informação e comu-
nicação (computadores em rede, ferramentas digitais, realidades virtuais etc.), a te-
levisão ainda é a ferramenta comunicativa e informativa que mobiliza a maior parte
da população. Nas últimas décadas, a tevê foi responsável pela formação cultural de
milhares de pessoas, o que também afeta a Educação Infantil. Segundo o professor
José Manuel Moran,
A criança também é educada pela mídia, principalmente pela televisão. Aprende a informar-
-se, a conhecer – os outros, o mundo, a si mesma –, a sentir, a fantasiar, a relaxar, vendo,
ouvindo, “tocando” as pessoas na tela, pessoas estas que lhe mostram como viver, ser feliz
e infeliz, amar e odiar. A relação com a mídia eletrônica é prazerosa – ninguém obriga que
ela ocorra; é uma relação feita através da sedução, da emoção, da exploração sensorial, da
narrativa – aprendemos vendo as histórias dos outros e as histórias que os outros nos con-
tam. Mesmo durante o período escolar a mídia mostra o mundo de outra forma – mais fácil,
agradável, compacta – sem precisar fazer esforço. Ela fala do cotidiano, dos sentimentos, das
novidades. A mídia continua educando como contraponto à educação convencional, educa
enquanto estamos entretidos. (MORAN, 2005)
Para encerrar esta aula, homenageamos um profissional brilhante, tão cheio de histórias enri-
quecedoras para contar: o professor Celso Antunes. No texto a seguir, ele aborda a importância da
Educação Física escolar, do corpo e do movimento no desenvolvimento integral do ser humano, tra-
çando um paralelo entre os atuais hábitos das pessoas e os defasados hábitos da escola.
A praça e a escola
(ANTUNES, 2003, p. 34-37)
A Educação Física, muitas vezes, é a mais desrespeitada entre as disciplinas escolares. Olha-
da como irmã enjeitada, o espaço de sua aula é invadido sem a menor cerimônia por qualquer um
a qualquer horário. Mas será que uma parte desse descaso não cabe aos professores que aceitam
se submeter a um currículo antiquado que visa mais aos músculos que à mente?
37
O corpo e o movimento na Educação Infantil
Uma das mais significativas mudanças comportamentais entre os tempos de agora e a manei-
ra como se encarava o corpo humano e a saúde há cerca de 30 ou 40 anos pode ser percebida em
qualquer lugar. O hábito de correr, movimentar-se, fazer musculação, andar de bicicleta e princi-
palmente caminhar, que representava atitude exótica de alguns poucos, transformou-se em ver-
dadeira febre, incontestável paixão nacional. Não existe município brasileiro, por menor que seja,
no qual não se depare logo cedo ou ao entardecer com pessoas de todas as idades caminhando,
exercitando-se, “malhando” enfim. A ideologia desse movimento cresceu de tal forma a ponto de
transformar-se em verdadeiro valor, e os que ainda resistem a essa ação não o fazem sem um certo
sentimento de culpa. E é bom que assim seja. Sabemos hoje que reconectar a mente com o corpo é
essencial para a qualidade de vida e que buscar boa saúde corporal e mental passa necessariamen-
te pela atividade física. Pena que essas ideias da praça ainda não tenham chegado às escolas!
Nas escolas vigora com intensidade a visão convencional da aprendizagem, centrada no es-
tímulo e aplauso para os saberes linguísticos, lógico-matemáticos ou eventualmente naturalistas.
A Educação Física está no currículo, mas poucas vezes valorizada pelo significado de sua imen-
sa dimensão. As aulas são vistas pelos demais como pausa no aprender, o sucesso do aluno em
seus desafios raramente são conectados à visão de progresso que se busca, e a “sala de aula” do
professor de Educação Física é invadida quase sem cerimônia e a todo instante pelos alunos de
outras séries, professores distraídos ou, quando não, pelos inspetores de alunos ou seguranças em
atividade ou até mesmo cachorros vadios à cata da preguiça. Talvez o involuntário responsável
pela contradição entre a praça e a escola seja mesmo Descartes, que, ao separar a alma do corpo,
criou duas realidades para a escola: a essencial, que combinava a mente com a alma, e a supérflua,
que via o corpo como máquina muscular. Devido a essa concepção, a educação não se volta para
ensinar a saúde do corpo e a validade dos sentimentos, quando muito admite que aquela necessita
de eventual descanso e estes de controle, ainda que sem plena compreensão disso.
Essa visão de educação se pode mudar?
É evidente que pode e, mais ainda, que deve ser mudada. O que hoje se sabe sobre o cére-
bro, o corpo e o movimento impõe que se rasgue literalmente a maior parte dos programas de
Educação Física vigentes, centrados na construção dos músculos e se produza outro que pense o
desenvolvimento integral da pessoa humana, incentivando tanto o crescimento intrapessoal como
a valorização do aluno inspirada na busca por um desenvolvimento integrado entre seus aspectos
cognitivo e espiritual, físico e psicológico, emocional e intelectual.
Esse novo currículo pode ser esperado inutilmente de um órgão diretivo central, emanando-
-se de Brasília para as escolas do país, ou criado pragmaticamente na própria escola por profes-
sores idealistas que se cercam de boas referências bibliográficas e não se importam em gastar
algumas horas em reflexões e reuniões. Basta para isso começar com o objetivo de considerar todo
aluno como fonte de aprendizagem integral e transformação e com o conceito de equilíbrio que
deve marcar a integração entre o corpo e a mente, cognição e emoção, entre o valor da razão e o
não menor valor da intuição.
A Educação Física poderia simbolizar nesse currículo o elo do aluno com a comunidade, com
o mundo dentro do qual necessita aprender a viver, com outras culturas que deve reverenciar e
admirar e com seu próprio corpo, que importa cada vez mais aprender a construir.
38
O corpo e o movimento na Educação Infantil
Vamos trabalhar em grupos de cinco ou seis pessoas. Para realizar a tarefa, cada grupo usará
uma folha de cartolina ou um pedaço de papel kraft (pardo), um jogo de canetas hidrocor ou
giz de cera (aconselhamos este último).
Cada grupo vai fazer uma lista com dez características da criança contemporânea, conside-
rando a realidade de seus alunos. Procurem apontar os aspectos positivos em primeiro lugar.
Depois, cada grupo vai desenhar essa criança ao seu modo, ou seja, não precisa ser um desenho
aprimorado ou uma representação fiel do corpo físico: o importante é demonstrar as caracterís-
ticas levantadas.
Terminados os desenhos, os grupos apresentarão suas obras e explicarão para os demais colegas
as características apontadas em conjunto.
39
O corpo e o movimento na Educação Infantil
40
Psicomotricidade
Max Gunther Haetinger*
Entendendo a Psicomotricidade
N
esta disciplina, visamos um entendimento mais amplo do corpo e do mo-
vimento. A aprendizagem humana é influenciada por aspectos motores,
cognitivos, expressivos, afetivos e ambientais. E por isso não poderíamos
deixar de falar da Psicomotricidade.
A Psicomotricidade estuda as habilidades motoras relacionadas aos fatores psi-
cológicos e ambientais. Esse objeto de estudo passou a ser pesquisado na década de
1960, mas popularizou-se no universo científico e acadêmico ao longo dos anos 1970
e 1980. Antes disso, o movimento humano era analisado pelos pesquisadores apenas
nos âmbitos físico e motor.
O desenvolvimento corporal e motor faz parte do desenvolvimento global da
criança. Justamente por isso, a Psicomotricidade passou a integrar o movimento aos
aspectos psíquicos e sociais dos indivíduos, dando um caráter holístico a sua abor-
dagem e proporcionando novas descobertas para o tratamento das dificuldades de
aprendizagem. Assim, a Psicomotricidade e as práticas psicomotoras passaram a ser
valorizadas mundialmente.
A Psicomotricidade não prioriza ações motoras descontextualizadas, pois
considera as habilidades e expressões corporais associadas às vivências do sujeito
em determinado ambiente. Relaciona os gestos, as atitudes, as atividades, os
comportamentos e as posturas da criança.
A educação psicomotora tem grande relevância para a aprendizagem e a socia-
lização. E também facilita a aquisição da leitura e da escrita e o desenvolvimento do
pensamento lógico-matemático. Nos primeiros anos de vida, é ainda mais importante,
pois nessa fase da vida podemos perceber desvios nas capacidades motoras da criança
e evitar futuras dificuldades de aprendizagem.
A prática psicomotora respeita, então, as potencialidades de cada indivíduo e seu direito de
ter um lugar na sociedade. De acordo com esse marco, a criança pode se expressar por meio
de uma grande variedade de canais de comunicação, expressão e criação, entre os quais a
motricidade é o principal. (SÁNCHEZ; MARTINEZ; PEÑALVER, 2003, p. 14)
Imagem corporal
A imagem do corpo é um aspecto de destaque na relação do ser com o seu
desenvolvimento completo. É a partir da imagem corporal que reconhecemos nossa
movimentação no tempo e no espaço, e aprendemos a lidar com objetos e pessoas * Com a colaboração
de Daniela Haetinger e
que nos cercam, com o meio em que vivemos. Luis Lucini.
41
Psicomotricidade
42
Psicomotricidade
43
Psicomotricidade
Visão – Permanece com a vista imóvel durante longos períodos. É capaz de acompanhar um
estímulo colocado em seu campo visual com um movimento combinado de olhos e cabeça. A
apreensão ocular precede a preensão manual.
Atividade manual – A preensão manual pode ser observada pelo toque da mão com um
objeto; a atividade do b raço aumenta e a mão se fecha e se abre.
Até 16 semanas
A reação tônico-cervical começa a perder sua preponderância. A cabeça ocupa com maior
frequência a linha média. A musculatura do tronco vai se organizando; senta-se com apoio e
levanta a cabeça.
Visão – O desenvolvimento crescente de redes neuronais permite uma maior atuação da mus-
culatura ocular. É capaz de olhar um objeto colocado em seu redor; olha preferencialmente para as
suas mãos como, t ambém, para as do adulto.
Atividade manual – É capaz de tocar o objeto. Ante o estímulo visual, sua mão livre se apro-
xima do objeto como se estivesse também envolvida na manipulação.
Até 28 semanas
Aperfeiçoamento da posição sentada. Somente necessita de um pequeno apoio dos braços da
cadeira ou do adulto.
Visão – A acomodação ocular é mais avançada que a manual. Segura uma bolinha que rola,
mas quando a quer apanhar coloca a mão levemente sobre ela e não consegue pegá-la. Olhos e
mãos funcionam em estreita relação, reforçando-se e guiando-se mutuamente.
Atividade manual – A criança inclina-se para o objeto, segurando-o com um movimento de
preensão de toda a mão, com o lado radial, que prepara a oposição do polegar.
Até 40 semanas
As pernas já sustentam o peso do corpo, mas ainda necessita de apoio. Domina o equilíbrio
na posição sentada.
Visão – Manifesta grande interesse tátil e visual pelos detalhes.
Atividade manual – É capaz de pegar uma bolinha em movimento de pinça, de tipo inferior.
Com um ano
Engatinha com grande agilidade, podendo fazê-lo de joelhos ou na planta dos pés. Pode
erguer-se e parar sem ajuda, mas ainda é falho o seu equilíbrio estático.
Com 18 meses
Caminha com maior facilidade e desenvoltura. Sobe em uma cadeira, sobe escada com auxí-
lio, para descer o faz só, engatinhando ou sentando-se a cada degrau. Pode caminhar arrastando
um brinquedo de rodas (coordenação entre as condutas posturais e manuais).
Percepção – Alguns comportamentos já demonstram uma discriminação de espaço e forma.
Sonda a terceira dimensão com o dedo indicador ou um objeto, isto é, introduzindo objetos em
espaços. O sentido da verticalidade é presente, já empilha dois ou três cubos.
44
Psicomotricidade
A dimensão multidisciplinar
da Psicomotricidade
A Psicomotricidade está diretamente ligada ao desenvolvimento integral do ser, pois estuda o
movimento humano associado ao ambiente, à cognição, à emoção e às significações. Enfim, relaciona
cada movimento com o seu contexto. Por isso é uma área de estudo multidisciplinar.
45
Psicomotricidade
46
Psicomotricidade
47
Psicomotricidade
Todos os aspectos aqui abordados servem para refletirmos sobre a função da escola na promo-
ção de um desenvolvimento integral dos educandos, abrangendo os fatores físicos, motores, cogniti-
vos e afetivos. Formar pessoas com autoestima positiva e saudáveis em todos os sentidos é também
um dever dos educadores infantis. Sendo assim, sempre procure desenvolver práticas pedagógicas
que trabalhem a Psicomotricidade e, além disso, incluam noções de saúde preventiva, alimentação
saudável, hábitos de higiene e práticas físicas.
Apresentamos agora um escrito do educador e psicólogo Eduardo Simonini Lopes, que demonstra
grande interesse e preocupação com a construção de um ambiente escolar que valorize a diversidade.
Este trecho foi extraído da apostila do curso A vez do mestre a distância, de Simonini, pela
Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro, 1999.
Ah! A cada passo uma incerteza. A cada momento um medo, uma confusão.
Mas que cada um construa sua própria embarcação.
O mar é sempre igual aos olhos dos que comungam a mesma percepção.
Mas ele é muito mais amplo, profundo e surpreendente do que se pode imaginar...
A percepção do oceano é mutante para quem se atreve a navegar.
Mas use modelos apenas como referência para o seu barco...
Mas construa sua própria nau sem medo de ela não ser igual...
Igual à estética das outras embarcações.
A diferença tem todo o direito de navegar.
Cada um de nós tem amplo direito de possuir seu próprio meio de expressar.
O barco da diferença corta o oceano...
Podendo reinventar o próprio mar.
48
Psicomotricidade
Desta vez, teremos um trabalho em grupo bem lúdico e agradável. Para realizar a tarefa, reú-
nam-se em grupos de cinco ou seis integrantes e discutam as questões a seguir.
49
Psicomotricidade
Depois de conversar sobre essas questões, façam um cartaz (com papel kraft ou cartolina e giz
de cera) sintetizando as ideias levantadas. Explorem sua criatividade – incluam desenhos, figuras e
outros elementos que lhes pareçam interessantes!
A seguir, todos os grupos apresentarão seus cartazes e suas ideias aos demais colegas.
50
Fatores das atividades
motoras infantis
Max Gunther Haetinger*
F
oi na Grécia antiga que o homem começou a cultuar o corpo e a mente. A civi-
lização grega preocupava-se em ocupar o tempo e o espaço de forma graciosa e
inteligente. Por isso, buscou desenvolver a forma física, o equilíbrio, a simetria
e os diferentes aspectos da inteligência. As artes, as ciências e os esportes foram mani-
festações que confirmaram esse desejo de harmonia entre o corpo e a mente.
Alguns séculos mais tarde, os romanos retomaram essas preocupações e mani-
festaram a cultura da “mente sadia em um corpo sadio”: não basta sermos apenas
inteligentes ou dotados de boa forma e coordenação física – é preciso conjugar as
habilidades do corpo e da mente.
Isso nos faz pensar sobre as relações entre as inteligências humanas e o desen-
volvimento motor. Sabemos que o ser humano possui qualidades muito específicas,
chamadas de habilidades, competências ou inteligências. Cada indivíduo desenvolve
essas habilidades de maneira diferente, aprimorando mais umas que outras ao longo
de sua vida.
No universo escolar, também percebemos que cada aluno tem certas habilidades
mais desenvolvidas que outras. Vejamos os exemplos:
– Viu como o Roberto tem facilidade para manipular objetos?
– O filho do Carlos tem um ouvido! Já sabe até tocar violão sem nunca ter
estudado música.
– A Cláudia tem grande desenvoltura com as palavras.
– O João parece uma calculadora: faz todas as contas de cabeça.
Nessas considerações, percebemos a manifestação de diferentes tipos de in-
teligência. Essas distintas capacidades de aprendizagem são caracterizadas por
Howard Gardner (2002) como inteligências múltiplas. Esse autor define sete tipos
de inteligência usados em ações específicas. Vejamos quais são elas no diagrama * Com a colaboração de
Daniela Haetinger e Luis
apresentado a seguir. Lucini.
51
Fatores das atividades motoras infantis
Quinestésico-corporal Linguística
Esportes Literatura
Dança Poesia
Mecânica Comunicação
Trabalhos Rádio
manuais Teatro
Passatempos Escrita Lógico-
Intrapessoal
Imaginação -matemática
Cálculo
Independência
Ciência
Privacidade
Quantificação
Autoconhecimento
Música
52
Fatores das atividades motoras infantis
Destacamos um artigo da professora Tânia Ramos Fortuna ressaltando o jogo e o brincar como
atividades que contribuem para o desenvolvimento motor e, consequentemente, para as inteligências
humanas.
O jogo
(FORTUNA, 2003, p. 397-406)
Diz Kishimoto que brincadeira é a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras
do jogo, ao mergulhar na ação lúdica, é o lúdico em ação. Já o brinquedo supõe uma relação ínti-
ma com a criança e uma indeterminação quanto ao uso, portanto, sem regras fixas; sendo suporte
da brincadeira, pode ser entendido segundo a dimensão material, cultural ou técnica. O jogo, por
sua vez, inclui uma intenção lúdica do jogador e caracteriza-se pela não literalidade (por exemplo,
urso não é, literalmente, o filho, mas é como se fosse), efeito positivo (alegria, prazer), flexibilida-
53
Fatores das atividades motoras infantis
de (ensaio de novas ideias e combinações mais do que em atividades, não recreativas), prioridade
do processo (mais importante do que os efeitos dos resultados do jogo é o fato de estar jogando),
livre escolha (adesão livre espontaneamente à proposta) e controle interno (são os próprios joga-
dores que determinam o desenvolvimento dos acontecimentos).
[...] Como se joga? Vários autores tentaram estabelecer uma “tipologia do jogo”, da qual ex-
traímos aqui algumas categorias, considerando os diferentes aspectos por eles salientados.
Para Piaget, os jogos dividem-se em jogos de exercício, simbólicos e de regras, além dos jogos
de construção, presentes ao longo do desenvolvimento. A finalidade dos jogos de exercício é o
próprio prazer do funcionamento. Dividem-se em sensório-motores e de exercício do pensamento.
Embora típicos dos primeiros 18 meses, reaparecem durante toda a infância e acham-se presen-
tes em muitas atividades lúdicas praticadas por adultos. Os jogos simbólicos têm como função a
compensação, realização de desejos e liquidação de conflitos, e expressam-se no faz de conta e na
ficção. São característicos da fase que vai do aparecimento da linguagem até aproximadamente os
seis/sete anos. Os jogos de regras são aqueles cuja regularidade é imposta pelo grupo, resultado
da organização coletiva das atividades lúdicas. As regras podem ser transmitidas ou espontâneas
e passam de uma condição inicial motora e individual, depois egocêntrica, de cooperação até a
codificação.
Caillois, por sua vez, classifica os jogos em jogos de azar (envolvem a ideia de acaso), com-
petição (fazem intervir uma situação de competição ou de desafio contra o adversário ou para si
mesmo, em uma situação que supõe igualdade de oportunidades no começo), vertigem (preten-
dem destruir, ainda que por um instante, a estabilidade da percepção e impor à consciência uma
espécie de pânico voluptuoso) e simulacro (ou jogos dramáticos ou de ficção, em que o jogador, os
objetos ou a situação de jogo aparentam ser outra coisa – diferente do que são – na realidade).
Maudry e Nekula estipulam os jogos segundo o tipo de interação que oportunizam,
identificando jogos solitários, paralelos, de cooperação e de grupo. Nos jogos solitários a crian-
ça brinca sozinha, sendo típicos do primeiro ano. Os contatos entre as crianças desta idade são
permeados por curiosidade e explosões agressivas. Os jogos paralelos surgem em geral entre o
segundo e terceiro ano, caracterizando-se pelo fato de as crianças brincarem “lado a lado”. Os
jogos de cooperação manifestam-se nas atividades lúdicas envolvendo outras crianças de forma
organizada, com definição de papéis e, por isso, com reconhecimento e disputa da liderança. São
cooperativos porque estes papéis, muitas vezes, significam uma “participação especial” no brin-
quedo paralelo, sem que haja estabilidade nesta participação. Os jogos de grupo, em que quatro
ou cinco crianças já conseguem brincar juntas, supõe objetivos comuns, são mais duradouros
– podem se estender por vários dias, repetirem-se em várias ocasiões – e não implicam somente
empréstimo de brinquedos, mas também troca de fantasias, isto é, identificação dos elementos do
grupo entre si.
Já Margoulis salienta o aspecto material do brinquedo, dividindo-o em brinquedo comple-
tamente pronto, simples ou mecânico, (por exemplo, carrinho, boneca), feito aos poucos (como
loteria, quebra-cabeça) e material de jogo (argila, ligue-ligue).
Erikson vislumbra o espaço e a interação através do jogo, através de conceitos como autos-
fera (jogo consigo mesmo, no domínio do próprio corpo), microsfera (jogos solitários envolvendo
objetos) e macrosfera (jogos que implicam relações interpessoais).
54
Fatores das atividades motoras infantis
Contudo, para quem brinca/joga, brinca-se por brincar, brinca-se por prazer, brinca-se por-
que de que outro modo far-se-ia amigos (e inimigos)? E para o educador, quais os efeitos desta
tomada de consciência sobre o brincar em seu trabalho?
Em princípio todos os adultos, de algum modo e em algum momento de suas vidas, brincaram.
Porém muitos parecem esquecidos disso, mantendo divorciadas suas lembranças de brincadeiras
infantis da realidade escolar que protagonizam diariamente. [...] mas aqui basta que saibamos que
para ser educador a reconciliação com essas e outras lembranças relativas à infância é necessária,
como condição e expressão de nossa capacidade de compreender os alunos e assim intervir peda-
gogicamente [...]
[...]
Na verdade, os adultos parecem sentir-se ameaçados pelo jogo devido à sua aleatoriedade
e aos novos possíveis que constantemente se abrem. Seu papel no brincar foge à habitual centrali-
zação onipotente e o professor não sabe o que fazer enquanto seus alunos brincam. [...]
Por outro lado, os brinquedos e jogos podem experimentar uma existência perversa na sala
de aula, isto é, ao mesmo tempo muito perto e muito longe. É o que se vê em salas de aula cuja
visualidade lúdica é excessiva, chegando ao ponto de ser invasiva, distanciando as crianças
do brincar. Com tantas ofertas de brinquedos e situações lúdicas as crianças não conseguem
assimilar as propostas aí contidas, e acabam não interagindo com este material. Quem não recorda
a caixa de papelão ou a embalagem do brinquedo que fez mais sucesso que o próprio objeto que
continha? [...]
Em linhas gerais, é necessário que o educador insira o brincar em um projeto educativo, o
que supõe intencionalidade, ou seja, ter objetivos e consciência da importância de sua ação em
relação ao desenvolvimento e à aprendizagem infantil. Contudo, é preciso renunciar ao controle e
à centralização e onisciência do que ocorre com as crianças em sala de aula. [...]
A simples oferta de certos brinquedos já é o começo do projeto educativo. O Guia dos Brin-
quedos e do Brincar (Abrinq, s.d.) sugere brinquedos em função dos aspectos do desenvolvimento
e da aprendizagem estimulados.
55
Fatores das atividades motoras infantis
Visão construtivista
do desenvolvimento motor
Após destacarmos os conceitos apresentados por Gardner, Sternberg e Tânia
R. Fortuna, abordaremos a contribuição da escola construtivista para o desenvolvi-
mento motor e da inteligência.
Jean Piaget dedicou a maior parte de sua obra à pesquisa do desenvolvimento
da inteligência na criança. A partir de suas experiências, classificou esse desenvol-
vimento em quatro estágios: sensório-motor, pré-operatório, operatório-concreto e
operatório formal. Mesmo que o autor tenha enfatizado os aspectos cognitivos da
inteligência, ele também considerou os fatores ambientais, sociais e afetivos que en-
volvem a aprendizagem.
56
Fatores das atividades motoras infantis
Apresentamos hoje neste espaço uma homenagem que o escritor, médico e professor gaúcho
Moacyr Scliar fez a todos os mestres e educadores. Em seu texto, o autor fala-nos sobre a sabedoria e
a importância dos mestres na vida de seus alunos e discípulos.
57
Fatores das atividades motoras infantis
58
Fatores das atividades motoras infantis
1. A tarefa em grupo desta aula vai ser um pouco diferente, pois vamos trabalhar com a mímica,
uma atividade que representa o uso simultâneo de diversas inteligências. Para realizá-la, reú-
nam-se em grupos de cinco ou seis integrantes. Procurem trabalhar em novos grupos, evitando
a formação de “panelinhas”.
Cada grupo terá de escolher três títulos de filmes famosos. Depois, os integrantes criarão uma
mímica para representar cada um dos títulos escolhidos. Quando todos estiverem prontos, cada
grupo apresentará suas mímicas aos demais colegas, contando com 30 segundos por título. A
turma deverá adivinhar o título do filme em questão. Com o auxílio de um relógio, o professor
vai coordenar a atividade.
59
Fatores das atividades motoras infantis
60
A dança e a música
na Educação Infantil
Max Gunther Haetinger*
A dança na escola
Eu só acredito num Deus que dança.
Nietzsche
D
urante muito tempo, a dança escolar esteve relacionada a dois estereótipos:
a apresentação de coreografias (executadas principalmente por meninas) e a
dança folclórica. No entanto, fora do ambiente escolar, poucos estilos de dança
valorizam mais as mulheres em detrimento dos homens – veja-se o exemplo de famo-
sos bailarinos conhecidos mundialmente.
Diversos tipos de dança estão presentes no cotidiano de diferentes sociedades.
A dança é uma manifestação cultural e social. Especialmente entre nós, brasileiros,
com a marcante característica do “saber gingar”, ela representa um importante modo
de expressão.
A dança na escola e na vida deve ser uma atividade para ambos os sexos, pois
visa à promoção de vivências corporais e experimentações com o ritmo. O ato de
dançar também é muito positivo no ambiente escolar, porque requer o uso de diferentes
habilidades motoras, contribuindo para o desenvolvimento integral das crianças.
A música, naturalmente associada à dança, é um elemento constantemente in-
serido no contexto da escola infantil. Vocês devem conhecer algumas canções como
“Bom dia” e tantas outras com as quais trabalhamos diariamente em sala de aula.
É por meio desse tipo de prática que inserimos a dança no universo infantil. Então,
parece-nos evidente a exploração desse estímulo quando buscamos facilitar o desen-
volvimento das capacidades motoras e da criatividade de nossas crianças.
A dança é uma das formas de expressão fundamentais para o desenvolvimento
psicomotor. Isso porque, quando alguém dança, está necessariamente controlando
e coordenando seus movimentos corporais associados ao pensamento. O resultado
dessa atividade é o exercício físico e mental relacionado ao prazer e à alegria.
Na escola infantil, podemos trabalhar com quatro tipos de dança:
dança criativa;
dança figurativa;
iniciação na dança folclórica; * Com a colaboração de
Daniela Haetinger e Luis
rodas cantadas. Lucini.
61
A dança e a música na Educação Infantil
Dança criativa
A dança criativa está presente em muitas circunstâncias da realidade escolar.
As próprias crianças, em suas brincadeiras no pátio da escola, inventam “coreo
grafias” e dançam as músicas da moda ao seu jeito. Naquele momento, elas estão
dançando livremente e explorando sua criatividade. A observação do universo infan-
til é sempre a m
aior fonte de dados para um educador consciente de sua função.
No mundo ocidental, a “dança criativa” ao lado da “dança educativa” ou da “dança-educação”,
são quase que consensualmente aceitas como modalidades similares de educação para crian-
ças na área de dança no contexto escolar. (MARQUES, 2003, p. 130)
Dança figurativa
As danças figurativas ou com imagens estão presentes no universo infan-
til a partir dos dois anos de idade. São aquelas que integram ritmos e imagens às
habilidades motoras. A criança pratica este tipo de dança ao usar seu corpo para
expressar imagens e ações indicadas na letra de uma música.
Um exemplo de dança figurativa é quando a criança escova seus dentes com
o seguinte estímulo musical: – O ursinho pequenino pega a escova e escova assim,
assim, assim...
62
A dança e a música na Educação Infantil
Rodas cantadas
As rodas cantadas são uma variação da dança figurativa. Caracterizam-se pela
expressão de movimentos coletivos associados às imagens musicais, sendo o grande
grupo mais importante que a manifestação individual. Além de promoverem as rela-
ções entre movimento, ritmo e imagens, as rodas cantadas favorecem a coordenação,
a observação, a lateralidade, o equilíbrio, a dicção, a fluência verbal e a vocalização.
63
A dança e a música na Educação Infantil
Nesta unidade, destacamos as palavras da professora Dionísia Nanni, que aborda as relações
existentes entre movimento, dança, história da humanidade e ritos.
O movimento na dança
(NANNI, 1998, p. 14-17)
A evolução dos comportamentos motores, desde os primórdios da existência do homem,
teve seu aporte a partir dos movimentos naturais, hoje padrões básicos essenciais à existência do
homem. [...]
Desenhos, gravuras, esculturas, pinturas em diferentes épocas materializaram e delinearam
a intencionalidade de práticas corporais (gestos e movimentos) nos diferentes ciclos da existência
do homem com gestos e ideias específicas de cada cultura.
[...]
O movimento, em sua gênese, caracterizou-se em caráter puramente emocional – permitir ao
homem ter experiências de êxtase e comunhão com os deuses em suas danças, em que a essência
das mesmas possibilitou a comunicação do homem consigo ou com entidades superiores.
A partir de dado momento o movimento evolui de descarga emocional involuntária para os
estados frenéticos e codificados durante os ritos cerimoniais; passa a dança para o domínio ritu-
alístico.
Portanto, o homem primitivo na luta pela sobrevivência dançou para aplacar a fúria dos deu-
ses ou para homenageá-los; expressava e se comunicava por gestos e movimentos estruturados em
sua e xperiência consciente e utilitária – nasce a dança ritual.
65
A dança e a música na Educação Infantil
[...]
Harrow analisa a importância do movimento ao reconhecer que a utilização eficaz e eficiente
da motricidade humana depende de tomada de consciência do corpo instrumental, de compre-
ensão do valor significado e do efeito de uma diferenciação gestual através do jogo dinâmico do
movimento, do equilíbrio estabelecido entre o corpo e as relações espaciais. Esses parâmetros
estabelecem para o homem a apreensão e utilização de suas necessidades básicas necessárias ao
ser “aqui e agora”.
Isso porque o homem no desempenho de seus movimentos intencionais coordena durante o
desempenho de uma habilidade motora a inter-relação de movimentos dos domínios psicomoto-
res, cognitivos e socioafetivos. Esse consenso é explicado pela autora devido a fatores internos e
externos do movimento. A explicação dada pela mesma é a seguinte: internamente o movimento é
contínuo, e externamente sofre uma constante modificação provocada pela aprendizagem anterior,
pelo meio ambiente, e pela situação imediata em que o indivíduo se encontra.
Esta perspectiva ressalta a importância da dança/educação nas escolas de 1.º e 2.º graus (prin-
cipalmente) como responsável pelo desenvolvimento desses domínios no processo ensino-apren-
dizagem e confirma a importância de uma efetiva e eficaz estratégia metodológica para a ação
inter e multidisciplinar.
Dois fatores exerceram e exercem total e efetiva importância à dimensão histórica do homem
em seu processo de desenvolvimento: o tempo e o espaço.
Espaço e tempo
Desde os primórdios da existência do homem que os fatores tempo e espaço expressavam as
diferentes dimensões socioculturais e os diferentes aspectos políticos da evolução dos estágios de
civilização em que o mesmo se encontrava.
[...]
O domínio do movimento pesquisado por Laban e auxiliares, a princípio, se voltou para
as manifestações simples dos esforços em animais selecionados e escolhidos dentre os milhões
de combinações de esforço ao longo de muitas gerações. Laban selecionou uma série restri-
ta de combinações de esforço cujos componentes [...] das qualidades e diferenças de esforço
resultam de uma atitude interior (consciente ou inconsciente) em relação aos seguintes fatores
do movimento: peso, espaço, tempo e fluência.
Esses fatores básicos do movimento, entretanto, no homem primitivo ou civilizado, têm a
c apacidade de compreender a natureza das qualidades e de reconhecer nos ritmos e nas estruturas
de suas sequências a possibilidade e vantagem de treinamento consciente. Isso permite ao homem
alterar e enriquecer condições positivas ou desfavoráveis.
Só ao homem é dado o poder de acrescentar quantitativa e qualitativamente característi-
cas intrínsecas do esforço aos seus gestos e movimentos pela energia nervosa liberada pelas
diferentes q ualidades do esforço.
Segundo Laban, as qualidades dos movimentos introduzem a ideia de pensar por
ovimentos. Isso faculta ao homem modificar sua conduta de esforço tornando-os mais hu-
m
manos e refinar seus hábitos de movimentos ao desenvolvimento de modalidades diferentes de
configurações de esforço selecionadas e aprimoradas durante os períodos da história até final-
66
A dança e a música na Educação Infantil
Destacamos um texto em que o professor Rubem Alves aborda uma nova concepção de escola
em função de uma visita feita a Escola da Ponte (inovadora e renomada instituição de ensino portu-
guesa).
Mesmo não tratando especificamente da dança, as brilhantes ideias desse educador proporcio-
nam uma importante reflexão sobre as práticas diariamente difundidas nos ambientes educacionais.
67
A dança e a música na Educação Infantil
Muitas vezes, acreditamos que nossa escola não é capaz de mudar para melhor. E, em função
desse pensamento, acomodamos-nos e não buscamos saídas mais eficientes para resolver os proble-
mas enfrentados no cotidiano escolar, inclusive os que dizem respeito às ações pedagógicas.
“A Escola da Ponte (3)” vem justamente ilustrar como é possível adotarmos novas posturas e
métodos para qualificar o processo de ensino-aprendizagem.
68
A dança e a música na Educação Infantil
Mas aí, forçados ou pela fome ou por um grupo armado que lhes toma a caverna, eles
são obrigados a se mudar para uma planície onde não há cavernas. O corpo volta a sofrer. O
sofrimento acorda a inteligência e faz com que ela trabalhe de novo. A solução original não
serve mais: não há cavernas.
A inteligência pensa e conclui: “É preciso construir uma coisa que faça as vezes de caver-
na. Essa coisa tem de ter um teto, para proteger do sol e da chuva. Tem de ter paredes, para pro-
teger do vento e do frio. Com que se pode fazer um teto?” A inteligência se põe então a procurar
um material que sirva para fazer o teto. Folhas de palmeira? Capim? Pedaços de pau? Mas o
teto não flutua no ar. Tem de haver algo que o sustente. Paus fincados? Sim. Mas para fincar um
pau é preciso descobrir uma ferramenta para cortar o pau. Depois, uma ferramenta para fazer o
buraco na terra. E assim vai a inteligência, inventando ferramentas e técnicas, à medida que o
corpo se defronta com necessidades práticas.
[...]
Um exercício fascinante a se fazer com as crianças seria provocá-las para que elas
imaginassem o nascimento dos vários objetos que existem numa casa. Todos os objetos, os
mais humildes, têm uma h istória para contar. Que necessidade fez com que se inventassem pa-
nelas, facas, vassouras, o fósforo, a lâmpada, as garrafas, o fio dental? Quais poderiam ter sido
os passos da inteligência, no processo de inventá-los? Quem é capaz de, na fantasia, reconstruir
a história da invenção desses objetos fica mais inteligente.
Depois de inventados, eles não precisam ser inventados de novo. Quem inventou passa a pos-
suir a receita para sua fabricação. E é assim que as gerações mais velhas passam para seus filhos as
receitas de técnicas que tornam possível a sobrevivência. Esse é o seu mais valioso testamento: um
saber que torna possível viver.
As gerações mais novas, assim, são poupadas do trabalho de inventar tudo de novo.
E os jovens aprendem com alegria as lições dos mais velhos: porque suas lições os fazem
participantes do processo de vida que une a todos. A aprendizagem da linguagem se dá de
forma tão eficaz porque a linguagem torna a criança um membro do grupo: ela participa da
conversa, fala e os outros ouvem, ri das coisas engraçadas que se dizem. O mesmo pode ser dito
da aprendizagem de técnicas: o indiozinho que aprende a fabricar e a usar o arco e a flecha, a
construir canoas e a pescar, a andar sem se perder na floresta, a construir ocas está se tornando
um membro do seu grupo, reconhecido por suas habilidades e por sua contribuição à sobrevi-
vência da tribo. O que ele aprende e sabe faz sentido. Ele sabe o uso dos seus saberes.
1. Esperamos que os trabalhos em grupo propostos nesta disciplina representem uma oportunidade
para todos realmente compartilharem seus saberes e experiências. Às vezes, o trabalho colabo-
rativo pode parecer aborrecido ou mesmo difícil de ser equacionado em certos grupos. Mas isso
não pode ser pretexto para desconsiderarmos o grande valor desse tipo de atividade. Lembremos
que é preciso vivenciar os conteúdos para um aprendizado significativo e duradouro.
69
A dança e a música na Educação Infantil
Portanto, reúnam-se em grupos de cinco ou seis integrantes e mãos à obra! Nossa tarefa será
sobre a dança na escola. Cada grupo deverá produzir uma coreografia figurativa a partir de uma
música infantil. Vocês escreverão a letra da música em um cartaz (para que todos os colegas
possam ver) e ensaiarão os movimentos de suas coreografias.
Quando todos estiverem prontos, cada grupo vai mostrar o seu cartaz aos colegas, descrever
os passos da coreografia criada e colocar toda a turma para dançá-la. Assim, todos conhecerão
diferentes opções de coreografia e música para trabalharem com seus alunos.
70
Recreação e lazer
Max Gunther Haetinger*
Alexandre Koyré
A
gora vamos conversar sobre duas palavras fundamentais para a educação:
a recreação e o lazer. A primeira está diretamente ligada ao processo de
ensino-aprendizagem infantil. Já a segunda refere-se a uma prática voltada à
qualidade de vida ou, como alguns chamam, qualidade na vida.
Durante muito tempo, pensava-se que a recreação e o lazer eram praticamente a
mesma coisa. Talvez porque, popularmente, esses termos estejam relacionados ao pe-
ríodo em que não se trabalha, quando as pessoas podem fazer “o que bem entendem”.
A palavra lazer tem origem latina e significa “ser permitido”, referindo-se à
oposição ao trabalho e se relacionando com ócio e passatempo. Recreação igual-
mente vem do latim, significando “restabelecimento, restauração, recuperação”. No
entanto, a literatura educacional apresenta uma certa confusão entre essas palavras,
veiculando-as como sinônimos. Então, o primeiro passo para nosso estudo é resgatar-
mos algumas referências sobre o lazer e a recreação, a fim de definir tais conceitos.
A professora Lenea Gaelzer (1979), que foi uma das grandes pioneiras e in-
centivadoras do desenvolvimento da recreação e da promoção do lazer na escola,
fornece algumas definições importantes.
Recreação: uma experiência na qual o indivíduo participa por escolha, pelo
prazer e pela satisfação pessoal que dela obtém diretamente.
Atividade recreativa: aquela que não é conscientemente executada com o
propósito de obter recompensa além dela mesma, proporcionando ao ho-
mem um escape para as forças físicas, criadoras, e na qual ele participa por
desejo íntimo e não por compulsão.
Lazer: é a harmonia individual entre a atitude, o desenvolvimento integral e
a disponibilidade de si mesmo. É um estado mental ativo associado a uma
situação de liberdade, de habilidade e de prazer.
Analisando esses conceitos, podemos destacar alguns pontos que nos ajudam a
entender a recreação e o lazer como práticas da escola infantil.
A recreação é uma atividade de lazer, ou seja, está dentro do lazer.
As atividades recreativas são ações práticas da recreação.
Tanto a recreação quanto o lazer relacionam-se ao ato de ter prazer. * Com a colaboração
de Daniela Haetinger e
Os dois estão ligados à liberdade de expressão e à escolha do ser humano. Luis Lucini.
71
Recreação e lazer
Sem dúvida, os conceitos são semelhantes. Mas observe que o lazer contém a
recreação e esta engloba as atividades recreativas.
Lazer
Recreação
Atividades Recreativas
Esse pensamento é a mais pura verdade. Não fomos educados para entender
o nosso tempo livre. Geralmente, os adultos andam do trabalho para casa. E, ao
chegarem em casa, tendem a continuar trabalhando, mesmo quando não estão exe-
cutando tarefas profissionais. Essa falta de momentos de pausa, de escape, de livre
movimentação, eleva o nível de estresse do organismo (um mal tipicamente moder-
no) e dificulta o desenvolvimento pessoal, a vida afetiva e o convívio social.
Por esses motivos, faz-se necessária uma ocupação adequada e prazerosa do
tempo livre, seja por parte das crianças ou dos adultos. O mundo contemporâneo,
além de demonstrar significativos avanços tecnológicos, propõe a evolução pessoal
do homem, a qual requer a consciência e a educação para o uso do tempo livre dentro
e fora da escola.
73
Recreação e lazer
Escolhemos um trecho da entrevista concedida a Maria Serena Palieri pelo professor e soció
logo Domenico De Masi. Durante essa conversa, Masi expõe suas ideias sobre o ócio, o trabalho e o
tempo livre.
O trecho apresentado a seguir foi extraído do livro O Ócio Criativo (Sextante, 2000, p. 15-17),
de De Masi.
Profeta do ócio
(DE MASI, 2000, p. 15-17)
Professor De Masi, há quem fale do senhor como profeta do ócio. E há quem chegue a dizer
que preconiza o advento de um mundo parecido com o país do chocolate, do famoso filme com Gene
Wilder. Rótulos irritantes, imagino. Que relação têm com o seu verdadeiro modo de pensar?
Eu me limito a sustentar, com base em dados estatísticos, que nós, que partimos de uma
sociedade em que uma grande parte da vida das pessoas adultas era dedicada ao trabalho, esta-
mos caminhando em direção a uma sociedade na qual grande parte do tempo será, e em parte já
é, dedicada a outra coisa. Essa é uma observação empírica, como a que foi feita pelo sociólogo
americano Daniel Bell quando, em 1956, nos Estados Unidos, ao constatar que o número de cola-
rinhos-brancos ultrapassava o de operários, advertiu: “Que poder operário que nada! A sociedade
caminha em direção à predominância do setor de serviços.” Aquela ultrapassagem foi registrada
por Bell. Ele não a adivinhou ou profetizou. Da mesma maneira, eu me limito a registrar que
estamos caminhando em direção a uma sociedade fundada não mais no trabalho, mas no tempo
vago.
Além disso, sempre com base nas estatísticas, constato que, tanto no tempo em que se trabalha
quanto no tempo vago, nós, seres humanos, fazemos hoje sempre menos coisas com as mãos e
sempre mais coisas com o cérebro, ao contrário do que acontecia até agora, por milhões de anos.
Mas aqui se dá mais uma passagem: entre as atividades que realizamos com o cérebro, as
mais apreciadas e mais valorizadas no mercado de trabalho são as atividades criativas. Porque
mesmo as atividades intelectuais, como as manuais, quando são repetitivas, podem ser delegadas
às máquinas.
A principal característica da atividade criativa é que ela praticamente não se distingue do
jogo e do aprendizado, ficando cada vez mais difícil separar estas três dimensões que antes, em
nossa vida, tinham sido separadas de uma maneira clara e artificial. Quando trabalho, estudo e
jogo coincidem, estamos diante daquela síntese exaltante que eu chamo de ócio criativo.
Assim sendo, acredito que o foco desta nossa conversa deva ser esta tríplice passagem da
espécie humana: da atividade física para a intelectual, da atividade intelectual de tipo repetitivo à
atividade intelectual criativa, do trabalho-labuta nitidamente separado do tempo livre e do estudo
ao ócio criativo, no qual estudo, trabalho e jogo acabam coincidindo cada vez mais.
Essas três trajetórias conotam a passagem de uma sociedade que foi chamada de industrial a
uma sociedade nova. Podemos defini-la como quisermos. Eu, por comodidade, a chamo de pós-
-industrial.
Quer uma imagem física desta mudança? Nós, nestes milhões de anos, desenvolvemos um
corpo grande e uma cabeça pequena. Nos próximos séculos, provavelmente reduziremos o corpo
74
Recreação e lazer
A escola contemporânea
Nos últimos 20 anos, temos presenciado mudanças lentas, mas constantes, nos
ambientes escolares. Antes disso, as instituições de ensino encaravam o ato de apren-
der como um sinônimo de memorização. Hoje, elas percebem que a transformação
é fundamental.
Felizmente, significativas mudanças podem ser observadas atualmente, como
a preocupação dos educadores em se manterem continuamente reciclados, aprimo-
rando seus métodos e ações pedagógicas. O educador já sabe que, se não buscar sua
reciclagem, terá cada vez mais dificuldades para se comunicar com seus alunos e
para q ualificar o processo de ensino-aprendizagem.
Nesse contexto, também percebemos uma sensível evolução da recreação. As
atividades e jogos recreativos estão evoluindo na Educação Infantil, sendo cada vez
mais valorizados. De brincadeiras ultrapassadas, como “atirei o pau no gato” e “es-
cravos de Jó”, estamos promovendo práticas que possibilitam vivências específicas
para facilitar o desenvolvimento psicomotor dos educandos.
Já em relação ao lazer, talvez as instituições de ensino ainda precisem se dedicar
mais à promoção da educação para o lazer. O ambiente escolar é um lugar propício
para as crianças aprenderem a fazer boas escolhas para os momentos de ócio.
O uso qualitativo do tempo livre não está associado ao nível socioeconômico
do indivíduo, mas à educação para tal. Como alguém – criança, jovem ou adulto –
poderá aproveitar conscientemente e criticamente o seu tempo de folga quando não
é educado para isso?
Algumas pesquisas revelam que os executivos, por exemplo, têm dificuldade
para separar a atividade profissional do tempo livre, assim prolongando a jornada de
trabalho em todos os momentos de suas vidas. Apesar de a atual sociedade oferecer
mais tempo livre (férias remuneradas, direito ao descanso semanal etc.) do que no
passado, e inúmeras opções de lazer, nem sempre sabemos identificar a melhor forma
de aproveitar esses períodos. E assim a vida torna-se um círculo vicioso de trabalho.
75
Recreação e lazer
Os projetos de aprendizagem
Uma ótima prática pedagógica que tem sido difundida na educação contem-
porânea é o desenvolvimento de projetos de aprendizagem. Esse tipo de atividade
baseia-se nos interesses e na curiosidade dos alunos e requer uma intensa negociação
entre os atores do processo educacional.
Atualmente, muitas escolas estão valorizando os projetos de aprendizagem
porque esses projetos constituem uma metodologia eficiente para a abordagem de
conteúdos de forma lúdica, instigadora, multidisciplinar e integrada à vida cotidiana.
Um trabalho pedagógico baseado em projetos serve para estimular o espírito
investigativo e colaborativo, a descoberta em grupo, a autonomia e a atitude para a
tomada de decisão e a busca de respostas, sempre aproximando os objetos de conhe-
cimento da realidade vigente na comunidade.
Ao incitar a atitude crítica e investigadora, esse tipo de atividade acaba cola-
borando para a educação em todos os sentidos. Os projetos de aprendizagem contri-
buem inclusive na educação para o lazer, pois os educandos aprendem a investigar
diferentes hipóteses e fazer determinadas escolhas – atitudes que serão colocadas em
prática nas diversas situações do cotidiano.
Para desenvolver projetos de aprendizagem em sua escola, é preciso adotar pro-
cedimentos fundamentais para que eles integrem não somente os conteúdos, mas tam-
bém vivências múltiplas e enriquecedoras para os alunos. Observe as dicas a seguir.
Todo projeto deve nascer de um tema relevante e aceito por toda a comunidade
escolar, não só pelos professores.
Devemos elaborar os projetos de forma multidisciplinar e interdisciplinar, in-
tegrando professores e conteúdos das mais diversas áreas do conhecimento.
Os projetos devem ter começo, meio e fim bem determinados.
76
Recreação e lazer
77
Recreação e lazer
Enfim, devemos pensar com muito carinho e atenção sobre como distribuir e
otimizar os espaços da escola infantil. Não existem fórmulas para isso, pois todas as
estratégias e ações pedagógicas requerem uma adequação às realidades locais. No
entanto, contamos com interessantes sugestões de pesquisadores deste assunto.
Nesse sentido, destacamos as ideias da professora Maria Jaume (2004) sobre
a configuração e a distribuição dos espaços destinados às atividades pedagógicas e
recreativas na infância. A autora indica a organização dos espaços conforme a idade
do público escolar, com ambientes distintos para o atendimento de crianças de zero
a três anos de idade e de três a seis anos.
Complementando essa sugestão e considerando o desenvolvimento motor in-
fantil e o tipo de atividade apropriada a cada fase, indicamos a criação de diferentes
espaços para as seguintes faixas etárias: zero a dois, dois a quatro e cinco a seis anos.
Por exemplo: as crianças deslocam-se pouco na primeira fase. Já na última, elas cor-
rem, conversam e se agitam fisicamente, exigindo áreas mais amplas.
A professora Maria Jaume também ressalta algumas necessidades específicas
da criança, as quais devem ser consideradas durante a organização dos espaços da
escola. Cada necessidade requer um tipo de ambiente.
Necessidades afetivas: ambientes interligados que sugiram segurança e es-
tabilidade para a criança.
Necessidade de autonomia: ambientes onde a criança possa interagir
livremente.
Necessidade de movimento: espaços que sejam apropriados às atividades
corporais e proponham desafios para o desenvolvimento de habilidades
motoras.
Necessidade de socialização: ambientes para a convivência, a comunicação
e o relacionamento entre as crianças.
Necessidades fisiológicas: locais específicos para dormir e comer,
banheiros adequados a cada faixa etária.
Necessidades de descoberta e exploração: espaços ricos em estímulos e ob-
jetos.
Finalmente, selecionamos dois tipos de distribuição de ambientes para ilustrar
a adequação do espaço físico da escola infantil. As plantas apresentadas a seguir são
indicadas por Maria Jaume (2004).
78
Recreação e lazer
G4 G5 G6 Pátio/jardim
Espaço verde
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79
Recreação e lazer
1. Agora, vamos propor um desafio muito importante para que vocês aprofundem os estudos desta
unidade: criar uma paródia (música conhecida com letra adaptada) para falar sobre o lazer e a
recreação de forma descontraída.
Reúnam-se em grupos de cinco ou seis integrantes para realizar a tarefa proposta. Após a con-
clusão, todos os grupos vão apresentar aos colegas suas produções criativas. Posteriormente,
cada grupo encaminhará uma cópia escrita da sua paródia aos tutores, indicando o nome dos
participantes e o nome da música original.
80
Criatividade
e sua importância
para a Educação
Max Gunther Haetinger*
A criatividade e o brincar
C
riatividade é a capacidade humana de gerar novas ideias ou ações, o que
independe do nível ou classe social, mas depende do meio no qual o sujeito
está inserido. Esse conceito pode ser mais bem entendido a partir das quatro
categorias definidas por Rodhes (apud KNELLER, 1978).
Do ponto de vista da pessoa que está criando, a ação criativa é fisiológi-
ca e tem como base os temperamentos humanos, os hábitos e as atitudes
criativas.
Os processos mentais criativos englobam a percepção, a motivação, o pen-
samento, a a prendizagem e a comunicação.
A criatividade está associada com as relações entre os homens e com os
fatores ambientais e culturais. Portanto, é fruto da interação entre homens,
objetos e meio.
A criatividade pode ser definida em virtude de seus produtos: pinturas, con-
ceitos, teorias, invenções, esculturas, poemas, filmes etc. Mas essas são as
formas estereotipadas das ações criativas.
Kneller lembra ainda que as distintas definições de criatividade estão sempre
relacionadas com o conceito de novidade ou inovação. Assim, a ação criativa é a
própria essência da transformação e das mudanças, tanto as exteriores ao ser quanto
as internas. Mas também é possível compreender a criatividade como a base do ato
de liberdade, ou melhor, da ação libertadora, pois a criação associa-se à formação do
senso crítico.
No contexto escolar, a criatividade pode transformar a relação do sujeito com o
conhecimento. As atitudes e as ações criativas correspondem a meios para a compre-
ensão e a alteração da realidade. Todo ato criativo expressa a percepção de alguém
acerca do mundo, acerca de uma ideia ou situação. Inevitavelmente, o indivíduo usa
o seu entendimento da dimensão real para criar algo novo.
A criatividade potencializa a imaginação humana e, consequentemente, mo-
difica o método pelo qual as pessoas lidam com a informação e o processamento da * Com a colaboração
de Daniela Haetinger e
informação. A importância da criatividade como método é ressaltada por Rogers Luis Lucini.
81
Criatividade e sua importância para a educação
O brincar
O brincar é a essência do pensamento lúdico e caracteriza as atividades execu-
tadas na infância. As brincadeiras são uma forma de expressão cultural e um modo de
interagir com diferentes objetos de conhecimento, implicando o processo de aprendi-
zagem. Tendo em vista esse conceito, percebemos que o ato de brincar acompanha o
desenvolvimento da inteligência, do ser humano, das sociedades e da cultura.
O psicanalista Winnicott (1975) afirma que a criança, quando brinca, manipula
fenômenos externos que estão a serviço do sonho. Ela recobre esses fenômenos com
significados e sentimentos oníricos e isso representa uma operação do imaginário e a
exploração da criatividade. De acordo com o autor, “é no brincar, e somente no brin-
car, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade
integral; e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o seu eu”.
82
Criatividade e sua importância para a educação
Para ampliar nossa visão sobre a criatividade, selecionamos uma importante contribuição de
Jean Piaget a respeito do tema.
Criatividade
(PIAGET, 2001, p. 11-20)
Existem dois problemas envolvidos em uma discussão sobre a criatividade. O primeiro pro-
blema é o das origens ou causas da criatividade. O segundo é o do mecanismo: como ela acontece?
Qual o processo de um ato criativo? Como alguém cria algo novo? Sem existir antes, como algo
novo pode surgir?
Gostaria primeiramente de dizer algumas palavras sobre as origens ou causas da criatividade.
Está muito claro que a sua origem ainda é coberta de mistérios. De fato, alguns indivíduos são
visivelmente mais criativos do que outros, mas isso com certeza não é apenas uma questão de ge-
nialidade. Na verdade, a origem da criatividade permanece misteriosa, mesmo que esteja presente
em todos nós.
Agora é moda entre alguns psicólogos, quando eles se deparam com algo que é difícil de ex-
plicar, chamá-lo de inato ou hereditário, como se esta fosse uma explicação. Mas absolutamente
não é uma explicação, e desse modo só transferem o problema para o campo da biologia. E, na
biologia, estamos muito longe de ser capazes de explicar qualquer tipo de atitude mental, que dirá
a criatividade. Criatividade não é apenas uma questão de precocidade em indivíduos que se torna-
ram muito criativos. Os indivíduos não são sempre precoces. Mozart, é claro, é um dos melhores
exemplos de uma alma precoce e criativa. Mas muitos outros se tornaram criativos muito mais
tarde em suas vidas, foi bem mais tarde que tiveram as ideias mais originais.
O melhor exemplo disso é Kant. Por muitos anos, ele não foi um kantiano. A maior parte de
sua vida passou como um discípulo de Wolf, e foi só nos seus últimos anos que sua própria origi-
nalidade emergiu. Então, a princípio, a origem da criatividade para mim permanece um mistério
e não é explicável. Mas, como disse um momento atrás, todo indivíduo que realiza um trabalho e
tem ideias novas, mesmo que modestas, cria-as no curso de seus esforços.
83
Criatividade e sua importância para a educação
Algumas palavras a mais sobre a origem da criatividade. No percurso da minha vida, tenho
criado uma ou duas ideias e quando reflito sobre suas origens penso que existem três condições.
A primeira é trabalhar sozinho, ignorar qualquer um e suspeitar de qualquer influência de fora.
Quando era estudante, tive um professor de física que dizia: “Sempre que você começar a tra-
balhar em um novo problema, não leia nada. Em vez disso, vá tão longe quanto puder por conta
própria. Depois de, sozinho, ter ido tão longe quanto pôde e ter chegado à sua solução, então
leia e leve em conta o que tem sido escrito sobre o assunto, fazendo as correções que julgar
necessárias.” Temo ter levado o conselho muito a sério, isto é, devo ter lido muito pouco. Mas
para me consolar, ou deixar de lado qualquer sentimento de culpa que possa ter, gosto de pensar
na fala de Freud: “A maior punição que a divindade envia para alguém que escreve é ter de ler
os trabalhos de outros.”
A segunda condição que acho necessária é ler uma grande quantidade de coisas em outras
áreas, e não apenas ler trabalhos da própria área. Para um psicólogo, por exemplo, é importante
ler biologia, epistemologia, lógica, para que se possa promover uma visão interdisciplinar. Não ler
somente no seu p róprio campo, mas ler muito nas áreas próximas e relacionadas.
E um terceiro aspecto, e aí penso em meu caso, é que sempre tive na cabeça um adversário,
isto é, uma escola de pensamentos cujas ideias algumas pessoas consideram erradas. Talvez co-
meta injustiças e as deforme tornando-as adversárias, mas sempre tomo as ideias de alguém como
um contraste. [...]
Agora gostaria de continuar com o segundo aspecto que mencionei, que é o mecanismo da
criatividade. Acho que o estudo da psicologia da inteligência pode nos ensinar muito sobre esta
questão. O desenvolvimento da inteligência é uma criação contínua. Cada estágio do desenvolvi-
mento produz algo radicalmente novo, muito diferente do que existia antes. Desse modo, todo o
desenvolvimento é caracterizado pelo aparecimento de estruturas totalmente novas.
Inteligência não é uma cópia da realidade, não está representada nos objetos. É uma construção
do sujeito que enriquece os objetos externos. O sujeito “adiciona” essa dimensão aos objetos
externos ao invés de extrair essa dimensão dos objetos. Consideremos, por exemplo, a noção de
número ou a noção de grupo. Elas nos possibilitam entender os objetos de diferentes modos, mas
não são extraídas dos objetos. São adicionadas aos objetos. Isso revela que a inteligência é de fato
um ato de assimilação num sentido realmente biológico. O externo é incorporado às estruturas
do sujeito do conhecimento, isto é, nos termos das estruturas do sujeito é que o mundo externo
é entendido. Essa criação da novidade acontece, é claro, em cada geração, mas também em cada
indivíduo. Cada criança reconstrói a sua própria inteligência e o seu próprio conhecimento. Por
exemplo, contar ou recitar os nomes dos números, certamente, para a criança, vem do mundo ex-
terno. Porém aprender a noção de número é algo muito diferente de aprender a recitar os nomes
dos números. A noção do número é construída pela criança como um ato criativo, como uma
multiplicidade de atos criativos. [...]
Só gostaria de terminar repetindo as palavras de um pesquisador que trabalha conosco em
Genebra fazendo experiências sobre o pensamento das crianças na área da física. Ele disse o
que distingue o físico criativo do não criativo: o físico criativo, apesar do seu conhecimento, em
uma parte de si tem uma criança com a curiosidade e a candura da descoberta que caracterizam
a maioria das crianças até serem deformadas pela sociedade adulta.
84
Criatividade e sua importância para a educação
A importância da expressão
criativa para a educação
Um dos instrumentos da atividade criativa é a relação entre as pessoas. Quando
trabalhamos em grupo, a imaginação e a curiosidade de cada participante são res-
saltadas e compartilhadas. E quem consegue se expressar junto aos outros se adapta
melhor às circunstâncias e à troca de experiências.
Por isso, é muito importante possibilitarmos vivências coletivas na escola. Elas
oportunizam que o educando revele-se aos outros e a si mesmo. Com a expressão
criativa em grupo, o aluno conta com um meio de expressão espontânea e reformula
constantemente seus pensamentos, o que possibilita novas atitudes e ideias.
Tanto o mundo do faz de conta das crianças quanto o poder imaginativo dos
jovens e adultos vêm à tona com os jogos criativos. Essas práticas incentivam o
interesse por todo tipo de conhecimento e favorecem o aprimoramento da coordenação
motora e da expressão verbal.
Quando são aproveitadas as potencialidades dos jogos criativos por meio de
diferentes atividades, todos participam para o mesmo fim criativo. Particularmente nos
jogos que englobam a dramatização, o educando experimenta personagens sem deixar
de ser ele mesmo. O exercício da flexibilidade para atuar como outra pessoa e em grupo
colabora para a adaptação do aluno às contingências da vida em sociedade.
Dentro do universo escolar, a prática de jogos criativos leva professores e
alunos a compreenderem e aceitarem as formas e os padrões de comportamento
85
Criatividade e sua importância para a educação
Retomando a criatividade
A criatividade está presente em cada um de nós. Todos temos a mesma
capacidade criadora. Mas essa capacidade é potencializada ou minimizada de acor-
do com nossas interações com o meio cultural, que pode ou não oferecer estímulos
às atitudes e aos atos criativos.
E a idade é um fator de influência? O que potencializa a criatividade são
as nossas vivências. Geralmente, um indivíduo mais velho possui maior bagagem
de vida, mas isso não é uma regra. Nem sempre a passagem do tempo fornece um
feedback criativo. Sendo assim, o modo e a qualidade de nossas interações são bem
mais relevantes que o tempo transcorrido. Nesse sentido, um sujeito pode reagir a
estímulos de maneira criativa ou apenas ficar reproduzindo velhos padrões.
Os processos criativos estão relacionados com a inteligência. Mais especifica
mente, eles se originam nos pensamentos divergentes. Para entendermos esse conceito,
é preciso analisar o pensamento humano. Segundo Guilford, “é possível organizar os
fatores psicomotores que conhecemos numa espécie de sistema. Torna-se cada vez mais
claro que as dimensões do intelecto também podem ser organizadas numa estrutura sig-
nificativa” (apud CUNHA, 1977, p. 20). O diagrama abaixo reproduz a caracterização
das principais habilidades intelectuais, conforme elaboração de Guilford.
Intelecto
Memória Pensamento
Cognição Avaliação
Intelecto
Convergente Divergente
SENSO
CRIATIVIDADE
CRÍTICO
PENSAMENTO LATERAL OU
DIVERGE NTE
Aos educadores infantis cabe lembrar que a criança não aprende nem cria por
imitação. Promover práticas criativas não significa estabelecer regras para a realiza-
ção de brincadeiras ou tarefas. Você pode colaborar para o processo criativo de seus
educandos oferecendo um ambiente de aceitação, integração e liberdade, deixando-
-os realizarem livremente suas atividades e brincadeiras e sempre permitindo que
eles expressem sua imaginação e o seu próprio mundo de faz de conta.
Sua função é organizar o meio, os recursos e os instrumentos didáticos para a
criação; criar um ambiente favorável em que a criança sinta-se segura e acolhida para
atuar; estimular a expressão da subjetividade dos alunos, sem indicar-lhes possíveis
erros ou o melhor modo de fazer as coisas. Eles descobrirão por si mesmos, explo-
rando objetos e vivendo diferentes situações.
1. Para esta aula, nossa proposta é que vocês desenvolvam um projeto pedagógico para a Educação
Infantil no qual o movimento e os jogos lúdicos sejam fatores relevantes para a aprendizagem.
88
Criatividade e sua importância para a educação
89
Criatividade e sua importância para a educação
90
A avaliação na
Educação Infantil
Max Gunther Haetinger*
Rubem Alves
O
processo de avaliação não faz parte somente da realidade escolar: é algo
presente em diversas dimensões de nossas vidas. Avaliar é uma ação que
praticamos continuamente. Consciente ou inconscientemente, estamos
sempre avaliando gestos, ações, escolhas, pensamentos e valores, sejam nossos ou
de outros.
Naturalmente, as atividades humanas são permeadas pelos processos avaliativos.
A avaliação levanta dados para o planejamento e a qualificação das ações, dos com-
portamentos, das performances e das produções individuais e coletivas. Nas corpo-
rações e instituições, na Educação e também na vida social, a prática da avaliação é
necessária e indispensável para melhor conhecer as pessoas, suas capacidades e habi-
lidades, e os processos nos quais elas estão inseridas. Portanto, a vida em sociedade
pressupõe atitudes avaliativas.
Na Educação, a avaliação é um tema constantemente levantado e discutido,
pois esse procedimento fornece os subsídios necessários para a compreensão do re-
sultado e da eficácia do processo ensino-aprendizagem. Esse tipo de avaliação abran-
ge a análise dos conteúdos, as metodologias pedagógicas utilizadas e a performance
dos atores educacionais.
Assim como os métodos e instrumentos de ensino, a avaliação escolar também
evoluiu. Atualmente, muitas instituições têm adotado formas mais eficientes e par-
ticipativas para avaliar os processos de ensino e aprendizagem. Segundo Maria T.
P. Silva (1991), uma avaliação eficaz usa critérios voltados para a inclusão e a par-
ticipação do aluno e representa um processo de cooperação que envolve todos os
“beneficiários”.
A função do educador no processo avaliativo não é a de um juiz que prescreve
sentenças como “o aluno acertou ou errou”, “sabe ou não sabe”. Não existe uma ver-
dade absoluta em termos de observação e avaliação de ações ou pessoas. Isso porque
a avaliação e a aprendizagem são processos tão dinâmicos e adaptáveis como os * Com a colaboração
de Daniela Haetinger e
próprios seres humanos. Luis Lucini.
91
A avaliação na Educação Infantil
92
A avaliação na Educação Infantil
Claro que há respostas certas e erradas. O equívoco está em ensinar ao aluno que é disto
que a ciência, o saber, a vida são feitos. E com isto, ao aprender as respostas certas, os
alunos desaprendem a arte de se aventurar e de errar, sem saber que, para uma respos-
ta certa, milhares de tentativas erradas devem ser feitas. Espero que haverá um dia em
que os alunos serão avaliados também pela ousadia de seus voos!... Pois isto também é
conhecimento. (ALVES, 1994, p. 29)
Wallon
93
A avaliação na Educação Infantil
94
A avaliação na Educação Infantil
Destacamos algumas considerações de Pilar Sánchez, Marta Martinez e Iolanda Peñalver rela-
tivas aos parâmetros para a avaliação psicomotora infantil. Como nesta unidade estamos estudando a
avaliação, certamente as contribuições dessas pesquisadoras serão muito úteis e contribuirão para a
observação de nossas crianças.
95
A avaliação na Educação Infantil
2. Colocar-se com empatia, isto é, descentrar-se de suas próprias emoções e tentar captar
sua afetividade, não se deixando invadir por ela. A partir desse posicionamento, não ha-
verá juízos de valor, mas uma atitude de compreensão do outro.
3. Deriva-se do ponto anterior e consiste em tentar controlar as próprias projeções e não
colocar no outro os próprios sentimentos ou emoções. Por exemplo: “Juan está triste
porque ficou sozinho brincando de pirata.” É primordial tomar consciência das possíveis
projeções que depositamos sobre as crianças e reconhecer os possíveis sentimentos de
simpatia ou rechaço que algumas a titudes ou comportamentos provocam no observador.
Sabemos que observar sempre supõe um filtro cognitivo e também afetivo; costumamos ob-
servar “aquilo que já temos dentro” e, em algumas ocasiões, nossas valorações estão em função
das expectativas que formamos, expectativas que, às vezes, atuam como “sentenças”. É muito
importante conhecer a influência dessas expectativas, uma vez que contribuem na configuração
da imagem que a criança terá de si mesma.
[...]
De acordo com García Olalla, a observação psicomotora tem alguns desafios pendentes quanto aos
níveis de observação e unidades ou formatos para proceder à observação da interação, por exemplo:
como captar a bidirecionalidade adulto–criança que caracteriza os processos interativos
e repensar os parâmetros psicomotores com os quais trabalhamos habitualmente, a partir
dessa perspectiva bidirecional;
encontrar unidades de análise capazes de dar conta da mútua interdependência das con-
tribuições da criança e do adulto à construção conjunta da interação a partir de uma
perspectiva de cogestão e de coparticipação;
analisar dimensões referentes ao tipo de participação que a criança e o adulto trazem para
a interação;
criar um marco para a metodologia observacional, coerente com o marco da prática psi-
comotora como uma prática interativa.
Por todo o exposto anteriormente, fica explícito que a metodologia observacional tem prin-
cípios dinâmicos que devem estar expostos à revisão e à atualização permanente em prol de uma
melhora e de um enriquecimento da mesma. Como em qualquer outro aspecto educativo, a pes-
quisa e a formação são permanentes. [...]
Movimento
Os itens através dos quais podem ser estudadas as características do movimento são:
Tipos de movimentos que a criança realiza.
[...]
Qualidade dos movimentos.
[...]
Nível de mobilidade das diferentes partes do corpo.
[...]
96
A avaliação na Educação Infantil
Qualidade do tônus
Tônus é o grau de tensão dos músculos de nosso corpo. É uma função que não se pode con-
ceber como algo estático, mas como algo dinâmico. Mesmo em estado de repouso, o tônus reflete
um estado de vigilância, de disponibilidade para executar, em um dado momento, um movimento,
um gesto, ou manter uma postura. Como dissemos anteriormente, tônus, emoção e relaxamento
andam juntos. [...]
O sujeito e o espaço
Os aspectos a serem considerados na observação do espaço podem ser:
Ocupação do espaço
[...]
Tipos de espaço que ocupa
[...]
Maneiras de ocupar o espaço
[...]
97
A avaliação na Educação Infantil
Propomos a leitura de uma mensagem do poeta Mário Quintana. Seu texto (disponível em:
<www.paralerepensar.com.br/m_quintana.htm/>) fala sobre viver o momento presente e estar sempre
aberto para superar os desafios que a vida nos propõe. Escolhemos este poema porque acreditamos
que nossa existência só vale a pena se nos entregarmos diariamente à aventura da descoberta, do
crescimento, da aprendizagem colaborativa.
Hoje vamos continuar o trabalho em grupo iniciado na unidade anterior. Então, dediquem-se à
formatação de seus projetos de aprendizagem.
Trabalhem realmente em equipe, escutando e considerando cada um de seus colegas de grupo.
Aproveitem esta oportunidade para experimentar, errar e acertar. Afinal, a aprendizagem requer inte-
ração, experimentação, erros e acertos.
98
A função da escola
e da Educação Física
Ana Cristina Arantes
Você já se deu conta que, no Brasil, o primeiro degrau de um processo que tem a duração de 14
anos denomina-se Educação Infantil e que os outros segmentos denominam-se Ensino Fundamental?
Você já pensou na diferença entre estes dois termos: educação e escolarização?
Educar significa transmitir valores, crenças, atitudes, orientar alguém ou inserir esse alguém
por meio dos hábitos, em um grupo social. A educação é primordial nos primeiros anos de vida, quan-
do a criança sai do núcleo familiar e vai dividir um espaço com outras crianças com a mesma idade.
Assim sendo, o compromisso da instituição destinada às crianças com até seis anos de idade é o de so-
cializar, o de introduzi-las em um outro e novo grupo social, levando-a gradativamente à compreen-
são das regras de convivência democrática além de introduzi-las nas competências e nas habilidades
iniciais que serão muito úteis neste e nos próximos períodos de escolarização (NICOLAU, 1990).
E quanto à palavra escolarizar?
A palavra escolarizar é entendida como o ato de divulgar os saberes escolares acumulados pelo
homem ao longo do processo de civilização. Ensinar a ler, contar, escrever, cantar, fazer exercícios
físicos, praticar a dança, tocar um instrumento – entre muitas atividades que são, por sua vez, orga-
nizadas de forma a cumprir um programa ou uma proposta dentro de um determinado tempo e com
um grau de organização bastante grande. Para realizarmos tal proeza é necessário ser um professor,
ser portador de um saber que a sociedade reconhece como adequado.
No entanto, a função de professor não se restringe apenas a tarefa de disseminar informações. É
interessante pensar que um bom docente possui as duas funções: a de educador, que orienta (de ma-
neira implícita) a prática dos valores e da ética no cotidiano escolar; e além dessa tarefa, a cada dia o
docente revela novos itens aos estudantes de modo a perpassar desde a mais tenra idade um cidadão
com formação integral. E aqui formação integral se refere à obtenção e ao desenvolvimento dos as-
pectos intelectuais, afetivos sociais e, do não menos importante, aspecto motor.
No tocante ao aspecto motor – movimento – item específico das aulas de Educação Física,
convém lembrar que ele representa um ótimo canal de comunicação e de expressão, sobretudo nos
primeiros anos de idade e de escolarização.
O movimento praticado sob o clima do jogo possui uma intenção, um objetivo mesmo que seja
visto como uma atividade lúdica. Aprender por meio das propostas desafiadoras, que o magister ludi
(“mestre do jogo”, “professor da diversão” ou “professor da alegria”) apresenta, deve levar os seus
alunos a uma constante construção dos conceitos sobre si mesmo, sobre o mundo físico que os rodeia
e sobre o mundo social a sua volta.
99
A função da escola e da Educação Física
O sistema escolar
brasileiro e as aulas de
Educação Física para as Séries Iniciais
As aulas de Educação Física estão previstas no processo de escolarização
inicial desde 1961 quando foi publicada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, a Lei 4.024/61. Naquela época a escola era para poucos e as
aulas dessa prática educativa (expressão da época) compunham-se de atividades
recreativas sem a fundamentação que hoje possuímos. O programa consistia na
realização dos jogos tradicionais brasileiros, tais como os jogos de correr, de aten-
ção, o jogo do passa-anel, por exemplo, além de algumas práticas de competição
chamadas estafetas. Durante aproximadamente meia hora, a professora regente se
dispunha a ministrar as atividades para os seus alunos de modo que eles tivessem
um tempo livre, organizado e em espaço aberto.
Embora houvesse interesse e empenho, ao que tudo indica a formação do-
cente centrava-se principalmente nos processos de alfabetização propriamente
dita. Assim sendo, muitas vezes a professora não percebia o maravilhoso recurso
de que dispunha para fazer a articulação entre as experiências vividas pelos alu-
nos e os conteúdos desenvolvidos na sala de aula.
Nas décadas de 1970 e 1980, nos estudos da psicomotricidade, a escola fran-
cesa de Jean Le Boulch, de Pic e Vayer, a argentina de Dalila Costalat, além dos
estudos de Vitor da Fonseca no Brasil, deram suporte àquela prática auxiliando os
docentes na compreensão de que os gestos poderiam estar vinculados a um fazer e
sentir, sendo que muitos erros cometidos pelos alunos – tal como o espelhamento
de letra e a inversão de números, até então entendidos como um grave problema
– poderiam ser cuidados a partir de uma situação que envolvesse o pensar e fazer,
ou seja, os exercícios psicomotores.
Os novos estudos forneceram ao docente grande ajuda no sentido de explicar
que, entre tantas outras, essa ocorrência se dava pelo desconhecimento do próprio
corpo e da falta de noção espacial (direita e esquerda) por parte do aprendiz, que,
por isso, projetava essa ausência no papel. Com isso, o foco das aulas mudou, os
exercícios psicomotores consistiram na tônica do curso. Retiraram-se das aulas o
caráter recreativo, sem fundamento, ou as atividades eminentemente competitivas,
muitas vezes desaconselhadas pelos teóricos (ARANTES, 1990).
A partir dos anos 1990, um novo impulso ocorreu quando houve a divul-
gação de teorias inéditas. O estado da arte das aulas de Educação Física para
as séries iniciais foi alterado profundamente, deixando de lado a fundamentação
médica e militarista que também caracterizou a área até os anos 1980, passando
a discutir e experimentar as novas tendências provenientes de Estados Unidos,
Inglaterra e Japão. A partir disso, com a difusão das novas ideias, possuímos
atualmente inúmeras formas de se trabalhar com esse componente curricular. Essas
também denominadas correntes pedagógicas vão das tradicionais, em que o co-
mando do professor dirige todos os procedimentos, até os modelos centrados na
100
A função da escola e da Educação Física
101
A função da escola e da Educação Física
Considerações sobre
as aulas de Educação Física
e os temas ou eixos transversais
Pensar nos conteúdos de maneira a favorecer o desenvolvimento dos aspectos
socioafetivos, intelectuais e motores é favorecer a formação integral do aluno, é
considerar a aulas de Educação Física mais uma oportunidade para se praticar a
cidadania. Então, quando o professor propõe – por exemplo – um jogo e o tema
transversal ética, será estabelecido com os alunos as regras da atividade. Além da
102
A função da escola e da Educação Física
Jogos e esportes
Incluem-se os jogos de imitação, os jogos simbólicos, nos quais a criança
recria a realidade a sua volta, os jogos de construção, nos quais são estabelecidas
conjuntamente com os alunos as regras a serem praticadas por todos e, finalmen-
te, os jogos de regras com elaboração mais refinada, de certa forma preparando
os alunos para os jogos pré-desportivos, que por sua vez serão progressivamente
vivenciados a partir da 5.ª série do Ensino Fundamental.
Cabe ao professor das séries iniciais a grande tarefa de ampliar o conheci-
mento da criança acerca de si mesma, acerca do mundo físico e das relações sociais
que se estabelecem a partir da vivência democrática de todos os conteúdos propos-
tos de modo a favorecer sistematização dos movimentos sob a forma dos esportes
individuais ou de equipe nas séries subsequentes da aprendizagem formal.
104
A função da escola e da Educação Física
O homem só pode tornar-se homem pela educação. Ele é aquilo que a educação faz dele.
Para tanto, o homem necessita não só de cuidados mas também de cultura.
Immanuel Kant
GUSDORF, Georges. Professores para quê?: para uma pedagogia da pedagogia. São Paulo: Martins
Fontes, 1995.
105
A função da escola e da Educação Física
106
Características dos alunos
da escolarização inicial e as
aulas de Educação Física
Ana Cristina Arantes
Uma das principais mensagens da moderna educação escolar é o princípio da aprendizagem
significativa: o aluno raciocina, forma o conhecimento acerca dos objetos, dos fatos e das relações fí-
sicas e sociais quando as atividades que lhe são proporcionadas são úteis (ARANTES, 2005). Portan-
to, ao pensar em elaborar um plano de ensino, o professor sempre deve ter em mente os seus alunos,
suas características, sua cultura, por exemplo, de modo a tornar a sua ação eficaz e eficiente.
Partindo desse princípio, serão descritas as características gerais das crianças com idade
compreendida entre seis e oito anos. Cabe a você perceber quanto os seus alunos se aproximam ou
se distanciam da descrição teórica apresentada.
Todos somos fruto da hereditariedade e do meio ambiente. Assim sendo, a organização dos
processos de crescimento e de desenvolvimento humanos possuem, segundo a escola desenvolvimen-
tista de Gallahue (1982), corroborada por Tani et al. (1988), duas premissas fundamentais, conforme
a seguir.
A primeira infância se inicia no primeiro ano e termina por volta do sexto ano de vida.
A segunda infância corresponde ao período de 6 a 12 anos de vida.
A puberdade é a idade entre a segunda infância e a adolescência.
A adolescência se inicia aos 13 anos e termina por volta dos 19.
Depois há a juventude, a idade adulta propriamente dita e a terceira idade, por volta dos 80
anos.
Ou ainda, segundo Piaget (apud WADSWORTH, 1987), passamos por algumas fases de desen-
volvimento cognitivo:
sensório-motor (nascimento aos 2 anos de idade);
pré-operacional (2 aos 7 anos);
operacional concreto (7 aos 11 anos);
formal ou hipotético-dedutivo (11 anos em diante).
107
Características dos alunos da escolarização inicial e as aulas de Educação Física
108
Características dos alunos da escolarização inicial e as aulas de Educação Física
estimulado, pode perceber-se nos outros, na situação do outro, entretanto, sem que
haja vivência da problemática alheia. Isso significa que o período lógico formal
ou hipotético-dedutivo já está se iniciando e que esse tipo de pensamento poderá
ampliar seu mundo por sua capacidade de abstrair, generalizar os dados e as in-
formações que não estejam presas ao mundo concreto.
Características socioafetivas
A criança de 6 a 8 anos de idade está vivenciando uma fase muito delicada,
pois sai do primeiro núcleo social (a família) e depara-se com outras crianças que
estão passando pela mesma situação e veem em seu professor um valoroso aliado
de justiça e de proteção. Entretanto, com alguma frequência essa criança precisa
disputar a atenção e o amor do docente com outras crianças que possuem seme-
lhante expectativa. Muitas vezes, sente-se acolhida; em outras oportunidades, por
sentir-se rejeitada ou preterida, ela se encolhe em um canto e decide não praticar
as atividades, fica amuada, choraminga e se entristece. O inverso também pode
ocorrer, a criança demonstrando comportamento desafiador, contestador, exibi-
cionista, buscando chamar a atenção do docente.
Muitos alunos apresentam temperamentos introvertidos, querem fazer as
atividades segundo seu próprio julgamento e de forma individualista. Embora te-
nham raciocínio pré-lógico no cotidiano, na hora da atividade – em que estão em
jogo as tarefas, certas contendas – agem de forma retrocedida, podendo agredir e
melindrar-se com situações não suficientemente importantes. Portam-se muitas ve-
zes de maneira colaborativa ou despótica ao mesmo tempo, que, logo em seguida,
cumprem pequenas tarefas e apreciam auxiliar o professor. Alguns (justamente por
não terem ainda o espírito de classe e de grupo e por serem individualistas) queren-
do ajudar o seu professor assumem o papel de dedo-duro, não percebendo que essa
atitude pode gerar no futuro um sentimento de infidelidade para com o grupo.
O aluno das primeiras séries do Ensino Fundamental precisa, portanto, de
um professor que haja de maneira equânime, que seja um bom mediador, perceba
os fatos e as situações e crie mecanismos de ponderação e de diálogo, encontrando
(juntos, professor e alunos) respostas ou soluções para os problemas cotidianos.
Esse aluno possui certa dificuldade em trabalhar ou em permanecer no
mesmo grupo. Muitas disputas e comportamentos pouco altruístas podem surgir
durante as atividades. Os desentendimentos são frequentes, mas muitas vezes há
conciliação e, posteriormente, voltam os desentendimentos, pois predomina a ati-
vidade autorreferenciada – na qual o professor deve intervir, buscando uma forma
adequada de conciliação entre as crianças. Não há ainda forte intervenção do
meio na escolha de papéis com padrões socialmente aceitos: todos brincam juntos
e o desempenho não sofre intervenção do meio, apesar de gostarem de histórias
de contos de fadas e de aventuras. Assim, gradualmente os alunos (naturalmente)
autocentrados praticarão as atividades lado a lado, depois em pequenos grupos,
chegando à 4.ª série sem perder sua individualidade, possuir a justa noção de per-
tinência de equipe, cumprindo as regras estabelecidas pela classe.
109
Características dos alunos da escolarização inicial e as aulas de Educação Física
Características físico-motoras
Os seus gestos são ainda imprecisos, mas estão a caminho de um refinamento
maior. Isso pode ser comprovado pela escrita, que no início do ano é bastante irre-
gular, mas pouco a pouco – com a melhoria do controle olhos-mãos, do movimento
de punho e do tônus muscular – o gesto fino vai se refinando paulatinamente. Os
grandes músculos, ao contrário, possuem boa coordenação e lhes propiciam condi-
ção para uma prática de atividade vigorosa. A resistência cardiorrespiratória pode
não favorecer a prática de atividades muito prolongadas. Às vezes, as crianças se
cansam ou perdem o interesse, e é por isso que o professor deve variar as atividades,
sem necessariamente alterar a substância dessas atividades. Os alunos desta faixa de
idade apresentam grande entusiasmo para executar qualquer tarefa proposta.
O tempo que eles permanecem atentos, entretanto, pode variar na direta
medida do envolvimento e da significância do exercício proposto. As crianças
desta idade também não possuem dimensão do perigo: gostam das atividades de
contato, dos jogos em que a fantasia esteja presente, apreciam a autotestagem e
é por isso que os super-heróis sobem nos muros, nas árvores e nas escadas. Essa
realidade faz com que o professor precise manter-se muito atento de modo que as
atividades sejam praticadas com grande segurança.
Todos os alunos indistintamente têm interesse e necessidade de aprimora-
mento físico, portanto, o desafio e a curiosidade podem ser grandes aliados do
docente no sentido de levar a classe à execução de tarefas mais complexas, com-
binadas, ou com regras gradualmente mais elaboradas.
No final deste período, em alguns alunos pode ser observado certo grau crí-
tico, de antagonismo, de predileção pelos colegas em decorrência da observação
mais acurada do desempenho que seus colegas demonstram nos jogos, atividades
coletivas ou ainda naquelas em que ficam em evidência ao praticarem o exercício
enquanto outras esperam, observam até chegar a sua vez de jogar – por exemplo,
esperam para entrar, pular corda e sair. É um exercício em que um executa en-
quanto os demais esperam, cantam, batem palmas, mas não deixam de observar a
realização do colega, e daí a crítica, o riso.
110
Características dos alunos da escolarização inicial e as aulas de Educação Física
111
Características dos alunos da escolarização inicial e as aulas de Educação Física
Desenvolvimento do conhecimento
e controle do corpo (esquema corporal)
Seguindo a orientação do citado órgão, apresentamos um elenco de possí-
veis recomendações para a 1.a e 2.a séries do Ensino Fundamental.
Conhecimento e controle
do corpo (esquema corporal)
Indicar, nomear pessoas e objetos de diferentes tamanhos, cores, posi-
ções e lugares, tendo como referência a posição do próprio corpo e do
companheiro.
Reconhecer o corpo no seu todo e seus segmentos executando movimen-
tos globais interdependentes e independentes.
Reconhecer a dominância e a preferência lateral em si próprio e no outro.
Deslocar-se e discriminar localização, direção e dimensão do corpo e dos
objetos utilizando variadas trajetórias (linha reta, sinuosa, de frente, de
costas e lateral com passo cruzado) com diferentes intensidades e dife-
rentes durações (maior/menor).
Exercitar-se em diferentes planos – alto (em pé), médio (quatro apoios)
e baixo (deitado decúbito dorsal e ventral) –, utilizar flexões e extensões,
alongamentos do próprio corpo.
112
Características dos alunos da escolarização inicial e as aulas de Educação Física
113
Características dos alunos da escolarização inicial e as aulas de Educação Física
114
Características dos alunos da escolarização inicial e as aulas de Educação Física
115
Características dos alunos da escolarização inicial e as aulas de Educação Física
c) Como as aulas de Educação Física e as suas atividades contribuem para a compreensão das
regras sociais?
CAPARROZ, Francisco. Entre a Educação Física na Escola e a Educação Física da Escola: a Edu-
cação Física como componente curricular. Vitória: CEFD/UFES, 1997.
ARANTES, Ana Cristina et al. História e memória da Educação Física na Educação Infantil. Revista
Paulista de Educação Física, n. 4, 2001, p. 76-82.
116
Os alunos do
Ensino Fundamental e
as aulas de Educação Física
Ana Cristina Arantes
Se vamos apresentar as características dos alunos com idade entre nove e dez anos, precisamos
ter presente que as divisões por aspectos são meramente didáticas, pois os processos de crescimento
e de desenvolvimento são concomitantes.
Convém ressaltar que, conforme a Proposta Curricular de Educação Física (SÃO PAULO,
1991, p. 48), as atividades intensamente lúdicas, tão característica das séries anteriores, não de-
vem ser abandonadas, mas, como recomenda o referido documento, a essa forma de se trabalhar
devem ser acrescentadas outras estratégias que, mais elaboradas, são destinadas e adequadas aos
alunos das 3.a e 4.a série do Ensino Fundamental.
117
Os alunos do Ensino Fundamental e as aulas de Educação Física
Aspectos físico-motores
O aluno desta fase apresenta refinamento dos padrões fundamentais, enca-
minhando-se para as formas maduras de execução. Possui maior fluidez e harmo-
nia de gestos para a execução de movimentos combinados, inclusive de categorias
diferentes – por exemplo, correr, quicar a bola, saltar uma corda e, concomitante-
mente, quicar ou lançar a bola para o alto enquanto salta a corda.
A Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas, instância da Secretaria
de Estado da Educação de São Paulo, é responsável pela elaboração de propostas
curriculares no estado e recomenda alguns objetivos para a 3.a e 4.a série (ou se-
gundo ciclo do Ensino Fundamental). Espera-se que o aluno desta fase pratique as
atividades lúdicas e formativas (SÃO PAULO, 1991, p. 50), de maneira que:
desenvolva a criatividade;
explore e supere de modo progressivo suas capacidades físicas e habili-
dades motoras;
118
Os alunos do Ensino Fundamental e as aulas de Educação Física
120
Os alunos do Ensino Fundamental e as aulas de Educação Física
Seja imparcial.
Você tem a ciência e o gosto.
Se, além disso, você for justo,
Eu lhe predigo um sucesso duradouro.
(Voltaire, “Conselhos”, Gazette Littéraire de l’ Europe, 1764)
121
Os alunos do Ensino Fundamental e as aulas de Educação Física
1. Após a leitura desta aula, pense sobre as atividades apresentadas e responda às perguntas de
maneira individual. Depois, leve a sua contribuição para um debate com seus colegas.
a) Que fatores podem influir na execução dos exercícios propostos para os alunos de 3.a e 4.a
séries do Ensino Fundamental?
b) Por que devemos oferecer atividades coletivas para os estudantes de 3.a e 4.a séries do Ensino
Fundamental?
122
Os alunos do Ensino Fundamental e as aulas de Educação Física
d) O que a implementação de regras oferece aos seus alunos tendo em vista o exercício da
cidadania?
123
Os alunos do Ensino Fundamental e as aulas de Educação Física
SILVA, João Batista Freire da. Métodos de confinamento e engorda (como fazer render mais porcos,
galinhas e crianças). In: Educação Física e Esporte: perspectiva para o século XXI. 2. ed. Campinas:
Papirus, p. 109-122.
WADSWORTH, Barry. Piaget para o Professor da pré-escola e do 1.o Grau. São Paulo: Thomson
Pioneira, 1989.
124
As aulas de Educação Física
Escolar e o processo de
inclusão e integração
Ana Cristina Arantes
Qual a função da escola? Para que existe a escola?
A escola deve ser considerada como o maior programa de qualidade de vida dos estudantes.
É o berço da prática da cidadania, responsável pela disseminação da informação,
construtora do conhecimento e do acervo cultural do aluno.
É na escola que se constroem os hábitos e exercita-se a autonomia.
(ARANTES, 2006, p. 4)
Por meio das atividades voltadas às crianças com até 12 anos de idade, o cotidia-
no dessas instituições realizava uma série de atividades ligadas a artes plásticas,
danças e jogos da cultura popular – atividades implementadas pelos primeiros
professores civis de educação physica do estado de São Paulo.
Na capital de São Paulo, para a elite, entretanto, o ensino público ou a pre-
ocupação com a formação de crianças alfabetizadas se deu objetivamente a partir
de 1889, quando foi fundado o Jardim de infância da Praça da República – Caeta-
no de Campos –, uma escola cujo cotidiano e cujo currículo eram semelhantes aos
que temos hoje em dia. Nessa escola, para ambos os sexos eram oferecidas aulas
de idioma pátrio, noções de aritmética, atividades ao ar livre e aulas de gynástica,
ministradas por professoras formadas e competentes, mas essa oferta se destinava
apenas aos meninos e meninas da elite paulistana (ARANTES et al., 2001).
A partir dessa informação, podemos perceber a maneira velada pela qual se
praticava a diferenciação? De certa forma, podemos pensar na possibilidade de
exclusão social baseada na classe econômica ou no gênero?
Por certo a resposta é afirmativa. Porém, embora de maneira morosa e ain-
da não completa, o processo de educação formal no Brasil, a partir da década de
1960, tem buscado atender a todas as classes. Esse movimento pela democrati-
zação do ensino público deu um salto significativo a partir dos anos 1970, com a
promulgação da Lei 5.692/71.
Com a implementação dessa segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, ocorreu a ampliação do contingente de crianças na escola. No entanto,
falando em exclusão, essa lei não considerava a Educação Infantil como parte da
responsabilidade do Estado – portanto, excluindo da educação formal todos os
brasileiros com menos de seis anos de idade.
Atualmente, estamos na vigência da terceira Lei de Diretrizes e Bases, a Lei
9.394, publicada em dezembro de 1996. A partir dela, o processo de escolarização
da criança brasileira inicia-se quando ela nasce e é “abrangida” pela Educação
Infantil (a creche e a pré-escola). Aos seis ou sete anos de idade, esse aluno em
estágio inicial passa a ser atendido pelo Ensino Fundamental. Aos 14 anos, ele
segue para o Ensino Médio, composto de três ou quatro séries. No final da ado-
lescência, escolhe o curso de graduação – Ensino Superior – nas diferentes áreas
do conhecimento.
Temos então o que os especialistas chamam de integração vertical do en-
sino e que representa um ganho, pois favorece a articulação e a integração dos
diferentes níveis de escolarização, além de reparar os equívocos cometidos em sé-
culos passados, quando não se incluía a criança da primeira infância no processo
de Educação Básica.
No entanto, precisamos fazer algumas indagações.
Será que estamos realmente atendendo todas as crianças, em especial
aquelas que não estão dentro do padrão de normalidade esperado?
Como têm sido analisados tópicos, tais como os ligados ao gênero e às
deficiências física e mental?
126
As aulas de Educação Física e o processo de inclusão e integração
No entanto, essa prática, ao que sabemos, não tem sido cumprida, apesar de
todos os esforços empreendidos pela sociedade até o presente momento.
De acordo com os autores, a partir de 1989, com a publicação das Diretrizes
Curriculares do Ensino Fundamental, o Brasil adotou como princípio da educação
a garantia dos direitos e deveres da cidadania, a política da igualdade, a solidarie-
dade e a ética da identidade.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), instrumento oficial do siste-
ma da escola pública brasileira, também reforça, fomenta e favorece as discussões
sobre projetos educativos que se encaminhem na direção de uma escola plural,
sugerindo metodologias inclusivas, conclamando o pensamento dos interessados
para uma instituição mais democrática, cooperativa – sobretudo quando apresenta
os eixos ou temas transversais ética, saúde, orientação sexual, trabalho e consumo
(o que é próprio de cada comunidade e gênero) e a pluralidade cultural historica-
mente determinada.
Entretanto, as recomendações legais e dos estudiosos precisam tornar-se
uma prática mais consistente. Essa prática só poderá ocorrer quando todas as
pessoas estiverem comprometidas com um projeto cuja tônica esteja centrada no
processo de ensino-aprendizagem fundamentado no respeito às diferenças, na
solidariedade e na real compreensão da visão de totalidade (sentir, pensar e ex-
pressar-se), além de considerar como um dado relevante a história dos indivíduos
127
As aulas de Educação Física e o processo de inclusão e integração
abarcando as questões de gênero, que muitas vezes não têm sido avaliadas com a
devida atenção.
Sobre a ação educativa e as oportunidades segundo o gênero, é interessante
refletir sobre o parágrafo escrito pelo Núcleo de Estudos da Mulher e das Rela-
ções Sociais de Gênero (Nemge), órgão vinculado à Universidade de São Paulo e
coordenado pela professora Dulcília H. S. Buitoni:
[...] mulheres e homens possuem, é evidente, diferentes bagagens biológicas. O uso do
corpo, suas possibilidades e limitações, não obstante, têm sido e são objeto de condiciona-
mentos de gênero. Estes condicionamentos chegam a confundir o cultural com o “natural”
(UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 1996, p. 14).
Definição de gênero
Gênero, segundo Scott (apud SOUSA; ALTMANN, 1999, p. 2), é “uma
construção social que uma cultura estabelece, elege, em relação a homens e mu-
lheres”. Essa relação parece reger e ao mesmo tempo refletir e/ou reforçar a cons-
trução social entre homens e mulheres que se estabelece ao longo do tempo.
Didaticamente, é uma forma usual para identificar comportamentos e com-
preender as complexas conexões que se estabelecem a partir da visão dos papéis
que as pessoas devem cumprir, de forma a ir ao encontro do papel socialmente
aceito – por exemplo, menina usa cor-de-rosa e brinca com boneca, enquanto me-
nino usa azul e joga bola desde cedo.
Assim sendo, desde que nascemos, escutamos os familiares e professores,
dando conselho sobre o modo de ser e de agir, incluindo nessas recomendações o
código de comportamento corporal que vai da percepção e da apreciação à ação.
Bourdieu (apud SOUSA; ALTMANN, 1999, p. 2) explicita que “as dife-
renças socialmente construídas acabam sendo consideradas naturais, inscritas no
biológico e legitimadoras de uma relação de dominação”.
Para reforçar essa afirmação, soma-se a de Bordo (apud SOUSA; ALTMANN,
1999, p. 2), que, escrevendo sobre esse tema, explicita:
[...] por meio da organização e da regulamentação de nossas vidas, nossos corpos são
treinados, moldados e marcados pelo cunho das formas históricas predominantes de indi-
vidualidade, desejo, masculinidade e feminilidade.
Uma sociedade é formada por indivíduos que passam por indivíduos que
passam por esses crivos, expectativas e submissões de ordem política, religiosa,
socioeconômica etc. Podemos arriscar a pergunta: alguém pode (ou não) fazer
parte de um grupo porque possui ou não determinados atributos? É possível redi-
recionar essa forma de pensar por meio da atuação do professor?
Por certo a escola reflete a ideologia sexual que é dominante na sociedade
ou é praticada na comunidade. Essa ideologia aparece nas diferentes situações
da escola de maneira velada. Mas muitas vezes, nas aulas de Educação Física, as
atividades propostas podem produzir e reforçar preconceitos e discriminações,
inviabilizando o trabalho de coeducação pretendido pelo docente e pelo proje-
128
As aulas de Educação Física e o processo de inclusão e integração
A coeducação nas
aulas de Educação Física
Essa situação de perceber e de negar-se trabalhar com o outro sexo inicia-
-se nos alunos por volta dos nove anos de idade, quando surgem os primeiros
sinais claros das questões de gênero, comportamento e desempenho nas aulas de
Educação Física. Cabe lembrar que, a partir dessa faixa de idade, o movimento e
os gestos já se apresentam mais refinados e precisos, por certo evidenciando um
nível de habilidade até então não revelado aos colegas.
Apesar das diferenças advindas da própria natureza ou dos estímulos do
meio, não se pode excluir ou deixar de realizar a atividade planejada somente
porque o exercício privilegia uns ou porque a tarefa a ser realizada é vista como
inadequada aos olhos da comunidade, ou ainda porque os pais irão intervir forte-
mente de modo a retirar o conteúdo pensado pelo docente. De acordo com Sousa
e Altmann (1999), as aulas de Educação Física, na concepção atual, devem ser
oferecidas a todos.
Ainda que existam fortes traços culturais, as aulas de Educação Física, na
versão da coeducação, devem estar a serviço de uma nova forma de pensar, sentir
e praticar o movimento, tendo em vista uma sociedade plural, solidária, tolerante,
que respeita e compreende as diferenças, mas nem por isso deixa de ampliar por
meio das diversas atividades o acervo motor, ao mesmo tempo em que dissemina
aspectos ligados aos valores de ordem socioafetiva:
[...] não se pode concluir que as meninas são excluídas de jogos apenas por questões
de gênero, pois o critério de exclusão não é exatamente o fato de elas serem mulheres,
mas por serem consideradas mais fracas e menos habilidosas que seus colegas. (SOUSA;
ALTMANN, 1999, p. 4)
129
As aulas de Educação Física e o processo de inclusão e integração
130
As aulas de Educação Física e o processo de inclusão e integração
132
As aulas de Educação Física e o processo de inclusão e integração
133
As aulas de Educação Física e o processo de inclusão e integração
Brincadeiras e brinquedos são práticas muito sérias, pois funcionam como ensaios gerais da
vida adulta. Precisamos entender que as atividades lúdicas, além de agradáveis, possibilitam que
a criança e/ou o adolescente, de forma prazerosa, incorpore atitudes positivas quanto às relações
de gênero.
(UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 1996, p. 20)
134
As aulas de Educação Física e o processo de inclusão e integração
Pense nas seguintes questões (baseadas em UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 1996, p. 20):
Desencorajo a competição, como grupos, entre as meninas e os meninos?
Propicio oportunidades de práticas esportivas para meninos e meninas em igualdade de con-
dições?
Reforço nos meninos e nas meninas os sistemas de valores e justiça?
Intervenho quando as meninas, ao trabalharem em grupo com os meninos, são relegadas a
papéis estereotipados, tais como secretárias e empregadas?
Oriento as meninas para a prática de todas as atividades, incluindo os esportes?
Chamo a atenção para o fato de que meninos e meninas não devem formar grupos monolíticos?
O trabalho que tenho realizado com os alunos e alunas tem sido cooperativo?
1. Proponha uma atividade física em que haja a discussão dos papéis definidos por gênero (por
exemplo, o futebol): que características são socialmente aceitas para os homens e são necessá-
rias para a prática do futebol – virilidade, força física, espírito de competição e de grupo, por
exemplo?
Agora, escolha uma atividade para meninas – por exemplo, a dança. O que se observa na reali-
zação da atividade e o que de fato é esperado socialmente – graça, leveza, suavidade, controle
de movimentos?
Seria possível inverter as atividades propostas? Quais seriam os pontos positivos e os pontos
negativos? Seria possível alterar esse perfil?
ARANTES, Ana Cristina. Corpo Feminino: ideário e atividade física na São Paulo modernista.
2006. Disponível em: <www.anacrisarantes.pro.br>.
_____. Os conteúdos das aulas de educação física para portadores de necessidades especiais. In:
_____. Educação Física: alguns textos selecionados sobre o estado da arte. 2005. Disponível em:
<www.anacrisarantes.pro.br>.
135
As aulas de Educação Física e o processo de inclusão e integração
136
A Educação Física e
a interdisciplinaridade
Ana Cristina Arantes
Segundo o autor, “nesta etapa da vida, esta criança divide-se entre um cor-
po que apenas lhe sustém a sobrevivência, através do movimento, e uma mente
que trabalha com os processos cognitivos” (GONÇALVES, 2004, p. 53). A partir
dessa afirmação, parece não haver preocupação em considerar que o processo de
crescimento não se dá dissociado do processo de desenvolvimento humano.
Ao se tratar de forma dicotômica – aulas teóricas em classe e aulas práticas,
como as de Educação Física ou Educação Artística, o professor concorre para que
não ocorra a promoção do autoconhecimento, da auto-organização, da interação
com o ambiente e o desenvolvimento das capacidades e habilidades requeridas
pela escola. Diga-se de passagem que, quanto menos idade tiver o estudante, pela
própria natureza da estrutura de seu pensamento, mais precisará do movimento
corporal para a construção do referencial pessoal, para a formação do conceito do
mundo físico e para o estabelecimento de conceitos sobre as relações sociais.
138
A Educação Física e a interdisciplinaridade
As questões: tenho um corpo ou sou um corpo? O que faço com ele? O que
ele me permite praticar? Aonde este corpo me leva? também são favorecidas pela
atividade motora – ou seja, pelo movimento.
As sensações, a motricidade
e a formação de conceitos
No segundo período (pré-operatório) e no terceiro (operatório concreto –
PIAGET, 1972), a criança possui alguns dados arquivados a partir das experiências
anteriores. O conhecimento acerca da característica dessas fases é muito impor-
tante, pois elas correspondem respectivamente ao período da Educação Infantil e
aos quatro primeiros anos do Ensino Fundamental – ou seja, o nosso aluno, objeto
da nossa ação educativa. Não possuir o conhecimento necessário significa, muitas
vezes, agir ou tentar ensinar assuntos com estratégias inadequadas. Assim sendo,
os aspectos conceituais são muito importantes e apoiam a nossa prática cotidiana.
Percebendo o mundo e estabelecendo as relações dessa maneira, a criança –
nosso aluno – chega à instituição de Educação Infantil e posteriormente ao Ensino
Fundamental. Os estudantes das primeiras séries chegam às nossas mãos possuin-
do o que Le Boulch (1986, p. 69) denominou corpo vivido ou, conforme a proposta
de Gallahue, fase rudimentar do movimento humano. Para ambos os autores, o
aluno de Educação Infantil com idade entre quatro e seis anos possui algumas e
importantes referências sobre a sua identidade. Possui também uma maneira ainda
bem tosca de solucionar todos os problemas, incluindo os de ordem motora.
O pequeno acervo de informações advindas da experiência irá se ampliando
gradualmente e, se a criança receber estímulos adequados – que lhe proporcionam o
meio ambiente, a família, a escola e os poucos amigos –, esse conjunto de conheci-
mentos poderá, a cada dia, ampliar a sua rede de conhecimentos de maneira infinita.
É o corpo humano (e o movimento), mormente na primeira infância, que
facilita a obtenção de informações acerca do mundo ao redor. A partir do movi-
mento, a criança desenvolve e amplia o conhecimento formado pelos conceitos
do mundo concreto. Concomitantemente, inicia-se o processo de estruturação das
noções espaço-temporais, tão importantes para a organização do seu eu como
ser participante do mundo. Esse mundo físico que a rodeia favorece o processo
seguinte e, em uma infinita acumulação de informações, faz a criança chegar à
adolescência e ao pensamento abstrato (ARANTES, 2005, p. 37).
Portanto, a partir das experiências que o corpo proporciona, a criança testa,
avalia e toma consciência de seus limites e capacidades e essa realidade é válida
para todas as situações, inclusive para o tempo em que permanece na escola com
seu professor. Observe a grande integração intrínseca entre o movimento e a es-
truturação do pensamento.
139
A Educação Física e a interdisciplinaridade
O significado do movimento
para os idosos: uma prática cuja
ideia se inicia na escola
Para as pessoas da terceira idade, o movimento representa uma forma de
manutenção da tão propalada qualidade de vida. Particularmente nesse período,
as pessoas se movimentam sobretudo para se aproximarem dos demais, fugindo
da solidão e do isolamento.
140
A Educação Física e a interdisciplinaridade
Movimento e cultura
Exercitado nas diversas fases da vida humana, o movimento pode ser apren-
dido e sistematizado. Pode assumir feições e expressões que a cultura determina
e valoriza; assim sendo, uma prática é ou não adequada e aconselhável a este ou
àquele gênero ou classe social.
Dessa maneira, o jogo, a dança, a ginástica, a luta e o esporte têm sido
considerados manifestações culturalmente construídas pela humanidade. Como
produto histórico, sendo uma criação coletiva socialmente elaborada e manifesta,
devem ser respeitados tal como se apresentam – o que cabe também para as prá-
ticas planejadas e exercitadas inclusive na educação formal, uma questão de ética
e de pluralidade cultural.
O movimento e as aulas de
Educação Física na concepção atual
Somos, em última análise, produto de um longo processo histórico. Alguns
aspectos desse processo referem-se aos nossos organismos, corpos, movimentos,
adaptações e atos de exploração. Essa realidade tão evidente nos dias de hoje, de-
veria ter sido considerada por todas as disciplinas escolares, mormente nas aulas
de Educação Física.
142
A Educação Física e a interdisciplinaridade
143
A Educação Física e a interdisciplinaridade
144
A Educação Física e a interdisciplinaridade
145
A Educação Física e a interdisciplinaridade
1. Pense em uma atividade articulada aos outros componentes curriculares e tente ligá-la também
aos temas ou eixos transversais.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. A educação física como cultura corporal. In: _____.
Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/SEF, 1997, p. 26-31.
146
Avaliação: definição,
importância, interfaces
e outras considerações
Ana Cristina Arantes
Quando falamos em avaliar, no fundo estamos pensando em mecanismos de retenção e/ou
de promoção dos nossos estudantes. Embora muita gente não se dê conta, o critério de aprovação
está intimamente ligado a aspectos que quase sempre são considerados irrelevantes.
No entanto, a partir da análise dos textos de Darido (1998) e de Freire (1999), pode-se in-
ferir que a pedagogia informal e a formal, a propagação, a transferência das ideias e, em última
instância, a modificação das condutas humanas sofrem influências provenientes de uma multipli-
cidade de valores – a qual pode ser considerada sob dois pontos de vista.
O primeiro desses pontos de vista está ligado aos itens relativos aos aspectos macroestrutu-
rais, que têm como centro irradiador a filosofia, a economia da sociedade e o momento histórico
que a comunidade e o aluno estão vivendo, por exemplo.
O segundo está ligado aos assuntos e à percepção de ordem microestrutural, ao pedagogo,
ao professor e sua característica maneira de pensar sobre sua existência, sobre a formação pesso-
al e profissional, sobre a sua função – a de professar a fé e o seu trabalho.
E o docente também é marcado por sua maturidade pessoal e profissional – a maneira como
o docente percebe a formação das pessoas sob a sua responsabilidade, como ele se percebe nesse
extenso processo de educar e de aprender.
Com alguma constância, o professor se indaga:
– Por quê?
– Para quê?
– Como eu faço para ensinar ou desenvolver esse item do programa?
– De que tipo de parâmetro filosófico posso me valer para embasar os meus planos de ensi-
no e implementar as minhas aulas?
Todos esses questionamentos, cada um por si, podem representar um tipo de ação, uma
escolha de estratégias diferentes e essas estratégias por certo levarão o estudante a valorizar
aspectos diferenciados em situação semelhantes.
Portanto, se esses tópicos e a forma de ação docente que os acompanha não fossem relevan-
tes aclarados no plano de ensino do professor e discutidos por todo o corpo docente, sem dúvida
todos os aprendizes exibiriam comportamento semelhante, pois haveria uma única receita para
ensinar e aprender e, evidentemente, isso não ocorre.
Dessa maneira, corroboramos Freire (1999, p. 72), que, a respeito da intencionalidade e da
clareza de propósitos, escreve que “cada escola [e seus professores] deve ter os seus princípios
para a comunidade interna, e para a rede se [a escola] for pública”. 147
Avaliação: definição, importância, interfaces e outras considerações
Abordagem humanista
Com o passar dos séculos, os estudos sobre a pedagogia revelaram ou-
tras tantas formas para os atos de ensinar e de aprender, dando origem a novas
abordagens – entre outras, as denominadas humanistas, que são centradas no
ensino não diretivo.
As diversas abordagens humanistas apoiam-se nas correntes que per-
cebem o ser humano como dotado de inteligência, sensibilidade e história.
Seu grande inspirador é Rousseau, que – defendendo a natureza intrínseca da
criança – escreveu que seria melhor formar um homem antes de formar um
profissional cuja vida e cuja importância ficassem restritas apenas ao exercício
da profissão. Infere-se que o papel da educação, incluindo a escolar, é o de
ampliar o acervo cultural das pessoas e do aluno, respeitando o seu processo
de desenvolvimento.
149
Avaliação: definição, importância, interfaces e outras considerações
Corrente construtivista-interacionista
Esta abordagem se opõe à linha tradicional, cujo mote é representado pelo
desempenho máximo por parte do aprendiz. A corrente construtivista valoriza os
aspectos cognitivos, motores e afetivos dos alunos – e tais aspectos são provenien-
tes das experiências significativas anteriormente praticadas. Assim, consideram-
-se as diferenças individuais, sem, entretanto, classificar ou selecionar os mais
hábeis – daí a possibilidade da inclusão e da integração de todos os indivíduos nas
atividades propostas pelo professor.
No ambiente formal, a instituição que adota esta vertente preocupa-se com
a apreensão do conhecimento e, se possível, faz com que essas informações trans-
formadas em conhecimento sejam uma aquisição permanente e em contínuo pro-
cesso de assimilação e acomodação (PIAGET, 1978) do sujeito frente ao mundo
físico e social. Essa postura é adotada por se entender que a inteligência e o pen-
samento processam a informação de forma continuada, formando “redes neurais”
(MACHADO, 1994, p. 17).
Dessa forma, as experiências devem ser adequadamente “provocativas”, de
modo que o aprendiz seja continuamente levado a constatar a veracidade dos fa-
tos, a investigar e estar sempre buscando solução para o problema proposto pelo
docente em atitude de pesquisa. Essa forma de pensar e de agir por analogia pode
ser estendida para todas as situações da vida.
O comportamento inadequado ou que ainda não é maduro deve ser pecebi-
do como algo que faz parte do processo de ensinar e de aprender e que, de certa
forma, revela o grau de desenvolvimento daquele que aprende. Assim percebida,
a aprendizagem pode ser considerada um constante ir e vir, um processo de cons-
trução permanente, pois a todo momento o aluno está aprendendo e, portanto,
pode ampliar, refazer, retomar, reformular e apresentar um comportamento mais
elaborado, mais completo ou amadurecido.
Dessa maneira, a avaliação não deve se restringir a provas centradas ape-
nas no resultado e na medida expressa em números cujo valor é extrínseco ao
indivíduo por ser um valor-padrão proveniente de estudos mais amplos. As novas
tendências recomendam que, para se emitir um juízo de valor, a avaliação deve
ser ampla e processual, como observa a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei 9.394/96). Sobre esse tema, o seu artigo 24: “a avaliação contínua
e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos
sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais
provas finais” (SÃO PAULO, 1996, p. 18).
150
Avaliação: definição, importância, interfaces e outras considerações
Aspectos cognitivos
Como ele se expressa?
De que tipo de vocabulário se utiliza?
Como constrói a sua comunicação com os outros?
Apresenta uma linguagem adequada e inteligível?
Compreende as tarefas solicitadas com facilidade?
Precisa de muitos exemplos e explicações para executar as tarefas?
151
Avaliação: definição, importância, interfaces e outras considerações
Aspectos socioafetivos
Concorda em dividir tarefas?
Aceita liderança?
Aceita opiniões que lhe são contrárias?
Discute as ideias sem agredir os outros?
Aceita ajuda alheia?
Demonstra ser uma pessoa cooperativa ou competitiva quando o traba-
lho deve ser feito em grupo?
Entende e pratica a hierarquia de funções?
Oferece ajuda a quem necessita?
Aspectos motores
Os exercícios estão dentro do nível da classe?
As tarefas são executadas com facilidade ou dificuldade?
Assume com entusiasmo os riscos propostos?
Cria novas formas a partir dos dados que possui?
Consegue combinar duas ou mais formas de execução?
Apresenta adequada autonomia durante a prática ou precisa de ajuda
constante?
A avaliação integral do
aluno na visão interdisciplinar
As aulas de Educação Física servem também como suporte para outras
disciplinas. Se assim avaliamos o nosso aluno, o processo de ensinar e de apren-
der se dá durante o percurso e não fica restrito ao aspecto motor.
Como o professor estará atento a todas as manifestações dos alunos e coti-
dianamente os conhece, parece não haver necessidade de se marcar um dia para
a prova dos discentes. Visando a uma educação integral, os estudantes estarão
sendo avaliados em todos os momentos e em todos os aspectos (cognitivo, so-
cioafetivo e motor), como propõe a Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9.394/96).
O modelo desenvolvimentista
Fundamentada nas linhas da psicologia experimental, a abordagem de-
senvolvimentista busca o “enquadramento” individual dentro de um padrão. A
partir de um patamar teórico e sob sua égide, experimentam-se (valendo-se de
protocolo defensável), analisam-se e se estabelecem níveis esperados de com-
portamento (somente) motor para a idade (reflexo, rudimentar, fundamental,
combinado e culturalmente determinado).
Assim como os degraus de uma escada, as habilidades devem se tornar
progressivamente mais complexas conforme o grau de maturidade e a expe-
riência vivida. Há intensa preocupação por parte do educador em estabelecer
programas e planos adequados à aprendizagem do movimento e, para tan-
to, devem-se incluir as avaliações formais e processuais, como indica a Lei
9.394/1996, para aquilatar a aprendizagem das habilidades motoras de loco-
moção, estabilidade e manipulação (GALLAHUE, 1982; TANI et al., 1988).
O desenvolvimento das capacidades físicas e motoras também represen-
ta algo importante quando se planeja a ação pedagógica. Para que o objetivo
seja atingido, o educador pode se valer de conteúdos tais como a ginástica,
o jogo, a luta, a dança e o esporte. O treinamento ou a automatização, como
explicam Grecco e Benda em Iniciação ao Esporte Universal (1990), é visto
como uma estratégia para aqueles alunos já inseridos e respondendo segundo
as características do período operatório formal, alunos a partir da 5.a série do
Ensino Fundamental.
Na Educação Física escolar, para as séries iniciais, a variabilidade de ex-
periências – incluindo materiais, intensidade, duração e frequência das tarefas
– deve ser uma situação cotidiana. O professor deve atuar como um investi-
gador atento. O estilo de ensino pode ser assumido dependendo do momento
(da instrução ou comando até a solução de problemas). Entretanto, o mais
adequado é que, sem tolher a iniciativa dos educandos, favoreça ou veja ser
favorecida e valorizada a iniciativa da prática do movimento com segurança.
Quanto ao processo de inclusão e integração que deve fazer parte dos
anseios do docente, esse modelo não tem a preocupação de explicar como isso
154
Avaliação: definição, importância, interfaces e outras considerações
155
Avaliação: definição, importância, interfaces e outras considerações
156
Avaliação: definição, importância, interfaces e outras considerações
b) Como faria quando um aluno domina a atividade e não permite a participação dos demais?
157
Avaliação: definição, importância, interfaces e outras considerações
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