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DIREITO
NITERÓI-RJ.
2020.1
ADRIANA PIMENTA REZENDE
NITERÓI-RJ.
2020.1
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
2.DESENVOLVIMENTO
A dignidade da pessoa humana pode ser descrita como o valor supremo a ser
buscado pela Carta Magna e por todo o sistema normativo, e como sendo um
princípio primordial do qual sucedem todos os outros direitos fundamentais. Sendo
assim, é possível perceber que este é de extrema importância para a proteção do
indivíduo, visto que vai contra discriminação de qualquer natureza, seja de raça, cor,
etnia, classe social, religião, entre outros.
É neste princípio que se constitui um dos cruciais alicerces argumentativos
para proteger os vários tipos de relações no âmbito familiar, necessitando ter a sua
escolha respeitada, sendo obrigação do Estado lhes assegurar a devida assistência.
• Casamento;
• União estável;
• Monoparental (formada pelo(a) filho(a) e apenas um dos pais);
• Mosaico, multiparental, recomposta ou pluriparental (composta por
membros provenientes de outras famílias);
• Parental ou anaparental (todos possuem vínculo sanguíneo);
• Eudemonista (união de indivíduos por afinidade);
• Homoafetiva;
• Homoparentalidade (família homoafetiva com a adoção de filhos);
Sendo assim, fica claro que a família, como pilar da sociedade, deve ser
protegida, independente de como se deu a sua origem, logo, a proteção decorrente
do ordenamento jurídico se estende integralmente a qualquer grupo familiar
existente.
2PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais norteadores do direito de família. 2.ed. São
Paulo: Saraiva, 2012, p.194-195.
5
Isto posto, fica claro que “liberdade” é a palavra que norteia tal princípio, visto
que seu objetivo fundamental é assegurar às famílias a livre capacidade de se
constituir.
Visa assegurar que o menor “seja ouvido”, que este tenha seus direitos e
interesses priorizados tanto pela sociedade quanto pelo Estado. Sendo assim, todas
as decisões que forem tomadas pelos pais ou responsáveis em relação à vida do
menor devem ter como parâmetro o seu bem-estar, sendo obrigado o judiciário a
intervir quando necessário, para fazer valer tal princípio
.
3 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p.65.
6
Tendo em vista toda essa importância que o menor passou a ter para o
direito, tendo seus direitos e interesses priorizados em relação aos outros membros
da família, a Constituição Federal de 1988 dispõe que:
4 MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente:
aspectos teóricos e práticos. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p.77.
5 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Artigo 227. Disponível em:
Vale recordar que por um longo tempo os filhos eram diferenciados tendo em
vista o estado civil de seus pais. Se um filho fosse concebido fora do casamento, ele
era considerado “ilegítimo”, muitas vezes fruto de um adultério, logo, não possuía os
mesmos direitos que um filho gerado dentro de um casamento, o chamado filho
“legítimo”. Não havia qualquer igualdade entre eles, apenas discriminação.
7VELOSO, Zeno. Direito Brasileiro da Filiação e Paternidade. 1.ed. São Paulo: Malheiros, 1997, p.86.
8
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 23.ed. São Paulo: Saraiva,
2008, p.27.
8
2.2 DA FILIAÇÃO
9
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: famílias. 4. ed. rev.,
ampl. e atual. Bahia: Jus Podivm, v. 6, 2012, p.133.
10
LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p.199.
11
SANCHES, Helen Crystine Corrêa; VERONESE, Josiane Rose Petry. Dos filhos de criação à
filiação socioafetiva. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012, p.67.
9
Além disso, existia uma forte discriminação em relação aos filhos que eram
concebidos fora do casamento, eram chamados de ilegítimos e estes não possuíam
os mesmos direitos que os filhos “legítimos”, uma vez que aquele que era filho
“ilegítimo” não tinha direito ao reconhecimento da paternidade, à proteção, ao
patrimônio e muito menos ao amor daquele “pai”.
12
LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p.200.
13
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2008, p.479.
10
14
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. 2. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2010, p.538.
15
FUJITA, Jorge Siguemitsu. Filiação. 2. ed. São Paulo: Atlas S.A., 2011, p. 63.
11
Este vínculo sanguíneo pode ser comprovado através do Exame de DNA, que
possui um grau de confiabilidade bem alto, 99,9% de certeza. Este exame contribui
tanto para o Direito de Família, que o STJ em sua Súmula nº 301 dispõe que:
16 PINTO, Carlos Alberto Ferreira. Reprodução assistida: inseminação artificial homologa post mortem
e o direito sucessório. Disponível em: <https://www.recantodasletras.com.br/textosjuridicos/879805>.
Acesso em: 15 fev. 2020.
17 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 301. Disponível em:
<https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2011_23_capSumula
301.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2020.
18 CANEZIN, Claudete Carvalho; EIDT, Frederico Fernando. Filiação socioafetiva: um passo do direito
ao encontro com a realidade. Manaus: Revista Síntese Direito de Família, 2012, p.13.
12
Tendo em vista a evolução que ocorreu no Direito de Família, resta claro que
não se pode mais estabelecer a filiação tendo como pilar apenas o vínculo
sanguíneo, uma vez que o afeto é a base de qualquer relação familiar.
A filiação socioafetiva não deriva do elo biológico e sim do afeto e da convivência
familiar. É resultado do respeito mútuo, da vontade e do amor desenvolvido ao com
o passar do tempo, no dia a dia, baseando-se no afeto, pouco importando se há um
elo sanguíneo.
Quando se usa o termo “outra origem”, há uma abertura para que a filiação
socioafetiva seja reconhecida, fundamentada na posse do estado de filho,
equiparando-a com a filiação biológica na definição da parentalidade.
19
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais norteadores do direito de
família. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 215.
20
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil 2002. Artigo 1.593. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 19 fev. 2020.
13
Nunca foi tão fácil descobrir a verdade biológica, mas essa verdade
tem pouca valia frente à verdade afetiva. Tanto assim que se estabeleceu a
diferença entre pai e genitor. Pai é o que cria e dá amor, e genitor é
somente o que gera. Se durante muito tempo por presunção legal ou por
falta e conhecimentos científicos confundiam-se essas duas figuras, hoje é
possível identificá-las em pessoas distintas.22
Tal instituto nada mais é do que alguém usufruir do status de filho em relação
à outra pessoa, independente do vínculo sanguíneo ou da realidade legal. Neste
caso, fica caracterizada a posse de estado de filho uma vez que estiverem
presentes, concomitantemente, os seus requisitos básicos, sendo eles: o trato, fama
e o nome.
21 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial. REsp 1000356 SP. Terceira Turma.
Recorrente: N V DI G E S. Recorrido: C F V. Relator: Min. Nancy Andrighi. São Paulo, 25 de maio de
2010. Disponível em: <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/14318607/recurso-especial-resp-
1000356-sp-2007-0252697-5>. Acesso em: 19 fev. 2020.
22
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2009, p.331.
14
como seus pais), nomen (a pessoa porta o nome de família dos pais) e
fama (imagem social ou reputação: a pessoa é reconhecida como filha pela
família e pela comunidade; ou as autoridades assim a consideram). Essas
características não necessitam estar presentes, conjuntamente, pois não há
exigência legal nesse sentido e o estado de filiação deve ser favorecido em
caso de dúvida. 23
23
LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p.217.
24
SANTOS, Eduardo dos. Direito de Família. Coimbra: Almedina, 1999. p.459-460.
15
25
DISTRITO FEDERAL. Apelação Cível: 20150510068078. Rel. Romulo de Araújo. Julgamento em
02 set. 2015. Publicação em 11 set. 2015. Disponível em:
16
2.3 DA MULTIPARENTALIDADE
<https://tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/231587105/apelacao-civel-apc-20150510068078>.
Acesso em: 20 fev. 2020.
26
SHIKICIMA, Nelson Sussumu. Sucessão dos ascendentes na multiparentalidade - Uma lacuna a
ser preenchida. Revista ESA. Formatos Familiares Contemporâneos, 2014, p.73.
17
qualquer outra prova (pela presunção que o registro traz em si) todos os
direitos decorrentes da relação parental.30
Cabe ressaltar que o art. 227 da Carta Magna de 1988 estabelece que é
dever, primeiramente da família, assegurar aos filhos o direito à vida, saúde,
educação, alimentação e todos os demais direitos que pertencem aos cidadãos.
Ademais, o art. 1.694 do Código Civil dispõe sobre o pedido de alimentos.
Vale destacar que essa obrigação não será imposta para qualquer padrasto
ou madrasta cujo enteado resida no mesmo local. O fato destes serem casados com
os ascendentes biológicos não os torna responsáveis pela prestação de alimentos,
uma vez que essa é uma obrigação dos pais, e na falta deles, de outros parentes.
Apenas será caracterizada a obrigação de prestar alimentos àqueles que realmente
exercerem função de pais, no caso em que a multiparentalidade foi reconhecida e o
nome consta no registro de nascimento da criança ou na hipótese em que a posse
do estado de filho está caracterizada.
Portanto, fica claro que todas as decisões no que diz respeito à guarda
deverão ser pautadas no melhor interesse da criança, decisões estas que
necessitam de estudos a serem realizados por uma equipe multidisciplinar, uma vez
que vários aspectos precisam ser levados em consideração. Atualmente são cada
vez mais comuns decisões que utilizam como critérios decisivos a afetividade e a
afinidade, como constata-se na decisão a seguir:
35BRASIL. Lei n. 8.069 de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Artigo 3°.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 25 fev. 2020.
22
Caso haja concordância entre os pais, poderá haver a divisão dos encargos,
garantindo a aproximação da criança com todos os seus pais e garantindo uma
ampla participação na vida desta.
Além disso, existe o direito de visita, que está previsto no art. 1.589 do Código
Civil e assegura que:
Art. 1.589. O pai ou a mãe, em cuja guarda não estejam os filhos, poderá
visitá-los e tê-los em sua companhia, segundo o que acordar com o outro
cônjuge, ou for fixado pelo juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e
educação.37
Sendo assim, ambos os pais têm direito à visita, não cabendo distinção entre
biológicos e afetivos. O fato é que o pai afetivo do filho da pessoa com quem havia
convivido, não deve cortar os laços formados com a criança, visto que tal ruptura
poderia gerar um efeito negativo na formação da personalidade do menor.
36 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação cível n° 2005.042066-1. Rel. Des. Sérgio Izidoro
Heil. Disponível em: <http://tjsc.jus.br>. Acesso em 26 fev 2020.
37 BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil 2002. Artigo 1.589. Disponível em:
Sendo assim, fica evidente que, na hipótese em que uma criança possua um
pai biológico e um pai socioafetivo e ambos exercendo a função de pai, esta criança
será herdeira necessária de ambos os pais. Entretanto, há uma complicação no que
diz respeito ao reconhecimento da multiparentalidade, caso esta seja apenas um
meio para tirar proveito patrimonial, isto é, puramente em virtude ao interesse
financeiro.
É que seria possível ao filho socioafetivo buscar a determinação de
sua filiação biológica, apenas, para fins sucessórios, reclamando a herança
de seu genitor, muito embora não mantenha com ele qualquer vinculação,
ou, sequer, aproximação. Ademais, poder-se-ia, com isso, fragilizar o
vínculo socioafetivo estabelecido, permitindo uma busca inexorável do
vínculo biológico. Até porque a concepção familiar que decorre da filiação
não permite escolhas de ordem meramente patrimonial. 40
estabelece em seu art. 16 que “Toda pessoa tem direito ao nome, nele
compreendidos o prenome e o sobrenome.”41
Sendo assim, uma vez reconhecida a paternidade socioafetiva, a criança
deve receber o nome patronímico em seu registro de nascimento, uma vez que é o
sobrenome que indica o pertencimento de uma pessoa à determinada família.
41
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil 2002. Artigo 16. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 03 mar. 2020.
42 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais
2011 p. 130.
25
43
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Apelação Civel 00051202220118260363. Rel. Carlos Alberto
Garbi. Julgamento 18 mar 204. Publicado 19 mar 2014. Disponível em: <www.tjsp.jus.br>. Acesso em
03 mar 2020.
44
BRASIL. Lei 8.560/1992, de 29 de dezembro de 1992. Artigo 5°. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8560.htm>. Acesso em: 03 mar. 2020
26
3.CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 6. ed. São Paulo : Saraiva, 2015.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 23.ed. São
Paulo: Saraiva, 2008, p.27.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: famílias.
4. ed. rev., ampl. e atual. Bahia: Jus Podivm, v. 6, 2012, p.133.
LÔBO, Paulo. Direito civil : famílias. 6. ed. São Paulo : Saraiva, 2015, p.199.
SANCHES, Helen Crystine Corrêa; VERONESE, Josiane Rose Petry. Dos filhos de
criação à filiação socioafetiva. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012, p.67.
LÔBO, Paulo. Direito civil : famílias. 6. ed. São Paulo : Saraiva, 2015, p.200.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2008, p.479.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. 2. ed. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p.538.
FUJITA, Jorge Siguemitsu. Filiação. 2. ed. São Paulo: Atlas S.A., 2011, p. 63.
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil 2002. Artigo 1.593.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso
em: 19 fev. 2020.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5. ed. rev. atual. e ampl. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 331
LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p.217.
BRASIL. Lei n. 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Código Civil 2002. Artigo 1.694.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso
em: 23 fev. 2020.
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil 2002. Artigo 1.589.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso
em: 26 fev. 2020.
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil 2002. Artigo 16.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso
em: 03 mar. 2020.
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 8. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais 2011 p. 130.