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EPIDEMIOLOGIA E

PROCESSO SAÚDE-
DOENÇA

Autoria: Patricia Ferreira de Paula

1ª Edição
Indaial - 2020

UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Jairo Martins
Marcio Kisner

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2020


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

P324e

Paula, Patricia Ferreira de

Epidemiologia e processo saúde-doença. / Patricia Ferreira de


Paula. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.

117 p.; il.

ISBN 978-65-5646-060-4
ISBN Digital 978-65-5646-061-1
1. Doenças. - Brasil. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 616.8

Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO...........................................................................07

CAPÍTULO 1
Processo Saúde-Doença.........................................................7

CAPÍTULO 2
Epidemiologia Básica..............................................................43

CAPÍTULO 3
Distribuição, Frequência e os Fatores Determinantes dos
Diferentes Problemas de Saúde..........................................77
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo à disciplina de Epidemiologia e Processo
Saúde-Doença. Neste Livro Didático, será evidenciada uma experiência incrível
na aprendizagem dessa abordagem tão importante para a área de Saúde e de
Ciências Biológicas, devido aos conceitos a respeito das inúmeras doenças e
agravos à saúde que assolam o mundo, permitindo a realização das medidas de
promoção de saúde, prevenção e controle contra tais aspectos. Nesse sentido,
serão abordados os ressurgimentos de doenças previamente consideradas como
já extintas, como é o caso do sarampo, bem como o recrudescimento de outras,
como a tuberculose pulmonar, a febre amarela e a malária. Será tratado também
o aparecimento das recentes doenças na humanidade, como o zika, o ebola e o
novo coronavírus, surgido na China.

No Capítulo 1, serão apresentados e discutidos os conceitos de epidemiologia


relacionados às definições de saúde, doença, doenças infecciosas e doenças
não infecciosas. Serão também apresentadas doenças ou agravos à saúde que
assolaram ou assolam a humanidade.

No Capítulo 2, esta disciplina lhe permitirá compreender os principais


conceitos da epidemiologia e os seus diferentes e desafiantes aspectos relativos à
saúde da população mundial. Além disso, você conhecerá os principais marcos da
história da epidemiologia, permitindo, assim, compreender melhor a importância
ao longo dos períodos da história de vida da humanidade e do Brasil.

No Capítulo 3, serão apresentadas e discutidas as medidas de frequência


de diferentes doenças e agravos à saúde, os quais são relevantes no cenário da
saúde mundial atual. Haverá um destaque para se compreender de maneira mais
efetiva acerca dos diferentes fatores determinantes de uma doença ou agravo à
saúde.

Objetivamos que essa temática se inclua nas principais aplicações da área


da saúde e nos diferentes serviços de saúde no mundo e no Brasil. Esperamos,
ainda, que aprendam muito com a disciplina e que percebam a sua importância no
cenário do processo saúde-doença mundial.
C APÍTULO 1
PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Entender os conceitos de doença e de saúde e assim como se dá o processo


saúde-doença.

 Correlacionar o processo saúde-doença com a epidemiologia.

 Entender o processo saúde-doença e seus conceitos relacionados com sua


epidemiologia.
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

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Capítulo 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Durante muito tempo, ao longo da história da humanidade, diversas doenças
dizimaram milhares de pessoas, causando a devastação de várias cidades.
Nesse sentido, muitas dessas doenças foram fatais, como grandes epidemias
retratadas durante a Idade Média.

Epidemias: doenças que se disseminam de forma inesperada e


rápida, atingindo um grande número de indivíduos simultaneamente
(ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003).

De acordo com relatos, é de conhecimento cada vez maior essa relação


antiga entre as diferentes doenças e o homem. Em 2010, por exemplo,
pesquisadores do Egito, da Alemanha e da Itália anunciaram que o jovem faraó
Tutancâmon teria, em 1324 a.C., aos 19 anos de idade, tido uma infecção grave
de malária (FOLHA DE SÃO PAULO, 2010).

A conclusão foi obtida através de uma pesquisa detalhada realizada na


múmia do jovem faraó (Figura 1) que incluiu a análise de seu DNA (ácido
desoxirribonucléico), sendo que esta análise possibilitou aos pesquisadores
verificarem a presença de genes do Plasmodium falciparum, protozoário que é o
agente biológico causador da malária na África (FOLHA DE SÃO PAULO, 2010).

Agente biológico: são todos os tipos de vírus, bactérias, fungos


e parasitas.

Este relato, de acordo com os pesquisadores, constitui na mais antiga evidência


genética numa múmia com datação precisa (FOLHA DE SÃO PAULO, 2010). Dessa
forma, podemos concluir que convivemos com agentes biológicos há mais de 2000
anos. A forma como conduzimos estudos sobre a área da saúde está cada vez mais
sofisticada e específica, aprimorando conhecimentos sobre diferentes doenças e
permitindo ações de saúde mais efetivas e eficazes contra elas.

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Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

FIGURA 1 − DETALHE DO MINISSARCÓFAGO USADO PARA


ABRIGAR AS VÍSCERAS DO FARAÓ TUTANCÂMON

FONTE: <https://m.folha.uol.com.br/ciencia/2010/02/695068-malaria-pode-
ter-matado-tutancamon-sugere-dna.shtml>. Acesso em: 28 jun. 2020.

Na verdade, toda vez que se pensa em relações, a palavra evolução vem


à tona, junto ao célebre princípio formulado de que se não for à luz da evolução
nada na biologia terá sentido (SANT’ANNA et al., 2004). Pode se observar, então,
uma evolução, em que se pode constatar um processo dinâmico entre saúde
e doença, junto às transformações enormes e significativas que as sociedades
sofreram e, assim, os conceitos de saúde e de doença foram se modificando
também.

Mas, afinal, o que é doença? Como ela se manifesta? Quais aspectos


importantes são necessários para isso? O que é saúde? Quais conceitos são
importantes conhecer para compreender melhor tanto a saúde quanto a doença?
Quais medidas de promoção à saúde, prevenção e controle podem ou devem
ser tomadas para a melhoria da saúde da população como um todo? Muitas
questões levantadas já podem ser respondidas através de avanços das ciências
da saúde, principalmente ciências básicas da área de Saúde Pública, como é o
caso da epidemiologia, que, diferentemente da clínica, estuda o processo saúde
e doença em nível populacional, fornecendo, assim, ferramentas para o estudo de
informações de saúde de uma determinada população.

De acordo com a epidemiologia, temos ainda vários conceitos importantes


relacionados ao estudo e à distribuição de fatores de risco, de proteção ou de
determinantes, que se caracterizam por influenciar ou não no desenvolvimento de
diferentes doenças ou agravos à saúde. Dessa forma, a epidemiologia se baseia
num raciocínio causal entre os diferentes fatores e as doenças, havendo ou não
associação entre eles.

Através dos estudos epidemiológicos, pode-se determinar quais são os


grupos de risco para determinada doença e, assim, permitir que sejam adotadas
Medidas de Promoção, Prevenção e Controle das doenças nesses grupos, bem
como na população como um todo.
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Capítulo 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

Outro aspecto importante do uso da epidemiologia na Saúde Pública, de um


modo geral, é ser instrumento para a tomada de decisões em Políticas Públicas
relacionadas à saúde de uma determinada população. Dessa maneira, pode-se
citar, por exemplo, o acompanhamento diário pela Vigilância Epidemiológica da
pandemia do novo coronavírus; muitos estados brasileiros têm tomado a decisão
de manter os já conhecidos e identificados grupos de risco para o desenvolvimento
da doença em casa, como idosos, pacientes com comorbidades, como doenças
cardiovasculares e diabetes, e pacientes imunodeprimidos. Dessa forma, diminui-
se a possibilidade de contágio entre esses indivíduos, principalmente porque são
os mais vulneráveis ao desenvolvimento da forma mais grave da doença por
terem o sistema imunológico mais comprometido.

Pandemia: tipo de epidemia que é caracterizada pela ocorrência


em larga distribuição espacial, atingindo vários países ao mesmo
tempo.

Atualmente, a epidemiologia é a principal ciência de informações sobre


dados de saúde e doença de uma determinada população em uma casa, bairro,
cidade, estado, país e mundo.

2 INTRODUÇÃO
A epidemiologia é considerada o eixo da Saúde Pública, ou seja, a peça-
chave no estudo das informações de saúde (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003).
Sobre aspectos relacionados à Epidemiologia, podemos destacar o fato deste
estudo:

• proporcionar bases sólidas para a adoção de medidas de promoção,


prevenção e controle das doenças;
• fornecer pistas para o efetivo diagnóstico de doenças infecciosas ou não
infecciosas;
• verificar a consistência de hipóteses de causalidades entre diversos
fatores e doenças, ou seja, identificar se diferentes fatores (de risco, de
proteção ou determinantes da doença) estão associados efetivamente
com as doenças ou não;
• estudar a distribuição da morbidade (doença) e mortalidade, objetivando
traçar o perfil do processo saúde-doença nas populações;
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Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

• realizar testes da eficácia e inocuidade de vacinas;


• desenvolver a Vigilância Epidemiológica;
• analisar fatores determinantes das doenças, como socioeconômicos e
ambientais.

Essas funções permitem que a epidemiologia tenha um papel fundamental


na Saúde Pública, sendo muito útil às tomadas de decisões das autoridades de
saúde. Já é comprovado que os estudos epidemiológicos contribuíram muito para
o aperfeiçoamento da saúde e dos conceitos relativos às diferentes doenças.

3 DEFINIÇÃO DE DOENÇA
A letra da música “O Pulso”, do grupo musical Titãs, apresentada a seguir, foi
composta na década de 1980, no entanto, sua temática é extremamente atual. A
música constata o quanto diferentes doenças assolaram e assolam nossas vidas,
influenciando a história humana e a modificando ao longo dos tempos.

Analise a música do grupo Titãs chamada “O Pulso”, com


composição de Arnaldo Antunes, Toni Belloto e Marcelo Fromer.
Para ouví-la acesse ao link: https://www.youtube.com/
watch?v=PH3kNbvjN9E

O Pulso

O pulso ainda pulsa


O pulso ainda pulsa

Peste bubônica, câncer, pneumonia


Raiva, rubéola, tuberculose e anemia
Rancor, cisticercose, caxumba, difteria
Encefalite, faringite, gripe e leucemia

E o pulso ainda pulsa (pulso)


(Pulso)
O pulso ainda pulsa (pulso)
(Pulso)

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Capítulo 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

Hepatite, escarlatina, estupidez, paralisia


Toxoplasmose, sarampo, esquizofrenia
Úlcera, trombose, coqueluche, hipocondria
Sífilis, ciúmes, asma, cleptomania

E o corpo ainda é pouco


O corpo ainda é pouco
Assim

Reumatismo, raquitismo, cistite, disritmia


Hérnia, pediculose, tétano, hipocrisia
Brucelose, febre tifoide, arteriosclerose, miopia
Catapora, culpa, cárie, cãibra, lepra, afasia

O pulso ainda pulsa


E o corpo ainda é pouco

Ainda pulsa
Ainda é pouco

[...]

FONTE: <https://www.letras.mus.br/titas/48989/>. Acesso em: 28 jun. 2020.

Antes de falarmos sobre as diferentes doenças, é necessário compreender o


conceito dessa palavra. Doença vem do latim dolentia, padecimento, e é definida
como uma condição anormal do organismo que interfere em suas funções
corporais, estando associada a sintomas específicos.

A doença também pode ser definida como um desajustamento ou falha


nos mecanismos de adaptação do organismo ou uma ausência de reação aos
estímulos. O processo conduz a uma perturbação da estrutura ou da função
de um órgão, de um sistema ou de todo o organismo e das funções vitais
(ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003).

Temos ainda o conceito de doença quando geralmente tem causas


conhecidas, sinais e sintomas específicos bem característicos delas. É fato que
há uma complexidade inerente à definição de doença, visto que ela se apresenta
de várias formas como sendo apenas um determinado agravo à saúde, como
alguma sequela devido a um acidente ou às chamadas síndromes.

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Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

As síndromes podem ser classificadas como uma condição que ainda não
tem causa bem definida ou, ainda, por provocarem um conjunto de sinais e
sintomas que ocorrem ao mesmo tempo de causas variadas, assemelhando-se a
uma ou várias doenças. Apresentam-se aqui alguns exemplos de síndromes bem
conhecidas como Síndrome de Down e Síndrome de Turner.

Apesar da AIDS ter o nome de Síndrome de Imunodeficiência


Adquirida, ela não é considerada uma síndrome propriamente dita,
pois ela possui sinais e sintomas específicos e causa bem definida.

Existem vários tipos de doenças e seus diferentes conceitos, neste Livro


Didático serão apresentados e discutidos alguns considerados importantes no
ponto de vista epidemiológico. Na perspectiva do mecanismo etiológico, ou seja,
causador de determinada doença, as doenças podem ser classificadas em dois
tipos (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003):

• Doenças infecciosas: causadas por um agente biológico ou etiológico,


como vírus, bactérias, fungos ou parasitas.
• Doenças não infecciosas: a priori, não são causadas por agentes
biológicos ou agentes etiológicos.

4 DOENÇAS INFECCIOSAS
A doença infecciosa é sempre resultado de interações entre o hospedeiro
(local que se desenvolve o agente biológico), o agente biológico ou infeccioso
(por exemplo, determinada bactéria) e do meio ambiente (por exemplo, água
contaminada) (GORDIS, 2017).

Hospedeiro: homem ou outro animal vivo que ofereça, em


condições naturais, subsistência ou alojamento a um agente
infeccioso (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003).

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Capítulo 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

Dessa forma, temos algumas possibilidades de agentes biológicos,


etiológicos ou infecciosos, que são todos referentes ao mesmo conceito, ou
seja, podem ser responsáveis por causar uma doença infecciosa. Os agentes
biológicos conhecidos são:

1) Vírus (Figura 2).


2) Bactérias (Figura 3).
3) Fungos (Figura 4).
4) Parasitas (Figura 5).

Os vírus são os únicos seres vivos que não possuem células, sendo
considerados seres intracelulares obrigatórios, ou seja, necessitam entrar em
células dos diferentes hospedeiros para se desenvolverem. Alguns autores nem
os consideram seres vivos por não possuírem células, mas há autores que os
defendem como seres vivos devido à capacidade intrínseca de multiplicar seu
material genético. São seres microscópicos e medem menos que 0,2 µm e são,
basicamente, formados por uma cápsula protéica e material genético, podendo
ser DNA (ácido desexirribonucléico), RNA (ácido ribonucléico) ou os dois juntos.

Temos vários tipos de vírus com importância na Medicina e na Saúde


Pública por causarem doenças bem conhecidas, como o vírus HIV, causador da
AIDS (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida), ou o novo coronavírus, surgido
recentemente na história da humanidade e que é causador da COVID-19.

Veja, a seguir, a sugestão de cinco filmes para fazer uma


reflexão sobre a COVID-19: https://atarde.uol.com.br/cinema/
noticias/2125155-confira-5-filmes-que-vao-te-fazer-refletir-sobre-a-
pandemia-do-coronavirus

Temos ainda inúmeros vírus causadores de doenças, tais como:

• o vírus do sarampo;
• vírus de um resfriado comum (Rinovírus);
• vírus da gripe (Influenza);
• vírus da dengue;
• vírus do zika;
• vírus do ebola.

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Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

FIGURA 2 − VÍRUS CAUSADOR DE DOENÇA INFECCIOSA: SARAMPO

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/3d-
illustration-measles-virus-1178059438>. Acesso em: 28 jun. 2020

Já as bactérias são organismos unicelulares (apresentam uma única célula)


e microscópicos, ou seja, medindo cerca de 0,2 µm a 1,5 µm. Além disso, são
seres procariontes, ou seja, não possuem membrana nuclear envolvendo seu
material genético.

Temos bactérias que são benéficas ao meio ambiente, como as responsáveis


pela decomposição de nutrientes e algumas que vivem no interior de nossos
intestinos, a chamada flora intestinal, que auxilia na digestão de alimentos. No
entanto, daremos destaque às bactérias causadoras de doenças, as quais têm
importância para o processo saúde-doença, tais como:

• Mycobacterium tuberculosis (causador da tuberculose).


• Mycobacterium leprae (causador da hanseníase).
• Clostridium tetani (causadora do tétano).
• Vibrio cholerae (causador do cólera).

FIGURA 3 − BACTÉRIA CAUSADORA DE UMA DOENÇA INFECCIOSA

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/enterobacteriaceae-
gramnegative-rodshaped-bacteria-part-intestinal-1042543318>. Acesso em: 28 jun. 2020

Os fungos são seres vivos eucariontes, ou seja, possuem membrana


nuclear e podem, ainda, ser uni ou pluricelulares. Especialistas apontam que

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Capítulo 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

existem cerca de 1,5 milhões de espécies de fungos no mundo, havendo tanto


aqueles utilizados para a culinária, como alguns cogumelos, como os que são
considerados importantes para a saúde, pois causam conhecidas doenças, tais
como:

• Micoses: infecções causadas por fungos que atingem a pele, as unhas e


o cabelo.
• Frieiras: caracterizadas pelo surgimento de bolhas e rachaduras na pele.
• Candidíase: infecção que ocorre geralmente na área genital, causando
coceira, secreção e inflamação no local atingido.
• Histoplasmose: infecção que afeta os pulmões causando inflamações.

FIGURA 4 − EXEMPLO DE UM FUNGO CAUSADOR DE DOENÇA INFECCIOSA

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/penicillium-ascomycetous-
fungi-major-importance-natural-747671938>. Acesso em: 28 jun. 2020.

Os parasitas são organismos que vivem na superfície ou no interior de outro


organismo (o hospedeiro) para poder se nutrir do metabolismo com o intuito de
não levá-lo a óbito e, assim, viver às custas do hospedeiro, como muitos parasitas
que interagem com os seres humanos. Dessa forma, o parasita é beneficiado e o
hospedeiro é prejudicado.

FIGURA 5 − EXEMPLO DE PARASITA CAUSADOR DE DOENÇA INFECCIOSA

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/parasitic-infection-
intestine-3d-illustration-showing-1029343966>. Acesso em: 28 jun. 2020

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Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

Existem inúmeros parasitas, mas aqui citaremos alguns com importância


para a saúde, tais como:

• Carrapatos.
• Piolhos.
• Amebas.
• Lombrigas.
• Giardia.
• Tênia.
• Esquistossomo.

Os agentes biológicos apresentados, quando infectam, nem sempre


interagem diretamente com o hospedeiro, sendo importante a interação com o
meio ambiente também, formando a chamada tríade epidemiológica (Figura 6).

FIGURA 6 − TRÍADE EPIDEMIOLÓGICA MOSTRANDO A INTERAÇÃO


DO AGENTE BIOLÓGICO COM O HOSPEDEIRO E A POSSÍVEL
NECESSIDADE DA INTERAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE

FONTE: A autora

A Tríade Epidemiológica leva em consideração o meio ambiente, que pode


ser fatores físicos, como temperatura, umidade, altitude; e os fatores sociais,
como aglomeração no domicílio, acesso à alimentação, água tratada, poluição do
ar, entre outros.

No entanto, para que essa interação resulte em doença, o hospedeiro


deverá ainda ser suscetível, característica esta que, por sua vez, é resultante
de uma série de fatores que incluem desde fatores genéticos até características
nutricionais e imunológicas do hospedeiro (GORDIS, 2017).

De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS, 2010a),


em 1983, a doença infecciosa foi definida como a doença que se manifesta
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Capítulo 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

clinicamente no homem ou em animais, resultante de uma infecção, ou seja,


penetração e desenvolvimento ou multiplicação de um agente infeccioso no
organismo de um indivíduo ou um animal. Por sua vez, agente infeccioso ou
agente etiológico vivo é aquele microrganismo capaz de produzir infecção ou
doença infecciosa.

No entanto, a infecção não é sinônimo de doença, pois pode ocorrer infecção


sem que haja o desenvolvimento de doença (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003).
Um bom exemplo dessa condição é o que acontece no caso da infecção com o
Mycobacterium tuberculosis, em que aproximadamente 90% dos casos infectados
não desenvolvem a doença, ou seja, apenas 10% dos indivíduos infectados com
o Mycobacterium tuberculosis desenvolverão a tuberculose pulmonar (PAULA,
2008).

Dessa forma, fica claro que as interações entre diferentes agentes


biológicos, hospedeiros e meio ambiente são resultadas das relações
coevolutivas estabelecidas e reestabelecidas entre eles ao longo do tempo,
considerando assim diversas gerações e levando em conta a hereditariedade
também. Para melhor entendimento dessa coevolução será apresentado um
breve histórico das doenças infecciosas com alguns conceitos importantes
derivados da epidemiologia.

5 BREVE HISTÓRICO DAS DOENÇAS


INFECCIOSAS
As doenças infecciosas acompanham o homem desde o início de
sua história, mas provavelmente ele passou a ser reservatório natural
de microrganismos e parasitas, ou seja, passou a permitir que os agentes
infecciosos vivessem e se multiplicassem em seus organismos, de forma que
possibilitasse a sua transferência a um hospedeiro suscetível, quando começou
a viver em grupos, formando aglomerados populacionais. Essa condição permitiu
que os agentes infecciosos se mantivessem em circulação contínua, sendo
transmitidos de pessoa para pessoa (SATCHER, 1995; WALDMAN, 2001).

A ampla disseminação das doenças infecciosas foi possível com o


crescimento da população humana e o desenvolvimento de diferentes civilizações
(SATCHER, 1995; WALDMAN, 2001). Desde então, existem vários relatos ao
longo da história da humanidade que revelaram a importância das doenças
infecciosas na vida humana, promovendo impactos não só na economia, como
também em sua estrutura demográfica (WALDMAN, 2000).

19
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

Existem muitos exemplos de epidemias que foram significativas na história


humana, mas aqui serão apresentadas algumas que merecem destaque.
É possível citar as pestes apresentadas na Bíblia e durante a Idade Média, a
gripe espanhola, em 1918, e, mais recentemente, a pandemia da AIDS e do
novo coranavírus, doenças infecciosas que têm aparecido e reaparecido de
forma a desafiar a Saúde Pública e a comunidade científica por todo o globo
(ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003).

Essas epidemias foram tão significativas ao longo da história humana


que muitas delas foram retratadas em obras de arte bem conhecidas e, assim,
puderam ser perpetuadas para não nos esquecermos desses eventos tão
aterrorizantes e devastadores. Além disso, muitos desses quadros retratam o
quanto as epidemias eram vistas como castigo dos deuses raivosos, isto devido
ao ser humano não ter agido de forma adequada de acordo com preceitos
religiosos das épocas retratadas.

Durante a Idade Média, a Igreja Católica perseguiu muitas minorias


religiosas, como judeus, os quais foram levadas à Fogueira da Santa Inquisição
devido à acusação de que eram responsáveis pela Peste (BUSHEY; GINDER;
O'SULLIVAN, 2000). Nesse momento, então, a Igreja tinha o controle das
epidemias ou pandemias e a ciência em si teve pouca intervenção. A Figura 7
retrata a Peste Negra como martírio para os seres humanos da época.

FIGURA 7 − PESTE NEGRA RETRATADA EM 1349 NA


BÉLGICA POR ARTISTA DESCONHECIDO

FONTE: <http://www.artcyclopedia.com/featuredarticle-
2000-11-port4.html>. Acesso em: 28 jun. 2020.

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Capítulo 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

A Peste Bubônica, a forma mais conhecida da chamada Peste Negra, é


sempre mostrada junto a sua imponência em devastar as cidades (Figura 8), uma
vez que durante o século XIV, entre o período de 1347 a 1350, essa doença foi
uma pandemia, responsável por dizimar cerca de 1/3 da população europeia da
época, ou seja, aproximadamente 25-75 milhões de pessoas (BUSHEY; GINDER;
O'SULLIVAN, 2000).

FIGURA 8 − PESTE NEGRA RETRATADA DEVASTANDO


AS CIDADES PELO ARTISTA FLEMISH EM 1562

FONTE: <http://rompedas.blogspot.com/2010/05/hell-
brueghel.html>. Acesso em: 28 jun. 2020

A Peste Negra atingiu não só o continente europeu, mas também a China


e o Oriente Médio, bem como outras regiões do mundo (BUSHEY; GINDER;
O'SULLIVAN, 2000). A Peste Bubônica, responsável por tantas mortes na Idade
Média, era causada pela bactéria Yersinia pestis, transmitida para os seres
humanos através de pulgas presentes em ratos (BUSHEY; GINDER; O'SULLIVAN,
2000). Dessa forma, as condições insalubres de higiene da época, como a falta
de saneamento básico, foram determinantes para o desenvolvimento da doença.

Os primeiros sintomas dessa doença eram dor de cabeça, náuseas, vômito


e dores nas juntas, sendo que dentro de quatro dias após o desenvolvimento
da Peste Negra o indivíduo falecia (BUSHEY; GINDER; O'SULLIVAN, 2000).
Atualmente, a Peste Negra não se encontra totalmente erradicada, ou seja,
a Yersinia pestis ainda persiste em algumas regiões do mundo, havendo, por
exemplo, em 1994, uma epidemia em Surat, Índia. Vários casos anuais, também,
são relatados nos EUA, principalmente no Sudoeste do país, onde a doença é
endêmica em esquilos e pode ser transmitida ao ser humano através das pulgas.
No entanto, nos dias de hoje, existem antibióticos capazes de controlarem a Peste
Negra, evitando a evolução ao óbito.

Outras doenças infecciosas que se destacavam até o século XIX, além da


Peste Negra, eram a tuberculose, a sífilis e a cólera, bem como a diarreia e a
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Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

varíola, que foram epidemias responsáveis por elevadas proporções de óbitos,


mesmo em países desenvolvidos (WALDMAN, 2001).

A Figura 9, a seguir, apresenta uma pintura famosa do pintor norueguês


Edvard Munch, na qual ele retratada a sua própria angústia diante da morte de
sua irmã Sophie, vítima de tuberculose.

FIGURA 9 − EDVARD MUNCH: MORTE NA ENFERMARIA

FONTE: <http://acorona48-melancoliayfelicidad.blogspot.
com/2010/11/hola.html>. Acesso em: 28 jun. 2020

A varíola foi classificada como uma das doenças mais devastadoras da


história da humanidade, segundo a OMS (WALDMAN, 2010). Essa doença foi a
causa de inúmeras epidemias, atingindo e levando ao óbito populações inteiras,
como diversas tribos indígenas brasileiras (WALDMAN, 2010). Ainda no século
XVIII, a varíola foi responsável pela morte de um recém-nascido para cada dez
(1/10) na Suécia e na França e de um a cada sete (1/7) na Rússia. A letalidade,
ou seja, o número de óbitos por indivíduos doentes, era tão elevado que era
uma prática comum dar nome apenas às crianças que sobrevivessem à varíola
(WALDMAN, 2010).

A varíola é causada após a infecção pelo vírus Orthopoxvírus variolae, mas


o aparecimento dos primeiros sintomas clínicos da varíola ocorre, em média,
após 17 dias da infecção (WALDMAN, 2010). Dessa forma, podemos dizer que o
período de incubação da varíola é de 17 dias.

22
Capítulo 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

Período de incubação: período que vai desde o momento


da infecção propriamente dita até o aparecimento dos primeiros
sintomas (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003).

Como principais sintomas da varíola podemos destacar: febre alta, mal-estar,


dor de cabeça, dor nas costas e abatimento. A varíola se apresentava de forma
mais violenta quando a febre baixava e surgiam erupções avermelhadas por todo
o corpo do paciente (WALDMAN, 2010). Com o tempo, tais erupções evoluíam
para as chamadas pústulas (pequenas bolhas repletas de pus) que provocavam
coceira intensa e muita dor (WALDMAN, 2010). Nesse estágio, o paciente poderia
apresentar cegueira decorrente da doença (WALDMAN, 2010).

Até aquele momento não se existia tratamento eficaz contra a varíola, mas
o que já se sabia na época é que os pacientes que contraíssem a forma mais
violenta da doença (varíola major) evoluíam para o óbito, enquanto que aqueles
que contraíssem a forma minor tendiam a sobreviver, mas com grande chance de
apresentar alguma sequela, como cegueira (WALDMAN, 2010).

Atualmente, a varíola é considerada uma doença erradicada, ou seja,


extinta, após a aplicação da vacina em massa por alguns anos e por todo o
globo (WALDMAN, 2010). Por outro lado, existe a ameaça real do uso do vírus
Orthopoxvírus variolae como arma biológica, preocupando os governos de
diferentes países (WALDMAN, 2010).

No século XX, conhecido pelo século de significativas e rápidas


transformações, ocorreram diversas mudanças. Entre essas mudanças podemos
destacar:

• ampliação do saneamento básico;


• melhoria nas condições de nutrição;
• melhoria na área segurança do trabalho da população;
• desenvolvimento da ciência com maior conhecimento dos agentes
infecciosos e suas diferentes etiologias;
• desenvolvimento de novas vacinas e drogas eficazes.

Todos esses aspectos contribuíram para uma diminuição significativa da


mortalidade infantil e elevação da expectativa de vida que, por conseguinte,
proporcionaram o aumento do envelhecimento da população e a modificação na
estrutura demográfica da população, conhecida como transição demográfica.

23
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

Além disso, as transformações ocorridas no século XX proporcionaram uma


diminuição nas taxas de morbimortalidade pelas doenças infecciosas e, por sua
vez, uma elevação da importância relativa das taxas de morbimortalidade por
doenças crônico-degenerativas e neoplasias (cânceres), que são doenças não
infecciosas, sendo essa mudança significativa nesses padrões. Tais modificações
são conhecidas como transição epidemiológica (WALDMAN, 2001).

A partir desse novo contexto, muitos pesquisadores e cientistas renomados


passaram a acreditar na chamada teoria da transição epidemiológica, ou seja,
que as doenças infecciosas estavam praticamente eliminadas e poderiam até
desaparecer do cenário mundial, sendo totalmente erradicadas, principalmente
quando os países atingissem níveis mais elevados de desenvolvimento econômico
e social. Essa teoria estava muito focada na ideia de que as doenças infecciosas
estavam relacionadas quase que exclusivamente com a pobreza (TAYLOR;
KARIM, 2004; WALDMAN, 2001). Além disso, os cientistas que defendiam a
teoria de transição epidemiológica subestimaram bastante a capacidade
de adaptação dos diferentes microrganismos às mudanças do meio ambiente,
incluindo as melhorias da medicina e de procedimentos em saúde em geral.

Apesar disso, não se pode dizer que as doenças infecciosas sumiram do


mapa. Entre 1918 e 1919, uma pandemia de influenza, mais conhecida como
Gripe Espanhola, atingiu aproximadamente 50% da população mundial, sendo
responsável pela morte de mais de 25 milhões de pessoas por todo o globo.
Atualmente, um grande exemplo disso é o surgimento do novo coronavírus,
surgido em dezembro de 2019, na China, que se espalhou por inúmeros países
da Europa, América, África, Ásia e Oceania, atingindo todos os continentes e
sendo considerado, rapidamente, uma pandemia.

A transmissão é via aérea e pode ocorrer quando o indivíduo contaminado


com a COVID-19 fala (através de gotículas da saliva), tosse ou espirra, bem como
poderá ocorrer através de um aperto de mão ou ao ficar em contato próximo com
outro indivíduo. A contaminação poderá ocorrer através do toque em superfícies
contaminadas, como teclados de computador, celular, maçaneta, brinquedos,
entre outros. Como sintomas mais comuns da COVID-19 podemos destacar:

• febre;
• tosse seca;
• cansaço;
• coriza.

24
Capítulo 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

Os sintomas menos comuns são:

• dores e desconforto;
• dor de garganta;
• diarreia;
• conjuntivite;
• dor de cabeça;
• perda do paladar ou olfato;
• erupção cutânea na pele ou descoloração dos dedos das mãos e dos
pés.

Os sintomas mais graves são:

• dificuldade de respirar ou falta de ar;


• dor ou pressão no peito;
• perda de fala ou movimento;
• pneumonia;
• síndrome respiratória aguda grave;
• insuficiência renal.

A maioria dos indivíduos infectados são assintomáticos ou apresentam


os sintomas de leves a moderados da doença e, assim, não precisam ser
hospitalizados.

As prevenções contra o coronavírus são principalmente:

• proteger com máscaras nariz e boca quando for sair de casa;


• lavar as mãos com frequência até o punho com água e sabão
por pelo menos 20 segundos e/ou higienizar com álcool 70%;
• higienizar com frequência superfícies muito utilizadas com
possibilidade de contaminação, como celulares, brinquedos,
teclados etc.;
• manter ambientes limpos e bem ventilados;
• evitar abraços, beijos e apertos de mão;
• evitar sair de casa;
• evitar aglomerações;
• evitar tocar no nariz, boca e olhos;
• não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres,
toalhas, pratos e copos;

25
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

• manter distância segura entre os indivíduos (de dois metros


ou mais);
• identificar os sintomas;
• se tiver sintomas graves, procure imediatamente o médico;
• no Brasil, ligue antes para o número 136 para que seja
possível uma breve avaliação dos sintomas e se será
necessário encaminhar para uma Unidade de Saúde.

O número de casos da doença, bem como o de óbitos, vem aumentando


significativamente a cada dia por todo o mundo desde que foi identificado na
China, em dezembro de 2019. A rápida propagação desse vírus vem sendo uma
preocupação mundial. No dia 31 de janeiro de 2020, cinco países da Europa já
haviam identificado casos da doença.

Leia a notícia a seguir sobre a doença causada pelo


novo coronavírus: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/
noticia/2020/01/30/novo-coronavirus-e-emergencia-de-saude-
internacional-declara-oms.ghtml

A propagação do vírus foi tão rápida que, em 28 de fevereiro de 2020, o


novo coronavírus já estava espalhado por cinco continentes, afetando inclusive a
economia mundial com baixa nas principais bolsas econômicas.

De início, no Brasil, um grupo de 58 brasileiros que estavam em Wuhan (o


epicentro da doença), na China, foram resgatados e ficaram em quarentena na
Base Aérea de Anápolis, Goiás (VEJA, 2020). Esses brasileiros ficaram 14 dias
isolados, considerando o período de incubação médio da doença, e só foram
liberados após três exames resultarem negativo para o vírus.

26
Capítulo 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

Leia na íntegra a notícia sobre a quarentena dos brasileiros


em Anápolis devido ao novo coronavírus: https://veja.abril.com.
br/brasil/brasileiros-que-vieram-da-china-deixam-quarentena-em-
anapolis/

No final de maio de 2020, tem-se a marca mundial de 5.400.608


de casos confirmados de COVID-19, 2.165.782 de casos recuperados
da doença e 344.760 óbitos. No Brasil, dados atualizados mostram
um significativo aumento desde janeiro de 2020 para final de maio
de 2020, com 365.213 de casos confirmados, 149.911 de casos
recuperados e 22.746 óbitos (OPAS, 2020).

Site da OPAS com informações atualizadas do novo


coronavírus: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_
content&view=article&id=6101:covid19&Itemid=875

O site do Ministério da Saúde apresenta informações importantes


sobre o novo coronavírus: https://www.saude.gov.br/

Convidamos você a fazer uma reflexão sobre os termos


relacionados à epidemiologia que foram usados no estudo
das doenças infecciosas, tais como: agente biológico, tríade
epidemiológica, hospedeiro, período de incubação, entre outros.
Vale ressaltar que essas terminologias são específicas às doenças
infecciosas. Verifique se você encontrou algum outro termo não
mencionado.

27
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

1 De acordo com o que foi apresentado sobre a COVID-19, a


OMS declarou que essa doença deve ser considerada estado
de Emergência de Saúde Pública, desde 30 de janeiro de 2020,
ou seja, o mais alto nível de alerta da Organização, conforme
previsto no Regulamento Sanitário Internacional. Considerando
conceitos já apresentados até aqui sobre a Epidemiologia,
para você, o que significa, na prática da área de saúde, essas
declarações da OMS para o mundo inteiro?

No cenário nacional, mais especificamente, outras doenças também se


apresentam em grande destaque atualmente, tais como:

• sarampo;
• dengue;
• tuberculose pulmonar;
• zika.

No Brasil, os casos de sarampo voltaram a surgir com grande impacto,


causando morte em crianças devido, principalmente, à falta de vacinação, que
é de responsabilidade dos responsáveis. Atualmente, o zika vírus tem sido
considerado uma pandemia, por ter se espalhado de maneira rápida e constante
pelo globo. No Sul do Brasil, principalmente no Paraná, os casos de dengue têm
aumentado muito devido essencialmente à falta de cuidado em higienizar os
criadouros das larvas do mosquito, que levam o vírus que causa a dengue para
os diferentes lugares. Dessa forma, aumentaram também os casos de óbito por
dengue.

Você sabia que os cientistas acreditam que o vírus responsável


pela a gripe espanhola esteja relacionado com o vírus H1N1 da gripe
suína?

28
Capítulo 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

Você sabia que doenças como a tuberculose pulmonar ainda


atingem significativamente regiões de pobreza e de superlotação
(grandes centros urbanos), como Nova York, nos EUA, e São Paulo,
no Brasil?

Para entender um pouco mais sobre a propagação das doenças,


indicamos que você, acadêmico, assista ao filme Epidemia, com
direção de Wolfgang Petersen, lançado em 1995.

Leia as indicações do site Agência de Notícias da AIDS sobre


filmes que tratam acerca da HIV: https://agenciaaids.com.br/
noticia/12-filmes-sobre-hiv-e-aids-para-abrir-a-mente/

Após a apresentação e a discussão de diferentes doenças infecciosas,


serão mostradas, a seguir, as doenças não infecciosas e seus mais significativos
exemplos de elevadas taxas e aumentos nos números de óbitos.

6 DOENÇAS NÃO INFECCIOSAS


As doenças não infecciosas ou não transmissíveis vêm crescendo no
cenário internacional e nacional; destacando-se a transição epidemiológica, já
apresentada.

As doenças não infecciosas não necessitam necessariamente de um agente


infeccioso para se desenvolverem. Nesse sentido, existem estudos científicos
que sugerem a participação do agente biológico de algum modo nas doenças não
transmissíveis também. Temos como exemplo o vírus HPV, que tem que estar
presente para ocorrer o câncer de colo de útero.

29
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

Entre essas doenças destacam-se as associadas ao coração, diabetes,


doenças psicossociais, como a depressão, e neoplasias (cânceres).

As doenças não infecciosas são muito mais comuns nos adultos, sendo
principalmente afetadas por fatores de risco, como:

• drogas ilícitas;
• álcool;
• tabagismo;
• dieta alimentar;
• fatores genéticos;
• radiação;
• poluição do ar;
• temperatura;
• estresse;
• viver em ambientes fechados, como presídios e casas de repouso;
• estilo de vida;
• hipertensão;
• raça;
• sexo;
• higiene;
• saneamento básico.

Nesse sentido, temos, por exemplo, o nível de colesterol elevado como fator
de risco para as doenças associadas ao coração. Para melhor entendimento
do cenário de evolução das doenças não infecciosas, será comentado sobre as
principais.

6.1 DOENÇAS CARDIOVASCULARES


As doenças cardiovasculares são um grupo de doenças do coração e dos
vasos sanguíneos. Segundo a OPAS (2017), as doenças cardiovasculares são
a principal causa de óbito no mundo atualmente. Estima-se que 17,7 milhões de
pessoas morreram por doenças cardiovasculares em 2015, por exemplo, o que
representou cerca de 31% de todos os óbitos em nível global. Desses óbitos,
estima-se que 7,4 milhões ocorreram devido às doenças cardiovasculares e 6,7
milhões devido a acidentes vasculares cerebrais (AVCs).

Entre a população com alto risco de ter essas doenças, temos aqueles que
possuem um ou mais fatores de risco, como hipertensão, diabetes, cigarro, álcool,
sedentarismo, dietas inadequadas, sobrepeso, obesidade, glicemia elevada e

30
Capítulo 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

fatores hereditários, no entanto, pode-se citar também fatores socioeconômicos,


como a pobreza. Esse último fator de risco pode ser constatado com a informação
de que mais de três quartos de óbitos por doenças cardiovasculares ocorreram
em países de média ou baixa renda, isto, pois, diferentemente dos indivíduos que
vivem em países de alta renda, países de média ou baixa renda muitas vezes
não têm o benefício de programas integrados de promoção à saúde, prevenção e
controle dessas doenças. Além disso, os acessos aos serviços de saúde tendem
a ser mais precários.

Através de estudos epidemiológicos, foi possível constatar medidas de


prevenção dessas doenças bem acessíveis à população, como não fumar, ter
dietas alimentares saudáveis, fazer exercícios físicos regulares, evitar o uso de
álcool e de drogas ilícitas. Desse modo, as Políticas Públicas de Saúde devem
motivar as pessoas a adotarem e manterem comportamentos saudáveis.

6.2 DIABETES
Diabetes é uma doença caracterizada pela não produção de insulina ou
baixa produção dela pelo pâncreas do indivíduo. A insulina é um hormônio que
regula a glicose no sangue. Dessa forma, a hiperglicemia, ou seja, o aumento de
açúcar no sangue, é o efeito mais comum do diabetes. Os principais sintomas do
diabetes são:

• Poliúria (urinar a toda hora).


• Polidipsia (excessiva sensação de sede).
• Cansaço e falta de energia.
• Perda de peso.
• Polifagia ou hiperfagia (fome frequente).
• Visão embaraçada.
• Cicatrização lenta.
• Infecções frequentes.

Segundo a OPAS (2010b), o diabetes é considerado uma doença crônica


de maior impacto nos gastos de saúde, com o gasto de cerca de 12% do total
de recursos em saúde no mundo todo. Quando mal controlado, o diabetes
traz complicações muito graves ao indivíduo, como cegueira e amputação de
membros.

Alguns dados têm apontado para um número total de casos de diabetes


cada vez maior, sendo que o Brasil se apresenta na oitava posição mundial em
quantidade de pessoas com essa doença.

31
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

O diabetes é a causa de cerca de 5% de todos os óbitos globais por ano e,


por isso, a importância de se entender e estudar essa doença cada vez mais.
Entre os fatores de risco para essa doença se encontram:

• Obesidade.
• Sobrepeso.
• Glicemia elevada.
• Fatores hereditários.
• Inatividade física.
• Dieta alimentar pouco saudável.
• Etnicidade.
• Hipertensão.
• Idade maior que 60 anos.

6.3 DOENÇAS PSICOSSOCIAIS


As doenças psicossociais ou ocupacionais (doenças associadas ao
ambiente de trabalho) são aquelas que se desenvolvem a partir da influência do
contexto social e que afetam diretamente o psicológico do indivíduo, refletindo no
funcionamento do seu organismo biológico.

Essas doenças têm sido apresentadas com um lugar expressivo entre as


principais causas de afastamento do trabalho por todo o mundo, com ascensão
de seus dados de morbidade e de mortalidade. No Brasil, dados levantados
pela OPAS (2016) apontam que cerca de 14% dos benefícios anuais de saúde
utilizados ocorrem por causa dessas doenças, como o auxílio-doença do INSS
(Instituto Nacional do Seguro Social).

Estudos científicos atuais têm apontado que o principal fator de risco para o
desenvolvimento das doenças psicossociais é o stress no trabalho. No entanto,
podemos destacar outros fatores, como:

• Excesso de trabalho.
• Pressão no trabalho.
• Acúmulo no trabalho.
• Insegurança na permanência no trabalho.
• Ambiente de trabalho extremamente competitivo.
• Estilo de vida do trabalhador.
• Fatores genéticos do trabalhador.

32
Capítulo 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

Esses fatores demonstram que o maior número dessas doenças no


cenário mundial consistem em desafios desencadeados pelo avanço industrial,
globalização, desenvolvimento tecnológico, entre outros.

Segundo a OPAS (2016), para se ter medidas mais de efetivas de prevenção


e controle dessas doenças, a política de trabalho apropriada deve ser baseada
nos seguintes princípios éticos:

• Cobrir todas as exposições perigosas dentro do ambiente de trabalho.


• Aplicar normas de bom comportamento, atenção e responsabilidade.
• Incluir abordagens que impeçam comportamentos antiéticos, agindo
sobre eles, caso ocorram.
• Promover a responsabilidade e a prestação de contas de todos no local
de trabalho.

Um aspecto importante a ser ressaltado e que constitui um grande desafio


para a Saúde Pública, tanto no diagnóstico quanto no tratamento, é o preconceito
que muitas pessoas têm em lidar com essas doenças psicossociais, até mesmo
de falar sobre elas, tanto os próprios pacientes, como os familiares, os amigos e
a sociedade.

Um bom exemplo dessas doenças é o esgotamento mental e físico


proporcionado pela Síndrome de Burnot, que pode ainda levar à alteração
no comportamento da pessoa, tornando-a mais agressiva e ansiosa. Outros
exemplos bem conhecidos dessas doenças são a depressão e a síndrome do
pânico.

Como essas doenças apresentadas têm cada vez mais números de casos,
e até mesmo de óbitos, como o acontecimento de suicídios, será feita uma breve
explanação delas a seguir.

6.3.1 Depressão
A depressão é uma doença considerada grave por ser caracterizada por
alterações no humor do indivíduo. Temos dois tipos conhecidos, de acordo com
a OPAS (2018): transtorno depressivo recorrente e transtorno afetivo bipolar. No
caso do transtorno depressivo recorrente, os principais sintomas são:

• tristeza profunda;
• fadiga;
• falta de energia;

33
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

• sonolência excessiva;
• insônia;
• sensação de autodesvalorização;
• sentimento de culpa;
• falta de apetite;
• redução do interesse sexual;
• ansiedade.

Já o transtorno afetivo bipolar é caracterizado por alternância de episódios


de depressão propriamente dita e de mania, separados por períodos de humor
normal. Os episódios de mania são marcados por humor exaltado ou irritado,
excesso de atividades, pressão de fala, autoestima inflada, insônia, bem como a
aceleração de pensamento.

De acordo com a OPAS (2018), a depressão atinge cerca de 300 milhões de


pessoas, de todas as idades, pelo mundo. Com relação aos óbitos por depressão,
788 mil pessoas se suicidaram no mundo em 2015 (G1, 2017). No Brasil, cerca
de 5,8% da população foram diagnosticadas com essa doença.

Leia a seguir uma notícia sobre a depressão:


https://g1.globo.com/bemestar/noticia/depressao-cresce-no-
mundo-segundo-oms-brasil-tem-maior-prevalencia-da-america-
latina.ghtml

Ela é a principal causa de incapacidade do indivíduo pelo mundo, podendo


causar um grande sofrimento ao indivíduo e disfunção no trabalho, na escola, no
núcleo familiar ou, até mesmo, no ato de fazer atividades domésticas simples.

A depressão é resultado de uma complexa interação de fatores sociais,


psicológicos e biológicos. Como medidas de controle, indica-se sessões de
psicoterapia frequentes e, em casos moderados ou mais graves, o uso de
medicamentos. Além disso, atividade física e uma alimentação saudável
contribuem para o tratamento adequado dessa doença.

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Capítulo 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

Para mais informações sobre depressão acesse: https://saude.


gov.br/saude-de-a-z/depressao

6.3.2 Síndrome do pânico


A síndrome do pânico é um tipo de transtorno de ansiedade caracterizado
por crises inesperadas de medo, insegurança e desespero, aparentemente sem
qualquer risco real. Essas crises provocam sintomas físicos e psicológicos. Entre
os sintomas físicos temos:

• palpitações de aceleramento cardíaco;


• suores intensos;
• calafrios ou ondas de calor;
• tremores;
• formigamentos;
• sensação de falta de ar ou asfixia;
• náuseas;
• dores ou desconforto no peito ou no tórax;
• tonturas e vertigens.

Os sintomas psicológicos mais comuns são:

• medo de perder o controle;


• medo de enlouquecer;
• medo de morrer;
• sentimento de estar em perigo;
• sensação de bloqueio mental;
• desrealização e despersonalização das pessoas e coisas;
• angústia;
• sensação de transtorno de ansiedade generalizada;
• medo de ter outro episódio.

Estima-se que 280 milhões de pessoas no mundo sofrem com essa doença.
No Brasil, são cerca de 6 milhões de casos (PORTAL EXPANSÃO, 2017).

35
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

Para mais informações a respeito da síndrome do pânico


acesse: https://zenklub.com.br/sindrome-do-panico/.

Acadêmico, foram apresentadas algumas das doenças psicossociais que


são muito expressivas no mundo, tanto em número de casos quanto de óbitos. No
entanto, temos muitas outras que têm surgido no cenário mundial.

6.4 NEOPLASIAS
A neoplasia, mais popularmente conhecida como câncer, é o nome dado a um
conjunto de mais de 100 doenças. Existem tipos de câncer para cada órgão do corpo,
como pulmonar, faríngeo, de bexiga, de cabeça, entre outros. Essas doenças têm
em comum o crescimento desordenado de células que invadem diferentes tecidos e
órgãos, podendo se tornar tumores malignos, se espalhando por outras áreas do corpo
através de metástase. Nesse sentido, há também os tumores benignos, que são como
uma massa de células que crescem em uma velocidade mais lenta que os malignos.

Os fatores de risco para essas doenças são multifatoriais, desde fatores hereditários
(genéticos) até o estilo de vida, como o hábito de fumar e a dieta alimentar irregular.

1 Analise as sentenças a seguir e classifique V para as


sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Segundo a OPAS, as doenças cardiovasculares são a principal


causa de óbito no mundo atualmente.
( ) O diabetes é caracterizado pela não produção de endorfina.
( ) As neoplasias constituem cerca de mais de 100 doenças.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – V.
b) ( ) V – V – V.
c) ( ) F – F – V.
d) ( ) F – V – F.

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Capítulo 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

7 DEFINIÇÃO DE SAÚDE
Atualmente, a saúde se apresenta como um conceito mais complexo, não
sendo apenas a ausência de doença e sim uma situação de completo bem-
estar físico, mental e social. Para tanto, são acoplados não só conceitos da área
de saúde, mas da área de exatas, como a estatística, e da área de humanas,
como história, sociologia, entre outras. No entanto, até chegar a esse conceito,
a saúde passou a ser estudada e tratada de forma mais ampla com o tempo,
sendo estudada através da ciência como um todo. Entre esses estudos temos a
epidemiologia com seu papel fundamental, uma peça-chave, visto que ela estuda
o processo saúde-doença em nível populacional.

O conceito de saúde tornou-se muito mais complexo ao acoplar o conceito


de qualidade de vida em sua definição. Se formos pensar sobre a história natural
da doença, é possível analisar que no estado inicial de saúde há uma interação
do organismo sadio com agentes infecciosos ou fatores de risco (um fator que
aumenta a possibilidade de ocorrer determinada doença) que poderão perturbar
a normalidade ou contribuir para a mudança do estado sadio para a doença
propriamente dita (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003).

As primeiras inter-relações sucedem as primeiras perturbações leves, que


podem ser detectadas ao analisar as prevenções, como é o caso do câncer de
mama, que através de seu exame periódico pode ser detectado o tumor e já se
iniciar o tratamento, aumentando a chance de cura.

O estágio inicial é seguido de outros até chegar na doença em estado


avançado. Nesse estágio, as alterações da morfologia são geralmente
irreversíveis, podendo evoluir para a invalidez total ou até para o óbito
(ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003).

8 EPIDEMIOLOGIA E AS DOENÇAS
A epidemiologia, como já abordado, é de grande valia para o estudo do
processo saúde-doença em nível populacional, e até agora já aprendemos
diversos conceitos ligados a ela. No entanto, no decorrer deste Livro Didático,
você aprenderá outros conceitos importantes.

A epidemiologia básica está muito associada a um pensamento causal,


ou seja, que existem fatores, como os de risco, que auxiliam para desencadear
determinada doença. Além disso, ela faz parte de uma disciplina de Saúde Pública
e, com isso, preocupa-se com o desenvolvimento de estratégias para as ações
voltadas à promoção e proteção da saúde da comunidade em geral.
37
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

Para uma definição mais precisa, podemos destacar o estudo da frequência,


da distribuição e dos determinantes dos estados ou dos eventos relacionados
à saúde em específicas populações, bem como a aplicação desses estudos no
controle dos problemas de saúde (GORDIS, 2017).

Estudo: significa, para a epidemiologia, a vigilância


epidemiológica, a observação, a elaboração e o teste de hipóteses e
diferentes estudos epidemiológicos.

Frequência e distribuição: significam a análise dos dados


obtidos segundo características de tempo, espaço e classe dos
indivíduos afetados.

Estados ou eventos relacionados à saúde: incluem doenças,


causas de óbito, comportamento, como o uso de tabaco, adesão a
condutas preventivas e ao uso de serviços de saúde.

Entre as principais aplicações da epidemiologia podemos destacar:

• Identificação, quantificação e caracterização de danos relacionados à


saúde de determinada população.
• Identificação de fatores de risco para determinada doença ou agravo à
saúde.
• Ampliação da informação sobre a história natural de determinada
doença ou agravo à saúde (curso da doença desde o início até a sua
resolução na ausência de intervenção).
• Estimativa da validade e confiabilidade de procedimentos de diagnóstico
e intervenção.
• Avaliação da eficácia/efetividade de um procedimento terapêutico ou
profilático (prevenção).
38
Capítulo 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

• Avaliação do impacto potencial da eliminação de um fator de risco. Por exemplo,


a eliminação do tabagismo como medida de prevenção para o desenvolvimento
de tuberculose pulmonar (WALDMAN, 2010) ou câncer de pulmão.

A epidemiologia também apresenta uma série aplicações nos serviços de saúde.


Uma delas seria as repostas rápidas às diferentes epidemias que assolaram ou assolam
o mundo, como é o recente caso do novo coronavírus. Isto porque, ao identificar, por
exemplo, comportamentos de risco, fica mais fácil agir na prevenção da doença.

Outro item importante também é o monitoramento contínuo dos indicadores de


saúde, como mostra na Figura 10. Dessa forma, a análise da situação de saúde e
de indicadores demográficos permite elaborar diagnósticos das condições de vida de
uma comunidade, servindo de subsídios para o estabelecimento de Políticas Públicas
no setor de saúde e, assim, no caso do Brasil, para o Sistema Único de Saúde (SUS).

A avaliação epidemiológica dos Serviços de Saúde geralmente leva em


conta o acesso de determinada população aos serviços, bem como a cobertura
oferecida, por exemplo, a proporção de crianças vacinadas.

FIGURA 10 − A EPIDEMIOLOGIA APLICADA A SERVIÇOS DE SAÚDE

FONTE: Adaptado de Waldman (2001)

39
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

Em síntese, a Epidemiologia pode ser entendida como fundamentada em


dois propósitos:

I- A doença humana não ocorre aleatoriamente na população.


II- A doença humana tem fatores causais, prognósticos e preventivos que
podem ser identificados por meio de investigações sistemáticas de
diferentes populações e subgrupos de populações em diferentes pontos
no tempo e/ou no espaço.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo, vimos um pouco sobre a importância da epidemiologia e
seus diferentes conceitos que se aplicam para o desenvolvimento de doenças
infecciosas e não infecciosas.

Devido ao aumento dos casos das doenças se manifestando como


epidemias, deu-se ênfase nas doenças infecciosas, apresentando breve histórico
de sua importância através dos tempos, até chegar o que temos atualmente. No
entanto, as doenças não infecciosas também desempenham um papel importante
no conceito saúde-doença, aumentando suas taxas cada vez mais.

REFERÊNCIAS
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bulbonic plague. 2000. Disponível em: http://web.archive.org/web/20000511105433/
richeast.org/htwm/Plague/Plague.html. Acesso em: 5 jul. 2020.

FOLHA DE SÃO PAULO. Malária pode ter matado Tutancâmon, sugere DNA.
2010. Disponível em: https://m.folha.uol.com.br/ciencia/2010/02/695068-malaria-
pode-ter-matado-tutancamon-sugere-dna.shtml. Acesso em: 4 jul. 2020.

G1. Depressão cresce no mundo, segundo OMS. 2017. Disponível em: https://
g1.globo.com/bemestar/noticia/depressao-cresce-no-mundo-segundo-oms-brasil-
tem-maior-prevalencia-da-america-latina.ghtml. Acesso em: 4 jul. 2020.

GORDIS, L. Epidemiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2017.

OPAS. Folha informativa: COVID-19. 2020. Disponível


em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_
content&view=article&id=6101:covid19&Itemid=875. Acesso em: 4 jul. 2020.

40
Capítulo 1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

OPAS. Estresse no ambiente de trabalho cobra preço alto de indivíduos,


empregadores e sociedade.
2016. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content
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Enfermidades (MOPECE). 2010a. Disponível em: https://www.paho.org/bra/
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OPAS. Folha informativa: depressão. 2018. Disponível em: https://www.paho.


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PAULA, P. F de. Fatores associados à recidiva, ao abandono e ao óbito


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41
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

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WALDMAN, E. A. Notas de aula: aula de Epidemiologia dada para Pós-


graduação em Saúde Pública. São Paulo: USP, 2010.

42
C APÍTULO 2
EPIDEMIOLOGIA BÁSICA

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Reafirmar as definições de epidemiologia básica e sua aplicação na área de


saúde e no dia a dia.

 Adquirir uma visão geral dos conceitos relacionados com a epidemiologia


básica.

 Compreender os principais marcos teóricos da epidemiologia básica.


Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

44
Capítulo 2 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
O conceito de Epidemiologia foi explanado no Capítulo 1, possibilitando a
visualização da relação da Epidemiologia com o processo saúde-doença, ou seja,
como eles estão intrinsicamente ligados. A Epidemiologia pode ser considerada
como o eixo da Saúde Pública no mundo e no Brasil, ou seja, ela é a base para
a avaliação de medidas preventivas e de profilaxia, fornecendo pistas para o
diagnóstico de doenças infecciosas e não infecciosas (ROUQUAYROL; ALMEIDA,
2003).

A Epidemiologia também (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003):

• Estuda a distribuição da morbidade e da mortalidade pelas diferentes


doenças, para traçar o perfil saúde-doença nas comunidades humanas.
• Realiza testes da eficácia e da inocuidade de vacinas.
• Desenvolve e aplica a Vigilância Epidemiológica sobre as diferentes
doenças.
• Analisa os fatores ambientais e socioeconômicos que possam ser
considerados fatores de risco para o desenvolvimento de doenças e nas
condições de saúde.
• Constitui um elo de ligação entre a comunidade e o governo, estimulando
a prática da cidadania através do controle, pelos cidadãos dos serviços
de saúde.

Muitas doenças, cujas origens até recentemente não encontravam


explicação, têm tido suas causas esclarecidas através de uma metodologia
epidemiológica, que tem por base o método científico aplicado da maneira mais
abrangente possível a problemas de doenças que ocorrem em nível populacional
(ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003).

A Epidemiologia é considerada uma disciplina viva, em fase de


desenvolvimento e transformação sempre, adaptando-se com o processo saúde-
doença que vai se modificando ao longo do tempo.

Neste capítulo, serão apresentadas mais informações sobre a epidemiologia


com toda a sua importância no contexto da Saúde Pública, bem como os principais
marcos da história da saúde e medicina, os quais se destacaram até termos a
epidemiologia moderna conhecida na atualidade. Além disso, serão também
discutidos seus principais conceitos no processo saúde-doença.

Para melhor entender a relação entre a epidemiologia e o processo saúde-


doença, em nível populacional, se faz importante estabelecer o conceito desse

45
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

processo, que se trata do modo específico pelo qual ocorre o processo biológico
de desgaste e reprodução, destacando os momentos em que há a presença de
um funcionamento biológico diferente (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003).

Ao analisar a distribuição de doenças em uma população e os fatores


que influenciam ou determinam essa distribuição, pensamos em epidemiologia
(GORDIS, 2017). Dessa forma, a principal premissa da epidemiologia é que
a doença não ocorre ao acaso na população, pois cada indivíduo possui
características genéticas, ou que resultaram da interação com o meio ambiente
ao seu redor, que podem predispô-lo ou protegê-lo contra as diferentes doenças.
Nesse sentido, existem indivíduos mais suscetíveis a desenvolver determinada
doença, como é o caso dos idosos, indivíduos imunodeprimidos ou portadores
de doenças crônicas, como diabetes ou pressão alta, para o novo coronavírus.
Devido ao sistema imunológico desse grupo de indivíduos ser menos desenvolvido
ou estar comprometido, essas suscetibilidades os colocam no chamado grupo de
risco. Dessa forma, temos também a premissa de que a doença humana apresenta
fatores causais, prognósticos e preventivos, que podem ser identificados através
de investigações sistemáticas de diferentes populações ou subgrupos em
diferentes pontos no tempo e/ou no espaço.

Indivíduo suscetível: aquele que tem determinada


predisposição para desenvolver determinada doença.

O estudo da epidemiologia considerando pessoa, tempo


e espaço será explanado mais para frente ao abordarmos a
Epidemiologia Descritiva.

É preciso ressaltar que o principal papel da Epidemiologia é providenciar


pistas ao longo do tempo para problemas de Saúde em determinada comunidade,
ou mesmo grupos de indivíduos (GORDIS, 2017). Podemos dar vários exemplos
com relação a esse importante papel da epidemiologia, mas devido à emergência
atual será apresentado sobre o rápido desenvolvimento da pandemia do novo
coronavírus ou COVID-19 pelo mundo e pelo Brasil.

46
Capítulo 2 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA

Antes de mais nada, é necessário relembrarmos os conceitos de epidemia


e pandemia, apresentadas no Capítulo 1, nesse sentido, será apresentada,
também, uma nova definição: endemia.

Epidemias: doenças que se disseminam, de forma inesperada e


rápida, atingindo um grande número de indivíduos simultaneamente.
Pandemias: tipo de epidemia que é caracterizada pela
ocorrência em larga distribuição espacial, atingindo vários países ao
mesmo tempo.
Endemias: tipo de doença habitualmente presente entre os
membros de um determinado grupo, em uma determinada área, ou
seja, em uma população definida.

2 EPIDEMIOLOGIA

Leia um trecho da notícia a seguir sobre a doença causada


pelo novo coronavírus:

Em 11 de março de 2020, a OMS declarou que o novo


coronavírus passou de ser uma epidemia para ser considerada uma
pandemia. Nesses dias, são mais de 118.000 casos da doença em
114 países e 4.291 óbitos registrados pela doença.

FONTE: <https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,oms-declara-
pandemia-de-novo-coronavirus-mais-de-118-mil-casos-foram-
registrados,70003228725>. Acesso em: 8 jul. 2020.

A mudança de epidemia para pandemia possui como ideia principal induzir


os países para que ajam rapidamente, no sentido de se detectar, testar, tratar,
isolar e rastrear os casos do novo coronavírus. No entanto, ainda é ressaltada a
necessidade de a população mundial não entrar em pânico ou terror com relação
a essa doença, mesmo sendo considerada uma pandemia.

47
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

As doenças endêmicas são aquelas que geralmente ocorrem em


determinado lugar ou população, como a febre amarela e a malária que são
comuns na região Norte do Brasil. A seguir falaremos mais um pouco sobre a
epidemiologia e seus conceitos básicos.

1 Sobre a definição de endemia, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Doenças que geralmente ocorrem em determinado local ou


população.
b) ( ) Doença que se espalha em alta velocidade pelo mundo a
fora.
c) ( ) Doença similar às síndromes.
d) ( ) Doenças que também podem ser chamadas de epidemias.
e) ( ) Doenças que também podem ser chamadas de pandemias.

A palavra-chave da epidemiologia é a prevenção e, para tanto, apresenta


como objetivo identificar grupos da população em estudo e observação que se
apresentam com elevado risco de desenvolvimento de determinada doença. Caso
seja possível identificar esses grupos, deve-se identificar fatores ou características
específicas que provavelmente os colocaram no grupo de risco e tentar modificar
esses fatores para uma prevenção adequada (GORDIS, 2017).

É importante salientar que quanto antes for possível evitar o aparecimento


de doenças melhor será sua prevenção. Dessa forma, o grande desafio é ter a
prevenção primária, ou seja, a ocorrência de uma medida de prevenção antes
do desenvolvimento de determinada doença aplicada geralmente na população
sadia. Temos como exemplo a imunização que promove o não desenvolvimento
de determinada doença, como é o caso da varíola. Outro exemplo que se pode
destacar é se a doença é induzida por algum fator do meio ambiente que o indivíduo
vive, podendo ser prevenida, como a radiação associada ao desenvolvimento de
neoplasias.

A prevenção primária pode ser ainda dividida em (ROUQUAYROL;


ALMEIDA, 2003):

• 1º Nível ou Promoção da Saúde: são medidas de ordem geral, como


moradia adequada, construção de escolas e aprimoramento delas,
investimento em áreas de lazer, incentivo à alimentação adequada,

48
Capítulo 2 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA

promoção de saneamento básico à população, entre muitas outras


medidas de prevenção.
• 2º Nível ou Proteção Específica: essa medida de prevenção é
específica, como imunização, saúde ocupacional, higiene pessoal e do
lar, proteção contra acidentes, aconselhamento genético, controle de
vetores, entre muitas outras medidas de prevenção.

A prevenção primária é o objetivo maior da epidemiologia e dos


epidemiologistas que promovem essas medidas na área de Saúde.

Já é comprovado que a maioria dos cânceres de pulmão podem ser


prevenidos (GORDIS, 2017), pois, se for possível que os indivíduos parem de
fumar, pode-se eliminar cerca de 70% a 80% do início do desenvolvimento do
câncer de pulmão nos seres humanos (GORDIS, 2017). No entanto, mesmo que
o objetivo seja evitar o desenvolvimento de doenças através dessa prevenção
primária, não se tem a informação necessária para que ocorra essa prevenção
de forma efetiva para inúmeras doenças.

É muito comum não se apresentar dados biológicos, clínicos e


epidemiológicos que sirvam de base para o programa da prevenção primária de
muitas doenças e, assim, se passa a ter enfoque no segundo tipo de prevenção:
a prevenção secundária.

A prevenção secundária constitui-se em um conjunto de medidas


preventivas que denotam na identificação de indivíduos que já desenvolveram
determinada doença, mas se encontram na fase inicial desse desenvolvimento.
Um grande exemplo desse tipo de prevenção é o diagnóstico precoce, como os
exames periódicos, que é o caso da mamografia para mulheres acima de 40 anos
que facilitam na detecção dos casos de câncer de mama logo no início da doença.
Além disso, pode-se ter a medida de isolamento domiciliar no caso dos idosos
para COVID-19 atualmente, ou uma quarentena dos casos suspeitos para evitar
a propagação de doenças. No caso do novo coronavírus, a quarentena tem sido
de 14 dias conforme a recomendação da OMS, ou seja, ocorre com o período
máximo de incubação da COVID-19.

49
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

Quarentena: é o isolamento social dos indivíduos pelo período


máximo de incubação de uma determinada doença, contado a partir
da data do último contato com um caso clínico ou portador ou a data
em que o indivíduo sadio abandonou o local em que se encontrava a
fonte de infecção para as doenças infecciosas.
Período de incubação: período que vai da infecção ao
aparecimento dos primeiros sintomas de determinada doença.

É na prevenção secundária também que se tem como medida preventiva


o tratamento para evitar a progressão de determinada doença (ROUQUAYROL;
ALMEIDA, 2003). São as ações da prevenção secundária que podem fazer
a diferença para que o indivíduo não desenvolva uma forma grave da doença,
podendo levá-lo ao óbito.

A prevenção secundária pode ser dividida em dois tipos (ROUQUAYROL;


ALMEIDA, 2003):

• 3º Nível ou Diagnóstico Precoce:


o Inquéritos de Saúde para descoberta de casos em determinada
comunidade.
o Exames periódicos e individuais para a detecção precoce dos casos.
o Isolamento para evitar a propagação de doenças.
o Tratamento para evitar a progressão de doenças.

• 4º Nível ou Limitação da Incapacidade:


o Evitar futuras complicações.
o Evitar sequelas.

Por fim, ainda se tem o 5º Nível ou Prevenção Terciária, que se constitui


em um conjunto de medidas preventivas voltadas para a reabilitação do paciente,
como a fisioterapia e a terapia ocupacional que promovem a melhora nas
condições de vida dos pacientes, atenuando estados de invalidez. Dessa forma, a
palavra-chave da prevenção terciária é a reabilitação do paciente.

Na Figura 1 mostra-se um resumo dos tipos de prevenção apresentados.

50
Capítulo 2 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA

FIGURA 1 − RESUMO DOS TIPOS DE PREVENÇÃO

Suscetibilidade

FONTE: A autora

1 Observe o esquema a seguir:

Suscetibilidade

Com base no esquema, analise as sentenças a seguir:

I- Prevenção terciária está dentro do período pré-patogênico.


II- Prevenção primária corresponde ao tratamento das sequelas
deixadas por causa de um acidente, por exemplo.
III- A prevenção secundária possui características distintas da
primária.

a) ( ) Somente a sentença III está correta.


b) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
c) ( ) Somente a sentença I está correta.
d) ( ) Somente a sentença II está correta.
e) ( ) As sentenças I e II estão corretas.

51
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

Além de existirem essas classificações das formas de prevenções das


diferentes doenças na população, elas podem ser divididas ainda em:

• Medidas Universais.
• Medidas Seletivas.
• Medidas Individuais.

As Medidas Universais são recomendadas a toda população, como:

• Dieta balanceada.
• Higiene dental.

As Medidas Seletivas são recomendadas para subgrupos da população, como:

• Faixa etária.
• Sexo.
• Ocupação.

As Medidas Individuais são recomendadas para o indivíduo com alto risco


de desenvolvimento de determinada doença, como:

• Exames clínicos e laboratoriais específicos.


• Controle da hipertensão.
• Controle da hipercolesterolemia (colesterol elevado).
• Quimioprofilaxia contra a tuberculose pulmonar.

A partir desses tipos de prevenção apresentados, pode-se determinar


estratégias para prevenção, tais como:

• Diagnóstico e tratamento precoce das diferentes doenças.


• Proporcionar uma melhoria nas condições de vida do paciente, caso não
seja possível a cura.
• Prover adequação ambiental e social aos pacientes que estão deixando
os hospitais.
• Trabalho dos profissionais da saúde considerando a multidisciplinaridade.
• Identificar situações de risco.
• Suporte e informações aos profissionais de saúde e à população em
geral.

Até aqui foram apresentadas as medidas de prevenção estipuladas pela


epidemiologia, mas devemos nos questionar sobre como o epidemiologista
pode identificar as causas das diferentes doenças (GORDIS, 2017). Para tanto,
geralmente se fala em etapas:

52
Capítulo 2 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA

I- Identificação e determinação se existe associação entre um determinado


fator (como uma exposição ambiental) ou uma característica (como um
aumento no nível sérico de colesterol) e o desenvolvimento da doença
em questão.
II- Tentar verificar inferências apropriadas se há uma possível relação
causal relativa às associações encontradas na primeira etapa.

Antes de mais nada é importante frisar que a epidemiologia se inicia


através da investigação de dados descritivos conforme propõe a Epidemiologia
Descritiva, que, como o próprio nome diz, descreve os dados, sendo o início
da análise epidemiológica em que se avalia a frequência e a distribuição das
diferentes doenças.

Os principais objetivos da Epidemiologia Descritiva são:

• Descrever a magnitude da doença.


• Examinar a distribuição da doença na população, usando dados da
estatística vital (Figura 2).
• Analisar o comportamento das doenças segundo características de
pessoas, do tempo e do lugar.

FIGURA 2 − EXEMPLO DE UM TIPO DE GRÁFICO QUE PODE


SER ANALISADO NA EPIDEMIOLOGIA DESCRITIVA

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/bar-graph-infographics-
representing-descriptive-statistics-1224217804>. Acesso em: 8 jul. 2020.

Nesse contexto, torna-se fundamental compreender como são organizados


os dados nessa fase inicial da investigação da epidemiologia. Dessa forma, são
realizadas as perguntas apresentadas na Figura 3:

53
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

FIGURA 3 − PERGUNTAS QUE DEVEM SER REALIZADAS


PARA O ESTUDO DA EPIDEMIOLOGIA DESCRITIVA

Quem foi afetado? Resposta: Pessoa


Quando foram afastados? Resposta: Tempo
Onde foram afetados? Resposta: Lugar

FONTE: Adaptado de Waldman (2006)

Para se organizar os dados segundo características das pessoas, tem-se


como exemplos (WALDMAN, 2006):

• idade;
• sexo;
• raça;
• etnia/raça;
• estado conjugal e familiar;
• ocupação;
• educação;
• hábitos e costumes;
• atividades de lazer.

O exemplo da idade já foi apresentado anteriormente neste capítulo ao se


considerar o grupo de risco de idosos para o desenvolvimento da COVID-19. No
entanto, pode-se pensar nas doenças que ocorrem mais entre as crianças, como
caxumba e catapora.

No caso do sexo, existe um estudo que foi observado maior desenvolvimento


de tuberculose pulmonar entre os indivíduos do sexo masculino (PAULA, 2008).
Outro exemplo é demonstrado através da taxa de mortalidade por causas
selecionadas por sexo no Quadro 1 a seguir.

54
Capítulo 2 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA

QUADRO 1 − TAXA DE MORTALIDADE POR CAUSAS


SELECIONADAS, POR SEXO, EPILÂNDIA, 2006

FONTE: Waldman (2006, s.p.)

No Quadro 1, é possível observar que a maior taxa de mortalidade por câncer


respiratório, por exemplo, é entre os indivíduos do sexo masculino no município
de Epilândia, em 2006. Já para a diabetes mellitus, a taxa de mortalidade é maior
entre os indivíduos do sexo feminino. Outra forma importante de descrever a
relação entre os sexos masculino e feminino é através da razão de taxas segundo
sexo, como mostra o Quadro 1. Observando essa razão, tem-se que para a
maioria das doenças elencadas, o sexo masculino apresenta-se com maior taxa
de mortalidade se comparado com o feminino.

Com relação à raça, através dos estudos epidemiológicos, pode-se observar


que os cânceres de pele são mais frequentes em caucasianos. Para melhor
entendimento de como é o estudo via Epidemiologia Descritiva apresenta-se o
Quadro 2.

55
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

QUADRO 2 − TAXA DE MORTALIDADE POR CAUSAS SELECIONADAS,


POR ETNIA, EM EPILÂNDIA, NO ANO DE 2006

FONTE: Waldman (2006, s.p.)

De acordo com o Quadro 2, que compara diferentes taxas de mortalidade


por causas selecionadas por etnia branca e não branca no Município de Epilândia
em 2006, tem-se que para a maioria dessas doenças a taxa de mortalidade é
maior para os não brancos se comparado com os brancos; com exceção da
úlcera gastroduodenal e câncer do aparelho urinário que foram iguais para as
etnias brancas e não brancas. Além disso, para as enfermidades arteriosclerótica
do coração, leucemia e suicídio, as taxas de mortalidade foram maiores para
os brancos se comparados com os não brancos; essa comparação também é
mostrada através da razão de taxa de não brancos e brancos.

Com relação ao estado civil, por exemplo, já foi observado maiores casos de
depressão entre os indivíduos separados e solteiros.

Para a ocupação, pode-se observar através de gráficos, com os dados


desta característica vital, que os veterinários podem ter mais casos de raiva
que outros profissionais. Tem-se também vários estudos epidemiológicos de

56
Capítulo 2 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA

doenças ocupacionais, como a observação e a investigação de maiores casos de


depressão entre bancários e motoristas de ônibus.

Já foi observado taxas maiores de casos de diversas doenças relacionadas


com o grau de educação do indivíduo, sendo que os menos instruídos tendem
a desenvolverem mais doenças, como a tuberculose pulmonar (PAULA, 2008).
Foi demonstrado maiores taxas de casos de tuberculose pulmonar e câncer de
pulmão entre os indivíduos tabagistas (WALDMAN, 2006; PAULA, 2008). Outro
exemplo de organizar os dados, segundo as características de pessoas, é a
observação de menos casos de depressão entre os indivíduos que fazem lazer
periodicamente.

Outros tipos de gráficos apresentados para análise da Epidemiologia


Descritiva possuem mais que uma característica no mesmo gráfico, como mostra
a Quadro 3.

QUADRO 3 − TAXA DE MORTALIDADE POR SEXO E IDADE, EM EPILÂNDIA, 2006

FONTE: Waldman (2006, s.p.)

Esse quadro apresenta os dados de forma mais complexa, mas observando


bem pode-se verificar maiores taxas de mortalidade de determinada doença entre
os indivíduos do sexo masculino e com 65 ou mais anos de idade. Esses foram
exemplos de como a Epidemiologia Descritiva pode ser útil na investigação
epidemiológica, organizando os dados por características de pessoas.

57
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

1 A epidemiologia descritiva descreve os diferentes dados da


área de Saúde Pública. Sobre os exemplos desse tipo de
epidemiologia, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) Epidemiologia Analítica.
b) ( ) Tempo.
c) ( ) Espaço.
d) ( ) Lugar.
e) ( ) Sexo.

Para se organizar os dados segundo características relacionadas ao


tempo, tem-se as variações regulares e irregulares (WALDMAN, 2006). Entre
as variações regulares, que são variações com ciclos periódicos e regulares,
podemos destacar:

• Tendência Secular.
• Variação Sazonal.
• Variação Cíclica.

Como variações irregulares, podemos destacar:

• Epidemias.

2.1 VARIAÇÕES REGULARES


A Tendência Secular é uma variação na ocorrência de determinada
doença observada após longos períodos. Um exemplo dessa variação pode
ser observado na Figura 4 a seguir. Nesse exemplo, a maioria das doenças
apresentadas foram diminuindo ao longo do tempo, com exceção da doença
meningocócica que foi aumentando. Provavelmente, foram diminuindo porque
através dos estudos epidemiológicos foram obtendo-se informações sobre os
dados epidemiológicos para nortear as diferentes ações preventivas, evitando e
diminuindo o aparecimento de novos casos. Essas medidas preventivas já foram
apresentadas anteriormente neste capítulo.

58
Capítulo 2 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA

FIGURA 4 − MORTALIDADE ENTRE MENORES DE CINCO ANOS, SEGUNDO


A CAUSA NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, ENTRE 1980 E 1998

Doença meningocócica

Sepse

FONTE: Waldman (2006)

A Variação Sazonal ocorre de acordo com algumas épocas, estações,


meses, dias da semana ou horas do dia. A Figura 5 mostra maiores casos de
sarampo entre as décadas de 1960 a 1969 com o pico entre os meses de julho
a novembro, que são meses que correspondem ao inverno e primavera. Para as
outras décadas apresentadas, os picos também correspondem principalmente
durante o inverno. Outro exemplo poderia ser a ocorrência de maiores casos de
dengue nas épocas quentes do ano.

FIGURA 5 − VARIAÇÃO SAZONAL DO SARAMPO EM DIFERENTES DÉCADAS


NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO ENTRE O PERÍODO DE 1960 A 1989

FONTE: Waldman (2006)


59
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

A Variação Cíclica ocorre quando um dado padrão de variação é geralmente


repetido de intervalo a intervalo, alternando valores máximos e mínimos
(ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003). Como exemplo, temos a endemia da malária
na Região Norte do Brasil.

2.2 VARIAÇÕES IRREGULARES


A Figura 6 mostra como a Epidemiologia Descritiva pode auxiliar na
Investigação das epidemias. Nesta figura, mostra-se que os picos de casos de
sarampo são justamente as epidemias.

FIGURA 6 − CASOS DE SARAMPO DE MÊS A MÊS NO


MUNICÍPIO DE SÃO PAULO DE 1950 A 1993

FONTE: Adaptado de Waldman (2006)

Outro exemplo é a investigação da cólera na Figura 7 a seguir. Esta figura


mostra a epidemia por transmissão de fonte comum, ou seja, a epidemia é de
origem comum e, assim, houve uma exposição simultânea de vários indivíduos
suscetíveis a um agente biológico, aumentando o número de casos ao longo de
um curto período de tempo, aproximadamente o tempo de incubação da doença.
Já a transmissão pessoa a pessoa é de um indivíduo para o outro, como é o caso
da COVID-19.

60
Capítulo 2 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA

FIGURA 7 − CASOS DE ÓBITO DA CÓLERA POR DIAS EM LONDRES EM 1849

FONTE: Adaptado de Snow (1854)

Diferentemente das endemias (variação cíclica), que geralmente são


ilimitadas quando as ações de controle e prevenção não adequadamente
efetivadas, as epidemias são restritas a um intervalo de tempo marcado por um
início e fim. No entanto, no final os casos retornam aos patamares endêmicos
observados antes da ocorrência das epidemias. Este intervalo de tempo pode ser
de poucas horas ou dias ou pode estender-se por anos ou até mesmo décadas
(ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003).

Esses foram exemplos de como a Epidemiologia Descritiva pode ser útil na


investigação epidemiológica organizando os dados por características de tempo.
Por fim, a Epidemiologia Descritiva pode ser organizada por características
relativas ao espaço, como mostram-se alguns exemplos a seguir (WALDMAN,
2006):

• País.
• Estado.
• Cidade.
• Bairro.
• Endereço de Residência.
• Local de nascimento.
• Endereço de Emprego.

61
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

• Distrito Escolar.
• Unidade Hospitalar.

A Figura 8 apresenta casos de óbitos por cólera em um bairro de Londres em


1849:

FIGURA 8 − CASOS DE ÓBITO POR CÓLERA EM UM BAIRRO DE LONDRES EM 1849

FONTE: Waldman (2006, s.p.)

Como mostra a Figura 8, foi Dr. John Snow que realizou esse estudo. Adiante
deste capítulo será apresentada a importante participação desse pesquisador na
história da epidemiologia.

Na Figura 9, mostra-se a distribuição de casos de salmonela por local de


residência, Palmeira, em 2003. Nesse sentido, pode-se observar qual o local
específico que serão adotadas medidas de prevenção e de controle dessa
doença.

62
Capítulo 2 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA

FIGURA 9 − DISTRIBUIÇÃO DE CASOS DE SALMONELA POR


LOCAL DE RESIDÊNCIA, PALMEIRA, EM 2003

FONTE: Waldman (2006)

Na Figura 10 apresenta-se a distribuição da COVID-19 por todo o mundo


em 2020, caracterizando uma pandemia observada através dessa investigação
realizada com as ferramentas da Epidemiologia Descritiva. A Figura 10 é
representada como se fosse uma “foto” da pandemia da COVID-19, pois como
está ocorrendo a disseminação ao redor do mundo de maneira muito rápida,
aumentando muito o número de casos a cada dia que se passa, é possível que
agora já seja outro perfil dessa distribuição de casos.

FIGURA 10 − DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE CASOS DA COVID-19 POR


TODO O MUNDO EM 2020, CARACTERIZANDO UMA PANDEMIA

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/world-map-coronavirus-
blood-sample-countries-1671392674>. Acesso em: 9 jul. 2020.

63
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

É possível também ter gráficos que organizam os dados por tempo e espaço
ao mesmo tempo, como mostra a Figura 11 a seguir:

FIGURA 11 − DISTRIBUIÇÃO DE DETERMINADA DOENÇA NO BRASIL DE 1991 A 1998

FONTE: Waldman (2006, s.p.)

Na Figura 11, pode-se observar a diminuição do número de casos de


determinada doença no Brasil ao longo do período de tempo estudado.

Já na Figura 12 observa-se a distribuição de número de casos de incidência


de salmonela em um voo.

FIGURA 12 – INVESTIGAÇÃO DE SURTOS EM


PASSAGEIROS DE UM VOO POR TEMPO

FONTE: Adaptado de Waldman (2010)


64
Capítulo 2 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA

Na Figura 12, apresenta-se o coeficiente de incidência, que


expressa o número de casos novos de uma determinada doença
durante um período definido em uma população com risco de
desenvolvimento, o qual será apresentado em detalhes no Capítulo 3.

Após os estudos de Epidemiologia Descritiva, podem ser realizadas


investigações mais específicas com estudos epidemiológicos mais avançados,
que testam as hipóteses a respeito de uma possível associação de um
determinado fator de risco e uma determinada doença, ou seja, a Epidemiologia
Analítica. Dessa forma, a Epidemiologia Analítica avalia diversas associações.
O teste dessas hipóteses é efetuado por esses estudos epidemiológicos da
Epidemiologia Analítica e incluem grupos apropriados de comparação.

É importante ressaltar que os estudos epidemiológicos da Epidemiologia


Descritiva são efetuados mediante a coleta sistemática dos dados e análises
correspondentes, com o objetivo de se determinar ou não a existência da
associação entre uma exposição (fator de risco) e o desfecho de interesse
(doenças).

Existem inúmeros estudos, como os exemplos a seguir:

• Associação da pressão alta com o desenvolvimento de doenças


cardiovasculares.
• Associação de tabagismo com o aumento de casos de câncer de pulmão.
• Associação de consumo elevado de carboidratos com o desenvolvimento
de diabetes.
• Associação de consumo de álcool com o desenvolvimento de cirrose.
• Associação do uso de drogas ilícitas com o desenvolvimento de
tuberculose pulmonar.
• Associação de sedentarismo com o desenvolvimento de depressão.

Para a Epidemiologia Analítica existe alguns estudos epidemiológicos,


como:

• Estudos ecológicos.
• Inquéritos tipo corte transversal (seccionais).
• Estudos de caso controle.
• Estudos de coorte.
• Ensaios clínicos.

65
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

Cada um desses estudos da Epidemiologia Analítica tem uma forma


diferente de estudar as possíveis associações entre os fatores de risco e as
doenças. No entanto, neste Livro Didático, não serão detalhados esses estudos
epidemiológicos da Epidemiologia Analítica, pois a ementa propõe que sejam
explanados conteúdos mais básicos da epidemiologia.

A saúde no Brasil é considerada complexa por apresentar diversos desafios


que incluem a imensidão do país, bem como o aumento crescente da população de
idosos se comparados com outros grupos da população brasileira. O aumento da
expectativa de vida de nossa população é chamado de transição demográfica, a
qual foi apresentada no Capítulo 1. Dessa forma, aumenta o número de usuários
do Sistema de Saúde, pois os pacientes idosos possuem maiores chances de
adquirirem doenças e comorbidades, aumentando os custos relativos à saúde.
Considerando esse cenário, pode-se observar a importância da atuação da
epidemiologia, que auxilia na efetiva alocação de recursos e no planejamento
das ações de saúde, além de ajudar na diminuição entre as diferenças regionais
do Brasil (ABRASCO, 1997).

A epidemiologia deve buscar contribuições e estabelecer articulações com


outras disciplinas, como a clínica, a administração, as ciências sociais, entre
outras, efetivando a efetividade da multidisciplinaridade (ABRASCO, 1997). Existe
também todo um esforço para que a epidemiologia seja estudada mais e mais
pelas universidades do Brasil, sendo direcionada aos serviços de saúde para
que se tenha maiores conhecimentos dela na formação de nossos profissionais
(ABRASCO, 1997).

Para cuidar da saúde no Brasil, temos, atualmente, o SUS (Sistema Único


de Saúde), criado pela Constituição Brasileira de 1988, que é gratuito e atende
a toda população brasileira. Nesse sistema, incluem diversos postos de saúde,
UBSs (Unidades Básicas de Saúde), hospitais, entre outros serviços. Uma ação
já consolidada da epidemiologia nos diferentes serviços de saúde é a Vigilância
Epidemiológica.

Vigilância Epidemiológica: de acordo com a Lei 8.080, de 1990,


que organizou o SUS, denomina-se Vigilância Epidemiológica
o conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção
ou a prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes
e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade
de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das
doenças e agravos (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003).

66
Capítulo 2 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA

Atualmente, a Vigilância Epidemiológica não atua apenas nas doenças


infecciosas, mas também na nutrição, em medicamentos, em mortes por causas
violentas e por acidentes de trabalho e outros agravos à saúde (ROUQUAYROL;
ALMEIDA, 2003).

Para maiores informações da Epidemiologia e Vigilância


Epidemiológica nos Serviços de Saúde do Brasil, incluindo Boletins
Epidemiológicos periódicos, acesse ao site do Ministério da Saúde:
https://www.saude.gov.br/vigilancia-em-saude.

Para maiores informações sobre a Vigilância Epidemiológica


do Estado de Santa Catarina (DIVE: Diretoria de Vigilância
Epidemiológica), acesse ao site: http://www.dive.sc.gov.br/.

A divulgação de dados epidemiológicos, não só para os profissionais de


saúde como também para a população, pode contribuir para a decisão sobre
a alocação de recursos humanos e financeiros para os diferentes Serviços de
Saúde Brasileiros, conferindo maior transparência ao processo decisório que
deve alocar esses recursos e aumentando o controle social sobre os Serviços de
Saúde (ABRASCO, 1997).

Você sabia que agora com a pandemia do novo coronavírus, a


Vigilância Epidemiológica tem sido um instrumento fundamental com
seu poder decisório para promover medidas preventivas, de controle
e de combate a essa nova doença?

67
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

Antes de todo esse desenvolvimento da epidemiologia no mundo e no


Brasil, com todos os seus conceitos e aplicações, se faz necessário apresentar e
discutir os marcos ao longo da História que foram importantes para o surgimento
e desenvolvimento dessa área. Dessa forma, podemos entender melhor ainda a
sua importância para a humanidade.

3 MARCOS HISTÓRICOS DA
EPIDEMIOLOGIA
Antes de ser utilizado o termo epidemiologia, a humanidade foi modificando
ao longo dos tempos como tratar a saúde e como estudá-la. Para iniciarmos, é
importante ressaltar que, na mitologia grega, encontramos Panaceia e Higeia que
se relacionavam a esses conceitos voltados à área da saúde.

A Panaceia (Figura 13) era a deusa da cura, assim, era considerada a padroeira
da medicina curativa. Higeia era a deusa da saúde, da limpeza e da higiene. Desde
o início, já foi cultivado a dicotomia entre a medicina curativa e dos conceitos de
higiene e, assim, apesar de não termos ainda claro a denominação do conceito
de epidemiologia como estudo que considera a população e o processo saúde-
doença, naquela época, já era possível separar os conceitos de cura e higiene.

FIGURA 13 − FOTO DA ESTÁTUA DA DEUSA PANACEIA

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/kharkiv-ukraine-
april-20-2019-statue-1375513352>. Acesso em: 10 jul. 2020.

No entanto, muitos autores consideram o início da epidemiologia com o


considerado pai da medicina, o maior médico da Antiguidade: Hipócrates, que
viveu de 460 a 377 a.C. (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003).
68
Capítulo 2 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA

De fato, a estrutura e o conteúdo dos textos hipocráticos sobre epidemias


e sobre a distribuição de enfermidades nos diversos ambientes, como malária e
tuberculose; com sua clara adesão à tradição higeica, sem dúvida, antecipam o
chamado raciocínio epidemiológico, como apresentado por muitos estudiosos
da área (ROUQUAYROL; ALMEIDA, 2003). De acordo com Hipócrates, por
exemplo, muitas epidemias deveriam estar relacionadas com fatores climáticos,
raciais, dietéticos e do meio ambiente onde os indivíduos viviam.

Sua fama como clínico teria começado entre 430 a 429 a.C. Nessa época, Atenas
sofria com uma peste que assolava a população e essa epidemia foi derrotada após
Hipócrates mandar acender fogueiras pela cidade. Isto ocorreu porque Hipócrates
observou que os artesãos, obrigados devido a sua profissão a se manterem próximo
ao fogo, pareciam imunes ao contágio da doença (ALTMAN, 2014).

“Ares, Águas e Lugares” é considerado o primeiro e grande tratado sobre


saúde pública, climatologia e fisioterapia (ALTMAN, 2014). Do ponto de vista
clínico, um dos principais pontos do legado de Hipócrates são as descrições de
inúmeros casos reais de doenças (ALTMAN, 2014).

FIGURA 14 − ESTÁTUA REPRESENTANDO HIPÓCRATES

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/statue-great-ancient-
greek-phisician-hippocrates-780865033>. Acesso em: 10 jul. 2020.

Com a morte de Hipócrates, surgiram vários discípulos da tradição Panaceia


de levar em consideração mais as ações individuais. Já em 201 a 130 a.C., na
Roma Antiga, surge um seguidor importante na história dos ensinamentos de
Hipócrates, Claudio Galeno (Figura 15), que realizou censos periódicos e registros
compulsórios de nascimentos e óbitos. Além disso, Claudio Galeno estudou
Anatomia, Fisiologia e Patologia e foi o criador da Fisiologia Experimental.
69
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

FIGURA 15 − FOTO DA ESTÁTUA REPRESENTANDO O ROSTO DE CLAUDIO GALENO

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/vertical-close-
bust-galen-129-ad-1617601813>. Acesso em: 10 jul. 2020.

Durante a Idade Média, entre os séculos XV e XVI, as doenças eram


consideradas como castigo divino àqueles que não obedeciam às Leis Divinas,
assim, com uma elevada influência religiosa e mística, sendo um sinal da ira de
Deus. Nessa época, as doenças tinham, portanto, um caráter sobrenatural como
explicação. Dessa forma, a Igreja da época passou a controlar as práticas da
medicina e, assim, o tratamento geralmente envolvia tentativas de expulsar espíritos
do mal do corpo das pessoas doentes. Embora houvessem ainda seguidores de
Hipócrates e Galeno promovendo abordagens científicas, a maioria dos médicos
medievais trabalhavam com a feitiçaria e outras formas místicas de tratamento.

FIGURA 16 − IGREJA

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/lone-wooden-
church-dusk-sunset-clouds-1186359178>. Acesso em: 10 jul. 2020.

70
Capítulo 2 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA

Hipócrates e Galeno foram também grandes influenciadores da criação da


Teoria Unicausal, denominada Teoria dos Miasmas ou Teoria Miasmática, a partir
do século XVIII, que se estendeu até o início do século XIX. Essa corrente de estudo
associava as doenças a certas impurezas existentes no ar, denominadas miasmas.
Um exemplo dessas doenças era a malária, que o nome sugere “mau ares”.

Miasmas: os miasmas se originavam através de exalações de


pessoas e animais doentes, emanações dos pântanos, de dejetos e
substâncias em decomposição.

De acordo com essa definição de miasmas, a presença deles era detectada


através do mau cheiro e, assim, acreditava-se que se impedissem a propagação
desses maus odores seria possível prevenir ou até mesmo evitar as epidemias. Com
essa teoria, nas epidemias da Antiguidade, as pessoas evitavam se aproximar dos
doentes para não serem contaminadas e temiam, também, adoecerem respirando o
ar que vinha dos cadáveres ou de pessoas atingidas por essas doenças.

A Teoria Miasmática foi motivo para a preocupação com a qualidade do ar e


da água, que deveria ser inodora.

No final do século XVIII, iniciaram-se estudos sobre substâncias químicas


capazes de impedir a decomposição de substâncias orgânicas e de maus odores.
Um exemplo disso foi a descoberta do cloro como efetivo contra putrefação.

FIGURA 17 − A IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DO AR


E DA ÁGUA PARA A TEORIA MIASMÁTICA

FONTE: <https://www.shutterstock.com/image-photo/curve-canal-leading-
under-bridge-through-783185758>. Acesso em: 10 jul. 2020.

71
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

A partir da década de 1835, inicia-se um avanço da ciência, surgindo


especulações de que o surgimento das doenças era devido a seres vivos
invisíveis, mas, até então, sem identificar o agente responsável.

Foi em meados de 1860 que temos os primeiros estudos de Loius Pasteur


(Figura 18), o primeiro cientista a produzir uma vacina contra a raiva (vacina
antirrábica). Muitos de seus experimentos foram responsáveis pela criação da Teoria
Microbiana em que se trata acerca da relação entre as doenças e os diferentes
microrganismos. Complementando essa teoria, tem-se também os trabalhos de
Robert Koch (Figura 19) com a descoberta e identificação do bacilo Mycobacterium
tuberculosis como responsável pelo desenvolvimento da tuberculose.

A Teoria Microbiana conviveu muito tempo com a Teoria dos Miasmas, sendo
muitas vezes confundidas. Somente no final do século XIX é que a Teoria dos Miasmas
foi abandonada e a ideia de que toda a doença tem um agente biológico se estabelece.

FIGURA 18 − RETRATO DE LOIUS PASTEUR

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/louis-pasteur-french-
microbiologist-chemist-member-96114542>. Acesso em: 10 jul. 2020.

FIGURA 19 − RETRATO DE ROBERT KOCH

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/robert-koch-german-
physician-microbiologist-vector-1663000672>. Acesso em: 10 jul. 2020.

72
Capítulo 2 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA

Em 1864, tem-se os trabalhos realizados por John Snow (Figura 20), que
mostrou a relação da cólera com o consumo de água com materiais fecais. Dessa
forma, Snow é considerado o pai da epidemiologia, desenvolvendo o método de
estudo epidemiológico durante epidemia de cólera em Londres, o qual é utilizado
até hoje.

John Snow observou através do estudo das cartografias de Londres que


havia um poço em que o número de casos de cólera eram maiores quando as
pessoas se concentravam ao redor dele, assim, ele recomendou fechá-lo, ato que
resultou na diminuição do número de casos da doença.

FIGURA 20 − RETRATO DE JOHN SNOW

FONTE: <https://artsci.case.edu/dittrick/2014/06/16/morbid-matter-
public-health-and-public-opinion/>. Acesso em: 10 jul. 2020.

A partir do século XX, tem-se a Transição Epidemiológica e o surgimento


de um grande número de indivíduos da população com doenças não infecciosas.
Dessa forma, não se poderia considerar a Teoria Microbiana, uma vez que se
tem doenças sem agentes biológicos. Além disso, existem doenças que se
tem a infecção, mas não se apresenta a doença, como cerca de 80% dos casos
de tuberculose pulmonar (PAULA, 2008). É nesse cenário que surge a Teoria
de Multicausalidade, ou seja, existem outros fatores envolvidos. Esses fatores
sabemos, atualmente, que são os chamados fatores determinantes ou de risco,
que serão abordados e discutidos no Capítulo 3.

No entanto, vale destacar que para as doenças infecciosas se tem um


cenário multicausal também, pois muitas dessas doenças têm uma relação entre
o agente biológico, o hospedeiro e o meio ambiente em que estão, a chamada
Tríade Epidemiológica, como mostra a Figura 21.

73
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

FIGURA 21 − ESQUEMA DA RELAÇÃO ENTRE UM DETERMINADO


AGENTE BIOLÓGICO, O HOSPEDEIRO E O MEIO AMBIENTE

FONTE: A autora

Nesse contexto, temos ações que podem ser tomadas para intervir no
processo saúde-doença das doenças infecciosas. Entre os exemplos de ações
para intervir no processo saúde-doença com relação aos agentes biológicos
podemos destacar:

• Controle biológico dos vetores (intermediários entre o agente biológico e


o hospedeiro).
• Vigilância Sanitária de um determinado alimento.
• Utilização prudente de antibióticos.
• Melhor conhecimento dos mecanismos que promovem a resistência dos
diferentes agentes biológicos frente aos diferentes medicamentos.
• Eliminação de vetores na cidade.

Para o hospedeiro homem, podemos ter as seguintes ações para intervir no


processo saúde-doença com relação ao hospedeiro:

• Com relação à herança genética: aconselhamento genético e diagnóstico


pré-natal.
• Com relação à anatomia e à fisiologia: imunização e manutenção do
peso corporal em níveis aceitáveis.
• Com relação ao estilo de vida: não fumar, não beber e praticar esportes.

Já para o meio ambiente, podemos ter os seguintes exemplos de ações para


intervir no processo saúde-doença com relação ao hospedeiro:

• Meio físico: saneamento de águas, saneamento de ar e saneamento de


solos.
• Meio social: provisão de empregos, construção de habitações,

74
Capítulo 2 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA

transportes públicos adequados, construção adequadas de escolas


públicas, promoção de lazeres e melhor qualidade nos serviços de
saúde.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, foram apresentadas inúmeras informações e conceitos
importantes da epidemiologia, como seus marcos históricos mais importantes ao
longo da história da humanidade desde a Grécia antiga até os dias de hoje. Dessa
forma, foi possível reafirmar as definições mais importantes da Epidemiologia
Básica e sua aplicação nos serviços de saúde. Além disso, apresentou-se os
principais episódios da história da humanidade até o surgimento da Epidemiologia
propriamente dita.

REFERÊNCIAS
ABRASCO. A Epidemiologia nos Serviços de Saúde. IESUS, v. 3, p. 7-14, 1997.

ALTMAN, M. Morre Hipócrates, considerado o “pai da Medicina”. 2014.


Disponível em: http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/hoje-na-historia-370-a-c-
morre-hipocrates-considerado-o-pai-da-medicina/. Acesso em: 10 jul. 2020.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição [da] República Federativa do


Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.

BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as


condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização
e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em: 10
jul. 2020.

GORDIS, L. Epidemiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2017.

PAULA, P. F de. Fatores associados à recidiva, ao abandono e ao óbito


no retratamento da tuberculose pulmonar. 2008. Tese (Doutorado em
Epidemiologia) − Departamento de Epidemiologia, Universidade de São Paulo,
São Paulo.

75
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA, N. F. Epidemiologia e saúde. 6. ed. Rio de


Janeiro: Editora Guanabara, 2003.

SNOW, J. On the mode of communication of cholera. 2. ed. Londres: John


Churchill, 1854.

WALDMAN, E. A. Conceitos de infecções emergentes. São Paulo: Laboratório


Fleury, 2000.

WALDMAN, E. A. Doenças infecciosas emergentes e reemergentes. Revista


USP, São Paulo, v. 51, p. 128-139, 2001.

WALDMAN, E. A. Epidemiologia I: pós-graduação em epidemiologia da


Faculdade de Saúde Pública da USP-SP. São Paulo: USP, 2006.

WALDMAN, E. A. Notas de aula: aula de Epidemiologia dada para Pós-


graduação em Saúde Pública. São Paulo: USP, 2010.

76
C APÍTULO 3
DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E oS
FATORES DETERMINANTES DOS
DIFERENTEs PROBLEMAS DE SAÚDE
A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes
objetivos de aprendizagem:

 Realizar os diferentes cálculos relacionados com a frequência dos diferentes


problemas de saúde da população humana.

 Realizar os diferentes cálculos relacionados com a distribuição dos diferentes


problemas de saúde da população humana.

 Realizar cálculos para poder avaliar a situação de saúde – doença de


determinada população humana.
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

78
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A Epidemiologia Básica e seus principais marcos históricos foram
apresentados e discutidos no Capítulo 2. Neste capítulo, serão apresentados
e discutidos diferentes indicadores de saúde, ou seja, medidas capazes de
expressarem os processos saúde-doença da população em estudo, servindo
como base para a aplicação de medidas preventivas e de controle de diversas
doenças ou agravos à saúde, tais como:

• Doenças infecciosas.
• Doenças não infecciosas.
• Doenças psicossociais.
• Acidentes.
• Deficiências.

As Medidas de doenças ou agravos à saúde são chamadas de medidas de


morbidade. Dessa forma, geralmente, mede-se a “não saúde” e, assim, também é
comum avaliar indicadores relacionados à mortalidade (óbitos).

As medidas de morbidade e de mortalidade servem para quantificar as


diferentes informações disponíveis sobre o processo saúde-doença, tornando
mais prática sua respectiva avaliação (CAMPOS et al., 2006). Além dessas
medidas, podem-se estudar e investigar indicadores categorizados, como:

• Demográficos.
• Socioeconômicos.
• Fatores determinantes ou fatores de risco.
• Recursos humanos.
• Recursos financeiros
• Cobertura vacinal.

Em termos gerais, os indicadores de saúde são medidas-síntese que contêm


informações relevantes sobre determinados atributos e dimensões do estado de
saúde, bem como o desempenho do SUS (CAMPOS et al., 2006). Nesse caso,
visto em conjunto, os diferentes indicadores de saúde devem refletir a situação
sanitária de uma determinada população e servir para a vigilância das condições
de saúde, como a vigilância epidemiológica (CAMPOS et al., 2006).

A seguir, serão apresentados os indicadores de saúde de morbidade e de


mortalidade mais usados no Brasil.

79
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

2 INTRODUÇÃO
Os Indicadores de Saúde de Morbidade expressam o risco de adoecer.
Dessa forma, referem-se ao comportamento das doenças e dos agravos à saúde
em uma população exposta. É usada também para mensurar a frequência dos
problemas de saúde na população (PAULA, 2008).

Já os Indicadores de Saúde de Mortalidade medem o risco de morrer


(PAULA, 2008). Para se medir morbidade e mortalidade e comparar as suas
frequências brutas, deve-se transformá-las em valores relativos, ou seja, devem
ser expressos em frequências relativas, permitindo ter alguma relação com outros
dados, podendo ser expressos em forma de coeficientes, taxas, índices ou
razão (CAMPOS et al., 2006; PAULA, 2008). Assim sendo, surgem os conceitos
de morbidade e mortalidade relativas, de uso extensivo e intensivo em Saúde
Pública (CAMPOS et al., 2006).

Nos coeficientes taxas, índices ou razão, o número de casos de


determinada doença ou agravo à saúde é relacionado ao tamanho da população
da qual eles precedem (PAULA, 2008). Pode-se ainda apresentar a definição
de coeficientes taxas, índices ou razão como as relações entre o número de
eventos reais e os que poderiam acontecer (CAMPOS et al., 2006). Geralmente, é
colocado no numerador o número de casos detectados, sendo que o denominador
é reservado para o tamanho da população de risco, ou seja, o número de pessoas
expostas ao risco de sofrer determinado evento (PAULA, 2008).

Antes de apresentar os Indicadores de Saúde de morbidade e de


mortalidade mais usados no Brasil, será apresentada uma breve suposição: se
esses coeficientes não fossem relativos, como seria a interpretação dos dados se
a frequência fosse absoluta?

Observando a Figura 1, poderemos comparar o número de casos da Doença


Y nas diferentes cidades, sendo bem provável que as populações de cada uma
dessas cidades são diferentes entre si. Por isso, se faz necessário relativizar
os números. A frequência absoluta é importante para ações de planejamento e
administração na área de saúde, tais como:

• Estimativa do número de leitos.


• Estimativa do número de UTIs, como no caso do novo coronavírus.
• Estimativa do número de medicamentos disponíveis.
• Estimativas de material em geral.

80
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

FIGURA 1 − MAPA DE UMA DETERMINADO ESTADO MOSTRANDO O NÚMERO DE


CASOS DA DOENÇA Y EM FREQUÊNCIA ABSOLUTA EM DIFERENTES CIDADES

FONTE: Moura (2011, s.p.)

Agora, se for considerado a frequência relativa, como são nos casos de


coeficientes, taxas, índices ou razão, pode-se observar o exemplo da Figura 2,
que apresenta não só o número de casos, mas também o número de habitantes
de cada cidade em estudo, permitindo a comparação real entre as cidades de
acordo com a Doença Y (PAULA, 2008).

FIGURA 2 − NÚMERO DE CASOS DA DOENÇA Y EM DIFERENTES


CIDADES COM SEUS RESPECTIVOS NÚMEROS DE HABITANTES

FONTE: Moura (2011, s.p.)

Já na Figura 3 mostra-se os resultados dos cálculos desses coeficientes,


taxas, índices ou razão. Para realizar esses cálculos, seguiu-se a seguinte
fórmula:

81
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

FIGURA 3 − COEFICIENTES RELATIVOS À DOENÇA Y NAS CIDADES A, B E


C, CONSIDERANDO AS DIFERENTES POPULAÇÕES DE CADA CIDADE

FONTE: Moura (2011, s.p.)

A Figura 4 mostra que se faz necessário multiplicar por uma constante da


base 10, ou seja, 10n para que possa se entender melhor o resultado obtido do
coeficiente em estudo, no caso: 104. Na Figura 5, finalmente, podemos verificar o
resultado final.

FIGURA 4 − COEFICIENTES RELATIVOS À DOENÇA Y NAS


CIDADES A, B E C MULTIPLICADOS POR 104

FONTE: Moura (2011, s.p.)

FIGURA 5 − RESULTADOS FINAIS DOS COEFICIENTES


RELATIVOS À DOENÇA Y PARA AS CIDADES A, B E C

FONTE: Moura (2011, s.p.)

82
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

Podemos, ainda, destacar outro exemplo apresentado em Campos et al.


(2006), o qual supõe que uma determinada taxa possui o resultado de 0,00035.
Dessa forma, está sendo afirmado que ela é igual a 35 por 100.000, ou seja,
que haveria a possibilidade de acontecer 100.000 eventos, mas que deles só
aconteceram 35. Se nesse exemplo os eventos ocorridos (numerador) forem
o número de óbitos por tuberculose na Capital X, no ano Y, e os eventos que
poderiam ter ocorrido (denominador) forem os habitantes domiciliados na referida
capital naquele ano, então, a taxa seria 35 óbitos de tuberculose por 100.000
habitantes na Capital X no ano Y. O cálculo desse exemplo será apresentado a
seguir:

Para maior entendimento, ainda se tem o seguinte exemplo que compara o


número de casos de dengue em relação à população de cada cidade estudada:

I- 531 casos de dengue foram encontrados em Birigui/SP, de 1º a 20 de


março de 2018, com a população de 104.138 habitantes.
II- 480 casos de dengue foram encontrados em Araçatuba/SP, de 1º a 20 de
março de 2018, com a população de 25.168 habitantes.

Ao realizar o cálculo das frequências relativas das duas cidades teremos:

Nesse último exemplo fica evidente que se as duas cidades com casos de
dengue fossem comparadas erroneamente através da frequência absoluta, seria
considerado que o maior número de casos dessa doença seria em Birigui. No
entanto, como pôde ser observado, devemos considerar em relação à população
de cada cidade (frequência relativa) e, assim, o maior número de casos de
dengue foi na verdade em Araçatuba, pois a população tem também um menor
número de habitantes se comparado com Birigui.
83
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

Até o presente momento, pode-se notar a importância de realizarmos as


diferentes investigações da Área da Saúde através dos coeficientes, taxas,
índices ou razão. A seguir, serão apresentados os mais importantes Indicadores
de Saúde de Morbidade e Mortalidade.

3 DISTRIBUIÇÃO E FREQUÊNCIA
DOS FATORES DETERMINANTES
DOS DIFERENTES PROBLEMAS DE
SAÚDE
Primeiramente serão abordados os Indicadores de Morbidade. As
Estatísticas de morbidade são geralmente utilizadas para a avaliação de saúde
e adoção de medidas de caráter abrangente, como ter água em determinado
município, esgotos e medidas gerais de saneamento básico (CAMPOS et al.,
2006). Além disso, auxiliam na adoção de medidas que visem à melhoria da
qualidade de vida da população, ou mesmo medidas específicas para garantir a
correção de decisões na área de saúde, como investigar a eficácia de vacinas ou
apoiar ações específicas necessárias ao controle de determinadas doença, como
o tratamento da tuberculose pulmonar (CAMPOS et al., 2006; PAULA, 2008).

Os Indicadores de Morbidade mais utilizados no planejamento e na


avaliação das medidas de prevenção e controle de doenças e de agravos a saúde
são:

• Coeficiente de Prevalência.
• Coeficiente de Incidência.
• Coeficiente de Letalidade.

Para o estudo dos coeficientes apresentados a seguir ser mais


efetivo, você deve tentar resolver os exercícios apresentados nos
exemplos primeiramente, ou seja, antes de olhar as respostas em
baixo de cada questão proposta.

84
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

1 Os Indicadores de saúde são para apresentar os dados de


morbidade (relativos à doença) e de mortalidade (relativos a
óbitos). É Indicador de Mortalidade:

a) ( ) Mortalidade por causa.


b) ( ) Letalidade.
c) ( ) Prevalência.
d) ( ) Incidência.
e) ( ) Frequência inerente.

4 COEFICIENTE DE PREVALÊNCIA
O Coeficiente de Prevalência descreve a força com que subsistem as
diferentes doenças ou agravos à saúde nas coletividades (CAMPOS et al., 2006). A
medida mais simples do Coeficiente de Prevalência seria a frequência absoluta.

A frequência relativa que representa o Coeficiente de Prevalência é o indicador


de saúde, que permite estimar e comparar, no tempo e no espaço, a prevalência
de uma determinada doença ou agravo à saúde, segundo algumas variáveis, como
idade, sexo, ocupação, escolaridade, estado civil, entre outras (CAMPOS et al., 2006).

Esse Coeficiente pode ser considerado a Frequência de Casos de uma


determinada doença ou agravo à saúde, consistindo no número de casos
existentes, ou seja, casos novos e casos antigos juntos. O cálculo do Coeficiente
de Prevalência consiste no seguinte:

Operacionalmente, o Coeficiente de Prevalência pode ser definido como a


relação entre o número de casos conhecidos de uma determinada doença ou agravo
à saúde e a população exposta, multiplicando o resultado pela base referencial
que, em geral, é uma potência de 10, sendo usualmente: 1.000, 10.000 ou 100.000

85
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

(CAMPOS et al., 2006). Dessa maneira, o número de casos conhecidos mede os


casos que subsistem, ou seja, a soma dos casos anteriormente conhecidos e que
ainda existem com os casos novos (CAMPOS et al., 2006).

Exemplo 1: Em Guararapes/SP, no ano de 2019, haviam 10 casos novos de zika


e, em anos anteriores, eram 35 casos. Deve-se considerar uma população de 35.000
habitantes. Qual o Coeficiente de Prevalência de casos de zika para essa cidade?

Exemplo 2: No Quadro 1 são apresentados os números de casos novos e de


casos anteriores de tuberculose pulmonar para diferentes faixas etárias na Cidade
X, entre os anos de 2010 a 2020.

QUADRO 1 − POPULAÇÃO E NÚMERO DE CASOS NOVOS E


ANTERIORES DE TUBERCULOSE PULMONAR POR DIFERENTES
FAIXAS ETÁRIAS (IDADE) NA CIDADE X ENTRE 2010 E 2020

Número de Número de
casos novos casos antigos População da
Faixa Etária
de tuberculose de tuberculose Cidade X
pulmonar pulmonar
0-5 anos 0 3 980
6-12 anos 1 2 1500
13-20 anos 15 25 2102
21-35 anos 65 76 3201
36-50 anos 80 102 3541
51-60 anos 79 120 3420
61-70 anos 43 63 1320
> 71 anos 20 45 1050
Número Total 303 436 17114

FONTE: A autora

Questões relativas ao Quadro 1:

I- De acordo com a Quadro 1, qual o Coeficiente de Prevalência no caso


de tuberculose pulmonar da Cidade X, entre 2010 e 2020, para todas as
faixas etárias em estudo?

86
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

II- De acordo com a Quadro 1, se comparamos as faixas etárias de 0 a 5 anos com


maior de 71 anos, qual delas apresentou maior Coeficiente de Prevalência?
III- De acordo com a Quadro 1, qual o coeficiente de Prevalência da faixa
etária de 36 a 50 anos?

Respostas relativas às questões para a análise do Quadro 1:

I- Coeficiente de Prevalência Geral:

Conclusão 1: O coeficiente de Prevalência geral para tuberculose pulmonar


na Cidade X entre 2010 e 2020 é de 43 casos para cada 1000 habitantes.

Coeficiente de Prevalência para a faixa etária de 0-5 anos:

Coeficiente de Prevalência para a faixa etária de > 71 anos:

Conclusão 2: O Coeficiente de Prevalência de casos de tuberculose


pulmonar é de 65,9 casos para cada 1000 habitantes para a faixa etária > 71
anos; e para a faixa etária de 0 a 5 anos: 3 casos para cada 1000 habitantes,
sendo assim, o coeficiente de prevalência é maior entre os idosos.

Coeficiente de Prevalência da Faixa Etária de 36 a 50 anos idade:

87
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

Conclusão 3: O Coeficiente de Prevalência de casos de tuberculose para a


faixa etária de 31 a 50 anos foi de 51 casos para cada 1000 habitantes na Cidade X.

Exemplo 3: Analise a Figura 6 e responda às questões a seguir:

I- Determine qual região da Cidade Z no ano de 2017 tem maior coeficiente


de prevalência no caso de câncer de estômago.
II- Qual a região de menor coeficiente de prevalência?

FIGURA 6 – COEFICIENTE DE PREVALÊNCIA

FONTE: A autora

Conclusão 1: De acordo com a figura, a Região Nordeste da Cidade Z no


ano de 2017 que apresentou maior prevalência.

Conclusão 2: De acordo com a figura, a Região Sul da Cidade Z no ano de


2017 que apresentou menor prevalência.

1 Analise a figura a seguir:

88
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

De acordo com a figura, qual a região da Cidade Z no ano de 2017


que apresentou maior Prevalência?

a) ( ) Nordeste.
b) ( ) Norte.
c) ( ) Centro-Oeste.
d) ( ) Sudeste.
e) ( ) Sul.

Como apresentado e discutido no Capítulo 2 desta disciplina, a


apresentação de dados epidemiológicos em forma de gráficos mostra
uma análise que enquadra na Epidemiologia Descritiva. A partir dessa
análise, pode-se inferir que devem existir fatores de risco ou fatores
determinantes que permitem que haja diferenças no comportamento
do câncer de estômago entre os habitantes de cada Região. Dessa
forma, pode-se inferir, por exemplo, que a alimentação inadequada
está associada a uma maior prevalência para a Região Nordeste, onde
sabemos que a alimentação é muito condimentada e com muita carne
defumada, enquanto que na Região Sul tem-se o costume de tomar chá
todo dia. No entanto, nesse caso, é só uma inferência, tendo que haver
estudos que usam a Epidemiologia Analítica para verificar se essa
associação pode ser verdadeira. No entanto, existem outros estudos
na literatura especializada que usaram da Epidemiologia Analítica
para analisar os dados obtidos, verificando a associação de alimentos
defumados e carnes salgadas com um maior desenvolvimento de
câncer. Já para Região Sul, onde se toma mais chá, poderia estar
associado a sua mais baixa prevalência, pois existem trabalhos na
literatura que sugerem esse fator de proteção.

Para mais informações sobre a associação de uma dieta


inadequada e o desenvolvimento de câncer de pulmão, veja o site
a seguir: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/como-prevenir-o-
cancer-de-estomago/11124/1137/

89
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

Até aqui foi apresentado e discutido, através de exemplos práticos, sobre


o Coeficiente de Prevalência. A partir de agora, será apresentado e discutido
sobre o Coeficiente de Incidência, destacando seu uso para as análises de
epidemias e pandemias.

5 COEFICIENTE DE INCIDÊNCIA
O Coeficiente de Incidência traduz a ideia de intensidade com que acontece
a morbidade (risco de adoecer) em uma determinada população, enquanto que se
compararmos com o Coeficiente de Prevalência, esse último descreve a força
com que subsistem as doenças nas coletividades (CAMPOS et al., 2006).

O cálculo do Coeficiente de Incidência é o seguinte:

O Coeficiente de Incidência equivale ao crescimento ou mesmo a uma


“velocidade” de crescimento, ou seja, ele mede a velocidade com que os casos
novos da doença são agregados ao contingente dos que no passado adquiriram
a doença e que até a data do cálculo do referido coeficiente permanecem doentes
(CAMPOS et al., 2006).

O Coeficiente de Incidência representa ainda o risco coletivo de adoecer


(MOURA, 2011). Pode também avaliar o impacto epidemiológico de medidas de
controle adotadas, como a vacinação (MOURA, 2011). Para entender melhor
sobre esse coeficiente serão apresentados, a seguir, alguns exemplos.

Exemplo 1:

90
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

FIGURA 7 − A INCIDÊNCIA DE DENGUE NA CIDADE W NO PERÍODO DE 1990 A 1993

FONTE: A autora

Questões sobre a Figura 7 de Coeficiente de Incidência:

I- Como interpretar os Coeficientes de Incidência encontrados?


II- Qual o Coeficiente de Incidência para o ano de 1990? E para o ano de
1993? Como podemos compará-los?
III- O que representa o resultado?

Respostas:

I- A partir da imagem apresentada, a maior incidência de casos de dengue


encontrada na Cidade W foi em 1993, mostrando que, ao longo dos
anos, desde 1990, a tendência foi aumentar. O resultado para esse ano
foi de 4,5 casos novos de dengue para cada 10.000 habitantes.
II- Ano 1990: 3,3 casos novos de dengue para cada 10.000 habitantes
na Cidade W. Ano 1993: 4,5 casos novos de dengue para cada 10.000
habitantes. Assim, ocorreu um aumento da incidência ao longo dos anos.
III- A cada 10.000 habitantes temos uma incidência diferente para cada ano
estudado na Cidade W.

91
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

1 Observe a figura sobre incidência de dengue na Cidade W


no período de 1990 a 1993:

Qual o Coeficiente de Incidência para o ano de 1990?

a) ( ) 3,4.
b) ( ) 2,5.
c) ( ) 4,0.
d) ( ) 4,1.
e) ( ) 0,5.

92
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

Exemplo 2:

FIGURA 8 − HANSENÍASE NO BRASIL EM 2002:


COEFICIENTES DE DETECÇÃO POR REGIÕES

FONTE: Adaptado de Campos et al. (2006)

Questões:

I- Em qual Região do Brasil teve a maior Incidência? E a menor?


II- De acordo com a Epidemiologia Descritiva, o que os dados representam?
III- Qual inferência sobre os possíveis fatores de risco ou determinantes
poderão estar associados aos resultados encontrados?

Respostas:

I- A Região Norte. A menor: Sul.


II- O número de casos novos da doença para cada 10.000 habitantes para
o Brasil em 2002, ou seja, o coeficiente de incidência.
III- Pode-se inferir vários fatores de risco para o maior desenvolvimento da
hanseníase na Região Norte, se comparado com a Sul do país. Podem
ter sido: fatores genéticos, hábitos, dietas diferentes, entre outros. No
entanto, para verificar as associações desses fatores com a doença
estudada, tem que se fazer um estudo epidemiológico analítico.

93
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

Exemplo 3:

QUADRO 2 − CASOS DE DENGUE DE ACORDO COM AS ESTAÇÕES DO ANO


NA CIDADE Z COM UMA POPULAÇÃO DE 1200 HABITANTES, DE 2001 A 2004.

CASOS CASOS NOVOS


ANTERIORES
PRIMAVERA 50 20
VERÃO 460 78
OUTONO 25 32
INVERNO 15 5
TOTAL 550 135

FONTE: A autora

Questões:

I- Calcule o Coeficiente de Incidência de casos de dengue na Cidade Z


para cada estação do ano.
II- Qual o maior Coeficiente de Incidência encontrado ao responder à
questão 1?
III- Qual o menor Coeficiente de Incidência encontrado ao responder à
questão 1?
IV- Quais inferências podem ser feitas quanto aos fatores de risco ou
determinantes que possam estar influenciando nos resultados obtidos?
Justifique sua resposta.

Respostas:

I- Primavera: 16,60 para cada 1000 habitantes da Cidade C; verão: 65 para


cada 1000 habitantes; outono: 27 para cada 1000 habitantes; inverno:
4,16 para cada 1000 habitantes.
II- Verão.
III- Inverno.
IV- O vetor responsável por transportar o vírus causador da dengue é o
Aedes aegypt, sendo que ele vive bem em ambientes quentes e que
tem água parada, condições típicas do verão. Dessa forma, pode-se
inferir que esses sejam fatores de risco ou fatores determinantes para
o desenvolvimento da dengue na Cidade Z. Se eliminarmos o vetor,
teremos medidas preventivas essenciais para o controle da dengue ou
até sua erradicação.

94
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

É importante ressaltar que mais para o final deste capítulo serão


detalhados os fatores de risco ou determinantes para diferentes
doenças ou agravos à saúde.

Até agora, foi apresentado e discutidos os Coeficientes de Morbidade:


Incidência e Prevalência. Por último, será apresentado e discutido sobre o
Coeficiente Letalidade.

Se faz importante ressaltar que esse coeficiente é considerado por alguns


autores como de morbidade e por outros como de mortalidade. Aqui será
apresentado junto aos coeficientes referentes a morbidades.

6 INCIDÊNCIA DE DOENÇAS:
EPIDEMIA E ENDEMIAS
No Brasil, a cólera apontou em abril de 1991, atingindo vários municípios
do país, com elevadíssima incidência, principalmente associada à precariedade
do saneamento básico e à presença da pobreza (CAMPOS et al., 2006). Dessa
forma, esses dois fatores foram e são considerados de risco ou determinantes
para o desenvolvimento da cólera no Brasil e também no mundo, como foi
verificado a partir de diversos estudos.

FIGURA 9 − EPIDEMIA DE CÓLERA NO BRASIL DE 1991 A 2001

FONTE: Adaptado de Campos et al. (2006)


95
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

De acordo com a Figura 9, o pico da epidemia da cólera foi entre 1991 e


1996 no Brasil, atingindo o valor máximo de 39,8 casos novos de cólera para
cada 100.000 habitantes no ano de 1993. Seguindo a linha de raciocínio da
Epidemiologia Descritiva, em 1993 e 1994, os maiores valores são apresentados
devido a algum fator de risco ou determinante no período, como saneamento
básico precário e maior nível de pobreza. A partir de 1995, esse índice de saúde
melhorou muito, caindo bruscamente, mostrando medidas preventivas e de
controle da cólera mais efetivas.

A definição de epidemias e pandemias, apresentadas e amplamente


discutidas nos Capítulos 1 e 2 deste Livro Didático, são consideradas restritas se
comparadas com as endemias, que são consideradas ilimitadas no decorrer do
tempo (CAMPOS et al., 2006).

FIGURA 10 − DENGUE EM FORTALEZA NO PERÍODO DE


1996 A 2003: NÚMERO DE CASOS (EM MILHARES)

FONTE: Adaptado de CAMPOS et al. (2006)

A Figura 10 apresenta três epidemias (D1, D2 e D3) que se acumularam num


mesmo tempo e lugar (CAMPOS et al., 2006). Dessa maneira, é possível observar
que enquanto não se adotou medidas preventivas e de controle da dengue, ao
longo do tempo e de tempos em tempos, aparecerão novas epidemias, como a
de Fortaleza.

As medidas seriam realmente efetivas se fosse, definitivamente, eliminado o


vetor, ou seja, o Aedes aegypti. Isso seria possível se fossem adotadas algumas
medidas, tais como:

96
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

• Coleta de lixo adequada.


• Drenagem.
• Eliminar água parada.
• Saneamento básico para todos.
• Educação sanitária da população.
• Conscientização coletiva de governo e população para o controle da
dengue.

QUADRO 3 − CASOS CONFIRMADOS DE COVID-19 POR


ALGUNS ESTADOS NO BRASIL NO DIA 02/04/2020

Estados Casos Confirmados


Acre 43
Alagoas 18
Amapá 11
Amazonas 200
Bahia 240
Ceará 444
Distrito Federal 355
Goiás 71
Espírito Santo 96
Maranhão 54
Mato Grosso 27
Mato Grosso do Sul 51
Minas Gerais 314
Paraná 224
Paraíba 20
Pará 40
Piauí 18
Pernambuco 95

FONTE: <https://covid.saude.gov.br/>. Acesso em: 2 abr. 2020

No caso da COVID-19, estão sendo analisadas a incidência e a


prevalência por dia, pois ainda estamos dentro da curva epidêmica e,
assim, a cada dia esses números tendem a se modificar abruptamente
ou ficarem estagnados. Na verdade, os números podem no mesmo
dia, dentro de 24 horas, variarem muito.

97
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

7 COEFICIENTE DE LETALIDADE
O Coeficiente de Letalidade transita entre os dois tipos de Indicadores de
Saúde, de Morbidade e de Mortalidade, nesse sentido, para alguns autores
de Epidemiologia, ele deve estar entre os Indicadores de Morbidade e, para
outros, entre os Indicadores de Mortalidade. Aqui, serão apresentados entre os
Indicadores de Morbidade.

A Letalidade mede o “poder” da doença de levar à morte os indivíduos que


estão com essa doença e, assim, permite avaliar a sua gravidade.

Vamos a um Exemplo, para ficar mais claro: para a COVID-19, sabe-se


até agora que sua letalidade está entre 2 a 3%. E aí virão as perguntas: Esse valor
é alto ou baixo? Como podemos definir isso? Como se interpreta a letalidade? A
letalidade poderá também informar sobre a qualidade de determinada Assistência
em Saúde ou de um determinado Serviço de Saúde relativos às ações contra uma
determinada doença ou agravo à Saúde.

O cálculo da Letalidade é:

O cálculo da Letalidade é medido em porcentagem.

O coeficiente de letalidade não mede o risco de adoecer ou de morrer, mas


sim é uma distribuição proporcional. Vamos aos exemplos sobre letalidade para
melhor compreensão:

Exemplo 1: 2% de óbitos por COVID-19.

Resposta: Para cada 100 indivíduos com COVID-19, dois morrem devido à
doença. No entanto, esse resultado é em média, ou seja, não significa que é dois
óbitos exatos, podendo ser um erro, por exemplo, de um ponto para mais ou para
menos, então, entre 1 a 3%.

Exemplo 2:

98
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

QUADRO 4 − COEFICIENTE DE LETALIDADE DO NOVO


CORANAVÍRUS POR ESTADOS DO BRASIL EM 06/04/2020

Estado Letalidade
Acre 0%
Alagoas 7,1%
Amapá 6,9%
Amazonas 3,4%
Bahia 2,2%
Ceará 3,2%
Distrito Federal 1,5%
Espírito Santo 3,6%
Goiás 2,6%
Maranhão 2,1%
Mato Grosso 1,7%
Mato Grosso do Sul 1,5%
Minas Gerais 1,2%
Paraná 2,1%
Paraíba 1,7%
Pará 1,2%
Pernambuco 10,4%
Piauí 17,4%
Rio Grande do Norte 2,9%
Rio Grande do Sul 1,7%
Rio de Janeiro 4,6%
Rondônia 8,3%
Roraima 2,4%
Santa Catarina 2,8%
Sergipe 9,4%
São Paulo 6,0%
Tocantins 0%

FONTE: <https://covid.saude.gov.br/>. Acesso em: 6 abr. 2020

Analisando o quadro, responda às questões:

I- Quais as três maiores letalidades encontradas?


II- Quais as três menores letalidades encontradas?
III- Como interpretar os resultados obtidos?
IV- Qual inferência ou quais inferências podem ser realizadas dos fatores de
risco ou de proteção para o desenvolvimento da doença em questão?

99
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

Respostas:

I- As três maiores letalidades:


1. Piauí (17,4%).
2. Pernambuco (10,4%).
3. Sergipe (9,4%).

II- As três menores letalidades:


1. Acre e Tocantins (0%).
2. Pará (1,2%).
3. Rio Grande do Sul (1,7%).

III- A cada 100 indivíduos com o novo coronavírus, 17,4 morreram da


doença, e assim por diante.

IV- Para o Piauí, provavelmente, o número de doentes é pequeno se


comparado com o Rio Grande do Sul. Além disso, pode-se inferir que
houve um número maior de pacientes com comorbidades ou mesmo
pertencentes ao grupo de risco, como os idosos.

Exemplo 3:

QUADRO 5 − NÚMERO DE CASOS CONFIRMADOS, ÓBITOS E


LETALIDADE DO NOVO CORONAVÍRUS NO BRASIL EM 06/04/2020

Número de Casos
Óbitos Letalidade
Confirmados
11.130 486 4,4%

FONTE: <https://covid.saude.gov.br/>. Acesso em: 6 abr. 2020

I- Refaça o cálculo da letalidade apresentada no quadro.


II- Como interpretar o resultado obtido?
III- Quais inferências podem ser feitas com relação ao resultado obtido
quanto aos fatores de risco para o desenvolvimento dessa doença?

Respostas:

I- Coeficiente de Letalidade: 486 x 100 = 4,4%


11.130

100
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

II- A cada 100 pacientes com o novo coronavírus, 4,4 falecem.


III- Os óbitos podem ser do grupo de risco para a doença estudada ou
apresentar fatores de risco, como possuírem comorbidades, tais como:
diabetes, pressão alta, entre outras.

Esses foram alguns exemplos do Coeficiente de Letalidade. A partir de


agora, serão apresentados e discutidos sobre os Índices de Mortalidade, ou seja,
os índices que medem o risco de morte.

1 O Coeficiente de Letalidade é um indicador de Morbidade. O


Coeficiente de letalidade representa:

a) ( ) O número de óbitos entre o número de doentes por


determinada doença, é uma porcentagem.
b) ( ) Número de óbitos pela população em geral.
c) ( ) Número de óbitos pelo número de crianças.
d) ( ) Número de doentes pelos óbitos.
e) ( ) Número de doentes.

8 COEFICIENTE DE MORTALIDADE
Serão apresentados e discutidos aqui os seguintes Coeficientes de
Mortalidade:

• Coeficiente de Mortalidade Geral.


• Coeficiente de Mortalidade Infantil.
• Coeficiente de Mortalidade Neonatal (Precoce).
• Coeficiente de Mortalidade Pós-Neonatal (Tardia).
• Coeficiente de Mortalidade por causa.

8.1 COEFICIENTE DE MORTALIDADE


GERAL
É a relação entre o total de óbitos (por todas as causas) de um determinado
local pela população exposta ao risco de morrer. Geralmente, é utilizado na

101
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

avaliação do estado sanitário de áreas determinadas e propicia a possibilidade de


se avaliar comparativamente o nível de saúde de localidades diferentes.

Por convenção, para calcular as Taxas de Mortalidade Geral e infantil, a


base é 103 = 1000.

Cálculo do Coeficiente de Mortalidade Geral:

Exemplo 1:

No município de São Paulo, em 1996, ocorreram 71.905 óbitos. A população


estimada em tal período era de 9.845.129 habitantes.

I- Calcule o Coeficiente de Mortalidade Geral.

Exemplo 2:

FIGURA 11 − MORTALIDADE GERAL NO BRASIL EM 2003:


TAXAS REGIONAIS POR 1000 HABITANTES

FONTE: Adaptado de Campos et al. (2006)

102
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

Questões:

I- De acordo com a Figura 11, qual região do Brasil apresentou maior


Mortalidade Geral?
II- De acordo com a Figura 11, qual região do Brasil apresentou menor
Mortalidade Geral?
III- Interprete os resultados encontrados.

Respostas:

I- Sudeste, com 6,4 óbitos por todas as causas para cada 1000 habitantes.
II- Norte, com 3,8 óbitos por todas as causas para cada 1000 habitantes.
III- Pode-se inferir que a Região Norte apresentou menor taxa de
mortalidade geral devido a problemas de subnotificação.

8.2 COEFICIENTE DE MORTALIDADE


INFANTIL
Mede o risco de morte para crianças menores de um ano de idade. É um
indicador de nível de saúde e de desenvolvimento social de uma determinada
região. Com esse coeficiente, pode-se avaliar o estado sanitário geral de uma
comunidade em associação com outros indicadores de promoção de saúde, tais
como o nível de escolaridades e de renda, bem como a disponibilidade de água
e de moradia (CAMPOS et al., 2006). Além disso, esse coeficiente pode servir de
indicador específico, como para orientar as ações de serviços especializados nas
Unidades de Saúde, com ações voltadas ao grupo materno-infantil (CAMPOS et
al., 2006).

Cálculo do Coeficiente de Mortalidade Infantil:

Exemplo 1:

103
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

FIGURA 12 − MORTALIDADE INFANTIL NO BRASIL


ENTRE OS PERÍODOS DE 1991 A 2003

FONTE: Adaptado de Campos et al. (2006)

A partir do Figura 12, pode-se verificar que as taxas de mortalidade infantil


vêm declinando gradualmente de modo lento, mas persistente (CAMPOS et al.,
2006).

O que é alto, médio ou baixo Coeficiente de Mortalidade Infantil? Como


interpretar os resultados? Geralmente, de acordo com a OMS (2020), são
considerados os seguintes:

1. Alto: de 50 ou mais óbitos para cada 1000 nascidos vivos.


2. Médio: de 20 a 49 óbitos para cada 1000 nascidos vivos.
3. Baixo: menos de 20 óbitos para cada 1000 nascidos vivos.

Nascidos Vivos: o produto da concepção que, depois da


expulsão ou extração completa do corpo da mãe, respira ou dá
qualquer outro sinal de vida, tais como:

• Batimento cardíaco.
• Pulsação do cordão umbilical.
• Movimentos musculares de contração voluntária.

104
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

Exemplo 2:

QUADRO 6 − MORTALIDADE INFANTIL NA CIDADE X, ENTRE 1980 A 1990

Anos Mortalidade infantil


1980 36,2
1981 32,4
1982 31,7
1983 30,5
1984 30,0
1985 26,7
1986 26,3
1987 25,2
1988 24,0
1989 20,0
1990 12,0

FONTE: A autora

Questões:

I- De acordo com o Quadro 6, o que aconteceu com a mortalidade infantil


ao longo dos anos?
II- De acordo com o seu conhecimento prévio, quais fatores de riscos ou
determinantes podem inferir que estão influenciando os resultados
obtidos?

Respostas:

I- Ocorreu um declínio da mortalidade infantil ao longo do tempo.


II- Nos anos 1980, ainda muitas pessoas morriam por diarreia, além disso,
sofria-se muito com a falta de saneamento básico e de alimentação
adequada. Dessa forma, esses podem ter sido fatores de risco ou
determinantes para o alto coeficiente de mortalidade infantil nesse
período ao compararmos com o início da década de 1990.

105
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

8.3 COEFICIENTE DE MORTALIDADE


NEONATAL (PRECOCE)
Mede o risco de a criança morrer nas suas primeiras semanas de vida.
Nesse período, geralmente, o óbito está relacionado com agressões sofridas pelo
feto durante a vida intrauterina ou nas condições do parto. As principais causas de
óbito são do tipo endógenos, ou seja, anomalias congênitas e afecções neonatais.

Cálculo do Coeficiente de Mortalidade Neonatal (Precoce):

Exemplo 1:

QUADRO 7 − COEFICIENTE DE MORTALIDADE NEONATAL (PRECOCE) E


NÚMERO DE NASCIDOS VIVOS (2300) NA CIDADE Y, DE 2000 A 2006

Anos Mortalidade Neonatal (Precoce)


2000 20,3
2001 14,3
2002 12,9
2003 12
2004 11,7
2005 11,5
2006 10,8

FONTE: A autora

Questões:

I- De acordo com o Quadro 7, o que aconteceu com a Mortalidade Neonatal


Precoce na Cidade Y entre 2000 a 2006?
II- O que pode inferir como fator de risco ou determinante para o resultado
obtido?
III- Como interpretar os dados?

106
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

Respostas:

I- Teve um declínio ao longo do período estudado.


II- Maiores cuidados com o parto no decorrer do tempo e, assim, em 2000,
morriam-se mais crianças. Isso é só uma hipótese, para testá-la, deve-se
realizar estudos de Epidemiologia Analítica.
III- Com cautela.

8.4 COEFICIENTE DE MORTALIDADE


PÓS-NEONATAL (TARDIA)
Esse Coeficiente mede o risco de a criança morrer após a quarta semana de
vida e até completar um ano de idade. Nesse período, geralmente, as causas são
de natureza ambiental e social (causas exógenas), tais como:

• Gastroenterite.
• Infecções respiratórias.
• Desnutrição.
• Saneamento básico inadequado.

Cálculo do Coeficiente de Mortalidade Pós-Neonatal (Tardia):

Exemplo 1:

QUADRO 8 − COEFICIENTE DE MORTALIDADE PÓS-NATAL


PARA A CIDADE Z NO PERÍODO DE 2010 A 2015

Ano Coeficiente de Mortalidade Pós-Natal


2010 50,4
2011 56,1
2012 43,2
2013 32,1
2014 21,8
2015 16,0

FONTE: A autora

107
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

Questões:

I- Observando o Quadro 8, o que aconteceu com o Coeficiente de


Mortalidade Pós-Natal ao longo do tempo?
II- O que podemos deduzir que aconteceu para ocorrer o resultado obtido?
Cite possíveis fatores que possam estar interferindo para se ter esse
resultado.

Respostas:

I- O Coeficiente de Mortalidade Pós-Natal foi, em geral, diminuindo ao


longo do tempo estudado.
II- Maior cuidado com essas crianças, como ações evitando desnutrição e
tendo cuidados redobrados com as gastroenterites.

Exemplo 2:

QUADRO 9 − NÚMERO DE ÓBITOS DE CRIANÇAS ENTRE 28 DIAS A UM


ANO DE IDADE E DE NASCIDOS VIVOS PARA A CIDADE W EM 2020

Número de Óbitos de Crianças entre 28 Número de


dias a 1 ano de idade Nascidos Vivos
60 1500

FONTE: A autora

Questão:

I- Calcule o Coeficiente de Mortalidade Pós-Natal.

Resposta:

I- 40 óbitos de crianças entre 28 a um ano de idade para cada 1000


nascidos vivos.

8.5 COEFICIENTE DE MORTALIDADE


POR CAUSA
Mede o risco de morte por determinada causa, em um dado local e período.
No denominador deve conter a população exposta ao risco de morrer por essa
mesma causa.
108
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

Cálculo do Coeficiente de Mortalidade por Causa:

Exemplo 1:

QUADRO 10 − POPULAÇÃO E ÓBITOS POR AIDS POR FAIXA ETÁRIA


(ANOS) E SEXO NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO (SP) EM 1996

ÓBITOS
FAIXA ETÁRIA ÓBITOS POR POPULAÇÃO POPULAÇÃO
POR AIDS
(ANOS) AIDS TOTAL MASCULINA
(HOMENS)
0 -14 81 2555809 43 1286717
15 -19 20 956744 12 462005
20-49 2606 4734298 1958 2270881
≥ 50 233 1598278 198 698524
TOTAL 2940 9845129 2201 4718127

FONTE: A autora

Questões:

I- Considerando o Quadro 10, calcule o coeficiente de mortalidade por


AIDS de acordo com a faixa etária para o Município de São Paulo em
1996.
II- Considerando o Quadro 10, calcule o coeficiente de mortalidade por
AIDS de acordo com o sexo para o município de São Paulo em 1996.
III- Considerando o Quadro 10, relate o que ocorreu com o coeficiente de
mortalidade por AIDS por faixa etária para o município de São Paulo em
1996.
IV- Considerando o Quadro 10, relate o que ocorreu com o coeficiente de
mortalidade por AIDS por sexo para o município de São Paulo em 1996.
V- Calcule o coeficiente de mortalidade por AIDS para a população total.

Respostas:

I- 0-14 anos = 3,16 óbitos por AIDS para cada 100.000 crianças.
15-19 anos = 2,09 óbitos por AIDS para cada 100.000 jovens.
20-49 anos = 55,04 óbitos por AIDS para cada 100.000 adultos.
≥ 50 anos = 14,58 óbitos por AIDS para cada 100.000 adultos ≥ 50 anos.
109
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

II- 46,65 óbitos por AIDS para cada 100.000 homens do município de São
Paulo em 1996.
III- Foi maior entre a faixa etária de 20 a 49 anos.
IV- Foi relativamente alto por considerar apenas os homens.
V- 29,86 para cada 100.000 habitantes do município de São Paulo em
1996.

Como complemento dos estudos de diferentes indicadores de


saúde, verifique o site da Organização Pan-Americana de Saúde:
https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&vie
w=article&id=14402:health-indicators-conceptual-and-operational-
considerations-section-2&Itemid=0&showall=1&lang=pt

Esses foram os principais índices de saúde utilizados em Epidemiologia.


Na próxima seção, serão apresentados e discutidos sobre os diferentes Fatores
Determinantes, de risco e de proteção.

9 FATORES DETERMINANTES, DE
RISCO OU DE PROTEÇÃO
Ao longo deste Livro Didático já foram apresentados alguns fatores
determinantes ou de risco, como idade, sexo, ocupação, estado civil, entre outros.
No entanto, agora, serão apresentados alguns estudos sobre fatores que auxiliam
no desenvolvimento de determinada doença ou agravo à saúde, sendo discutidos
para se entender melhor o processo saúde-doença.

Primeiramente, é importante entender que, nos fatores determinantes,


de risco ou de proteção, há uma multifatoriedade que está associada ao maior
ou menor desenvolvimento de determinada doença ou agravo à saúde. Esse
desenvolvimento apresenta diferentes classificações, podendo ser: endógenos ou
exógenos, por exemplo. Os endógenos podem ser fatores genéticos. Os exógenos
são fatores relacionados com o meio ambiente, como fatores socioeconômicos.

De acordo com a Epidemiologia Descritiva, podemos inferir quais fatores


poderiam estar interferindo no desenvolvimento ou não de determinada doença

110
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

ou agravo à saúde. No entanto, através de estudos mais avançados, como os da


Epidemiologia Analítica, podemos analisar se há associações entre tais fatores
e as doenças estudadas. Nesse sentido, apresentaremos resumos de artigos
científicos ou notícias nacionais como exemplos para melhor entendimento
desses fatores.

9.1 FATOR DE RISCO: TABAGISMO


Fator de Risco bem conhecido na literatura especializada para doenças não
transmissíveis, tais como:

• Câncer.
• Doenças pulmonares.
• Doenças cardiovasculares.

O hábito de fumar tem sido apontado por muitos autores como o fator de
risco, sendo considerado líder global entre as causas de morte evitáveis. Além dos
indivíduos fumantes, os passivos (que ficam próximos aos indivíduos fumantes)
também são considerados como aqueles que desenvolvem mais as doenças
apresentadas.

Maiores Informações sobre o tabagismo como fator de risco


para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis
no link: https://www.saude.gov.br/vigilancia-em-saude/vigilancia-de-
doencas-cronicas-nao-transmissiveis-dcnt/fatores-de-risco

9.2 FATOR DE RISCO:


SEDENTARISMO
O sedentarismo tem sido considerado fator de risco para as seguintes
doenças não transmissíveis:

• Hipertensão.
• Obesidade.
• Doenças cardiovasculares.

111
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

• Depressão.
• Diabetes.
• AVC.
• Estresse.

A mortalidade por causa do sedentarismo só é menor se comparado com o


tabagismo para a diabetes e doenças cardiovasculares. A OMS (2017) recomenda
que um indivíduo adulto pratique ao menos 150 minutos de atividades físicas
moderadas ou 75 minutos de atividades físicas intensas por semana.

9.3 FATOR DE RISCO: ALCOOLISMO


Esse fator de risco ou fator determinante está associado às seguintes
doenças ou agravos à saúde, de acordo com a literatura especializada:

• Tuberculose pulmonar.
• Câncer pulmonar.
• Cirrose.
• Hepatite.
• Violência doméstica.
• Acidentes de trânsito.

9.4 FATOR DE RISCO: IDADE


Esse fator de risco ou determinante se encontra associado às doenças a
seguir:

• Caxumba (para crianças).


• Catapora (para crianças).
• Coqueluche (para crianças).
• COVID-19 (para idosos).
• AVC (para idosos).
• Doenças cardiovasculares (para idosos).

112
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

9.5 FATOR DE RISCO: SEXO


Doenças com maior desenvolvimento de acordo com o sexo:

• Tuberculose pulmonar (sexo masculino).


• Câncer de próstata (sexo masculino).
• Câncer de colo de útero (sexo feminino).
• Câncer de ovário (sexo feminino).
• Câncer de mama (sexo feminino).

9.6 FATOR DE RISCO: POLUIÇÃO DO


AR
Podemos citar alguns exemplos de doenças associadas à poluição do ar,
como:

• Câncer de pulmão.
• Doenças respiratórias.
• Doenças pulmonares.

9.7 FATOR DE RISCO: GENÉTICO


Existem várias doenças em que o fator genético aumenta a chance de
desenvolvê-las:

• Diabetes.
• Tuberculose pulmonar.
• Doenças cardiovasculares.
• Síndrome de Down.
• Daltonismo.
• Obesidade.

113
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

9.8 FATOR DE RISCO: DIETA


ALIMENTAR INADEQUADA
Sabe-se que uma dieta alimentar inadequada pode acarretar uma série de
doenças ou agravos à saúde, tais como:

• Obesidade.
• Diabetes.
• Doenças cardiovasculares.
• Desnutrição.

9.9 FATOR DE RISCO: HIPERTENSÃO


A hipertensão é uma doença silenciosa que também é considerada fator de
risco para o desenvolvimento de outras doenças, tais como:

• Doenças cardiovasculares.
• AVC.
• Diabetes.

9.10 FATOR DE RISCO: RADIAÇÃO


A radiação é um fator de risco para o desenvolvimento de todos os tipos de
neoplasias (cânceres).

Para maiores informações sobre a radiação como fator de risco


acesse: https://www.saude.gov.br/vigilancia-em-saude/vigilancia-
ambiental/vigifis/radiacao-ionizante

114
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

9.11 FATOR DE RISCO: COLESTEROL


O colesterol tem sido considerado fator de risco para as seguintes doenças:

• Doenças cardiovasculares.
• AVC.
• Obesidade.

Até agora, foram apresentados fatores de riscos importantes para o maior


desenvolvimento de diversas doenças. A seguir, serão apresentados e discutidos
sobre fatores de proteção.

10 FATORES DE PROTEÇÃO
Existem fatores que podem ser considerados fatores de proteção e, assim,
diminuem a chance de desenvolver uma determinada doença ou agravo à
saúde; tendo um efeito contrário aos fatores de risco apresentados e discutidos
anteriormente. São exemplos importantes de fatores de proteção:

• Variações genéticas.
• Atividade física regular.
• Alimentação equilibrada.
• Saneamento básico adequado.
• Educação adequada.
• Estado civil.
• Idade (por exemplo, ser criança apresenta certa vantagem comparado a
uma pessoa idosa para algumas doenças, como a aterosclerose).
• Sexo (por exemplo, ser do sexo feminino protege de ter câncer de
próstata).

11 FATORES DETERMINANTES E
A DEFINIÇÃO ATUAL DE SAÚDE
SEGUNDO A OMS
No Capítulo 1, foi apresentada a definição atual de saúde de acordo com a
OMS, ou seja, o completo bem-estar físico, mental e social. Para que se alcance
essa definição, devemos entender que existem fatores determinantes para a
melhoria da saúde ou para a piora da doença ou agravo à saúde.

115
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença

melhoria da saúde ou para a piora da doença ou agravo à saúde.

Os fatores determinantes são um conjunto complexo de variáveis que


influenciam o processo saúde-doença e constam no artigo 3º da Lei 8080/90 da
Constituição Federal Brasileira. Estão entre eles:

• Alimentação.
• Moradia.
• Saneamento Básico.
• Meio ambiente.
• Trabalho.
• Renda.
• Educação.
• Atividade Física.
• Transporte.
• Lazer.
• Acesso a bens e serviços essenciais.

12 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Capítulo 3, foram apresentados e discutidos importantes Índices de
Saúde, tanto de morbidade como de mortalidade. Além disso, tratamos dos
fatores de risco, proteção ou determinantes, que são extremamente importantes
para o desenvolvimento ou não de determinada doença ou agravo à saúde.

Neste Livro Didático, aprendemos o quão importante é a Epidemiologia para


a Saúde Pública, bem como aos cidadãos. Ainda mais, atualmente, em meio a
pandemia da COVID-19, a Epidemiologia se torna uma ferramenta fundamental
para o melhor entendimento, prevenção e controle dessa doença, como de tantas
outras que assolam o Brasil e os demais países do mundo.

REFERÊNCIAS
ABRASCO. A Epidemiologia nos Serviços de Saúde. IESUS, v. 3, p. 7-14, 1997.

ALTMAN, M. Morre Hipócrates, considerado o “pai da Medicina”. 2014.


Disponível em: http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/hoje-na-historia-370-a-c-
morre-hipocrates-considerado-o-pai-da-medicina/. Acesso em: 10 jul. 2020.

116
Capítulo 3 DISTRIBUIÇÃO, FREQUÊNCIA E OS FATORES DETERMINANTES DOS DIFERENTES
PROBLEMAS DE SAÚDE

BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as


condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização
e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em: 22
jul. 2020.
CAMPOS G. W. S. et al. Tratado de saúde coletiva. Rio de Janeiro: Editora
Fiocruz, 2006.

GORDIS, L. Epidemiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2017.

MOURA, R. Notas de aula: aula de Epidemiologia dada para o curso de


Farmácia. São Paulo: UNINOVE, 2011.

OMS. Atividade física. 2017. Disponível em: https://www.saude.gov.


br/component/content/article/781-atividades-fisicas/40390-atividade-
fisica#:~:text=A%20Organiza%C3%A7%C3%A3o%20Mundial%20da%20
Sa%C3%BAde,de%2010%20minutos%20por%20dia). Acesso em: 22 jul. 2020.

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PAULA, P. F de. Fatores associados à recidiva, ao abandono e ao óbito


no retratamento da tuberculose pulmonar. 2008. Tese (Doutorado em
Epidemiologia) − Departamento de Epidemiologia, Universidade de São Paulo,
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ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA, N. F. Epidemiologia e saúde. 6. ed. Rio de


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WALDMAN, E. A. Epidemiologia I: pós-graduação em epidemiologia da


Faculdade de Saúde Pública da USP-SP. São Paulo: USP, 2006.

117

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