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A 24ª Noite
São Paulo
2017
Gogo Books
Todos os direitos reservados e
protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.
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Eu sou gostoso.
Não estou dizendo que sou perfeito, veja
bem: eu sei que não sou. Mas “ficar perdido na
cama” é um defeito que eu não tenho.
Quando eu estou na cama, meu bem, eu sou
dono do mundo.
E quando eu estou na cama com você, sou
o dono do seu mundo.
- Colin? – Amanda me mostrou o tablet
com três opções de capa – Seu pai gosta mais
dessa. – apontou para a segunda opção.
Eu odiava concordar com o meu pai.
Odiava mais ainda quando Amanda me dizia
de antemão qual a opinião dele. Fazia com que
eu me sentisse sugestionado.
Pisquei um olho para ela, sedutor.
- Diga que eu concordo. Assim acabamos
isso mais cedo e eu posso te levar pra jantar.
Tentei tocar sua mão, mas ela se
desvencilhou.
Qual o problema?
Amanda tinha passado o último semestre
inteiro dando em cima de mim, descaradamente.
Mas, depois de duas semanas de encontros
esporádicos, ela parecia ter decidido que era
melhor fingir que eu não existia. E eu nem
tinha sido safado com ela!
Não me leve a mal, eu já tive meus dias
de homem safado.
Eu sou muito gostoso e, na maior parte
do tempo, é difícil organizar as mulheres
interessadas para que elas venham uma de cada
vez. Então... eu já tive que paralelizar no
passado.
- Comendo sozinho, de novo? – uma voz
familiar me perguntou, assim que sentei na
mesa, na sua seção do restaurante.
- Nunca venho acompanhado para cá, Tati.
– sorri – Gosto de ser todo seu.
- Claro que gosta. – revirou os olhos –
O de sempre?
- Por favor.
Tatiana ainda estava na coluna de
“conquistas futuras” na minha lista de
interesses e eu estava tendo um trabalho do
caralho para muda-la de coluna.
Na maior parte do tempo, ela parecia
absolutamente desinteressada. Mas suas
respostas sagazes para os meus flertes tinham
o dom de me manter por perto.
Era uma questão de tempo.
Tatiana era uma questão de tempo.
Todas elas eram uma questão de tempo.
Eu sou gostoso em um nível sobrenatural.
- Eu não me lembro de ter pedido salada.
- Você se alimenta muito mal. – Tatiana
resmungou quando colocou o prato na minha
frente, girando-o para que a salada ficasse
perfeitamente alinhada.
- Está preocupada com minha saúde, Tati?
- Se você morrer de anemia, quem vai
chorar pra mim quando o Bayern perder?
- Ninguém. Como sempre. O Bayern nunca
perde.
- Ah-ham. Salada, Col. – ordenou,
fazendo-me sorrir.
Talvez fosse estranho imaginar que a
única pessoa na minha vida com quem eu
mantinha uma comunicação constante era a
garçonete viciada em futebol que me alimentava
quase todas as noites da semana.
Mas, assim é a vida de um playboy como
eu.
Não há espaço para amizades muito
profundas quando você tem uma mulher diferente
a cada noite.
Pulei a academia naquela quinta-feira e
fui do trabalho direto para Tati e direto para
casa. Os últimos dias tinham sido
desagradáveis e o humor do meu pai não estava
facilitando.
Tirei as roupas e estalei meus ombros na
frente do espelho, antes de entrar no banho.
Meus músculos eram rígidos e definidos, mas
depois de dois dias sem academia, eles não
ficavam tão pronunciados como o normal.
Amanhã.
Amanhã, eu ia levantar alguns pesos, sem
falta.
Tinha um encontro no sábado e eu me
recusava a deixar uma dama me receber fora do
meu potencial completo.
Meus cabelos ainda estavam úmidos quando
me enrolei nos lençóis.
Estiquei meu corpo sentindo a suavidade
do tecido egípcio, e então a suavidade de uma
pele roçando contra a minha, a suavidade de um
toque.
Abri os olhos e percebi meu quarto na
penumbra. Havia alguém na cama comigo.
Uma mulher.
Muitas mulheres.
Um sonho.
Ah, droga. “Peguei no sono” Sorri, me
perguntando por que essas porcarias nunca
viravam verdade de uma vez.
“Colin” uma delas gemeu ao meu lado.
“Colin” outra.
Um coral de “Colins” ao meu redor.
Gemendo e implorando.
Eu quis lhes dizer para ter calma. Havia
um pouco de mim para todas... Até reconhecer
uma delas.
Cristina. Minha primeira namorada.
Eu a afastei de mim para verificar se
aquilo era verdade.
“Cristina?”
“Colin” ela repetiu, mecânica.
Deus, eu não pensava em Cristina havia
anos! E agora ela estava invadindo meu sonho
erótico? Não... não fazia sentido.
“Colin” repetiram as outras vozes. E só
então eu as percebi mecânicas, assim como a de
minha primeira namorada. Não havia qualquer
calor, em nenhuma delas.
Sandra. Mônica. Liesel. Ashley. Dora.
Estavam todas lá.
Todas na minha cama.
No meu escuro.
Repetindo meu nome com sua voz
automática e sem emoção.
- Você não é gostoso.
A voz explodiu alta ao meu redor e todas
as mulheres desapareceram.
Minha cama desapareceu.
Meu quarto desapareceu.
Eu estava sozinho no escuro.
Mas havia alguém atrás de mim.
- N... Nahia? – balbuciei ao encontrar a
mulher que foi meu breve caso há alguns anos,
parada comigo na escuridão do meu
subconsciente.
- Você não é o dono do mundo, na cama.
Ela tinha os mesmos olhos penetrantes e
os longos cabelos avermelhados. Estava
deliciosa naquele tailleur preto e justo.
Não devo ter comido Nahia mais que duas
vezes... mas ela sim, tinha ficado gravada na
minha memória. Quis sorrir e ser erótico, como
era meu modo natural. Agarrá-la pela cintura e
lhe perguntar se tinha sentido minha falta.
Tirar seu tailleur e comê-la ali, de novo.
Mas havia algo no seu rosto.
Algo no modo como me encarava, com um
eterno meio sorriso que sugeria ler meus
pensamentos.
- Você não é o dono do mundo em lugar
nenhum. – acenou, espremendo os lábios com
pena.
- O quê? – gaguejei, confuso.
- E é melhor se admitir isso tudo de uma
vez. Vamos avançar mais rápido se fizer isso.
- Se fizer o quê?
- Admitir que não sabe de nada, Colin.
Não sabe nada sobre mulheres. Não sabe nada
sobre seus corpos e acima de tudo! – riu – Não
faz a menor ideia do que fazer com elas, na
cama.
- Duvido disso. – acenei, confiante.
Nahia me respondeu com uma sonora
gargalhada.
- Te fiz gozar algumas vezes, querida.
- Me fez gozar vez nenhuma, querido.
Tive que pensar em outro homem em certo
momento para evitar que o nosso encontro fosse
um pleno desastre.
- Outro homem pode ter te dado mais
orgasmos do que eu, mas...
- Andar de bicicleta já me deu mais
orgasmos do que você. – encarou as unhas,
entediada.
- Está falando isso porque se apaixonou
por mim e não foi retribuída.
Ela me encarou e sorriu. Mas dessa
vez... juro que vi seu sorriso mudar.
- Olhe só para você. – gesticulou –
Então, se a mulher não goza, a culpa é dela? –
fez uma negativa com serenidade – Pobre Colin.
Você tem tanta coisa para aprender. – respirou
fundo – Tanta coisa que eu posso te ensinar.
Estreitei os olhos para a figura ruiva
que me observava no escuro quando ela começou
a se desfazer dos botões abrindo o tailleur.
- Você não é a Nahia, não é?
- Não. – ela disse.
Os botões frontais abertos de modo que
seus seios permanecessem cobertos. Havia
apenas uma fresta no pano... uma que, apesar
da penumbra, exibia uma cicatriz única e
peculiar, verticalmente atravessada em seu
peito.
- Nós nos conhecemos? – perguntei.
- Não. Mas vamos nos conhecer, Colin. –
sorriu, fraternal – Vamos ser melhores amigos.
Table of Contents
Prólogo
A 1ª Noite
A 2ª Noite
A 3ª Noite
Epílogo