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Exoplanetologia - Em busca de um planeta habitavel Ruben Romano Borges Barbosa Mestrado em Desenvolvimento Curricular pela Astronomia Departamento de Fisicae Astronomia Orientador Pedro Viana, Professor Auxiliar, Faculdade de Ciéncias da Universidade do Porto FCUP Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel [porto FACULDADE DE CIENCIAS UNIVERSIDADE DO PORTO Todas as coragdes detrminadas eli es6 essa. foram efetadas, 0 Presdertedo si, FCUP Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel Agradecimentos Foi um estado de insuficiéncia revelado por uma sensagao desagradavel de falta que me impulsionou na concretizagao desta escalada ao “cume de Maslow’ Os mais préximos contribuiram com fortes incentivos, palavras de motivacao, sugestées, criticas valiosas e outros apoios de dificil quantificagao. A sua importancia na expresso qualitativa e quantitativa deste trabalho assume uma propriedade tao peculiar que sem eles, com toda a certeza, teria sido muito dificil aleangar um resultado digno de registo. Mencionar aqui o nome dessas pessoas constitui um de justica e de homenagem sentida da minha parte. A todos os Professores que tive o prazer de conhecer na Faculdade de Ciéncias da Universidade do Porto, Jodo Lima, Mario Joao Monteiro, Catarina Lobo e Jorge Gameiro, deixo uma palavra de agradecimento pelos valiosos conhecimentos transmitidos, elevada disponibilidade e pelo carinho no trato, Ao Professor Pedro Viana, além de enquadrado no paragrafo anterior, foi também. orientador do Seminario e desta dissertago, pelo que agradego a completa disponibilidade sempre demonstrada para me auxiliar na escrita deste trabalho, tal como 0 empenho, as sugestées, os esclarecimentos, 0s comentarios, as corregdes e 0 todo 0 material didatico que me disponibilizou, A equipa do Observatério do Parque Biolgico de Vila Nova de Gaia, Luis Lopes, Henrique Alves, Carlos Soares e Joaquim Gomes, pela enorme disponibilidade demonstrada e conhecimentos partilhados, sempre com rapidez, paciéncia, pormenor e dedicagao. Ao Joao Gregorio, astrénomo amador e reconhecido cacador de planetas, por todo 0 apoio logistico prestado, nomeadamente no fomecimento de imagens de elevada qualidade e esclarecimentos variados e incansAveis sobre aspetos relacionados com software para fotometria. ‘Ao Marco Montalto, astrénomo profissional do CAUP pela sua disponibilidade © colaboragao nos testes de preciséo do equipamento do Observat6rio do Parque Biol6gico de Vila Nova de Gaia. Four Exoplanetologia Em busca de um planeta hattvel ‘Aos meus pais Maria Amélia e Anibal Barbosa, e avé Marinho Barbosa, pelo apoio incondicional, inestimavel incentivo, sugestées valiosas, contribuindo de forma determinante de me fazer chegar até aqui. Por fim, mas nao em tiltimo, 2 minha Mulher Rosalina Barbosa, a quem devo a realizagao desta tese, pelo seu apoio permanente, manifestado repetidas vezes em siléncio, materializado em trés anos de paciéncia, de sactificio e compreensdo pela minha assidua presenga ausente e pelo carinho com que sempre a suportou. FCUP Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel Resumo Este trabalho, intitulado Exoplanetologia, tem como objetivo principal a divulgagdo da astronomia através da explorago de ideias relacionadas com exoplanetas e possibilidade de vida extraterrestre. Relativamente a temética da exoplanetologia so exploradas duas vertentes. A primeira ¢ tedrica e consiste na apresentacdo dos principais métodos de detecao planetéria, enquanto a segunda é te6rico-pratica e integra uma tentativa de detecao de um transito em observatorio. A abrangéncia da exoplanetologia abordada neste trabalho tem 0 propésito de incutir 1o leitor o gosto por esta matéria, dotando-o de conhecimentos que o tornem capaz de participar e promover encontros de divulgagao da Astronomia e atividades do género A vida extraterrestre constitui um tema forte de debate, principalmente para os amantes da Astronomia e ficgo, habituados a convivios frequentes, semelhantes & iniciativa “Jantar com 0 Astrénomo’, versando desenvolvimentos diferentes consoante as convicgées individuais de cada um. Atendendo ao enquadramento desta realizacao se inserir no ambito de um mestrado orientado para 0 ensino e/ou desenvolvimento curricular, 0 presente trabalho além de fomecer ideias a divulgadores de ciéncia, por vezes ligados a associacdes ou clubes de Astronomia e como tal funcionando como agentes do desenvolvimento da cultura cientifica, contém uma secgdo de aplicacdo de fisica que se destina também a da fisica e da professores do ensino basico e secundario, nomeadamente no domi quimica Para cumprir os objetivos propostos, os textos apresentados so descritivos e de facil compreensao. Sao também bastante ilustrados como forma de potenciar a motivagao de leitura. E mantida uma linha de raciocinio coerente em torno da ciéncia, apesar de, Por um breve momento, a ficgo tender a se fazer sentir. Por estes motivos, ndo se trata de uma tese de investigagao mas sim de divulgagao, Assim, a dissertagao encontra-se estruturada em 4 capitulos. © primeiro capitulo transporta-nos numa viagem de contexto pela Histéria da detecao planetaria, visitando momentos marcantes ao longo da sua evolugo, uma pequena homenagem a algumas personalidades que contribuiram para formarmos 0 conhecimento que possuimos atualmente. FCUP Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel Ora, tanto o divulgador de ciéncia como o professor sabem de antemao que os aficionados possuem alguns conhecimentos desta matéria que so normalmente acompanhados por um enorme conjunto de questées que se tora necessario esclarecer. O capitulo seguinte visa dotar o leitor dos conhecimentos necessarios para poder levar avante a sua missdio de divulgagao ou de ensino. © segundo capitulo aborda os principias Métodos de detecao de exoplanetas, com maior predominancia no poder do método do transito. No terceiro capitulo partimos Em busca de um planeta hal vel. Estaremos sozinhos no Universo? Existiréo civilizagdes inteligentes? Estas sdo questées colocadas também pelos filésofos da antiguidade mas com uma diferenga: hoje dispomos de técnicas mais avangadas de observacées e simulagdes computorizadas. No quarto capitulo, vamos fazer a Detegao do exoplaneta XO-1b. Esta iniciativa poderd ser a forga responsavel pela criacdo de um grupo amador de astrénomos que certamente se mantera unido nalguns serdes, proporcionando ainda oportunidade a alguns curiosos que se queiram juntar ao convivio e enriquecer os seus conhecimentos. Adicionalmente, iremos aplicar a fisica & curva de luz obtida para determinar os parametros do transito, podendo este capitulo ser adaptado para a criagao de uma atividade de divulgagao de astronomia. No final iremos concluir que os objetivos propostos foram ultrapassados e que detetar exoplanetas ou fazer andlises de dados esta ao alcance de astrénomos amadores, tal como outros astrénomos ja 0 mostraram, bastando para isso que disponham de alguma experiéncia, conhecimentos ¢ equipamento nao muito dispendioso. FCUP Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel Abstract This work, entitled Exoplanetology, has as main objective the divulgation of astronomy by exploring ideas related to exoplanets and the possibility of extraterrestrial life. Regarding the issue, two ways are explored. The first is theoretical and consists of the presentation of the main methods of planet detection, while the second is theoretical- practical and tries to detect a transiting planet in observatory. The scope of Exoplanetology addressed in this paper aims to instill in the reader a taste for this area, providing them with skills that make them able to attend meetings of Popularization of astronomy activities and the like, The extraterrestrial life is a matter of debate, especially for lovers of astronomy and science fiction, accustomed to frequent gatherings, similar to the "Dining with Astronomer" initiative, addressing different developments depending on the individual beliefs of each. Given the framework of this realization comes under a master-oriented to teaching and curriculum development, this work not only provides ideas to enthusiasts, sometimes linked to associations or clubs Astronomy and as such agents of development of scient culture, but also contains a section on physi s application that is aimed at teachers of primary and secondary education, particularly in the field of physics and chemistry. To meet the proposed objectives, the texts are descriptive and easy to understand. They are also fairly illustrated in order to maximize the motivation of reading. A coherent line of reasoning is maintained around the science, though, for a brief moment, science fiction tends to be felt. For these reasons, it is not a research thesis, but of science outreach. Thus, the dissertation is structured in 4 chapters. The first chapter takes us on a journey through the historical of planetary detection, visiting striking moments throughout its evolution, a small tribute to some personalities who contributed to the knowledge we currently have. However, both the promoter of science as well as the teacher knows in advance that it audience have some knowledge of this subject that are usually accompanied by a huge range of questions that it becomes necessary to clarify. The following chapter aims to FCUP Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel give the reader the knowledge needed to be able to carry out its mission of science popularization and teaching. The second chapter addresses key methods for detecting exoplanets, with concentration on in the power of the transit method. In the third chapter we start looking for a habitable planet. Are we alone in the Universe? Do intelligent civilizations exist? These issues were also raised by philosophers of antiquity but with a difference: we now have advanced techniques of observation and computer simulation. In the fourth chapter, we will attempt the detection of exoplanet XO-1b. This initiative may be responsible for the creation of a group of amateur astronomers who will certainly keep united for some evenings, providing further opportunity for some curious who want to join the fellowship and enrich their knowledge. Additionally, we will apply our physical knowledge to the light curve obtained to determine the transit parameters and this chapter can be adapted to create an activity for the popularization of astronomy. In the end we will conclude that the goals were achieved and the detection of exoplanets and make data analysis is available to amateur astronomers that have some experience, knowledge and access to low cost equipment. FoUP | 9 Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel indice Agradecimentos. Resumo Abstract .. Indice... Lista de figuras Lista de tabelas. Lista de variaveis 1. Historia da detegao planetaria.... 1.1. As primeiras teorias. 1.1.1. Astronomia primitiva 1.1.2. Astronomia pré-cientifica e 0 Geocentrismo 1.1.3. A revolugao Heliocéntrica . 1.2. Duas décadas de descobertas 2, Métodos de detegao de exoplanetas.... 2.1. Velocidade Radial 2.1.1. Historia 2.1.2. Aassinatura da velocidade radial 2.1.3. Comparagao de velocidades radiais 41 2.1.4, O espetrégrafo HARPS .. 2.1.5. O exoplaneta HD 156846 b 2.1.6. O sistema planetario HD10180 2.1.8, Limitagoes .. 2.2. Astrometria. 2.2.1. Historia 2.2.2. A assinatura da astrometria.... 2.2.3. Comparagao de assinaturas astrométricas 2.2.4. Combinagao de métodos de detegao. 2.2.5. Movimento astrométrico do Sol FoUP | 10 Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel 2.2.6. Observatorio Espacial GAIA..... 52 2.2.7. Vantagens e desvantagens 53 2.3, Detecdo direta.. 2.3.1. Historia 2.3.2. A assinatura da detecao direta 2.3.3. Comparagao de detegses diretas 2.3.4. Oticas adaptativas 2.3.5. Vantagens e limitagées... 2.4, Transito 2.4.1. Transito de Vénus. 2.4.2. Configuragao do transito. 2.4.3. Probabil jade do transito 2.4.4, Descrigao do Transit... 2.4.5. Parametros fisicos do Transit 2.4.6. De candidato a exoplaneta confirmado: 2.4.7. A experiéncia WASP...... 2.4.8. O telescdpio Kepler 2.4.9. Variagées de tempo de transito (TTV) 2.4.10. Dez anos de investigacao e descobertas. 2.5. Lente gravitacional 82 3. Em busca de um planeta habitavel 3.1, Relagao Massa x Rai 3.2. A excentricidade orbital 3.3. Principais resultados HARPS x Kepler 3.4. A vida na Terra. 3.5. Vida alienigena no Sistema Solar.. 3.5.1. A vida nos locais mais inéspitos da Terra 3.5.2. Procurando no Sistema Solar. 3.6. Exoplanetas potencialmente habitaveis 3.6.1. Conceito de Zona Habitavel (ZH) 98 Four | 11 Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel 3.6.2. Gliese 667 — Visdo global .. 102 3.6.3. Outros Exoplanetas 104 3.7. O futuro da velocidade radial 105 3.8. Civilizagées extraterrestres.. 106 4. Detegao do exoplaneta XO-1b. 1 112 4.1. O projeto XO 4.2. O exoplaneta XO-1b. 112 4.3. Detegao do XO-1b.. M15 4.3.1. 0 Observatério do Parque Biolégico de V.N.Gaia 115 4.3.2. Teste de precisdo do equipamento 115 4.3.4, Planeamento da observagao 119 4.3.4.1, Efeméride 119 4.3.4.2. Software 121 122 4.3.4.3. 0 campo visual. 4.3.5. Aquisigao de dados 122 4.3.6, Processamento de imagens 123 123 4.3.5.1. Redugao de imagens. 4.3.5.2. Fotometria diferencial 125 4.3.7. Curva de luz... 126 4.3.8. Aplicagao da fisica. 128 ‘Semiamplitude da velocidade radial 129 Periodo orbital. 130 Semieixo maior 130 Massa do planeta. 130 Excentricidade. 130 Raio do planeta 130 Duragao do transito. 131 Protundidade do transito...... 131 Parametro de impacto. 132 Parametro a/R + 2 182 FouP | 12 Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel Inclinagao da érbita 132 Densidade da estrela 133 Densidade do planeta 133 Gravidade a superficie .. 133 Fisica de atmostera planetaria 134 136 Temperatura de brilh Temperatura de equilibrio (diurna e noturna) 139 Zona habitavel.. 140 Tempo de circularizagao da érbita 142 Eventual destruigao do planeta ... 142 4.3.9. Exofast — Transit / RV fitter... 143 5. Conclusao. 146 6. Bibliografia. 149 Fou | 13 Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel Lista de figuras Capitulo 1 Figura 1 — Universum: representagao do Universo em xilogravura 20 Figura 2 - Conceito hindu do Universo... Figura 3 - Newgrange e Stonehenge Figura 4 — Movimento retrégrado de Marte Figura 5 — Representagao do Universo de acordo com 0 modelo Geocéntrico. 24 Figura 6 - Modelo com epiciclos. Figura 7 - Modelo heliocéntrico de Copémico ... Figura 8 — Modelo geo-helioc&ntrico de Tycho Brahe Figura 9 — Representagao gréffica da 3* lei de Kepler Figura 10 — Apontamentos de Galileu sobre as luas de Jupiter Figura 11 — Exoplanetas confirmados até ao dia 22 de Outubro de 2013 34 Figura 12 — Variagdo da massa planetaria em fungao da distancia a estrela. Capitulo 2 Figura 13 — Representagdo artistica de KOI-961, um sistema compacto composto por 3 planetas. Figura 14 — Representagao do método da velocidade radial Figura 15 — Projegdo da érbita no plano. Figura 16 - O espetrograto HARPS. Figura 17 ~ Evolugao da velocidade radial da estrela HD 156846 . Figura 18 — Evolugdo da velocidade radial da estrela HD 156846 ao longo do periodo Figura 19 - Velocidades radiais do sistema planetario HD10180. Figura 20 - Medico da velocidade radial do HD 33636 b 50 Figura 21 - Medigao da assinatura astrométrica HD 33636 B Figura 22 — Orbita do Sol num periodo de 51 anos... Figura 23 — Sistema HR 8799 55 FoUP | 14 Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel Figura 24 — Sistema Fomalhaut...... Figura 25 — Sistema Pictoris Figura 26 ~ Sistema binario IW Tau.. Figura 27 — Representagao esquematica do funcionamento da otica adaptativa ........60 Figura 28 — Projegao do feixe de laser de sédio em ética adaptativa.. Figura 29 - Transito de Venus. 61 Figura 30 — Representagao esquematica do método do transito. 62 Figura 31 - Geometria da zona de sombra. Figura 32 — Transito e velocidade radial da HD 209458 b. Figura 33 — Representacdo esquematica da variacao da curva de luz em fungao da estrela (tempo e profundidade) 65 Figura 34 — Representacao do transito ao longo do tempo 65 Figura 35 — Representacao da forma do transito ao longo do tempo x fases do planeta 67 Figura 36 — O escurecimento do limbo em fungao da distancia do transito ao equador 69 Figura 37 — O efeito cor na observacao Figura 38 — Variagao do brilho (ruido) ao longo do tempo. Figura 39 - Observatorio WASP... Figura 40 — Zonas do espago (a azul) rastreadas pelo projeto WASP Figura 41 — Visao artistica do telesc6pio Kepler 76 Figura 42 - Campo de observacao do telescépio Kepler na zona da constelacao do Cisne 76 Figura 43 - Exoplanetas descobertos pelo telescépio espacial Kepler e por outros métodos.. Figura 44 — Variagao de tempo de transito em Kepler 16 b. Figura 45 - Exoplanetas detetados pelo método do transito. Figura 46 — Comparacao da densidade planetaria em fungao da massa. Figura 47 — Microlente gravitacional 81 FoUP | 15 Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel Capitulo 3 Figura 48 — Representacdo artistica de Kepler 62 {, um exoplaneta semelhante a Terra localizado numa zona potencialmente habitavel .. 83 Figura 49 — Variagdo da massa dos novos exoplanetas ao longo dos anos descobertos pelo método da VR 84 Figura 50 — Relacéo [nimero de exoplanetas x massa] obtida pelo HARPS-CORALIE através da VR. 85 Figura 51 — Relagdo [numero de exoplanetas x raio] obtida pelo KEPLER através Transit 85 Figura 52 - Relagdo massa em fungo do raio, permitindo estimar a estrutura do planeta 86 Figura 53 — Excentricidade em fungao do periodo 86 Figura 54 — Relacao [excentricidade x massa do planeta] Figura 55 — Relagao [excentricidade x numero de planetas do sistema]. Figura 56 - Europa, lua de Jopiter: 96 Figura 57 - Encélado, lua de Saturno. Figura 58 — Evolugao da luminosidade, temperatura e raio do Sol na SP. 100 Figura 59 — Comparagao da semelhanga com a Terra de exoplanetas localizados na zona habitével (ZH), 102 Figura 60 ~ Representacao da ZH do sistema planetario Gliese 667C... 103 Figura 61 -Representacdo esquematica de Kepler-22b na ZH 105 Figura 62 ~ Representacao esquematica de Kepler-62e e {na ZH 105 Figura 63 — Relacdo [massa x distancia @ estrela] e precisdo de varios espetrografos 107 Capitulo 4 Figura 64 ~ Representagao artistica do exoplaneta XO-1b em érbita Figura 65 ~ Caracteristicas do XO-tb.... 113 Figura 66 - Precisao A magnitude .. 119 Figura 67 — Consulta do site ETD mostrando as previsdes do transito .. 120 Figura 68 - Freeware Muniwin. Barra de ferramentas 124 FouP | 16 Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel Figura 69 — Pormenor do campo visual da observagao 122 Figura 70 — Master bias, dark e flat 124 Figura 71 — Redugao de imagens. Maxim DL 124 Figura 72 - Selegao de estrelas para fotometria diferencial Muniwin. 125 Figura 73 — Selegao de estrelas para fotometria diferencial. Maxim DL. 126 Figura 74 — Verificagao da estabilidade das estrelas de comparagao e de verificagao Muniwin, 126 Figura 75 - Curva de luz XO-1b. Muniwin 127 Figura 76 — Massa de ar. Muniwin .. 127 Figura 77 -. Estabilidade das estrelas escolhidas e a curva de luz. Maxim DI 128 Figura 78 — Representacao do transito ao longo do tempo 128 Figura 79 — Transito completo normalizado, XO-1b. Gnupiot 129 Figura 80 ~ Representacao da obtengao do espetro de luz da zona do terminador de um exoplaneta durante 0 transito..... 135 Figura 81 — O espetro de absorgao do planeta XO-1b 135 Figura 82 — Evolugdo da temperatura nas diferentes camadas da atmosfera terrestre 136 Figura 83 - Variagao da ocultagdo do XO-1b em fungao do comprimento de onda .. 137 Figura 84 — Variagao da ZH em fungao da migracao para o interior do XO-1b. ..... 141 Figura 85 — Transit fitter com Exofast. 144 Fou | 17 Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel Lista de tabelas 42 Tabela 1 - Comparagao das velocidades radiais no sistema solar Tabela 2 - Comparacao das assinaturas astrométricas em fungao da distancia do planeta a sua estrela 49 Tabela 3 - Impacto do planeta na deslocagao da érbita do Sol relativamente ao centro de massa 52 Tabela 4 — Comparagao das assinaturas de detegao direta em fungao do periodo ....58 Tabela 5 — Valores atribuidos por Drake sua equagao 109 Tabela 6 — Temperatura do planeta XO-1b em fungéo do comprimento de onda, utilizando a Lei de Plank e a lei de Rayleigh-Jeans. 139 FouP | 12 Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel Lista de variaveis Variaveis Veud key PR Peransito Pocuttasto i % t Tentrada Tsaida 7 Teotat d BUF Ss ° Sp Pp Pe Teran Tocut Velocidade radial ‘Semiamplitude da velocidade radial Longitude do nodo ascendente Argumento do periastro Assinatura da astrometria (amplitude) Assinatura da detegao direta (amplitude) Poder resolvente Probabilidade de transito Probabilidade de ocultagao Incinago da érbita Velocidade orbital do planeta ‘Tempo de entrada ou de saida Tempo de entrada Tempo de saida Tempo total do planeta a frente da estrela Duragao do transito Distancia a estrela Frequéncia (utilizado na observacao) Racio entre 0 raio do planeta e o da estrela Periodo orbital Semieixo m Excentricidade orbital Duracdo do transito Profundidade do transito Parametro de impacto Gravidade a superficie Densidade do planeta Densidade da estrela Duracdo do transito Duragdo da ocultagao Numero de lizagdes na Galaxia com capacidade de comunicar R* nr fy fi Trocturna Taiurna Toa T. 5, ) Socut Ry ZH te dr FCUP Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel Taxa de formagao de estrelas na Galaxia Fragao de estrelas que tém planetas Numero de planetas ou luas com condigdes parecidas com as da Terra Fragao de planetas que desenvolveram vida Fraco de planetas que desenvolveram formas de vida inteligente Fracao de espécies que podem (e querem) comunicar Tempo médio de vida de uma civilizagao Fluxo Fluxo da estrela Albedo Redistribuigdo de calor pelo lado noturno do exoplaneta Massa do planeta Massa minima do planeta Massa da estrela Massa de Jtpiter Raio do planeta Raio da estrela Temperatura de Kelvin-Helmholtz Temperatura do exoplaneta antes ou depois do transito ‘Temperatura do exoplaneta antes ou depois da ocultagao Temperatura de equilibrio do exoplaneta Temperatura da estrela Temperatura de brilho Profundidade da ocultagao Esfera de Hill Zona habitavel Tempo de circularizagao da érbita Destruigao tidal (limite de Roche) 19 FCUP Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel 1. Historia da detegao planetaria As teorias tém 4 fas E verdadeiro mas Fig. 1 - Unvorsum: roprasentago do Universo om sclogravura, usada polo astrénomo na obra “L‘atmasphoro: météorologie populate’ (Pais 1888) - (Coloragdo de Heikenwaclder Hugo, Viena 1998), lustrando a cosmologia da “Terra plana, A esquerda, um homem procura desvendar os mecanismos que produzem 0 movimento do Sol, da Lua @ os planetas Fonte: Wikipedia, A Astronomia 6 a ciéncia que estuda o céu e existe hd dezenas de milhares de anos. Mesmo assim, a necessidade de compreender 0 Universo continua téo viva nos nossos dias como nos dos povos mais ancestrais. A tecnologia que dispomos hoje permite-nos avangar cada vez mais depressa... mas os primeiros tempos nao foram faceis e pouco ou nada se descobriu. Neste capitulo iremos recordar os primeiros avangos na compreensao do universo, com mais enfase na questao planetaria, @ terminaremos com as duas tiltimas décadas de descobertas. Four | 21 Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel 1.1. As primeiras teorias 1.1.1. Astronomia primitiva A Astronomia primitiva baseia-se num visao religiosa e filosofica para explicar 0 que é © Universo. A Astronomia remonta a tempos ancestrais e tera surgido quando © homem levantou a cabega e comecou a observar as estrelas do céu noturno. A primeira representagao de corpos celestiais foi proposta com base na observacao e 1a interpretagao religiosa, que desde cedo se mantiveram numa ligagao estreita, Por exemplo, na india acreditava-se que o mundo estava suporiado em 4 elefantes gigantes e estes estariam apoiados numa enorme tartaruga, conforme mostrado na figura 2. Este era 0 conceito hindu do Universo, dividido em tres —regides distintas: a Terra, o firmamento Fig. 2 Concotto hind do Universo. Fonte eeenne ater hitp:lwww fsicanelgiovanelastre/ Modul /cosmologia-antiga him Porém, os primeiros astrénomos estavam interessados no movimento dos planetas e das estrelas e notaram que a altura do Sol variava de forma periédica. Alinhavaram enormes blocos de pedra na diregao das estrelas para construirem sepulturas. © Homem, némada, no tinha qualquer atividade excetuando as inerentes a sua propria sobrevivéncia, nomeadamente a recoletora e a caca. Interessava apenas ter a nog&o de acontecimentos to simples como a época em que os frutos amadureciam ou a época em que as aves regressavam. Importava, acima de tudo, maximizar as possibilidades de sobrevivéncia. E foi assim que os objetos celestes se revelaram o sistema de orientagao mais seguro, surgindo, mais uma vez por necessidade, os primeiros registos das posigdes de determinados objetos na estera celeste. Sensivelmente ha cerca de 10 000 anos, o Homem iniciou a domesticagao de animais e 0 Cultivo de cereais, tornando-se sedentario. Estas novas atividades estiveram na Four | 22 Exoplanetaogia - Em busca de um planeta habtvel origem da necessidade de um conhecimento mais profundo do ciclo anual das estagdes. Era possivel comecar agora a estabelecer um calendario anual, facilitado pela sedentarizagéo que permitia a guarda dos registos efetuados sobre acontecimentos ocorridos e observados. Noutras partes do mundo, evidéncias de conhecimentos astronémicos muito antigos foram deixadas na forma de monumentos, como: * 0 de Newgrange, construido em 3200 a.C. (no solsticio de inverno, 0 sol ilumina o corredor e a camara central) & * ode Stonehenge, que data de 3000 a 1500 a.C. (onde o alinhamento das lajes indica a diregao do nascer do Sol no solsticio de verao). Estes monumentos megaliticos também revelam a importancia do registo de fenémenos periédicos. Fig.3~A esquerda, Neworange e &creta Stonehenge. Fontes: htpi/len wikipedia orgivkiNeworange © Inpssience natonalgeogranic com ciencelarchacoogy/phots'stonehenge! Além das estrelas, os primeiros astrénomos notaram a existéncia de 5 outros corpos que se moviam no céu mas de forma diferente das estrelas. Hoje conhecemos esses corpos como Merctirio, Vénus, Marte, Jupiter e Saturno, correspondem aos planetas mais brilhantes do nosso Sistema Solar. Noite apés noite, verificaram que esses corpos demoravam meses a atravessar 0 céu, faziam-no a velocidades diferentes, com movimentos independentes e por vezes até invertiam 0 seu sentido de movimento (figura 4). E este fendmeno era muito intrigante pois nao estava de acordo com os modelos cosmolégicos essencialmente religiosos, nem havia qualquer explicacdo. FCUP Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel Fig. 4 Movimento retrograde de Marte, Fone: hp//apod.nase.gowlapod!ap060422.html 1.1.2. Astronomia pré-cientifica e o Geocentrismo A Astronomia pré-cientitica baseia-se na viséo do principio da observacao e da fisica para explicar como funciona 0 Universo, néo sendo suportada por uma teoria integrada. Os gregos conseguiram basear se nas lendas primitivas e gerar uma série de pensamentos filosdficos e cientificos bastante interessantes, sistematizando o conhecimento. Tentaram impor limites as crengas em divindades, ajustando e testando estas concegées, alcangando progressos cientificos muito significativos. As primeiras teorias cientificas do Universo surgem na Grécia antiga por volta de 700 a.C. na chamada Escola Jénica (atual Turquia) por intermédio de Tales. Nesta época formulam-se as primeiras teorias cosmolégicas utilizando argumentos geométricos para determinar a escala do Universo (indicadores de distancia), a posico relativa dos astros (distribuigéo da matéria em maior escala) e a composigao do Universo (teoria atomista). Aristételes, um dos maiores pensadores de todos os tempos e criador do pensamento légico, ¢ 0 primeiro a tentar explicar os fenémenos naturais baseado em principios fundamentais. Para ele, a Terra era esférica. A seu favor tinha os seguintes argumentos: * os navios que vao desaparecendo aos poucos no horizonte, 384.a322a.€, * diferentes constelagdes que vo aparecendo no céu conforme andamos sobre a Terra € * a sombra da Terra projetada na Lua é sempre arredondada. Four | 24 Exoplanetologia Em busca de um planeta hattvel Aristételes explicou que as fases da Lua dependem de quanto da parte da face da Lua iluminada pelo Sol esta voltada para a Terra. Explicou também os eclipses * um eclipse do Sol ocorre quando a Lua passa entre a Terra ¢ 0 Sol; ‘* um eclipse da Lua ocorre quando a Lua entra na sombra da Terra. Com a nova viséo do mundo terrestre redondo, tudo ficava diferente e estranho: * eta possivel navegar pelo oceano sem nunca chegar ao fim do mundo e * se caminhassemos sempre na mesma diregao acabariamos por voltar ao ponto de partida. E havia consequéncias absurdas: * em qualquer lugar da Terra, devem existir pessoas e como tal, do outro lado, estardo de cabeca para baixo em relagao a nds... e nao caem da Terra, + a propria Terra nao esta apoiada nem presa a nada e apesar disso nao cai. Ideias como estas devem ter sido consideradas como muito dificeis de aceitar ou mesmo impossiveis. Neste periodo emergiu 0 modelo geocéntrico, ilustrade na figura 5, que dominou o pensamento cientifico até o final da idade média: * a Terra era 0 centro do Universo e todos os outros corpos movimentavam-se em seu redor e * as estrelas estariam fixas a esfera celeste e os astros mais proximos nao cairiam na Terra devido a influéncia da quintesséncia. Hipelecie Prlensica Mplegfina. Fig. 5 - Representagao do Universe de acordo com 0 madelo Geocéntrico. Fonte htp/(gallryhip.comlaristole ‘model. him FoUP | 25 Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel Estavamos perante um novo modelo cosmolégico: 0 Geocéntrico. © Geocentrismo permitiu: * perceber os eclipses e as fases da lua, + deduzir a esfericidade da Terra e ‘+ mediro tamanho da Terra. mas nao explicou: ‘* as velocidades diferentes dos planetas, ‘+ nemo seu movimento retrogrado. importantes descobertas surgiram depois com Aristarco de Samos, Eratéstenes de irene e Hiparco de Nicéi Aristarco de Samos ter apresentado uma alternativa ao modelo geocéntrico no qual 0 Sol seria 0 astro dominante, antecipando Copérico em quase 2000 anos. Mas esta sugestéo nao teve praticamente qualquer impacto no pensamento cientifico desta época. 310 a 230 AC. Eratéstenes de Cirene obteve um valor real para o raio da Terra e mediu com relativa preciséo 0 perimetro da sua circunferéncia maxima (equatorial) Desconhece-se se 0 resultado obtido por Eratéstenes estava ou nao préximo do resultado correto, pois nao se ~ "sabe ao certo qual € 0 valor da converséo da unidade de medida o76a194ac, usada, mas a ideia estava certa. Entretanto, Apollonius de Perga (262 a 190 ac), matematico, propde melhorias ao modelo de Aristételes, introduzindo: + epiciclos, isto 6, um modelo no qual os planetas descrevem movimentos de Pequenos circulos que se mover sobre circulos maiores, esses centrados na Terra e * excentricidade nas érbitas. A figura 6 mostra o modelo com estas alteragées. Os epiciclos permitiram explicar as observagdes, nomeadamente o movimento retrégrado de alguns planetas, como por exemplo: Marte, enquanto que a excentricidade explicou as variacdes de velocidades. FCUP Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habit Fig, 6 ~ Modelo com epiciclos. Fonte: rtp:/wwwhte.usp.br/servr/Sites-HFGeraldofptolemaico. ttm. Hiparco de Nicéia, considerado o maior astrénomo da era pré-crista, construiu um observat6rio na ilha de Rodes onde fez algumas observages. Como resultado, compilou um catélogo com a posigao no céu e magnitude de 850 estrelas. Hiparco deduziu corretamente a diregao dos pélos celestes e a precessdo dos equinécios. Pensa-se que tera ainda contribuido para a teoria dos epiciclos que viria a ser 190.4 120. apresentada mais tarde. {Claudio Ptolomeu foi o ultimo astrénomo importante da antiguidade. 5 Popularizou 0 modelo de Apollonius de Perga e estimou o tamanho do Universo, isto é: a distancia da Terra a esfera de estrelas fixas, obtendo um valor inferior 4 UA. © Universo descrito por Ptomomeu iria prevalecer durante 14 85at65 — séculos. Porém, 0 modelo continuava a nao descrever corretamente as observagdes @ Ptolomeu introduziu epiciclos sobre os epiciclos iniciais. A dificuldade em explicar a rotacao dos epiciclos associada as falhas na previsdo dos movimentos dos planetas esteve na base do modelo cosmolégico seguinte. Four | 27 Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel 1.1.3. A revolugdo Heliocéntrica Até ao século XVI todos os modelos aceites eram baseados no sistema de Ptolomeu & representavam Universos geocéntricos principalmente devido a influéncia dogmatica da igreja e 0 éxito da teoria dos epiciclos. E nesta altura que se anuncia uma verdadeira revolugao intelectual, iniciada por Nicolau Copérnico e 0 seu modelo heliocéntrico. Esta revolugao libertou 0 espirito humano da sua anterior obsessao geocéntrica e gradualmente abriu caminho ao aparecimento de novos Universos. O heliocentrismo veio a ser proibido pela Igreja com fundamento no Salmo 104:5 do Antigo Testamento, onde esté escrito: “Deus colocou a Terra em suas fundacées, para que nunca se mova.” Nicolau Copémico, baseado no facto do sistema geocéntrico falhar na previsio dos movimentos dos planetas, propés um modelo alternativo (como tinha sido feito por Aristarco) através do langamento das seguintes teorias: * 0 Sol é préximo ao centro do Universo; * pert do Sol, por ordem, encontram-se os planetas Merciirio, Roaaier Venus, Terra, Lua, Marte, Jipiter, Saturno e as estrelas fixas; * © movimento retrégrado dos planetas é explicado pelo movimento da Terra; + a disténcia da Terra ao Sol pequena quando comparada a distancia as estrelas; Um forte argumento contra o sistema de Copéinico consistia no facto de néo ser observado qualquer desvio anual na posigao das estrelas fixas, a que se dé o nome de paralaxe. Esta variagdo aparente da posigéo das estrelas 6 consequéncia do movimento anual da Terra em tomo do Sol. A estas criticas, Copémico deu a mesma resposta que Aristarco havia dado antes, isto 6, que as estrelas se encontravam demasiado afastadas para se poder detetar o efeito de paralaxe. No entanto, a Unica explicagao dada pelos heliocentristas, para a nao observagao do efeito de paralaxe, tornava-se inaceitavel para muitos, j& que na época era absurdo supor-se que as estrelas estivessem a enormes disténcias da Terra, Copémico parece ter previsto o impacto que a sua teoria provocaria, tanto assim que 6 permitiu que a obra (lio De Revolutionibus Orbium Coelesti) fosse publicada apés a sua morte. © modelo heliocéntrico provocou uma revolugéo ndo somente na astronomia, mas também um impacto cultural com reflexos filoséficos e religiosos. © modelo aristotélico havia sido incorporado de tal forma no pensamento que tirar 0 homem do centro do Universo, acabou por se revelar uma experiéncia traumatica. © modelo cosmolégico evoluiu para o heliocéntrico, mantendo as drbitas planetarias circulares, conforme figura 7. FoUP | 28 Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel Fig, 7~ Modelo heliocéntice de Copérnico, Fonte: hntpen. wikipedia og/wik’ Copernican Revolution Wikipedia Contudo, a observagao continuava a ser determinante para correla construgao dos modelos. ‘Tycho Brahe teve um papel importante ao avangar as técnicas de fazer medidas precisas com instrumentos a olho nu, pois lunetas e telescépios ainda nao haviam sido inventados. Essas medidas eram cerca de dez vezes mais precisas do que as medidas anteriores. Sempre obcecado pela preciso nas suas observagées, Tycho 1546 a 1601 construiu muitos de seus préprios instrumentos, entre eles um sextante com bragos de quase dois metros cada, muito mais preciso do que qualquer outro ja construido. E ao construir instrumentos cada vez maiores, estes iriam tornar-se naturalmente mais precisos. O sextante é um instrumento elaborado para medir a distancia angular na vertical entre um astro e a linha do horizonte para fins de célculo da posi¢ao. Tycho Brahe acreditava num modelo em que alguns planetas giravam em torno do Sol @ o resto em tomo da Terra (figura 8) FoUP | 29 Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel Fig. 8 - Modelo geo-heliocénrice de Tycho Brahe, Fonte: htps:/icienciasetecnologia.commodelo-brane-kopler sistema: solar "lan Na verdade todo o seu empenho em realizar observagdes mais precisas era para confirmar este modelo que por seu lado também explicava a auséncia da paralaxe. O modelo cosmolégico passava a geo-heliocénttico © excelente trabalho de Tycho como observador valeu-Ihe o patrocinio do rei da Dinamarca, Frederic II (1534-1588) na construgéo do seu proprio observatério na pequena ilha baltica de Hven (entre Dinamarca e Suécia). Em 1600 (um ano antes de sua morte), Tycho contratou para ajuda-lo na analise dos dados sobre os planetas, colhidos durante 20 anos, um jovem matematico alemao chamado Johannes Kepler. Entretanto Thomas Digges moditicava 0 sistema de Copémico removendo a estera exterior das estrelas fixas e distribuindo-as numa regido nao limitada. O Universo passava de ito para infinito, Kepler usou as medidas de Tycho, de alta qualidade nessa época, para estabelecer suas leis de movimento dos planetas, vindo a publicar os primeiros resultados sobre a 6rbita de Marte. Estes resultados nao eram compative com trajetérias circulares mas sim com eliticas. 1571 a 1630 FoUP | 90 Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel Formulou entao 3 leis: 1. Leis das Orbitas: as orbitas dos planetas sao elipses em que o Sol esta num dos focos. 2. Leis das Areas: o raio vector que une o Sol a um planeta varre areas iguais em intervalos de tempo iguais. 3. Leis dos Periodos: 0 racio dos cubos dos semi-eixos maiores das orbitas de dois planetas ¢ igual ao racio dos quadrados dos seus periodos orbitais. Estas leis estavam de acordo com os dados de observagao disponiveis & representavam um progresso significativo no sentido de fundamentar um modelo heliocéntrico. No entanto, eram leis puramente cinematicas @ empiricas. 1000.0 Pluto — Planets Neptune ea: Uranus E 100 ¢ g é 10 Ly“, i, ot 10 100 1000 10000 ‘Semi-Major Axis (AU) Fig, 8 - Raprosentagdo ordi da 3" ll de Kepler, mastrando a varagdo do periodo om funcdo da distancia a ostrola, Fonte: hip/asetuts.edu/cosmos/, A prova da validade do seu modelo deu-se quando as suas tabelas foram as tnicas a prever com exatidéo a passagem de Mercurio em frente do Sol. © modelo cosmolégico passa a ser o heliocéntrico, com érbitas planetarias eliticas. Por volta de 1609, Galileu Galilei percebeu a utilidade de utilizar a lente para construir um telescdpio capaz de observar os objetos celestes com maior precisaio. Apesar da qualidade éptica ser ainda rudimentar, este telescépio constituia um enorme avango em relagdo as observagées anteriores 1564.a 1642 feitas a olho nu. Four Exoplanetaogia - Em busca de um planeta habtvel Com o seu telescépio, demonstrou que a Lua tinha crateras e montanhas, nao sendo to perfeita quanto se imaginava no passado. Observou que a Via Lactea era composta por uma imensidao de estrelas e descobriu 4 luas de Jipiter. Percebeu, ainda em 1610, que o planeta Vénus mostrava o fenémeno de fases e, como tal, devia orbitar em toro do Sol (@ nao da Terra). Esta verificagao foi destruindo gradualmente 0 fundamento do modelo geocéntrico. A 7 de Janeiro de 1610, fez as ma 8 primeiras observagées tendo visto 3 das 4 luas de Jupiter alinhadas com o planeta (figura 10). Posteriormente, descobriu que elas fe aes se moviam em torno do planeta e a a i O* formavam um minisistema solar {Atel os on aed wa ten semelhante a proposta de * Mere. Copénico. Fg, 10 Aporiamentos de Galle sobre as vas de Jupiter. Font: hitps/on.wikipodia orgiwikiGalloo Gallet ‘As descobertas de Galileo proporcionaram grande quantidade de evidéncias em suporte ao sistema heliocéntrico. Por causa disso, ele foi chamado a depor perante a Inquisigéo Romana sob acusagao de heresia Apenas em 1980, 0 Papa Jodo Paulo Il ordenou um re-exame do processo contra Galileo, 0 que acabou por eliminar os ultimos vestigios de resisténcia, por parte da igreja Catdlica, & revolucdo Copernicana. Galileu foi perdoado em 31 de outubro de 1992. Depois do trabalho de Galileu terminava a revolugdo heliocéntrica iniciada com Copémico. Isaac Newton publicou o Principia Mathematica em 1687 e explicou as leis de Kepler para o movimento planetéro. © fato das érbitas serem seogdes cénicas é uma consequéncia natural da variagéo da atragao gravitacional com o inverso do quadrado da distancia. A sua obra, considerada uma das mais influentes na histéria da ciéncia, descreve a lei da gravitacao universal e as 3 leis de Newton 1642 21727 que fundamentam a mecanica classica. FouP | 32 Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel 1.2. Duas décadas de descobertas A descoberta do primeiro exoplaneta foi anunciada em 1989, por David Latham’, quando variagées nas velocidades radiais da estrela HD 114762 foram explicadas como efeitos gravitacionais causados por um ou mais corpos de massa subestelar, possivelmente gigantes gasosos mais massivos que Jupiter. Todavia, uma pesquisa subsequente em 1992 concluiu que os dados nao eram robustos o suficiente para confirmar a presenca de um planeta, mas dois anos depois, técnicas mais aperfeigoadas confirmaram sua existéncia. Atualmente, admite-se que exista apenas um planeta em tomo desta estrela. A primazia da descoberta dos primeiros exoplanetas também @ reclamada pelo astrénomo polaco Aleksander Wolszozan’, que em 1993 encontrou 3 planetas a orbitar © pulsar PSR B1257+12. Acredita-se que eles tenham sido formados a partir do remanescente da supernova que originou o pulsar. Varios exoplanetas comecaram a ser descobertos no fim da década de 1990 como resultado do aperfeicoamento da tecnologia dos telescépios, tais como o advento dos CCDs e programas de processamento de imagens por computador. Tais avancos permitiram medigdes mais precisas do movimento estelar, possibilitando que os astrénomos detetassem planetas, nao visualmente (porque a luminosidade de um planeta é geralmente muito baixa para ser detetada desta forma), mas através dos efeitos gravitacionais que exercem sobre as estrelas em torno das quais orbitam (variagio da velocidade radial e astrometria, métodos que veremos mais pormenorizadamente no capitulo seguinte). Os exoplanetas também podem ser detetados através da variagdo da luminosidade aparente da estrela hospedeira & medida transitam a frente do disco estelar (método do transito, também a detalhar no proximo capitulo). O primeiro planeta extrassolar descoberto ao redor de uma estrela da sequéncia principal (51 Pegasi) foi anunciado em 6 de Outubro de 1995 por Michel Mayor e Didier Queloz’. | Latham; D. W. et al. (1989). "The unseen companion of HD114762 - A probable brown dwarf” ® Wolszczan, A.; Frail, D. A. (1992). "A planetary system around the millisecond pulsar PSR1257 + 1z. * Mayor, Michael; Queloz, Didier (1995). "A Jupiter-mass companion to a solar-type star” FoUP | 23 Eroplanetologia Em busca de um planeta habtvel Desde entéo, dezenas de planetas foram descobertos e algumas suspeitas datadas do fim dos anos 1980 foram finalmente confirmadas. Em outubro de 2013, foi ultrapassada a marca dos 1000 exoplanetas confirmados apés duas décadas de investigagao. A lista de planetas extrassolares contava com 1010 objetos confirmados, distribuidos em 759 sistemas planetérios. Em julho de 2014, 0 ndmero aumentava para 1518 planetas confirmados e 4112 candidatos a aguardar confirmagao. Apesar de ser um marco assinalavel, aleangado em apenas 20 anos, este niimero corresponde apenas a uma infima fracdo do total de planetas que existirao na érbita dos mithares de milhdes de estrelas que povoam a Galaxia. Os proximos anos iréo trazer-nos, certamente, uma melhor compreensdo das caracteristicas destes mundos, bem como novas e inesperadas descobertas. ‘A esmagadora maioria dos exoplanetas foi descoberta através das variacdes da velocidade radial da estrela ou do transito do planeta quando alinhado com a nossa visdo na diregdo da estrela. Os exoplanetas confirmados encontram-se agregados em categorias que dependem do seu tamanho. Os teliiricos podem ter massa até cerca de 10 vezes a da Terra enquanto que os gigantes gasosos sao mais massivos que Neptuno. Até outubro de 2013, os jovianos representavam a maior parte dos exoplanetas descobertos. Tal deve-se ao facto dos métodos utilizados nessa data serem propicios a este tipo de detecdo. Dependendo da proximidade a sua estrela, os exoplanetas encontram-se classificados em 3 gruposizonas: quente, habitavel ou fria. Nos mais quentes pode chover ferro & nos mais frios a chuva pode ser baseada em metano. Até a data, os planetas teltricos jd confirmados encontrados na zona habitavel sao todos mais massivos que a Terra ¢ menos que Neptuno, dai poderem ser chamados de super Terras ou mini Neptunos. FoUP | 24 Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habtvel Mais de 1000 Exoplanetas Confirmados pores (eye ueekce ners Fey ce) Mercurianos Sub-terrestres Terrestres Super-ter Fig, 11 ~ Exoplanetas confirmados até ao dia 22 de Outubro de 2013. Fonte: PHL & Arecibo, Outubro 2013, Atualmente, por questées preferenciais, podemos distinguir 3 grandes grupos de exoplanetas: ‘os gigantes de gas e gelo, com massa semelhante a de Jupiter ou até 10 vezes maior, distanciados da sua estrela a mais de 0,2 UA, + 08 jpiteres quentes, que sao semelhantes em tamanho ao grupo anterior mas que se encontram incrivelmente préximos da sua estrela ¢ © as super Terras (ou mini Neptunos), por possuirem menos massa que os anteriores. exoplanet.eu Fig, 12 Variagdo da massa planetéra em fungdo da distancia (UA) & estrela. Fonte: Exoplanet.cu FoUP | 95 Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel Mas a variedade de mundos extraterrestres 6 muito maior. Existem inumeras relagdes de raios e massas. A diversidade de sistemas planetarios também é significativa, tendo ja sido encontrados sistemas contendo: ‘apenas 1 planeta, com excentricidades a variar de 0 até perto dos 0,85, estas mais elevadas normalmente associadas a estrelas bindrias (HD 156864) ¢ * com varios planetas, alguns com periodos hierarquizados conforme o nosso sistema solar, outros em ressondncia, isto é: exercendo influéncia gravitacional entre si devido a existéncia duma relagéo bem definida quanto aos seus periodos. llustrando este conceito, podemos considerar o HD 82943, um sistema constituido por 2 planetas em que, por cada translagao do planeta exterior, 0 interior completa duas voltas em torno da estrela, designando-se por ressonancia 2:1. Foram ainda encontrados sistemas ultracompactos, assim chamados devido as érbitas planetarias serem muito proximas entre si. Ha também registo de planetas a orbitar sistemas bindrios, 0 que se pensava ser improvavel. Tal pode ser explicado de maneiras diferentes: * quando as estrelas esto préximas (até 3 UA), pode existir um planeta depois, da zona de instabilidade que orbite as 2 estrelas simultaneamente ou * quando as estrelas estdo bastante separadas (por mais de 50 UA), pode existir um planeta a orbitar apenas uma das estrelas do binario, FCUP Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel 2. Métodos de detegao de exoplanetas Fig, 13 — Representagdo anstica de KOI-961, um sletema compacto composto por 3 planetas. Font: hntp iwerw.nasa.govimiscion_pagesikeplor/muttmodia/images/mini-planetay-systom. him! Os métodos de detecdo de exoplanetas podem dividir-se em duas categorias: os métodos indiretos e os diretos. Os primeiros tentam monitorizar e caracterizar 0 centro de massa ou a variacao da luminosidade aparente da estrela hospedeira. Os segundos consistem na detecao dos fotdes emitidos pelo exoplaneta. Neste capitulo & proposta uma digress4o por estes métodos, com particular enfase ao método do transito. FCUP Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel 2.1. Velocidade Radial © método de velocidade radial, também conhecido por espetroscopia Doppler, mede variagées da velocidade a que estrela se afasta ou se aproxima de nés. Esta medi¢do é efetuada diretamente através do espetro da estrela. Isto significa que a velocidade radial pode ser deduzida comparando, ao longo do tempo, a variagao de frequéncia ou comprimento de onda das riscas espetrais detetadas usando 0 efeito Doppler. Os deslocamentos so induzidos pelo planeta na sua érbita em tomo da estrela, uma vez que ambos orbitam em torno do mesmo centro de massa. Atualmente, esta é a principal técnica usada pelos cacadores de planetas. 2.1.1. Historia Em 1952, Otto Struve propds 0 uso de espetrégrafos poderosos para detetar planetas distantes. Ele descreveu como um planeta grande, tipo Jipiter, provocaria um balangar na sua estrela hospedeira, 4 semelhanga de dois objetos a orbitar em toro do seu centro de massa. Sugeriu que 0 pequeno efeito Doppler que a luz emitida pela estrela sofreria, devido & variagao continua da sua velocidade radial, seria detetavel pelos espetrografos mais sensiveis como pequenos desvios para o vermelho e azul na radiagao da estrela. No entanto, a tecnologia da época produziu medigdes das velocidades radiais com erros elevados inviabilizando a detegao de planetas em orbita. Fig 14 ~ Ropresentagao do método da velecidade radial. A osclagao da estrla produz deslocamentos espetrais para ‘azul quanto esta a aproximar-se de nés e para o vermelho quando esta a alastar-se. Analisando os desvis, tona-se possivel deduztr a inlubncia gravitacional provecada por um planeta extrassdlar. Fonte: hitpen wikipedia org/wikiRadial_ velocity FoUP | 28 Exoplanetologia Em busca de um planeta hattvel O principio de funcionamento de um espetrégrafo é semelhante ao de um prisma. Este separa a luz de acordo com a sua cor, cuja grandeza fisica correspondente é 0 chamado comprimento de onda. O mesmo fenémeno é responsavel pela separacao da luz em cores ao atravessar gotas de Agua, formando os arco-iris. Como resultado, em vez de termos uma imagem do oéu, temos a intensidade da luz em fungao desta cor ou comprimento de onda, a que chamamos espetro eletromagnético. Quando captamos a luz duma estrela com um espetrégrafo identificamos facilmente zonas mais escuras, chamadas de riscas estelares. Estas séo regides onde as estrelas emitem muito menos devido a absorgao de diferentes elementos atémicos presentes na atmosfera. Estas riscas tém uma posigao fixa, determinada pela fisica atémica, pelas propriedades dos elementos em si. Quando a estrela se move, 0 efeito de Doppler faz com que as riscas se movam também e é 0 movimento destas que é usado para medir a velocidade radial das estrelas. As mudangas esperadas na velocidade radial séo muito pequenas. O efeito gravitacional de Jupiter provoca uma variagao da velocidade do Sol na ordem dos 12,4 ms“ enquanto que o efeito da Terra 6 de apenas 0,1 ms~* Face a este reduzido efeito, tomou-se claro que seria necessario desenvolver instrumentos com maior resolugao. Os avangos na tecnologia de espetrégrato e técnicas de observagao em 1980 e 1990 conduziram a instrumentos capazes de detetar o primeiro de muitos novos planetas extrassolares. O espetrégrafo ELODIE, instalado no Observatério de Haute-Provence, no sul da Franca em 1993, podia medir deslocamentos radiais a velocidade tao baixas quanto 7 ms~! , resolucao suficiente para um observador extraterrestre detetar a influéncia de Jupiter sobre 0 Sol. Usando este instrumento, os astrénomos Michel Mayor e Didier Queloz identificaram 51 Pegasi b, um exoplaneta na constelagao de Pegasus. Apesar de jd terem sido encontrados planetas a orbitar pulsares, 51 Pegasi b foi o primeiro planeta encontrado em érbita duma estrela da sequéncia principal e o primeiro detetado utilizando a espetroscopia de Doppler. Em novembro de 1995, os cientistas publicaram suas descobertas na revista Nature desde essa data, alguns milhares de candidatos a exoplanetas foram jé identificadas. Comegando no inicio de 2000, uma segunda geracdo de espetrégrafos permitiu medigdes muito mais precisas. O espetrégrafo HARPS, instalado em 2003 no Observatério de La Silla, no Chile, pode identificar mudancas radiais a velocidade tao Pequenas quanto 1 ms~, o suficiente para localizar planetas rochosos do tipo super Terras. FoUP | 29 Eroplanetologia Em busca de um planeta habtvel A terceira geragéo de espetrégrafos & esperada para 2017 (por exemplo: ESPRESSO). Com erros de medigao estimados abaixo de 0,1 ms“, estes novos instrumentos permitiriam a um observador extraterrestre detetar a Terra. 2.1.2. A assinatura da velocidade radial Inicialmente, séo realizadas um conjunto de observagées ao espetro de luz emitido pela estrela. As variagdes periédicas no seu espetro podem ser detetadas com o comprimento de onda de cas espetrais caracteristicos no espetro a aumentar diminuir regularmente ao longo de um periodo de tempo. Depois sao aplicados filtros estatisticos no sentido de anular contribuigées de outras fontes, isolando deste modo a onda periédica que revela a existéncia de um planeta em érbita. Quando um planeta extrasolar ¢ detetado torna-se possivel calcular a sua massa minima a partir das mudangas na velocidade radial da estrela. Uma vez que 0 método nao conduz a obtengao da inclinagao do sistema (fator sin(i), a massa do planeta 6 subestimada em relagdo ao seu valor real e dai chamar-se massa minima. Um grafico da velocidade radial medido em fungao do tempo dé uma curva caracteristica e a amplitude dessa curva vai permitir que a massa minima do planeta seja caloulada Para descrever completamente a érbita de um corpo em torno de outro num dado referencial inercial 6 necessdrio definir 6 constantes: * 0 semieixo maior da érbita, * aexcentricidade da 6rbita, +o instante de passagem do corpo 1 pelo seu ponto de maior aproximagao ao corpo 2 (perigeu, perihélio ou periastro), @ as que definem a orientagao da Orbita relativamente a um plano previamente escolhido no referencial inercial em questao: © ainclinagao, * 0 argumento do periastro e + alongitude do nodo ascendente. FCUP Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel © argumento do periastro 6 o Angulo que vai desde 0 né ascendente até ao periastro, medido no plano orbital do objeto e no sentido do seu movimento de translacao. A longitude do né ascendente é, para um objeto que orbita em torno do Sol, 0 angulo com vértice no Sol, que vai desde 0 ponto vernal até 0 né ascendente dessa 61 medido sobre o plano de referéncia da eclitica, no sentido da translagao do corpo. A figura 15 mostra a projego duma érbita no plano: ‘ascending node Fig. 15 ~ Projogao da érbta no plano, Fonte: hitpen wikiversity orgwikiMathematical_astronomy, Lasunnely. \Vejamos agora a fisica envolvida no método. Considerando que a linha de visdo do observador coincide com o eixo Z, a variacao de velocidade da estrela ao longo desse eixo pode ser calculada derivando a coordenada Z: Vraa = @ (2.1) Apés algumas manipulagdes obtemos a equagao da velocidade radial (Perryman, The Exoplanet Handbook, pagina 12) Vraa = ky (cos (A(t)) +e cos w) (2.2) onde: fy, = Basin) eae (23) FoUP | 41 Eroplanetologia Em busca de um planeta habtvel + k,:@a semiamplitude da velocidade radial * A: 6 longitude do nodo ascendente + @:6.aexcentricidade ‘© argumento do periastro © a:6osemieixo © p:€ 0 periodo orbital * i: 6a inclinagdo da orbita Utilizando a 3* lei de Kepler: GM a= oP (2.4) 6 possivel manipular 0 semieixo de forma a obter a massa do sistema: = 2 + M.: massa da estrela + M,: massa do planeta Da expressao observa-se que a sensibilidade do método é maior para periodos curtos. Considerando também que a massa da estrela é muito superior a do planeta, podemos determinar a massa minima do planeta: k, M31 (26) M,sin(® = (522) 2.1.3. Comparagao de velocidades radiais Considerando érbitas circulares (e = 0) e rearranjando a expressao (2.5), podemos comparar as velocidades radiais que seriam induzidas no Sol por diferentes planetas: (27) FoUP | 42 Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel As unidades s4o expressas: M, em massas de Jdpiter, p em anos e M, em massas solares. Planeta Semieixo (a) Periodo orbital (p) Velocidade (AU) (anos) Radial (ms) Jupiter Jupiter 1 1 28,40 Jupiter 52 11,86 12,45 Saturno 96 29,46 2,75 Super Terra (5M) 0,1 0,032 1,40 Super Terra (5M) 1 1 0,45, Terra 1 1 0,09 ‘Tabela 1 ~ Comparagdo das volocidades radials no sistema solar. Para enviquece a comparagao, utlzaram-se planetas repetidos mas a cistncias diferentes foram identicads com um astersco no sombreado, 2.1.4. O espetrégrafo HARPS © High Accuracy Radial velocity Planet Searcher (HARPS) 6 um espetrégrafo de elevada precisao que foi instalado em 2002 num telescépio de 3,6 m no observatério do Chile. Pertence & segunda geracdo de espetrégrafos para medigdes de velocidades radiais. A sua estabilidade ao nivel da temperatura e da pressao ¢ tao elevada que consegue obter precisao inferior a 0,5 ms“. A figura 16 mostra o espetrografo HARPS. Fig. 16-0 espetigralo HARPS. Fonte: ESO. FoUP | 42 Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel Se recuperarmos a tabela anterior, verificamos que a super Terra a 1 UA ea Terra ficam de fora do alcance deste instrumento. 2.1.5. O exoplaneta HD 156846 b Utiizando 0 HARPS foi possivel estudar muitos exoplanetas, um dos quais 0 HD 156846 b, um planeta excéntrico e gigante. grafico da figura 17 mostra a variag4o da velocidade radial ao longo do tempo, que neste caso foi superior a 3500 dias. A curva encontra-se bastante distorcida devido & excentricidade da érbita do planeta. A velocidade da estrela apresenta uma variacao periddica absoluta na ordem dos 900 ms~. HDISESsS “00 Se00" 49604500 £000 EOD DH) 4S [BSD ~ 2450000. (days) Fig. 17 ~ Evolupso da velocdade radial da estela HO 156845. Fonte: hitp/arxiv.orglabs/1 109.4127, Stephen Kane. Da analise grafica periodo podemos extrair o periodo (p = 359,58 dias) e a semiamplitude da velocidade radial (k, = 463,48 ms~*). HD ise8s os 10 1s 20 380008 ‘Mean Anomaly [deg] Fig. 18 ~Evolugdo da volocidade radial da estrela HD 156846 ao longo de 1 periado. Fonte: hitparxiv.org'abs/1103 4127, Stephen Kane. Four | 44 Exoplanetaogia - Em busca de um planeta habtvel Usando a 3? lei de Kepler do movimento planetério, o perfodo observado de érbita do planeta ao redor da estrela (igual ao perfodo das variagdes observadas no espetro da estrela) pode ser usado para determinar a distancia do planeta a estrela, desde que se 43 massas solares: saiba a massa da estrela em causa para 0 que se assumiu M. ete yp?) = 1,12UA (2.8) A excentricidade e 0 argumento do periastro so deduzidos através de um programa informatico que faz variar todos os parémetros até encontrar a combinagao que melhor se sobrepée a curva de velocidades observada. Neste caso, os valores resultantes foram e = 0,848 e w = 51,03°. Aplicando a expressao (2.6), vamos obter: My sin(i) = 10,9 Mjuy (2.9) © Systemic Console 6 um programa informatico que pode ser utilizado para fazer anélises a medigdes de velocidades radiais com 0 objetivo de detetar e caracterizar exoplanetas. Site: http://oklo.org/downloadable-console/ 2.1.6. O sistema planetario HD10180 Uma segunda ilustraao deste método é mostrada na figura 19 através do sistema planetério HD 10180, descoberto em 2011 (com 7 planetas) por Christophe Lovis e reanalisado em 2012, tendo sido descobertos mais 2. Todos os planetas sao baixa massa, M, sin(i) = 1,3 a 65 massas terrestres. A semiamplitude da velocidade radial varia de 0,85 a 4,5 ms“. Devido a reduzida massa dos planetas, torna-se extremamente dificil destringar 0 contributo de cada planeta na variacdo da velocidade radial. FOUP | 45 Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel Fig. 19 - Volocidades radais do sistoma planetario HD10180. Fonte: hip:/arxorg/abs/101 1.4984, Christophe Lovis, 202 2.1.8. Limitagdes Uma das limitagdes do método da velocidade radial prende-se com a determinacao da massa do planeta. Como a partida nao conhecemos a inclinacao do plano orbital, estabelecemos que a massa obtida é a minima. Se o plano orbital do planeta estiver alinhado com a linha de visao do observador, entéo a variacao medida na velocidade radial da estrela permitira obter uma estimativa muito precisa da massa do planeta, Para determinar a massa de um planeta extrassolar com extrema precisao, as medigdes das velocidades radiais podem ser combinadas com observagdes astrométricas, que rastreiam 0 movimento da estrela em todo o plano do céu, perpendiculares a linha de viséo, permitindo determinar a inclinacéio. Em altemativa, pode ser utilizado 0 método do transito para determinar a inclinacdo do plano orbital. Uma outra limitagao relaciona-se com 0 envelope de gs em tomo de estrelas variéveis poder expandir-se e conttair-se. Este método nao é adequado para encontrar planetas em tomo desses tipos de estrelas, pois mudangas no espetro de emissao estelar causada pela variabilidade intrinseca da estrela induzem alteragdes espetrais, que se somam ao do pequeno efeito causado por um planeta. Four | 46 Exoplanetaogia - Em busca de um planeta habtvel Estrelas mais quentes, do tipo espetral O, B e A, bem como as mais quentes de tipo F, geralmente possuem velocidades de rotacéo elevadas e por isso apresentam riscas espetrais largas. Isto impede a medi¢éo das velocidades radiais com preciso suficiente para detetar planetas. Por outro lado, em estrelas como o Sol, os resultados s40 muito bons. E se o planeta for de grande massa, a orbitar perto da estrela hospedeira, o efeito gravitacional é suficiente para produzir mudangas detetaveis na velocidade radial. © método funciona bem para estrelas até aos 60 pc de distancia, obrigando a telescdpios de grande abertura capazes de coletar fotées em nimero suficiente. Observagao de muitas riscas espetrais separadas e muitos periodos orbitais permite aumentar a relagao sinal-ruido, aumentando a possit lidade de observar planetas menores e mais distantes... mas nao planetas como a Terra em orbitas de 1 ano em torno de uma estrela semelhante ao Sol. Fatores deterministicos, como 0 movimento orbital da Terra (acima de 30 kms") e o movimento de rotagao (0,5 kms”), apesar de terem impacto na velocidade radial, nao devem ser vistos como limitagdes pois sabemos os valores exatos e podemos corrigi- los. 2.2. Astrometria A astrometria mede 0 centro de massa da 6rbita da estrela. Foi o primeiro método a ser proposto para a detegao de exoplanetas (mas nao o primeiro a ser concretizado com @xito) e baseia-se no facto da presenga de um planeta em volta de uma estrela induzir nesta um movimento periédico em torno do centro de massa do sistema, resultando numa mudanga periddica da posic¢éo da estrela relativamente a um referencial associado a objetos muito mais distantes (por exemplo galaxias). © método astrométrico implica a medigao rigorosa da posigo de uma estrela no céu em relagao a outras estrelas presentes na mesma regido da esfera celeste. Uma certa quantidade de estrelas candidatas tém sido estudadas, mas néo hove confirmagao em nenhum desses casos, muito por culpa dos detetores ainda pouco precisos e da turbuléncia atmosférica. © método tem um sinal associado maior se as drbitas dos planetas forem perpendiculares nossa linha de visdo. Ainda hoje, este método 6 0 nico que se FouP | 47 Eroplanetologia Em busca de um planeta habtvel pode usar nestes casos e pode ser muito util para complementar informagées obtidas pelo método da velocidade radial. 2.2.1. Historia A historia da astrometria esta ligada a histéria de catélogos de estrelas, o que deu astrénomos pontos de referéncia de objetos no céu para que pudessem seguir os seus movimentos. Por volta de 190 aC, utilizando 0 catdlogo de seus antecessores Timocharis e Aristillus, Hiparco descobriu 0 movimento de precessao da Terra. Ao fazé-lo, também desenvolveu a escala de brilho utilizada atualmente, Como referido no capitulo 1, no século 16, Tycho Brahe usou grandes instrumentos, para medir a posig&o das estrelas. Friedrich Bessel, 0 pai da astrometria moderna, fez a primeira medica de paralaxe estelar. Até ao final do século 19 e devido a enorme dificuldade, apenas cerca de 60 paralaxes estelares haviam sido obtidas. No inicio do século 20, utilizaram-se chapas fotogréficas para acelerar o proceso. Em 1960, méquinas de medig&o automatizadas e tecnologia informatica permitiram a compilacao mais eficiente de catdlogos de estrelas. Em 1963, 0 diretor do observatério Sproul, Peter Van de Kamp, anunciou a descoberta de um planeta em tomo da estrela de Barnard, uma ana vermelha. As medigdes eram feitas diretamente sobre placas fotogréficas obtidas com o refrator de 61 cm e eram tecnicamente muito dificeis. Apesar de inicialmente aceites pela comunidade, nenhuma destas descobertas foi posteriormente confirmada usando tecnologia mais avangada e precisa. Atualmente, 6 consensual que os sinais dos supostos planetas detetados pela equipa do Observatério de Sproul resultaram de erros sistematicos introduzidos inadvertidamente nas medigdes. Em 1980, 0 CCD substituiu as chapas fotograficas, tornando a astrometria menos cara e abrindo caminho para os astronomos amadores. Em 1989 foi langado o satélite da Agéncia Espacial Europeia, Hipparcos. A astrometria em Grbita beneficiou duma menor influéncia das forgas mecanicas da Terra e das distorgdes éticas da atmosfera. Four | 48 Exoplanetaogia - Em busca de um planeta habtvel Operando de 1989 a 1993, Hipparcos mediu angulos grandes e pequenos no céu com uma preciso muito maior do que quaisquer outros telescépios éticos anteriores. Durante os seus 4 anos de funcionamento, as posigées, paralaxes e movimentos proprios de 118.218 estrelas foram determinados com um grau de preciséo sem precedentes. Catélogos adicionais foram elaborados para as 23.882 estrelas duplas & 11.597 estrelas varidveis também analisadas durante a miss4o Hipparcos. Hoje, 0 mais utiizado é USNO-B1.0, um catdlogo de todo 0 céu que rastreia movimentos préprios, posigdes, magnitudes e outras caracteristicas de mais de mil milhées de objetos estelares. 2.2.2. A assinatura da astrometria A astrometria mede Angulos (e nao distancias) e as amplitudes medidas damos o nome de assinatura astrométrica. Para um Gnico planeta a orbitar uma estrela a uma determinada distancia, 0 angulo correspondente ao semieixo maior da érbita da estrela em torno do centro de massa, também conhecido por assinatura astrométrica, 6 dado por: a= — (2.10) Reescrevendo a 3* lei de Kepler utilizando as leis de Newton, verificamos que a érbita de 2 corpos em torno de um centro de massa comum é: a? M3 Do Ot Me co e assim podemos reescrever a equacao 2.10 da seguinte maneira: 3 (2.12) (aoe d \M.+ My onde: + a,: semieixo maior do centro de massa da estrela em UA « d:adistancia a estrela em parsec + p:periodo em anos © M,: massa do planeta em massas de Jupiter + M,: massa da estrela em massas solares FCUP Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel Como a massa da estrela 6 muito superior A massa do planeta, podemos obter esta Ultima conhecendo a distancia My = ad () (2.13) Sabendo a assinatura astrométrica, a distancia a estrela, 0 seu periodo e a sua massa, podemos obter a massa do planeta. 2.2.3. Comparagao de assinaturas astrométricas Para efeitos de comparagao, vejamos a simulagdo da assinatura astrométrica para alguns planetas com diferentes periodos orbitais. Tomemos por exemplo duas observagies a distancia de 10 e 50 pc, respetivamente: Planeta Periodo orbital (anos) (uas) (uas) Jupiter Jupiter 1 95 19 Super Terra (5M) 5 44 09 Super Terra (5M) 1 15 03 Terra 1 03 0,06 Tabela 2 Comparagao das assinaturas astrométicas em fungao da distncia do planeta a sua estrela, Da observacao da tabela, verificamos que a assinatura astrométrica encontra-se fortemente dependente da distancia a estrela. No que respeita ao periodo, este método tem melhor sensibilidade em periodos longos, que é 0 posto do método da velocidade radial. Isto significa que os instrumentos tém de conseguir manter-se em perfeitas condigdes de funcionamento durante muitos anos. FUP | 50 Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel 2.2.4. Combinagao de métodos de detecao Em 2002, com auxilio do telescépio Keck, no Havai, foi descoberto um planeta extrasolar! © método utlizado foi o da velocidade radial (figura 20). O periodo obtido foi de 2117 dias e a massa minima _—_M, sin(i) = 9,28 massas de Jupiter, a que se deu o nome de HD 33636 b. Em 2007, Bean e colaboradores, utiiizando 0 telescépio espacial Hubble e a astrometria (figura 21), descobriram que a orbita desse corpo tem uma inclinagao quase frontal (4,1 + 0.1%), 0 que conduziu a novo calculo da massa. O valor obtido foi M, = 142 massas de Jupiter. Radial Velocity [m s“"] Fig, 20 ~ Medicao da velocidade racial do HD 93636 b. Font: hitp:/obswvw.unige.ch/~udry/planethd39696 htm, 2002, 10 2010.65, 6 [mes] 7 Y -2 -10 00 1020 ‘ba: [res] Fig. 21 ~ Medigao da assinatura astromeérica HD 93636 B (14,2 mas), Fonte: htp2/arsv.orgipdt0708.1861Vv2.pd, Jacob Bean, 2007 Ora, como este valor é demasiado alto para ser um planeta, concluiu-se que néo se tratava de um planeta. Mais tarde, foi anunciado que estavamos perante um sistema bindrio composto por uma estrela ana, do tipo espetral M6V, agora denominada de HD 33636 B. Site: htip://iopscience.iop.org/1538-3881/134/2/749/fulltext/205854.text htm! * Vogt, Steven S. et al. "Ten Low-Mass Companions from the Keck Precision Velocity Survey FouP | 51 Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel 2.2.5. Movimento astrométrico do Sol Se um observador noutro sistema planetario, apetrechado com um telescépio de alta resolugao, preferencialmente no espaco (uma vez que a superficie terrestre a atmosfera impossibilita observagées de elevado nivel de resolugéo em comprimentos de onda do visivel), estiver a observar o Sol, ao fim de alguns anos vera que a nossa estrela descreve uma trajetéria complexa em tomo de um centro de massa (figura 22), mesmo eventualmente néo conseguindo observar nenhum planeta do nosso sistema solar. Porém, a partir deste registo e sabendo exatamente a distancia a que se encontra. do Sol, poderd _tentar reconstruir as érbitas dos planetas do nosso sistema solar. Naturalmente, as observacdes sao dificeis de efetuar devido a preciso necessaria para medir 0 movimento do Sol. Por exemplo, se o Sol estiver a uma distancia de 10 parsec, 0 efeito de Jupiter no Sol teré uma amplitude Fg. 22~Crbta do Sa um period do anos. 0 movimento 6 induzido, essencialment, polos planeas de maxima de apenas 497 pias. Se fosse a maior masse: Jupiter @ Saturo, Wikia 50 parsec, seria de 99 yas. Poderia J. Kepler conseguir detetar a drbita do Sol em tomo do seu centro de massa? Para responder a esta questéo vamos considerar 2 conjuntos de equagdes de 2 corpos ligados por um centro de massa comum e exprimindo-as em fungéo do semieixo maior: (2.14) (2.15) FCUP Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel Dividindo as 2 equagées, (2.14 por 2.15), vamos obter a razio entre os semieixos dos 2 centros de massa: a Mp aM, (2.16) @ concluimos que é igual a razao das massas da estrela e do planeta. Aplicando esta expressdo podemos perceber qual é 0 contributo de cada planeta na trajetéria da érbita do Sol: Deslocamento (a.) (km) 449) Massa (m,) (Mo) 3,00x 10 Terra 1,00 UA x 149,6 x 10 Marte 3,21 x 107 1,52 UA x 149,6 x 10° 73 Jupiter 9,55 x 10° 5,20 UA x 149,6 x 10° 743.000 Saturno 2,85 x 10% 9,58 UA x 149,6 x 10° 408.500 Tabla 3 — Impacto do planeta na deslocagao da ébita do Sol reativamente ao centro de massa. Da andlise da tabela verificamos que Jupiter e Saturno provocam alteragdes expressivas na orbita do Sol em torno do seu centro de massa. Observamos ainda que 0 movimento induzido no Sol por Jipiter ¢ na ordem dos 743.000 km. Se compararmos esta distancia com o diémetro do Sol, ~1.400.000 km, concluimos que corresponde a aproximadamente 53%. Respondendo a questo anterior, seria extremamente dificil a J. Kepler ter descoberto este movimento, 2.2.6. Observatorio Espacial GAIA. © langamento da missao europeia GAIA ocorreu no passado dia 21 de dezembro de 2013. ‘A misséo tem como principal objetivo realizar um census estelar que iré abranger quase 1% das estrelas da nossa Galaxia ¢ serd talvez uma das mais importantes de sempre para a astrofisica, uma vez que permitiré medir com extrema preciséo a posicdo, a distancia, 0 movimento proprio, 0 espetro e 0 brilho de mil milhdes de estrelas. A duragéo da misséo esta estimada em 5 a 6 anos. Por exemplo, sera ey Four | 53 Exoplanetaogia - Em busca de um planeta habtvel possivel determinar a distincia das estrelas mais proximas com uma preciso de 0.001% e mesmo para estrelas na diregdo da regio do niicleo da Galaxia, a 10 parsec, serd possivel obter uma precisao de 20% na distancia 2.2.7. Vantagens e desvantagens Como todos os métodos, a astrometria tem vantagens @ desvantagens. Podemos enumerar como principais vantagens as seguintes: * permitir caracterizar completamente as érbitas dos planetas, incluindo a inclinagéo mUtua das mesmas e as massas reais dos planetas; * permitir a determinagéo da distancia a estrela (pela paralaxe) e do seu movimento proprio (movimento aparente da estrela no plano perpendicular 4 nossa linha de viséo); + detetar mais facilmente planetas mais afastados da estrela hospedeira, ao contrario da técnica da velocidade radial, e + no ser limitada pelo ruido intrinseco das estrelas turbulentas ao contrério das técnicas da velocidade radial e dos trAnsitos. As principais desvantagens sao: * requer medigdes astrométricas de precisao extrema s6 possiveis de realizar a partir do espaco ou usando interferometria, 0 que aumenta a complexidade técnica e custo das missdes, + sé pode ser utiizada para estrelas relativamente préximas uma vez que o movimento aparente de uma estrela em tomo do baricentro do seu sistema planetério descreve um Angulo no céu que é inversamente proporcional & sua distancia, + dificuldade em detetar planetas terrestres & ‘* proceso lento pois torna-se necessario observar varias orbitas. 2.3. Detegao direta Nas secgées anteriores vimos como um planeta em érbita duma estrela provoca nesta um movimento em torno do centro de massa. No método da Detegao mas sim & detecdo de fotdes vindos diretamente do planeta. ta jA nao iremos recorrer ao centro de massa da estrela Four | 54 xoplanetologia - Em busca de um planeta habitével Os planetas so fontes de luz extremamente fracas em comparacao com as estrelas € a pouca luz que vem deles tende a misturar-se com o brilho da sua estrela. Assim, em geral, é muito dificil detetar e resolvé-los diretamente. Os planetas que orbitam longe das estrelas, a serem resolvidos, refletem muito pouco a luz das estrelas. E mais facil obter imagens quando o sistema estelar é relativamente proximo ao Sol, bem como quando a estrela é menos luminosa, 0 planeta ¢ mais volumoso e quente, existe uma maior separagao do planeta & sua estrela. As técnicas utlizadas para isolar a radiagao emitida pela estrela passam pela utilizagao de um coronégrafo, montando num telescépio para bloquear apenas a radiacdo recebida da estrela, ou entdo, por interferometria, onde a luz das estrelas captada por dois ou mais telescépios € sobreposta de forma a interagir entre si, resultando num efeito fisico chamado interferéncia e fazendo com que os telescépios funcionem como um nico, porém grande, telescépio. Através desta técnica é possivel combinar a luz duma estrela de modo a anulé-la, permit \do a observacao direta do planeta quando este surge em oposigao de fase. Durante a fase de acregao de formacao planetéria, o contraste estrela-planeta pode ser ainda melhor em H-alfa do que no infravermelho. H-alfa é uma risca espetral, vermelha escura com um comprimento de onda de 656,28 nm, que ocorre quando um eletréo de hidrogénio transita do terceiro para 0 segundo nivel de energia. As observagées em varios comprimentos de onda so necessarias para distinguirmos entre planeta e and vermelha. Os planetas detetados através de imagens diretas dividem-se em duas categorias: * 08 que orbitam em torno de estrelas mais massivas que o Sol, sendo jovens o suficiente para ainda terem discos protoplanetérios e * 0s que orbitam em tomo de estrelas muito fracas ou anas castanhas, e que se encontram a, pelo menos, 100 UA da sua estrela, 2.3.1. Historia Em 2004, um grupo de astrénomos utiizou o Very Large Telescope, do Observatorio Europeu do Sul no Chile, para produzir uma imagem de 2M1207b, um companheiro para a ana castanha 2M1207. FoUP | 55 Eroplanetologia Em busca de um planeta hadtve No ano seguinte, o estatuto planetario do companheiro foi confirmado. O planeta é varias vezes mais massivo do que Jiipiter e tem um raio orbital superior a 40 UA. Em setembro de 2008, um objeto foi fotografado a uma separagéo de 330 AU da estrela 1RXS_J160929.1-210524, mas s6 em 2010 6 que foi confirmado como um planeta companheiro para a estrela (e néo um alinhamento ocasional) HR 8799 O primeiro sistema multiplanetario foi anunciado em 13 de novembro de 2008°, e resultou de fotografias tiradas em 2007 usando telescépios dos observatérios Keck & Gemini. A figura 23 mostra a estrela HR 8799, da classe espetral ASV, que se encontra distancia de 39,4 pc e alberga um sistema de 4 planetas descoberto em 2009. Os semieixos maiores variam de 14 a 68 UA e os periodos orbitais de 45 a 450 anos. Os planetas tém massas entre 7 a 10 massas de Jupiter. Fig, 24 Sistema HR 8799 (érbitas desenhadas manualmente). Fonte: itp: www spacetelescope.org/images/op0! 129H/ 5 John Timmer. "Three planets directly observed orbiting distant star’. RetrievedNovember 13, 2008 FCUP Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel Fomalhaut No mesmo dia, foi anunciado que 0 Telescépio Espacial Hubble observou diretamente um exoplaneta orbitando a estrela Fomalhaut®. Alpha Piscis Austrini mais conhecida como Fomalhaut é a estrela mais brilhante da constelagao de Peixe Austral (Piscis Austrinus). Em toro desta estrela foi detetado um planeta cerca de trés vezes mais massivo que Jépiter (figura 24). Este exoplaneta (Fomalhaut b) foi detetado visualmente pela comparacao de imagens obtidas pelo telescépio Hubble de 2004, 2006, 2010 e 2012. Fig, 24 Sistema Fomalhaut, Fonte: htp:/mww.nasa.gowmission_pages/hubblescioncerague-fomalhaut ir. O planeta Fomalhaut b tera 3 vezes a massa de Jupiter, esta a 115 UA da estrela hospedeira que se encontra a 7,7 pe de distancia de nés e 0 seu ano corresponde a 876 anos na Terra. B Pictoris Em 2012, foi anunciado que a andlise de imagens que datam de 2003 revelou um planeta orbitando i Pictoris’. Esta estrela pertence a classe espetral A6V, encontra-se * "Hubble Directly Observes a Planet Orbiting Another Star”. Retrieved November 13,2008. ” Lagrange, A.-M.; Gratadour, D.; Chauvin, G.; Fusco, T.; Ehrenreich, D.; Mouillet, D.; Rousset, G. Rouan, D.; Allard, F.; Gendron, E.; Charton, J.; Mugnier, L.; Rabou, P.; Monti, J.; Lacombe, F. (2009). "A probable giant planet imaged in the B Pictoris disk” FouP | 57 Eroplanetologia Em busca de um planeta habtvel distancia de 19,3 pe e é orbitada por um planeta que foi descoberto em 2012. 0 semieixo 6 de 9 UA e 0 periodo orbital de 21,6 anos. O planeta tera uma massa cerca de 7 vezes a massa de Jupiter Fig, 25 ~ Sistema fPictors. Font: pes. obspmr-Amagero-a-treshaute-dynamique-.html Meses depois, foi anunciada a descoberta de um planeta com uma massa de cerca de 12.8 massas de Jupiter em érbita de Kappa Andromedae e foi diretamente fotografado usando 0 Telescépio Subaru, no Havai, enquanto orbitava a sua estrela a uma distancia de cerca de 55 UA (quase o dobro da distancia de Neptuno ao Sol). 2.3.2. A assinatura da detec¢ao direta Através da detegao direta podemos obter a distancia do planeta a estrela. Porém, salienta-se que este método mede Angulos e nao disténcias. A assinatura do sinal a medir é dada pela expressao: (2.17) (2.18) onde: FoUP | 52 Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel * ay semieixo maior da érbita do planeta em UA + d:adistancia a estrela em parsec + p:periodo em anos + M.:massa da estrela em massas solares Se M, > M,, entdo a assinatura ja nao depende da massa do planeta: (2.19) 2.3.3. Comparagao de detegées diretas Para efeitos de comparagao, vejamos a simulagao da assinatura da detecdo direta para alguns planetas com diferentes periodos orbitais. Tomemos por exemplo novamente as observacées realizadas a distdncia de 10 e 50 pe, respetivamente: Periodo orbital Planeta (anos) (mas) (mas) Terra Jépiter 11,86 520 104 Saturno 29,45 953 191 Urano 84,3 1923 384 TTabela 4 Comparagdo das assinaturas de detegdo dreta em funge do period. Da observagao da tabela, verificamos que a assinatura encontra-se fortemente dependente da distancia a estrela. No que respeita ao periodo, este método tem melhor sensibilidade para periodos longos. O grande constrangimento é mesmo conseguir detetar fotdes provenientes do planeta. FCUP Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel 2.3.4. Oticas adaptativas A atmosfera que envolve a Terra perturba as imagens obtidas nas observagdes com telescdpios terrestres. Por vezes, a imagem obtida pode estar de tal modo desfocada que se torna impossivel separar os fotdes recebidos da estrela dos do planeta. E foi por isso que especialistas desenvolveram a técnica da ética adaptativa, cuja finalidade é anular 0 efeito da turbuléncia causada pela atmosfera. Otica adaptativa pode definir-se como uma tecnologia usada para melhorar a prestacao de sistemas éticos reduzindo o efeito de distorgao da radiagao pela atmosfera. A radiagao eletromagnética, quando atravessa zonas de diferentes densidades, sotre refragao. No caso da atmosfera, s4o centenas de quilémetros de percurso por entre zonas em que 0 ar tem ligeiras diferengas de densidade (devido a temperatura, humidade, etc) e ainda por cima se move e mistura de forma imprevisivel. Um exemplo € 0 efeito causado nas estrelas que faz com que as vejamos a cintiar. Numa aproximagao, isto corresponde a fazer desviar 0 percurso da luz de um lado para 0 outro com periodicidades de dezenas ou centenas de vezes por segundo. A ética adaptativa é uma técnica que permite aos telescopios terrestres removerem a indefinigéo da imagem causada pela atmosfera da Terra. A figura 26 mostra a melhoria da imagem obtida com o uso de otica adaptativa. A esquerda esta uma imagem desfocada, sem corregées de dtica adaptativa e a direita as correges revelam um sistema binatio. Fig, 26 ~ Sistema bindro IW Tau. A esquerda esté uma imagem destocada, sem corrog6es de dtica adaptativa, A deta, as corecées revelam uma estrela bindsia, Fonte: htpinstrumentjpl nasa gov/actvelindex lm. Four | 60 xoplanetologia - Em busca de um planeta habitével O sistema de 6tica adaptativa utiliza uma estrela de referéncia, como um padrao de calibragao e, em seguida, vai deformando constantemente um pequeno espelho para corrigir as distorgdes provocadas pela atmosfera (figura 27) As corregées sao feitas mais rapidamente do que a atmosfera pode mudar, milhares de vezes por segundo. Fig. 27 — Representago eequematica do funcionamento da ética adaptativa. Fonte: hitpaw:vectick org! Esta técnica tem sido utiizada para uma variedade de observacées cientificas que incluiram observagdes a longo prazo das mudangas atmosféricas dos planetas exteriores, estudos do clima na lua Titd de Saturno, detegao de ands castanhas e detalhes da formagao de estrelas. Todavia, a otica adaptativa tem o seu limite. Em lugares onde nao ha uma estrela guia natural perto do objeto de interesse, a técnica nao poderia ser utilizada. Ao projetar um feixe de laser de sédio para 0 céu, os astrénomos podem criar um guia artificial (figura 28). A uma altitude de cerca de 100 km, o feixe de laser faz brilhar uma Pequena quantidade de gas. A reflexéo do brilho do gas serve de estrela guia artificial para o sistema de ética O feixe de laser é muito fraco para ser visto, exceto por observadores muito perto do telescépio e a estrela guia gerada é ainda mais fraca. Nao pode ser vista a olho nu mas é brilhante o suficiente para permitir fazerem-se as correcdes necessarias. FCUP Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel Fig, 28 ~ Projecio do texe de laser de s6dio para utlizaglo de otca adaptativa. JPL Palomar. 2.3.5. Vantagens e limitagdes A imagiologia direta permite estimar a massa do planeta a partir da idade da estrela e a temperatura do planeta, mas pode variar consideravelmente. Nalguns casos, é possivel indicar as restrigdes razoaveis para 0 raio de um planeta com base na sua temperatura, britho aparente e distancia a partir da terra. Permite ainda medir com preciso a érbita do planeta em tomo da estrela e, dependendo do equipamento utiizado, a composigéo quimica da atmosfera do planeta. Quanto a limitagdes, temos o problema do planeta refletir pouca luz e esta ser dificil de destringar da emitida pela estrela hospedeira. A distancia também const constrangimento deste método. FouP | 62 Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel 2.4. Transito Quando um planeta orbita a sua estrela, pode dar-se 0 caso de passar na frente da linha do observador. Se isso acontecer, estamos perante um transito e sera possivel verificar uma ligeira diminuigao do briho da estrela, o que por sua vez permitiré obter alguns parametros do sistema planetario. 2.4.1. Transito de Vénus No nosso sistema solar existem 2 situagdes de transitos e sao provocadas pelos planetas interiores Merciirio e Vénus. O transito de Vénus foi utilizado no passado para compreendermos o sistema solar. E 6 desta forma, estudando transitos de planetas extrassolares que poderemos compreender os seus sistemas planetérios. A figura seguinte, & esquerda, mostra 0 transito de Vénus, um pequeno ponto negro sobre 0 disco solar. A direita, no inicio do transito, é possivel observar uma diferenga de cor no disco estelar, bem como um circulo avermelhado que envolve o planeta e que se relaciona com a sua atmosfera. Estes aspetos sao importantes quando se analisa um transito. Fig, 29 ~Transite de Venus, Fonte: wikinéca, 2.4.2. Configuragao do transito Quando observamos 0 efeito na estrela provocado por um transito de um exoplaneta, iremos verificar uma alteracao do fluxo que acontece em 2 momentos FoUP | 62 Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel ‘+ durante o transito, quando o planeta passa a frente da estrela + na ocultagao, quando o planeta passa atras da estrela. Estes 2 elementos permitem-nos obter informagées sobre o sistema. a Pn ees eet es Fig, 30 ~ Representagdo esquematica do método do transite, Fonte: adaptago de hitpfarxv.orgipct 0807 4828v2.pdt Joshua N. Winn, 2008 Contorme vimos, um transito 6 uma configuracdo especitica dum planeta em érbita duma estrela, que s6 acontece se este estiver alinhado com a nossa linha de visao. Definindo uma zona, na qual um planeta criaria uma sombra na estrela quando iluminado a partir do observador, se um planeta estiver I entdo teremos um transit. A zona de sombra depende da proximidade do planeta. Assim, se o planeta estiver mais préxima da estrela, a zona de sombra sera maior. Se estiver mais longe, 0 Angulo de sombra iré diminuir. Por outras palavras, a probabilidade do transito depende da distancia a estrela. Fig. 31 ~ Goometria da zona de sombra. © angulo diminui com 0 atastamento do planeta. Font: hitpwinspirahop nevrecord/842679/pots, Joshua N. Winn, FoUP | 64 Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel 2.4.3. Probabilidade do transito A probabilidade do transito pode ser definida como a razo entre o tamanho da estrela (acrescida duma ligeira correcao relativamente & soma do tamanho do planeta) e a distancia orbital. Adicionalmente, dependendo da excentricidade da dérbita, a probabilidade pode aumentar substancialmente (Udty, S., et al., The Diversity of Exoplanets, Coursera, cap. 3, pagina 7). Peanato = (=e) (ese) (2.20) Poewttasso = @ = *) (GS) (2.21) Coneretizando para o planeta Terra R) 695.000 _ 9.564 (e29) Prransito = Pocutasao = (= Texte O resultado mostra-nos que teriamos de observar cerca de 200 planetas semelhantes & Terra para encontrarmos um transito, 0 que faz com que seja um evento muito raro. Se a orbita da Terra fosse muito excéntrica, @ = 0,95, a probabilidade do transito aumentaria 10,25 vezes, neste caso para 5,1%. ) ~ 10.28 (2.23) Todavia, a maior probabilidade nao se encontra nos planetas com érbitas exoéntricas mas sim nos Jupiter quentes. Estes planetas esto mais préximos da estrela que Mercirio em relacao ao Sol, com semieixos na ordem do 1/20 UA. Ora, utiizando a expresso (2.20), a probabilidade do transito de um Jupiter quente aumenta para 10%. Ja nao necessitariamos de observar 200 estrelas mas apenas cerca de 10. E assim surgiu a descoberta do transito na HD 209458, apés algumas tentativas efetuadas noutras estrelas onde ja haviam sido descobertos exoplanetas pelo método da velocidade radial. A HD 209458 possuia uma érbita alinhada com a nossa linha de visao. FCUP | 65 Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel soo} Sek granite tenis Ur 09 Sep 1989 relative flux Radial velsty Gam rat acti a oad a wD 7, (days) Fig, 2 Transitee velocidade racial da HD 209458 b, Fonte Charbonneau etal, 1999. Fonte: Mazeh et al 2000, 2.4.4. Descrig&o do Transito Anilise qualitativa No método do transito existem 2 parametros fundamentais a considerar: o tamanho da estrela e do planeta, Estes pardimetros séo importantes porque vao permitir a interpretagao do sistema planetério onde o transito esté a ocorrer. Tomemos por exemplo a observacao distante de Jupiter a orbitar a frente do disco solar. Este transito iré bloquear uma pequena parte da radiacdo emitida pela estrela e duraré um tempo especifico. Se variarmos 0 tamanho da estrela, considerando uma estrela mais massiva que 0 Sol, iremos registar duas mudancas. Nao s6 a percentagem de radiagao bloqueada pelo planeta (sobre o total de radiaco emitida pela estrela) sera menor, como também © tempo de durago do transito seré maior. Por outro lado, se considerarmos uma estrela mais pequena com cerca de um décimo da massa do Sol, o transito seré semelhante a um eclipse € 0 efeito sera inverso: teremos uma elevada percentagem de radiagao bloqueada e um transito mais curto. Outra anélise que podemos fazer é quanto ao tamanho do planeta. Se em vez de Jupiter considerarmos um planeta mais pequeno, semelhante a Terra, a sombra sera menor e a detegao sera muito mais dificil. Esquematicamente, temos uma interpretacao do transito em fungao da sua duragao da sua profundidade: FCUP Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel Fig, 23 — Representagdo esquemdtica da varlagdo da curva de luz em fungdio da eatrea (tempo e prolundidade). Fonte Montagem efetuada pelo autor, 2014 Relacionando estes parametros, torna-se possivel determinar o tipo de estrela e de planeta em analise, 0 que faz com que 0 método do transito se apresente como 0 Gnico a dar-nos informagées sobre o sistema planetario. Andlise quantitativa - a) Descricao no tempo Vejamos agora a descrigao quantitativa do transito, primeiro ao longo do tempo & depois quanto & forma: *Y 4 ty tn hy Fig. 34 —Representago do trénsto ao longo do tempo. Fonte: htp/nsprehep netrecor84267sIpo's, Joshua N Wien * 6 6a profundidade, * T 6 a duragdo do transito, isto é: tempo em que o planeta se encontra totalmente a frente a estrela e + 160 tempo que o planeta demora entrar totalmente no disco. FouP | 67 Exoplanetolagia - Em busca de um planeta habivel Esta varidvel, r, deve ser divida em 2 momentos distintos: o tempo de entrada no disco e 0 tempo de saida. Dependendo da excentricidade da érbita, estes 2 pardmetros podem ser diferentes. Porém, como a diferenca é desprezivel, vamos consideré-los iguais. Tentrada = tn — tr (2.24) Tsaida = ty — tn (2.25) © tempo total do transito é definido como 0 tempo de duragao do transito (7) adicionado do tempo de entrada no disco: Trotat = T+ Tentrada (2.26) Antes de passarmos a assinatura, vamos assumir algumas simplificagdes no modelo: a) M, « M,, a massa do planeta é muito menor que a da estrela (nao se aplicando a sistemas binarios). b) Rp < R. & @, 0 Taio do planeta é muito menor que o da estrela e o planeta no pode orbitar muitissimo préximo da estrela. ©) b&1~k, 0 transito ndo pode ocorrer nos limites da estrela, tem de ter uma duragdo minimo no tempo, onde k = R,,/ R., 0 raio do planeta a dividir pelo raio da estrela. d) e=0, a excentricidade é nula. Podemos calcular a duracao do transito da Terra. Para isso vamos considerar que a sua orbita 6 circular, sendo o perimetro dado por: p= 2na (2.27) Seja Ty 0 tempo que o planeta demora a percorrer um semicirculo, que corresponde & distancia percorrida em 2R.. FoUP | 62 Exoplanetolagia ~ Em busca de um planeta habivel Aplicando a regra de 3 simples, resolvendo em ordem a Ty @ coneretizando, temos: _ Rep _ 696.000 x 365,25 dx 24h “ta mx 149,6 x 10° ~ 13h (2.28) De seguida, estamos em condigdes de obter a duragao do transito e 0 tempo de entrada no disco (Udry, S., et al., The Diversity of Exoplanets, Coursera, pagina 15): Tok T=%Vi-B , (2.29) Note-se que na expressao (2.29) da direita podemos substituir 0 numerador, Ty k, pelas expressées (2.28) e alinea c) (2.26), eliminando por esta via a dependéncia do raio da estrela, Depois da descrigao do transito no tempo, vejamos agora a interpretagao da curva de luz quanto sua forma, mais concretamente as fases do planeta, a profundidade e o pardmetro « (composto pelo parametro de impacto e pela cor da observacao). Andlise quantitativa - b1) Descri¢ao na forma (fases do planeta) A figura 35 mostra um transito completo. Em cima temos a ocultagdo seguida do transite, que se caracteriza por ser mais profundo. Ampliando este grafico, observamos melhor a evolugao no tempo em fungao das fases do planeta. 1000) 96 Ocacio | cago es | By seer = ce oor Fig. 35 — Ropresentagdo da forma do transite a0 longo do tempo x fases do planeta. Fonte: hitparsiv.orgipat/1206.688701 pa, Heather Knutson, 2012 FoUP | 62 Eroplanetologia Em busca de um planeta habtvel Estas diferengas de fase do planeta vao afetar 0 fluxo total emitido pelo sistema planetario. ‘A equacao do fluxo total pode ser escrita somando 0 fluxo da estrela (que é assumido constante e igual a 1) ao fluxo do planeta (que é varidvel durante 0 seu movimento de translacdo). No entanto, existem 2 momentos particulares: durante 0 transito sera necessdrio subtrair ao resultado o valor da luz da estrela ocultada pelo planeta; por outro lado, se estivermos na ocultagao, teremos de subtrair ao resultado 0 valor do {luxo do planeta. O fluxo total, ao longo do tempo, é dado por: Ke ceyan (8) + durante o transito (a1 PO a 1. AG a KP 2 doce (> durante a ocultagao (2.30) Em seguida iremos pormenorizar a dependéncia das variéveis 6 e a, esta Ultima associada ao parametro de impacto (b) e a cor utilizada na observagdo. Andlise quantitativa - b2) Descrieao na forma (profundidade (4) No que respeita a profundidade do transito, 6, podemos defini-la como: Ip(Tocut) Sevan = KE € Bycyt = KF PP (2.31) Andlise quantitativa - b2) Descri¢ao na forma (parametro a(impacto)) Assua forma, b, depende da distancia ao equador e exprime-se para o transito através da expressao (Udry, S., et al., The Diversity of Exoplanets, Coursera, cap. 3, pagina 18): acest ( 1 e pode ser obtida pela expressao (Udry, S., et al., The Diversity of Exoplanets, Coursera, cap. 3, pagina 21) (2.33)

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