Psicologia e educação
Educação, práticas e
teorias
Você está na unidade Educação, práticas e teoria. Conheça aqui assuntos que implicam muitas
reflexões com muitas perguntas. Compreenda a filosofia da educação e sua história. Conheça as
concepções de aprendizagem nas teorias psicológicas, bem como as articulações na compreensão do
processo ensino-aprendizagem.
Bons estudos!
1 Filosofia da educação
Muitas vezes, relacionamos a educação sob o ponto de vista de áreas como a pedagogia, psicologia,
história, política etc. e não buscamos a filosofia. No entanto, é ela que se encontra mais próxima do
ser humano e em sua busca pelo saber, pelo conhecimento.
A filosofia persegue o entendimento do ser humano como ser social, cultural, inserido num
determinado momento histórico. Para os filósofos, poder compreender esse homem permite o
conhecimento também de como educá-lo.
A filosofia a que temos acesso originou-se na Grécia Antiga. A palavra filosofia é de origem grega e
significa literalmente amor (philos) à sabedoria (sophia).
Tal movimento acontece como uma tentativa de elucidar a realidade fora do âmbito das explicações
religiosa e mitológica. Como não havia uma aceitação dessas explicações, os filósofos gregos
começaram a especular sobre princípios naturais para explicar a origem do mundo. Desde então, a
filosofia não interrompe sua continuidade em busca de conhecimento.
Várias escolas de pensadores existiram no decorrer da história grega e quase todos se preocupavam
com a educação do ser humano; uma inquietude para tornar o ser humano melhor. Mais uma vez
temos na Grécia a origem da palavra Educação: Educare, que significa trazer à tona.
A Grécia Antiga é muito rica em relação às escolas filosóficas, pensadores de muita importância
para o rumo de novas ideias acerca do homem, várias tentativas de definir o seu humano e sua
forma de viver. São muitos, mas Sócrates, Platão e Aristóteles são personagens de muito peso nesse
panorama. Dessa forma, você pode pesquisar e ler “O Mito da Caverna” alegoria encontrada no
livro “A Republica” de Platão.
Continuando a busca pela essência do ser humano, novas ideias vieram e Santo Agostinho defendia
que cada ser humano é uma pessoa e cada uma tem sua consciência, que é dotada de vontade,
imaginação, memória e inteligência.
Na Idade Média, a verdade é passível de ser conhecida desde que não contradiga a fé.
Assim, a teoria do conhecimento retorna para a relação do pensamento com as coisas, a consciência
e a realidade, em suma, o sujeito e o objeto do conhecimento, tal qual como tudo começou na
Grécia.
O filósofo Descartes, da famosa frase: “Penso, logo existo”, elaborou um procedimento, a dúvida no
método. Neste, o sujeito do conhecimento analisa cada um de seus saberes, identifica e avalia as
fontes e as causas de cada um, suas verdades ou mentiras e, assim, encontra meios para livrar-se de
tudo quanto seja duvidoso perante o pensamento.
Racionalismo
Descartes, o principal representante do racionalismo, acredita que a fonte do conhecimento
verdadeiro é a razão atuando por si mesma, sem o auxílio da experiência sensível e dominando a
própria experiência sensível. Parte do conhecimento geral para o particular: método dedutivo.
Empirismo
Em oposição à grande parte da Europa, John Locke, principal representante do empirismo, afirma
que a fonte de todo e qualquer conhecimento é a experiência sensível, sendo responsável pelas
ideias da razão e controlando o trabalho da própria razão (CHAUÍ, 2002). Ao contrário de
Descartes, parte do individual para o geral: método indutivo.
O termo “empirismo” vem do grego έμπειρία, cuja tradução para o latim é experientia, que significa
experiência.
Ainda temos outros filósofos da modernidade. Por exemplo, Kant, fazendo uma síntese entre as
duas orientações anteriores, alegando que o conhecimento é possível porque o homem possui
faculdades que o tornam possível. Com esse posicionamento, Kant investiga a razão e seus limites,
e não como deve ser o mundo para que se possa conhecê-lo. Ele é conhecido por seu “criticismo”
acerca do homem.
Com toda essa agitação filosófica, chegamos ao momento da fenomenologia do final do século
XIX, que tinha como tese a intencionalidade da consciência humana, buscando descrever,
compreender e interpretar os fenômenos que se apresentam à nossa percepção. Como
representantes, temos Heidgger, Edmund Husserl, Sartre e outros.
Ainda no século XIX, temos dois nomes que realizaram seus trabalhos de forma independente:
Nietzsche e Kierkegard.
Pilar 1
Em suas teorias, pregava basicamente sobre uma visão cristã sobre o bem e o mal que limita e nega
a humanidade. Atacava a moral cristã, pois seus devotos não são bons ou procuram ser porque se
preocupam com o semelhante. Eles são “bons” porque têm medo de queimar no inferno. Em seu
livro “O Anticristo”, Nietzsche afirma: “Deus está morto”.
Pilar 2
O Eterno Retorno, conceito do seu livro “A Gaia Ciência”, relata o momento que se avalia as
escolhas da vida. Questiona se essas são reais ou decorrentes de exigências externas, econômicas
etc.
Pilar 3
O Niilismo de Nietzsche, de modo básico, é a falta total de confiança nos valores impostos pela
sociedade. Segundo suas ideias, a vida não deve ser vivida a partir de nenhum padrão.
Pilar 4
O Super Homem pode ser representado por aquele que encara a vida sem as “muletas” para poder
suportar a existência, apoiando-se na religião ou na moral. Segundo Nietzsche, essas muletas
equivalem a uma negação da morte, que faz o ser humano acreditar em mentiras, como o paraíso.
Dessa feita, o Super Homem seria um Ser Superior, uma ideia melhorada de nós mesmos: não na
força, mas no psicológico.
Há muitos outros filósofos e outras escolas encontrados em toda a história da humanidade. Aprenda
mais sobre eles.
Chauí (2002) apoia que uma atitude filosófica emerge de demandas do dia a dia e estas devem ser
abordadas de uma forma diferente daquela encontrada no senso e, assim, adotar uma perspectiva
crítica. Para a autora, há dois atributos da atitude filosófica:
O primeiro atributo da atitude filosófica traz uma sensação negativa, ou melhor dizendo, é
necessário abandonar o senso comum, os pré-conceitos, os pré-julgamentos, os fatos da experiência
cotidiana, o que “todo mundo diz e pensa”, levando a uma sensação de afastamento da sociedade.
O segundo atributo da atitude filosófica é positivo. Consiste numa dúvida construtiva que também é
uma interrogação sobre o porquê de tudo e do próprio ser humano. Questiona-se sobre o porquê de
tudo ser assim e não de outro modo.
Sendo a educação parte integrante desses fatos do cotidiano, a filosofia se coloca como forma de
conhecimento e a educação como um problema filosófico. Assim, a Filosofia da Educação chega
para unir essas partes e consiste em acompanhar criticamente a atividade educacional, especificando
seus fundamentos, esclarecendo a função e a contribuição das diversas disciplinas pedagógicas e
avaliando o significado das soluções escolhidas.
Essa característica decorre do preconceito naturalista que inspira a Pedagogia. De acordo com Bello
(1969), a filosofia naturalista reduziu toda a ciência às ciências que pudessem ser experimentais,
reprovando como anticientíficas todas as que não pudessem ser comprovadas pela experimentação
dos laboratórios.
Para se tornar científica, segundo esse conceito, a Pedagogia acabou por reduzir os seus
fundamentos filosóficos, fazendo uma Pedagogia puramente experimental, teoricamente
descaracterizada. Essa postura apresentou uma crise generalizada que até hoje se estende sobre o
domínio da Educação.
A pedagogia é uma ciência e seus princípios devem ser submetidos à reflexão filosófica, uma vez
que esta não se limita ao domínio do que pode ser percebido pelos sentidos, orienta-se também em
direção ao conhecimento dos princípios que escapam à percepção.
Eucken (apud BELLO, 1969) também acresce que é no cenário da educação e do ensino que a
lacuna da orientação filosófica acarreta as consequências mais lamentáveis. O sistema educativo só
pode melhorar e realizar mudanças reais quando inclui uma verdadeira Filosofia da Educação, na
qual possam realizar um acordo acerca da finalidade, das possibilidades e das condições da
educação.
Reescrevendo Chauí (2000), não aceitar a vida e o mundo como já apresentados, pode ser uma
árdua tarefa, mas igualmente necessária. A Filosofia da Educação, por conseguinte, se torna
imperativa para a Pedagogia e a formação de qualquer pessoa envolvida com o mundo, em especial,
com o mundo escolar.
A prática pedagógica é uma prática social e política, pois não se pode idealizar a educação sem uma
conexão sócio-histórica. Segundo Aranha (1996), a educação não pode ser compreendida fora de
um contexto histórico-social concreto, sendo a prática social o ponto de partida e o ponto de
chegada da ação pedagógica. Enquanto prática pedagógica, a educação tem, historicamente, o
desafio de atender às demandas que os cenários históricos lhes colocam.
(...) Não somos apenas objeto da História, mas seus sujeitos igualmente. A partir deste saber
fundamental: mudar é difícil, mas é possível que vamos programar nossa ação político-pedagógica.
(FREIRE, 1997, p. 89)
No que se refere às metas de uma ação pedagógica, o ponto dirigido à Pedagogia abarca a formação
de indivíduos "na e para a práxis". Precisam ser conscientes de sua importância na transformação da
realidade sócio-histórica, a partir de uma ação coletiva em que todos estão cientes do que é possível
e necessário para essa mudança. É a tarefa crítico-emancipatória da base da pedagogia e não apenas
da educação.
Assim, sujeito e objeto estão em contínua e dialética formação, evoluindo pela contradição interna,
mas não de forma determinante, e sim através da intervenção dos homens mediante a práxis. Esta
apresenta realização de ações concretas, objetivando uma transformação do social.
A educação apresenta seu caráter dialético das práticas pedagógicas, visto ser da competência da
subjetividade construir a realidade e, ao mesmo tempo, modificá-la mediante a interpretação
coletiva.
O que se deve estar alerto é para a paralisia de tais práticas como reféns lineares da história e do
pensamento dominante. Isso porque estas acontecem nas interações entre os sujeitos e suas
intencionalidades. Enquanto prática social, a educação transforma-se com a ação dos homens e
produz mutações naqueles que dela participam.
O exercício da docência é uma ação transformadora que se renova tanto na base teórica quanto na
prática, exigindo necessariamente o incentivo a uma consciência crítica. Nessa concepção, o
exercício da ação docente requer preparo além da teoria. Segundo Freire, “Saber que ensinar não é
transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”
(FREIRE, 1997, p. 21).
Estamos vivendo um período em que o acesso à informação está cada vez mais presente na
sociedade. Porém, temos uma grande complexidade ao lidarmos com esse tema. Existem diferenças
sociais que não garantem o mesmo acesso a todos os indivíduos. Pensando nessa nova era, como
ajustar esse novo modelo a uma realidade divergente dela? Refletindo sobre isso, pesquise e leia o
artigo “Competências: desafios para alunos, tutores e professores da EaD”.
Como fechamento e alerta, enquanto as diretrizes de políticas públicas considerarem a prática
pedagógica como um mero instrumento de reprodução de “fazeres” e atuações externas para os
indivíduos, esta não mais tem valor e, por si só, não tem como se perpetuar.
A docência não é formada apenas de práticas, seu fundamento teórico é imprescindível e de enorme
valia e ao analisarmos nos inquietamos com essa dicotomia da teoria e prática.
Pimenta (2005, p. 26) defende que a fundamentação teórica traz grandes benefícios numa tomada de
decisão dentro de uma proposta contextualizada, capaz de ampliar perspectivas para compreender
os diversos contextos do estudante. Facilita também a descoberta de novas práticas de ensino
sempre com rumo à aprendizagem do aluno.
Sob essa aptidão a ser continuamente aprimorada, o educador somente poderá ensinar quando
aprender. Ele deve adquirir conhecimento a partir do diálogo, da troca com o outro e da pesquisa
científica.
Mesmo com esses princípios, há de se lembrar que mesmo as grandes escolas teóricas que baseiam
as práticas, trazem seu "tempo de validade". A todo momento a reflexão sobre a dinâmica social que
se transforma e que os processos não são lineares, torna-se importante mais uma habilidade do
professor, que é a flexibilidade para incorporar novas concepções teóricas mais próximas da
realidade em que vivemos.
Para tanto, como dizer que se tem conhecimento total de qualquer assunto? É importante ter
humildade para diferenciar na prática ações negativas e/ou positivas para a construção da autonomia
do aluno. Não somos o dono do saber. Tal como Sócrates (filósofo grego), a extensa magnitude das
mudanças nos leva à conclusão: “Quanto mais eu sei, mais sei que nada sei!”.
Não existe um planejamento de ensino que dê conta da imensidão dos desdobramentos possíveis
acerca da aprendizagem de um estudante.
A prática educativa é algo mais do que expressão do ofício dos professores, é algo que não lhes
pertencem por inteiro, mas um traço cultural compartilhado, assim como o médico não possui o
domínio de todas as ações para favorecer a saúde, mas as compartilha com outros agentes, algumas
vezes em relação de complementariedade e de colaboração, e, em outras, em relação de atribuições.
A prática educativa tem sua gênese em outras práticas que interagem com o sistema escolar e, além
disso, é devedora de si mesma, de seu passado. São características que podem ajudar-nos a entender
as razões das transformações que são produzidas e não chegam a acontecer. (SACRISTÁN, 1999, p.
91)
Independente da teoria que sustenta a prática pedagógica e da escolha, esta deve ser coerente com
as ações promovidas pelo professor para a libertação e a autonomia do seu estudante.
O educador não pode desistir do seu discente, é preciso refletir e buscar novas estratégias para
acompanhar a lógica de seu estudante e compreender as relações que este faz com o conhecimento.
Mas como conseguir? Através do diálogo, sempre com diálogo.
3 Concepções de aprendizagem nas teorias psicológicas
Cabe lembrar que a aprendizagem não é um processo próprio da escola. O ser humano aprende
desde o momento de seu nascimento até sua morte. Por essa razão, estuda-se de que forma as
capacidades cognitivas se organizam para alcançar o aprendizado no sentido “lato” e “strictu” da
palavra.
Desta feita, iremos abordar as teorias conforme uma classificação que as divide em: Teorias
maturacionais, Teorias comportamentalistas, Teorias de campo, Teorias psicanalíticas e
neopsicanalíticas, Teorias fenomenológicas e humanistas e, por fim, Teorias psicogenéticas.
As contribuições desse grupo de teóricos, como Arnold Gesell Francis Galton, Cattell, Stanley Hall
e Alfred Binet, ocorrem por volta dos anos 30, 40 e 50.
Gesell, psicólogo, filósofo e pediatra americano, mostra-se um pioneiro dessa teoria e seu interesse
no desenvolvimento infantil iniciou com o tratamento de crianças com deficiências e, para
compreendê-las, precisava estudar a evolução de crianças normais.
Para ele, existe uma continuidade de etapas que estão relacionadas à idade e com comportamentos
típicos de cada faixa etária. Defendia que as fases da infância são reproduções de todo o
desenvolvimento da espécie humana. Sua teoria foi muito influenciada pelas teorias evolucionistas,
muito populares na época, e um debate, no início do século XX, sobre a dualidade Aprendido versus
Inato.
Por conta de seus princípios, o processo de maturação poderia ser aprimorado dentro de um
ambiente cuidadosamente delineado. Estimulava os pais a deixarem as crianças desenvolverem-se
sozinhas, sem ajuda. Isso porque tinha a crença de que ações como falar, brincar e raciocinar
surgiriam com a maturidade da idade.
Tendo o empirismo como base epistemológica, as teorias comportamentalistas defendem que todo
conhecimento provém da experiência, propondo um ideal de objetividade, que rompe com conceitos
tradicionais da Psicologia, como a consciência e a alma.
Essa corrente baseia-se na crença de que o ser humano é uma “tabula rasa” e desde ao nascer o
homem aprende tudo, desde as capacidades mais elementares aos comportamentos mais complexos.
As ideias são registradas a partir de percepções e a inteligência é idealizada como uma faculdade
capaz apenas de armazenar e acumular conhecimento.
Como principais teóricos, temos John Watson, Thorndike, Skinner e outros que tinham como objeto
de estudo o comportamento, que é observável, interpretado como um produto do ambiente,
significando um conjunto de reações a estímulos que, por conseguinte, podem ser medidos,
previstos e controlados.
Para Thorndike, o padrão básico da aprendizagem seria uma resposta mecanicista às forças
externas, estímulos externos: Resposta recompensada = aprendizagem realizada.
Paralelo a essa teoria, temos Skinner que enfatizava o controle do comportamento através de
reforços que ocorrem com a resposta dada ou após a mesma com o propósito de atingir metas
específicas ou definir comportamentos manifestos. Ele enfatiza sua ênfase no estímulo posterior ao
estímulo inicial. Ou seja, o posterior seria o reforço usado como recurso para a manutenção ou
extinção de determinado comportamento.
Uma grande contribuição dessa escola é que ao possibilitar medições, avaliações quantitativas dos
fenômenos do ser humano (o comportamento), a “porta” da cientificidade foi aberta para a
Psicologia, possibilitando que se firmasse como ciência.
Muitas semelhanças ainda se encontram presentes na educação formal ou informal com o uso do
reforço para se alcançar resultados desejados. O aprofundamento dessa linha de análise oferece um
modelo de aprendizagem que facilitaria a resolução de vários problemas.
A proposição surge com o objetivo inicial de questionar a Psicologia Americana como reação a uma
psicologia que fraciona o comportamento em estímulo e resposta. Para eles, os comportamentos e as
experiências não podem ser divididos e, na verdade, o “todo é maior que a soma das partes”, sendo
este um dos seus maiores pressupostos.
Não acreditavam em um processo de adição e sim em uma “síntese integradora” que não
corresponde a apenas às partes constituintes. As pesquisas iniciam pela percepção e pela sensação
do movimento. Encontravam-se envolvidos na compreensão de processos que partiam de um
estímulo físico, mas traziam informações diversas; a ilusão de ótica, por exemplo.
Outro teórico importante é Kurt Lewin, um dos primeiros psicólogos a estudar as organizações, que
também acreditava que os comportamentos ocorrem no intercâmbio do indivíduo com o meio. Isso
traz que cada sujeito sintetiza suas experiências de formas diferentes, pois cada ser tem sua
dinâmica interna particular.
Tal qual as teorias vistas anteriormente, essa nova visão também possui uma base epistemológica
que é a dialética, fazendo uma composição entre o racionalismo e o empirismo. No entanto, uma
grande diferença é que a Psicanálise surge na clínica e não no academicismo. Seu fundador é
Sigmund Freud, médico psiquiatra que foi seguido por outros teóricos (Erikson, Spitz etc.),
formando então as teorias neopsicanalíticas.
Freud, discordando da visão organicista da psiquiatria, almeja uma abordagem psicológica para as
doenças mentais e mesmo usando o modelo cartesiano da ciência se opunha aos racionalistas.
A estrutura teórica de Freud tem como grande relevância o resgate da subjetividade enquanto objeto
de estudo da Psicologia. Ocorre, então, a possibilidade de estudar a subjetividade (dimensão
humana essencial). Sua abordagem enfatiza os impulsos inconscientes e os seus efeitos sobre o
nosso comportamento.
Sua contribuição direta para a aprendizagem encontra-se no papel da escola, que é auxiliar o aluno a
equilibrar suas exigências instintivas (Id), proibitivas (Superego) e da realidade (Ego)
Assim, educar é procurar fazer com que as pessoas atuem e pensem de modo mais racional e mais
prazeroso.
A composição das teorias fenomenológicas e humanistas não é precisa temporalmente, mas está
vinculada ao criticismo de Kant. Seus postulados preveem uma consciência a priori intencional,
uma consciência estabelecida na relação sujeito-objeto, em que o sujeito individual é a própria
origem e fim do conhecimento. É um sujeito que avança a partir de suas vivências e seus valores, os
quais darão a possibilidade de seu bem-estar e realização pessoal.
Para essas teorias, o indivíduo vive conforme sua apreensão da realidade do momento e não a partir
de suas questões biológicas ou de seu passado. Eles defendem uma aprendizagem significativa, raiz
das teorias atuais de Ausubell. Como representantes dessas teorias, citamos: Maslow (1972), Rogers
(1975) e Comb (1975).
Para Maslow, por exemplo, havia uma hierarquia de necessidades, muito conhecida. Como teve a
oportunidade de conhecer pesquisas realizadas com filhotes de macacos para estudar seus
comportamentos, aproximou-se da Psicologia. Assim, começou a se dedicar aos estudos da
motivação do ser humano e suas necessidades.
Dentro desse ponto de vista, a contribuição para a educação concentra-se numa aprendizagem
significativa, não reduzida a apenas um acúmulo de informações. Assim, o estudante a partir das
informações poderá reorganizá-las com mudanças expressivas de valores e atitudes em todos os
aspectos particulares da vida humana.
Para que isso aconteça, a aprendizagem deve partir do estudante dentro de seus interesses e o
professor é um facilitador desse processo. Sendo assim, a aprendizagem é a possibilidade de o ser
humano visualizar seus fenômenos e a si mesmo, trazendo suas próprias estratégias de avanço.
Dando continuidade, as teorias psicogenéticas apresentam também uma base dialética, mas de
forma diferente das teorias psicanalíticas e neo-psicanalíticas.
Piaget
Para Piaget, a aprendizagem é construída passo a passo na proporção da organização das estruturas
mentais e cognitivas, de acordo com o desenvolvimento da inteligência, que para ele significava
adaptação. A organização seria um equilíbrio entre o ser e o meio ambiente, cuja interação resultaria
nos processos de assimilação e acomodação. A aquisição do conhecimento (assimilação) e sua
interiorização (acomodação) teria como resultado uma renovação interna. Esse mecanismo
proporciona que não haja uma ruptura entre o velho e o novo. O que surge é uma adaptação
intelectual e o progresso das estruturas cognitivas que ele nomeia como equilibração, que é comum
a todos os estágios de desenvolvimento criados por ele.
Vygotsky
Vygotsky, também interacionista, aborda essa interação como uma experiência social mediada por
instrumentos e signos compatíveis com os conceitos do próprio sujeito. Para ele, a interação baseia-
se na linguagem e na ação em que “desafios” da vida surgem, estimulando o progresso constante da
cognição e estruturas emocionais. Alerta sobre a dificuldade dos desafios enfrentados, que para
terem um resultado de sucesso deve ser passível de superar e lança os conceitos de zona distal e
zona proximal. Ele defende que para haver crescimento, a periodicidade, a própria irregularidade no
desenvolvimento, as metamorfoses ou mudanças é o que entrelaça os fatores internos e externos e
os processos adaptativos. Em tempo, cabe mencionar que Alexander Romanovich Luria realizou
muitos trabalhos junto com Vygotsky.
Wallon
Já na abordagem interacionista de Wallon, a inteligência é genética e organicamente social, ou
melhor, "o ser humano é organicamente social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da
cultura para se atualizar" (WALLON apud CRUZ, 2014, p. 33). Dentro desse ponto de vista, o
desenvolvimento cognitivo é centrado na psicogênese da pessoa completa. Para Wallon, as fases do
desenvolvimento são descontínuas, com rupturas e retrocessos que modificam as estruturas
anteriores de forma significativa. Não há um desenvolvimento linear, mas sim uma reformulação de
uma etapa a outra subsequente e que é nesse momento que ocorrem as “crises” que afetam a
conduta da criança. Ele fundamentou suas ideias em quatro elementos básicos que se comunicam o
tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do “eu” como pessoa.
Outras teorias, como Montessori, Ausubel, Emilia Ferrero, Edgar Morin, Rubem Alves, Mario
Sérgio Cortella, continuam os estudos como uma demonstração de que a aprendizagem é um
processo dinâmico com modificações necessárias conforme o momento histórico e suas
necessidades.
É notório que ocorram as mudanças da sociedade conforme o período histórico e, por conseguinte,
o perfil dos estudantes também se transforma.
Com o olhar claro e crítico, como articular permanentemente a teoria e a prática no trabalho
docente? Compreendendo a importância desse exercício contínuo, seu início precisa ser instigado
desde a formação dos educadores.
Ao pensarmos na formação docente, devemos rever a vereda para essa formação que começa nas
Escolas Normalistas, no nível da Educação Básica. Cabe ressaltar as ofertas do Nível Superior,
levando em consideração também as dos diversos cursos, em geral, e o curso de licenciatura como
proposta formativa do profissional de Educação.
Dentre as qualificações gerais, temos desde profissionais liberais até bacharéis caminhando para o
campo da Educação, ocupando um papel de educador e, muitos, sem nem a licenciatura. O que
sabemos é que esses profissionais têm como experiência educacional, até então, apenas a qualidade
de aluno.
Tal atuação reflete como papel do professor aquele que apenas concebe e repassa conteúdos, uma
prática tecnicista da relação ensino-aprendizagem. Daí não ser incomum ouvir falas dos alunos que
“este ou aquele professor é um excelente intelectual, porém não sabe dar aulas, não tem didática”.
Na condição dos avanços alcançados pelo desenvolvimento teórico da Educação, nesse cenário da
realidade, ou seja, na prática educativa, não há mais como se reduzir a profissão de professor a
apenas a transmissão de seus conteúdos e técnicas. Há necessidade da retomada do significado do
saber escolar no diálogo com o saber dos alunos, com a realidade material em que as práticas
sociais se produzem.
Segundo Mizukami et al. (2002), aprender a ser professor não é uma tarefa que seja concluída após
estudos de um conjunto de conteúdos e técnicas para transferência deles a outrem. Atualmente, esse
modelo de racionalidade técnica não corresponde e não dá conta à formação docente. Há de se
investir numa racionalidade prática, em que a aprendizagem aconteça ao redor de situações reais
que, de fato, são complexas e detentoras de problemáticas particulares.
Ainda na questão da formação docente, estreitar o relacionamento do ensino com a pesquisa é uma
condição extraordinária para superar a dicotomia teoria/prática. Seriam os professores
pesquisadores se preocupando em fazer ligações entre a pesquisa que realizam e os conteúdos das
disciplinas que ministram na graduação. No entanto, ter clareza sobre as particularidades de cada
atividade proporciona a identificação do que é desenvolver um projeto de pesquisa adequado para
orientar projetos de alunos de graduação e de pós-graduação. A pesquisa do aluno na sua formação
não deve ser confundida com a pesquisa de docente.
Retomando que a função primeira da instituição escolar é garantir que os alunos se apropriem dos
conhecimentos produzidos pela humanidade, eles deverão estar traduzidos em conteúdos escolares.
No que se refere à natureza e especificidade da educação, Saviani (2010) salienta que esta é um
fenômeno específico dos seres humanos. Ainda sobre essa especificidade da Educação, o autor
afirma:
(...) dizer que a educação é um fenômeno próprio dos seres humanos significa afirmar que ela é, ao
mesmo tempo, uma exigência de e para o processo de trabalho, bem como é, ela própria, um
processo de trabalho. (SAVIANI, 2010, p. 11)
Assim, sendo um processo do ser humano e de sua filogênese, acompanhar as mudanças é uma
condição indispensável para o processo educativo. O papel da escola precisa ser repensado
atendendo às questões relativas ao ensino-aprendizagem. O ensino reunido de forma fragmentada,
que reforça a importância da memorização, bem como padrões de normas, não atenderá de forma
satisfatória às exigências desse novo paradigma.
Antes de tudo, é forçoso lembrar que quando as instituições educacionais foram criadas, o contexto
era bastante diferente do que temos atualmente. Essa nova era requer uma nova forma de pensar e
agir para lidar com a velocidade e a abrangência de informações, assim como o dinamismo do
próprio conhecimento. A organização do tempo e espaço e a diversidade de possibilidades exige um
novo posicionamento crítico e reflexivo do sujeito ao realizar suas ações com novas prioridades de
escolha.
Com uma tarefa tão inusitada, mais uma vez o envolvimento do aluno no processo de aprendizagem
é fundamental e para obter os resultados exitosos, a escola deve propiciar ao aluno sentido e
funcionalidade naquilo que compõe o foco dos estudos na sala de aula.
Em suma, a profissão docente não é apenas um saber isolado e um fazer desconectado de ações de
naturezas distintas organizadas em momentos separados, mas sim um “know-how” (saber-fazer),
cujo embasamento seja um conhecimento e seu ponto forte seja a performance educativa.
é isso Aí!
Referências
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro, Paz e
Terra, 1997.
PIAGET, J. Sabedoria e ilusões da Filosofia. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1969.
PIAGET, J. Seis Estudos de Psicologia. Rio de Janeiro Editora Forense Universitária 1989.