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26/10/2022 11:17 A Guerra do Paraguai e suas interfaces: Memória, história e identidade em Mato Grosso do Sul (Brasil)

Nuevo Mundo Mundos


Nuevos
Nouveaux mondes mondes nouveaux - Novo Mundo Mundos Novos - New world New
worlds

Colloques
2009
La Guerra del Paraguay: historiografías, representaciones, contextos

A Guerra do Paraguai e suas


interfaces: Memória, história e
identidade em Mato Grosso do
Sul (Brasil)
Ana Paula Squinelo
https://doi.org/10.4000/nuevomundo.49752

Résumés
Español English
A partir do conflito latino-americano denominado Guerra do Paraguai e, particularmente do
episódio conhecido como Retirada da Laguna, problematizo a construção da memória, da
história e de uma identidade sul-mato-grossense que está vinculada aos desígnios de uma elite
dominante local. Para mediar tais discussões contextualizo historicamente a divisão do antigo
estado de Mato Grosso em duas unidades federativas, a saber: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
ocorrida no ano de 1977, e em um processo dialético vou explicitando como a Guerra do
Paraguai e a Retirada da Laguna foram e são alvos de inúmeras e diferenciadas manipulações
históricas, historiográficas, identitárias e ideológicas, sempre com o intuito de legitimar os
grupos que estão no poder no estado de Mato Grosso do Sul (Brasil).

This paper focuses on the Latin American conflict called War of Paraguay, and particularly the
episode known as ‘Withdrawal from Laguna’, to study the construction of memory, history and
identity by the elite of Mato Grosso. To facilitate the analysis of those issues its author historically
contextualizes the division of the former state of Mato Grosso into two federative units, namely:
Mato Grosso and Mato Grosso do Sul occurred in 1977, and also the dialectic process in which the
war in Paraguay and the referred withdrawal bacame objects of countless historical,
historiographic, ideological and identitary manipulations by those elites, aiming to maintain and
legitimize their  power over the state of Mato Grosso do Sul (Brazil).

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Entrées d’index
Keywords: Elites, Memory, Paraguayan War
Palabras claves: Brasil, Mato Grosso do Sul
Palavras Chaves: Seculo XIX, Guerra do Paraguai, elites, Seculo XX, memória

Texte intégral
1 Mato Grosso do Sul, estado brasileiro localizado na região Centro-Oeste do país, tem
sua história intimamente ligada ao Mato Grosso. Até outubro de 1977, ano em que foi
sancionada a Lei Complementar nº 31, assinada pelo Presidente da República Ernesto
Geisel, que dividiu o então Mato Grosso em duas unidades federativas, a região sul
permaneceu de certa forma isolada, tendo sua história e memória atrelada as elites que
dominavam o cenário estadual e que se concentavam na então capital estadual Cuiabá.
2 A divisão do estado em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, impôs sobretudo a este
último, a necessidade de pensar sua história, seu passado histórico, fosse esse recente
ou remoto, tendo em vista que com a cisão ocorrida, a unidade federativa recém criada
ficava “órfão de sua história”: todo aparato jurídico, político, administrativo, arquivos
etc, ficaram em Cuiabá, logo os documentos oficiais, a memória registrada ao longo dos
anos pela imprensa local, como também os escritos de estudiosos consolidados como
foi o caso de Virgílio Côrrea Filho, ficaram de posse da elite intelectual cuiabana.
3 Tendo em vista os desdobramentos dessa situação, a década de 1980 infligiu aos
intelectuais sul-mato-grossenses a necessidade, bem como a tarefa de criar e registrar
uma história e uma memória que sintetizasse o espírito sul-mato-grossense e delineasse
uma identidade capaz de unificar essa elite; para mediar tal discussão acerca da
memória tomo como refencial Jacques Le Goff que a entende como

“[…] um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou


coletiva cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e da
sociedade de hoje, na febre e na angústia”.

4   Quanto a memória coletiva que é a que mais me interessa, Le Goff a vê como “um
instrumento e um objeto de poder”1; em relação a questão da necessidade imposta de se
forjar uma identidade sul-mato-grossense, vale a pena ressaltar que

“[…] as diferentes comunidades humanas criam uma história (ou várias), e assim
acontece um processo de gênese de identidade social; a história, por sua vez, dá
forma à comunidade portanto, um sentido particular de pertencer à comunidade
[…]”2.

5 Neste sentido a escrita de tal história deveria estar afinada com os desígnios desse
grupo dominante que galgou e se apossou do poder estadual; logo uma história e uma
memória que privilegiou determinados fatos históricos, nomes, heróis, episódios,
acontecimentos, famílias etc, que não destoaram da história que estava sendo gestada,
ao contrário, essas escolhas legitimaram as construções históricas que estavam se
processando, ao mesmo tempo em que definiu e legitimou uma identidade para o
“povo” sul-mato-grossense.
6 Conforme observou o historiador Osvaldo Zorzato, o discurso histórico, com fortes
conotações memorialistas, construído ao longo do século XX pelos intelectuais mato-
grossenses, esteve sempre, atrelado aos grupos que disputavam e partilhavam o poder,
dando-lhes principalmente, legitimidade3.
7 Em Mato Grosso do Sul os grupos que se aliaram e ficaram no poder passaram a
elaborar um “discurso histórico” que legitimassem sua história, memória e identidade;
tal discurso foi elaborado por um grupo de profissionais liberais representados por
jornalistas, escritores, poetas, advogados, economistas, engenheiros etc; por isso
denomino esses escritores de “memorialistas”, aqui entendido como um grupo que
representava a elite dominante sul-mato-grossense e, que logo após a divisão do estado
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de Mato Grosso procedeu a escrita da história sul-mato-grossense, sem entretanto


ancorar suas pesquisas nas ferramentas e suportes metodológicos utilizados pelo
historiador de ofício; iniciaram assim a construção de uma história elitista, factual,
cronológica na qual só houve lugar para fatos heróicos e grandes personagens;
gestaram portanto uma história excludente na qual os fatos históricos foram
cuidadosamente selecionados, impossibilitando naquele contexto histórico a
perspectiva de uma história que contemplasse vários aspectos, fatos, acontecimentos de
seu passado histórico.    
8 Ressalto que tais discursos elaborados sob os desígnios de uma elite local servem
para legitimar ou alcançar uma posição almejada, assim como alertado por Bourdieu
em sua obra “O poder simbólico”; para o historiador:

O discurso regionalista é um discurso performativo, que tem em vista impor como


legítima uma nova definição das fronteiras e dar a conhecer e fazer reconhecer a
região assim delimitada – e, como tal, desconhecida – contra a definição
dominante, portanto, reconhecida e legítima, que a ignora4.

9 A história elaborada por esses escritores buscou infringir ao sul-mato-grossense uma


identidade peculiar; esta esteve ligada ao ideário dos grandes nomes e acontecimentos
que forjaram o caráter do sul-mato-grossense. Para tal fazia-se necessário escolher
meticulosamente   no passado histórico os “heróis” que pudessem representar as
virtudes do homem sul-mato-grossense. Diversos temas foram assim interpretados,
com base no suposto comportamento exemplar de grandes homens, indivíduos
predestinados a dar sua contribuição para o progresso e a felicidade de uma região
promissora, habitada por uma população ordeira e pacata.
10 Como local para gestar, discutir e veicular tais idéias foi criado no contexto da divisão
do estado o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul (IHGMS),
estenasceu da cisão com a Academia de Letras e História, e também deu origem a
Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. Ressalte-se que à época todos os membros do
IHGMS faziam parte da elite que dominava o cenário político e econômico estadual, e
que ao mesmo tempo não havia nenhuma cadeira ocupada por um historiador de ofício.
11 As obras que foram produzidas naquele momento histórico, privilegiaram alguns
fatos históricos comuns ao antigo Mato Grosso, um dos mais significativos foi portanto
a Guerra do Paraguai,e mais especificamente no interior do conflito platino o episódio
denomidado A retirada da Laguna; esclareço que opto por utilizar a nomenclatura
Guerra do Paraguai, por ser esta oficial no Brasil e, ainda entender que a própria
nomenclatura do conflito já é objeto para vários e exaustivos estudos, levando-se em
consideração que faz parte da história política e ideológia de cada nação envolvida.
12 Um olhar mesmo que de forma corrida e desatenta por essas obras, como por
exemplo, Seiscentas Léguas a Pé5, Mato Grosso do Sul, sua evolução histórica6, A
Guerra do Paraguai: verdades e mentiras7, Histórias da terra matogrossense8, História
de Mato Grosso do Sul9, e outras, permite-nos visualizar a elaboração de uma história
factual, seletiva, cronológica, que privilegia “grandes acontecimentos” e “heróis a serem
cultuados”, como também uma memória previamente selecionada que enfatiza as
realizações dos grupos dominantes.
13 A maioria das obras que foram elaboradas nesse período sobre a história de Mato
Grosso do Sul, apresentam características comuns, quais sejam: 1) trazem, em um
primeiro momento, uma descrição geográfica da região, com ênfase nos seus rios, na
fauna, na flora, no clima etc; 2) apontam os primeiros homens que desbravaram o
território e a disputa entre portugueses e espanhóis pela posse do mesmo; 3) abordam
superficialmente as populações indígenas, enfatizando suas relações com os europeus;
4) arrolam e relatam as primeiras vilas fundadas; 5) analisam a presença da Matte
Larangeira na região; 6) tecem comentários sobre a divisão do estado; 7) descrevem a
criação de novos municípios, indicando perspectivas de progresso e desenvolvimento;
8) dão grande destaque ao conflito com o Paraguai, principalmente no que diz respeito
aos episódios que ocorreram no sul de Mato Grosso em fins de 1864, e enfatizam
sobremaneira o episódio conhecido como Retirada da Laguna.
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14 Devo lembrar que a grande parte do solo brasileiro não se constituiu em “teatro de
operações” no decorrer do referifo conflito, apenas duas províncias vivenciaram
episódios beligerantes, a saber: o Rio Grande do Sul e o Mato Grosso; sendo que nesta
última ocorreu o episódio da Retirada da Laguna (maio-junho/1867); épico que acabou
por ser materializado e imortalizado nas páginas da clássica obra de Alfredo
d’Escragnolle Taunay intitulada A Retirada da Laguna.
15 O episódio da retirada da Laguna foi privilegiado na construção do discurso que
legitimou a história, memória e identidade sul-mato-grossense. Alfredo d`Escragnolle
Taunay (1843-1899), para redigir a obra em questão, teve como base um diário de
campanha e as suas “lembranças”, interessado em justificar a participação brasileira no
conflito platino e, principalmente, divulgar as “provações” passadas pela expedição
brasileira no sul de Mato Grosso. O autor foi um fiel súdito de Pedro II, a quem a obra
foi oferecida.Assim, os “interesses” do narrador coincidem com os do Império,
lembrando que, para Taunay, os homens é que dominaram, com bravura, os
acontecimetnos e não vice-versa. Entendo que não posso perder de vista que os
episódios narrados por Taunay nesta obra foram construídos para transformar uma
derrota militar em ato de heroísmo.
16 Ressalto que Taunay atuou como protagonista do conflito com o Paraguai no episódio
ocorrido em solo mato-grossense. Em fins de 1864, Solano López ocupou o sul de Mato
Grosso por duas frentes: uma por água e a outra por terra; essa tropa instalou-se nos
territórios litigiosos, por isso o governo imperial organizou uma coluna que, saindo de
São Paulo contou com o apoio de efetivos militares de Minas Gerais e Goiás. Seu
objetivo era deter o avanço paraguaio e retomar as terras invadidas. A coluna atuou
nesse espaço bélico entre os anos de 1865 e 1867. Taynau acompanhou o trajeto dessa
força expedionária, no cargo de ajudante da comissão de engenheiros. Tendo
ingressado na coluna ainda muito jovem, presenciou parte das cenas desencadeadas no
teatro de operações. Sobrevivendo à longa marcha, retornou ao Rio de Janeiro onde,
por insistência do pai, começou a escrever a obra que viria a imortalizar a grande
tragédia a que esteve submetido o exército brasileiro: “A retirada da Laguna”. Sua
primeira versão data de 1868, está redigida em francês e contém cerca de 50 páginas,
sendo sua versão integral publicada em 1871.
17 Para compor a citada obra, Taunay narrou a retirada utilizando como recurso, além
das anotações de um diário que fazia parte de suas obrigações profisionais, suas
reminiscências, o que me leva a concluir que não a produziu no “calor dos
acontecimentos”. Ao recompor suas lembranças, esteve sujeito às falhas a que o
substrato da memória nos expõe, mas tentou contorná-las acentuando homens e fatos
que em sua opinião deveriam ser reverenciados pelos brasileiros.
18 Colaborou, portanto, para que as primeiras interpretações – corretas ou não – sobre
o evento começassem a ser registradas e divulgadas. Fortaleceu a memória e
corroborou para alimentar, nas décadas seguintes, a história. Entretanto, a obra de
Taunay, sem dúvida, teve o mérito de não só registrar, como imortalizar a retirada
através de uma narrativa na qual os atores históricos agem como personagens de
empolgantes romances.
19 Ressalte-se que o exército brasileiro durante o conflito com o Paraguai, carecia de
uma estrutura de combate, aqui entendida como armamentos, atendimento médico,
abastecimento e uniformes, entre outros. Sabe-se que na maioria das vezes  as decisões
a serem tomadas eram pensadas, discutidas e ordenadas a poucos metros de distância
do teatro de operações.
20 O episódio da retirada da Laguna não foge a essas constatações. Os oficiais do alto
comando militar possuíam conhecimento das carências bélicas da coluna, porém não
deixaram de efetivar a longa marcha. Taunay relatou todas essas inquietudes,
problemas e enfrentamentos com os paraguaios. Assumiu o fracasso da expedição, mas
narrou de forma romântica, épica e honrosa o desastre da retirada. O que se constituiu
em derrota para o exército brasileiro adquiriu, nas sucessivas páginas de sua obra,
outra dimensão. Em nome da pátria a glória prevaleceu.

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21 A partir dessas premissas procedeu-se a construção de uma historiografia épica que


despertou o interesse dos escritores mato-grossenses e sul-mato-grossenses, levando-se
em consideração que a retirada da Laguna constitui-se um episódio peculiar e “muito
caro” resgatado pela história e historiografia sul-mato-grossense. Embora tenha
exposto o Exército brasileiro e o fracasso da expedição que foi organizada para deter o
avanço paraguaio, foi em diversos momentos políticos e ideológicos do estado
recuperada e rememorada com objetivos específicos, entre eles o de destacar os mitos e
os heróis sul-mato-grossenses, como por exemplo: Guia Lopes, Antônio João Ribeiro e
Carlos de Moraes Camisão.
22 Carlyle insistiu na relevância do papel desempenhado pelos grandes homens,
apontando que o estudo desses heróis é de suma importância para a comprensão da
história universal, porque

[…] a história daquilo que o homem tem realizado neste mundo, é no fundo a
história dos grandes nomes, êstes grandes homens, os modeladores, padrões e, em
sentido amplo, criadores de tudo o que a massa geral dos homens imaginou fazer
ou atingir; tôdas as coisas que nós vemos efetuadas no mundo são pròpriamente o
resultado material externo, a realização prática e a incorporação dos pensamentos
que habitam nos grandes homens mandados no mundo: a alma tôda a história
universal, pode justamente considerar-se, seria a história dêstes10.

23 Ou ainda:

[…] os grandes homens, seja como fôr que os tomemos, são companhia proveitosa.
Não podemos olhar, por mais imperfeitamente, para um grande homem, sem
lucrarmos alguma coisa com êle. Êle é a fonte corrente e viva, de que é agradável
estar perto. A luz que ilumina, que tem iluminado a escuridão do mundo; e isto
não sòmente como uma lâmpada acesa, mas antes como uma luminária natural
que brilha do céu; uma fonte corrente e viva, como disse, de visão nativa e
original, de virilidade e nobreza; - em cuja radiação tôdas as almas se sentem
bem11.

24 Os escritores sul-mato-grossenses citados apreenderam os ensinamentos de Carlyle,


e de uma maneira geral, identificam-se por exemplo, com a figura de guia Lopes. Todos
“são um pouco de Lopes, da mesma raça e da mesma índole”. Por isso, sentem-se
encantados e seduzidos por essa temática: escrever sobre a Guerra do Paraguai tornou-
se um “dever” e um “prazer”. Querem ser identificados como fiéis seguidores de
Taunay.
25 Antônio João e Camisão também foram alvo de semelhante atenção por parte desses
autores que compõe a “galeria de heróis” que povoa a história sul-mato-grossense.
Esclareço que o Tenente Antônio João Ribeiro foi caracterizado como símbolo da
resistência sul-mato-grossense ao defender a Colônia Militar dos Dourados da
ocupação paraguaia e “recusado a se render” juntamente com seu ínfimo efetivo;
proporcionalmente o Coronel Carlos de Moraes Camisão, oficial que assumiu o
comando da coluna expedicionária em Miranda, e que dirigiu a maior parte das ações
às quais esteve submetida a tropa, sendo responsável pela ocupação do território
paraguaio e, posterior início da retirada,foi uma figura lembrada e rememorada no
processo de construção identitária do sul-mato-grossense.
26 A consolidação de heróis como Antônio João, Guia Lopes e Camisão, que na
contemporaneidade são tidos como verdadeiros mitos locais, embora muitos deles não
fossem mato-grossenses, como era o caso de Camisão, marcou na opinião dos citados
autores, de tal maneira o processo histórico regional que no Hino de Mato Grosso do
Sul12, música de Radamés Gnatali e letra de Jorge Antônio Siufi e Otávio Gonçalves
Gomes, a última estrofe é contemplada com os seguintes versos:

Vespasiano, Camisão

E o tenente Antônio João,

Guaicuru, Ricardo Franco,

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Glória e tradição!

27 Guimarães em sua obra Mato Grosso do Sul, sua evolução histórica publicada no ano
de 1999, externalizou sua admiração por tais heróis; em meio a expressões como “brava
coluna” ou “homens valentes”, o escritor prosseguiu com a mitificação dos heróis mato-
grossenses. Homens como Camisão e Guia Lopes ganharam em suas páginas,
momentos de cristalização heróica. Eles teriam cumprido seu dever junto à nação
brasileira independente dos erros e/ou falhas a que submeteram a coluna. Na mesma
medida, a província mato-grossense teria dado sua contribuição ao resgate da honra da
nação brasileira.
28 A síntese do herói, do mito e do homem sul-mato-grossense, se delineou a partir do
encontro das qualidades herdadas de Lopes, Antônio João e Camisão; o sul-mato-
grossense é identificado assim como o homem que guia, o sertanejo, o solitário, o
grande desbravador e conhecedor da região, e também como um homem que resiste e
não sucumbe diante da realidade, mesmo que esta seja adversa.
29 No processo de construção identitário sul-mato-grossense outras ações foram
efetivadas, como por ejemplo, a nomeação de ruas, avenidas, monumentos e prédios
públicos com nomes que reverenciam e rememoram nomes, episódios e batalhas
relacionadas a Guerra do Paraguai e a retirada da Laguna.
30 Acredito que tal opção por nomear os espaços públicos no estado de Mato Grosso do
Sul com eventos e episódios relacionados com os acontecimentos relativos à Guerra do
Paraguai, encontra respaldo, entre outros fatores, na forma com que a história sul-
mato-grossense foi gestada, isto é, no contexto da divisão do estado (1977) o conflito
platino foi privilegiado como:

[...] elemento que teria contribuído para a construção de um passado histórico


repleto de glórias, heróis, epopéias, batalhas e acontecimentos singulares. Essa
escolha pode ser explicada pelos acontecimentos que tomaram o antigo Mato
Grosso, ou seja, o episódio que ficou nacionalmente conhecido e imortalizado [...]
como a Retirada da Laguna. [...] A Retirada caracterizou-se como um dos maiores
fracassos da história militar brasileira; no entanto, ganhou novos contornos,
especialmente nos escritos de Taunay, em particular em sua obra A Retirada da
Laguna. Apropriando-se da visão gestada por este escritor os memorialistas sul-
mato-grossenses legaram à posteridade uma visão do conflito repleta de episódios
monumentais e guerreiros destemidos. A partir dessa concepção muitos desses
heróis representam, hoje, verdadeiros mitos locais, embora a maioria não tivesse
nascido no antigo território mato-grossense. Camisão, Guia Lopes e Antônio João,
entre inúmeros outros, retratam na atualidade o espírito do herói sul-mato-
grossense13.

31 Destaco que Mato Grosso do Sul configurou-se como o principal teatro de operações
da coluna organizada por D. Pedro II, sobretudo a partir do momento em que o corpo
expedicionário chegou a Coxim e o conflito passou a atingir diretamente um palco de
operações que hoje pertence a Mato Grosso do Sul. Nesse sentido, a memória desse
conflito mantém-se viva, no estado, até a atualidade por meio de monumentos, ruas,
praças, avenidas e prédios públicos, que fazem referência a episódios ou personagens
ligados à Guerra do Paraguai. Interessante pontuar que essa memória do conflito
platino povoa o imaginário popular sul-mato-grossense, que está ligado a estórias e
“causos” da Guerra, como também desperta uma produção significativa, tanto
historiográfica quanto memorialista acerca desta temática.
32 A memória da Guerra do Paraguai em Mato Grosso do Sul pode ser visualizada e
percebida no que denomino de “espaços das batalhas” e que estão representados em
nomes de ruas e avenidas, tais como: Riachuelo, ocorrida em 11 de junho de 1865;
Passo da Pátria, em 5 de maio de 1866; Tuiuti, em 24 de maio de 1866; Curuzú, em 3 de
agosto de 1866; Curupaiti, em 22 de setembro de 1866; Humaitá, em 5 de agosto de
1868; Itororó, em 6 de dezembro de 1868; e, finalmente, Lomas Valentinas, em 27 de
dezembro de 1868.
33 Nos “espaços destinados aos heróis”, as ruas e avenidas homenageiam: o então
Marquês de Caxias, que assumiu o comando-em-chefe das forças brasileiras terrestres e

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navais em outubro de 1866; Visconde de Taunay, que participou do episódio da


Retirada da Laguna como ajudante da comissão de engenheiros; Cel. Camisão, terceiro
comandante da coluna com destino ao sul de Mato Grosso; Cel. Juvêncio, que integrou
a expedição organizada para expulsar as tropas guaranis de território mato-grossense;
guia Lopes que acompanhou a coluna na ocupação paraguaia e, conseqüente Retirada
como “guia”;   Benjamin Constant, que participou do conflito platino, primeiro na
fiscalização de alimentos e, depois atuando na comissão de engenheiros; Mal. Floriano
Peixoto, que atuou na campanha do Paraguai e, posteriormente foi Presidente da
República; Antônio João, comandante da pequena Colônia Militar dos Dourados, que
morreu em conseqüência da ocupação paraguaia; Hermenegildo de Albuquerque
Portocarrero, comandante do Forte de Coimbra; Frei Mariano, religioso instalado em
Miranda, que foi aprisionado pelos paraguaios; Barão de Melgaço, que teria sido
responsável por impedir a ocupação paraguaia em Cuiabá; Capitão Antônio Maria
Coelho, que liderou a retomada de Corumbá; D. Pedro II, Imperador do Brasil à época
da Guerra. General Osório, Manoel Cavassa, José Rodrigues Benfica, Ten. Cel.
Sampaio, Conde d’Eu, Cel. Frederico Carneiro de Campos e Tamandaré foram
igualmente personagens lembrados.
34 No que diz respeito às datas relativas a eventos da Guerra, encontrei o 13 de junho,
referente à retomada de Corumbá, sob as ordens de Antônio Maria Coelho, em 1867.
35 O estado de Mato Grosso do Sul abriga ainda em vários de seus municípios como
Aquidauana, Bela Vista, Coxim, Jardim, Miranda, Nioque, Dourados, Corumbá e
Antônio João, diferenciados monumentos e obeliscos acerca da Guerra do Paraguai;
ressalto que esses locais foram palco dos acontecimentos em que se constituiu a
retirada da Laguna.
36 Este processo de apropriação e reapropriação dos eventos relacionados a retirada da
Laguna ocorreu e ainda ocorre em diversos momentos da história política sul-mato-
grossense haja vista que mesmo na contemporaneidade há um projeto turístico que foi
esboçado com o intuito de criar uma Trilha da Retirada da Laguna14. As elites locais
continuam se apropriando desse passado histórico ocorrido em solo mato-grossense e,
insistem ainda em eleger como guia seguro para a construção de suas narrativas a
referida obra de Taunay; entretanto sem elaborar as devidas mediações e os pertinentes
diálogos para contextualizar e compreender a narrativa elaborada pelo autor; no dizer
de Certeau sem se preocupar em delinear seu “lugar social”15.
37 Para os pesquisadores Martins Júnior e Trubiliano a obra
38 A Retirada da Laguna acaba por se reduzir àquilo que ela efetivamente não é. De um
lado, reduz-se a mero documento para a reconstituição do passado, cuja objetividade
parece opor-se à intencionalidade do monumento. Por outro lado, e simultaneamente,
reduz-se à categoria de monumento que, associado à manipulação e à
instrumentalização da lembrança, evoca intencionalmente o passado, para reviver
coletivamente (comemorar) a memória de acontecimentos (gloriosos ou humilhantes),
considerados atos fundadores da identidade nacional, regional ou local, com a
sacralização dos grandes valores da comunidade constituindo-se no objetivo principal.

[...] a “Guerra do Paraguai” e, em especial, os episódios relacionados com a


Retirada da Laguna transformam-se em elementos essenciais para o processo de
elaboração, por parte da memória coletiva local, de representações míticas do
passado, capazes de legitimar a própria existência do novo estado, bem como para
constituição de uma identidade local, a partir da qual os sul-mato-grossenses são
identificados, entre outros, com o bandeirante “desbravador” do sertão, com o
defensor da fronteira e da integridade nacional ameaçada. Representações de um
passado mítico e, portanto, excludente de outras possibilidades [...]”16.

39 Para que se possa melhor entender a criação do projeto da Trilha da Retirada da


Laguna faz-se importante explicitar o contexto político à época: as eleições para o
poder estadual de 1998 mudaram um cenário político no estado que se perpetuava
desde a criação de Mato Grosso do Sul. Saíram do poder nomes como, por exemplo, os
de Marcelo Miranda, Wilson Barbosa Martins e Pedro Pedrossian que se revezaram

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durante as décadas de 1970 e 1980 e chegava ao topo um novo partido: o Partido dos
Trabalhadores, na figura de José Orcírio Miranda dos Santos que ao assumir o poder
ainda em seu primeiro mandato no início de 1999, juntamente com a Secretaria de
Cultura, Esporte e Lazer e outros setores, deu início a uma discussão visando à
possibilidade de criar uma trilha cultural em torno da Retirada da Laguna. Nesse
sentido destaco que o projeto em discussão configura-se como um projeto político de
âmbito governamental e nada mais pontual que o episódio da Guerra do Paraguai e da
retirada da Laguna para se criar “novas histórias”, “novas memórias” e “novas
identidades”...
40 Embora alguns estudiosos já viessem levantando algumas questões acerca da rota da
Retirada da Laguna, foi no referido governo, via Secretaria citada acima, que se
procedeu a uma discussão visando a elaboração de um projeto que contemplasse o
“cenário histórico, geográfico e paisagístico do qual fez parte a retirada da Laguna”.
41 Como afirmei no início desta reflexão, a Guerra do Paraguai foi objeto de
manipulação ideológica em diferentes momentos políticos, e, no estado de Mato Grosso
do Sul está sendo resgatada em um contexto histórico peculiar. Fica claro, portanto, que
a memória da Guerra não se configura como uma “memória patriótica”, e sim, como
uma memória conotativamente política.
42 Tendo em vista o exposto até o presente momento, posso afirmar com a devida
margem de segurança que o projeto da Trilha da Retirada da Laguna e outros que se
referem à Retirada, estão sendo articulados pelos municípios aqui já citados tendo
como justificativa dois pressupostos: 1º) a configuração e/ou consolidação de uma
identidade sul-mato-grossense ligada ao episódio da Guerra do Paraguai, e ao mesmo
tempo, à Retirada da Laguna; 2º) o intuito de implantar o Turismo Cultural e/ou
contemplativo como mecanismo de desenvolver tais municípios, gerando emprego e
renda.
43 Nesse contexto torna-se imperativo o apoio e o incentivo do Governo Estadual aos
projetos mencionados, na medida em que se consolida a construção de uma memória,
de uma história e de uma identidade ligada aos desígnios de uma elite dominante sul-
mato-grossense como forma de se perpetuar no poder. Por isso, a falta de compromisso
histórico com o fato em questão – A Guerra do Paraguai e a Retirada da Laguna – tais
episódios estão sendo, ao longo da história do estado, retomados e relembrados em
momentos políticos nos quais se tenta reforçar uma ideologia17 do estado. Vale ressaltar
que a memória da Guerra em Mato Grosso do Sul não é construída de forma linear e
cumulativa, ao contrário, é edificada com interrupções, sendo resgatada nos contextos
em que pode servir à determinada ideologia.    Então, inversamente ao que insistem em
afirmar, isto é, de que a memória da Guerra e da Retirada caracterizam-se como uma
“memória de cunho patriótico”, acredito que seja a memória de uma “conotação
política” singular, haja vista, que em Mato Grosso do Sul os aspectos relacionados a
memória, a história e a identidade fazem parte dos processos de tentativas de
construções identitárias delineadas nos projetos políticos forjados seja por uma elite
local ou pelas instâncias governamentais.

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Notes
1  Cf.: Le Goff, Jacques. História e memória. Tradução de Bernardo Leitão e outros. Campinas:
Ed. UNICAMP, 1990, p. 476.
2  Barrio, Cristina Del; Hoyos, Olga. O significado cognitivo e afetivo da identidade nacional em
crianças e adolescentes colombianos e espanhóis. In: Carretero, Mario; Rosa, Alberto; González,
Maria Fernanda (Orgs.). Ensino de história e memória coletiva. Tradução de Valério de Campos.
Porto Alegre: Artmed, 2007, p. 129.
3   Zorzato, Osvaldo. Conciliação e identidade: considerações sobre a historiografia de Mato
Grosso. São Paulo, 1998. Tese (Doutorado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.
4   Bourdieu, Pierre. O poder simbólico. Memória e sociedade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
1989, p. 116.

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26/10/2022 11:17 A Guerra do Paraguai e suas interfaces: Memória, história e identidade em Mato Grosso do Sul (Brasil)
5  Guimarães, Acyr Vaz. Seiscentas léguas a pé. Campo Grande-MS: Tribunal de Justiça de Mato
Grosso do Sul, 1988.
6  Guimarães, Acyr Vaz. Mato Grosso do Sul, sua evolução histórica. Campo Grande: Ed. UCDB,
1999.
7  Guimarães, Acyr Vaz. A Guerra do Paraguai: verdades e mentiras. Campo Grande: Instituto
Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, 2000. (volume 1).
8  Rodrigues, José Barbosa. Histórias da terra matogrossense. São Paulo: Editora do Escritor,
1983.
9   Campestrini, Hildebrando; Guimarães, Acyr Vaz. História de Mato Grosso do Sul. Campo
Grande: Gráfica e Papelaria Brasília, 1991.
10   Carlyle, Thomas. Os heróis. 2. Ed. Tradução de Antônio Ruas. São Paulo: Melhoramentos,
1963, p. 9.
11  Idem, ibidem, p. 9.
12  Sancionado pelo Decreto nº 3, de 1 de janeiro de 1979.
13  Squinelo, Ana Paula. A Guerra do Paraguai em novos campos de batalha. Fronteiras: revista
de História, Campo Grande, MS, 4/5 (7/9), pp. 79-81, 2000/2001.
14  No ano de 2002 foi realizada a 1ª Edição da Marcha Cívico-Cultural da Retirada da Laguna
que propunha “o refazer da epopéia dos bravos mato-grossenses e brasileiros, percorrendo os
caminhos por eles realizados, a pé ou motorizado, em trilhas dignas de qualquer turismo
ecológico. Comentando os principais eventos acontecidos e desfrutando das belezas da rica
natureza sul-mato-grossense”. Cf.:Projeto Cultural: V reedição da marcha cívico-cultural da
retirada da Laguna – revivendo a História de nosso estado, 2007. Aponto que tais marchas são
realizadas anualmente por militares do Exército Brasileiro, com o apoio do Governo Estadual, do
IHGMS e do Conselho Internacional de Museus (ICOM), e contam com a participação de
militares e parcelas da sociedade civil.
15  Cf.: Certeau, Michel de. A escrita da história. Tradução de Maria de Lourdes Menezes. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 1982.
16 Martins Júnior, Carlos; Trubiliano, Carlos Alexandre Barros. Revisitando A Retirada da
Laguna: um debate entre a Memória, História e Turismo. Revista Eletrônica História em
Reflexão: vol. 2, n. 3 – UFGD – Dourados, jan./jun., 2008, p. 14-13.
17   Utilizo o conceito de ideologia tal como definiu Michel Vovelle: “um conjunto de
representações, mas também de práticas e comportamentos conscientes ou inconscientes”. Cf.:
Vovelle, Michel. Ideologias e mentalidades. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991, p. 11 e 14.

Pour citer cet article


Référence électronique
Ana Paula Squinelo, « A Guerra do Paraguai e suas interfaces: Memória, história e identidade
em Mato Grosso do Sul (Brasil) », Nuevo Mundo Mundos Nuevos [En ligne], Colloques, mis en
ligne le 16 janvier 2009, consulté le 26 octobre 2022. URL :
http://journals.openedition.org/nuevomundo/49752 ; DOI :
https://doi.org/10.4000/nuevomundo.49752

Auteur
Ana Paula Squinelo
Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP/Brasil), Professora Adjunta do
curso de História do Centro de Ciências Humanas e Sociais (CCHS) da Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul - Campo Grande/MS (Brasil), Coordenadora do Grupo de Pesquisa
“Historiografia e ensino de História”, e-mail: apsquinelo[at]yahoo.com.br

Droits d’auteur

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https://journals.openedition.org/nuevomundo/49752 11/11

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