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SUA PETIÇÃO
DIREITO
PENAL
Seção 4
DIREITO PENAL
Sua causa!
Conforme narrado nos autos, Fulano de tal, brasileiro, solteiro, carteira de identidade número xxx,
residente e domiciliado na rua xxx, nesta capital, foi flagrado dentro de sua residência com vários
comprimidos de ecstasy. Também chamado de droga do amor, o ecstasy é uma droga psicoativa,
conhecida quimicamente como 3,4-metilenodioximetanfetamina e abreviada por MDMA.
Os policiais civis que estavam fazendo a investigação, lastreada em denúncia anônima, entraram em
sua residência sem mandado judicial, valendo-se do conceito de que o crime é classificado como
permanente, podendo o flagrante ser dado a qualquer momento e sem autorização judicial. Ademais,
ingressaram na residência sem qualquer consentimento do morador.
Com sua prisão em flagrante, Fulano de tal fora encaminhado para a audiência de custódia que fora
realizada um mês depois do fato. O fato se deu na comarca de São Paulo/SP.
Você requereu o relaxamento da prisão em flagrante, tendo em vista que ela não fora feita de forma
legal, uma vez que se descumpriu o art. 310, caput, CPP, que exige o prazo de 24 horas para a sua
realização, bem como não estavam presentes os requisitos da prisão preventiva, forte, ainda, que a
investigação foi lastreada em denúncia anônima e o flagrante foi feito sem observar os balizamentos
jurisprudenciais de consentimento do morador.
Todavia, o magistrado entendeu por bem decretar a prisão preventiva, afirmando que o prazo de 24
horas é considerado impróprio e não merece ser seguido à risca, além disso corroborou as
declarações do Ministério Público de que o acusado é rico e isso pode ensejar a prisão com base na
garantia da ordem pública, bem como ele poderia fugir do país e ameaçar testemunhas, em razão
da sua excelente condição financeira.
Após, o magistrado entendeu que, por tratar-se de crime permanente, o flagrante poderia ser dado
a qualquer tempo, independentemente de autorização judicial, bem como que a inexistência de
consentimento do morador para o ingresso em sua residência constitui mera irregularidade.
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Dessa forma, o réu foi preso preventivamente na cidade de São Paulo/SP, enviando-se os autos
para o Delegado de Polícia responsável, tendo sido o feito distribuído para o juiz da 1ª Vara Criminal
da Capital. Cumpre ressaltar que até o presente momento não houve indiciamento, já se ultimando
90 dias de investigação, ultrapassando-se o prazo previsto no artigo 51 da Lei nº 11.343/06.
Sendo assim, foi requerida a revogação da prisão preventiva, mas houve o indeferimento e o Juiz
determinou que o processo fosse para o Ministério Público. O Promotor de Justiça responsável pelo
caso requereu que a autoridade policial procedesse ao relatório final, o que foi feito com o respectivo
indiciamento. Nesse diapasão, foi oferecida denúncia pelo crime previsto no artigo 33, caput, da Lei
nº 11.343/06, na forma do artigo 71, CP, pois foram encontrados vários comprimidos na mesma
ocasião fática.
Após, o Juiz determinou, na data de 28 de abril de 2022, quinta-feira, que se intimasse a Defesa do
acusado para apresentar a peça processual cabível, sendo que tal intimação ocorrera em 29 de abril
de 2022, sexta-feira. Apresentada a defesa preliminar, o Magistrado recebeu a denúncia e
determinou a realização da audiência de instrução e julgamento.
Nessa audiência, seguindo os trâmites do artigo 57 da Lei nº 11.343/06, o Juiz iniciou pela oitiva do
acusado, depois ouviu as testemunhas de acusação e de defesa. Encerrada a instrução, o Ministério
Público ofertou suas alegações finais escritas em forma de memoriais e pediu a condenação do
acusado pelo crime do artigo 33, caput, Lei nº 11.343/06, na forma do artigo 71, CP, apontando que
a inexistência de laudo definitivo não impediria de imputar-se a condenação, eis que o Juiz poderá
valer-se do laudo preliminar ou de constatação. Após, foi dada vista a você, advogado, para
apresentar a peça cabível nesse momento processual, no prazo de cinco dias, tendo a intimação
sido feita em 02/05/2022.
Como é curial, ao preso será assegurado o direito ao silêncio, podendo apresentar a sua versão dos
fatos, nos termos seguintes:
O interrogatório é visto como meio de prova, dispondo o Código de Processo Penal que o acusado
poderá apresentar a sua versão dos fatos, calar-se, bem como será ouvido ao final de todo o
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processado, em obediência ao princípio constitucional da ampla defesa. Nesses termos, devem ser
citados os preceitos constitucional e legal, in verbis:
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser
interpretado em prejuízo da defesa.
Art. 187. O interrogatório será constituído de duas partes: sobre a pessoa do acusado
e sobre os fatos.
II - não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo particular a que atribuí-
la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem deva ser imputada a prática do crime, e
quais sejam, e se com elas esteve antes da prática da infração ou depois dela;
III - onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se teve notícia desta;
IV - as provas já apuradas;
Cumpre ressaltar que a Lei nº 11.343/06 previu o interrogatório do acusado no início da audiência de
instrução, totalmente em dissonância com o que consta do Código de Processo Penal e a
jurisprudência dominante dos Tribunais Superiores, pelo que isso deve ser descartado do
ordenamento jurídico brasileiro. A disposição criticada tem a seguinte redação:
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Art. 57. Na audiência de instrução e julgamento, após o interrogatório do acusado e
a inquirição das testemunhas, será dada a palavra, sucessivamente, ao
representante do Ministério Público e ao defensor do acusado, para sustentação oral,
pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a
critério do juiz. (BRASIL, 2006, [s. p.])
Parágrafo único. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se restou
algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o
entender pertinente e relevante. (BRASIL, 2003, [s. p.])
Todavia, na esteira do pensamento pretoriano, o correto é o interrogatório ser feito ao final de todo o
processado, em homenagem aos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório. Por
todos, segue decisão emblemática sobre o tema:
Dito isso, para que eventual nulidade seja reconhecida em decorrência da inversão
da ordem do interrogatório, remanescem dois pontos a serem previamente
analisados: a) para que seja reconhecida a nulidade do feito, é necessário haver a
demonstração de efetivo prejuízo à defesa, à luz do princípio pas de nullité sans grief?
e b) a matéria deve ser alegada no primeiro momento processual oportuno, sob pena
de preclusão?
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pessoalmente sobre a prova acusatória a eles dirigida e influenciar na formação do
convencimento do julgador.
Por fim, uma vez fixada a compreensão pela desnecessidade de a defesa ter de
demonstrar eventual prejuízo decorrente da inversão da ordem do interrogatório dos
réus, em processo do qual resultou a condenação, e porque o procedimento adotado
afrontou os princípios do contraditório e da ampla defesa, não há como condicionar
o reconhecimento da nulidade ao fato de a defesa arguir ou não o vício processual já
na própria audiência de instrução. Não incide na espécie, portanto, a preclusão.
(REsp 1.808.389/AM, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 20/10/2020).
Assim, o interrogatório é ato que deve ser feito ao final da audiência de instrução e julgamento.
A Lei nº 11.343/06
Ademais, cumpre ressaltar que a Lei de Drogas exige a realização de dois laudos periciais para
satisfazer o devido processo legal, sendo indispensáveis os laudos preliminares ou de constatação
e o definitivo, uma vez que a ausência de um dos dois laudos ocorre situação de nulidade absoluta,
por ausência de materialidade.
Trata-se da disposição prevista nos artigos 50 e seguintes, a seguir transcritos:
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§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da
materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade
da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea.
§ 2º O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1º deste artigo não ficará
impedido de participar da elaboração do laudo definitivo.
Pelo que consta da orientação legal, a exigência de dois laudos periciais é requisito indispensável
para o correto processamento de alguém por delito envolvendo o tráfico de drogas, sob pena de
nulidade processual.
Tendo em vista que o tipo penal previsto no artigo 33, caput, Lei nº 11.343/06, é considerado tipo
misto alternativo, em que a prática de um verbo previsto neste ou em todos permite a conclusão de
que há apenas um crime, não pode prosperar a tese acusatória de aplicação da continuidade delitiva.
O fato de terem sido encontrados vários comprimidos proibidos por lei não permite a afirmativa de
que são vários crimes de tráfico de drogas, havendo, se for o caso, a capitulação de um único crime
previsto no citado artigo legal.
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Art. 798. Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios,
não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado.
§ 2o A terminação dos prazos será certificada nos autos pelo escrivão; será, porém,
considerado findo o prazo, ainda que omitida aquela formalidade, se feita a prova do
dia em que começou a correr.
Portanto, deve ser dada atenção à contagem dos prazos processuais, em que o início se dará em
dia útil e o dia final também.
PONTO DE ATENÇÃO
Vamos peticionar!
1 – Após a audiência de instrução e julgamento, qual peça é cabível para manifestar a vontade do
acusado? Alegações finais orais, mas que podem ser apresentadas em forma de memoriais escritos.
2 – Houve a correta aplicação do rito processual penal? Se não, deve o aluno ficar atento para pedir
o reconhecimento de nulidades em preliminares.
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3- Há possibilidade de pedir mais de uma tese defensiva? Se sim, colocar tudo que interesse à defesa
do acusado, pois esse é o último momento processual antes da sentença.
4 – Não podemos deixar de utilizar uma jurisprudência atual acerca do assunto debatido. Deve-se
preferir jurisprudência de Tribunais superiores, como Superior Tribunal de Justiça e Supremo
Tribunal Federal.
Atenção: jurisprudência refere-se às decisões reiteradas dos tribunais, decisões isoladas devem ser
evitadas.
A primeira medida em uma peça processual é o endereçamento, ou seja, precisamos saber de quem
é a competência para analisar aquele fato. Por esse motivo antes de ajuizar uma ação ou apresentar
qualquer peça processual é necessário que o aluno conheça as regras de competência. As questões
da OAB sempre demonstram onde se deu o fato, o que fica claro de atestar a competência.
Após o endereçamento, faz-se um preâmbulo, nele colocaremos todos os dados das partes. Nunca
se deve inventar dados nas peças práticas da OAB, pois isso identifica a sua prova, gerando a sua
desclassificação.
Após o preâmbulo, iniciaremos os fatos, que nada mais são que a história contada pelo examinador.
Após a narrativa dos fatos, iniciaremos os fundamentos jurídicos. É nesse ponto que você demonstra
seu conhecimento. Portanto, faça com muita atenção e demonstre para o seu examinador que você
conhece do assunto.
Após a fundamentação, é hora de fazer os pedidos. Cuidado! Você só pode pedir o que fundamentou.
Essas são as chamadas dicas de ouro e temos certeza de que com esse roteiro mental será fácil
compreender e colocar em prática todos os seus poderes para uma escorreita peça prático-
profissional. Vamos peticionar?
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília,
DF: Presidência da República, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 15 maio 2022.
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Brasília, DF:
Presidência da República, 1941. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del3689.htm. Acesso em: 3 jun. 2022.
BRASIL. Lei no 10.792, de 1º de dezembro de 2003. Altera a Lei no 7.210, de 11 de junho de 1984
- Lei de Execução Penal e o Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo
Penal e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2003. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.792.htm. Acesso em: 6 jun. 2022.
BRASIL. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas
sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção
social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não
autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. Brasília, DF:
Presidência da República, 2006 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11343.htm. Acesso em: 4 jun. 2022.
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