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Steel frame - cobertura (última parte)

A cobertura destina-se a proteger as edificações da ação das intempéries. Pode


ser vista também como um dos elementos de importância estética do projeto,
merecendo, por isso, materiais que atendam tanto ao desempenho técnico
como às exigências arquitetônicas.

A definição da cobertura da edificação depende, entre outros fatores, de:


dimensões dos vãos que deverão ser vencidos; ações da natureza; opções
arquitetônicas e estéticas; condições locais e a relação custo-benefício.

De um modo geral, os elementos das coberturas são: 1) vedação propriamente


dita (telhas), que pode ser de diversos materiais; 2) a armação ou conjunto de
elementos que dão suporte à cobertura, como as ripas, caibros, terças,
tesouras, treliças, elementos de contraventamento; 3) o sistema de
escoamento das águas pluviais, como condutores, calhas e rufos.

Construtivamente, as coberturas próprias para steel frame possuem as mesmas


características e princípios das estruturas convencionais. Portanto, podem ser
utilizadas com telhas metálicas, cerâmicas, fibrocimento e shingle, entre outras.

As coberturas prontas para steel frame, por sua leveza e versatilidade, podem
ser utilizadas em edificações de sistemas construtivos tradicionais e são
capazes de vencer grandes vãos, inclusive podem ser empregadas em galpões
e edificações de usos gerais de serviços.

A estrutura da cobertura deve suportar, além de seu peso, o peso da vedação,


forros suspensos, mantas térmicas ou acústicas, ações devidas ao vento, os
equipamentos e as instalações que nela se apoiam, além da sobrecarga de
pessoas quando a cobertura estiver em manutenção periódica. A norma "NBR
8800 - Projeto de Estruturas de Aço e de Estruturas Mistas de Aço e Concreto
de Edifícios" prevê que, se nenhum outro valor mais específico puder ser
avaliado, deve ser considerada uma sobrecarga de 0,25 kN/m² na área
projetada da cobertura, para atender também eventual empoçamento de água
em função dos caimentos. Devem ser levadas em consideração, ainda, no
dimensionamento dos elementos estruturais, as ações decorrentes do processo
construtivo ou de montagem.

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Figura 1 - Estrutura de cobertura em Figura 2 - Cobertura plana horizontal


steel frame para edificação com placas sobre treliças
convencional

Materiais
Para executar estruturas de coberturas de steel frame utilizam-se os mesmos
perfis de aço galvanizado empregados na estrutura das paredes, que são os
perfis U e Ue, com alma de 90 mm, 140 mm ou 200 mm de altura.

O conceito de alinhamento das cargas, empregado na execução do restante da


estrutura da construção, deve valer também para a cobertura. Os perfis
metálicos devem se posicionar entre si de tal forma que gerem o mínimo de
excentricidade e transmitam as ações citadas sem gerar efeitos substanciais de
segunda ordem. Para tanto, construtivamente, os perfis que compõem a
tesoura, treliça ou conjunto de caibros devem ter suas almas alinhadas às
almas dos montantes das paredes que as suportam, para que os esforços não
produzam efeitos não avaliados no dimensionamento.

Uma das soluções de cobertura possíveis, utilizando-se steel frame, é o plano


horizontal impermeabilizado. Esse plano pode ser executado com laje úmida
(conforme descrito no artigo referente à estrutura, Téchne 135) ou com laje
seca, montada por placas industrializadas de madeira de fibras orientadas
(Oriented Strand Board) com revestimento cimentício. Essas lajes devem
receber impermeabilização adequada e ter inclinação suficiente para o
escoamento da água. O caimento deve ser executado pela variação na
espessura da camada de proteção mecânica.

A estruturação dessas lajes pode ser feita com vigas de perfis U enrijecidos ou,
no caso de grandes vãos ou de carregamentos maiores, podem ser empregadas
treliças planas. Deve-se dar atenção especial para a estabilização lateral do
conjunto, que é feita com fitas metálicas ou perfis de contraventamento.

Figura 3 - Apoio em madeira de fibra


orientada para sustentação de telhado Figura 4 - Treliças inclinadas para
cerâmico sustentação do telhado

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Figura 5 - Cobertura estruturada com


caibros

Projeto
Em geral, os telhados são a solução mais comum para a cobertura de
edificações steel frame. São constituídos por uma ou mais superfícies, que
podem ser planas, curvas ou mistas. As coberturas em planos inclinados,
denominadas popularmente de "águas", podem ter apenas um plano único
(uma água) ou vários planos interseccionados formando um sistema complexo
adequado às funções técnica e estética da construção. Os telhados inclinados
possuem também a capacidade de criar uma proteção térmica, pela presença
da camada de ar (colchão de ar) entre a cobertura e a laje ou o forro.

As coberturas inclinadas com steel frame seguem a concepção estrutural do


telhado convencional de madeira, substituída, nesse caso, por perfis
galvanizados. Os telhados concebidos com planos inclinados podem ser
estruturados em tesouras convencionais ou por um conjunto de caibros.

Os telhados inclinados de steel frame podem receber vários tipos de telhas. No


caso de telhas cerâmicas ou shingles, é necessário um apoio contínuo,
geralmente de madeira de fibras orientadas (OSB), com manta protetora de
impermeabilização.

Quando utilizadas telhas metálicas, estas podem funcionar como diafragmas,


melhorando a rigidez do sistema estrutural da cobertura. Além disso, permitem
que o espaçamento dos caibros seja maior, pois as telhas metálicas vencem
vãos maiores.

Em telhados executados com caibros, geralmente utilizam-se perfis U ou Ue,


cortados e montados no local da obra. Essa opção é interessante, pois se obtém
certa economia em relação à tesoura, por utilizar menor quantidade de
elementos de aço. Contudo, dependendo da combinação de alguns fatores
como vão e ações, podem-se utilizar perfis duplos para compor a seção
transversal dos caibros ou, ainda, empregar pequenas treliças inclinadas.

Fundamentalmente, os caibros, semelhantemente ao posicionamento em um


telhado convencional de madeira, apoiam-se numa extremidade na cumeeira e,
no caso do sistema estrutural steel frame, nos painéis portantes que, por sua
vez, transmitem as solicitações da cobertura à fundação. A diferença de nível
desses apoios gera a inclinação do caibro, tendo-se, então, que estabelecer a
altura da cumeeira em função do vão, dos painéis, do tipo de telha e outras
condições de projeto.

Dependendo do projeto, os painéis internos podem auxiliar na sustentação dos


caibros introduzindo-se escoras. Por sua vez, a cumeeira pode ser um painel

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estrutural contínuo ou, mais comumente, uma viga de perfil U ou Ue. No caso
do apoio do caibro no painel, utilizam-se, comumente, enrijecedores de alma e
cantoneiras aparafusadas às guias, e nas ligações entre os caibros e a
cumeeira, cantoneiras aparafusadas à alma desses perfis. Quando o telhado
possui mais de duas águas, o encontro de diversos painéis inclinados gera, no
projeto, espigões e rincões, montados a partir de perfis U e Ue.

Os caibros devem ser contraventados, pois não possuem rigidez lateral


suficiente para resistir às ações do vento. Esse sistema de contraventamento
dos caibros fornece uma rigidez adicional à estrutura do telhado como um todo.
Podem-se utilizar perfis U, Ue, fitas de aço galvanizadas e placas que
introduzam o efeito de diafragma. As uniões desses elementos devem ser
dimensionadas e projetadas para que, entre outras situações, não ocorram
perdas de estabilidade locais dos perfis, principalmente nas fixações nas mesas
entre caibros e vigas, e não atinjam situações limites nas verificações das
ligações aparafusadas.

Figura 6 - Cobertura de residência com Figura 7 - Conexão de elementos de


tesouras tesoura com chapas de Gusset

Figura 8 - Tesoura montada com perfis


aparafusados pelas almas

Soluções estruturais
A solução mais comum nas coberturas de residências e pequenos galpões são
as treliças inclinadas, geralmente conhecidas como tesouras. Dependendo das
condições do projeto, as tesouras podem possuir diversas conformações para
atender às ações e às flechas pertinentes a cada projeto.

As tesouras possuem a vantagem de serem capazes de vencer grandes vãos


sem apoios intermediários, com grande economia de material. As tesouras de
steel frame têm substituído as de madeira pela rapidez de instalação,
regularidade dimensional, resistência e leveza dos elementos estruturais, além
de serem imunes aos ataques de insetos e fungos.

As tesouras podem ter várias formas treliçadas que são adotadas pelo
projetista, levando-se em consideração fatores estéticos, estruturais, culturais,
de disponibilidade de materiais e mão-de-obra, entre outros.

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As tesouras podem ser do tipo Howe, Pratt, Fink, N, N invertido, K etc.


As tesouras em steel frame podem ser tanto pré-fabricadas e transportadas
prontas quanto serem montadas no local da obra. As tesouras pré-fabricadas,
estimulando a racionalização da obra que o sistema oferece, possuem a
vantagem de ter maior precisão dimensional e implicam menor tempo de
trabalho no canteiro. Em contrapartida, as tesouras fabricadas "in loco" podem
necessitar de grande espaço para montagem e pessoal especializado na obra
para esse tipo de fabricação.

A tesoura é uma estrutura estável aos esforços verticais se esses forem


introduzidos nos nós. Assim, as barras só estão sujeitas a esforços axiais, uma
vez que a tesoura (treliça) é concebida com nós articulados.

No sistema steel frame, as tesouras possuem seus elementos estruturais em


perfis Ue e, basicamente, são constituídas pelo: banzo superior (que possui a
inclinação do plano da cobertura definida pelo projetista em função dos fatores
já mencionados); banzo inferior (que geralmente é horizontal e pode permitir a
sustentação do forro); montantes (que são os elementos estruturais da tesoura
instalados na posição vertical ligados nas extremidades aos banzos); o
montante central (que recebe o nome de pendural) e diagonais (que são os
elementos inclinados em relação aos montantes e vinculam-se aos banzos
superior e inferior). Nas tesouras em steel frame introduzem-se, ainda, os
enrijecedores de apoio, para auxiliar na transmissão dos esforços e impedir a
flambagem local dos banzos.

Um modo comum de executar as ligações dos perfis da tesoura é fazê-las no


mesmo plano, aparafusando-os numa chapa Gusset que, construtivamente,
permite que os eixos dos perfis coincidam no ponto que representa o nó. Outra
maneira de efetuar uma ligação é unir as diagonais e montantes aos banzos,
aparafusando-os pelas almas, deixando assim a abertura da seção dos banzos
para um lado, e as das diagonais e montantes abertas para o lado oposto.

Os beirais perpendiculares às tesouras são normalmente constituídos pelo


prolongamento dos banzos superiores além do apoio mais baixo (geralmente o
painel estrutural), gerando o beiral do telhado. As bordas desse banzo superior
são arrematadas com um perfil U que funciona como sanefa. O painel de
fechamento do oitão, para fechamento de telhados de duas águas, segue a
necessidade geométrica estabelecida pela inclinação do telhado e o
prolongamento do beiral. No oitão, utilizam-se perfis Ue como ripas e
prolongam-se o tanto permitido pelo cálculo estrutural para a formação do
beiral. Esse beiral sobre o oitão também pode ser construído, quando há
necessidade de maior projeção, com um painel semelhante ao das paredes
instalado inclinado.

Telhados com quatro águas ou com interseção de planos inclinados podem ser
construídos de vigas e caibros, painéis ou com tesouras auxiliares. No caso de
vigas e caibros, seguem-se as considerações feitas anteriormente para esse
tipo de estruturação. Para o caso de uso de painéis, a interseção dos planos
inclinados se faz com espigões compostos por perfis U e Ue. No caso de utilizar
a tesoura para concepção do telhado de quatro águas, deve-se formar uma
sequência de tesouras auxiliares com alturas diferentes tais que sugiram a
conformação das águas do telhado, respeitando as inclinações necessárias,

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apoios de terças, cumeeiras e outros elementos que compõem esse tipo de


cobertura.

Figura 10 - Telhado de quatro águas


com composição de caibros

Figura 9 - Beiral executado com o


prolongamento do banzo superior das
tesouras

Figura 11 - Telhado de quatro águas


com tesouras auxiliares

Travamento e contraventamento
Cada tesoura, individualmente, é instável lateralmente, por isso é necessário
introduzir travamentos e contraventamentos de maneira a formar um conjunto
rígido. O contraventamento inadequado da cobertura pode causar várias
patologias à estrutura, podendo levá-la ao colapso. Se bem dimensionado e
executado, o contraventamento assegura a estabilidade da estrutura durante a
sua montagem e uso na sua vida útil. Aliás, o contraventamento interfere não
só no comportamento da estrutura como também nos elementos estruturais
secundários, telhas, apoios, forros e instalações sustentadas pela cobertura.

O contraventamento deve atuar de maneira que as tesouras do telhado


trabalhem como uma estrutura única e possibilite resistir e absorver as
solicitações aplicadas às estruturas dentro dos limites estabelecidos por norma,
tanto para os esforços como para as deformações.

Para garantir a estabilidade do conjunto no plano do banzo inferior das


tesouras, dimensiona-se um contraventamento com fitas metálicas
galvanizadas diagonais. Esse contraventamento tem a função de impedir o
deslocamento das tesouras e é também importante para manter o alinhamento
desejado entre as paredes da edificação.

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Inicialmente, as tesouras de telhado são concebidas como estruturas (treliças)


planas sujeitas a ações. Portanto, não possuem rigidez suficiente para resistir a
pequenos esforços ou perturbações que gerem deslocamentos laterais que
originem efeitos de segunda ordem.

O contraventamento lateral é composto por perfis U e Ue que são fixados a


tesouras paralelas e podem auxiliar também na resistência dos banzos, pois,
coerentemente instalados, podem diminuir o comprimento de flambagem das
barras, servindo também na transmissão de esforços, especialmente aqueles
gerados pela ação do vento.

A instalação dos contraventamentos é para também absorver os efeitos de


torção que a estrutura como um todo pode observar a partir de ações como
vento, variações de temperatura entre outras e gradientes de esforços entre
estruturas e subestruturas.

Antonio Wanderley Terni, professor-doutor do Departamento de Engenharia Civil da Unesp


do Campus de Guaratingüetá-SP, terni@feg.unesp.br

Alexandre Kokke Santiago, arquiteto, mestre em Engenharia Civil, Construção Metálica Ufop
(Universidade Federal de Ouro Preto), alexandrekokke@gmail.com

José Pianheri, engenheiro civil, consultor, sócio-diretor da Pienge Engenharia e Construção


Ltda, pienge.engenheria@uol.com.br

LEIA MAIS
*No total foram cinco artigos, encerrando-se nesta edição com o item cobertura. Os demais
artigos que compõem esta série sobre construções de steel frame foram publicados nas
edições:

Téchne 135 (fundações) Téchne 139 (fechamento)

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Téchne 137 (estrutura) Téchne 141 (instalações)

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