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. EPP 20 ‘ * Leoncio Camino (coordenador) : Salvador Antonio Mireles Sandoval Joselé Bastos da Costa a Lidio de Souza 7 Cicero Pereira * Celso Zonta Louise Lhullier ‘Ana Raquel Torres Helerina Aparecida Novo : 7 Cornelis Johannes van Stralen Marco Aurélio Maximo Prado 0, radicalizada, leva a extremos. Porum lado, como aconteceu na América Latina, nas décadas de 70 ¢ 80, as opges politicas dos psicélogos podem ser colocadas com extrema relevncia em detrimento dos aspectos objetivos do conhecimento cientifico. Por outro lado, como vem acontecendo na psicotogia politica norte-ameri- cana, os conhecimentos da psicologia, que se consideram abjetivos ¢ livres de valores so aplicados acriticamente a0s fendmenos politicos. No primeiro caso, corre-se o risco de “politizar a psicologia”, ou seja de transforma-la em puro instrumento da luta politica; é no segundo caso, “psicologiza-se”a politica, ao substituir as dimensdes politicas, por conceitos e variaveis psicolégicas consideradas como universais e totalmente descontexualizadas das circunstancias histéricas ¢ politicas. De fato, desde sua origem em 1989, 0 GTCP procura sintetizar as duas perspectivas considerando a Psicologia Politica como o estudo dos aspectos subjetivos dos fenémenos politicos, entendendo sempre que seus conceitos fazem parte, de alguma maneira da arena politica. © Grupo, dando um paso a mais na sua proposta de desenvolver esta area no Brasil, pretende fechar, no VIII Simpésio, um Manual de Psicologia Politica no qual seus membros ja vem trabalhando. Nol Simpésio da ANPEPP, em 1989, decidiu-se incentivar a constituigo de grupos de trabalho, constituidos por pesquisadores de diversas instituigées, reunidos em tomo de temas especificos. Assim no Il Simpdsio de Pesquisa e Intercémbio Cientifico, realizado em Gramado, em 1989, reuniram-se um razoavel numero de pesquisadores na érea de Psicologia Social que constituiram 0 Grupo de Trabalho “Psicologia dos Movimentos Sociais”. - ‘No encontro, o Grupo de trabalho procurou delimitar o mais claramente possivel o tema, movimento social, ¢ elaborou um levantamentos das diversas questées cientificas que poderiam ser dirigidas ao tema, Considerou-se, nesse encontro, que os movimentos sociais constituem-se por agdes coletivas contextualizadas, dirigidas a obter 216 C9OCOOHOHHCHOHOOHHOCOOOOEO* 0000000 OSS OHOHHOHSHHHHHHHHHOOHOOHHHOOOOOHOOO Os ‘Wl Simpssi Brasileiro de Pesquisa ntercamtio Cientca mudangas nas relagdes de poder na sociedade. Por se tratarem de fendmenos essencialmente dindmicos ¢ temporais, ‘0s movimentas sociais levantam, no seu estudo, ura série de problemas metodolégicos. Apesar das dificuldades constatou-se que esses estudos t8m grande relevancia para o desenvolvimento da Psicologia no Brasil, tanto pela perspectiva te6rica, aberta com a anilise de conceitos fundamentais, como o da identidade social, quanto pela relevancia social do tema. Para entender-se este iltimo aspecto deve-se lembrar que nas duas iiltimas décadas, viveu-se 0 que foi denominado como “Crise da Psicologia Social”. Nao se pretende analisar aqui as carateristicas ¢ causas dessa crise. Seré suficiente para os objetivos desta apresentagdo assinalar, brevemente, que crescia em toda América Latina, um forte descontentamento em relagao a falta dé relevancia da Psicologia Social tradicional. Apontava-se igualmente, & necessidade de se construir uma Psicologia em consonancia‘com a problemética social (MONTERO, 1984; MARTIN-BARO, 1983). estudo dos movimentos sociais parecia uma via promisséria para este objetivo. ‘Osmembros do grupo de Trabalho em “Psicologia dos Movimentos Sociais” reuniram-se pela segunda vez no Ill Simmpésio de Pesquisa e Intercambio Cientifico, realizado em Aguas de Sao Pedro, SP, em 1990, onde estudaram diversas formas de ago coletiva: greves, invasdes urbana, movimentos sociais, linchamentos etc. Neste encontro, decidiram estabelecer um intercmbio regular de informagdes e continuar com o grupo 'de trabalho no IV Simpésio Nacional da ANPEPP. ‘ Entretanto, o refluxo dos movimentos sociais nesse periodo e, as dificuldades tedricas ¢ metodologicas enicontradas na anélise psicolégica dos fendmenos sécio-culturais associados a politica dos organizadores do IV ‘Simpésio de incentivar a formacd0 dos grupos de trabalho em tomo ndo de topicos de estudo mas, de politicas educacionais ou de pesquisas, dificultaram 0 desenvolvimento deste Grupo de Trabalho, constituido com tanto entusiasmo. De fato no IV Simposio de Pesquisa e Intercéimbio Cientifico, realizado em Brasilia, DF,em 1992, néo foram formalizadas rcunides do Grupo de Trabalho “Psicologia dos Movimentos Sociais”, ¢ boa-parte dos participantes desse Grupo integrou-se ao grupo “Pesquisa Interdisciplinar”. Mésmo assim a necessidade de adotar a perspectiva das relagdes de poder no estudos dos fendmenos sociais tornou-se evidente. A anilise da temética desse grupo, mostra claramente que entre’ os problemas bésicos no estudos dos fendmenos sociais e culturais, encontra-se a necessidade de definir claramente arelagdo entre individuo e sociedade. Sandoval, Camino outros, consideraram que para se éstabelecér uma articulagdo entre aspectos subjetivos [psicolégicos] e aspectos estruturais (sociolégicos), deve-se levar em conta que.a intcragao entre esses dois niveis é ‘um fenémeno de “mio dupla”. Num dirego, os processos subjetivos sio in‘luenciados pelas formas concretas que adotam as formagies sociais. Na diregao oposta, as formagdes sociais so construidas dinamicamente pelo corijunto de representagdes © agdes dos individuos que as constituem: Qualquer articulago psicossociolégica deveria, portanto, considerar a natureza dialética dos processos de influéncia social. Assim sendo, niopdes como Identidade Social, Influéncia Social e Representagdes Sociais so essenciais no desenvolvimento desta perspéctiva. ‘Apés essa experiéncia, os membros que participaram do grupo “A°Pesquisa Interdisciplinar” decidiram retomar os objetivos propostos em 1989, reconstituindo, no V Simpésio, o grupo “Psicologia Politica e Movimentos Sociais”. A mudanga de nome, incluindo o termo “Psicologia Politica”, tiaduz dois fatos: primeiro, que’a tematica do grupo, acompanhando a conjuntura politica, ampliava-se naturalmente, incluindo além dos movimentos sociais, as agdes politica mais insttucionais, Segundo, que cdmegava a surgir, na consciéncia dos membros desse grupo a necessidade de desenvolver a area da Psicologia politica'como um todo, : De fato, os anos 90, caracterizando-se pelos aspectos institucionais da ttansigao democratica, instigou os ‘membros deste grupo’ analisar a maneira como os cidados participam desse proceso e como sé apropriam das diversas nogGes politicas que circulam num sistema democratico. Assim, durante o V Simpésio, SANDOVAL (1994) analisou os contextos de micromobilizagao que impulsionam os processos de conscientizagao no espago cotidiano. E na interagao entre consciéncia ¢ experiéncias quotidianas que surgem os processos de solidariedade grupal ¢ de mobilizagao para agdes coletivas. LHULLIER (1994) mostroua relagdo negativa entre niveis de atitude favoravel 20 autoritarismo e niveis de participagao politica em estudantes universitarios, Finalmente CAMINO (1994) observou que a formagio politica dos estudantes das universidades federais passa-tanto pela participago nas suas organizagdes, como pela inclusdo nas atividades decisérias das universidades. 27 ‘ANPEPP- 2000, O conjunto desses trabalhos mostrou a necessidade de estudar a participagao das pessoas nas érganizagoes da Sociedade Civil a fim de entender 0 processo de socializagao politica, na medida em que eles constrem, nessa participagio, tanto um sistema grupal de valores e normas como'as representagdes sociais sobre si mesmios. (identidade Social e seus grupos. Para o VI Simpésio, o Grupo decidiu debater o tema “O papel da Partcipagdo Social na Socializagao Politica”. O grupo resolveu também, neste V Simpésio, transcender o espago de intercambio dado pela ANPPEP € estabelecer outras maneiras de consolidar a cooperagao cientifica e académica que comegava a se estabelecer entre ‘0s membros do Gupo. Diversas formas de cooperacao foram pensadas. Assim, decidiu-se reforgar as formas normais de cooperacio cientifica e académicas existentes no Brasil: convites a bancas, propostas de participacZo conjunta ‘em Mesas Redondas ¢ Simpésios nos diversos Congressos etc. Constituiu-se, desse modo, uma rede pequena, mais ‘ou menos informal, de Psicélogos Politicos: Mas outras formas mais institucionais foram também contempladas. Assim a constatago conjunta que tinha-se realizado durante o V Simpésio de que a Socializagao Politica nao se limita a um processo individual e de que os individuos, na medida em que mantém relages uns com os outros, de cooperagdo e/ou de conflito, esto ativamente construindo um determinado sistema politico, deu origem @ um projeto de pesquisa, de carter nacional, que teve como. tema geral: “Os valores e a formago democratica dos. universitérios do Brasil”, e foi coordenado pelos professores Leoncio Camino da UFPb, Louise Lhullier da UFSC e Salvador Sandoval da PUC/SP. Esse projeto objetivou analisar a influéncia dos sistemas axioldgicos de estudantes. universitérios no desenvolvimento de atitudes, crengas e comportamentos politicos, principalmente das atitudes frente a democracia ¢ teve como resultado uma razoavel produgao cientifica: dissertagBes ¢ teses, participacdo em congressos e elaboragio de artigos que se encontram ainda no prelo. Decidiu-se também reativar os Semindrios Nacionais sobre Comportamento Politico, que tinham sido idos em 1989, em Floriariépolis, pelo Centro de Filosofia e Ciéncias Humanas da UFSC. Com a diregao da Professora L. Lhullier, de professores da UFSC ¢ de alguns membros da GTCP da ANPEPP organizou-se o 12 (em. 1995) € 0 III® (em 1997) Seminérios Nacionais sobre Comportamento Politico. No III? Seminério fundou-se a Associagdo Nacional de Estudos em Comportamento Politico (ANAPOL), em cuja diretoria fazem parte os Professores Lulhier (Diretora), Sandoval e Camino. Os trabalhos do III? Seminario Nacional sobre Comportamento Politico foram publicados em 1997 no Livro “Estudos do Comportamento Politico: Teoria e Pesquisa”, organizado pelos Professores Camino; Lhullier e Sandoval e editado em Floriandpolis pela editora Letras Contemporaneas. Parao VI®Simpésio de Intercémbio Cientifico da ANPEPP o Grupo de Estudo em Psicologia Politica propés- se debater 0 tema “O Papel da Participagao Social na Socializagao Politica” e avaliar 0 desenvolvimerito do projeto de pesquisa sobre “Os valores e a formagdo democritica dos universitirios do Brasil”. Durante o encontro, cada participante apresentou os trabalhos que ver desenvolvendo sobre o campo da socializagao politica, na perspectiva da influéneia da participacao social na apropriagao de idéias atitudes politicas. Esses trabalhos foram publicados no niimero 13 do 1* Volume de Coletaneas da ANPEPP em Setembro de 1996 (Camino e Menandro, 1996). No debate realizado durante o VI! Simpésio constatou-se que, no Brasil, apesar dos grupos que se dedicam ao ‘estudo da Psicologia Politica estarem realizando virias iniciativas em comum, no se tinha desenvolvido, ainda, um referencial tedrico geral que permitisse um intercmbio cientifico mais aprofundado. Com esse objetivo decidiu-se retomar durante 0 VII Simpésio de Pesquisa e Intercdmbio Cientifico em 1998, os temas de psicologia politica que estavam sendo objeto de estudono Brasil, a fim de iniciara claborago, em um certo sentido, do estado da arte dadrca de Psicologia Politica no pais e de esclarecer as perspectivas utilizadas pelos diversos pesquisadores, Os temas debatidos foram: Fundamentos psicossociolégicos da politica, Representagées Sécias da Politica ¢ Valores ¢ Politica. Apés toda esta experiéncia aparece claramente que 0 GTCP néo pretende limitar-se a ser um espago de comunicagdes coordenadas em psicologia politica, atividade propria de congressos cientificos, mas deseja converter-se, realmente, num férum que tanto facilite o interc4mbio cientifico quanto ajude a expansio do ensino e pesquisa na area da psicologia politica. Apesar de sua importncia, a Psicologia Politica limita-se a ser um campo de pesquisa nos programas de pés-graduacdo. No campo da pés-graduagdo o grupo de trabalho tem sido bastante influente pois tem facilitado uma forte expansio no s6 quantitativa mas qualitativa também. Se no inicio dos anos 218 CODDDDNDCDDVDDCNO CODD GO ACNNC COO COO ONOOC ONO OCON OC OCON ONO ( il Sipésio Brasilia de esq ntercdio Cision 90 0 Grupo de Trabalho em Comportamento Politico limitava-se praticamente a trés programas de Pés-graduagio (UFSC, PUCISP ¢ UFPb) aos poucos foi incorporando pesquisadores de outras universidades (UFES ¢ UNESP). No VIII Simpésio deveremos contar tambéni com novos menibros dos segilintes programas de pés-graduagao: UFMG, UCGo e PUCIRS. |. Pretende-se no VIII Simpésio de Pesquisa e Intercdmbio Cientifico realizar o debate final de um projeto que vem sendo levado pelos membros do grupo: a.elaborago de um Manual de Psicologia Politica. O contetido do manual seré o objeto de nossos debates. Cada membro do grupo esti preparando um capitulo que devera aprescntar aos membros do grupo um més antes do Simpésio, Durante o Simpésio se procurard dar, na medida do possivel, uma ccerta unidade ao manual Violéncia; direitos humanos e psicolagia ~ : Helerina Aparecida Novo Universidade Federal do Espirito Santo ‘Nos iiltimos anos, vimos trabalhando com a temética da violéncia no ambito das contribuigdes que a Psicologia Social pode trazer para sua maior compreensdo. Nossa preocupagao tem sido refletir sobre os processos de construgio de realidade social e suas repercussdes para uma politica de respeito aos direitos humanos no pais. ‘Nesse sentido, buscamos analisar algumas das determinagOes que atravessam os diferentes olhares — representagdes © ages — que encontramos nos diversos universos sociais, frente a um amplo conjunto de fenémenos que, na sociedade brasileira, sio colocados sob a categoria “‘violéncia” Dentro da linha de pesquisa “Processos psicossociais da comunicago, participagdo e exclusio” do Programa de Pés-Graduagio em Psicologia da Universidade Federai do Espirito Santo, alguns trabalhos vém sendo desenvolvidos a partir desta preocupagao, cespecificamente tentando focalizar a questo no Espirito Santo. Algumas particularidades deste estado, em func0 de sua historia s6cio-politica e cultural, tém projetado o ES, no cenétio nacional, como uma regio de acentuada violéncia, seja no meio urbano, seja no rural. Entretanto, entendemos que se faz necessdrio circunstanciar os diferentes fenémenos abrigados sob o rétulo “violéncia”. Para tanto, devemos buscar, numa 6tica multidisciplinar, ndlises aprofundadas que pontuem, de forma menos generalizante e superficial, os conflitos e suas formas de resolugao, a partir das determinagdes concretas presentes naquele universo social. Observamos que a banalizagao. da violéncia tem possibilitado a legitimagao de algumas formas de ago violenta, dé acordo com os parimetros de justica existentes ¢ a percepeao que as pessoas tém dela, Neste territorio'do.imaginério social, encontramos um campo emocional ¢ valorativo que sustenta-as diferentes formas de lidar com as situagdes ‘de conflito (Novo, 1996). Uma das vertentes de analise tem se voltado para a dimensdo das representagdes, crengas ¢ valores de diferentes extratos sécio-econdmicos sobre a violéncia, tendo como referéncia as suas experiéncias, ditetas oun indiretas, com as situagdes consideradas violentas (Novo, 1998), assim como sobre 0 uso e 0 usuario de-drogas ilicitas (Novo, 1999). Nao desconhecendo, nem negando, as bases materiais ¢ concretas do sentimento de inseguranga que atravessa todos os extratos sociais, é necessério entender que este semtimento expressa angastias nascidas na vida cotidiana dos individuos, em func das dimensdes subjetivas de sua experiéncia e das formas de lidar consigo, com os outros e com o mundo em geral. A discussdo que pretendemos fazer, nesse momento, ésobie a percepcao da presenga dos jovens (entre 13/14 e 24 anos) comio atores (vitimas ou agressores), principalmente, da violéncia criminosa, entre os diversos setores que, direta ou indiretamente, estejam implicados em agdes a eles dirigidas (conselhos tutelares, professores, policiais, promotores e juizes), bem como dos préprios jovens, como referéncia para uma anilise das medidas implementadas pelo Governo ¢ sociedade civil, no ambito da" defesa e promogao dos direitos humanos. ag ‘Mure 2000 Psicologia Politica: era uma vez..uma histéria Louise Lhullier Universidade Federal de Santa Catarina Onde comega a histéria da Psicologia Politica? Como toda histéria, seu inicio é determinado pelo narrador: “Era uma vez...". A Psicologia Politica j4 tem uma “hist6ria oficial”, referendada institucionalmente, reproduzida nas publicagdes mais conhecidas da rea, Nessa versio, Lasswell 60 seu “pai”. Assim atestam, por exemplo, tanto 0 Handbook of Political Psychology organizado por Knutson (1973), quanto a International Society of Political Psychology. Ambos, 0 livro ¢ a sociedade cientifica, representaram papéis dos mais relevantes na conquista de uma identidade, visibilidade social ¢ presenga institucional para. disciplina, Nesse sentido, a década de 70 é um marco, a partir do qual pode-se dizer que a ela passou a ter espaco préprio nos circulos académicos ecientificos, em geral. No entanto, uma leitura critica dessa historia oficial revela a sua parcialidade. Trata-se, sobretudo, de uma histéria da Psicologia da Politica, para usara expresso cunhada por Sabucedo Cameselle (1996) ao referir-se a uma vertente de pensamento psicopolitico acritica, que considera a psicalogia e a politica como duas entidades separadas ¢ coloca como objetivo da Psicologia Politica a aplicagao do conhecimenta psicolégico na compreensio dos fendmenos politicos. Essa perspectiva, fundamentada no suposto da neutralidade cientifica e de um fazer cientifico isento de ‘valores, é apenas uma parte da histéria dessa disciplina, desenvolveu-se, sobretudo, entre os norte-americanos. Uma ‘outra histéria esté sendo escrita, principalmente, na Europa e na América Latina. A de uma Psicologia Politica ctitica, atenta aos problemas sociais ¢ as dimensGes politicas eéticas desses problemas. A histéria que me proponhoa escrever inclui a trajetéria desta psicologia e 2 meméria de grandes nomes “esquecidos” pela histdria oficil, tais. ‘como os de Reich, Max Horkheimer e Adomo. Identidade social e comportamento politico . - Ana Raquel Torres ; Universidade Catblica de Goiés — UCG Desde 0s primeiros estudos de LeBon sobre multid&es, passando pelas andlises de Allport sobre o preconceito, & inegével a centralidade dos fenémenos sécio-politicos, enquanto categorias de analise, para nés, psicslogos sociais. Por outro lado, raramente essa importancia tem sido explicitada, uma vez que tanto o interesse quanto as metodologias ‘empregadas no estudo de tais fenémenos poderiam significar, para muitos estudiosos, que 2 psicologia social néo seria imparcial. Um dos primeiros psicélogos sociais modemnos a assumir essa pretensa parciatidade foi Henti Tajfel ‘com sua teoria da Identidade Social (1972;1978; Tajfel & Tumer, 1986). Contudo, também é verdade que ele nunca abandonou o rigor e 0 cuidado cientifico, razao pela qual, passados mais de trinta anos ¢ depois de intineras revises (Hinkle & Brown, 1990; Brown et al,, 1992; Brown & Torres, 1996; Torres et al, 1999) sua teoria ainda Se constitui uma das principais perspectivas para 0 entendimento dos fendmenos politicos. Nosso principal objetivo neste trabalho ¢ articular a Teoria da Identidade Social com a andlise do comportamento politico, aqui definido de forma bastante ampla, indo desde a participagdo em agdescoletivas até as escolhas eleitorais. Este trabalho esté organizado em trés segdes. Primeiramente, ¢ apresentada a revisio sobre os estiidos do comportamento politico realizados no Brasil nos tltimos dez anos, ressaltando aqui os trabalhos sobre identificagdo-simpatia partidiria (Camino, Torres e da Costa, 1995; Torres et al., 1990; Torres, 1992). Em seguida, so apresentados os trabalhos que tém como perspectivaa Teoria da Identidade Social e suas correlatas mais importantes para o entendimento do comportamento politico: a Teoria da Privagao Relativa (Runciman, 1966) ¢ a Teoria da Auto-Categorizagio (Tumer et al.,1989). 0 capitulo termina com a apresentagio de um conjunto de pesquisas que vém sendo desenvolvidas na Universidade Catélica de Goias que analisam os fendmenos politicos a partir da teoria da identidade Social. 220 SOCHOHHSHSHOHSHSHSHSHHSHSHSHHSSHHHHHSHHHSHSHHHOHSHHHHHHHEHEOCO* Sinpdsio Braise de Pesquisa lntecantio Cintiten Psicologia politica e participagao social * Celso Zonta i UNESP - Bauru ‘A produgdo vigorosa da Psicologia Politica nos tempos atuais, faz-nos crer na possibilidade deste campo de estudos interfaciar com outras areas da Psicologia, ¢ acreditamos que o interface com a Psicologia Comunitaria roduziria métua retroalimentago em ambas as disciplinas. Quando falamos da Psicologia Comunitéria ligada aos movimentos sociais, tais como movimentos de bairro, sindicais, movimento dos sem terra etc., é fundamental que tenhamos como referéncia conteiidos como socializagao e participagdo politica, movimentos sociais ¢ os fendmenos ‘de massa, 0s conflitos sociais, o poder ¢ 0s sistemas politicos, a ideologia politica, lideranga e representatividade ete. Estes conteiidos tem sido trabalhados pela Psicologia Politica. Propomos discutir uma forma especifica de se fazer Psicologia Comunitiria articulada com a Psicologia Politica, que é oda ago direta na Comunidade, onde se explicita um compromisso ¢ ago junto aos movimentos populares, que expressam necessidades e reivindicagées tanto de cardter de consumo, como luta por saneamento bisico, escola, creche, como as de defesa da explorago, como lutas por.diminuigio dos: impostos (imposto progressivo), orgamento popular etc. O divércio entre a Psicologi Comunitiria ¢ a psicologia politica que se observa com grande freqléncia em nossos meios produz uma situagio paradoxal a partir da qual enquanto uma estabelece um claro compromisso com a pritica, outra compromete-se em buscar na realidade elementos para a sua construgdo tedrica, 0 que torna ambas as disciplinas, empobrecidas. Olhar ambas as disciplinas numa perspectiva integradora é tarefa necesséria para.a construgdo de uma Psicologia sécio- historica que envolve desde os fendmenos subjetivos até os de massa, de maneira intrinsecamente ligados. Um modelo analitico da consciéncia politica para compreensao da participagao nas agdes coletivas : Salvador Antonio Mireles Sandoval Pomiificia Universidade Catélica de Sao Paulo Neste periodo de transformagdes neo-liberais toma-se imperativo que se tenha um conhecimento mais sistematizado dos processos que contribuem a desmobilizacdo de aqueles setores prejudicados pelas reformas neo- ais. Apos a decada de 80s quando a sociedade brasileira foi marcada por ondas de agdes coletivas de contestagdo, notamos que nos anos 90s, o aspecto marcante é justamente a desmobilizagao mais generalizada nos centros urbanos. Com a execp¢do dos movimentos agrarios que vem adquirindo mais forga.e presenca no cenario politico nacional e regional, seus contrapartidas na cidade, os movimentos populares e siridicais, tem demonstrado. um refluxo notavel na capacidade de mobilizar a populagzo na defesa de seus interesses frente o avango das politicas neo-liberais. Frente ao fendmeno da desmobiliza¢ao, notamos também um esgotamento das teorias macro-sociais (sociolégicas) para explicar essa inverso na capacidade de agir coletivamente e o emergéncia de um conjunto de te6ricos como propostas explicativas baseadas em nogdes psico-sociolégicas: Alberto Mellucci, Christophe Dejour, Doug McAdams, Alain Touraine, Bert Klandermans e William Gamson. Frenté a esta situagdo Vimos anecessidade teorizar sobre das dimensdes do fendmeno: conscientizagao e participagao. Esse teorizar levou a elaboragao de um modelo analitico do processo de conscientizagio e participacio politica tendo como objetivo localizar os principais ‘elementos psicossociais que influenciam em tornando as pessoas predispostas ao engajamento politico. O modelo teria como objetivo apontar aqueles elementos da subjetividade que provavelmente fazem parte ages individuais e coletivas, Enquanto 0 modelo de conscientizagao politica tem como finalidade apoiar a pesquisa psicossocial, também teria a utilidade de orientar as praticas de intervengdo em comunidades com a finalidade de incentivar as 2 ANPEPP 2000 predisposig&es a participar em mobilizagdes coletivas dos grupos reinvindicativos. Qualquer modelo de conscientizagao politica tambem tem‘que ser apto para compreender o atual processo de desmobilizagio se nto 0 modelo dejaria de ser parsimonio na sua aplicabilidade ao fendmeno da participaco politica. Por tanto o grande desafio em conceitualizar um modelo de consciencitizagao é em elaboré-lo tanto para tomar compreensivel a participagdo como também a ndo-participacao, Neste respeito, a tarefa de formular o modelo teve como dois pontos de referéncia simultaneos: os fendmenos de mobilizagdo coletiva e de desmobilizagao. O estudo do comportamento eleitoral numa perspectiva psicassocioligica Leoncio Camino Universidade Federal da Paraiba A maioria dos estudos psicol6gicos sobre o processo eleitoral tem-se centrado no estudo dos fatores que levam oeleitor a votar. Esta abordagem justifica-se tanto pelas concep¢des politicas que deram origem ao voto como pela abordagem individualista empregada pela psicologia. De fato, a propriedade mais marcante do voto na democracia representativa é a de ser um ato individual. O liberalismo pretende promover, pelo voto, a liberdade do individuo frente a0 Estado mas sua desconfianga frente 4s massas (Le Bon, 1895) o leva a criar condigées para que aescoiha cleitoral se faga em isolamento, pois decisdes de assembléia nao representariam os verdadeiros interesses dos participantes. A partir desta visdo liberal, o voto foi estudado como um ato essencialmente individual determinado tanto pelas caracteristicas psicolégicas dos individuos como por fatores sociais que agem sobre estes. A escola de Chicago, por exemplo, enfatizou a influéncia de fatores sociais como classe social, religido e residéncia no voto, sustentando que as pessoas pensam politicamente de acordo com o que elas so socialmente. Em oposigao, 0 grupo de Michigan, relacionou 0 voto com a subjetividade do eleitor, através da identificacio partidaria, atitude que influenciaria a interpretagio destes do contexto politico. Perspectivas posteriores, como a da “cultura politica” ea abordagem racional, embora procurassem integrar os dois tipos de fatores, continuaram a manter esta dicotomia: de uum lado, 0 individuo e os fatores psicolégicos que o afetam, ¢ de outro lado a sociedade e os fatores sociais que a determinam. Cada modelo enfatiza um pélo da realidade social. A abordagem psicossociolégica pressupde-se que a escolha eleitoral constitui um processo coletivo e multideterminado onde interagem diversos fatores psicolégicos € sociol6gicos. Neste sentido a perspectiva psicossociolégica nao dissocia os individuos das alternativas politicas, as quais devem ser ou nao confirmadas pelo voto, mas coloca os individuos e as alternativas politicas como pélos deum proceso interativo complexo que pode ser abordado a partir de diversos niveis de anélise. Conclui-se este trabalho apresentado um modelo do comportamento eleitoral elaborado a partir destas idéias. Democracia e valores humanos: um estudo do significado da democracia Joseli Bastos da Costa Universidade Federal da Paraiba Os valores humanos podem ser entendidos como estruturas de conhecimento socialmente elaboradas que constituem-se em repertérios de orientagdo para os sujeitos em fungao do contexto cultural e das suas pertengas € identidedes grupais. Valores so elementos de um sistema simb6lico compartilhado que expressam de modo sintético os contetidos ideoldgicos dos conflitos que constituem este sistema, Democracia hoje pode ser considerada como um Valor e faz-se necessério estabelecer os contetidos que iro atribuir significado a este valor. Para tanto deve-se investigar as visdes sociais — representagdes - da Democracia, expressas através da organizagao e configuragao dos atributos ¢ caracteristicas que, da perspectiva dos sujeitos, a definem e relaciond-las com um 22 SOCHOHOHSHOHSHOHSSHSSHHHSHHSSHHSHHHHHHHHHHHHHHHHOHHHCOO* Wl Simpssio Brasileira de Fesquisa e lnterciatio Ciatiten conjiinto.de crengas sobre como, deve organizar-se a vida social para, desse modo, estabelecer quais 0s contetidos & significados dessas visbes sociais de Democracia, No plano da representagao mental, a Democracia estrutura-se em dimensBes expressas através de prinejpios, metas ou estratégias para a organizagio da vida social. Democracia deve entdo ser. estudada:como uma representagao cognitiva do mundo social, uma visio social do mundo resultante de sistemas. de-erengas-basicas acérca' da vida social e das.relagdes entre os homens na esfera piblica, uma visio relativamente estruturada que integra os diversos aspectos da vida politica de uma sociedade e constitui-se num dos. condicionantes -do .comportamento politico dos individuos. Este estudo tem como objetivos investigar os significados atribuidos ao,conceito de Democracia e as formas como as pessoas estruturam estes significados, as ‘quais chamamos de visBes de Democracia, bem como analisar quais os conteiidos destas visdes de Democracia e ‘quais suas implicagdes para o comportamento politico das pessoas. Para tanto pretende-se, a partir de hierarquias de significados atribuidos a Democracia, analisar as dimensdes que organizam estas hierarquias, relacionando-as com sistemas de crengas sobre como, deve organizar-se a vida social e com algumas crencas ¢ atitudes politicas, qe Violéncia, politica e justiga: o caso das policias interativas Lidio de Souza Universidade Federal do Espirito Santo No Brasil a utilizagao de yiolénéia para a solugdo dos mais diferentes tipos de conflitos ¢ histérica, contra- iando frontalmente as idéias asSocjadas a0 mito da ndo-violéncia do brasileiro. A solugdiomediada pelasinstituigdes. de justiga ¢ seguranca é evitada em parte considerdvel dos casos. Isso decorre de miltiplos fatores: do excesso ¢ ngrosidade nos tramites buroerdticos; do tratamento discriminatsrio dirigido a determinados segmentos sociais; do alto grau de autonomia que as agdes informais fornecem aos envolvidos; e ainda da possibilidade dos envolvidos esquivarem-se de punigbes, permanecendo na impunidade. Este tltimo-talvez seja 0 maior atrativo das solugdes informais, Embora a violéncia, em suas miiltiplas formas, tenha estado sempre presente em nossa vida social, nas

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