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FUNDAMENTOS DO DESIGN

AULA 1

Profª Shirlei Miranda Camargo


CONVERSA INICIAL

Nesta disciplina você terá contato com os principais conceitos,


nomenclaturas e características, além de uma visão da situação atual do design
no mundo e no Brasil.
Alguns desses conteúdos você verá de maneira mais aprofundada em
outras disciplinas. Por isso, o nosso foco aqui é fornecer para você uma ideia
geral sobre o design, uma espécie de “menu degustação”.
Especificamente nesta aula, vamos definir o que é o design, conhecer
também um pouco de sua história e saber o que fazem os diferentes tipos de
designers.

CONTEXTUALIZANDO

O design é uma atividade social. Isso porque os designers raramente


trabalham sozinhos, isolados. Sempre estão respondendo a clientes,
instituições, colaboradores, publicitários etc. Enquanto seu trabalho é exposto
publicamente, muitas vezes eles permanecem anônimos (Armstrong, 2009).
Isso quer dizer que, obviamente, tirando os grandes nomes do design, a
maioria dos designers permanecem praticamente anônimos. No entanto, as suas
obras não. Estão ao nosso redor, nos acompanhando, nos ajudando, nos
divertindo o tempo todo. Duvida?
Olhe em volta nesse momento. Praticamente tudo que você vê foi
pensado por um designer: o seu smartphone ou computador; o sofá ou banco de
ônibus em que você está sentando; o tênis que você está calçando; até esta aula
que você está lendo tem o trabalho de um designer, que escolheu as cores, as
fontes das letras, a capa etc.
São praticamente infinitos os produtos/serviços que um designer pode
criar. Viu como você fez uma boa escolha ao optar por esse curso? O design é
um campo muito diversificado e em franca expansão.
Antes de qualquer coisa, apesar de parecer meio óbvio, vamos “começar
pelo começo”. Você realmente sabe o que é design?

TEMA 1 – O QUE É DESIGN?

Caro aluno, você precisa ter muito claro em sua mente o que é design.
Afirmamos isso porque muitas pessoas confundem dois termos que são
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relacionados, mas que têm significados completamente diferentes. Observe o
anúncio da Figura 1.

Figura 1 – Uso incorreto do termo design e designer em anúncio

Fonte: Adaptado de WCinco, 2019.

Observe a frase: “Parabéns design gráfico”. Ela está errada! Na verdade,


o nome correto do profissional não é “design”, mas sim “designer”, assim como
outros tipos de profissionais que têm a origem de seu nome no inglês e
geralmente terminam com as letras “-er”: personal trainER, personal shoppER,
personal organizER etc.
Portanto, por exemplo, nunca fale:

• Adoro o designer daquele carro.


• Estou estudando designer na faculdade.

Mas sim:

• Adoro o design daquele carro.


• Estou estudando design na faculdade.

Uma explicação para essa confusão é que o termo “design” foi importado
para o Brasil há relativamente pouco tempo, na década de 1960 (Cardoso, 2008).
Com a confusão desfeita, vamos conhecer um pouquinho mais sobre a origem
dessa palavra.
Geralmente, no senso comum, quando alguém fala que algo tem design
(e não faz a confusão mencionada anteriormente), a pessoa quer dizer que se

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trata de algo bonito, atraente, moderno. No entanto, como Borges (2002) alerta,
design é muito mais que isso:

Não é uma maquiagem superficial, nem um enfeite que se acrescenta


quando o produto está pronto, o chantilly ou a cereja em cima do bolo.
Design tem a ver com o bolo todo: a farinha que será usada, o jeito de
juntar e mexer os ingredientes, o tempo e a temperatura do forno, o
sabor, quantos e quais recheios serão usados, e como ele será
montado e decorado ao final. É, portanto, um processo de concepção
integral dos produtos.

Complementando, Cardoso (2008, p. 1) ensina que “design refere-se à


concepção e à elaboração de projetos”.
Esse mesmo autor ainda afirma que, apesar de ser uma palavra inglesa,
sua origem está no latim designare, palavra que resulta em outras duas palavras:
“desenhar” e “designar”. Veja que interessante: o trabalho do designer é
justamente representar conceitos por meio de algum código de expressão visual
(desenhar) e de conjugar processos capazes de dar forma a estruturas e
relações (designar) (Cardoso, 2008).
Como comentado anteriormente, pelo fato de essa palavra ser
“importada”, obviamente tentaram traduzi-la para “desenho” aqui no Brasil, mas
agora que você já conhece o conceito de design, perceba que não é uma
tradução correta. Tanto é que, no espanhol, existem palavras diferentes para os
profissionais dessa área: dibujador para “ilustrador” e diseñador para “designer”.
Segundo o dicionário Oxford, a palavra design foi utilizada pela primeira
vez no ano de 1588. O termo era definido como um plano desenvolvido pelo ser
humano ou um esquema que podia ser utilizado; o primeiro projeto gráfico de
uma obra de arte; ou um objeto das artes aplicadas ou que seria útil para a
construção de outras obras (Bürdek, 2010).
Atualmente, Hsuan-an (2018) define design como “uma atividade
profissional que envolve toda a criação e o desenvolvimento de produtos a fim
de atender às necessidades da população em favor de uma vida melhor e mais
prazerosa”. Ou seja, o design sempre é ligado a algo útil.
Sabendo bem agora o que é design, você já percebe que ele realmente
está em todos os lugares? Que ele nos “persegue”? Como diria Bürdek (2010):
“A vida das pessoas não é mais imaginável sem o design”.

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TEMA 2 – BREVE HISTÓRIA DO DESIGN

Nesta aula vamos ter uma “pincelada” sobre a história do design, apenas
para você ir se ambientando, já que esse assunto será abordado também em
outras disciplinas.
Leia a frase a seguir: “Toda construção deve obedecer a três categorias:
a solidez, a utilidade e a beleza”. Você sabe de quem é essa frase? De que ano
ela é? É uma frase muito coerente, que pode ser relacionada ao design e bem
atual, certo? Certo em partes, pois essa afirmação, por incrível que pareça, foi
feita por Vitruvius, que viveu entre 80-10 a.C., ou seja, há mais de dois mil anos!
Ele era um engenheiro/construtor que escreveu os primeiros e mais
completos trabalhos sobre regras do projeto e da construção de que se têm
notícia. O nome de sua obra é Dez livros sobre a arte da construção.
Portanto, apesar de não ser sobre design, esse livro traz os fundamentos
do funcionalismo, que veio a ressurgir pelas “mãos” do design apenas no século
XX (Bürdek, 2010). Isso demonstra que o ser humano sempre se preocupou em
fazer coisas úteis, mas bonitas também.
Porém, o design como conhecemos hoje deu seus primeiros passos
somente na Revolução Industrial, na metade do século XIX.

Vídeo
Se você não sabe ou não se lembra bem do que se tratou essa Revolução
que mudou o mundo, assista ao vídeo a seguir. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=Y1S7_OD9Viw>.

Contudo, para entender melhor o surgimento do design propriamente dito,


vamos dar alguns “passos” para trás, até a Revolução Industrial. Na época do
movimento renascentista (movimento cultural surgido na Itália no século XIV que
enfatizava o antropocentrismo, ou seja, a valorização do ser humano), havia uma
diferenciação muito clara entre arte e artesanato (assunto que também veremos
com mais detalhes em breve).
Para os renascentistas, o artista era um intelectual, ao contrário do
artesão, que era visto com certo desprezo. Porém, esse pensamento foi muito
criticado anos depois pela arte moderna (outro movimento cultural que começou
no final do século XIX). Nessa época, na Inglaterra, teóricos e artistas se
reuniram e fundaram um movimento chamado de arts and crafts (“artes e
ofícios”).
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Com a liderança de John Ruskin e William Morris, eles enfatizavam a
importância do trabalho artesanal diante da mecanização industrial e da
produção em massa que a Revolução Industrial havia trazido. Eles produziam
tecidos tingidos e estampados à mão, móveis, livros etc. Inclusive os padrões de
Morris para papéis de parede são muito conhecidos e comercializados até hoje
(Figura 2) (Enciclopédia Itaú, 2019).

Figura 2 – Padrão de papel de parede de William Morris

Crédito: Natata/Shutterstock.

Mais tarde, surgiu outro movimento: a art nouveau (“arte nova”) que se
caracterizava pelas formas orgânicas (observadas na natureza), femininas e
ricas em detalhes. Esse movimento se desenvolveu entre 1890 e 1918 e, apesar
de valorizar também os trabalhos manuais, utilizava-se da indústria ao fazer uso
dos novos materiais que a Revolução Industrial trouxe, como ferro, vidro e
cimento.
Ou seja, ela integrou arte, lógica industrial e sociedade de massas, indo
contra os princípios básicos da produção em série em uma época em que se
pregava o uso de materiais baratos e com design inferior. A arquitetura, os
móveis, os objetos e as ilustrações foram altamente influenciados por esse
movimento, como você pode ver na Figura 3, que apresenta um objeto de vidro
de Émile Gallé. O objetivo dos artistas e designers dessa época era colocar a
beleza ao alcance de todos.

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Figura 3 – Vaso em vidro

Crédito: Jules2000/Shutterstock.

Outro evento que marcou o design foi o surgimento da escola Bauhaus,


na Alemanha, em 1919, que teve como um dos seus principais nomes Walter
Gropius. Esse movimento fortaleceu a ligação entre arte e indústria. A principal
ideia tida pela Bauhaus era de que a forma artística deveria se originar na
solução de algum problema, reforçando o pensamento de que forma e função
devem “andar” juntos. Esse movimento também influenciou vários produtos,
como mobiliários, tapeçarias, luminárias etc.
Nomes como Marcel Breuer e Michael Thonet se destacaram e suas
criações se tornaram clássicos utilizados até os dias de hoje. Por exemplo, a
cadeira conhecida como modelo 214, criada por Thonet, em 1859, foi a primeira
cadeira produzida em massa, e, devido ao seu design simples e funcional,
continua na moda (Figura 4).

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Figura 4 – Cadeira modelo 214, criada por Michael Thonet (1859)

Crédito: Dr. Norbert Lange/Shutterstock.

Outro exemplo é a cadeira Wassily (Figura 5), desenvolvida em 1925 por


Marcel Breuer, que se tornou um ícone do design e é comercializada até hoje.

Figura 5 – Cadeira Wassily, de Marcel Breuer (1925)

Crédito: CC/DP.

Enfim, como dito no início deste tema, você verá com mais profundidade
a história do design em outras disciplinas; portanto, a ideia aqui era apresentar
um panorama geral.

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TEMA 3 – DESIGN DE PRODUTOS E DESIGN DE INTERIORES

Como vimos no tema anterior, os movimentos que originaram o design


eram amplos e acabavam por influenciar as concepções de móveis, objetos,
ilustrações e arquitetura de sua época. O mesmo continuou acontecendo nos
dias de hoje. Charlotte e Perter Fiell (1999, p. 6, grifo nosso) comentam sobre
essa “amplitude” do design ao defini-lo como “[...] a concepção e planejamento
de todos os produtos feito pelo homem [...]”.
Se pensarmos em todos os produtos, percebemos que existe uma
infinidade de áreas que criam produtos. Tal fato acaba por tornar o campo do
design cada vez mais fracionado em muitas especialidades ditadas pelo
mercado: design de produtos, de interiores, gráfico, editorial, de animação e de
games, entre muitos outros.
Neste tema, vamos abordar o design de produto e o design de interiores.

3.1 Design de produtos

Segundo Gomes Filho (2006), o design de produto é a especialidade que


se preocupa em conceber, elaborar, desenvolver e fabricar um produto de
configuração física geralmente tridimensional.

Figura 6 – Design de produto

Crédito: RAWPIXEL.COM/Shutterstock.

Como você pode imaginar, existe uma enormidade de desdobramentos,


como mostra o Quadro 1, em que na primeira coluna vemos o termo original em
inglês e na segunda seu equivalente aqui no Brasil.

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Quadro 1 – Especialidades/áreas de atuação do Design de produto

Contexto Equivalência aproximada Contexto nacional


internacional
Industrial Design Design industrial
Object Design Design de objeto
Public Design Design de equipamento urbano
Furniture Design Design de mobiliário
Automobile Design Design automobilístico
Computer Design Design de computador
Hardware Design Design de máquinas e equipamentos Design de produto
Packaging Design Design de embalagem
Food Design Design de alimento
Jewelery Design Design de joias
Sound Design Design de sistemas de som
Lighting Design Design de sistemas de iluminação
Textile Design Design têxtil
Fonte: Gomes Filho, 2006 p. 14.

No entanto, podem-se agrupar essas especialidades em quatro grandes


grupos:

1. Produtos de uso (veículos, utensílios domésticos, eletrônicos, calçados,


joias, embalagens etc.);
2. Máquinas e equipamentos em geral (instrumentos, dispositivos,
maquinário etc.);
3. Produtos de componentes de ambiente em geral (produtos que compõem
postos de trabalhos, posto de atividades etc.);
4. Artigos do lar (cortinas, tapetes, roupas de cama etc.; possui grande
interface com o design têxtil).

Realmente, a área de design de produtos é enorme. Tem para todos os


gostos. E você, já se identificou com alguma? Não tenha pressa, pois agora
vamos aprender um pouco sobre o design de interiores.

3.2 Design de interiores

Gomes Filho (2006, p. 21) define design de interiores, chamado também


de design de ambientes, como: “especialidade ou área de atuação que envolve
a concepção de ambientes em geral: planejamento, organização, decoração e
especificação de produtos (mobiliário, equipamentos, obras de arte e objetos em
geral)”.
Portanto é uma área que se preocupa com o layout espacial, ou seja, a
distribuição de elementos em espaços, privados ou públicos, como residências,

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comércios, indústrias, áreas de lazer, automóveis, navios etc. (Gomes Filho,
2006).
O design de interiores é tão antigo quanto a própria humanidade. Os
antigos egípcios, mesmo os mais simples, já decoravam suas cabanas com
mobiliário e enfeitavam as paredes com pinturas, esculturas e vasos. Os mais
ricos usavam ornamentos de ouro luxuosos, demonstrando ostentação, domínio
e poder sobre a demais população do antigo Império Egípcio (Portal Educação,
2019).
Como você deve ter percebido ao aprender o conceito de design de
interiores, este acaba se sobrepondo a outras profissões, tanto é que muitas
vezes é confundido com decoração ou arquitetura.
O decorador é o profissional cuja função restringe-se à escolha de
acessórios, móveis ou cores sem alterar fisicamente a obra. Por sua vez, o
designer de interiores, além de poder fazer o trabalho do decorador, tem a função
de distribuir adequadamente objetos em espaços internos seguindo normas
técnicas de ergonomia, acústica, térmica e luminotécnica. Porém, não podem
realizar qualquer alteração estrutural do ambiente, o que é atribuição do
arquiteto ou engenheiro civil (Rizzo, 2013).
Finalizando, atualmente vemos uma popularização do design de
ambientes por dois motivos: o avanço da tecnologia, que trouxe um
barateamento do preço dos materiais e também a automatização da fabricação
de móveis. Ou seja, o design de interiores não está reservado somente para
classes mais altas, pois ele está cada vez mais acessível (Portal Educação,
2019). Assim sendo, é um campo que está a “todo vapor” e que oferece muitas
oportunidades.

TEMA 4 – DESIGN GRÁFICO E DESIGN DE EDITORIAL

Agora vamos abordar mais dois diferentes tipos de design: design gráfico
e design editorial. Você os conhece? Sabe a diferença?

4.1 Design gráfico

A palavra “gráfico” vem do grego graphein, que significa “escrever”,


“descrever”, “desenhar”, e está ligada a outras palavras como grafar, grafismo,
grafite, grafologia. Seu uso também está relacionado à tipografia, que surgiu com

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a invenção da prensa para imprimir com tipos móveis, no século XV. Assim
sendo, o termo gráfico é associado a vários processos de impressão, como
gravura em madeira, metal, litografia, serigrafia, offset, entre outros métodos
(Cardoso, 2008).

Saiba mais
Você conhece a história do surgimento da prensa móvel? Até ela ser
inventada, o Oriente era muito mais avançado que o Ocidente. Contudo, depois
da criação de Gutemberg, que foi seu inventor, isso mudou. Assista ao vídeo e
conheça essa incrível história. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=qz_pQpG056I>.

De acordo com Gomes Filho (2006, p. 21), design gráfico é uma


especialidade do design que envolve a concepção, elaboração, desenvolvimento
do projeto e execução de sistemas visuais de configuração formal (física ou
virtual) geralmente bidimensional. Ou ainda, é uma área de atuação que tem por
objetivo criar produtos visuais para resolução de problemas de comunicação que
podem envolver tanto aspectos práticos como simbólicos. Para isso, trabalha-se
tanto com elementos verbais como não verbais, que são veiculados em materiais
impressos ou suportes digitais (Mazzarotto, 2018).
No entanto, muitas pessoas confundem design gráfico com publicidade –
e com razão – porque são áreas que se relacionam fortemente e acabam por se
sobrepor. Contudo, existe uma divisão teórica: a publicidade planeja a
mensagem, o conteúdo, as estratégias de comunicação. Já o designer gráfico
dá forma visual a essa mensagem, utilizando cores, composições, tipografia. Se
uma única pessoa – seja ela designer, seja publicitária – cria um anúncio, ela
está fazendo os papéis das duas áreas, o que é bem comum (Mazzarotto, 2018).
Resumidamente, design gráfico é o conjunto de atividades voltadas para
a criação e a produção de objetos de comunicação visual impressos ou virtuais.
O designer gráfico realiza essas atividades utilizando um suporte (papel ou
espaço virtual), a tipografia (o visual das letras, números, caracteres) e os
elementos visuais (imagens, traços, sombras, cores). As principais atividades
desse designer são planejar, diagramar e ilustrar (Cardoso, 2008).
O site Guia da Carreira (2019) traz alguns exemplos das atividades de um
designer gráfico:

a. Criação e produção de animações para o meio digital;

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b. Criação de logotipos, marcas e embalagens;
c. Definição da aparência e formato de páginas de jornais e revistas (cores,
formatos, tamanhos e tipos de letras e de papel);
d. Criação visual de sites, blogs, banners para a internet;
e. Planejamento e desenvolvimento de anúncios, panfletos, cartazes e
vinhetas para a TV.

Contudo, como já foi comentando, o mercado foi “pedindo” que algumas


atividades realizadas por designers fossem se tornando mais especializadas, e
assim surgiram outras subáreas, como design de animação e design editorial,
que vamos abordar na sequência.

4.2 Design editorial

Apfelbaum e Cezzar (2014) ensinam que design editorial é uma disciplina


do design de comunicação (conhecido também por design de comunicação
visual ou design gráfico) (Gomes Filho, 2006).

Figura 7 – Design editorial

Crédito: emka74/Shutterstock.

Logo, ele é uma especialidade do design gráfico que realiza o projeto


visual de uma edição (edição = planejamento de textos e imagens que compõem
uma publicação) (Anderson, 2017). No entanto, apesar de ser “um braço” do
design gráfico, é o setor que mais emprega os designers (Design your way,
2019). Isso porque se trata de um campo interessante que combina composições
inteligentes, layout e tipografia criativa resultando em uma solução harmoniosa
(Design your way , 2019).
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Os produtos realizados por um designer editorial são publicações
periódicas como livros, revistas, jornais, agendas, cadernos, inclusive e-books
(Anderson, 2017; Gomes Filho, 2006). Ou seja, o designer editorial, atualmente,
não trabalha apenas com o “papel”. Logo, criar revistas, livros e jornais que serão
veiculados tanto no papel como na tela de celulares e computadores está se
tornando um grande desafio (Design your way, 2019). Isso leva os designers de
editorial a se aprimorarem e entenderem de outras tecnologias e conhecimentos
(por exemplo, design de experiência) (Gomes Filho, 2006).

Figura 8 – Design editorial

Crédito: ESTUDIO MAIA/Shutterstock.

Além disso, o designer de editorial precisa ter um bom relacionamento


interpessoal, pois é um profissional que se relacionará com fotógrafos,
jornalistas, redatores, ilustradores, além de manter contato com gráficas e
setores de acabamento (Anderson, 2017).
Enfim, o designer de editorial desempenha um papel muito importante na
forma como a informação é compartilhada, apresentada e compreendida.
Especialmente, dada a última função, essa área pode realmente trazer alguma
mudança importante à sociedade (Design your way , 2019).

TEMA 5 – DESIGN DE ANIMAÇÃO E DE GAMES

Agora, vamos falar dos “irmãos mais novos” do design: design de


animação e de games, especialidades atuais e em alta no mercado.

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5.1 Design de animação

De acordo com Mogadouro (2013), animar significa “dar alma”. Logo,


fazer uma animação é dar vida a algo, no caso um desenho, que não tem vida
própria. O desenho de animação, portanto, é marcado pelo movimento: na
representação de deslocamentos, ações, coreografias, com a função de
demonstrar ideias, emoções (Wells; Quinn; Mills, 2012).
Apesar de atualmente ser vinculada à tecnologia, a animação é bem mais
antiga do que parece. Já na época das cavernas, os homens pré-históricos
faziam seus desenhos estáticos parecerem estar em movimento ao desenhar
animais com patas a mais, dando a sensação de que eles estavam correndo
(Mogadouro, 2013), como você pode observar na Figura 9 feita na caverna de
Altamira, na Espanha, um importante sítio arqueológico.

Figura 9 – Pintura rupestre

Crédito: NSP-RF/ Alamy/ Fotoarena.

Porém, foi após o desenvolvimento da ótica e do surgimento da fotografia


e do cinema que as primeiras técnicas de animação surgiram no final do século
XIX (Mogadouro, 2013).
Nos dias de hoje, o designer de animação é aquele que planeja e cria
animações fazendo uso de técnicas tanto 2D (bidimensional) como 3D
(tridimensional), além do stop motion (disposição em sequência de fotos
diferentes de algo inanimado para simular movimento). É um profissional que

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desenvolve produtos para diferentes finalidades e aplicações como cinema,
televisão, publicidade, games e até ensino (Matias, 2017).
No cinema, ele vai fazer curtas e longas metragens; na TV, criar vinhetas
e aberturas de programas; na publicidade, elaborar comercias, e na educação,
realizar animações para cursos de educação à distância, por exemplo (Matias,
2017).
No Brasil, o cenário para designers de animação tem sido promissor. Isso
porque as animações brasileiras têm feito sucesso, logo, o número desse tipo de
produção vem aumentando nas últimas duas décadas (Saga, 2018).
O primeiro longa-metragem totalmente animado no computador aqui no
Brasil, em 1996, foi Cassiopeia; desde então, a animação brasileira vem
acumulando conquistas. Por exemplo, a animação O menino e o mundo escrito
e dirigido por Alê Abreu, além de ter sido premiado no Festival de Annecy,
principal evento de animações do mundo, foi também indicado ao Oscar no ano
2016 como melhor animação (Saga, 2018).

Vídeo
Você já assistiu O menino e o mundo? Veja este trailer e, caso goste, você
vai encontrar facilmente a versão completa na internet. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=6lFP8FVUwK8>.

5.2 Design de games

O mercado de games no Brasil é promissor também. O faturamento dos


jogos virtuais no país (considerando só video games e computadores) deverá
subir de R$ 2,2 bilhões, em 2017, para R$ 3,2 bilhões em 2022, com uma taxa
média de crescimento de 8,9% ao ano (Marques, 2018).
Obviamente, esse mercado em expansão necessita de uma série de
profissionais. Um desses profissionais é o designer de games, que é a pessoa
que vai criar, planejar e desenvolver jogos em diferentes plataformas:
computador, tablet, smartphone e video game (Rocha, 2019).
Ou seja, como Salem, Tekinbaş e Zimmerman (2004) já ensinavam, um
designer de game é um tipo específico de designer, muito parecido com outros
tipos de designer, como o gráfico ou industrial, porém, não se trata de um
programador ou gerente de projeto, apesar de muitas vezes assumir esses
papéis na criação de um game. Seu foco é projetar o jogo, criando regras e

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estruturas que resultarão em uma experiência para os jogadores. Enfim, um
game designer não cria tecnologia, ele cria experiências.
Complementando, Arruda (2014) afirma que design de games é o
processo de construção e elaboração de jogos, ou seja, é decidir como um jogo
vai ser. Isso envolve uma série de decisões: qual é a história do jogo, as
personagens, as regras, as plataformas em que o jogo vai rodar, entre outras.
Portanto, para “dar conta do recado”, é preciso criatividade, capacidade de
inovação, organização e conhecimento da área.
Além disso, como Fullerton (2014) afirma, tornar-se um game designer é
um processo vitalício, que nunca termina, pois é uma área altamente tecnológica
e que está em constante mudança, obrigando o profissional a estar
continuamente se atualizando.
Assim sendo, como alerta Arruda (2014) citando Chandler (2012), ser
jogador é essencial para saber o que é bom é o que não é; o que dá certo ou
não; mas é necessário também ter um grande domínio da área.
Então, se você é um ótimo jogador e quer ser um designer de games, já
está um passo à frente. No entanto, só isso não é suficiente. Você vai precisar
estudar e estar sempre atualizado, mas pode ter certeza que isso compensa.

Vídeo
Assista a esta reportagem sobre o mercado de games no Brasil para ter
uma ideia da dimensão desse mercado. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=C43rBRkBDDw>.

TROCANDO IDEIAS

Nesta aula vimos um grande número de especialidades do design: gráfico,


de interiores, de games, animação, editorial. No entanto, existem muitas outras.
Vamos pesquisar? Quais outras você encontrou? Qual delas lhe causou mais
estranheza?

NA PRÁTICA

Aprendemos neste encontro que existem profissionais atuando em


diversas especialidades do design. Mas como será que é ser um designer?
Quais os pontos negativos e positivos? Leia o artigo “No dia do Design,
profissional conta as dificuldades da profissão”, de Wellington Márcio de Lima,

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disponível no link a seguir, faça uma reflexão e depois escreva, com base nesse
texto e em sua opinião, os pontos positivos e negativos de ser um designer.
Disponível em: <http://www.douranews.com.br/dourados/item/68974-no-dia-do-
design-profissio
nal-conta-as-dificuldades-da-profiss%C3%A3o>.

FINALIZANDO

Então, gostou desta aula? Aprendeu coisas novas? Apostamos que você
não sabia que os homens das cavernas já tentavam fazer animação em suas
pinturas rupestres ou que cadeiras com um design de mais de 90 anos ainda
fazem sucesso.
Esperamos também que, além da evolução histórica do design, você
tenha entendido bem o conceito de design e percebido que ele é muito mais
amplo que apenas “um produto bonito”. Portanto, ser designer envolve resolver
problemas, planejar, projetar. Além disso, você descobriu que existe um mundo
de possibilidades para um designer trabalhar: em gráficas, fábricas, escritórios,
cinema etc. Enfim, a ideia era abrir um “portal” para você dar uma “espiadinha”
e conhecer esse mundo maravilhoso do design.

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REFERÊNCIAS

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definição oficial de design gráfico ao longo dos anos. Projetica, v. 8, n. 2, p. 83-
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