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O dano social como instrumento à


sustentabilidade da sociedade de consumo

Social damage as an instrument to the


sustainability of the consumer society
BR
Ana Luiza Colzani
Doutoranda e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI (CAPES – Conceito 5), com bolsa do Programa de Suporte à
AS
Pós-Graduação de Instituições de Ensino Particulares – PROSUP-CAPES. Mestre em Derecho Ambiental
y de la Sostenibilidad pela Universidad de Alicante, Espanha. Bacharel em Direito pela Universidade do
Vale do Itajaí – UNIVALI (2014). Graduada em Publicidade e Propaganda pela Universidade do Vale do
Itajaí – UNIVALI (2009). Advogada. lucolzani@gmail.com
ILC

Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza


Doutora e Mestre em Derecho Ambiental y de la Sostenibilidad pela Universidade de Alicante, Espanha.
Mestre em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. Graduada em Direito pela
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. Professora permanente no programa de pós-graduação
ON

stricto sensu em Ciência Jurídica, nos cursos de doutorado e mestrado em Direito e na graduação no
curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. Autora e Coordenadora de 40 obras na
área de Direito Ambiental e Sustentabilidade, tendo, ainda, publicado 110 artigos científicos em livros e
revistas especializadas no Brasil e no exterior. Coordenadora do Grupo de Pesquisa e Extensão Paidéia
cadastrado no CNPq. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Direito Ambiental, Transnacionalidade e
Sustentabilidade cadastrado no CNPq/EDATS/UNIVALI. Coordenadora do projeto de pesquisa aprovado
no CNPq intitulado Possibilidades e limites da avaliação ambiental estratégica no brasil e impacto
na gestão ambiental portuária (2013/2015). Coordenadora do projeto de pesquisa aprovado pelo
Edital MCTI/CNPq/UNIVERSAL 14/2014, intitulado Análise comparada dos limites e das possibilidades
da avaliação ambiental estratégica e sua efetivação com vistas a contribuir para uma melhor gestão
ambiental da atividade portuária no Brasil e na Espanha (2015/2017). Coordenadora do projeto de
pesquisa aprovado pela FAPESC – EDITAL 09/2015 intitulado Limites e possibilidades da avaliação
ambiental estratégica e sua efetivação com vistas a contribuir para uma melhor gestão ambiental
da atividade portuária catarinense (2016/2018). Membro vitalício da Cadeira n. 11 da Academia
Catarinense de Letras Jurídicas (ACALEJ). Membro efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros
(IAB). Membro da Comissão de Direito Ambiental do IAB (2016/2018). Advogada. Consultora jurídica.
mclaudia@univali.br

Recebido em: 27.07.2018


Pareceres em: 01.08.2018 e 06.08.2018

Colzani, Ana Luiza; Souza, Maria Cláudia da Silva Antunes de. O dano social
como instrumento à sustentabilidade da sociedade de consumo.
Revista de Direito do Consumidor. vol. 119. ano 27. p. 107-128. São Paulo: Ed. RT, set.-out. 2018.
108 Revista de Direito do Consumidor 2018 • RDC 119

Áreas do Direito: Civil; Consumidor; Ambiental

Resumo: O presente trabalho versa sobre o dano Abstract: This paper deals with social damage as
social enquanto instrumento à sustentabilidade an instrument for the sustainability of the consu-
da sociedade de consumo ao separar os funda- mer society by separating the criteria of moral da-
mentos do dano moral, enquanto ressarcitório, mages in compensatory, punitive and pedagogical
punitivo e pedagógico – com finalidade de ree- damages. With the purpose of rebalancing the dif-
quilibrar o difícil dilema do enriquecimento ilícito ficult dilemma of illicit enrichment versus non –
versus indenização não exemplar, a fim de que o exemplary indemnity, so that each has its own
primeiro tenha destinatário próprio: a própria so- recipient, separately: society or the injured indi-
ciedade lesada. Por meio de um relato de resulta- vidual. Through a report of results composed on
dos composto na base lógica-indutiva, divide-se a the basis of logic-inductive, the research is divided
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pesquisa em três partes, para além da introdução: into three parts, besides the introduction: in the
na primeira, trata-se da face punitiva do dano first, the punitive aspect of moral damage and the
moral e os “novos danos”; na segunda busca-se “new damages” are framed; in the second, it seeks
delimitar uma nova perspectiva para o dano so- to delimit a new perspective for social damage;
AS
cial; e finalmente, na terceira parte, enquadra-se o and finally, in the third part, the social damage is
dano social como instrumento à sustentabilidade included as an instrument for the sustainability
da sociedade de consumo. Encerra-se com as con- of the consumer society. It closes with the final
siderações finais que contemplam as dificuldades considerations that contemplate the difficulties
encontradas para a prática do pensar coletivo nas found for the practice of collective thinking in the
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ferramentas judiciais já disponíveis. judicial tools already available.


Palavras-chave: Dano social – Consumidor – Tu- Keywords: Social damages – Consumer – Diffuse
telas difusas – Dano punitivo – Sustentabilidade. guardianships – Punitive damages – Sustainability.
ON

Sumário: 1. Introdução. 2. A face punitiva do dano moral e os “novos danos”. 2.1. Novos danos.
3. O dano social: uma nova perspectiva. 4. O dano social como instrumento à sustentabilidade
da sociedade de consumo. 5. Considerações finais. 6. Referências bibliográficas.

1. Introdução
O presente trabalho tem como objeto de estudo o dano social enquanto ins-
trumento à sustentabilidade da sociedade de consumo. Parte-se da premissa de
que apenas com a transição do individualismo para o pensar coletivo, refletida
na tutela de direitos e da ampla reparação, é que as relações de consumo se tor-
nariam sustentáveis.
Nesse sentido, a indenização por dano moral, em âmbito jurisdicional bra-
sileiro, tem clara natureza pedagógica e punitiva, sendo esta última, muitas ve-
zes, seu objetivo maior: servir de desestímulo para a repetição da conduta. Visa,
portanto, não só aplacar a dor, o sofrimento e a angústia, mas tem, em si, além

Colzani, Ana Luiza; Souza, Maria Cláudia da Silva Antunes de. O dano social
como instrumento à sustentabilidade da sociedade de consumo.
Revista de Direito do Consumidor. vol. 119. ano 27. p. 107-128. São Paulo: Ed. RT, set.-out. 2018.
Sustentabilidade, Consumo Sustentável e Transgênicos 127

enriquecimento ilícito versus indenização não exemplar, a fim de que o primeiro


tenha destinatário próprio: a própria sociedade lesada.
Há inúmeros casos figurando bancos, companhias telefônicas, varejistas, pla-
nos de saúde, entre outros, com incríveis números que justificam a relevância de
uma reforma do atual modelo de reparação de danos, no qual a sociedade civil
tenha ativa participação, para que, enfim, sejam efetivados os direitos previstos
ao consumidor e torne a sociedade de consumo sustentável.
Para auxiliar na construção de doutrina capaz de possibilitar o Magistrado
brasileiro a dissociar o caráter punitivo do ressarcitório do dano, para que o va-
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lor do primeiro seja destinado à sociedade e apenas o segundo ao indivíduo, é
necessário que o Código de Defesa do Consumidor seja interpretado no viés
social que exige a Constituição da República Federal do Brasil, e com isso afastar
o enriquecimento injusto, mas garantir uma sociedade de consumo sustentável.
AS

6. Referências bibliográficas
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ILC

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Pesquisas do Editorial

Veja também Doutrina


• Apuntes sobre la gestión ambiental: comercio y mercado en Cuba, de Alcides Francisco
Antúnez Sánchez – RDC 117/161-200 (DTR\2018\15885);
• Consumo sustentável: limites e possibilidades das práticas de consumo no contexto na-
cional, de Adalberto de Souza Pasqualotto e Paola Mondardo Sartori – RDA 85/191-216
(DTR\2017\529); e
• Macrorrelação ambiental de consumo - a responsabilidade pós-consumo e o princípio da
reparação integral, de Paulo Valério Dal Pai Moraes – RDA 69/139-190 (DTR\2013\1851).

Colzani, Ana Luiza; Souza, Maria Cláudia da Silva Antunes de. O dano social
como instrumento à sustentabilidade da sociedade de consumo.
Revista de Direito do Consumidor. vol. 119. ano 27. p. 107-128. São Paulo: Ed. RT, set.-out. 2018.

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