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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO / IEE115: ECONOMIA /

1ºSemestre de 2022
Curso de Graduação em Ciências Sociais
Aluno: João Gabriel de Castro Neves Sousa Lucas
DRE:121122981
E-mail: joaogabrieldecnslucas@gmail.com

1- A partir das aulas e do texto de John Locke Carta sobre a Tolerância, exponha e
explique os motivos pelos quais o autor considera que as crenças religiosas não
devam fazer da força do Estado (1 pt).

John Locke (1632-1704), enquanto filósofo, estadista e cristão reformado, sentiu-se na


obrigação de comentar, em sua “Carta Sobre a Tolerância, sobre a questão da
tolerância religiosa, tendo em vista como o Estado devia se comportar diante desta
questão. Antes de tudo, ele começa distinguindo a sua função, daquela própria à
religião. Enquanto o Estado tem como dever salvaguardar os bens civis, isto é, em sua
perspectiva, “a vida, a liberdade, a saúde física e a libertação da dor, e a posse de coisas
externas”, (p.11), tendo autoridade para punir todo aquele que os ameaçam, a religião
se propõe à salvação das almas. Tendo isso em vista, começa, então, a argumentar em
defesa da tolerância, expondo três motivos pelos quais não cabe ao Estado impor ou
inibir qualquer religião. “Em primeiro lugar”, diz ele,

“não cabe ao magistrado civil o cuidado das almas, nem tampouco a quaisquer
outros homens. Isso não lhe foi outorgado por Deus, porque não parece que Deus
jamais tenha delegado autoridade a um homem sobre outro para induzir outros
homens a aceitar sua religião”( p.11)

Locke era um conhecido adversário da ideia do direito divino dos réis , afirmando que
todo homem nasce num estado de natureza, que consiste em estar livre de toda e
qualquer autoridade, se não a lei natural que o impele a conservar sua própria vida e a
comunidade em que vive. A isso, ele une a argumentação racional, que muito se parece
com a tese protestante da Sola Fidei, propondo que “é a fé que dá força e eficácia à
verdadeira religião que leva à salvação. ” (p 11)

Em segundo lugar, a tarefa da Salvação não pode pertencer ao Estado, pois seu poder
é puramente coercitivo, enquanto a verdadeira prática religiosa é manifesta pela
persuasão do espírito. Como o próprio Locke diz:

Afirmo, pois, que o poder civil não deve prescrever artigos de fé, ou doutrinas, ou
formas de cultuar Deus, pela lei civil. Porque, não lhes sendo' vinculadas quaisquer
penalidades, a força das leis desaparece; mas, se as penalidades são aplicáveis,
obviamente são fúteis e inadequadas para convencer o espírito. Se alguém deseja
adotar certa doutrina ou forma de culto para a salvação de sua alma, deve acreditar
firmemente que a doutrina é verdadeira, e que aforma de culto será agradável e
aceitável por Deus. As penalidades, porém, não são de modo algum capazes de
produzir tal crença. O esclarecimento é necessário para mudar as opiniões dos
homens, e o esclarecimento de modo algum pode advir do sofrimento corpóreo.
(p.11)

Em terceiro lugar, não deve o Estado se preocupar em ditar uma religião ao seu povo,
uma vez que, se houvesse apenas uma única religião verdadeira, poucos seriam os
salvos, já que muitos estariam submetidos aos ditames de um príncipe que muito bem
pode impor-lhes outra que não essa, acarretando assim em sua danação. Isto,
“salientaria o absurdo e a inadequada noção de Deus, pois os homens deveriam sua
felicidade eterna ou miséria simplesmente ao acidente de seu nascimento.” (p.12).

Assim fica claro por que meios argumentativos Locke atesta que “todo o direito e o
domínio do poder Civil se limitam unicamente a fiscalizar e melhorar esses bens civis,
e que não deve e não pode ser de modo algum estendido à salvação das almas” (p.12),
defendendo uma separação entre o Estado e a religião, possuindo cada um a sua função.

2- Tomando como base as aulas e o texto de John Locke Segundo Tratado sobre o
Governo explique os fundamentos da propriedade e qual a finalidade do pacto. (1.0)

Alguns dos grandes filósofos políticos modernos destacam-se por serem agrupados no
termo “contratualistas”. Embora de diferentes épocas, locais e correntes filosóficas,
esses, discutiram sobre qual o fundamento do contrato social (daí o nome do termo) de
onde a sociedade civil se baseia. Também há em comum entre eles, a ideia de um
estado de natureza do homem, isto é, o estado em que o homem se encontra antes do
pacto civil e de onde ele deriva. Dentre eles encontramos John Locke, filósofo do
empirismo inglês setecentista, que baseou sua teoria na concepção de que todo homem
nasce livre e igual. Dessa condição nasce a lei natural, fundada na razão, de que todo
homem tem o dever de preservar a vida, a liberdade e a propriedade, própria e alheia,
que são de direito natural do homem. A partir disso, pode dizer que, o estado de
natureza consistia em não estar sob a coerção de nenhuma outra moral que não a essa
lei natural. Mas, duas dúvidas precisam ainda ser respondidas: porque a propriedade é
um bem de direito natural ao homem? E como então surge o contrato social?

Primeiro, já que todos os homens estão livres e em igualdade entre si, todos podem
usufruir das benesses que a natureza os propõe. No entanto, a partir do momento em
que um recurso natural recebe ação livre de um indivíduo, ele perde sua neutralidade
perante os homens, pois agora alguém o “modificou” de alguma maneira, passando a
pertencer a ele, uma vez que já não é mais um recurso plenamente natural. Ou seja,
Locke afirma que é a partir do trabalho humano que surge a propriedade privada, e que
por derivar de sua condição natural de liberdade e igualdade, todo homem tem direito a
ela.

Quanto ao contrato, ele não pode nascer senão, da vontade dos homens em proteger
esses direitos, abdicando do estado natural em prol dos mesmos.

A maneira única em virtude da qual uma pessoa qualquer renuncia à liberdade


natural e se reveste dos laços da sociedade civil consiste em concordar com outras
pessoas em juntar-se e unir-se em comunidade para viverem com segurança,
conforto e paz umas com as outras, gozando garantidamente das propriedades que
tiverem e desfrutando de maior proteção contra quem quer que não faça parte dela.
Qualquer número de homens pode fazê-lo, porque não prejudica a liberdade dos
demais; ficam como estavam na liberdade do estado de natureza. Quando qualquer
número de homens consentiu desse modo em constituir uma comunidade ou
governo, ficam, de fato, a ela incorporados e formam um corpo político no qual a
maioria tem o direito de agir e resolver por todos. ( Segundo tratado sobre o
governo, VII. 95)

Portanto, o pacto social tem como finalidade proteger os direitos naturais dos homens,
outorgando ao legislador(es) o poder de punir todo aquele que os põe em risco, e de
criar leis que mantenham o bem comum, a partir desses princípios.

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