Lição 19

Sonhos, visões
e a Missão
Texto bíblico: Daniel 2

Qual a nossa compreensão bíblica sobre os sonhos e visões? No meio cristão

este é um assunto muito comentado, mas também polêmico e confuso. Na base
da nossa fé está a certeza de que Deus fala com seus servos e servas por muitos
meios, mas será que Deus ainda usa os sonhos e visões nos dias de hoje?

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 Fundamento bíblico
Ao analisar as narrativas bíblicas,
podemos ver que os sonhos e visões
aparecem como um dos meios da reve-
lação de Deus. O autor de Hebreus reve-
la que, desde os tempos passados, Deus
se comunicava com seu povo “de várias
maneiras” (1.1). No judaísmo, no mundo
grego e no Oriente Próximo Antigo, de
modo geral, entendia-se que os sonhos
continham recados de Deus.
O primeiro registro de alguém que
recebeu um sonho de Deus na Bíblia, é o
de Abimeleque, um rei pagão que estava
decidido a tomar Sara por sua mulher.
Para impedi-lo de cometer um grave
erro e assim, preservar a Sara, mulher e
Abraão, Deus usou o sonho para alertar
o rei (Gênesis 20.1-7).
A primeira ocorrência de um sonho
entre o povo da Aliança se deu com o
patriarca Jacó (Gênesis 28.10-16). No li-
vro de Jó encontra-se uma declaração de
Eliú que revela a crença de sonhos e vi-
sões como revelação de Deus (Jó 33.14-
18). Esta revelação de Deus por meio de
sonhos e visões no Antigo Testamento
está, na maioria das vezes, ligada ao
ambiente da profecia (Números 12.6).
Um dado importante é que os dois
únicos intérpretes de sonhos na Bíblia
foram usados para interpretar sonhos
de pessoas que não faziam parte do
povo de Deus: no caso de José com o co-
peiro, o padeiro e o Faraó (Gênesis 40-
41) e Daniel com o rei Nabucodonosor
(Daniel 2). Este detalhe talvez aponte
para o fato do povo de Deus não precisar
necessariamente de intérpretes para
seus sonhos e visões, pois Ele mesmo
revelava o conteúdo, como foi o caso,
por exemplo, de José, o pai de Jesus,
que ao despertar do sonho que Deus lhe
dera, entendeu perfeitamente o que de-
veria ser feito (Mateus 1.19-24). Outro
detalhe relevante é o fato de que em
ambos os casos a interpretação dos so-
nhos não tinha como fonte a sabedoria
humana, mas a de Deus (Gênesis 40.8;
Daniel 2.17-20).
O livro de Daniel, especificamente
no capitulo 2, traz a interpretação de
um sonho do rei pagão Nabucodonosor
que exigiu que esta fosse feita sem
que o conteúdo do sonho fosse revela-
do (vv.1-5), e mostra a fragilidade dos
encantamentos e feitiçarias dos intér-
pretes profissionais (vv.10-11). Daniel
pede misericórdia ao Deus dos céus
(v.18) e Ele revela o mistério em uma vi-
são (vv.19-20). Deus é glorificado como
aquele que revela mistérios indecifrá-
veis aos seres humanos (vv.27-28).
No Novo Testamento sonhos e visões
se encontram no ambiente da missão
e proclamação do evangelho de Jesus
Cristo, muito embora as visões ganhem
destaque a partir do livro de Atos dos
Apóstolos, onde se apresentam como
instrumento de orientação e ânimo para
a Igreja: Ananias (Atos 9.10), Cornélio
e Pedro (Atos 10.3,17,19), Pedro (Atos
11.5; 12.9), Paulo (Atos 16.9-10; 18.9).
RAÍZES DA NOSSA FÉ 131
 Palavra que ilumina a
vida
Diante da realidade limitada do ser
humano e o poder ilimitado de Deus,
devemos ter atenção em relação aos
sonhos e visões. As Escrituras trazem
alguns alertas sobre isto, como em
Deuteronômio 13.1-3. Neste caso o so-
nhador desvia o povo do mandamento
divino. Com conhecimento bíblico é fá-
cil discernir o erro presente nesse caso
(Deuteronômio 5.7). O profeta Jeremias
também alerta: existem visões que
procedem do coração humano e não de
Deus (Jeremias 23.16,25,26). O livro de
Eclesiastes fala dos sonhos com uma
postura pessimista (Eclesiastes 5.3,7).
A advertência contra falsas visões
e sonhos é muito pertinente nos dias
atuais quando por vezes se busca de
forma insana saber ou controlar o fu-
turo, e isso é reforçado pelo ambiente
de misticismo criado em muitas situa-
ções e lugares. Não é raro as pessoas,
depois de um sonho que despertou a
curiosidade ou causou sentimentos
confusos, procurarem outras pessoas
para decifrarem esses sonhos, como
se houvesse pessoas dotadas de dom
para interpretá-los. Por outro lado,
pessoas mal intencionadas podem se
aproveitar da fragilidade das pessoas
para manipulá-las; outras ainda, mes-
mo que bem intencionadas, podem fa-
lar do próprio coração com a intenção
de aliviar o sofrimento alheio. Devemos
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atentar ao fato de que nem todos os
sonhos e visões podem ser conside-
rados como uma revelação de Deus.
Outro detalhe é que tudo aquilo que
vem de Deus não acontece no ambien-
te da confusão, mas do discernimento
que vem do Espírito Santo.
Devemos considerar ainda que so-
nhos e visões, mesmo que vindos de
Deus, não são um mapa do futuro; da
mesma forma que precisamos buscar
a revelação do significado, precisamos
buscar direção para agir em relação ao
que foi revelado e a quem. Os próprios
exemplos bíblicos nos mostram que
para cada caso há um propósito revela-
do e uma atitude esperada e orientada
por Deus na direção do propósito.
Na busca para saber qual a verda-
deira “fonte” do sonho ou visão e o que
fazer com eles, precisamos pontuar
alguns cuidados: a) não se deve orga-
nizar a vida pautado em um sonho ou
visão; b) não transformar um sonho e
visão em doutrina; c) sonhos e visões
devem ser SEMPRE coerentes com a
Palavra de Deus; d) procurar o propó-
sito dos sonhos e visões para missão
de Deus na terra.
Conclusão
A crença em sonhos e visões não
é doutrina, mas está na base da nos-
sa fé. Deus pode se valer de sonhos
e visões para falar conosco. Cremos
que sonhos e visões são recursos que
Ele usa para manifestar a sua vonta-
de, porém cremos também que muita
confusão é feita a partir deste assun-
to. Nos dias de hoje ouvimos relatos
de pessoas que sonham e contem-
plam visões que parecem realmente
com a revelação de Deus, assim como
há relatos que se parecem com confu-
sões mentais, fruto de preocupações,
conflitos emocionais ou até uma refei-
ção pesada feita na noite anterior.
A oração e o conhecimento da Bíblia
são ótimas ferramentas para nos aju-
dar no discernimento do que vem do
Senhor.
Anotações
Para conversar
Quais são suas experiências com
sonhos e visões? E quantas destas ex-
periências se confirmaram como revela-
ções de Deus?
Leia durante a semana:
Domingo: Daniel 2
Segunda-feira: Gênesis 20.1-7
Terça-feira: Atos 10
Quarta-feira: Mateus 1.18-25; 2.13-15
Quinta-feira: Atos 9.10-11
Sexta-feira: Atos 16.9-10
Sábado: Atos 18.5-11
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