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INTRODUÇÃO

A necessidade de satisfazerem os seus interesses faz com que os


Estados estabeleçam relações nas mais variadas vertentes. Em torno disso os
Estados criam mecanismos para manterem a sua sobrevivência no sistema
internacional. Se os Estados hoje formam uma sociedade é porque reconhecem
certos interesses e valores comuns.

Angola tornou-se independente no dia 11 de Novembro de 1975,


sendo a Federação da Rússia o segundo país a reconhecer a sua independência
depois do Brasil no mesmo ano. As relações entre a República de Angola e a
Federação da Rússia tiveram o seu apogeu após a independência, com a
assinatura do tratado de amizade e cooperação a 8 de Outubro de 1976. Desde
então as relações entre os dois Estados passaram a ter maior impacto, centrando-
se na diplomacia. Após a proclamação da independência Angola viveu um
período de Guerra.

A diplomacia tem sido o instrumento mais privilegiado da


Política Externa dos Estados para melhor desenvolverem as suas relações e
atingirem os objectivos politicamente definidos, um exemplo disto é o caso de
Angola para o alcance da paz definitiva foi necessário por via diplomática
celebrar o Memorando do Luena a 4 de Abril de 2002 que marcou o fim da
Guerra Civil em Angola. A Rússia participou activamente em várias fases do
processo de negociação da Paz em Angola que foi alcançada definitivamente em
2002.

Angola é considerada como sendo uma potência regional da


África Austral pela sua geografia e recursos naturais, ao passo que a Federação
da Rússia é o maior país do mundo influenciado pela sua posição geopolítica no
mapa mundial estando entre dois continentes Europa e Ásia,tornando-a
Bicontinental.
1
Na realidade Angola estava a sair de um conflito armado e
encontrava-se debilitado pelos estragos feitos pela Guerra. Após à conquista da
paz em 2002 , o Estado angolano foi obrigado a definir a sua política externa de
modos a garantir a sua sobrevivência no sistema internacional.

Deste modo pretendemos com o presente trabalho desenvolver


reflexões sobre: O contributo da diplomacia russa no processo angolano de
pacificação, reconciliação e reconstrução nacional.

A escolha do tema justifica-se pela importância do mesmo, na


medida em que se analisa o contributo da diplomacia da Federação da Rússia no
processo de pacificação, reconciliação e reconstrução de Angola, no âmbito da
política externa dos Estados.

Quanto ao seu objectivo geral consiste em analisar o contributo


da diplomacia russa no processo angolano de pacificação, reconciliação e
reconstrução nacional.

Sendo que os objectivos específicos consubstanciam-se em: fazer


uma abordagem teórica sobre Política Externa, descrever os antecedentes
históricos das relações político-diplomáticas entre a República de Angola e a
Federação da Rússia, identificar o papel da diplomacia russa na pacificação,
reconciliação e reconstrução da República de Angola após a conquista da Paz.

Para o efeito, levantou-se o seguinte problema: será que o


estabelecimento das relações político-diplomáticas entre a República de Angola
e a Federação da Rússia contribuiu para o êxito do processo de pacificação,
reconciliação e reconstrução nacional angolano? A hipótese adoptada sustenta
que as relações diplomáticas entre a República de Angola e a Federação da
Rússia contribuíram para o êxito do processo de pacificação, reconciliação e
reconstrução nacional angolano. Relativamente à metodologia, optou-se pela
pesquisa descritiva e bibliográfica e o método hipotético-dedutivo.
2
Sendo assim, estruturalmente o presente trabalho compreende
uma introdução, três capítulos, uma conclusão, recomendações e referências
bibliográficas. O primeiro capítulo com o título fundamentação teórica e
conceptual sobre Política Externa; faz uma abordagem sobre o conceito de
Política Externa na visão de certos autores, modelo e dinâmica de Política
Externa, formulação, objectivos e instrumentos da Política Externa, princípios
de relações diplomáticas entre os Estados, bem como a diplomacia como
instrumento privilegiado da Política Externa dos Estados. No segundo capítulo
intitulado enquadramento histórico das relações entre a República de Angola e a
Federação da Rússia, com o objectivo de espelhar o princípio das relações
diplomáticas entre os dois Estados; neste capítulo faz referência a caracterização
geográfrica e as potencialidades económicas da República de Angola e da
Rússia, abordou-se a independência de Angola e o conflito armado angolano, da
URSS a Federação da Rússia no sentido de espelhar como a URSS se tornou na
Federação que é Actualmente a Rússia, abordou-se também sobre a relação entre
a URSS e o MPLA. Por fim no terceiro capítulo intitulado o contributo da
diplomacia russa no processo angolano de pacificação, reconciliação e
reconstrução nacional; analisou-se o impacto das relações político-diplomáticas
entre os dois Estados nos vários domínios bem como a ascensão de Vladimir
Putin ao poder e a sua influência no sistema internacional, trocas de visitas
oficiais, os acordos de cooperação para o estreitamento das relações
diplomáticas, e a importância geoestratégica para ambos os países. Enfatizou-se
o contributo da diplomacia russa no processo angolano de pacificação,
reconciliação e reconstrução nacional, e a diplomacia energética entre os dois
Estados. Em suma, demonstrou-se que a República de Angola e a Federação da
Rússia têm um relacionamento político-diplomático excelente e privilegiado, e
que ambos reconhecem certos interesses e valores comuns.

3
CAPÍTULO I– FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E CONCEPTUAL
SOBRE POLÍTICA EXTERNA

Neste primeiro capítulo propõe-se abordar a fundamentação


teórica e conceptual sobre política externa, com o objectivo de compreender
como os Estados desenvolvem as suas acções em relação aos outros Estados
para alcançar os seus objectivos.

1.1. Conceito de Política Externa na visão de certos autores

A Política Externa entende-se como o conjunto de objectivos


políticos e estratégicos que um Estado almeja alcançar a nível exterior1, ou seja é
a actividade pelo qual os Estados agem e interagem entre si para preservar os
seus interesses nacionais2.

Para José Calvet de Magalhães, a política externa contrapõe-se à


política interna e, neste sentido, refere-se à actividade exercida por um Estado
no domínio externo, ou seja, para além das suas fronteiras políticas 3. Trata-se de
um conjunto das decisões e acções de um Estado em relação ao domínio externo
que se destina a obter um determinado resultado em relação a outro Estado ou
grupo de Estados4.

Já Russel afirma que a Política Externa possui três dimensões:


Político-diplomática, militar-estratégica, e económica, e que a mesma projecta-
se no âmbito externo ante um conjunto de actores e instituições governamentais
e não governamentais tanto no plano bilateral como multilateral.

1
JOSÉ, Joveta, guia de estudo, Política Externa de Angola, ISRI 4º ano, Luanda, 2019. P4
2
Na política externa o termo interesse nacional invoca a imagem do Estado-Nação, defendendo os seus
interesses dentro do sistema internacional anárquico onde tais interesses estão sempre em risco.
3
MAGALHÃES, José Calvet de. A diplomacia Pura. 1ª Edição, Editora Bizâncio.Lisboa, 2005. P.22
4
FERNANDES, Ana Paula. EUA e Angola: A diplomacia económica do Petróleo. 1ª Edição. Brasil editora.
Principa. 2004. P.21
4
Podemos dizer que a Política Externa é parte da actividade do
Estado que está virada para fora ou seja trata em oposição a política interna, dos
problemas que colocam-se para além fronteiras.

Neste sentido, na Política Externa o Estado procura dar resposta


ao comportamento de outros actores internacionais em geral, agir de acordo com
os seus princípios quando o ambiente é favorável, e transformar o mesmo
quando este apresentar-se desfavorável. Por outras palavras o Estado procura
através da Política Externa manter ou aumentar o seu poder de influência fora do
território nacional.

A Política Externa corresponde ao conjunto de objectivos,


estratégias e instrumentos escolhidos pelos respectivos governantes pela
formulação política para responder o actual ambiente externo e futuro5. O estudo
da Política Externa permite-nos saber como os Estados relacionam-se com os
outros Estados no sistema internacional para atingirem os seus objectivos.

Assim, toda Política Externa constitui um esforço de


compatibilizar o quadro interno de um Estado e o seu contexto externo. Neste
sentido, é importante que os Estados avaliem o seu ambiente interno para a
formulação de uma política externa, definindo de forma objectiva as suas acções
e estratégias para melhor actuarem.

5
FREIRE, Maria Raquel, Política Externa: as relações internacionais em mudança, 2ª edição, Coimbra. P.8
5
1.2. Modelo e dinâmica de Políca Externa

A Política Externa corresponde ao conjunto de objectivos,


estratégias e instrumentos que um Estado adopta e aplica a entidades fora da sua
jurisdição política para assegurar a defesa e concretização dos interesses
nacionais.

No caso de Angola, logo após a proclamação da sua


independência, a 11 de Novembro de 1975, e o seu reconhecimento como
Estado Soberano pela comunidade internacional, como manifestação da vontade
de estabelecer relações políticas e económicas com a nascente República6.

A política Externa de um Estado é inevitável, nenhum Estado


tem no seu território todos os recursos necessários para a sua sobrevivência e
menos ainda consegue fazer a produção de bens e serviços para corresponder a
demanda das necessidades dos seus cidadãos.

A política externa é identificada como um dos principais


instrumentos de consolidação de políticas de desenvolvimento interno de modo
a assegurar a competitividade no cenário internacional, constituindo o motor
para a consolidação das políticas internas.

Deste modo, o Estado deve preparar a sua Política Externa para


melhor relacionar-se com outros Estados, essa Política Externa é a continuação
da sua política interna, visando consolidar a ordem social existente no próprio
Estado através da fixação de suas disposições na ordem jurídica internacional e
defender na arena internacional os interesses nacionais.

6
JOSÉ, Joveta, Política Externa de Angola de 1992 aos dias actuais. P.7
6
1.3. A formulação, objectivos e instrumentos da Política Externa

A formulação da Política Externa é um processo que decorre no


ambiente interno ou doméstico. Para tal, o Estado busca em primeira instância a
manutenção da sua independência e a segurança nacional, e posteriormente a
promoção e protecção dos valores e interesses económicos7.

O Estado enquanto sujeito do direito internacional deve possuir


leis que permitam a sua inserção no sistema internacional. A existência de normas
jurídicas nacionais que se adaptem as internacionais, implicam a elaboração de
uma política externa nacional que deve ter um centro de comando uma instituição
soberana que legitime todos os actos emanados dentro e fora das fronteiras
nacionais para o fortalecimento do Estado.

Os Estados ao garantirem a sua independência, é notório que as


grandes potências são aquelas que se preocupam mais com a preservação da sua
segurança nacional e disponibilizam mais e maiores recursos para esse fim,
apesar de ser improvável que qualquer outro Estado venha ameaçar a sua
independência8.

Em Angola, a elaboração da Política Externa de Angola é da


responsabilidade do Presidente da República, e é o departamento Ministerial a
quem compete auxiliar o Presidente da República na coordenação, formulação,
planificação, execução e avaliação da Política Externa e de cooperação
internacional9. Em alguns países o poder legislativo desempenha a função de
supervisão em assuntos de Política Externa, no caso de Angola o mesmo possui
um papel pouco determinado concernente a Política Externa, cumprindo a
maioria das vezes um papel de verificação10.

7
SILVA, Sérgio Vieira da. Introdução às Relações Internacionais. 1ª Edição. Escolar Editora. Lisboa. 2012,
P.133
8
Ibidem, P 134
9
JOSÉ, Joveta, guia de estudo, Política Externa de Angola, ISRI 4º ano, Luanda. 2019. P5
10
Idem. P4
7
Com a proclamação da Independência de Angola surgiu
Ministério das Relações Exteriores foi criado aos 12 de Novembro de 1975. O
seu primeiro titular foi o Presidente José Eduardo dos Santos, de 11 de
Novembro de 1975-1976 e de 20 de Outubro de 1984 a 07 de Março de 198511.

Portanto, a formulação da Política Externa de um Estado é


inevitável. O Estado deve definir estratégias para controlar melhor as suas acções
externas, preservar a sua soberania e relacionar-se com outros actores do sistema
internacional, e não pôr em risco os interesses nacionais.

Os objectivos da Política Externa dividem-se em três partes: Os


objectivos fundamentais, a médio prazo e os específicos mediatos.

Os objectivos fundamentais da Política Externa do Estado são:

 A sobrevivência do Estado;
 A integridade territorial;
 A preservação do sistema de crenças;
 A protecção do sistema Político;
 A protecção do sistema económico12.

Os objectivos a médio prazo variam de importância no decorrer


do tempo e são de natureza diversa: políticos, materiais, ideológicos e de
prestígio. Os objectivos políticos pretendem-se fundamentalmente com relações
de poder e de segurança; os objectivos materiais são aqueles que respeitam ao
crescimento e ao desenvolvimento económicos; os objectivos ideológicos visam
a expansão do sistema de crenças (valores, sistema político e económico); por

11
Passaram ainda nesta chancelaria, Paulo Teixeira Jorge de 27 de Novembro de 1976 a 20 de Outubro de 1984;
Afonso Van-Dúnem “Mbinda” de 07 de Março de 1985 a 23 de Janeiro de 1989; Pedro de Castro dos Santos
Van-Dúnem “Loy” 23 de Janeiro de 1989 a Novembro de 1992; Venâncio da Silva Moura Novembro de 1992 a
Janeiro 1999; João Bernardo de Miranda assumiu o cargo a 29 de Janeiro de 1999 a Setembro de 2008 e
actualmente, Assumpção dos Anjos desde Outubro de 2008 -2010, de 2010-2017 Georges Rebelo Chicoti, e
Manuel Augusto de 2017aos dias actuais.
12
SILVA, Sérgio Vieira da. Introdução às Relações Internacionais.1ª Edição. Escolar Editora. Lisboa, 2012. P.
136
8
fim o líder que deve reconhecer a importância do prestígio como factor de poder
na arena internacional, mas também evitar ferir o prestígio do adversário13.

Os objectivos mediatos são aqueles formulados para que se


enquadrem melhor no plano de acção global. Quando os mesmos estão em risco
o formulador da política externa deve traçar uma estratégia para fazer face a
situação e tirar vantagens da mesma14.

Os instrumentos da política externa classificam-se em


instrumentos pacíficos e instrumentos violentos. Os instrumentos pacíficos de
contactos plurilaterais ou negociações são:

 Diplomacia: é entendida como sendo um instrumento da


Política Externa de um Estado levado a cabo pelos agentes diplomáticos
designados pelos seus órgãos de soberania para conduzir as relações entre os
mesmos ou seja é a arte de manter o direito e promover os interesses de um
Estado a nível exterior;
 Negociação directa: é aquela levada a cabo pelos detentores
do poder político dos respectivos Estados, geralmente é a melhor forma de obter
resultados eficientes para a solução de uma divergência.
 Mediação: consiste na interposição amistosa de um ou mais
Estados entre outros Estados para a solução pacífica de um litígio. A mediação
constitui-se de uma participação directa nas negociações entre os litigantes15.
Os instrumentos pacíficos de contactos unilaterais são:
a) A propaganda: consiste em utilizar os mais variados meios de
comunicação para difundir a informação, propagar determinadas opiniões,
13
Ibidem
14
Uma política externa pode ter objectivos concretos; por exemplo visando negociação ou estabelecimento de
acordos comerciais. Mas também pode ter objectivos abstractos, como uma aproximação cultural por exemplo
de formação de fóruns de diálogos e encontros simbólicos.
1515
O terceiro Estado toma o conhecimento do desacordo e das razões de cada um dos contendores, para
finalmente propor-lhes uma solução. Geralmente um sujeito das gentes (Estados, O.I, Santa Sé, ou um estadista
associado ao exercício de uma elevada função pública, cuja a individualidade seja indissociável da pessoa
jurídica internacional que Ele representa. Por exemplo a intervenção da URRS em 1965 no conflito entre a Índia
e o Paquistão, João Paulo II no conflito argentino-chileno do canal Beagle, em 1981.
9
defender determinados tipos de acção, fomentar a criação de grupos opostos ao
governo do país adversário16;
b) Os serviços secretos: consiste em obter por meios secretos e
depois analisar a informação que os líderes políticos não podem adquirir por
métodos convencionais. A sua tarefa mais importante geralmente é obter
informações sobre capacidades militares e os planos futuros dos seus adversários
efectivos ou potenciais, porém mesmo os seus aliados não estão isentos a
espionagem. Toda informação do género é designada por «informação
estratégica»17.
Relativamente aos instrumentos violentos da Política Externa, os
Estados fazem recurso a dissuasão, ameaça, guerra económica, pressão militar e
a guerra.
a) Dissuasão: é entendida como sendo o modo de intimidar o
adversário fazendo com que este tenha medo dos seus actos, a pressão
adversária impede a evolução do conflito;
b) Ameaça ao emprego da força é feita por um Estado em
relação ao outro Estado;
c) Guerra económica: é um conflito económico entre países
onde os Estados põem barreiras comerciais como tarifas, taxas alfandegárias e
restrições comerciais entre si, neste caso um bloqueio económico;
d) Pressão Militar: a utilização de forças militares sem chegar a
um confronto propriamente dito por exemplo as manobras militares nas
fronteiras, por parte de um Estado para chegar num outro Estado;
e) Guerra: é um conflito bélico, ou seja ataque militar entre as
partes envolvidas;

16
SILVA, Sérgio Vieira da. Introdução às Relações Internacionais. 1ª Edição. Escolar Editora. 2012. P.161
17
SILVA, Sérgio Vieira da, Introdução Às Relações Internacionais, Escolar Editora. Lisboa, 2012. P.156.
10
1.4. Princípios de estabelecimento de relações diplomáticas entre os
Estados

O exercício da diplomacia por parte dos Estados e dos demais


sujeitos de direito internacional merece uma conceituação significativa no
cenário interno e internacional, uma vez que trata-se de uma acção que envolve
actores internacionais, em que os acordos celebrados entre as partes possuem
cláusulas que as obrigam a cumpri-las quer seja a nível interno como externo.
O estabelecimento de relações diplomáticas18 entre os Estados e o
envio de missões diplomáticas permanentes efectuam-se por consentimento
mútuo19. Assim, os Estados estabelecem relações diplomáticas o que implica o
reconhecimento por estes do direito duplo de legação, trata-se do direito de
enviar e receber missões diplomáticas20. A representação junto ao Estado
estrangeiro materializa-se por intermédio de uma representação política, na
pessoa do Embaixador ou agente diplomático, e uma representação
administrativa do Cônsul ou Agente consular.

Entretanto essas relações diplomáticas são feitas por meio da


acreditação, que é o acto formal no qual se recebe o representante diplomático e
é feita pelo Chefe de Estado ou de Governo. A acreditação é um acto
discricionário; nenhum Estado é obrigado a acreditar outro Estado. Antes de
nomear um Chefe de Missão, o Estado acreditante deve obter o consentimento
prévio do Estado acreditado, este consentimento chama-se agrément21. Existe
ainda a possibilidade de representação comum entre os dois Estados, o que
significa um embaixador, se receber acreditação para tal representará os dois
Estados. Por exemplo, Angola divide a Missão diplomática na Rússia com Cabo

18
O direito do Estado de manter relações diplomáticas com os demais Estados é denominado Direito de legação,
considerado como sendo um dos direitos fundamentais dos Estados.
19
Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas de 1961
20
Idem
21
Idem
11
Verde. O Embaixador de Angola representaos dois Estados. Assim sendo, a
representação comum é representar mais de um Estado acreditante.

As missões diplomáticas, consulados e delegações constituem os


serviços externos dos quais compete assegurar a representatividade do país no
exterior, divulgando a realidade política, económica e social, promovendo o
estreitamento das relações de amizade e cooperação com os outros Estados e
defendendo o interesse dos cidadãos angolanos residentes no estrangeiro22.
A necessidade de regulamentar juridicamente as funções das
missões diplomáticas levou uma precisão, no âmbito do direito internacional
público, com vários elementos em que decompõe a actividade diplomática.
De acordo com o artigo 3º da convenção de Viena sobre relações
diplomáticas de 18 de Abril de 1961 as funções de uma diplomática que
consistem, nomeadamente em:
a) Representar o Estado acreditante perante o Estado receptor;

b) Proteger no Estado receptor os interesses do Estado


acreditante e de seus nacionais, dentro dos limites estabelecidos pelo direito
internacional;

c) Negociar com o governo do Estado receptor;

d) Inteirar-se por todos os meios lícitos das condições e da


evolução dos acontecimentos no Estado e informar a esse respeito o governo do
Estado acreditante;

e) Promover relações amistosas e desenvolver relações


económicas, culturais e científicas entre o Estado acreditante e o Estado
receptor23.

22
CULAIA, Liberato, As relações político-diplomáticas entre a República de Angola e os Estados Unidos da
América, (1993-2002). Trabalho de Fim do Curso apresentado ao ISRI. 2017.P 13
23
Convenção de Viena sobre relações diplomáticas de 1961, artigo 3º.
12
1.4.1 A diplomacia como instrumento privilegiado da política externa do
Estado

A diplomacia constitui-se como um instrumento da Política


Externa para o estabelecimento e o desenvolvimento dos contactos pacíficos e
de amizade entre os governos dos diferentes Estados, pelo emprego de
intermediários (agentes diplomáticos) reconhecidos mutuamente pelas
respectivas partes24.

Raymond Aron, no seu livro Paix et Guerre entre les Nations


define a diplomacia como sendo um método de conduzir o comércio ou as
relações entre os Estados, um método pacífico contrastando com o método
violento a que chama «estratégia»25

Ao contrário, Hans Morgenthau considera a diplomacia como


sendo a formação e execução da política externa a todos os níveis tendo como
objectivo primário o interesse nacional por meios pacíficos26.

Para funcionar, a diplomacia dispõe de dois instrumentos:

a) Um departamento responsável pela formulação da política


Externa que constitui ou pode dizer-se o cérebro desta política, recebendo
informações de toda parte, analisando-as e armazenando-as;
b) Os representantes diplomáticos, que enviam ao seu
departamento nacional as informações que se passam no mundo, os
representantes diplomáticos são os olhos, os ouvidos e a boca do departamento
nacional encarregado dos negócios estrangeiros27.

24
MAGALHÃES, José Calvet de. Manual Diplomático. 5ª Edição. Editorial Bizâncio. Lisboa. 2005, P.92.
25
ARON, Raymond, Paix et Guerre ente les Nations, Calmann-lévy, Paris, 1964, P 141.
26
MORGENTHAU, Hans J., Politics Among Nations: the struggle for power and peace, Nova Iorque.
1978.FERNANDES, Ana Paula. Op. Cit., p. 20
27
SILVA, Sérgio Vieira da. Introdução às Relações Internacionais. 1ª Edição. Lisboa. Escolar Editora. 2012, P.
168.
13
Os diplomatas em nome do seu governo exercem três funções básicas:

1. Uma representação simbólica: o diplomata antes de tudo


representa simbolicamente o seu país. Esta função serve para testar, por um lado
o prestígio que o seu país tem a nível exterior e, por outro, o que seu próprio
país atribui ao Estado onde ele está acreditado;
2. Uma representação legal: poderão ser autorizados para
concluir tratado, transmitir ou receber documentos ratificados. Por outra, os
diplomatas também prestam protecção legal aos seus compatriotas que se
encontram no país onde exercem as suas funções;
3. Uma representação política: o diplomata junto do seu
departamento de política externa, elabora a política que o seu país deverá seguir,
esta torna-se a sua actividade mais importante;28

A estratégia político-diplomática adoptada tem sido a de


promover não só uma inserção competitiva de Angola no contexto internacional,
como também de tirar maiores benefícios da cooperação internacional de modo
a elevar cada vez mais a qualidade de vida e o bem-estar dos angolanos.

Contudo, no primeiro capítulo abordou-se sobre a fundamentação


teórica e conceptual da Política Externa, bem como a sua formulação, seus
objectivos e instrumentos. Princípios de relações diplomáticas entre os Estados.
Enfatizou-se a importância da diplomacia como instrumento privilegiado da
Política Externa dos Estados.

2832
Idem. P 170
14
CAPÍTULO II- ENQUADRAMENTO HISTÓRICO DAS RELAÇÕES
ENTRE A REPÚBLICA DE ANGOLA E A FEDERAÇÃO DA RÚSSIA

Neste segundo capítulo, pretende-se fazer um enquadramento


histórico das relações entre a República de Angola e a Federação da Rússia,
descrever os seus antecedentes, com o objectivo de perceber os factores que
influenciaram os dois Estados a estabelecerem relações diplomáticas.

2.1. Caracterização geopolítica da República de Angola e suas


potencialidades económicas
Etimologicamente Angola deriva de “Ngola” título dos Reis do
Reino do Ndongo29. A República de Angola situa-se na região ocidental da
África Austral e ocupa 1.246.700 km² de superfície 30e conta com uma população
aproximadamente de 25 789 024 habitantes31. É limitada a norte e a nordeste
pela República Democrática do Congo e a República do Congo, a leste pela
República da Zâmbia, a sul pela República da Namíbia e ao oeste pelo oceano
Atlântico. Angola apresenta uma costa marítima de 1.650 km e as suas fronteiras
terrestres correspondem a um total de 4.837 km.
Administrativamente Angola está dividida em 18 províncias,
sendo Luanda a sua capital, a principal cidade do país, seguida do Huambo,
Benguela, Kuito, Lubango, Namibe e Cabinda, onde estão localizadas as
principais instituições socioeconómicas, políticas e administrativas do país32.

2933
O que pertence à etnia Mbundu. O que pertence ao grupo Ambundo. O que fala kimbundu.
3034
Vide Angola no contexto Africano em anexos.
31
Instituto Nacional de Estatística, Resultados definitivos do recenseamento Geral da População e da Habitação
de Angola. 2014, P.31.
3236
MANUEL, Fernando, guia de estudo, História de Angola, ISRI 1º ano, Luanda 2015, P.3
15
O ponto mais alto de Angola é o Morro do Moco com 2620
metros de altura localizados na província do Huambo. Os principais rios de
Angola são o Kwanza caracterizado como o maior de Angola, o Cuango, o
Cubango e o Cunene33.

A língua oficial é o português, sendo o Kwanza a moeda oficial.


A origem dos seus habitantes é maioritariamente Bantu, os quais deram origem
a 9 grupos etnolinguísticos entre eles os Ovimbundo, os Ambundo, os Bakongo,
os Herero, os Ganguela, os Nhaneka-Humbe, os Oxindonga, os Ovambo, os
Lunda-Quioco34.

Cada grupo etnolinguístico é caracterizado por um conjunto de


valores, onde se reconhecem semelhanças entre si na estrutura sociopolítica e na
identificação de idiomas com a mesma língua.35Os ovimbundo constituem 37%
da população, os Ambundo 25%, os Bakongos 13%, os mestiços 2%, e 23% são
constituídos por outros grupos étnicos constituem 23% da população. 47% da
população professa crenças indígenas, sendo que 30 % são católicos e 13% é
protestante.

Economicamente Angola é um país rico em recursos minerais.


Estima-se que o seu subsolo alberga 35 dos 45 minerais mais importantes do
comércio mundial dentre os quais destacam-se o petróleo, gás natural, diamante,
fosfato, ferro, cobre, manganésio e ouro.

33
PIRES, Matias, As relações político-diplomáticas entre a República de Angola e o Reino da Noruega (2005-
2010), trabalho de Fim do Curso apresentado ao IRI, 2011. P20
34
MANUEL, Fernando, guia de estudo, História de Angola, ISRI 1º ano, Luanda 2015, P1
35
SILVA, Rosa Cruz, Angola e o seu potencial/História, Luanda 1997, ministério da Cultura P 38.
16
Os recursos energéticos de Angola (petróleo, gás natural) e
energia hidroeléctrica de Angola são estratégicos. A quantidade e a qualidade do
Petróleo constituem um motivo de disputa entre muitos países e companhias
internacionais, de igual modo acontecem com as reservas diamantíferas que
colocam Angola como o quarto maior produtor mundial de diamantes brutos36.

Angola afirma-se como segundo maior produtor de petróleo da


África subsariana, com um diferencial mínimo relativamente à Nigéria. O
Petróleo representa aproximadamente 90% das exportações naturais. De igual
modo o País possui um grande potencial hidroeléctrico graças aos grandes e
poderosos rios que atravessam o País. Angola gera em condições normais,
produz mais energia do que necessita havendo a necessidade de vender
electricidade aos países vizinhos como à Namíbia e o Congo Democrático37.
Não podemos esquecer o Biocombustível38, sendo previsível que
Angola pelas potencialidades agrícolas, se torne um dos mais importantes
produtores do continente africano. Até 2003 coordenava o sector energético na
(SADC). Com isso contribui não só para a saúde, mas para a diversificação do
seu potencial energético, diminuindo igualmente a importação de açúcar. São
muitos os recursos disponíveis no seu menu os quais podem contribuir para a
solidificação da sua economia e resolução dos seus problemas sociais.

36
GRILO, António Manuel, a geopolítica de Angola dinâmicas de afirmação num quadro regional, Lisboa. 2009.
P 14.
37
DUARTE Santos, António, Angola um estudo de caso. Lisboa. 2017. P 9
38
Proveniente da Cana-de-açúcar.
17
2.2. A independência de Angola e Conflito armado angolano

No continente africano ocorreram várias ondas de conflitos no


período após a Segunda Guerra Mundial, cujas causas recaem, principalmente
no processo de descolonização e na Guerra Fria que o mundo registou. Em
Angola, a força do nacionalismo deu origem aos Movimentos de Libertação
Nacional (MLN)39 e o início da luta armada de libertação nacional contra o
domínio Português em 196140.
A independência de Angola foi consequência da referida luta
armada de libertação Nacional que ajudou a gerar condições para o surgimento
da revolução de Escravos de 25 de Abril de 1974 em Portugal. Foi um golpe de
Estado militar executado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) que
derruba o regime Salazarista, abrindo imediatamente caminho para as
independências das colónias.
Sendo assim, começaram os esforços de colaboração e diálogo
entre os representantes dos três movimentos de libertação nacional e o Governo
de Portugal. O processo de transferência de poder começa a 5 de Janeiro de
1975, quando os três MLN, pressionados pela Organização da Unidade Africana
(OUA), reuniram-se em Mombaça, no Quénia, onde assinaram um acordo em
que ficou estabelecido unirem-se numa única frente independente para negociar
com Portugal e manter a paz em Angola.
Deste modo foi fixada a data de 11 de Novembro de 1975 para a
independência de Angola, ao abrigo do Acordo de Alvor assinado a 15 de
Janeiro de 1975 entre os três movimentos no conflito nomeadamente a FNLA; o
MPLA; e a UNITA com o governo Português.41Neste sentido, estabeleceu-se o
39
Os Movimentos de Libertação Nacional, desempenharam um papel essencial ao longo do período de
descolonização, na medida em que foram preponderantes para a extinção da colonização. Assim a estratégia
utilizada foi a de guerrilha completada por uma acção psicológica tendente a inspirar confiança à população,
como os apoios externos.
40
A luta Armada de Libertação Nacional foi desencadeada no dia 4 de Fevereiro de 1961,sendo utilizadas
tácticas de guerrilha ao ataque na Prisão dos antigos presos políticos, cujo alcance foi crescendo do Norte para o
Leste do País.
41
GEORGE, Edward- intervenção cubana em Angola, 1965-1991: A partir de Chegue vara para o Cuito
Cuanavale, Nova York: Frank Cass, 2005. P 56
18
Governo de transição composto pelas partes que assinaram o acordo, com a
integração das três forças numa única força militar mista incluindo os militares
das Forças Armadas Portuguesas. No dia 31 de Janeiro de 1975 foi constituído o
Governo de Transição de Angola com a presença de integrantes dos três
movimentos de libertação nacional resultante do Acordo de Alvor42.
No âmbito do acordo seria constituída a força conjunta seria
composta por um efectivo de 1.000 homens de cada Movimento de Libertação
Nacional e da tropa de portuguesa. O Acordo não foi cumprido. Os três
Movimentos de Libertação Nacional mantiveram as suas tropas em condições de
combate, inclusive recebendo apoio de outros países. Por factores ideológicos,
um Movimento era apoiado pela China, outro pela Rússia, e um outro apoiado
pelos Estados Unidos da América. No dia 22 de Agosto, Portugal formalizou a
suspensão parcial do Acordo de Alvor.
De realçar que a vontade de hegemonia de cada um dos
movimentos e a intolerância criou um clima terrível, antidemocrático abrindo o
caminho para a guerra civil. Este conflito foi exacerbado principalmente pelas
intervenções externas, particularmente pelas alianças internacionais
estabelecidas entre os Movimentos de Libertação Nacional e os dois pólos de
Guerra Fria: os EUA apoiaram a UNITA e a FNLA e a URSS e Cuba apoiaram
o MPLA.
Outras intervenções externas contribuíram para acirrar essas
divergências como os casos da intervenção sul-africana e do exército do Zaire
pelo Sul e Norte do país, perspectivamente. No entanto, apoiados pelos países
comunistas ligados a URSS, pelo exército cubano e com o reconhecimento de

42
No Acordo de Alvor estiveram presentes personalidades como: Melo Antunes, na altura ministro sem pasta,
militar, ideólogo da movimento das forças armadas, considerado o grande responsável pela descolonização; Rosa
Coutinho, na altura Presidente da junta governativa de Angola, Agostinho Neto, Líder e representante do MPLA,
Costa Gomes, na altura chefe do Governo Português; Holden Roberto, representante da FNLA, Jonas Savimbi,
da UNITA, Mário Soares na altura Ministro dos Negócios Estrangeiros; e Almeida Santos, Ministro da
coordenação Internacional.
19
Portugal, o MPLA consegue controlar uma parte significativa do país, incluindo
a capital Luanda.
Em defesa ao MPLA, a 7 de Novembro de 1975, Cuba
desenvolveu a chamada «Operação Carlota»43, com o objectivo de travar os
ataques da FNLA no norte, e da UNITA e a África do Sul no Sul 44. No dia 11 de
Novembro de 1975, Agostinho Neto proclama a independência da República de
Angola e torna-se o primeiro Presidente do país. A Rússia foi o segundo país a
reconhecer a independência de Angola depois do Brasil, legitimando o governo
do MPLA.
Portanto, a independência de Angola era inevitável. Após a
independência, Angola conheceu dois grandes períodos: o Estado do partido
único do modelo socialista, com a economia centralmente planificada entre 1975
e início dos anos noventa, e a abertura da democracia com a transição ao
multipartidarismo a partir da lei constitucional de 1991.
Depois da independência de Angola, os conflitos entre os
Movimentos de Libertação continuaram. A guerra entre os Movimentos de
Libertação Nacional começou logo após a assinatura dos Acordos de Alvor. Em
Fevereiro de 1975, a FNLA desencadeou um ataque contra as forças do MPLA
nas proximidades de Luanda. A UNITA tomou lugar da FNLA como o principal
opositor ao governo do MPLA na Guerra civil, expulsa o MPLA do Huambo e
Bié, e declara guerra ao MPLA em Agosto de 197545.
Agostinho Neto morreu em 1979 e foi substituído por José
Eduardo dos Santos. Nessa altura o conflito entre as superpotências no Vietname
terminara e Angola transformou-se numa guerra indirecta entre os EUA e a
URSS. Mais do que a defesa de um interesse específico em Angola, os dois
países competiam em termos geopolíticos. Os aliados regionais dos EUA
43
As forças patrióticas angolanas receberam o apoio da URSS e Cuba. Esta acção de solidariedade cubana com
Angola recebeu o nome de operação «Carlota».
44
CULAIA, Liberato. As relações político-diplomáticas entre a República de Angola e os Estados Unidos de
América (1993-2002).Trabalho de Fim do Curso apresentado ao ISRI. 2017.P 15.
45
CAMPOS, Vieira. O conflito angolano, conflito sui generis-analisando o papel da ONU, Luanda. P 23
20
continuavam a ser o Zaire e a África do Sul, ao passo que o Congo Brazzaville
alinhava com a União Soviética.
A guerra civil atingiu o seu apogeu em meados dos anos 80. em
1987-88 houve uma mudança na estratégia da batalha do Cuito Cuanavale, as
forças sul-africanas e da UNITA foram obrigadas pelo exército governamental e
pelas tropas cubanas a recuar.
As iniciativas de Paz seguiram-se, dirigidas por uma Troika
composta por Portugal, os EUA, e a União Soviética, que resultaram finalmente
nos acordos de Bicesse em Maio de 1991, entre o governo do MPLA e a
UNITA. Estas negociações obrigavam o MPLA a abandonar o marxismo-
leninismo e adoptar um sistema multipartidário. O mesmo acordo previa a
realização de eleições gerais após um período de transição e durante este período
deveria proceder-se a desmilitarização das duas forças e a formação de um único
exército46.
A paz foi mantida até a realização das primeiras eleições
legislativas angolanas sob os auspícios da ONU47. Jonas Savimbi o representante
da UNITA esperava vencer as eleições em Setembro de 1992, quando o mesmo
viu que não conseguiu a vitória, rejeitou o resultado das eleições e regressou a
guerra. As tentativas de negociação da representante especial da ONU, Margaret
Anstee, com vista a um cessar-fogo, fracassaram e o Conselho de Segurança das
Nações Unidas (CSNU) respondeu com a redução e, posteriormente, com a
retirada completa de todo o pessoal militar da UNAVEM.

Os esforços da ONU e da «troika» de observadores ( EUA,


Rússia e Portugal)48 e conversações longas em Lusaka, resultaram num outro
acordo de paz, o Protocolo de Lusaka, assinado a 20 de Novembro 1994, pelo
46
CONCILIATION, Resources, o processo de paz angolano, Londres 2018, P18
47
A representante Especial da ONU, Margaret Anstee argumentava que ; os países mais intimamente ligados a
Angola queriam verdadeiramente que a paz fosse restaurada, mas queriam uma solução rápida particularmente as
duas super-potências.
48
PITRA, Luzia. Angola etnias e nação. os caminhos difíceis da regularização do conflito armado interno.
Moscovo. 2003. P 197
21
Ministro das Relações Exteriores Venâncio da Silva Moura e pelo Secretário-
geral da UNITA, Eugénio Manovacola49. Nem mesmo com este acordo a guerra
havia chegado ao fim.
Apesar das sanções internacionais contra as redes de
abastecimento da UNITA, Jonas Savimbi mostrava-se relutante em abandonar a
operação Militar. Após quatro anos nem paz nem guerra, a guerra recrudesceu
em Dezembro de 1998. O governo angolano liderado pelo MPLA, oficialmente
um governo de unidade e reconciliação nacional, em que alguns políticos
pertencentes a UNITA participaram, desenvolveu uma ofensiva que culminou
com a morte de Jonas Savimbi a 22 Fevereiro de 2002. A Rússia na qualidade
de membro da Troika de observadores do processo de Paz em Angola realizou
um trabalho nesta direcção tanto no quadro das Nações Unidas como na troika
de observadores internacionais50, fez-se representar e testemunhar a assinatura
do Acordo de Paz, no dia 4 de Abril de 2002, em Luanda. Assinou-se o
Memorando do Luena que marcou o fim de quatro décadas de guerra e a derrota
final da UNITA.

2.3. Caracterização geográfica da Federação da Rússia e suas


poltencialidades económicas

49
FERNANDES, Ana Paula. EUA e Angola: a Diplomacia Económica do Petróleo, 1ª Edição. Brasil. Editora
Principia. 2004.P 68.
50
KHAZANOV, Anatoliy. 40 anos juntos. Moscovo ,29 de Março de 2001. P.82
22
A Federação da Rússia é o maior país do mundo e o nono mais
populoso, com 142 milhões de habitantes51. A sua localização geográfica
estende-se pela Europa Oriental e toda Ásia Setentrional e por várias zonas da
Ásia Central e Oriental, tornando-a bicontinental. A sua extensão geográfica é
de 17.075.400 km252. A sua capital é Moscovo, a sua língua oficial é o russo,
tendo mais 31 línguas co-oficiais. As principais cidades são Moscovo, São
Petersburgo, Volgogrado,Yekaterinburg, Vladivostok e Sochi.
Actualmente a Federação da Rússia é composta por mais de 14
Estados. Possui 11 fusos horários diferentes. A Rússia faz fronteira com os
seguintes países, do noroeste para o sudeste: Noruega, Finlândia, Estónia,
Letónia, Lituânia, Polónia, Bielorrússia, Ucrânia, Geórgia, Azerbaijão,
Cazaquistão, China, Mongólia e Coreia do Norte. Também tem fronteiras
marítimas com o Japão, pelo Mar de Okhotsk e com os Estados Unidos da
América (EUA), pelo Estreito de Bering 53. A Rússia é banhada pelos oceanos
Glaciar Árctico e o Pacífico, a sua costa estende-se por mais de 37.000 km. A
Federação da Rússia possui mais de 100 nacionalidades, entre as quais 81,5%
são russos, 3,9% são tártaros, 1,4% ucranianos,0,8% bielorrussos, 0,6% alemães,
tchechenos, judeus e inguches.

Do ponto de vista económico a Federação da Rússia dispõe de


uma grandr quantidade de recursos energéticos (petróleo, carvão, gás naturale
hidroenergia), e minerais (cobalto,crómio, cobre, ouro, chumbo, manganésio,
51
Religião: cristianismo 59,1%, sem religião 26%, islamismo 7,9%, ateísmo 5%, outras religiões 2%
52
Com o desmembramento da URRS, a Federação da Rússia foi considerada a herdeira legítima, que além deste
Estado criou mais 14 novos Estados: Azerbaijão, Arménia, Belarus, Cazaquistão, Estónia, Geórgia, Letónia,
Lituânia, Moldóvia, Quirguistão, Tadjiguistão, Turquemenistão, Ucrânia e Uzbequistão.
53
BONIFACE, Pascal. Atlas de Relações Internacionais. Lisboa, Plátano Edições, 2000, PP. 108 – 109.
23
níquel,platina, volfrâmio, vanádio e o zinco)54. A silvicultura e a actividade
piscatória têm um grandr peso na estrutura económica russa, uma vez que esta
nação tem maior reserva florestal do mundo e acesso aos oceanos A tlântico e
Pacífico.
Por outro lado, a economia russa é caracterizada também pelo
forte potencial no sector militar, industrial e científico55. É um dos maiores
vendedores de armamento militar para muitos países tais como a China, a Índia,
o Vietname, a Venezuela e outros Estados que têm interesse em desenvolver a
cooperação técnico-militar com a Federação da Rússia como é o caso de
Angola.
Na década de 2000, implementou-se a economia de mercado
moderna, o Estado conseguiu altas taxas de crescimento económico,
beneficiando-se do aumento nos preços do petróleo e de gás, conseguiu pagar
parte da sua dívida externa, e aumentou significativamente as suas reservas
monetárias internacionais56. Entretanto, a economia russa é extremamente
dependente da exportação de petróleo, responsável por cerca de 80% das
exportações do país.
A Federação da Rússia faz parte do grupo BRICS, que integra os
países de economias emergentes,57 e, segundo as estimativas económicas, 40%
dos recursos naturais do mundo estão concentrados na Rússia.

2.4. Da U.R.S.S a Federação da Rússia

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) foi criada


em 1922 pelos Bolcheviques liderados por Vladimir Lenine e surgiu como
54
A Federação da Rússia tem a maior reserva de gás natural do mundo, e uma das maiores reservas de carvão e
petróleo, embora seja a 11ª economia mundial.
55
A Rússia tem um papel geopolítico muito importante é o segundo país mais armado do mundo a seguir dos
EUA, é uma das potências espaciais e faz parte do clube nuclear.
56
https://brazil.mid.ru/web/brasil_pt/economia consultado no dia 21 de Janeiro de 2019 às 04:41.
57
São considerados emergentes aqueles países subdesenvolvidos que apresentam quadros de crescimento
económico próspero e características socioeconómicas diferente das demais economias periféricas.
24
resultado da revolução que transformou a Rússia numa nação socialista em
191758.

O império russo precisou disputar ‘‘o grande jogo’’ contra o


império Britânico pela hegemonia sobre a região. As conquistas obtidas na fase
imperial, conferiram as elites russas uma noção de supremacia inata do país,
como se a Rússia estivesse destinada, ao longo dos séculos, a permanecer como
um dos centros decisórios do sistema internacional 59. Tal factor influencia a
política externa russa até os dias de hoje.

A nível interno, grandes transformações de natureza económica,


política, institucional e cultural foram realizadas, que transformou o país numa
superpotência altamente industrializada capaz de feitos notáveis nos domínios
militar e aeroespacial60. Quanto a Política Externa, a URSS resistiu bravamente
ao ataque Alemão durante a Segunda Guerra Mundial, contribuindo
decisivamente para a vitória dos aliados.

Em 1985 Mikhail Gorbachev procurou reformar o sistema


político-económico soviético. Em 1987 lançou os planos da «Perestroika»
(reconstrução) e «Glasnost» (transparência)61.O país abandonou o monopólio do
poder do partido comunista e promoveu a democratização e o pluralismo do
sistema político.

Tendo em vista vários factores como a política do regime de não


colaborar com os outros partidos comunistas europeus, além da falta de um
planejamento claro de longo prazo por parte do Governo, a reformulação
pretendida fracassou.
58
BONIFACE, Pascal. Atlas de relações internacionais. Plantano edições, Lisboa. 2000. P.108
59
VICENTINI, Paulo, Adam, Gabriel. Vieira, Maíra. Silva, André. Pereira, Ana lúcia. BRICS: As potências
emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Editora vozes, Petrópolis. 2013. P.40.
60
Idem. P.41.
61
A Perestroika, foi em conjunto com a Glasnost uma das políticas introduzidas na URSS por Mikhail
Gorbachev em 1986, literalmente significa reconstrução, recebeu a conotação de reconstrução econômica de
1986-1991, ao passo que a Glasnost, a liberdade de expressão à imprensa soviética, e a transparência do governo
para população, retirando a forte censura que o governo comunista impunha.
25
A evolução dos acontecimentos acarretou o fim do bloco
comunista e o desmembramento da URSS, ocorrida a 25 de Dezembro de
199162. Boris Yeltsin assume o poder no mesmo ano e torna-se o primeiro
Presidente da Federação da Rússia.

Foi no contexto pós Guerra Fria, que surgiu a Federação da


Rússia com o fim da URSS em 1991 63. Com um passado imperial, a URSS foi o
primeiro Estado comunista do sistema internacional, e perdeu então, o estatuto
de superpotência64 experimentada no período da Guerra Fria.

No que concerne ao campo diplomático, desenvolveu-se a


doutrina Kozyrev, que procurava adaptar o posicionamento internacional da
Rússia à ordem mundial unipolar, com grande tendência para a cooperação com
o Ocidente e a adaptação ao mundo capitalista para o desenvolvimento russo.

Apesar do difícil contexto vivido após o fim da URSS, os anos de


transição acabaram por ajudar a delinear linhas mestras de actuação da
Federação da Rússia, designadas como política multivectorial cujas bases foram
expressas por Ievgueni Primakov65. Para Primakov, se a Rússia quisesse manter-
se entre as grandes lideranças mundiais ela deveria orientar-se por esta política
multivectorial66, o que significa a organização de áreas preferenciais de actuação
com uma ênfase geopolítica, sendo o espaço pós-soviético como prioritário,
tendo o vector ocidental como o de maior relevância.

Como se pode verificar, a política externa67 da Federação da


Rússia norteada para questões sistémicas é pautada pela coerência, pelo menos

62
Visto como a maior catastrófe geopolítica do século XX.
63
Foi a 8 de Dezembro de 1991, que ocorreu a assinatura da dissolução da URSS entre os líderes da Ucrânia,
Bielorrússia e Rússia.
64
Uma única superpotência passou a existir: os Estados Unidos da América
65
Primakov foi ministro dos negócios estrangeiros da Rússia entre 1996-1998.
66
FREIRE, Maria Raquel, Política Externa russa no interdoméstico uma abordagem construtivista. P.38
67
A Federação da Rússia projecta a sua política externa baseada na sua história, sobre tudo influenciado pela sua
geopolítica, cuja localização geográfica estende-se pela Europa Oriental e toda Ásia setentrional e outras áreas
da Ásia Central e Oriental, faz com que a Federação da Rússia seja o maior actor da geopolítica mundial.
26
desde 2003, uma vez que as suas acções estão de acordo com os objectivos do
país. Apesar do sentimento de grandeza que permeia a alma russa estar presente
nas declarações de seus governantes no conceito de política externa de 2000 e
200868, a Rússia dá a nítida impressão que por trás de tudo isto existe uma noção
exacta das limitações que o país possui, as quais já não são as mesmas dos anos
90, mas subsistem.

No contexto interno, a Federação da Rússia apresenta grandes


dificuldades como, a manutenção de uma economia voltada para os recursos
energéticos, o problema populacional, o crime organizado e a corrupção. Ao
longo dos anos 2000, a trajectória de enfraquecimento do Estado Russo passa a
inverter-se devido à ascensão de forças políticas, representadas pela figura de
Vladimir Vladimirovich Putin, que lideraram um processo de recuperação
nacionalista69.

Portanto, os desafios que se colocam no presente e no futuro à


Federação da Rússia estão associados directamente as perspectivas do país,
sobretudo no que concerne ao seu maior objectivo; retomar a condição de
grande potência e se tornar um dos pólos emanantes de poder no sistema
internacional numa ordem multipolar.

2.4.1. A relação entre a URSS e o MPLA


A relação entre os países socialistas com o MPLA foi muito
intensa. Em 1961 a URSS recebe os primeiros estudantes bolseiros da União

68
O objectivo primordial, a estratégia e as principais tácticas da política externa delineadas no Governo de
Vladimir Putin se mantiveram inalteradas durante o Governo de Dimitri Medvedev.
69
SILVA, Pedro Allemand, Para uma geopolítica do Árctico os desafios da estratégia russa diante de um Árctico
em transformação. Rio de Janeiro. Março de 2019. P 63.
27
Geral dos Estudantes da África Negra (UGEAN), dentre os quais encontravam-
se vários angolanos do Movimento Popular de Libertação de Angola70.
Em 1961, um grupo de dirigentes do MPLA, dentre eles Mário
Pinto de Andrade na altura Presidente interino e Viriato da Cruz, Secretário-
Geral, deslocaram-se para Moscovo com o objectivo de pedir apoio em armas,
desde então deu-se o início de uma cooperação devido as boas impressões que
os mesmos deixaram71. A União Soviética cuja política externa era de apoio aos
Movimentos de Libertação Nacional72 da esquerda não hesitou em dar o seu
apoio MPLA.
Em 1965 a direcção do MPLA enviou guerrilheiros para
frequentarem cursos da Marinha de Guerra e da Força Aérea na Polónia e na
União Soviética. A União Soviética dispensou alguns do seus navios e aviões
para o transporte de armamentos e medicamentos para apoiar a luta de libertação
nacional conduzida pelo MPLA.
Em 1972, Agostinho Neto assinou um acordo com Holden
Roberto com o objectivo da criação de uma frente única entre o MPLA e a
FNLA, que lutasse contra Portugal. O acordo previa que Holden Roberto
encabeça-se a direcção e Agostinho Neto seria o “número dois”.Tanto no
MPLA, como em Moscovo, a notícia não foi bem acolhida. A URSS diante
dessa desconfiança em relação a Neto e os problemas internos do MPLA, tinha
cancelado todo apoio ao MPLA, que só viria a ser retomado em 1974.

Devido a uma forte análise que a URSS havia feito do contexto


em que se encontrava Angola, ou seja, com o enfraquecimento do MPLA em
decorrência da revolta de Chipenda73, o 25 de Abril em Portugal, os apoios que
70
FRANCISCO, Alberto André. A Política Externa de Angola durante a Guerra Fria (1975-1992), Brasília.2013.
P 42
71
GRENNADIEVITCH. Shubin, o papel decisivo das forças progressistas na Luta de Libertação de Angola e a
influência da URSS na defesa das conquistas do Povo angolano na arena internacional. Moscovo. 2005.
72
Artigo 28º da constituição da União Soviética
73
Daniel Chipenda foi o primeiro Presidente da JMPLA e conhecido pela sua luta na independência de Angola.
Em 1974, Chipenda abandonou o MPLA pelas dificuldades de relacionamento que tinha com Neto, o que fez
28
os EUA forneciam a FNLA e a União para Independência Total de Angola
(UNITA), era evidente que os EUA poderiam colocar como líder em Angola,
alguém a seu favor. Deste modo, a URSS retoma o seu apoio directo ao MPLA
de Neto74.
Em Janeiro de 1984, a URSS anunciou a assinatura de novos
acordos militares com Angola. Estes visaram contribuir para a preservação da
independência e integridade territorial de Angola. O MPLA demonstrava assim
que, numa lógica de Guerra Fria o seu aliado era a URSS. Foi neste contexto
que Moscovo encorajou em 1987, uma operação de grande envergadura para
eliminar a UNITA no Sudeste de Angola.
Entretanto, no período da Guerra Fria, a URSS e os EUA
disputaram o controlo dos países geoestratégicos importantes, sendo Angola um
dos mais referenciados neste domínio. A Rússia concedeu maior parte do apoio
dado ao MPLA na luta armada nos períodos pré e pós-independência de Angola
auxiliando na construção e reconciliação Nacional, participando activamente na
formação, inicialmente de guerrilheiros e posteriormente de quadros.
Evidentemente após a sua independência, Angola governada pelo MPLA,
passou a pertencer ao grupo de países de influência do antigo Bloco do Leste,
liderado pela ex-URSS.

No segundo capítulo fez-se um enquadramento histórico sobre os


antecedentes históricos das relações entre a República de Angola e a Federação
da Rússia. Descreveu-se geograficamente os dois países e suas potencialidades
económicas. Abordou-se de igual modo como a URSS deu a revira volta e
transformou-se na Federação da Rússia. Espelhou-se também sobre a relação
com que lidera-se a “Revolta do Leste”, em que 1500 combatentes abandonassem o MPLA.
74
MBIANGA, Donato. Professor do Instituto de Relações Internacionais de Angola-MIREX. Política externa de
Angola, 15 de Janeiro de 2013, Luanda, entrevista concedida a Alberto André Carvalho Francisco.
29
entre a URSS e o MPLA e o apoio prestado ao governo angolano durante o
conflito interno. Abordou-se também a forma como decorreu o processo de
pacificação e reconciliação nacional para alcançar a independência de Angola e
posteriormente a Paz difinitiva a 4 de Abril de 2002 com assinatura do
Memorando do Luena.

CAPÍTULO III – O CONTRIBUTO DA DIPLOMACIA RUSSA NO


PROCESSO ANGOLANO DE PACIFICAÇÃO, RECONCILIAÇÃO E
RECONSTRUÇÃO NACIONAL

30
O presente capítulo tem como objectivo analisar as relações
político-diplomáticas entre a República de Angola e a Federação da Rússia
especificamente o contributo da diplomacia russa no processo angolano de
pacificação, reconciliação e reconstrução nacional.

3.1. Ascensão de Vladimir Putin ao poder e a sua influência no sistema


internacional.

Vladimir Putin exercia o cargo de vice Prefeito de São


Petersburgo e em Agosto de 1999 foi indicado por Boris Yeltsin para ser o
Primeiro-ministro. Por não ter um nome políticamente muito conhecido, tornou-
se mais fácil a sua aceitação no seio dos oligarcas 75 criminosos, que pouco
temiam Putin.

A chegada de Vladimir Putin ao poder foi um marco na história


da Rússia. Putin foi eleito como Presidente pela primeira vez em 2000 com 53%
dos votos.Foi Presidente por dois mandatos até 2008 passando o poder para
Dimitry Medvedev. Ao contrário dos outros políticos que disputavam com
Putin, o mesmo havia assumido uma posição assídua e firme apoiando a
segunda Guerra da República da Chechênia.

A postura fez parecer um candidato que defendia firmemente a


Lei e a ordem um alívio bem-vindo após anos de caos76.

No seu primeiro mandato, Vladimir Putin inicia sua ofensiva a


partir da reconstrução das bases do poder e orgulho nacional (bandeira e hino).
Putin além de trazer de volta a bandeira da Rússia, também trouxe projectos
sociais para beneficiar os mais pobres.
75
Estes oligarcas eram formados por três grupos: os gerentes das empresas estatais, que com a privatização em
massa, assumiram o controlo dos órgãos patrimoniais, os banqueiros privados que os serviam de intermediários
para os grandes empréstimos naquele período, e os gangsters que prosperaram com o colapso daquele momento.
Todos estes tinham como semelhança a dependência dos recursos do Estado russo e a recusa de investirem no
mesmo Estado.
76
www.notícias.uol.com.br/ultimas-notícias/deutschewelle/2018/03/19/como-putin-chegou-ao-poder-e-nele-se-
perpetua.amp.htm?espv=1. consultado no dia 27 de Julho de 2020 às 7:48
31
Ao ascender ao poder, Vladimir Putin demonstrou dinamismo,
força e muita habilidade, conseguiu melhorar a situação económica do país. Fez
um acordo com os oligarcas, desde que eles não interferissem na política, ele
não se envolveria nos negócios deles. Buscou também o apoio da igreja
ortodoxa e procurou nacionalizar as empresas mais importantes, como a
Gazprom e a deixou nas mãos de Medvedev, naquela altura seu aliado de
confiança. Não era só a economia da Rússia que estava desequilibrada. Todavia
a população também sofria muito com aquela situação, sendo marginalizada e
muito abalada com a sua perda de identidade a nível interno. Coube a Putin
tentar recuperar a auto-estima da sociedade russa no âmbito doméstico, com o
fortalecimento das instituições.

Quando Putin chega ao poder almeja uma Rússia mais


independente, com uma política mais pragmática, procura voltar uma forte
presença nas áreas da antiga influência soviética e que chocam com os interesses
da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e da União Europeia
(UE). Neste sentido Putin procura mais autonomia para melhor barganhar com o
Ocidente.

A Política Externa da Federação da Rússia conheceu três fases


após a ascensão de Vladimir Putin: de 1999-2001; 2001-2003 e 2003 em diante.
A primeira fase consiste no ano de transição do governo, seguida pela Guerra do
Kosovo (1999-2000), a primeira onda de expansão da OTAN e a segunda da
Guerra da Chechênia.

A primeira Guerra da Chechênia, travada durante a presidência


de Boris Yeltsin ocorreu entre 1994 e 1996. A guerra foi travada por Moscovo
para reafirmar o controlo da República da Chechênia que muito desejava a
independência. A segunda Guerra da Chechênia pelo lado russo pelo Presidente
32
Vladimir Putin, foi travada em defesa da liderança chechena contra os
extremistas islâmicos radicais muitos deles treinados no exterior que tentavam
derrubar o novo Governo. A Rússia só declarou vitória na Segunda Guerra da
Chechênia em 200977.

Desta forma, as acções da Rússia na Chechênia, nas revoluções


coloridas na Geórgia e na Ucrânia no início da década de 2000, na reacção à
expansão da OTAN e União Europeia sobre o Leste Europeu e o papel crescente
dos oficiais militares de inteligência e diplomatas na vida política do país são
elementos que dão os contornos da estratégia nacionalista de Putin tanto
internamente quanto externamente78. Além da defesa da multipolaridade, desde
2000 a Rússia tem privilegiado outras tácticas de actuação da sua Política
Externa79.

No princípio do seu mandato, Putin deixou claro que Moscovo


negociaria com qualquer Estado do sistema internacional, caso isso viesse a
atender os interesses russos. Factores como forma de governo, religião, ou
mesmo histórico de relações com a Rússia não seriam sobrepostos às vantagens
que esta ou aquela interacção poderiam trazer a Moscovo80.

No seu primeiro mandato Vladimir Putin fortaleceu sectores


como a electrónica, engenharia, petroquímica, agricultura, e muitos outros.
Elevou o PIB, aumentou a renda, modernizou o exército e solucionou a guerra
de Chechênia. Putin deu uma nova dinâmica à Rússia, promoveu melhorias
internas e externas e trouxe a Rússia de volta ao tabuleiro das Relações
Internacionais. A Rússia procura ter o seu espaço de influência respeitado pelo
Ocidente e o Ocidente tenta contê-la porque se sente ameaçado pela Rússia.
77
www.aljazeera.com/ indepth/ features/2014/12 chechenya-russia-20-years-conflict-2014/12.html. consultado
no dia 8 de Agosto de 2020 à17:36.
78
SPERANCETE, Luiz. Nacionalismo e a Política de Poder na Rússia de Vladimir Putin. São Paulo.2017. P.151
79
A primeira táctica é o pragmatismo, a segunda possui ligação directa com os recursos energéticos russos, a
terceira táctica é a valorização da sua posição geográfica eurasiana.
80
VICENTINI, Paulo, Adam, Gabriel. Vieira, Maíra. Silva, André. Pereira, Ana lúcia. BRICS: As potências
emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Editora vozes, Petrópolis. 2013. P.51
33
Um dos principais feitos da ‘‘Era de Putin’’ foi a expansão do
mercado interno da Rússia, o que, consequentemente, refuta a ideia de que
somente a venda de petróleo e gás para a União Europa teria alavancado a
economia do país. Pelo contrário, a venda de petróleo e gás foi importante factor
para a entrada de divisas internacionais, mas a expansão do mercado interno
fora, talvez o efeito mais impactante da política económica de Putin e seu
Governo81.

3.2. Visitas oficiais e o estreitamento das relações diplomáticas

A República de Angola e a Federação da Rússia têm relações


diplomáticas privilegiadas há várias décadas. A primeira visita oficial à
Federação da Rússia foi feita pelo primeiro Presidente da República de Angola,
António Agostinho Neto que efectuou uma visita em Setembro de 1977. Um ano
antes, em Outubro de 1976, Agostinho Neto já estivera em Moscovo para
assinar o Tratado de Cooperação e Amizade entre Angola e a URSS. José
Eduardo dos Santos visitou oficialmente a Rússia em 1979 e 2006 com vista a
aprofundar as relações bilaterais com a finalidade de estreitarem as relações
diplomáticas82.

81
Idem. P. 52

82
Histórico das relações entre a República de Angola e a Federação da Rússia.
34
Em Dezembro de 2000 chega à Luanda uma delegação russa,
chefiada pelo vice primeiro-ministro da Federação da Rússia, Ilya Klebanov,
para uma visita oficial de quarenta e oito horas destinada ao reforço da
cooperação entre os dois países. No ano seguinte peritos da comissão mista de
cooperação económica e técnico-científica «Angola-Rússia» avaliaram em
Moscovo o estado das relações entre os dois países e prepararam o encontro de
titulares83.

Em 2005, o Vice-presidente da Assembleia Federal da Rússia,


câmara baixa do parlamento Gueorgy V. Boos, chega à Luanda, para uma visita
oficial de três dias a Angola a convite do Presidente da Assembleia Nacional,
Roberto Victor de Almeida. Em Junho de 2006 o Chefe do Estado Maior das
Forças Armadas Angolanas (FAA), general Agostinho Fernando Nelumba
``Senjar´´ é condecorado, em Moscovo com a medalha da União dos Veteranos
Russos que prestaram serviço em Angola pelo seu contributo no fortalecimento
da amizade e cooperação entre os povos de Angola e da Rússia e entre as forças
armadas de ambos os países84.

Na visita que o chefe do Estado angolano efectuou a Federação


da Rússia no final de 2006, foram assinados dez acordos dentre eles: o
Memorando de compensação mútua entre a companhia Lukoil Overseas
Holding e a Sonangol, e protocolo de cooperação entre a companhia
diamantífera Alrosa e a Endiama, Memorando de entendimento entre a
Sonangol e a Gazprom entre outros. No mesmo ano o Presidente da República
de Angola é condecorado em Moscovo com a insígnia da Ordem da Amizade,
em reconhecimento à sua contribuição no desenvolvimento das relações de
cooperação e amizade entre ambos os países85.

83
www.portaldeangola.com consultado no dia 16 de Julho de 2020 às 12:20.
84
www.portaldeangola.com consultado no dia 16 de Julho de 2020 às 12:20.
85
www.embaixadadeangola.org consultado no dia 23/04/20 às 07:10.
35
Como consequência natural da intensificação das relações entre
os dois países e, como define o protocolo em resposta à visita feita pelo
Presidente da República José Eduardo dos Santos à Federação da Rússia em
2006, o Presidente Russo Dimitri Medvedev visitou Angola em 2009. O
Ministro da Defesa Nacional, João Lourenço, recebeu Outubro de 2014 em
Luanda uma obra que reúne Cartas Topográficas usadas pelas (FAPLA) durante
a luta de libertação nacional, e na defesa da soberania. A obra que agrupa toda
topografia nacional veio do museu militar da Federação da Rússia e foi entregue
pelo Presidente das Associação dos veteranos russos na Guerra em Angola,
Vadim Sagatchko. Durante a cerimónia foram outorgados com medalhas 21
generais das Forças Armadas angolanas (FAA) no activo e na reserva que
passaram a fazer parte da referida Associação 86. “A vitória merecida dos
angolanos nas duas frentes de combate não teria fruto sem a ajuda do povo
russo”87.

3.3. Acordos de cooperação

Os instrumentos jurídicos assinados entre a República de Angola


e a Federação da Rússia são o reflexo da vontade dos dois países em fazer
crescer o conteúdo material às excelentes relações político-diplomáticas. O
primeiro acordo entre a República de Angola e a Federação da Rússia
denominado Tratado da Amizade e Cooperação, foi assinado a 8 de Outubro de
1976.

A 16 de Novembro de 2004, os dois países rubricaram, em


Luanda, um acordo para o relançamento da cooperação nos domínios
económico, técnico-científico e no dia seguinte, criaram a comissão
intergovernamental de cooperação económica, técnico-científica e cultural. O
Banco Russo de Comércio Externo (VTB) assina em Luanda um protocolo de

86
www.embaixadadeangola.pt/angola-agradece-apoio-governo-russ/consultado no dia 22/04/2020 às 4:07.
87
João Lourenço na altura ministro da Defesa Nacional
36
intenções com o Banco Nacional de Angola, com vista a instalar-se no país e
aproveitar o ambiente favorável para fazer negócios.

No dia 4 de Junho de 2009, os dois Estados assinaram um acordo


sobre Promoção e Protecção Recíproca de Investimentos;onde nenhuma das
partes contratante deverá no seu território prejudicar por medidas arbitrárias ou
descriminatórias o uso, o gozo, ou disposição de investimentos dos investidores
da outra parte contratante88. Os dois países assinaram também acordos sobre
Serviços Aéreos, Programa Plurianual de Cooperação Económica, acordos no
domínio do ensino superior e formação de quadros, Técnico-Científico e Militar
e Cultural para o período 2009-201389.

Angola e a Rússia rubricaram de igual modo no dia 4 de Junho


de 2009 um memorando de cooperação técnica entre o Ministério da Geologia e
Minas dos dois países, e outro entre a Secretaria de Estado para o Ensino
Superior de Angola e o Ministério da Educação da Rússia sobre a cooperação no
domínio do Ensino Superior e Formação de quadros90.

Os dois países assinaram também no dia 4 de Junho de 2009 um


acordo no domínio das Telecomunicações, que vai permitir a colocação em
órbita do primeiro satélite angolano com a ajuda da Rússia91.

Os investimentos públicos e privados entre os dois Estados


podem crescer nos próximos tempos, em função do acordo que protege o
investimento recíproco. Após profundas alterações políticas e socioeconómicas

88
Artigo 4º ponto 3.do acordo entre o governo da Federação da Rússia e a República de Angola sobre promoção
e protecção recíproca de investimentos. P.4
89
https://macauhub.com.mo/pt/2009/06/04/potugues-angola-governos-de-luanda-e-moscovo-negociam-novos-
instrumentos-juridicosdecooperacao.Consultado no dia 28 de Agosto de 2020 às 15:09.
90
Jornal Bimestral da actualidade angolana, Mwangolé. Edição dos serviços de imprensa da embaixada de
Angola em Portugal, Maio/Junho de 2009. P.3
91
Jornal Bimestral da actualidade angolana, Mwangolé. Edição dos serviços de imprensa da embaixada de
Angola em Portugal, Maio/Junho de 2009. P.4
37
operadas nos dois países, as relações de cooperação entre Angola e a Rússia
desenvolvem-se numa base completamente diferente da que sustentava as
relações com a ex- URSS pautando-se actualmente por uma lógica comercial92.

As relações político-diplomáticas, técnico-científicas e de


cooperação económica mutuamente vantajosas existentes entre os dois países
são um exemplo de novo espírito que deve presidir ao relacionamento entre
Estados soberanos. São muitos domínios em que a cooperação entre ambos os
países se assenta, sendo os mais significativos os da geologia e minas, enérgia,
defesa,interior, banca e finanças, ensino superior, telecomunicações, pescas e
transportes.

3. 4. A importância geoestratégica para ambos os países

Angola tem mostrado a vontade de querer se desenvolver em


vários domínios, o que é justificado com vários acordos que têm assinado com
muitos países como a Federação da Rússia. A Rússia mostra-se preponderante
para o desenvolvimento de Angola. Angola vê com bons olhos a cooperação no
domínio económico-comercial, energético, da formação de quadros, e na
assistência técnica no sector militar e o desenvolvimento no sector da segurança,
sobretudo pelo poderio militar russo.

A República de Angola é um dos países mais importantes de


África, com vias de comunicação que ligam o cabo ao Cairo. Desta forma a
Rússia mantém por perto um aliado que lhe dá acesso a um mercado com 1,2

92
https://macauhub.com.mo/pt/2009/06/04/potugues-angola-governos-de-luanda-e-moscovo-negociam-novos-
instrumentos-juridicosdecooperacao.Consultado no dia 28 de Agosto de 2020 às 15:09.

38
mil milhões de habitantes, num continente com recursos naturais cada vez mais
escassos e valiosos93.

Angola é considerada potência regional a nível do continente


africano, não só pela quantidade de recursos que possui, mais também pela
forma como se relaciona com outros países da região e não só. Angola é um dos
países de importância primordial para a Política Externa russa no continente
africano. A Rússia está disposta a participar no desenvolvimento e reforçar as
relações as relações multilaterais com a República de Angola 94. Angola tem
muita influência nas grandes organizações regionais africanas, sobretudo nos
países vizinhos.

Por outro lado, no domínio da cooperação para o


desenvolvimento a Rússia participa como membro fundador do grupo BRICS
das economias emergentes, que procuram estabelecer uma soluçãoalternativa
para uma ordem mundial mais justa e equitativa.

A Rússia é membro permanente do Conselho de Segurança da


ONU95, possui poder de veto, o que significa que grande número de questões
fundamentais da agenda internacional não pode ser solucionado sem a
Federação da Rússia96.

Nós estamos a exprimir a esperança de que um novo milénio de


esforços conjunto dos nossos países contribuam para o estabelecimento de uma

93
www.novojornal.co.ao/opiniao/interior/nao-ha-almocos-gratis-79792.html consultado no dia 04 de Agosto de
2020 às 12:58.
94
SREDIN. V.D. 40 anos juntos 1961-2001. Documentário da conferência científica prática. Moscovo, 29 de
Março de 2001. P.80.
95
Os cinco membros permanentes do conselho de segurança da ONU são: os EUA, a Federação de Rússia, a
China, a França e a Grã-Bretanha. Foram os vencedores da Segunda Guerra mundial.
96
STONE,Oliver. As entrevistas de Putin.1ª Edição. Editora Best seller. Rio de Janeiro, 2017. P 153.
39
ordem mundial justa baseada no cumprimento da Carta da Organização das
Nações Unidas, do Direito internacional e da igualdade de todos os membros da
comunidade internacional97.

Assim sendo, a Federação da Rússia é uma potência mundial. A


segurança nuclear internacional não pode ser garantida sem a Rússia 98. Nem é
possível solucionar globalmente questões relacionadas à energia99. Desde a sua
adesão na Organização das Nações Unidas em 1976 e durante os dois mandatos
como membro não permanente do conselho de segurança da ONU 100, Angola
sempre contou com o apoio da Federação da Rússia nos areópagos
internacionais. É de grande relevância que Angola reforce laços políticos e
económicos com a Federação da Rússia.

3.5. O contributo da Diplomacia Russa no processo angolano de


pacificação, reconciliação e reconstrução nacional

Angola ocupa um lugar de destaque no contexto da Política


Externa da Federação da Rússia. A ex- União Soviética desempenhou um papel
preponderante na história de Angola quando em 1960, Vassili G. Salodovnikov
na qualidade de representante da União Soviética votou e por sua iniciativa fez
aprovar nas Nações Unidas a declaração sobre o direito dos povos 101 sob jugo
colonial, a autodeterminação, independência e o apoio subsequente que prestou
à luta de libertação nacional do povo angolano, com principal incidência no
fornecimento de equipamento militar para a guerrilha e na formação de
quadros102.

97
Intervenção do Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia V.D. Sredin durante a
conferência do 40º aniversário do início da luta armada de libertação nacional em Moscovo.
98
Entre 2000 e 2014 foram vetadas nove resoluções. Dentre as nove resoluções vetadas pela Rússia, seis
igualmente tiveram a sua aprovação impedida pela China.
99
Op.cit. P.43
100
Angola foi membro não permanente do conselho de segurança das Nações Unidas por duas vezes 2003-2004
e 2015-2016. Angola foi eleita para o segundo mandato no dia 16 de Outubro de 2014, com 190 votos dos 193
membros da ONU
101
Artigo 1º ponto número dois da Carta da Organização das Nações Unidas.
102
BRAGANÇA, Tó. A luta pela libertação dos PALOP- apoio da URSS/Rússia. Moscovo, Abril de 2005.
40
O processo angolano de pacificação, reconciliação e reconstrução
nacional contou com o apoio da Rússia, que também já tivera apoiado o MPLA
no decurso da luta armada de libertação nacional e o no período pós
independência de Angola. A diplomacia russa actuou como parte do mecanismo
internacional para o alcance da Paz. Como membro do Conselho de Segurança
das Nações Unidas sempre apoiou o governo angolano no conflito contra o
regime racista sul-africano e a UNITA. De igual modo, nas questões
relacionadas a Paz, a Rússia alinhou as suas acções no sentido de se privilegiar a
negociação para o alcance da Paz103.

A Rússia fez parte dos mecanismos internacionais criados para a


observação do processo de pacificação em Angola, como as conversações
tripartidas que culminaram em 22 de Dezembro de 1988 em Nova York, tendo
constituído a primeira fase para a obtenção da paz ao determinar a retirada das
tropas cubanas de Angola e aplicação da resolução 435 do Conselho de
Segurança da ONU que permitiu a independência da Namíbia.

A Federação da Rússia, sendo membro influente do Conselho de


Segurança da ONU, prestou uma valiosa contribuição no processo de Paz em
Angola. Ainda na fase preparatória da missão da ONU (UNAVEM) em Angola
participaram observadores militares russos que tiveram a tarefa de criar
condições para o desdobramento completo da missão. Os oficiais cumpriam a
sua missão de manutenção da Paz na composição das equipas multinacionais
que operavam em todo território nacional104.

Seguiram-se as negociações directas entre o governo e a UNITA


que conduziram aos Acordos de Bicesse a 31 de Maio de 1991, que viabilizaram
a realização das primeiras eleições gerais em 1992. Depois das eleições,

103
Entrevista concedida pelo Professor do Instituto Superior de Relações Internacionais«Venâncio de Moura»,
Mestre Cristóvão António Bragança no dia 19/11/2020 às 12:30
104
DRANICHNIKOV, Georgui. 40 anos juntos. observadores russos nas operações militares da ONU. Moscovo,
Março de 2001. P. 127
41
Savimbi não aceita os resultados e volta à Guerra . Surgiu um novo ciclo de
negociações. A Rússia fez parte da Troika de observadores do processo de
pacificação em Angola juntamente com os EUA e Portugal105.

Em 2001, a Rússia estendeu a sua mão solidária, tendo


respondido favoravelmente aos apelos do governo angolano para a urgente
necessidade de formação de quadros capazes de assegurarem o funcionamento
das instituições nacionais106. Desenvolve-se com êxito a cooperação no ramo
diamantífero, técnico-militar e nos outros domínios como da energia, das pescas,
da educação e ensino e da medicina. Continua no centro das atenções da Rússia
a questão do aumento da cooperação comercial e económica com Angola.

Os sectores dos Petróleos e Diamantes são aqueles em que os


dois Estados mantêm maior relacionamento economico-comercial com especial
enfoque na importante presença do gigante mundial dos diamantes russos, a
Alrosa nas minas angolanas107.

No campo dos investimentos a Rússia é responsável pela


prospecção de mais de 60% do diamante angolano, atavés de uma participação
na Alrosa em parceria com a Empresa Nacional de Diamantes ( ENDIAMA)
desenvolvem formação de quadros angolanos nos domínios militares e
engenharias. Está presente também na exploração de diamantes no projecto
Catoca o 4º maior kimberlito do mundo a céu aberto com um diâmetro de perto
de um quilómetro uma área mais de 64 hectares 108. O governo angolano e os

105
Entrevista concedida pelo Professor do Instituto Superior de Relações Internacionais«Venâncio de Moura»,
Mestre Cristóvão António Bragança no dia 19/11/2020 às 12:30
106
Revista Ásia e África Hoje, edição especial Angola 25 anos de independência. Moscovo.Outubro de 2001.
P.44
107
www.embaixadadeangola.org
108
A Sociedade Mineira de Catoca é uma companhia de prospecção, exploração, recuperação e comercialização
de diamantes detida pela empresa estatal angolana Endiama, a russa Alrosa e a LLI Holdings-China. A mina em
operação desde 1989, está localizada em Angola na província da Lunda Sul e no município de Saurimo é o 4º
maior kimberlito do mundo.
42
empresários russos estão presentes também no sector financeiro principalmente
por via do Banco VTB-África, e cooperam também no domínio da formação de
capital humano109.

A Rússia está presente na exploração do Jazido «Catoca» possui


grandes reservas de mineiro, com elevado rendimento de diamantes que
permitirá o funcionamento da empresa durante muitos anos. Pode-se afirmar que
«Catoca» constitui o eixo de cooperação económica bilateral sendo a sua
actividade um importante contributo para o desenvovimento das relações
políticas, económicas, técnico-científicas entre Angola e a Rússia110.

Em breves declarações à imprensa angolana, durante o fórum


económico Angola-Rússia111, o director do departamento para África do
Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguey Kriúkov, revelou que
várias empresas russas estão interessadas em investir no sector ferroviário de
Angola, onde perspectivam abrir linhas para a circulação de comboios.

O responsável disse ainda que a Rússia tem um grande interesse


empresarial neste domínio pelo facto do governo angolano estar fortemente
empenhado na recuperação e extensão dos caminhos-de-ferro em todo país.

Se Angola estiver igualmente interessada em cooperar com a


Federação da Rússia nesse domínio, pela primeira vez na história do país o
sector dos transportes poderá contar com comboios eléctricos em funcionamento
em cerca de trinta metros a baixo do solo angolano. Existem muitas empresas

109
A cooperação entre os dois países permitiu o envio de mais de vinte mil estudantes angolanos para o ensino
médio, licenciatura e pós-graduação.
110
Revista Ásia e África hoje, edição especial Angola 25 anos de independência. Outubro de 2001. P.25.
111
O fórum económico Angola-Rússia teve como lema “Angola no século XXI: uma economia em
crescimento”ocorreu na cidade de Moscovo, com intervenções de membros do Executivo angolano e técnicos
russos ligados ao sector. O evento foi promovido pela Embaixada de Angola na Rússia, o mesmo teve como
objectivo promover as potencialidades económicas e oportunidades de investimentos no país, com vista atrair o
empresariado local.
43
russas interessadas em participar no processo de reconstrução de Angola em
vários domínios, mas o dos caminhos-de-ferro interessa muito por causa da
vasta experiência da Rússia na matéria112.

Apesar das relações a nível político-diplomático serem


excelentes e privilegiadas no que concerne ao investimento privado lamenta-se o
facto de que poucas empresas russas estejam limitadas apenas na exploração e
produção de diamantes, ao sistema financeiro e a construção de barragens
hidroeléctricas. Angola tem todo interesse em alterar esse quadro através do
estabelecimento de parcerias político-privadas ou da criação de empresas mistas
angolana-russas com realce nos domínios da indústria transformadora, agro-
indústria, das pescas, da enérgia, do turismo, da geologia e minas entre outros
sectores tidos como prioritários.

As relações entre a República de Angola e a Federação da Rússia


remontam à época colonial, Angola anissou um Tratado de Amizade e
Cooperação com este país em 1976, tendo assim o seu primeiro acordo bilateral.
As relações diplomáticas entre os dois países têm resistido, apesar da abertura da
República de Angola aos ideais ocidentais113.

Sem disprimor para os notáveis progressos conseguidos pela


diplomacia dos dois Estados, relativos à dinamização de uma cooperação
económica, é necessário que Angola estabeleça e reforce as bases institucionais
que auxiliem no processamento e no trabalho burocrático associado 114. Quanto
ao investimento russo em Angola é dominado, sobretudo, por duas empresas
estatais, a Alrosa e a Vneshtorgbank (VTB), que têm respectivamente,
actividades nos sectores da geologia e minas ( diamantes) e na banca.115
112
A Russian Railways é a segunda maior compahnia ferroviária do mundo, com 0.950 mil funcionários e um
monopólio dentro da Rússia depois dos Estados Unidos da América.
113
Jornal, O País, 5 de Fevereiro de 2016. P. 47
114
Idem
115
Esta inspiente colaboração económica pode ser explicada pelas dificuldades criadas com a barreira linguística;
com a falta de experiência e de conhecimento da política africana pelos empresários russos, com elevados custos
de transações comerciais entre os dois países, e com insuficiência de infra-estruturas de apoio às exportaçõs
44
Um dos maiores investimentos russos em Angola é realizado no
sector hidroeléctrico. Neste destaca-se o projecto relativo à construção da central
hidroeléctrica de Capanda na Província de Malanje.

A Rússia forneceu ainda aos serviços de imigração angolanos


equipamentos e sistemas para ajudar a controlar a imigração ilegal e o crime
organizado transfronteiriço116. No que diz respeito a política internacional, as
posições dos dois Estados têm estado alinhadas quanto a resolução pacifica dos
conflitos em África .

3.5. A diplomacia energética entre os dois Estados

Os recursos energéticos (Petróleo, Gás natural e Energia


Hidroeléctrica) constituem motivos de disputa entre muitos países e companhias
internacionais. Actualmente, Angola é um dos mercados mais apetecíveis a nível
do sistema internacional, sendo um Estado muito rico com os recursos acima
citados.

Angola é um dos mais importantes produtores africanos de


recursos energéticos para a economia mundial. É o segundo maior produtor
petrolífero da África subsariana, com cerca de 1,300 barris diários. O país
também se encontra na lista das 10 maiores novas descobertas de petróleo e gás
da última década segundo os dados da IHS group, antevendo o potencial de
exploração e produção. O sector energético é um dos grandes desafios do Estado
angolano para alavancar a reconstrução nacional e o desenvolvimento
económico do país.

Depois do fim da união soviética a Rússia foi procurar o saeu


espaço dentro da economia mundial e foi se destacando, sabe-se que a Rússia é

angolanas.
116
Foi criada em 2013 uma comissão intergovernamental russo-angolana, para aprofundar a cooperação
geoestratégica entre os dois países.
45
um dos maiores produtores de energia do mundo e goza de um vasto
conhecimento neste sector.

Dada a carência de energia no sistema internacional, que atinge


principalmente a maioria dos países europeus, Estados Unidos, China e Índia,
entre outros, a Rússia passou a utilizar a comercialização de petróleo e gás
natural não apenas como fonte de rendimento, mas também como meio de obter
ganhos político-diplomáticos117. O poder energético no século XXI não assenta
apenas na existência do recurso. É igualmente estratégico o capital humano e a
inovação tecnológica para extrair de forma eficiente e segura.

Por isso para que o papel de Angola na segurança energética


global se consolide e aumente, é necessário que o país participe activamente em
outras partes da cadeia de valor do sector petrolífero, criando dinâmicas que
visam acelerar a industrialização e a diversificação da própria economia,
sobretudo para mitigar os choques económicos gerados pela volatilidade do
preço do petróleo. Com efeito, Angola já vive com uma vulnerabilidade
associada ao seu perfil de comércio petrolífero.

De acordo com o Índice de Risco Geopolítico de Concentração


das Exportações Energéticas118, ou seja as exportações energéticas de Angola,
somente assentes no petróleo possuem um risco geopolítico elevado e
concentrado, devido à dependência excessiva da venda de crude à República da
China que absorve 50% do «ouro» angolano.

Angola deve diversificar os seus destinos de exportação do


petróleo, sobretudo desenvolvendo uma diplomacia energética que associe essas
relações comerciais ao estabelecimento de protocolos bilaterais para a
cooperação na formação de capital humano e de iniciativas conjuntas não apenas
117
VICENTINI, Paulo, Adam, Gabriel. Vieira, Maíra. Silva, André. Pereira, Ana lúcia. BRICS: As potências
emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Editora vozes, Petrópolis. 2013. P.40
118
Um indicador que quantifica o grau de diversificação dos destinos de venda da energia, o qual varia entre zero
(diversificação total), a um (concentração total), Angola situa-se no valor de 0,68.
46
com países compradores, mas também com os centros tecnológicos mundiais do
petróleo e do gás. Uma estratégia diplomática desta natureza aceleraria a
transferência tecnológica para o tecido empresarial e universitário angolano,
ligando-o as redes de inovação mundial na cadeia de valor da indústria.

Outro instrumento que Angola pode utilizar para aumentar a sua


relevância como actor na diplomacia energética para a segurança global é o
Tratado da Carta de Energia119. Este Acordo estabelece de forma detalhada, um
quadro legal multilateral para a cooperação de energia, compreendendo o
comércio, o investimento e o trânsito de energia, respeitando os princípios do
desenvolvimento sustentável e da soberania sobre os recursos naturais.

Em 2002 a empresa de exploração mineira russa Alrosa negociou


com o Governo angolano a concessão de licença para a produção de energia na
província da Lunda Sul. Em Maio de 2003 a companhia diamantífera russa
Alrosa e o Instituto de Investimento Estrangeiro de Angola assinaram em
Luanda um contrato avaliado em quarenta e seis milhões de dólares para a
construção da Barragem hidroeléctrica do Chicapa120.

A construção da Central hidroeléctrica no Rio Chicapa não só


permitiu desenvolver a cooperação na área de energia, que é uma nova esfera
para a Alrosa, como também possibilitou criar condições para aumentar o
rendimento da Sociedade mineira de Catoca121. Ao abrigo do acordo, foi criado
um centro de preparação profissional que formou um número considerável de
engenheiros e operários qualificados que dominam o sistema de gestão da
produção, tecnologias sofisticadas, material e equipamentos modernos.

Há uma forte participação da Rússia na construção da Barragem


hidroeléctrica do Chicapa que vai permitir desenvolver a cooperação na área de

119
TCE- tratado da carta de energia
120
www.portaldeangola.com consultado no dia 31 de Agosto de 2020 às 12:25.
121
Revista Ásia e África hoje, edição especial Angola 25 anos de independência. Outubro de 2001. P.25
47
energia. A par disso, a empresa estatal russa «Tekhnopromexport» e o
Ministério da Energia e Águas de Angola firmaram um contrato que permitiu a
construção do complexo hidroeléctrico de Capanda para produzir energia
eléctrica em quantidades necessárias para dar um novo impulso ao
desenvolvimento da economia angolana122. A água é utilizada para fins agricolas
numa zona de 120 mil hectares123.

A diplomacia energética entre a República de Angola e a


Federação da Rússia tem sido continuamente reforçada com Acordos e
protocolos nos campos da geologia e minas, do petróleo e gás e dos recursos
hídricos. No sector petrolífero e do gás, a cooperação tem sido profícua. Têm
sido apresentadas várias propostas à parte russa sobre as condições e
oportunidades de investimentos em Angola. O apoio tecnológico no campo da
localização das águas doces subterrâneas é outra das áreas abrangidas, que visa
sobretudo a protecção recíproca de investimentos e a concessão de maiores e
melhores garantias mútuas124.

Angola participou na oitava semana energética na Federação da


Rússia a participação de Angola frisou a promoção das potencialidades do país
no domínio energético trocar experiências e estabelecer contactos com as
autoridades locais sobre a cooperação no domínio energético.

Existem razões para afirmar que o permanente diálogo político e


a coincidência de interesses económicos criam uma base sólida para o
desenvolvimento de uma cooperação mutuamente vantajosa entre a Angola e a
Rússia e contribuem para o fortalecimento das relações entre os dois Estados.

Em suma, verificou-se neste capítulo que:

122
Centenas de especialistas foram formados e passaram por um curso de reciclagem na Rússia. Cerca de 2000
angolanos trabalharam na construção da central.
123
Revista Ásia e África hoje, edição especial Angola 25 anos de independência. Outubro de 2001. P.32.
124
EmbassyRA, (2003-2008)
48
Angola sempre contou com o apoio da Federação da Rússia nos
areópagos internacionais. Angola ocupa um lugar privilegiado na política
externa da Rússia, que teve um papel preponderante no seu processo de
pacificação, reconciliação e reconstrução nacional. Verificou-se ainda que a
diplomacia energética é um dos desafios para os dois Estados e que a diplomacia
energética e a cooperação bilateral entre a República de Angola e a Federação
da Rússia têm sido continuamente reforçadas com acordos e protocolos no
domínio da geologia e minas.

CONCLUSÃO

A Política Externa entende-se como o conjunto de objectivos


políticos e estratégicos que um Estado almeja alcançar a nível exterior. Por
outras palavras, o Estado procura através da Política Externa manter ou
aumentar o seu poder de influência fora do território nacional.
Na prática a Política Externa consubstancia-se no nos esforços da
diplomacia em prol dos objectivos políticos mais imediatos. A Política Externa
praticamente de todos os países visa contribuir para a paz mundial, através da
compreensão mútua.
O Estado deve preparar a sua Política Externa para melhor se
relacionar com os outros, de modos a consolidar a ordem social existente no
próprio Estado.
A diplomacia é um dos instrumentos da Política Externa de cada
País. Quer do ponto de vista da teoria política, quer no ponto de vista do Direito
Internacional e no ponto de vista histórico, a diplomacia é um instrumento ao
serviço da Política Externa, que pode ser entendida como o conjunto das
decisões e acções de um Estado em relação ao domínio externo.

49
Após a Guerra Fria surgiu a Federação da Rússia com o
desmembramento da URSS em 1991. Com um passado imperial, a URSS foi o
primeiro Estado comunista do sistema internacional, perdeu o estatudo de super
potência no período da Guerra Fria. A nível interno, a Federação da Rússia
apresenta muitas dificuldades como a manutenção da economia voltada para os
recursos energéticos, o problema populacional, o crime organizado e a
corrupção. A trajectória de enfraquecimento da Rússia passa a inverter-se
devido a ascensão de uma força política liderada por Vladimir Putin.

O Povo angolano teve que lutar pela sua independência,


alcancada a 11 de Novembro de 1975. A Rússia foi o segundo país a reconhecer
a independência de Angola depois do Brasil, poucas horas após a proclamação.
O Povo angolano não esteve sozinho na luta de libertação
nacional. Muitos países prestaram-lhe apoio. Um dos factores decisivos que
assegurou o êxito aos patriotas angolanos foi o apoio da Rússia.
Angola pode orgulhar-se de ter merecido sempre o máximo apoio
da Rússia, desde os tempos da sua Luta de Libertação nacional e a resistência
contra o exécito invasor do regime do Apartheid da África do Sul até aos tempos
mais recentes da reconstrução nacional.
A Rússia prestou todo apoio político, material e militar aos
combatentes na luta justa pela independência ajudou também o governo
angolano a preparar quadros para a reconstrução e desenvolvimento do país.
Tudo isto alicerçou a amizade entre os dois países.
A Rússia na qualidade de membro da Troika de observadores do
processo de Paz em Angola fez-se representar na assinatura do Acordo de Paz
no dia 4 de Abril de 2002 em Luanda. O referido Acordo pós fim ao conflito
armado angolano.
Por outro lado, a chegada de Vladimir Putin ao poder em 1999
imprimiu uma nova dinâmica ao país, estabelecendo uma Política Externa mais
50
pragmática. A Rússia ressurgiu no tabuleiro das relações internacionais com a
sua Política Externa mais determinada para o equilibrio de poder no sistema
internacional.
Angola tem demonstrado a vontade de se desenvolver em vários
domínios, o que é justificado com vários acordos celebrados com a Federação da
Rússia. A Rússia sempre mostrou interesse no desenvolvimento de Angola. É de
grande relevância que Angola vincule laços políticos com a Rússia porque a
Rússia é uma potência mundial, faz parte dos BRICS. Angola almeja integrar
esse grupo de países de economia emergente.
Angola ocupa um lugar de destaque na Política Externa da
Rússia. A Rússia está presente em Angola em vários domínios. Conceituadas
empresas russas actuam em Angola e participam no processo de reconstrução de
Angola.
A diplomacia energética é um dos grandes desafios do Estado
angolano porque se torna imprescindível para a reconstrução nacional, para a
industrialização do país e para a diversificação da economia.
Os laços de amizade e solidariedade que ligam os dois paises
mantiveram-se firmes e inabaláveis, resultado evidente da aposta comum dos
Estados na defesa da Paz e da segurança de relações internacionais mais justas e
equilibradas e de uma cooperação global e multiforme em todos os domínios.
Em suma, verifica-se que Angola e a Rússia têm relações
político-diplomáticas privilegiadas de longa data. A Rússia prestou apoio
logístico, político e diplomático a luta de libertação do povo angolano. No
período pós-independência participou activamente no processo de pacificação,
reconciliação e reconstrução nacional, auxiliando na formação de quadros e
noutros domínios da vida economica e social do país. Confirma-se a hipótese
levantada no início da pesquisa que a diplomacia russa contribuiu para o êxito
do processo de pacificação, reconciliação e reconstrução nacional de Angola.

51
RECOMENDAÇÕES

Reconhecendo o contributo da diplomacia russa no processo


angolano de pacificação, reconciliação e reconstrução nacional e na sequência
da análise dos elementos estampados no presente trabalho, recomenda-se que:

a) Angola e a Federação da Rússia devem utilizar o petróleo e o gás natural,


não apenas como fonte de receitas mas também como meio para obter
ganhos políticos-diplomáticos. Para tal, é necessário que Angola participe
activamente em outras partes da cadeia de valor no sector petrolífero,
criando dinâmicas que visam acelerar a industrialização e a diversificação
da própria economia;
b) Angola deve investir meios diplomáticos e implementar no sector
energético uma estratégia mais ampla de desenvolvimento económico,
melhorar a inserção competitiva do país no cenário internacional e servir
como instrumento de política externa;
c) A Federação da Rússia assuma um papel mais activo no desenvolvimento
de Angola, uma vez que têm relações político-diplomáticas excelentes,

52
que os objectivos traçados nos diferentes domínios sejam convertidos em
resultados concretos;
d) Que a Federação da Rússia com o seu potencial económico e tecnológico
participe mais activamente no esforço do executivo angolano orientado
para a reconstrução nacional e diversificação da economia;

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