Introdução
A produção filosófica de Platão e Aristóteles é indissociável da evolução
das sociedades ocidentais. Suas contribuições foram os pilares para o
desenvolvimento do pensamento ocidental em diversas áreas do saber.
Nesse sentido, compreender as ideias desses filósofos da Grécia Antiga
é essencial para entender como se iniciaram os estudos sobre política,
ética, arte, epistemologia, matemática, astronomia, entre outros campos.
Neste capítulo, você vai verificar a influência das teorias de Platão e
Aristóteles na produção do conhecimento científico histórico e atual.
Você também vai conhecer as principais distinções entre os argumentos
desses pensadores. Por fim, vai ver as áreas de conhecimento que foram
desenvolvidas graças às teorias platônicas e aristotélicas.
capazes [...] não é possível [...] que haja para as cidades uma trégua de males e,
penso, nem para o gênero humano [...]” (PLATÃO, 2000, p. 211–212).
Ou seja, Platão defende que a alma sirva como exemplo para a estruturação
não só do corpo, mas da sociedade. Assim, o filósofo, sendo a parte mais
reflexiva e racional da sociedade, é que deveria ser rei. Os soldados vêm logo
abaixo, uma vez que a parte irascível é correspondente à coragem. Por fim,
haveria os camponeses e artesãos, que se ocupam de tarefas mais elemen-
tares. Apesar de parecer uma concepção tanto política quanto metafísica, a
teoria do conhecimento platônica se dá por meio da filosofia. Ao delegar ao
filósofo o reinado da cidade, mais do que fazer um autorreconhecimento,
Platão demonstra que só é possível conhecer por meio da reflexão filosófica
em busca de uma verdade, e não por meio de crenças. O mesmo se dá em
diversas metáforas, tal como a metáfora sobre o sol e a iluminação, que faz
alusão à iluminação intelectual (PLATÃO, 2000).
Já na obra de Aristóteles, pode-se encontrar um rompimento com a concep-
ção platônica da teoria do conhecimento. Apesar de ter sido aluno de Platão,
Aristóteles destoa de certas concepções platônicas, como o dualismo — o
mundo das ideias e o mundo sensível. Para Aristóteles, não se conhece por meio
das ideias, ou em busca delas, e sim pelo mundo sensível. Ou seja, primeiro
têm-se a experiência empírica, que posteriormente é formulada pelo intelecto.
Aristóteles buscou trazer um caráter mais material e realista à filosofia. Nesse
sentido, a sua filosofia se fundamenta em dois pontos centrais: a valorização
do sujeito e a compreensão das formas.
Segundo Aristóteles, a essência das coisas está em sua forma. Assim, um
homem é um homem em razão de sua forma, e o mesmo vale para os animais.
Ou seja, o que algo é pode ser reconhecido pela sua finalidade. Por exemplo:
um cavalo é um cavalo pelas suas propriedades e características que o definem
como cavalo. Dito de outro modo: um animal pode se distinguir de outro
animal da mesma espécie em cores e em algumas características que não lhe
retirem sua característica central, ou seja, sua forma. A tais distinções meno-
res, Aristóteles dá o nome de “acidentes”. Os acidentes se opõem à essência:
as propriedades acidentais trazem variações entre os objetos, apesar de não
incidirem nas propriedades necessárias.
Com isso, Aristóteles busca demonstrar que é na articulação das coisas
e indivíduos que as formas/essências são reconhecidas. Portanto, o mundo é
reconhecido tal como é e não de acordo com um ponto de vista. Em sua obra
Metafísica, Aristóteles ressalta que existem maneiras, modos de ser, que são
organizados em categorias. Tais categorias, listadas a seguir, servem para
designar o modo como as coisas são (CHAUÍ, 2000).
4 Platão e Aristóteles
Substância: tudo aquilo que não precisa de algo para existir, como o
homem e os animais.
Quantidade: definição a partir de números, metragem.
Qualidade: adjetivos próprios ao sujeito ou à coisa.
Relação: consideração resultante da comparação — “isto é maior do
que aquilo”, por exemplo.
Lugar: localização.
Tempo: momento.
Posição: situação espacial em que algo se encontra.
Posse: propriedade sobre algo.
Ação: verbos, como “odiar”, “amar”, etc.
Paixão: o que é passível de sofrer uma ação.
Como você pode notar, a maior distinção entre Platão e Aristóteles é o modo como
concebem a verdade e o conhecimento. Enquanto a filosofia platônica se prefigura
como idealista, a filosofia aristotélica se distingue por ser realista. As teorias de Platão
e Aristóteles influenciaram muitos pensadores ao longo dos séculos: os medievos, os
modernos e até a episteme contemporânea.
6 Platão e Aristóteles
Acesse o link a seguir para aprender mais sobre o pensamento e as distinções teóricas
entre Sócrates, Platão e Aristóteles.
https://qrgo.page.link/LjXZR
ARISTÓTELES. Poética. Tradução de Eudoro de Souza. 3. ed. São Paulo: Ars Poetica, 1993.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
PLATÃO. A república (ou: sobre a Justiça. Gênero Político). Tradução de Carlos Alberto
Nunes. Belém: UFPA, 2000.
8 Platão e Aristóteles
Leituras recomendadas
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Leonel Vallandro e Gred Bornheim. São
Paulo: Nova Cultural, 1987. (Os Pensadores).
ARISTÓTELES. Metafísica. 2. ed. Tradução de Giovanni Reale e Marcelo Perine. São Paulo:
Edições Loyola, 2002. v. I, II, III.
OLIVEIRA, D. B.; ABREU, W. F. Conhecimento, arte e formação na república de Platão.
Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 41, n. 1, p. 203–215, 2015. Disponível em: http://www.
scielo.br/pdf/ep/v41n1/1517-9702-ep-41-1-0203.pdf. Acesso em: 29 jul. 2019.
THIRY-CHERQUES, H. R. O racional e o razoável: Aristóteles e o trabalho hoje. Cadernos
EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 11, n. 1, p. 1–11, 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-39512003000100005. Acesso em: 29 jul. 2019.