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192 AbRUMNA asCrTELL MUNDOS, ses lags ea nogdo de amor a cles associada conformam um mundo conee srias, como um universo harmdnico ¢ estrucurado por ido, nas diversas relagies de reciprocidade e cooperacio. Pensado & mancira de um “(pequenc) paratso™, um expago mara pelo companhirismo ¢ pela paz, no qual “nao vate aida de excolha’, o mundo da familia constiui ma regiao social naqual "individu se dissolve numa unidade maior ~ ela, “o que é de um ¢ de co dos", As relagGes imperantes nesse dominio s&0 delineadas em contraposst® com as que, vigentes na esfera das realizagbes econ6micas, 180 permeadas pot uum expfrito compettivo (¢ host. Nessa contraposigao, © mundo da familia delineia-se como dominio organizado em torno de um valor central: a unio, que o converte num “oasis... no qual é posivelreremperar-s¢ Pot aluta™* ‘Nessas historias, a categoria luta apresenta uma dupla dimensio, ‘Uma delas é afuna interna ao mundo da fami, votada para atransmnissio dos prinefpios moras associados & unio Fariliar, A outra, progressivamence restita 20% ho- ‘caracteristicas atribuidas a0 Ambito das realizagbes econ6micas, mens, remet pensado como um dominio organizado em toro de um valor central, 2 competitvidade. A expressio mais elevada do éxito nessa ies reside no sucesso ccondmico revltante de atividades produtivas,preferentemente industias ‘O lema dos pionciros “subir, prosperare ener" sintetiza arelagso traba- tho/suceso que, estabelecida primordialmente no Ambito dos negécios: ni? dleixa de incorporar a atuagio politica. Nesse mundo, 0 dinheiro, como di snemsao masculina da riquezae indissociavelmente ligado 2 obra empresatial, ¢, secundariamente, os cargos politicos, simbolizam 0 sucesso Mas, evocando «ito numa batalha que, embora impulsionada pela forsa orientadora do thcro,é desenvolvida no marco de uma acentuada tia do trabalho; © dinhei- ro éclissociado de qualquer conotagio pejorativa. Os cargos politicos: Pens dos como expressao de influéncia social, sfo apresentados como {indices com- plementares de sucesso. 46 Blancato, Conte Francesco Matamzzo, city P.513. 1 Fontana, Histdrie da minha vide, cit p-8 Idem, ibider, p. 126. © Ges op. city p33. No conjunto ‘mais elaboradas centes, 0 denom diversas maneit através do qual: (da matétia, “d trabalho, apresc em torno do ge A valorizas balizado por w aqueles vinculs elementos que nos valorizada sentadas come implementaca potsonagens Lundgren” Nadesct condensagio dedores incot tecipagio, ad Herman eset que, apesar nos Lundgre Fontana, Hid 1 No slats hi sedtidas dose Imedincridade sam ince Ficitiva. Car certo ponto. Pe ra rapes verdadeiros (¢ sm mundo conce- © estruturado por tum “(pequeno} 2 no qual “nao social na qual Be ede um ¢ de to. =A contraposicin = permeadas por ssundo da familia Be central a uniso, ra a ura” Sasio. Uma delas ¢ > dos prinefpios © restrita aos ho- Ebes ccondmicas, valor central, Beside no sucesso industria, a relacao traha- es negscios, nao iro, como bea empresarial, Mas, evocando = otientadora do abalho, o dinhei- olticos, pensa. > indices com- "HONHROs": AASCULINIUDES Ex NaRRATVAS Sonne ron MASCULINIDADES, No conjunto das histéras, as dstingoes entre estilos de masculinidade so Imals elaboradas que entre estilos de feminilidades Nos relatos, antigos ¢ re- Fut’: @ denominador comum no qual se assentamy as Consideragoes sobre as diversas manciras de ser homem & 6 trabalhe Coneebido como instrumento través do qual se concretizam as possibilidades “criadoras” ¢ transformadoras (da matétia, “da terrae dos homens") e come arma indispensivel na lta, trabalho, apresentado como constituinte ds masculinidade, converte-se no eixo 6D) foro do qual slo tecidas as comentérios sobre o¢ estilos de ser homem, AA valorizagio mais intensa da masculinidade Temete a um estilo adulto ballzado por um conjunto de atributos de Personalidade que coincidem com aaueles vinculadas as qualidades empresariais E, se ay histitias nao oferecem clementos que permitam sugetit uma masculinizaso das feminilidades me- nos valorizadas, por outro lado, tragossesociados 4 certas caracteristicas apre- ‘Sentadas como femininas marcam estlos menos Valorizados de ser homem. A implementacio dessas caracteristicas é etceptivel na descricao dos diferentes Hiei Mode sexnura e afetividade scionais estabelecidas somo componentes de sem um e outro dos Be mantém uma relagio ses nogio corporificada sem imagens dos sujei- Azravés de decalhadas xe privilegiam 0 rosto Ss imagens mostram a sealidade reveladas nas =: aludem aimbricagoes <=. Indo além dos ges se olhar. Mas também hé BSH, tchacionas) da pes | = Michael Lambecke Andiew Po i Melanesia (Cambridg HONS": MASCULINIDADES Et NABBATIVAS ‘Alguns descompassos temporérios sugerem uma cisio relariva entre corpo. ¢ espirito que aponta para uma idéia de incorporacio na qual os atriburos de petsonalidade, moldando o corpo de maneira gradual, acabam superando essa divisio, Nas lembrangas de Attilio Fontana, espirito e corpo desencontram-se durante a primeira fase de sua vida. Quando aos oito anos comecaa trabalhar na lavoura com os pais, Attilio faz sacrificios. Sublinhando a discrepancia en- tre 0 espirito de luta que desde essa época o orienta a fragilidade corporal, que s6 desaparece aos trinta anos, em pleno percurso ascendente, ele reflete: £ dese mencionarque até csr idade.. feridas nas pernas, bem como 38 freqlentes dores de cabeca,.. continuavam me sacrificando... é de se imaginar, navverdade, como uma pessoa nas minhas condigoes padesse tet comecado a lurar na infincia, pesistido na juventude e na mocidade... sem um s6 dia de csmorecimento. Creio que o que me valeu sempre foi o espirto de determninagso, de que Deus me dotou. Eu encarava a vida como uma escalada que eu me havia proposco enfrentar e nae porta fracassan"* ‘As imagens aludem a outras descontinuidades que se referem, especifica- mente, A maneira como 0 género marca a corporalidade. E esclareso que me refiro a descontinuidades no sentido de descompassos entre os atributos alocados fos sujeitos narrados ¢ & maneira como sio apresentadas as corporalidades desses sujeitos ‘Nas hist6rias, ewes descompassos parecem no atingit as imagens femininas. Nos relatos mais antigos, atributos tidos como masculinos — forga e expitico de comando no porte e no olhar das mulheres que os corporificam. Nese sentido, vale lembrar da imagem de Dona Elizabeth Lundgren ctiada por Goes, Nas histérias mais recentes, a Fortaleza marca, também, os corpos de mu- Iher, Esse procedimento é evidente quando Attilio descreve sua irmi favorita “xpressam: Robusta, més nao obesa, era dotada de uma forga superior & de muitos homens. Do meio da lavoura levava muitas vezes, sob os bragos, dois sacos de batata de quarenta quilos cada um até beira da estrada, onde a carroga 0s ia recehendo. Era quem dirigia o corte da alfafa.. E como viveu, morteu: com expirito tio forte quanto a sua robustez fis H Thidem, pp. 79-80, 9% Fontana, Histdrie de minha vida, cit. p. 32 198 aDauNa mscrrett As descontinuidades em termos de género so evidenciadas na corpo- tificagao das mas idades apresentadas nos relacos mais antigos. Nos esti- los-mais valorizados de masculinidade, as caracteristicas virlizadas expres. sam-se nitidamente no corpo. O “physico robusta” de Francisco Matarazzo aos oitenta anos € a expresso conereta da iniciativa e da coragem”, da “Forga dinimicd? do fundador. A energia indomavel de Herman Lundgren “chispa nos seus olhos vivamente aus” € revelada, também, na sua constituigao fisica — “era alto e de porte atlético, como que forjado pata os mais durox embates da vida""*, Nessas descrig entretanto, nao ha tragos da intuigao revelada no Ambito empresarial, nem da ternura que, ativada no mundo da familia, permanece “dissimulada, escondida, na personalidade empreende. dora, como se esses atributos no marcassem a corporalidade ~ corpo, feigGes, gestos ou posturas Pensar sobre essa discrepancia remete a relagdo entre género e cor- P si Poralidade, que tem suscitado crescente interesse entre autores(as) inscritos(as) cm diversas perspectivas antropolégicas. Encre eles(as) ha convergencias no que se refere a pensar que o corpo é marcado por género. Entretanto, fergéncias presentes nessas abordagens, dentre as quis se conta a maneira pensar género, tém conseqiiténcias nas corporalidade. Na perspectiva de Bourdieu, a diferenca entre os corpos, expressada nos EsstOs, Pores € posturas que exprimem as cmogGes corporais, 6 resultado da s do que é manifestado pela tncorporasio ~ a aprendizagem ¢ a asimilagio feita pelo corpo e sé ticle observivel -, ela faz aparecer as diferengas entre os corpos, A somatizagao das relasoes (de dor 4-40) constitutivas da ordem social resulea, no que se refere sspecificamente a género, em dois sistemas de diferengas sociais, naturalizadas © nscritas nos corpos sob a forma de dita classes opostas e complementates de corporalidade. op. ei, p. 28 Ges, op. cit, p. 52. biklem, p. 32. Anilises recentes centra ralidade ein perspectivas que » Bourdieu concede a essa Unitétios e de corpos nio-h de subjetividades ¢ de agé= processos corporais e mod ‘sas formas “diferentes” de Esta tltima ¢ pensida co tio, na qual as pessoas, quiais a identidade soci ‘cuja subjetividade e agé com limites definidos No marco dessas disc: felatos mais antigos sus falta de adequagio da relagio as modalidades d= sam as ma ulinidades n presentes nas histérias. & apr des associadas 4 feminilss tada de mancira areas de género re dedores manifestam, tintivos, arriscaria diz © ora uma vi agio”, Novos Btndas Ce Vide: Miguel Vile de As Celt Edivora, 1996); Tee and Socility among the © ° Ver Masiyn Stearn, 010 e individ Edward Lipuma, Lambec,“African-Me and perons. Comparatze Press, 1998), pp. 10-1 od © Andvew Seethern eM a corpo. ex Nos e4 expres- BMaerazz0 da “forca “Howeinos": MASCUUSIDADES ENC NARRUTINASSODRE FINDADORES... 199 Anélises recentes centradas em culturas ndo-ocidentais mostram a corpo- ralidade em perspectivas que pdem em questo o alcance universalizante que Bourdieu concede a essa divisio™. Afirmando a existéncia de sujeitos nao- Lunitdrios e de corpos nao-homogéneos, essas abordagens constaram a presenga de subjetividades e de agéncias incorporadas, de maneira no unitétia, em processos corporais e modos de atividade. Essas perspectivas contrapéem ¢s- sas formas “diferentes” de corporalidade a idéia de corporalidade “ocidental”™. Esta tiltima pensada como condizente com uma nogio de individuo unité- tio, na qual as pessoas, axiomaticamente, sto pensaclas como same-sex (nas quais a identidade social replica plenamente 0 estado “fisioldgico nacural”), ccuja subjetividade e agéncia sio concebidas como atributos de um ser {ntegro, ‘com limites definidos® No marco dessas discusses, os aspectos da corporalidade apresentados nos relatos mais antigos sugerem certas tensGes. Alguns elementos apontam para a falta de adequagio da idéia de individuo unitério em termos de género, em relagéo as modalidades da pessoa que, corporificadas nos homens que expres- sam as masculinidades mais valorizadas, remetem a um ou outro dos mundos mo tempo, a corporalidade desses homens & apresentada de maneira unificada. Como se espelhassem a reuniao de qualida- des associadas a ferninilidade através da qual a agao empresatial é virilizada, as ‘marcas de género registradas nas deserigdes da corporalidade desses empreen- dedores manifestam, apenas, atributos considerados masculinos, aqueles dis- tintivos, attiseatia dizer, do estilo de masculinidade delineada. "Pata uma visio critica dessa univeslizgio, vide: Mariza Cortéa, “Bourdieu ¢o sexo da dom naga”, Novos Eudes Cebrap, (54): 43-55, julho 1999. "Vide: Miguel Vale de Almeida, Caype Prtente,Teze reflects anirpoligfns sobre a corp (ise, Celt Editor, 1996); Terence Turn, “Social Body and Embodied Subject: Bodiliness, Subjectivity and Sociality among the Kayapo", Cultural Anthrepology 10 (2): 143-170. © Ver Marilyn Strathetny The Gender of the Gif op. cit. Para uma lenura critica da rlagzo entie corpo e individu, com limites precios em cultura oekdentais, © outraspercepodes do compa, ver Edvard Lipura, “Modernity and Formsaf Pertonhood in Melanesia” ¢Ansiew Strathem ¢ Michael Lambeck, "Aftican- Melanesianist Comnpation#”, em Michael Lamibeck eAndhew Strathern, Bodies and persons Comparative perpective fom Afien and Melanesia (Canibridge, Cambridge University Press, 1998), pp. 10-1 “Andrew Steathetn ¢ Michael Lambeck, op. ci. Os relatos mais recentes reiteram 0 procedimento de registrar na corpo- ralidade “gradagées” de masculinidade. O corpo aparece curvado, e até débil, quando nelese expressam as mascuilinidades m valorizadas — os comenté- ros de Ailio Fontana sobre um ex-patraio mostram essa relagio. ‘Tsian (..), de narureaa invejosa,fracassado no comércio, espirito desocupado, passava o tempo entrea anedota e a intriga (..) era um tipo baixo, mago, ‘um tanto calvo, com uma leve corcunda.© ‘Mas, nas imagens de Attilio Fontana presentes nesses relatos, 0 entrecrt- zamento de atributos considerados femininos e masculinos torna-se visivel na corporalidade associada aos estilos de masculinidade melhor considerados — ¢ refiro-me tanto as modalidades de pessoa ativadas no mundo da familia como as que se delinciam no Ambito dos negécios. Essa corporificagao expres claramente, na mancira como 0 empreendedor evoca a imagem do pai, no Ambito da familia O dialevo veneto quebrava o siléncio que agasalhava o nosso jovem sono ainda insatisteito, mas nao aguardévamos uma segunda ordem. ‘Filhos, filhas, est4 na hora, 0 café esté pronto!’ Era, sem diivida, uma vor de comando, mas sentéamos nela uma inflexio de ternura prépria de um pai Elarevela-s também, em deserigdes que remetem a0 infcio de seu percur- empresarial: Fui condurido & presenga do Tre. Gabriel, delegado comandante da Forga Pablica (..) Ble (..) me disse: ~ E, Fontans, et mandei buseé-lo porque recebi aqui uma dentincia de que voce desrespeita as autoridades. (..) Ali estava cu, pois, cliante do Tre. Gabriel, ue se desmanchava em explicacoes (..) E ferminou com estas palavras:~ Mas eu sou seu amigo, portanto nada vai Ihe acontecer, Respondi-the, solugando:— Nao € assim que se trata um amigo (..) Sentia-me ferido e revoltado com a humilhacéo a que me submetiam de pablico pela segunda vee. Fontana, Hisérie de minha vid cit p. 68 Tem, ibidem, p. 8 © Idem, ibidem,p. 68. A anilise dow isenta de tenssew mesmo tempo, 3 nidade que a vando os comes das através do © ligados a caracte alocando exclu res que permeiss lidades através 4 em da familia mininas, positiva da familia, esses mulher/homens competéncia, 2 As poss(veis interrompidas 2 pensadas como & em espacos, ativid dades, fe eles e elas acionad particularmente » Levando em a a posigao” da perses nos ¢ femininos algumas quatidad dos atributos assox sentes nas hist agos caracteristi nos relatos. Nas & atributos sao eng masculinizadas. D década de 1980, nna personalidade « Seer na corpo- ado, e até déhil, =~ os comenté- = desocupado, So. magro, es, 0 entrecru- Senzse vistvel na sonsiderados— ¢ = dafamilia como So express Sem do pai, no Filhos, sev02 de = deum pai > deseu perc da Forca rque recebi Alf estava ex, pes (.E > nada vai lhe Sem amigo (..) de piblico “PIONERO: MASGULINIDADES EM NABRATIVAS SOBRE FUNDADORIS,. 201 CONCLUINDO. A. anilise dos processos de atribuigdo de género mostra a coexisténcia, no isenta de tensGes e ambigiiidades, de wm amplo leque de diferenciagses, e, 20 ‘mesmo tempo, apresenta denominadores comuns de feminilidade e masculi nnidade que atravessam relatos produzidos em momentos diferentes. Alinha- vando os comentétios sobre masculinidades em torno das qualidades expr das através do trabalho; sugerindo, mediante associagSes, marcas de tragos ligados a caracteristicas masculinas no Ambito competitivo da luca empresarial alocando exclusivamente as masculinidades motivag6es associadas aos valo- res que permeiam o Ambito econémico; estabelecendo relagdes entre femini lidades através dos sentimentos, emogoes ¢ a disposiséo para promover o bem da familia; aludindo a marcas de tracos associados a caractert mininas, positivamente avaliadas, em concepgbes morais associadas ao mundo da familia, esses denominadores parecem remeter a (conhecidas) dicotomias: mulher/homem, feminilidade/masculinidade, familia/trabalho, cooperagio! ‘competéncia, amor/dinheiro As posstveis relagoes lineares entre termos de pares opostos so, entreranto, interrompidas no relato, e ¢ isso que me interessa assinalar. Caracteristicas pensadas como femininas ou masculinas que se expressam, contextualmente, ‘em espacos, atividades ¢ corporalidades nao recobrem inteiramente masculini- dades, feminilidades, homens, mulheres nem as modalidades da pessoa por les ¢ elas acionados, E essa interrupgio, expressando-se na corporalidade, & particularmente visivel nos relatos mais recentes. Levando em conta os diversos procedimentos de atribuigio de género pre- sentes nas histérias, € possivel concluir que, no conjunto dos relatos, a “com- posigIo” da personalidade empresarial revela a presenga de atributos maseuli- nos ¢ femininos — vale lembrar que, para além das metéforas que marcam algumas qualidades empresariais nos relatos mais antigos, parte substancial dos attibutos associados a essas qualidades remete, no conjunto das histérias, a tragos caracteristicos dos denomisiadores comuns de ferninilidades presentes nos relatos. Nas histérias produzidas entre a década de 1920 e 1950, esses atributos sto englobados numa personalidade ¢ numa a¢ao empresarial masculinizadas. Diferentemente, nos relatos autobiogrificos produzidos na década de 1980, caracteristicas femininas ¢ masculinas convivem abertamente nna personalidade empresarial, dando lugar a uma ago empresarial neutra. Poderia finalizar este artigo assinalando apenas essa transigo. Parece-me, porém, importante observar que esses deslocamentos, em termos de género, ra personalidade e na acdo empresarial, e a (tensa) convivéncia com os tragos de género que, atravessando as décadas, so alocados aos denominadores co muns de masculinidade e feminilidade, adquirem relevancia em aspectos liga- dos 4 transmissio seletiva de qualidades e A transmissio, também seletiva, de empresas, que extrapolam as narrativas de origem aqui analisadas. Do mesmo modo que nos grupos empresariais brasileiros por mi dos ¢ nas firmas italianas contempladas por Sylvia Yanagisako, as jovens gera- es de herdeiras tém aspirado, nas tiltimas décadas, & sucesso. Essa autora afirma que, nessas empresas, essa aspiragio integra-se num quadro de modifi- cages do qual faz parte, também, a transicgdo entre o desejo de sucesso mas culina, por parte dos empre: € “neutra” em termos de género™. E, embora caiba perguntar acerca das estuda- \dedores, e o de uma sucessao filial meritocrética conceitualizagées que envolvem essa passagem, a autora nfo reflete sobre elas. No Brasil, umas poucas mulheres comegam a participar do processo nos finais dos anos 1970 eo grupo sério de grandes empresas familia Matarazzo conta com uma dessas “pioneiras”. As histérias das herdeiras con- temporineas mosteam que, a partir dos anos 1980, um nrimero crescente de mulheres aspira a esse acesso — nesse sentido, o grupo Sadia torna-se um exemn- plo dos grupos em que as herdeiras procuram, com enormes dificuldades, sumir cargos que possibilitem o acesso a sucesso. Essas aspiragoes femininas fundamentam-se numa légica meritocrdtica andloga que, segundo Yanagisako, comega a ser registrada nas empresas com as quais ela trabalhou. As aspiragies das herdeicas brasileiras véem-se, as vezes, favorecidas, e, em outras ocasides limitadas pelos estilos de administragio das empresas e pelas relages de paren- tesco privilegiadas por cada grupo na sucesso — vale esclarecer que, nesses Jo das herdeiras é formulada por meio de diltimos casos, a éncia’ incorpora argumentos que atualizam aspectos associados aos denominadores comuns de masculinidade e fem lidade aqui mostrados. Entretanto, e ¢ isso que me interessa destacar, esas aspiragbes delineiam-se num ambito no qual a “hibridez’ que tinge a personalidade empresarial contemporanea torna possfvel sua cotpo- rificagdo, indistintamente, por homens ou mulheres via Yanagisako, “Law and sentiment.” cit, p. 63 me (ce Deis deral do Brasil no pals, fui percepsoes soc AA quse on diversas, Seja m 9 Esc aitign inser para ous asp Caceres de Fi peas (AHILA), 4 a Brasilena de Hom “Bate feminin UNICAME, 12, Aéceprion’, Ca Recherches sur le 5 movedizar? La aco Scarcanella (ores) Frankfurt, Tbe livia Guedes Guedes Penteado. ¢ PPulo, Muse de Aa de Carlota Fercice Bris Conte 47148, nover fe Cadom cose pp. 66-70, fex

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