1. RESUMO:
O trabalho apresenta soluções e alternativas práticas para métodos executivos de solo grampeado que divergem dos usualmente projetados nas
seguintes questões:
Os Autores acreditam que a divergência acima citada deve-se ao distanciamento inadequado, algumas vezes existente, entre projetistas e executores.
À esta dificuldade de comunicação entre colegas que atuam na mesma obra dão o nome de “Abismo”, símbolo anteriormente utilizado por Mello no
Primeiro SEFE[1] para questão filosófica semelhante.
São apresentadas também, algumas considerações sobre solo grampeado.
2. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES:
Os Autores atuam desde 1984 como executores de solo grampeado, técnica esta utilizada para estabilização de taludes e muros de arrimo. Com o
objetivo de repassar suas experiências à coletividade Geotécnica, apresentam soluções práticas e econômicas para proteção da barra de aço à
corrosão, interligação barra de aço/paramento bem como para um tipo de paramento que substitua o concreto projetado. As soluções apresentadas a
titulo de alternativas foram testadas em mais de uma centena de obras de solo grampeado. Suas concepções foram confirmadas em inúmeros ensaios
de campo e de laboratório. Desconhecem publicações a respeito.
As soluções apresentadas divergem profundamente das usualmente projetadas ao confrontar o aspecto teórico, citado em publicações, com o aspecto
prático, utilizado em campo pelos Autores. O Professor Victor Mello, na abertura do I SEFE, utiliza-se do termo “Abismo” para discorrer sobre tema
similar. Não coincidentemente, os Autores têm tido grandes dificuldades em encontrar uma forma ou fórum adequado à discussão desta divergência,
que conduza a uma conclusão segura de atuação cientifica, profissional e ética.
Projetos e soluções aparentemente óbvios e corretos do ponto de vista do Projetista, transfiguram-se em inadequados para um executor qualificado. O
problema do “Abismo”, enfatizando, símbolo da dificuldade de comunicação entre colegas atuando na mesma área ou obra, abrange não somente a
Geotecnia mas a Engenharia e outras áreas do conhecimento. No caso específico da Engenharia entendemos que o “Abismo” é a causa maior dos
acidentes ocorridos nos últimos anos.
O presente trabalho é um pequeno exemplo da questão filosófica e conceitual descrita anteriormente. Sua essência está na forma de conjugação e
exercício dos conhecimentos teóricos e suas consequências práticas e/ou na inversão deste procedimento.
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3.3 Esclarecimentos:
Somente o conceito filosófico e real do “Abismo”, nossa tese acadêmica, pode explicar o fato de até a presente data termos um grande número de
projetos e obras de Geotecnia usando proteção com pintura contra a corrosão. Nossa opinião é que, além de inadequada, pode ser prejudicial à obra
como resumidamente tentaremos esclarecer.
De acordo com publicação do Instituto de Patologias da Construção[2] (2002, p.11), inicialmente é necessário entender que a corrosão no aço nada
mais é do que uma reação eletroquímica que precisa necessariamente de quatro bases para sua sustentação:
A maioria das tintas funciona como proteção contra a corrosão, formando uma barreira entre a superfície do aço e os eletrólitos provocados pelo
ambiente que circunda a estrutura. A barreira formada pela película é, invariavelmente, permeável à ação da água (líquida ou vapor) e do oxigênio. A
penetração de sais (íons), no entanto, sofre alguma restrição no seu transporte através da película, sendo um processo demorado. Desta forma, uma
proteção por barreira pode durar alguns anos. Esta durabilidade, ou seja, o espaço de tempo até o instante em que a barreira deixa de ser eficiente,
depende das seguintes características:
Nenhuma tinta é impermeável à ação de um eletrólito. Algumas oferecem maior resistência do que outras. A presença de sais solúveis sob a película,
antes da aplicação, é fator vital à sua durabilidade. Algumas resinas, como as alquídicas, à base de óleos secativos, são particularmente recheadas de
oxigênio e, portanto, extremamente permeáveis à ação dos eletrólitos. A figura 01 evidência este fenômeno.
As restrições acima, suficientes para contra indicar o uso de proteção com barreira em inúmeros setores da Engenharia, supõem que o serviço não
sofreu qualquer dano visível, ou seja, está relativamente íntegro.
No caso específico de solo grampeado temos um profundo e irreversível agravamento ao problema, pois inúmeros aspectos inerentes a este tipo de
obra tornam difícil, ou mesmo impossível, garantir esta integridade.
Questões como operários nem sempre adequadamente qualificados e sua cultura e tradição, assim como limitações causadas pelos preços de
“mercado” tornam difícil o controle de qualidade de serviços como a pintura por barreira durante sua execução. Agravando a questão, ao contrário de
outras áreas da Engenharia, na Geotecnia é impossível verificar a qualidade do serviço de pintura após o término da obra.
Uma pequena falha, independente do motivo que a ocasionou, seja pela inerente permeabilidade da tinta, seja pela qualidade da formulação da tinta,
ou decorrente do manuseio, transporte ou instalação da peça comprometerá a integridade da proteção.
Este pequeno defeito permitirá que o cimento contaminado, ou a água e o oxigênio existentes nos vazios, cheguem à armadura detonando diminutos
ânodos circundados por grandes regiões catódicas, induzindo altas taxas de corrosão em pontos localizados.
Nesta hipótese, a tentativa de proteção terá efeito exatamente contrário ao pretendido, causando ao grampo um prejuízo infinitamente maior do que o
original.
Em seu limite, esta corrosão localizada e intensa poderá provocar o colapso da peça.
Paradoxalmente, a solução para a questão é, além de extremamente simples, barata.
Quando a região anódica é ampla, o próprio processo de corrosão se auto distribui e é protetor das camadas abaixo dela.
Logo, deveremos calcular o diâmetro da barra de aço do grampo deixando uma parcela externa da peça para combater a corrosão.
Na prática, temos considerado que uma espessura do aço CA-50 com 2 mm de espessura é suficiente para proteger as camadas internas.
O aumento do diâmetro da barra de aço do grampo de 16 mm para 20 mm, por exemplo, significa na prática um aumento da ordem de 2% (dois por
cento) do valor da obra, propiciando longa sobrevida ao aço.
Experiências com estacas metálicas indicam que para a corrosão atingir 2 mm é necessário períodos superiores a 25 anos, em condições normais, ou
seja, meios não excessivamente agressivos. E estas estacas metálicas nunca são pintadas.
Como já citamos, o custo é pequeno e o resultado garantido.
Outra solução para o problema, teoricamente a melhor, seria a instalação de ânodos de zinco que disciplinem o processo de corrosão catódica.
Esta solução já está em uso em inúmeras obras que utilizam o aço como elemento estrutural. Existem no mercado produtos tais como pastilha “Z” e
outros que eliminam a corrosão do aço por proteção catódica.
Aparentemente a Geotecnia não soube importar conhecimentos de outras áreas da Engenharia para solucionar questões como a presente (Abismo).
Tanto a solução do aumento do diâmetro da barra de aço como a solução com peças de zinco são mais econômicas que o uso da pintura
anticorrosiva.
3.4 Observações:
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Temos encontrado projetos que especificam grampos com 10 a 12 metros e cuja barra de aço tem 12 mm. Estes projetos e especificações nos
colocam numa situação ética e comercial muito desinteressante.
Como executores de reforço de muros de arrimo temos verificado uma incidência de problemas de corrosão em tirantes com cordoalhas não citados
em publicações técnicas.
Contra indicamos o uso de barras com diâmetro inferior a 20 mm.
4.3 Justificativas:
O custo de colocação do sistema de ancoragem com placa metálica, porca, etc. pode atingir valores da ordem de 15% (quinze por cento) do valor da
obra.
Como citamos anteriormente, contraindicamos o uso de barras de aço com diâmetro inferior a 20 mm. Assim, na prática é inadequado a execução de
curva na barra devido ao pequeno espaço disponível (Figura 02).
A tensão de tração do grampo que chega ao paramento é assunto sem consenso. Muitos projetistas entendem que ela tende a zero, ou seja, não
existe necessidade teórica de interligar o grampo ao paramento. Nossa opinião é que dependendo da localização do grampo e do coeficiente de
segurança do maciço, esta tensão pode equivaler à carga de ruptura do próprio grampo. Logo, o paramento teria que absorver toda a carga
proveniente do grampo. Desta forma, entendemos como necessária a interligação do grampo ao paramento. No entanto, todos os ensaios de
arrancamento do solo (aderência no solo) por nós executados, forneceram resultados inferiores aos testes de arrancamento do concreto (aderência da
barra no concreto).
Como conclusão, podemos afirmar que uma ancoragem superior a 30 cm de uma barra de aço com Ø = 20 mm em concreto com fck = 18 Mpa é
suficiente para garantir a total solidarização do grampo com o paramento.
Para chegar à conclusão acima executamos diversos ensaios de arrancamento de uma barra de aço Ø 20 e Ø 25 mm em concreto armado com fck =
18 MPa. Os resultados são contrários aos conceitos que nossos colegas Calculistas Estruturais têm da questão, ou seja, o “Abismo” a que nos
referimos é até maior em outras áreas da Engenharia e do Conhecimento Humano.
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5.3 Justificativas:
A única justificativa para a solução proposta é de ordem econômica. Existem inúmeras obras cujas características específicas, destacando-se seu
tamanho, concorre para que uma solução com paramento de alvenaria armada fique com menor custo. O uso de concreto projetado implica em
equipamentos pesados, especialmente o compressor de ar que deve ter capacidade de 600 p.c.m., aproximadamente. Em obras relativamente
pequenas, cujo paramento tenha área inferior a 60 m², o custo de transporte e instalação destes equipamentos torna-se proporcionalmente muito caro.
Este item pode significar até 50% (cinquenta por cento) do valor da obra.
A técnica de paramento com alvenaria armada pode ser utilizada por pedreiros e ajudantes sem experiência anterior enquanto que o concreto
projetado necessita de pessoal muito especializado.
Tecnicamente, entendemos haver um equilíbrio entre as vantagens e desvantagens de cada sistema.
Salientamos (unicamente) que em termos de drenagem e, principalmente, na manutenção posterior da drenagem, o sistema com alvenaria armada é
mais eficiente. Ironicamente, a frequente falta de qualidade dos blocos estruturais no caso presente tem uma vantagem, qual seja, eles são “per si”
permeáveis.
Entendemos, de forma simplista e prática, ser do interesse de nossa Geotecnia uma definição da zona de atuação do sistema quando o mesmo
recebe a denominação solo grampeado. Em sua origem teórica, o sistema solo grampeado é semelhante ao do NATM (New Austrian Tunneling
Method) usado em túneis. Mantendo esta correlação, existiria uma interligação de tensões entre os grampos que aumentaria a resistência interna do
maciço sem torná-lo rígido. Assim, o sistema solo grampeado se situaria entre um sistema rígido (muro de gravidade) e um sistema de cargas
pontuais (tirantes ativos) no qual não existe interligação de tensões entre os grampos.
Temos encontrado projetos e publicações que indicam como sistema solo grampeado obras que, em nosso entender, deveriam ter outra
denominação. Alguns especificam grampos distantes 4 (quatro) metros um do outro, ou seja, um grampo a cada 16 m2, com paramento de concreto
projetado. Entendemos que as Teorias do NATM não se aplicam a casos como este e, portanto, deveriam ser classificadas de forma diferente.
Numa vertente oposta, obras com a denominação comercial Rimobloco (Ortigão e Palmeira, 1992) têm sido citadas como solo grampeado. Tivemos a
oportunidade de executar e/ou acompanhar mais de uma centena de obras tipo Rimobloco e estudar os únicos casos de ruptura.
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Considerando que o sistema Rimobloco implica na colocação de 5 (cinco) grampos Ø 10 cm por m² e que normalmente os grampos têm comprimento
igual ou inferior a 3 (três) metros, entendemos que este sistema se comporta de forma rígida, semelhante a um solo armado ou a um muro de arrimo
de gravidade. A análise “in loco” dos únicos 3 (três) casos de ruptura deste sistema, num total de 450 obras, confirma a hipótese acima. Em todos eles
houve uma ruptura global, sendo que dois foram devido ao solapamento da base por inundação.
Assim, um muro de arrimo feito pelo sistema Rimobloco deverá ser calculado pelas teorias clássicas da Mecânica de Solos (Rankine, Coulomb etc.)
como muro de gravidade. Da mesma forma, cargas pontuais definidas por tirantes, ativos ou passivos, tem sua forma de cálculo bem definida,
especialmente na questão estrutural do paramento.
Os métodos de cálculo para solo grampeado divergem dos anteriores por levarem em consideração as tensões entre grampos que podem ser
entendidas ou calculadas como mudanças nos parâmetros internos do solo. Ou seja, os métodos de cálculo para cada caso são totalmente diferentes.
Ressaltamos também que o grande êxito obtido pelo sistema, a dificuldade ou custo de se executar ensaios geotécnicos e outros motivos, têm levado
a uma certa padronização do sistema solo grampeado. A grande maioria (aproximadamente 90%) das obras que temos executado, dos mais diversos
projetistas, especifica o uso de 1 (um) grampo na faixa entre 1,0 m² e 2,0 m².
Baseados nas considerações acima e em nossa experiência, propomos que o sistema solo grampeado deva estar situado na faixa de 0,5 m²/grampo
até 4,0 m²/grampo/, como indicamos no gráfico a abaixo.
[1] MELLO, Victor F.B. – Palestra de Abertura do 1º SEFE – “Abismo entre Teoria e Pratica”.
[2] PROTEÇÃO por barreira. Recuperar – Revista do Instituto de Patologias da Construção, Rio de Janeiro, n. 47, p. 11, Mai/Jun 2002.
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