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Mais do que música:

movimento punk, skinhead e headbanger em Salvador

Ivan Pamponet Suzart Neto

1. INTRODUÇÃO
Muitas vezes erroneamente resumidos como gêneros musicais, o metal e o punk,
assim como suas respectivas variações de estilo, vão muito além disso na prática. Além
da preferência musical e da estética adotada, questões políticas e sociais são
fundamentais para construção do seu estilo de vida e das relações entre os indivíduos do
mesmo grupo e com demais grupos. Seus indivíduos e grupos são geralmente vistos
como iguais sem muita distinção, por diversas vezes classificados meramente como
“roqueiros”. Com influência midiática que expões uma visão banal, radical, vazia e
superficial, esses movimentos sociais acabam sendo mais marginalizados do que sua
própria origem. Sem muitas explicações, no geral, conflitos e casos de violência
envolvendo movimentos como punk, skinhead e headbanger são noticiados e
comentados. Porém existem uma carência de informações sobre esses movimentos e
suas subdivisões, tanto na análise midiática quanto nos estudos acadêmicos, para melhor
entender o funcionamento desses grupos na dinâmica social das grandes cidades.
A música é o elemento central que liga os indivíduos aos movimentos, tendo ou
não já uma bagagem teórica do ponto de vista político. Porém não é necessariamente o
que fazem os indivíduos comporem ou não um determinado movimento. Uma pessoa
pode ser um grande fã das músicas e não se reconhecer como um punk ou um
headbanger, no caso do metal. Contudo, o fator decisivo para compor de fato um grupo
é o reconhecimento dos demais membros. Esse reconhecimento é conquistado através
da a postura e atuação no grupo e seu posicionamento político pessoal. Por mais que
alguém goste muito da música e carregue consigo elementos estéticos signos do seu
estilo, esse mesmo precisa adquirir o respeito entre os demais para ser visto como um
punk, skinhead ou headbanger.
Diferentemente da impressão que a mídia transpassa, o principal motivo dos
conflitos violentos que ocorrem pelo país, incluindo Salvador, não é uma disputa de

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gangues por território ou rivalidade estética, o que também ocorre, mas por questões
políticas bem enraizadas. Inclusive, há muitas fissões por questões políticas em todos os
movimentos citados. Essas subdivisões entre os movimentos punk, skinhead e
headbanger existem por diferenças musicais, estéticas e políticas, um retroalimentando
o outro e, em suas devidas proporções, um influenciando o outro. Há toda uma
diversidade política e filosófica que vai do niilismo e anarquismo ao fascismo e
nazismo. Alguns desses elementos são ignorados e se cria um imaginário pobre para
preencher as lacunas. A briga entre punks e skinheads (carecas) não faz sentido sem a
fundamentação anarquista pelos punks e fascista pelos skinheads carecas. Como
também entender o porquê do movimento skinhead ter uma origem de negros
jamaicanos imigrantes na Inglaterra até sua subdivisão mais recente, relativamente
falando, que é o movimento white power ou white pride. Ou entender a lógica
ultranacionalista e contra sociedade judaico-cristã ocidental importada do Black Metal
norueguês pelos headbangers extremos.
Por mais que exista um engajamento e até uma teoria política por boa parte dos
integrantes, muitos adotam ideologias e postura política como parte da estética
filosófica do seu grupo. Assim como as vestimentas e aparência também servem como
representação de seu estilo de vida e da sua “tribo urbana”, as questões ideológicas mais
marcantes para o grupo em questão muitas vezes são adotadas mais como uma forma de
inserção no grupo e coerção social pela influência do seu meio do que por um
entendimento e afinidade em si. O que alguns podem chamar de “subcultura”, são
emaranhados de referências culturais das mais diversas e, com isso, também carregados
de signos e simbolismos. Talvez uma análise seguindo o conceito de “agentes pré-
políticos” que Hobsbawn traz em Bandidos seja mais adequada para o estudo desses
movimentos em seu âmbito sociopolítico. São movimentos de contracultura e de ruptura
social, alternativos e marginais, socialmente falando, além de serem oriundos da
periferia e da classe trabalhadora. São rebeldes, agressivos, contestadores e infratores.
Muitas vezes criminosos ao exercer a ação direta, seja como política ou como justiça, de
forma distorcida ou não. Essa postura teórica e prática é justamente o elemento de
integração para além da música ou estética. Através das buscas dos “rituais” e de
códigos culturais muito importantes para a constituição das rebeldias, como relações de
parentesco, o valor da honra, nos resgates dos mitos guardados na cultura popular e nas
relações interpessoais
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entre os indivíduos.
No Brasil, os movimentos punk e headbanger surgem no final da década de
setenta. justamente quando ambos já eram notórios mundialmente e já haviam sido
incorporados ao mercado fonográfico. O Metal, gênero dos headbangers, teve sua
formação de forma gradativa ao longo da década por uma questão meramente midiática,
já que algumas bandas tinham músicas mais comerciais ou palatáveis ao grande público
antes do surgimento de suas vertentes mais agressivas. O Punk surge seguindo a onda
mundial pós 1977, em que o punk conquista adeptos em escala mundial. Essa explosão
era eminente, tanto a indústria fonográfica quanto pela indústria da moda, como
exemplos de Malcolm McLaren, empresário e produtor musical, e Viviane Eastwood,
estilista responsável pela criação da “moda punk”. Nesse período, além do surgimento
de muitas novas bandas, além de velhas bandas serem vistas como punk ou protopunk,
começaram a surgir subdivisões técnicas, políticas e regionais em ambos os
movimentos. O crescimento do punk da Inglaterra fez surgir o Street Punk/Oi! com
características da classe operária, o que rapidamente se fundiu ao já mais velho
movimento de origem operária conhecido como skinhead, até então sem uma definição
política para além do trabalhismo no movimento e musicalmente ligado ao Ska e
Reggae jamaicanos. Mesmo período que o metal ganha forma e o punk surge no Brasil,
incialmente acessado pelos jovens de classe média e alta de Brasília que tinham acesso
aos discos importados pouco difundidos aqui, até então. Aos poucos foi conquistando a
periferia paulista, principalmente do bairro de Carolina na capital, e no subúrbio
operário do ABC paulista. Pouco tempo depois, além de gradativamente se espalhar
pelo país, sobretudo Sudeste, os rachas internos também começaram. Assim como na
Europa o movimento skinhead sofreu transformações, aqui ele surge numa versão mais
precária e pobre ideologicamente, como também já distorcida tentando incorporar a
onda nacionalista que se apossou de boa parte do movimento europeu nos anos setenta.
Os internacionais bonehead se chamaram “carecas” aqui. Ainda preso as questões da
classe trabalhadora, principalmente na região do ABC paulista, o movimento surge no
Brasil no começo dos anos oitenta com uma fraca teoria política, mas com um grande
entusiasmo em reproduzir a estética, a música, a postura e o discurso. Ao longo dos
anos, os movimentos vão se subdividindo e ganhando mais forma de uma maneira mais
autêntica, mas as contradições políticas e ideológicas continuam presentes.
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Desde o final da década de oitenta, Salvador, assim como diversas cidades pelo
país, se tornou um antro de grupos e subgrupos lidados principalmente a correntes do
Punk e Metal e suas ramificações. Esses grupos não só compartilham do gosto pelas
bandas ou músicas, existem padrões estéticos, comportamentais e ideológicos que
aproximam ou afastam grupos e indivíduos de forma violenta ou não. Diferentemente
da ideia geral, não são grupos completamente unidos internamente nem são
completamente antagônicos externamente como acreditam os puristas. É necessário
entender como nasceu, como se dividiu e quem são os indivíduos que compões os
grupos.
Diante dessas considerações, esse estudo tem como proposta a compreensão
desses movimentos em sua totalidade e a relação orgânica, de forma sócio-política, com
que se relacionam a sociedade. Assim como entender a importância das relações política
que os envolve e interagem com os demais grupos, esferas sociais e instituições. Muito
além de uma composição estética, é importante evidenciar os elementos culturais e
filosóficos que os permeia. Rompendo com a exposição defasada e chula com que a
mídia e a sociedade, de forma geral, abordam esses grupos. Pois existe uma carência de
informações juntamente com muita desinformação e senso comum errôneo em relação
aos grupos citados. Sobretudo ao que se refere a Salvador, já que Rio de Janeiro, São
Paulo e Brasília tem um protagonismo maior sobre a temática, incluindo na pouca
produção acadêmica a respeito. Dessa forma, proponho uma exposição dos elementos
teórico-filosóficos desses grupos na dinâmica político-social em Salvador me
debruçando sobre a História Social dos mesmos.

2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral
Esse projeto tem como objetivo identificar, caracterizar, compreender e analisar
como e de que maneira os movimentos punk, skinhead e headbanger surgem, se
dividem e interagem entre si e com a sociedade soteropolitana. Assim como suas
relações e contribuições com questões políticas e sociais juntamente com sua dinâmica
na urbana. Evidenciando como os indivíduos que os compões são importantes agentes
na produção e difusão de conteúdo teórico-político, como também no ativismo sócio-
político transpassando elementos musicais e estéticos.
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2.2. Objetivos específicos

 Buscar caracterizar e compreender o surgimento e desenvolvimento desses


movimentos, quais são os locais que ocupam na sociedade e como se mantem as
relações internas, externas entre os movimentos e externas com o restante da
sociedade.
 Entender as questões políticas, sociais, raciais, econômicas e filosóficas que forjam
o modus operandi e organicidade desses grupos.
 Compreender e explicar o funcionamento, a lógica e suas relações que transcendem
a questão musical e estética se tornando um estilo de vida.
 Identificar, caracterizar indivíduos e bandas atuantes em seus movimentos em
Salvador.
 Investigar e caracterizar as formas de atuação desses movimentos que possibilita na
manutenção de seus valores e ideais.
 Buscar compreender e analisar como a música se torna uma importante ferramenta
política que fortalece ideologicamente e contesta socialmente.
 Compreender e buscar evidenciar a existência de descaso midiático e a falta de
interesse acadêmico para com esses movimentos expressivos que resulta numa
marginalização e desinformação.

3. PROPOSTA TEÓRICO-METODLÓGICA

O Brasil é um notório expoente da produção cultural em nível mundial e, por


diversas vezes, atrela problemas sociais e políticos à essa produção de forma crítica e
poética. Seja na literatura, cênica, visual, musical ou uma junção destes, as artes
brasileiras, em suas diversas formas, são repletas de elementos culturais tanto internos
quanto externos o que nos torna, perante o mundo, singulares e autênticos ao mesmo
tempo que utilizamos e dialogamos com o mundo. Porém, de modo geral, pouco se fala
sobre dois gêneros musicais cuja produção nacional é tida como uma das mais
importantes no cenário internacional que são o Punk e Metal, assim como as
subdivisões dos mesmos. Bandas Punk como Cólera e Ratos de Porão (SP) ou de Metal
como

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Sepultura (MG) e Mystifier (BA) deram destaque ao Brasil levando nossa versão desses
gêneros a lugares onde nenhum grande artista musical brasileiro foi.
No fim da década de setenta, o Punk e o Metal estavam em alta e se
disseminando por todo o mundo o mundo de forma gradativa e assimilando elementos
culturais e político em cada região que se estabelecia. Ambos são oriundos da classe
trabalhadora e caracterizados pela contracultura, transgressão artística e contestação
agressiva dos valores vigente de forma marginal em relação a produção musical. Por
mais sejam alternativos e desagradáveis ao grande público, a adesão popular,
principalmente entre os jovens, permitiu a cooptação desses gêneros pela indústria
fonográfica que proporcionou uma maior difusão. Compartilhando de uma visão
distópica e na subversão cultural e política, existe um diálogo filosófico mesmo com
uma estética musical divergente entre um certo nível de complexidade no Metal e
relativa simplicidade no Punk.
Em um contexto de paranoia nuclear proporcionada pela Guerra Fria, eclosão de
movimentos sociais, disputas políticas, diferentes formas de contracultura e luta por
direitos civis, o Punk e Metal chegam ao Brasil em meio a Ditadura Militar. Com um
discurso muito mais combativo e raivoso do que os brasileiros estavam acostumados, ao
se tratar de expressões artísticas, houve uma boa aceitação por parte dos jovens.
Enquanto os Headbangers eram geralmente ligados à classe média e não tinha uma
ideologia política bem estabelecida quanto movimento, os Punks tiveram uma fissão
inicialmente política entre os chamados Punks do Subúrbio, mais ligados ao
anarquismo, e Punks do ABC, mais ligados ao socialismo. Já existam conflitos
violentos entre grupos e gangues que envolvia os três contando também com a opressão
policial que os perseguia de forma praticamente igual. Pouco tempo depois, ainda no
início da década de oitenta, o movimento Skinhead chega ao Brasil, principalmente na
região do ABC, em sua versão fascista de influência inglesa. Desde então, os conflitos
se agravaram em disputas políticas-ideológicas e territoriais que muitas vezes
resultavam em mortes.
Havias, e ainda há, uma espécie de guerrilha ideológica urbana em que espaços
eram delimitados e jovens era disputados. As lutas corporais logo ficaram mais sérias e
armas, principalmente armas brancas, eram frequentemente usadas nos conflitos.
Escolas, universidades, meios urbanos e, principalmente, fábricas e sindicatos eram os
alvos para confronto ideológico. Houve então uma grande luta entre extrema-esquerda e
extrema-direita para obter adesão dos jovens e da classe operária.

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“Dentro da tradição da música popular brasileira, o punk rock é
inovador, com suas letras diretas. Ele se desenvolveu em um momento de
arrefecimento da ditadura militar, embora os militares usassem a violência
estatal e a paraestatal, como no caso do atentado ao Rio Centro, na
tentativa de evitar a abertura democrática do país. No interior da cultura, o
punk rock se estabeleceu no Brasil com toda sua revolta contra a ditadura
militar, a violência policial, a superexploração do trabalho e assim por
diante. A demais, uma manifestação artística evidenciou um elemento novo,
o desemprego estrutural a afetar a oportunidade de trabalho digno dos
jovens. A cultura punk pôs a nu o mundo do trabalho ao ponto de jovens de
origem proletária se recusarem a entrar no mercado de trabalho nas
mesmas condições degradantes de seus pais, voltando-se contra a
superexploração do trabalho. Destarte, compreende-se o porquê da adoção
do anarquismo individualista pelo movimento punk, distanciando-se do
anarcossindicalismo dos trabalhadores urbanos brasileiros das primeiras
décadas do século XX.” (VILAS BOAS e SILVÉRIO, 2015, p.79)

Quando esses movimentos chegam em Salvador, em meados da década de


oitenta, eles assumem um caráter mais esquizoide em que elementos variados entres os
grupos se misturam. Diferente do Rio de Janeiro, São Paulo ou Brasília, em que os
grupos já estavam bem definidos, o Punk e o Metal começou quase como uma coisa só
sem muita distinção entre os signos referentes a cada um. Punks e Headbangers
escutavam as mesmas bandas, usavam roupas parecidas e tinha uma postura de esquerda
ou apolítica. Isso gerava estranhamento nos primeiros contatos com bandas do Sudeste
que vinham pra cá, como no relato do Ratos de Porão sobre o primeiro show em
Salvador. Outro exemplo é da banda Bandeira de Combate, uma banda fascista de
Carecas da Cidade Baixa, que inicialmente só adotou o a identidade Skinhead Careca na
estética ao gritar “Careca é anarquia” em shows ainda no final da década de oitenta, mas
logo adotaram a ideologia fascista. Houve atraso, mas entre o fim da década de oitenta e
o início da década de noventa, esses movimentos assumiram suas características típicas
através de articulações entre os movimentos em nível nacional e até internacional.
Dificilmente pessoas de fora desses grupos sabem a respeito da atuação deles em
Salvador ou sobre suas particularidades em relação aos demais estados. Para o avanço,

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do ponto de vista da atuação política e social, foi necessário não só o enfrentamento
físico entre esquerda e direita, mas também o desenvolvimento de diversos projetos
sociais. Desde a década de noventa, foram criadas bibliotecas anarquistas; espaços
culturais; palestras; produção de Zines (Fanzines) e documentários; organização de
grupos desenvolvidos teoricamente e preparados fisicamente; aulas de defesa pessoal;
fomentação de debates; campanhas de arrecadação de alimentos e roupas para
necessitados; articulações políticas de forma pragmática com alguns partidos;
desenvolvimento de redes nacionais de informação e colaboração; campanhas de
conscientização; cinemas improvisados; apoio a movimentos sociais; organizações de
manifestações; e ocupação terrenos e espaços. Sendo assim, o comprometimento
político é mais importante do que a própria música ou sua estética visual para o grupo.

“O visual dos Punks não é uma “fantasia”. Não se trata aqui de aproximação
por semelhança, de chegar o mais perto possível do modelo original (como
“sair de índia”, parecer-se o mais possível com ela, ou as atuais fantasias de
Punk que entram na moda). O que organiza essa participação não é a
semelhança, mas a similitude. A semelhança tem um modelo, uma referência
primeira a partir da qual se tiram cópias cada vez menos fiéis. A similitude
se propaga em séries que podem ser percorridas numa ou noutra direção, em
que cada elemento vale por sua diferença e não por grau de subordinação ao
original. A semelhança é da ordem da representação e a similitude desdobra a
repetição numa relação não-hierarquizada de similar a similar; a similitude
não trabalha com a cópia e o modelo, mas faz circular o simulacro. Na
desconstrução da figura humana que os Punks realizam no visual (e nos seus
nomes: os nomes e as marcas), eles não copiam o bicho, o guerreiro, mas
entram numa série em que eles entram também e onde se comunicam
transversalmente numa relação indefinida e reversível, isto é, em múltiplas
possibilidades de relação.” (CAIAFA, 1985, p.88)
Por mais que alguns indivíduos ou grupos referentes aos movimentos citados
não uma base teórica bem desenvolvida, existe um compartilhamento ético, moral e
filosófico que os permeia. Em parte, existem elementos em comum antes na inserção do
indivíduo no movimento, assim como há a adoção de valores por influência desse meio.
Aí se dá a importância dos eventos socioculturais como ambiente de formação política.
Os mais

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teóricos enxergam a problemática de se ter membros nesses grupos e movimentos mais
superficiais ideologicamente sem uma boa análise crítica ou reflexão sobre essas
questões. Uma mera reprodução de discurso e imitação de postura pode resultar em
grupos e ações nocivas a própria visão política do movimento. Existe um ímpeto jovial
em busca da transformação de sua realidade (FREIRE, 2005) e da sociedade com um
viés revolucionário que flerta com o banditismo social. O que pode ser perigoso a
depender da motivação, se será um banditismo revolucionário ou um banditismo
pseudorrevolucionário simplesmente pelo prazer da transgressão. Como exemplos
locais tem o movimento niilista que não contribui de forma efetiva e se baseia em
críticas superficiais. Ou o caso ocorrido em 2017 quando um jovem ex-Headbanger,
por influencia de um antigo membro dos Carecas, espancou um punk que veio a falecer
pelo fato de serem “inimigos ideológicos”, mesmo esse jovem não sendo reconhecido
efetivamente pelos Carecas do Brasil.

“[...] nas décadas de 1960 e 1970 surgiu um curioso epílogo para a história
do banditismo social do tipo tradicional quando suas estratégias e, em
certos aspectos, seu éthos e seus ideais se transferiram para um novo grupo
social, integrado essencialmente por pequenos grupos de jovens de classe
média que formavam o núcleo de células neorrevolucionárias. De vez em
quando esse novo grupo encontrava ressonância nas abarrotadas
universidades daquela época e procuravam passar por cima das antigas
classes trabalhadoras e dos velhos movimentos trabalhistas (quaisquer que
fossem suas bandeiras políticas), apelando diretamente para os pobres não
organizados e sobretudo para as subclasses alienadas e marginalizadas da
sociedade. Já houve quem propusesse semelhanças com os intelectuais
russos chamados narodnik. Referindo-se a uma boa parte dessa nova
dissidência cultural e política dos jovens, alguns autores, em particular o
sociólogo francês Alain Touraine, descreveram-na como uma espécie de
“rebelião primitiva”. De fato, é possível que parte dela se visse sob essa luz.”
(HOBSBAWM, 2000, p. 162)
“[...] o rock se tornou o meio universal de expressão de desejos, instintos,
sentimentos e aspirações do público entre a adolescência e aquele
momento em que as pessoas se estabelecem em termos convencionais
dentro da sociedade, família ou carreira: a voz e a linguagem de uma
‘juventude’ e de uma ‘cultura jovem’ conscientes de seu lugar dentro das
sociedades industriais modernas. Poderia expressar qualquer coisa e tudo
ao mesmo tempo dentro dessa faixa etária, mas embora o rock tenha
desenvolvido variantes regionais, nacionais, de classes ou político-
ideológicas claras [...]” (HOBSBAWM, 1989, p.17)

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Utilizando de uma análise crítica histórico-social desses movimentos de caráter
político e cultural para uma abordagem teórica-metodológica, irei utilizar do material
produzido por esses movimentos ao longo das últimas décadas numa perspectiva sócio-
política. Dessa forma, ao me aprofundar em suas próprias produções, poderei expor de
forma mais efetiva os elementos que compõem esses movimentos.

4. MÉTODOS, TÉCNICAS E ESTRATÉGIAS DE PRODUÇÃO E


ANÁLISE DOS DADOS.

Baseando-se na coleta de dados do trabalho de campo, dentro dos requisitos de


metodologias etnográficas, a pesquisa tem a função de desenvolver uma análise
histórica-social. Levando em consideração que há uma relação estreita entre o
pesquisador e o objeto devido sua inserção no meio e grupos trabalhados, facilitará a
aproximação, a coleta de dados e o desenvolvimento analítico da pesquisa. Contudo,
existe uma pequena problemática relativa a essa relação entre o pesquisador e o objeto
que é o caráter conflitante com alguns indivíduos e subdivisões dos grupos.
Primeiramente planeja-se um trabalho de atualização de pesquisas anteriores
através de novas fontes de dados e materiais bibliográficos. O que incluindo a produção
de material local como Fanzines, documentários e produções textuais. Considerando
possíveis mudanças ocorridas no cenário musico-social (ou sócio-musical) referido,
assim como também ampliar a quantidade e fontes de dados para uma pesquisa mais
minuciosa.
Posteriormente, iniciará a pesquisa de campo sobre os movimentos Punks,
Headbangers e Skinheads, juntamente com seus indivíduos e subdivisões, na cidade de
Salvador e adjacências utilizando de técnicas descritivas a partir da observação
participante no método etnográfico e na realização de entrevistas. Além de uma
abordagem investigativa do ponto de vista da História, se abordará questões ligadas ao
cenário musico-social referente a esses grupos, suas identidades, suas influências, suas
organizações sociais, seus ativismos políticos, suas produções culturais, as questões
pertinentes aos grupos, as relações entre os grupos e a sociedade, a maneira com que as
músicas e os movimentos interagem com as pessoas e como enxergam o papel sócio-

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político dos indivíduos e dos movimentos.

Inicialmente, as entrevistas serão realizadas com indivíduos integrantes de seus


respectivos movimentos. Porém não só os membros notórios desses movimentos serão
entrevistados. Outros indivíduos que tem algum tipo de vínculo com um ou mais desses
movimentos e ajudam a compor o cenário musico-social desses grupos em Salvador
também trazem informações importantes à análise e compreensão do objeto abordado.
Devido a uma considerável produção de material informativo, é necessário
incorporar a coleta e sistematização desses dados. Ao longo das últimas décadas muito
material digital e físico foram produzidos e podem ajudar a elucidar melhor o cenário
soteropolitano do seu surgimento até os dias de hoje. São materiais físicos e digitais de
diversos tipo como visual, musical e literário podendo ser artístico ou documental.
Com a convergência dos dados recolhidos pelo processo etnográfico e suas
entrevistas com o material físico e digital coletado, a pesquisa pretende debruçar-se em
uma metodologia participativa. Observar, analisar, problematizar, refletir e investigar a
atuação sociopolítica desses movimentos e sua relação para com a sociedade
evidenciando os elementos culturais e características ideológicas presentes na
composição dos movimentos Punks, Headbangers e Skinheads e sua importância na
formação política de indivíduos e como atual nos espaços públicos.

5. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS.

Por mais que o pesquisador tenha uma inserção nesse cenário, de forma ética, a
pesquisa tem pretensão de se distanciar ao máximo de preconceitos, juízo de valor,
proselitismo ou enviesamento político-teórico. Contudo, é importante registrar que
justamente por ter essa inserção no cenário, por parte do pesquisador, há uma
dificuldade em aproximação com alguns indivíduos e subdivisões dos movimentos por
um caráter político conflitante.
Baseando-se em procedimentos éticos, todas as informações coletadas no campo
só serão validadas com autorização prévia e consentimento livre e claro por parte dos

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entrevistados e interlocutores, incluindo suas identidades. Assim como imagens, textos
e outros tipos de registro só serão divulgadas mediante autorização. Em alguns casos
específicos, pode-se utilizar de pseudônimos para se referir a uma entrevista ou
interlocutor ou para o uso de alguma informação.
A pesquisa participativa respeitará as diretrizes éticas e a relação entre
pesquisador e interlocutores. Mesmo que, por conta da inserção do pesquisador no
cenário abordado, já exista uma relação de proximidade ou distanciamento e
harmoniosa ou conflitante, a pesquisa será realizada da forma mais imparcial possível e
todos entrevistados serão abordados com respeito, ética e profissionalismo,
independente da natureza da relação para com o pesquisador.

6. ORÇAMENTO E CUSTOS.

Custo Pessoal
Item Quantidade Valor Total
Mão de obra 9 (mensal) R$ 1.500,00 R$ 13.500,00
Alimentação 180 (diário) R$ 20,00 R$ 3.600,00
Material de uso permanente
Impressora 1 R$ 699,00 R$ 699,00
Celular 1 R$ 1.000,00 R$ 1.000,00
Notebook 1 R$ 2.851,00 R$ 2.851,00
Serviços terceirizados
Internet 9 (mensal) R$ 70,00 R$ 600,00
Transporte 60 R$ 8,80 R$ 504,00

Recarga celular 6 (mensal) R$ 50,00 R$ 300,00


Material de consumo
Caderno 2 R$ 15,00 R$ 30,00
Papel A4 3 R$ 14,90 R$ 44,70
Caneta 15 R$ 2,00 R$ 30,00
Total: R$ 23.158,70

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7. CRONOGRAMA.

ETAPAS Janeiro Fevereiro Març Abril Maio Junho Julho Agost Setembro
PERÍODO o o
Revisão de fontes X X X
bibliográficas e
documentais
Elaboração dos X X X
roteiros de
entrevista
Realização das X X X X
entrevistas
Seleção dos dados X X
secundários
Redação da X X
monografia
Entrega da X
monografia para
correção
Redação da X
monografia
Defesa da X
monografia

8. REFERÊNCIAS

VILAS BOAS, Josnei Di Carlo; SILVÉRIO, Renata Costa. A cultura Punk e o mundo
do trabalho: Possíveis interfaces entre o Punk Rock e o novo sindicalismo de 1977 a
1988. Florianópolis: Editora Em Debate, 2015.
CAIAFA, Janice. O movimento punk na cidade: A invasão dos bandos sub. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

HOBSBAWM, Eric J. A História social do jazz. São Paulo: Paz e Terra, 1989.

HOBSBAWM, Eric J. Bandidos. São Paulo: Paz e Terra, 2000.


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