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Jacques Peuchet
(1758-1830)1 espécie de “coautor” deste livro, era um ex-arquivista policial com
uma trajetória de vida peculiar. Além de se dedicar aos trabalhos nos arquivos da
Polícia, exerceu outros cargos públicos e foi membro do partido monarquista.
Em sua longa experiência nos departamentos de administração e de Polícia,
chamaram-lhe a atenção os inúmeros casos de suicídio
em alguns trechos sobre o “suicídio”, extra ídos das “mémoires tirés des
archives de la police etc. par Jacques Peuchet”, darei um exemplo dessa crítica
francesa, que ao mesmo tempo pode nos mostrar até que ponto a pretensão dos
cidadãos filan tropos está fundamentada na ideia de que se trata apenas de dar
aos proletários um pouco de pão e de educação, como se somente os trabalhado-
res definhassem sob as atuais condições sociais, ao passo que, para o restante da
sociedade, o mundo tal como existe fosse o melhor dos mundos. (p.22)
o número anual dos suicídios, aquele que entre nós é tido como uma média
normal e perió di ca, deve ser considerado um sintoma da organização deficiente
de nossa sociedade; pois, na época da paralisação e das crises da indústria, em
temporadas de encarecimento dos meios de vida e de in vernos rigorosos, esse
sintoma é sempre mais evidente e assume um caráter epidêmico (p. 23)
embora a miséria seja a maior causa do suicídio, encontramo-lo em todas as
classes, tanto entre os ricos ociosos como entre os artistas e os políticos. A
diversidade das suas causas parece escapar à censura uniforme e insensível dos
moralistas (p.24)
Antes de tudo, é um absurdo considerar antinatural um comportamento que se
consuma com tanta frequência; o suicídio não é, de modo algum, antinatural,
pois diariamente somos suas testemunhas. (p.25)
o que é contra a natureza não acontece. Ao contrário, está na natureza de nossa
sociedade gerar muitos suicídios, ao passo que* os tártaros não se suicidam.
(p.25)
As sociedades não geram todas, portanto, os mesmos produtos (p.25)
Tudo o que se disse contra o suicídio gira em torno do mesmo círculo de ideias.
A ele são contra postos os desígnios da Providência, mas a própria existência do
suicídio é um notório protesto contra esses desígnios ininteligíveis (p.26)
em poucas palavras, faz-se do suicídio um ato de covardia, um crime contra as
leis, a sociedade e a honra (p.26
Acreditou-se que se poderiam conter os suicídios por meio de penalidades
injuriosas e por uma forma de infâmia, pela qual a memória do culpado ficaria
estigmatizada. O que dizer da in- dignidade de um estigma lançado a pessoas
que não estão mais aqui para advogar suas causas? (p.27)
As relações entre os interesses e os ânimos, as verdadeiras relações entre os
indivíduos ainda estão para ser criadas entre nós inteiramente, e o suicídio não é
mais do que um entre os mil e um sintomas da luta social geral (p.28)
sempre percebida em fatos recentes, da qual tantos combatentes se retiram
porque estão cansados de serem contados entre as vítimas ou porque se insurgem
contra a ideia de assumir um lugar honroso entre os carrascos (p.28)
Muitos terminam seus dias dominados pelo pensamento de que a medicina, após
lhes haver infligido longos e inúteis tormentos com progressos frustrantes, é
incapaz de livrá-los de seus males (p.42)
A classificação das diferentes causas do suicídio deveria ser a classificação dos
próprios defeitos de nossa sociedade (p.43)
Vê-se que, na ausência de algo melhor, o suicídio é o último recurso contra os
males da vida privada (p.48)
O suicídio elimina a pior parte da dificuldade, o cadafalso ocupa-se com o resto.
Somente com uma reforma de nosso sistema geral de agricultura e indústria
pode-se esperar por fontes de recursos e por uma verdadeira riqueza (p.50)