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UNIVERSIDADE DE CUIABÁ – UNIC

FACULDADE DE ODONTOLOGIA

PROFESSOR: JEFFERSON DE FREITAS


Aluno:______________________________

Cuiabá – MT/2022
PENSAMENTO CIENTÍFICO

CONHECENDO A DISCIPLINA
A disciplina de Pensamento Científico tem como objetivo proporcionar
maior facilidade de compreensão da importância do conhecimento no
mundo real, tanto na solução de problemas teóricos como práticos,
favorecendo a identificação dos diversos tipos de conhecimentos,
distinguindo suas principais particularidades e, principalmente,
identificando seus limites para a solução de problemas cotidianos.

Ao longo da disciplina, com base em exemplos objetivos, exploraremos


as distinções entre o conhecimento vulgar e o científico, desconstruindo
mitos popularmente aceitos sobre suas aplicabilidades e enfatizando
seus desafios no mundo globalizado.

Examinaremos também os diversos tipos de conhecimentos filosóficos


existentes frequentemente associados com o científico, destacando seus
aspectos valiosos e suas dificuldades que se refletem no estabelecimento
de uma aceitação universal por parte de pesquisadores acadêmicos no
campo da ciência e da filosofia.

Finalmente, avaliaremos a relação entre o conhecimento filosófico e o


religioso, com o objetivo de proporcionar clareza e entendimento
profundo das consequências da aplicabilidade desses conhecimentos na
realidade.

O estudo desta disciplina favorecerá a fomentação de uma cultura


intelectual mais sofisticada, contribuindo para melhores tomadas de
decisão frente aos desafios globais, sobretudo na problemática da
mudança climática e da saúde pública, e ajudando na resolução dos
problemas pertinentes à vida cotidiana.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 2
UNIDADE 01 SEÇÃO 1

QUAL A DIFERENÇA ENTRE O SENSO COMUM E O CONHECIMENTO CIENTÍFICO?

CONVITE AO ESTUDO
Caro aluno,

Observe o quanto o mundo real é baseado em dois principais pilares: ciência e tecnologia. Hoje,
mais do que em outras épocas, a relação desses dois campos proporcionou inovação global e
facilidade de acesso à informação.

A inovação contribuiu para o rápido progresso tecnológico da sociedade, principalmente com a


automatização provocada pelo uso de Inteligência Artificial, e o acesso à informação aumentou
com a ascensão da Internet. Os mecanismos de buscas das grandes empresas, como o Google e o
Bing, unificaram esses dois elementos e, com base em algoritmos cada vez mais refinados,
proporcionaram a emergência de anúncios e resultados de buscas cada vez mais personalizados de
acordo com os dados de acessos dos usuários. No entanto, o rápido progresso tecnológico não
preparou cognitivamente a população para a avaliação crítica das informações recebidas nos meios
digitais com acesso à Internet.

Atualmente, em todo o mundo, enfrentamos o problema da fake news, que é um conceito em inglês
para designar notícia falsa. A fake news atinge todos os setores da atividade humana, trazendo
sempre algum dano real, como a consequência dos boatos do movimento antivacina, que
contribuíram para que doenças até então erradicas no Brasil, como a febre amarela, voltassem à
tona.

A fake news se aproveita da falta de entendimento do grande público sobre o que é conhecimento e
como avaliá-lo. Dessa forma, o indivíduo-alvo acaba não tendo o fundamento e as ferramentas
necessárias para identificar o quão real é a informação recebida.

Ao decorrer do livro, você será capaz não apenas de entender os diversos tipos de conhecimentos,
mas também de identificar um tipo peculiar de crença psicológica que finge ser científica,
geralmente sustentando narrativas fantasiosas ou sensacionalistas.

O resultado será a compreensão da atividade científica, da importância de sua aplicação na vida


cotidiana e do impacto que o falso conhecimento, elemento de estrutura das fake news, provoca na
sociedade contemporânea.

PRATICAR PARA APRENDER


Você já precisou procurar alguma informação para a realização de um trabalho? É muito provável
que sim. Qual o principal meio de busca para encontrar a resposta que você precisa?
Provavelmente, você responderá Google, Bing ou algum outro site de pesquisas online.
Diferentemente, nas gerações anteriores ao surgimento e popularização da Internet, as buscas
eram realizadas através de bibliotecas, livros, sumarizações e enciclopédias.

A Era da Informação trouxe uma enorme facilidade, no sentido de praticidade, do encontro de


informações. No entanto, com o excesso de informações, é possível que não tenhamos acesso a algo
verídico. Portanto, será necessário questionar: “As primeiras respostas do Google realmente são o
conhecimento mais coerente frente à realidade?”

Com o advento do mundo contemporâneo, o indivíduo que tem um conhecimento sólido em sua
prática profissional é muito valorizado, mesmo sendo preciso que ele esteja disponível para
aprender e atualizar sua formação profissional, exigindo cada vez mais uma busca por
conhecimentos mais avançados em sua área de atuação.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 3
Pensar cientificamente é uma ótima maneira para garantir uma progressão de aprendizado,
autocorreção e adaptação conforme a necessidade. Sendo assim, o profissional cientificamente
orientado pensará nos meios de maximizar sua produtividade, levando em conta os impactos que o
trabalho excessivo poderia causar em seu estado de saúde e, ao mesmo tempo, proporcionando
maior capacidade de gestão na organização de tarefas em equipe.

Em uma sala de aula, quatro estudantes são desafiados pelo professor de Filosofia a responderem a
três questões, que são recorrentes ao longo da história da humanidade.

De onde viemos?
Para onde vamos após a morte? Por que estamos aqui?
Cada aluno, em seu modus operandi, adota uma postura diferente em relação às respostas. Um vê
o mundo a partir do (A) conhecimento científico; outro, do (B) religioso; o seguinte, do
(C) filosófico e, por fim, o último, através do (D) senso comum. Diante dessa situação, a resposta
de cada um é:

Aluno A: Tudo se iniciou no Big Bang, e através de um processo de evolução por meio da seleção
natural. Após a morte, nossa consciência não mais existe. Não há nenhum propósito especial, com
base no que conhecemos através da ciência.

Aluno B: Deus criou o Céu e a Terra tal qual está escrito na Bíblia. Para o paraíso ou inferno. Para
atender aos desígnios de Deus.

Aluno C: Qual é a origem do Universo? Qual é a melhor teoria científica? Podemos advogar pela
defesa do Big Bang? É necessário submeter ao escrutínio da filosofia analítica a análise semântica
das teorias científicas. Do mesmo modo, é necessário clarificar o conceito de morte, olhando pelas
implicações do conhecimento científico. Essa pergunta traz problemas de ordem metafísica,
portanto, é necessário analisar o significado do conceito de propósito.

Aluno D: Depende do contexto. Um indiano, provavelmente, responderia com base em suas


crenças culturais regionais, manifestando explicações de caráter hinduísta. Se fosse um japonês,
provavelmente advogaria pelo zen budismo. Um brasileiro responderia conforme as crenças
compartilhadas de sua região, por exemplo, existem regiões no Brasil onde há

prevalência de mitos da origem da vida e do universo que têm uma relação intrínseca com crenças
religiosas africanas, enquanto outras são fortemente influenciadas pelo catolicismo europeu. Nesse
sentido, como foi explicado no texto, o conhecimento popular absorve sempre aspectos de outros
conhecimentos quando incorporados fortemente pela cultura.

Nessa interação, percebemos que cada aluno apresenta sua perspectiva pessoal frente às três
grandes questões. Assim, recomenda-se instigá-los sobre as possíveis consequências das adoções
de certos tipos de conhecimento e crenças para os desafios de sua vida diária e do mundo
contemporâneo, tratando de fazê-los responder qual o melhor tipo de conhecimento para uma
situação específica e como conciliá-lo com outros. Por exemplo, como a adoção de uma crença
oriunda do conhecimento religioso poderia impactar em questões de saúde individual e coletiva?
Qual consequência o conhecimento vulgar, aquele de senso comum, traria para a sociedade ao
enriquecer mais rapidamente do conhecimento científico? A absorção do conhecimento científico,
tanto no âmbito individual como coletivo, nos tornaria melhores tomadores de decisão? Essas
questões, consequentemente, reforçariam a existência de diferentes tipos de conhecimentos no
âmbito da vida cotidiana e fomentariam o pensamento crítico dos alunos.

Saber muito não lhe torna inteligente. A inteligência se traduz na forma que você recolhe, julga,
maneja e, sobretudo, onde e como aplica esta informação.
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Carl Sagan, trecho do documentário Cosmos (1980).

CONCEITO-CHAVE
DOXA, O CONHECIMENTO VULGAR DA SOCIEDADE

Desde Aristóteles, o conceito de conhecimento tem sido central no debate filosófico. Inicialmente,
conhecimento era tratado como um tipo de crença racional, verdadeira e justificada. Crença,
porque faria relação com um estado psicológico do sujeito; racional, porque envolveria o exercício
de nossas faculdades cognitivas; verdadeira, porque faria alusão a objetos ou fenômenos da
realidade; e, principalmente, justificada, porque requereria um conjunto de enunciados
estruturados logicamente. Essa definição, porém, não dá conta dos diversos tipos de
conhecimentos existentes, alguns dos quais serão tratados ao longo do livro.

Para começar nossa jornada, vamos entender um pouco o conceito de conhecimento vulgar,
também chamado senso comum ou saber popular. Etimologicamente, refere-se ao conceito
aristotélico de doxa, ou simplesmente opinião.

O conhecimento vulgar trata-se de um conhecimento que não quer nenhum tipo de exercício
crítico, também não envolve nenhum tipo de verificação experimental. Geralmente, ele é
transmitido culturalmente, de gerações a gerações, muitas vezes preservando mitos que eram
aceitos em determinada época. Por exemplo, o mito de que o chinelo virado com a sola para cima
traz azar, ou a ideia de que um trevo de quatro folhas traz sorte. No entanto, também é verdade que
alguns ensinamentos transmitidos pelo conhecimento vulgar possam ser verdadeiros, como a ideia
de não colocar a mão no fogo para não se queimar, ou mesmo não entrar em uma lagoa se não
souber nadar, porque é possível se afogar.

O conhecimento vulgar também pode se enriquecer do conhecimento científico, especialmente


quando este último se torna bastante popularizado ao ponto de seu entendimento se tornar
familiar por quase toda população. Por exemplo, a ideia de que certos alimentos, como carnes, são
mais bem preservados quando congelados, evitando sua contaminação e exposição a
microrganismos no ambiente aberto.

Apesar de estabelecer uma pequena relação com o conhecimento científico, o conhecimento vulgar
não é suficiente para explicar a realidade, exatamente por preservar em seu núcleo ensinamentos
que podem ser falsos ou simplesmente mitos.

CONHECIMENTO RELIGIOSO

O conhecimento religioso pode se enriquecer do conhecimento vulgar, especialmente das tradições


culturais e religiosas cultivadas ao longo do tempo. Por exemplo, na preservação dos mitos gregos
de que os deuses reinavam nos céus, apropriada pelas religiões politeístas.

Esse tipo de conhecimento requer um elemento-chave para alcançá-lo, ao menos da forma como
defenderam diversos pensadores da Idade Média, que é a iluminação religiosa como método para
conhecer a verdade ou a Deus.

Essa iluminação religiosa seria como um sentimento de vislumbre por uma paisagem maravilhosa,
como relatou o cientista Francis Collins (apud SHERMER, 2012) em sua experiência pessoal. É
como um sentimento de inspiração e encantamento com algo notoriamente belo, diante do qual
uma pessoa não encontra palavras para expressar tal sensação. No entanto, essas experiências
religiosas podem ser despertadas mediante o uso de substâncias psicoativas, como alucinógenos ou
antidepressivos, ou podem ser vivenciadas igualmente por qualquer pessoa que tenha apreço pela
natureza, de modo que seu principal método não caracteriza uma forma autêntica e racionalmente
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justificada para conhecer a realidade. Por conta da subjetividade envolvida durante a iluminação
religiosa, não é possível demonstrar que a observação pessoal produziu cenas reais no cérebro
dessas pessoas.

Outro método comumente cultivado na construção do conhecimento religioso é a hermenêutica. A


hermenêutica é um tipo de filosofia subjetivista, como defendeu o cientista e filósofo argentino
Mario Bunge, porque ela dependeria simplesmente da interpretação do autor para trazer à luz dos
escritos bíblicos a extração de um suposto fato vivenciado em tempos remotos.

A hermenêutica é uma abordagem problemática, pois ela não exige a investigação empírica da
realidade, como a recolha de dados para contrastar fatos históricos bem documentados com a
interpretação pessoal do hermeneuta ou teólogo.

O hermeneuta e o teólogo são os responsáveis por construir esse tipo conhecimento, embora o
primeiro contemple uma atividade mais geral, podendo abarcar o uso da hermenêutica para textos
literários ou filosóficos. No entanto, como foi apontado anteriormente, o simples fato de

invocar a subjetividade do interpretador, ao invés de fatos objetivos, lança um desafio na validade


desse tipo de conhecimento.

O CONHECIMENTO FILOSÓFICO: EMPÍRICO E RACIONALISTA


O conhecimento filosófico é amplo, abarcando diversos posicionamentos ao longo da história da
filosofia, especialmente o empírico e o racionalista. Esse tipo de conhecimento também pode
incluir o religioso, uma vez que a base de todo conhecimento são os pressupostos filosóficos.
Noções de verdade, intuição, dedução, cognoscibilidade, crença, realidade, fenômeno, utilidade e
outras são conceitos filosóficos indispensáveis em qualquer tipo de conhecimento. O conhecimento
empírico pressupõe a cognoscibilidade dos fenômenos com base nas experiências sensíveis do
sujeito, enquanto o racional pressupõe que o conhecimento já é derivado da mente do sujeito,
independentemente de qualquer experiência empírica.

David Hume e John Locke eram filósofos empiristas e, portanto, defendiam que a fonte de
conhecimento derivava dos dados sensíveis. René Descartes, por outro lado, acreditava que o
conhecimento eterno ou matemático poderia ser alcançado pelo simples uso da razão, sem a
necessidade de qualquer experiência empírica. Embora seja verdade também que ele tenha
defendido que uma junção de mais fatores era condição necessária para alcançar verdades
absolutas ou irrefutáveis, por via de seu método cartesiano, que estabelecia, no mínimo, quatro
condições, como evidência, análise, ordem e enumeração, ele deduzia que todos esses princípios
eram alcançados mediante o uso da razão.

Embora Descartes tivesse defendido o papel da razão como principal responsável pelo
conhecimento absoluto, ele fez investigações empíricas durante toda sua vida, especialmente nos
campos da anatomia e da fisiologia, contribuindo para uma descrição de partes do cérebro
humano, como a glândula pineal, e especulando sobre sua real função no organismo.

Houve também pensadores de grande importância da filosofia que tentaram unir os dois tipos de
conhecimentos, sendo o mais famoso o filósofo Immanuel Kant, que lançou as bases de seu método
racioempirista. Esse método consistia em tomar elementos que ele considerava verdadeiros do
empirismo e do racionalismo. Kant apropriou-se do fenomenismo dos empiristas, em que a fonte
de conhecimento se dá através dos fenômenos, e não da realidade em si. Kant acreditava que não
poderíamos conhecer nada além das aparências, de modo que todo o mundo estaria subordinado a
impressões ou dados sensíveis, tal como acredita Hume. Mais ainda, Kant buscou resgatar o
apriorismo do racionalismo, argumentando sobre a plausibilidade de verdades independentes da
experiência, que, segundo ele, estariam ali, prontas na mente.

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O racioempirismo kantiano levou a discussões calorosas no campo da filosofia e, junto com outros
pensadores, inspirou posições bem diferentes entre si na filosofia – especialmente, a
fenomenologia e o positivismo lógico.

O incômodo com a posição de Kant é que ele havia se apropriado de elementos problemáticos de
ambos os conhecimentos empírico e racionalista, não levando em consideração a própria

ciência da época na elaboração de sua filosofia. Os astrônomos Galileu Galilei e Johannes Kepler,
por exemplo, já investigavam a realidade além dos fenômenos limitados a dados sensíveis. Galileu
estendeu sua percepção com um telescópio que ele havia aprimorado e descobriu três satélites de
Júpiter, enquanto Kepler havia calculado a trajetória das elipses planetárias usando ferramentas
matemáticas, hipóteses auxiliares e instrumentação de medidas. Isaac Newton, um dos maiores
nomes da revolução científica, estabeleceu leis científicas que poderiam se aplicar a quaisquer
objetos não diretamente observáveis, mas com velocidades menores do que a da luz. Isso, porém,
não foi suficiente para ruir a possibilidade de unificação entre empirismo e racionalismo.

No século XX, o cientista e filósofo Mario Bunge procurou unificar o empirismo com o
racionalismo, resgatando o conceito de racioempirismo, mas se desvinculando das posições
kantianas notoriamente emblemáticas. Bunge uniu a experiência empírica com a condição de
exercê-la mediante uso crítico da razão como forma de investigar a realidade. Mais ainda, ele
estabeleceu que seria necessária a unificação do realismo com o cientificismo proclamado dos
filósofos da ala radical do iluminismo francês, sobretudo com Condorcet, para formular verdades
mais profundas sobre o mundo.

O realismo é a filosofia que advoga a existência de um mundo independente do sujeito (realismo


ontológico) e que ele pode ser conhecido (realismo epistemológico), mesmo que indireta e
parcialmente, enquanto o cientificismo é a posição segundo a qual a ciência pode produzir o
conhecimento mais profundo e verdadeiro da realidade, em comparação com outras formas de
conhecimentos, como o religioso proveniente da iluminação religiosa ou mesmo do
interpretacionismo hermenêutico. Porém, diferente da concepção caricata difundida sobre o
conceito de cientificismo, ele não é uma posição preconceituosa e nem autorrefutável, mas uma
atitude esperada de qualquer pesquisador interessado em investigar a realidade e que acredita que
o progresso científico é possível e desejável. Mais ainda, o cientificismo é um tipo de filosofia que
enriquece a ciência, favorecendo a investigação científica, em vez de focar a atenção exclusiva na
contemplação excessiva de leituras sagradas ou de ideias do próprio indivíduo, como faziam os
filósofos irracionalistas e teólogos, que negligenciaram séculos de progressos científicos. O
cientificismo, hoje, está entrelaçado com o realismo, dando origem à posição conhecida como
realismo científico.

O realismo científico é a filosofia que admite que podemos tratar teorias científicas como
descrições ou representações verdadeiras do mundo, mesmo que sejam, por vezes, incompletas. É
a posição mais defendida dentro da filosofia da ciência, em comparação com sua concorrente
antirrealista. O antirrealismo, por sua vez, evita fazer uso de afirmações ou teorias que não
correspondam diretamente à observação pura da realidade, desconsiderando o progresso contínuo
provocado pela física de partículas ao estudar acontecimentos ou elementos que são imperceptíveis
diretamente à nossa experiência sensível ou mesmo a teorização ou modelagem matemática de
fenômenos macrossociais que escapam da observação individual do pesquisador sociológico.

Em resumo, o conhecimento filosófico é amplo, contemplando posições muitas vezes compatíveis


ou relacionáveis com a ciência, enquanto outras vezes apresentando um tipo de conhecimento
totalmente oposto ao científico. Sua característica mais fundamental é o exercício de análise lógica
dos enunciados e das teorias científicas, geralmente realizadas por filósofos analíticos ou filósofos
da ciência. Seu mérito reside no fato de que ele alimenta tacitamente a ciência em um processo de

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feedback positivo, proporcionando um vocabulário mais refinado para a ciência e, ao mesmo
tempo, alimentando seu repertório de problemas com os novos dados da investigação científica.

ASSIMILE
No mínimo, existem quatro tipos de conhecimentos, cada qual com sua utilidade e aplicação no
mundo real.
O conhecimento filosófico também tem uma relação de absorção com outros tipos de
conhecimentos, principalmente com o científico, contribuindo para o fornecimento de um
tratamento conceitual adequado e o levantamento de problemas sobre a realidade.
Apenas o conhecimento científico possui um mecanismo de autocorreção com o qual ajuda a
ciência a se ajustar cada vez mais à realidade.

O CONHECIMENTO CIENTÍFICO
O conhecimento científico é um tipo de conhecimento sui generis, ou seja, uma classe de
conhecimento único em sua forma. Esse tipo de conhecimento levou séculos para que fosse
desenvolvido e teve a participação de diversos filósofos ao longo da história, especialmente o
egípcio Ibn al-Haytham e o filósofo inglês Robert Grosseteste, além de figuras notoriamente
conhecidas como Francis Bacon, Galileu Galilei e David Hume.

Haytham é considerado o primeiro cientista, porque aplicou métodos empíricos de investigação


para estudar a óptica, sobretudo os efeitos da luz. Grosseteste, por outro lado, é uma figura
comumente negligenciada em livros históricos, mesmo tendo importância central no
desenvolvimento das bases do método científico. Por outro lado, a literatura vigente considera
apenas as contribuições de Bacon, Galileu, Hume e Descartes.

Bacon advogava pela noção de conhecimento intuitivo, ou seja, a ideia de que, com base em
observações particulares, era possível realizar generalizações. Galileu, por outro lado, é conhecido
por realmente ter aplicado um método científico para a investigação de objetos celestes, indo além
do que os empiristas defendiam, ao usar o raciocínio abstrato, a imaginação e a instrumentalização
adequada para ultrapassar suas experiências sensíveis. Hume, porém, limitava-se a propor um
método atrelado à percepção, de modo que se fôssemos levar ao pé da letra sua posição, não seria
possível algo como biologia molecular, cosmologia e principalmente mecânica quântica, já que
essas disciplinas transcendem a pura percepção do investigador científico.

Descartes, no entanto, conciliou um aspecto importante que Hume também defendia, o chamado
ceticismo metodológico. O ceticismo metodológico é a posição que nos permite duvidar de certas
conjecturas ou hipóteses que não foram submetidas à prova. Essa posição é basicamente uma
dúvida razoável, nunca absoluta, na falta de boas evidências. Em resumo, essa é a posição que
norteia toda a atividade científica ainda hoje.

Com base numa compreensão mais profunda da realidade, os filósofos do século XX tentaram
caracterizar de forma objetiva o conhecimento científico, buscando delimitá-lo de outras formas de
conhecimentos, sendo a figura mais importante dessa atitude o filósofo austríaco Karl Popper.

REFLITA

O que torna o conhecimento científico confiável?


Como o conhecimento filosófico pode contribuir com o conhecimento científico?
De forma satisfatória, é possível estabelecer um critério de demarcação entre ciência e
pseudociência, indo além das concepções propostas no século XX?
Karl Popper (2013) tentou propor um critério de demarcação entre ciência e não ciência (onde se
incluem artes, filosofia e pseudociência), com o objetivo também de responder ao problema de
Hume. Sua ideia era de que nenhuma observação é suficiente para confirmar uma teoria, que
bastaria um contraexemplo para demonstrar sua falsidade. Analogamente ao exemplo mais
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tipicamente usado, o fato de observar cisnes brancos em uma região não permite fazer uma
generalização apressada de que todos os cisnes são brancos, pois a observação de um cisne negro
refutaria a teoria. Então, Popper lançou a condição de que toda teoria, para ser científica, deveria
ser passível de falseabilidade ou falseacionismo, ainda mais porque contribuiria para seu
refinamento. A falseabilidade é a condição de que teorias devem ter a capacidade de serem
provadas falsas em alguma circunstância.

Popper argumentava que a confirmação trivial não assegurava uma boa teoria, utilizando a
psicanálise como exemplo de caso para mostrar que a observação do analista geraria uma
confirmação excessiva, embora não suficiente para avaliar seu grau de verdade. Mais ainda, ele
argumentou que a falta de condições de refutação da teoria psicanalítica seria um elemento vital
para sua fossilização, como o caso do inconsciente freudiano, que admite a existência de três
instâncias psíquicas ou entidades desencarnadas (id, ego e superego), mas que nunca é clarificado
se são conceitos meramente simbólicos ou objetos tão reais quanto axônios, neurônios, sinapses e
partículas.

Com seu critério de demarcação, Popper foi duramente criticado pelos filósofos irracionalistas,
sobretudo Thomas Kuhn e Paul Feyerabend. Kuhn (2017) defendeu que existiam, no mínimo, duas
ciências: a normal e a extraordinária. A normal é a ciência acerca da qual existe minimamente um
consenso estabelecido entre a comunidade científica. Em seguida, dentro da ciência normal,
segundo Kuhn, ocorre uma crise sem precedentes, ocasionada por uma nova descoberta, passando
a existir a dificuldade de estabelecimento de um consenso. Quando essa nova descoberta se
consolida, ocorre uma revolução científica, dando início à etapa de uma nova e extraordinária
ciência, rompendo com velhas concepções de mundo. Pense, por exemplo, na revolução científica
ocasionada pela emergência da teoria da relatividade geral, que, embora seja sempre lembrada
como fruto do trabalho de Albert Einstein, também teve a contribuição de outros grandes nomes
da física, como Henri Poincaré. A relatividade provocou

uma reação de incerteza na comunidade científica por conta de sua aceitação total ao longo de anos
e das limitações físicas agora evidentes das teorias newtonianas para o estudo de objetos de grande
massa. Isso, porém, não significa que a relatividade geral demoliu a física de Newton. Isso também
não sustenta a defesa de Kuhn de que não existe algo como progresso científico. A teoria da
relatividade e o uso da mecânica de Newton têm permanecido de pé ainda hoje, sendo a última
responsável pela possibilidade de envio de foguetes ao Espaço.

Feyerabend (2011), por outro lado, foi ainda mais radical e sentenciou que não existe algo como
método científico e que, na ciência, “tudo vale”, de modo que não existiriam regras para serem
seguidas, a ponto de, segundo ele, os cientistas diversos romperem com os protocolos de
investigação para formularem suas ideias. Feyerabend foi seduzido por essa visão por conta de sua
descrença na medicina científica e a suposta experiência de cura por uma curandeira, o que o levou
a relativizar o status epistemológico da medicina em seus trabalhos. Sua posição ficou conhecida
como anarquismo epistemológico. Embora essa seja a visão que mais prevalece na academia, ela é
falsa, porque ignora que não existe ciência sem método científico (ou seja, sem regras
minimamente estabelecidas e/ou procedimentos experimentais de investigação, principalmente de
acordo com os princípios da pesquisa bioética) e, principalmente, sem ethos (ou código de
conduta) tacitamente aceito pela comunidade científica. Uma ciência sem método não seria capaz
de investigar a realidade em todos os seus níveis, também não seria capaz de progredir ao longo
dos anos e, mais importante, sem ethos tanto a verdade como a mentira teriam pesos igualmente
válidos dentro da comunidade científica.

O ethos da ciência foi primeiramente clarificado pelo sociólogo da ciência Robert K. Merton
(1968). Ao investigar a comunidade científica, ele identificou alguns princípios que norteavam a
pesquisa científica, sendo eles: comunismo epistêmico, universalismo, desinteresse, ceticismo
coletivo e originalidade.
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O comunismo epistêmico enfatiza que o conhecimento científico é propriedade de todos, portanto,
ele deve ser sempre acessível; o universalismo advoga que todos os cientistas, independente de sua
etnia ou localização geográfica, podem contribuir com a ciência; o desinteresse destaca que os
cientistas devem agir conforme a comunidade, de acordo com os interesses coletivos, sempre
acima dos interesses pessoais; o ceticismo coletivo determina que as reivindicações científicas
devem ser submetidas à análise crítica da comunidade; e, finalmente, a originalidade diz respeito à
ideia de que as demandas científicas devem contribuir com a novidade, seja na formulação de
novos problemas, dados ou teorias. A suspensão do ethos leva ao florescimento da pseudociência.

O conceito de pseudociência, de antemão, exige uma compreensão do que é a ciência. No entanto,


nenhum filósofo havia sido capaz de conceituar a ciência de forma adequada, deixando sempre
espaço para que reivindicações não científicas se passassem como ciência. O filósofo Mario Bunge
(2010) mostrou que a concepção popperiana de ciência deixava espaço para que reivindicações
parapsicológicas fossem tratadas como ciência, simplesmente porque satisfaziam o critério de
falseabilidade. Porém, como Bunge enfatizou, o que torna um campo científico não é sua condição
de falseabilidade, mas uma série de princípios, entre os quais estão incluídos um fundo de
conhecimento, uma base formal, uma epistemologia realista, uma ontologia materialista, um
ambiente livre de pesquisa e, principalmente, a prática de um ethos entre membros da comunidade
científica. Nesse sentido, Bunge (2014) define a ciência como um sistema de ideias caracterizados
como um conhecimento sistemático, racional, exato, verificável e, portanto, falível, sendo uma
representação conceitual do mundo. Além disso, quando um campo falha em satisfazer a maior
parte dos princípios de cientificidade, ele pode ser considerado pseudocientífico.

A pseudociência, consequentemente, pode ser conceituada de forma oposta à ciência, como sendo
um sistema de crenças subjetivas, irracionalistas ou puramente intuicionistas, inexata,
inverificável e, portanto, dogmática, pois ela não submete à prova suas crenças, não exige uma
linguagem clara, precisa e objetiva, nem um vocabulário articulado de ideias inter-relacionadas, e,
quando se mostra falha, como na hipótese da existência do inconsciente freudiano da psicanálise
ou das ondas psi da parapsicologia, ela permanece estagnada no tempo, não atualizando suas
crenças à luz de novas evidências.

Em resumo, o conhecimento científico é um tipo especial de conhecimento, que possui em seu


aspecto central a revisão constante de hipóteses e teorias científicas, sempre submetendo à prova
conjecturas e, mais ainda, proporcionando a melhor representação da realidade em todos os seus
níveis (físico, químico, biológico, psicológico, social, artificial, etc.). Por ser um tipo de
conhecimento antidogmático por princípio, ele não deve ser confundido com a pseudociência, em
que, em sua característica mais essencial, o livre debate de ideias é substituído pelo culto à
autoridade e pela salvação contínua de crenças falsas, por conta do sentimento de incerteza
provocado pelo mal entendimento da ciência.

EXEMPLIFICANDO
O conhecimento vulgar (ou senso comum) absorve todos os tipos de conhecimentos ao longo dos
anos. No entanto, ele pode conservar em seu núcleo crenças falsas sobre a realidade. Por sua vez, o
conhecimento religioso possui, ao menos, duas abordagens principais, como a que é baseada na
iluminação religiosa e a interpretacionista, advogada por teólogos ou hermeneutas. De forma
semelhante ao conhecimento vulgar, esse tipo de conhecimento pode manter ideias falsas em seu
núcleo, sobretudo por focar sua abordagem mais no indivíduo subjetivo do que na investigação da
realidade externa.
O conhecimento filosófico é amplo em sua forma, sendo difícil delimitá-lo. Por essa razão, ele pode
ser desenvolvido em uma relação de dependência do conhecimento científico, como também é
possível fazê-lo de forma independente. No entanto, sua característica mais fundamental tem sido
a clarificação dos conceitos utilizados em diversos tipos de conhecimentos. Além disso, ele é um
tipo de conhecimento que permite fazer certas generalizações sobre a realidade. Por exemplo:
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todos os objetos existentes são materiais; todos os objetos reais possuem propriedades físicas,
como energia; a realidade é um grande sistema emergente e material; as leis da natureza revelam a
impossibilidade da existência de entidades desencarnadas, como almas, espíritos, inconsciente
freudiano ou cérebros dualísticos.

O conhecimento científico é único em sua forma. É o tipo de conhecimento que produz o


entendimento mais profundo e verdadeiro sobre a realidade, indo além das percepções empiristas,
a partir do momento que destaca o importante papel da teorização e modelagem para representar a
realidade com base nas evidências. Sua característica mais fundamental é o mecanismo de
autocorreção, que permite corrigir imprecisões e, então, refinar cada vez mais as explicações sobre
o mundo. Por sua natureza particular, é um conhecimento antidogmático por princípio.
No decorrer do livro, foram exemplificados os diversos tipos de conhecimentos existentes, bem
como os desafios que cada um deles enfrenta. Também foi explicado como diferentes tipos de
conhecimentos podem ser relacionados com outros, como na relação recíproca entre o
conhecimento filosófico e o científico, em que um enriquece o outro, proporcionando um aumento
gradual do conhecimento na esfera da atividade humana. Dessa forma, espera-se que, com base
nessa introdução, você tenha a capacidade de distinguir os diversos tipos de conhecimentos, bem
como de procurar aprofundar seu conhecimento ao longo dos anos.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
A falseabilidade é o princípio filosófico no qual uma teoria, para ser considerada científica, deve ser
capaz de realizar predições que sejam possíveis de serem provadas falsas em alguma circunstância.
Um exemplo bastante difundido para expressar a ideia é a observação de um grupo de cisnes
brancos não ser suficiente para afirmar que todos os cisnes são brancos, já que a observação de um
cisne negro refutaria a afirmação.

Qual o primeiro filósofo a propor a falseabilidade como um critério de demarcação para a ciência?

a. David Hume.
b. Karl Popper.
c. Francis Bacon.
d. René Descartes.
e. Robert Grosseteste.

Questão 2
O ethos da ciência é o conjunto de princípios éticos coletivos que norteia a comunidade científica.
Esses princípios foram percebidos, pela primeira vez, pelo sociólogo da ciência Robert K. Merton,
que destacou seus aspectos principais.
Quais princípios formam o ethos da ciência?

a. Autoritarismo - universalismo - niilismo - desinteresse - originalidade.


b. Comunismo - universalismo - ceticismo - desinteresse - originalidade.
c. Socialismo - relativismo - ceticismo - interesse - familiaridade.
d. Dogmatismo - irracionalismo - individualismo - interesse - falsidade.
e. Comunismo - absolutismo - ceticismo - desinteresse - originalidade.

Questão 3
A pseudociência é conhecida por conta de sua marginalidade frente ao conhecimento científico do
momento, de modo que ela não segue nenhum critério objetivo de investigação e nem sequer
cultiva uma comunidade crítica para a análise de suas ideias.
Quais são as características fundamentais da pseudociência?

PENSAMENTO CIENTÍFICO 11
a. Originalidade, ceticismo, racionalismo e claridade conceitual.
b. Falsidade, dogmatismo, relativismo e claridade conceitual.
c. Originalidade, ceticismo, racionalismo e obscurantismo.
d. Falsidade, subjetivismo, dogmatismo e obscurantismo.
e. Falsidade, obscurantismo, ceticismo e claridade conceitual.

REFERÊNCIAS
BUNGE, M. Caçando a Realidade: a luta pelo realismo. Tradução de Gita K. Guinsburg. [S.l.]: Editora
Perspectiva, 2010.

BUNGE, M. La Ciencia, su Método y su Filosofía. [S.l.]: Editora Sudamericana, 2014. BUNGE, M. Las
pseudociencias ¡vaya timo! 2. ed. [S.l.]: Editora Laetoli, 2014.
BUNGE, M. In Defense of Realism and Scientism. Annals of Theoretical Psychology, Boston, v. 4, p. 23-26,
1986. Springer US. Disponível em: https://bit.ly/3b59Qg3. Acesso em: 24 nov.
2020.

BUNGE, M.; SCHLÖTTER, P.; RAYNAUD, D.; ROMERO, G. E.; MOLINA, E.; PIEVANI, T.; LARRINAGA,
V. J. S.; ELÍAS, C.; CAMPO, A. C.; FISAC, M. Á. Q. Elogio del Cientificismo.
Tradução de Gabriel Andrade. [S.l.]: Editora Laetoli, 2017.

DESCARTES, R. Discurso Sobre o Método. [S.l.]: Editora Vozes de Bolso, 2018. FEYERABEND, P. Contra o
Método. 2. ed. [S.l.]: Editora Unesp, 2011.
KUHN, T. S. A Estrutura das Revoluções Científicas. [S.l.]: Editora Perspectiva, 2017.

MARCONDES, D. Textos Básicos de Filosofia e História das Ciências: a revolução científica. [S.l.]: Editora
Zahar, 2016.

MERTON, R. K. Sociologia: teoria e estrutura. [S.l.]: Editora Mestre Jou, 1968. POPPER, K. A Lógica da
Pesquisa Científica. 2. ed. [S.l.]: Editora Cultrix, 2013.
SAGAN, C. O Mundo Assombrado Pelos Demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. [S.l.]: Editora
Companhia das Letras, 2006.

QUAL A DIFERENÇA ENTRE O SENSO COMUM E O CONHECIMENTO CIENTÍFICO?

SEM MEDO DE ERRAR


Para resolver o problema, é necessário entender o contexto histórico e filosófico por trás da origem
de cada tipo de conhecimento, destacando os aspectos fundamentais que levaram à sua aceitação
ou rejeição, fazendo analogias ou experimentos mentais (ou seja, imaginando circunstâncias nas
quais certos tipos de conhecimentos poderiam ser aplicados, levando em consideração seus
possíveis impactos na esfera da vida cotidiana) para reforçar a aprendizagem.

Um caminho para levar à resolução da situação-problema consiste na utilização da analogia do


conhecimento científico com a atividade política, entendendo suas principais diferenças, mas
destacando seus aspectos de interdependência. Por exemplo, embora a ciência dependa da política
para uma série de condições, sobretudo no direcionamento de recursos para suas atividades, ela
não é decidida de modo semelhante, de modo que a ciência não advoga pela democracia para
chegar a um consenso, mas opera com base nos estudos e na qualidade da evidência resultante da
investigação da realidade, confrontando muitas vezes uma visão dominante dentro da ciência, ou
mesmo crenças políticas e religiosas individuais dos próprios cientistas, até a aceitação plena de
teorias mais bem confirmadas, como ocorreu historicamente no processo de aceitação da teoria da
PENSAMENTO CIENTÍFICO 12
evolução de Charles Darwin e sua implicação filosófica e política no contraste com o criacionismo
bíblico, e na emergência da mecânica quântica, da qual alguns físicos, como Albert Einstein,
resistiram-se a aceitar a natureza indeterminística da realidade.

Isso significa que muitas vezes seremos confrontados com visões que entram em desacordo com
nossas preferências políticas, ideologias e crenças religiosas, mas isso não é um sinal de que
devemos abrir mão do conhecimento científico. Na verdade, devemos trabalhar criticamente para
absorvê-lo da melhor forma possível, especialmente para ajustar nossas crenças e visões de mundo
à realidade. Pense, por exemplo, no caso das Testemunhas de Jeová e o embate notório em
questões de ordem filosófica, sobretudo ética, e de saúde pública, que norteiam as ciências da
saúde, no que se refere à rejeição de práticas e cuidados médicos relacionados ao uso da técnica de
transfusão de sangue por seus seguidores. A rejeição do conhecimento científico levaria essas
pessoas a permanecerem em sofrimento, a adoecerem progressivamente, simplesmente porque
não conseguiram conciliar suas crenças e visões de mundo com o conhecimento científico.

O conhecimento vulgar também está enraizado em diversas concepções equivocadas do mundo,


principalmente nas que trazem algum dano não apenas à humanidade, mas à natureza e aos
animais. Por exemplo, a crença social compartilhada de que gatos pretos trazem azar, o que instiga
o comportamento de maus-tratos contra animais, simplesmente porque a população não teve
acesso ao conhecimento científico para entender a origem e a consequência dos mitos ao longo da
história. Apenas o conhecimento científico pode elucidar essas questões, mostrar seus impactos no
mundo real e avaliar o quão realistas são as crenças culturais ou religiosas mais bem difundidas.
Em outras palavras, o conhecimento científico enriquece a cultura e alimenta a sociedade,
contribuindo para que o senso comum se afaste cada vez de concepções equivocadas do mundo.

Um elemento-chave que contribui para a absorção do conhecimento científico pelo senso comum é
entender que a formulação desse tipo de conhecimento que se dá através da construção das teorias
científicas não surge espontaneamente do nada, nem de forma isolada com a pura observação de
um fenômeno, mas se baseando em um problema e um fundo de conhecimento anterior.
Contrastar a ciência e a pseudociência também ajuda a entender os aspectos que influenciam os
grupos humanos. Evidenciar o princípio de abertura às novas ideias que o conhecimento científico
proporciona e sua característica de testar ideias que não nos parecem razoáveis à primeira
observação, como quando estamos pensando em comprar um carro usado e fazemos perguntas
sobre a condição atual do automóvel, contribui para ajustar nossa visão de mundo a uma posição
mais crítica e realista. Mais ainda, a

consequência fundamental do senso comum absorver a ciência é, a curto prazo, a formação de


melhores tomadores de decisões.

AVANÇANDO NA PRÁTICA

A CIÊNCIA E A SAÚDE MENTAL


Uma pessoa cientificamente orientada, responsável pela análise da gestão da equipe de uma
empresa, poderia identificar que a saúde e a qualidade de vida no trabalho (QvT) estão
prejudicadas no setor em que trabalha, o que refletiria diretamente na queda dos índices de
rendimento e produtividade da equipe. Como o conhecimento científico poderia auxiliar na
resolução desse problema?

RESOLUÇÃO
A própria pessoa com competências científicas, sobretudo em psicometria aplicada às
organizações, poderia pôr em prática seu conhecimento para verificar a possível solução do
problema, ou mesmo indicar a contratação de um consultor científico mais especializado. Em um
exemplo específico, pode ser que um colega ou chefe seja responsável por boa parte dessa queda da

PENSAMENTO CIENTÍFICO 13
QvT. Então, o consultor poderia desenvolver estratégias eficazes, baseadas no conhecimento
científico, para aumentar o nível da QvT.

UNIDADE 01 SEÇÃO 2

QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO?

PRATICAR PARA APRENDER


Provavelmente, você já se perguntou o que torna o conhecimento científico diferenciado em
comparação com outras formas de conhecimento, razão pela qual diversas grandes potências
reservam uma parcela de seu PIB para investir em ciência e tecnologia, mas não encontrou
nenhuma explicação dentro de um contexto histórico apropriado que detalhasse as principais
características do conhecimento científico.

Sem um contexto adequado é impossível discutir o que é conhecimento científico, bem como
explicar quais seriam suas características e o porquê desse tipo de conhecimento ser único em sua
espécie. Por causa dessa dificuldade de entendimento da ciência, você, em alguma parte de sua
vida, perguntou: “Por que os cientistas estudam planetas distantes em vez de concentrarem seus
esforços em problemas sociais vigentes, como a desigualdade social, a
extrema pobreza e a desnutrição?” ou “Por que investir milhões de dólares em pesquisas básicas?”

Com um pouco de tratamento filosófico e história da ciência, seria possível responder que diversos
esforços coletivos promovidos dentro do contexto da história da Era Espacial contribuíram direta e
indiretamente para o surgimento de tecnologias usadas no dia a dia, como travesseiros, painéis
solares, satélites artificiais, detectores de fumaça e muitos outros. Poderia também ser respondido
que uma compreensão profunda da genética levou ao desenvolvimento de alimentos transgênicos,
que são ricos em proteínas, contribuem para a redução do uso de agrotóxicos e auxiliam
diretamente no combate à desnutrição em países do continente africano.

Explicar a origem de todo esse processo de construção de conhecimento enriquece a cultura à


medida que revela como as características do conhecimento científico auxiliam no progresso
tecnológico, principalmente na produção de vacinas em contextos de pandemias, como a da Gripe
Espanhola e do novo coronavírus (SARS-CoV-2).

Em uma sala de aula, um professor de Filosofia da Ciência escolhe três alunos com o objetivo de
atribuir a cada escolhido uma disciplina que alegue o status de ciência: a primeira disciplina é a
Astronomia (atribuída ao aluno A), a segunda disciplina é a Sociologia (atribuída ao aluno B) e a
terceira disciplina é a Psicanálise (atribuída ao aluno C).

Em seguida, os alunos são convidados a aplicar o ceticismo científico na disciplina atribuída a eles
para avaliar suas hipóteses e teorias, bem como questionar suas bases analisando a possível
compatibilidade com os resultados da ciência.

Supondo que os alunos tiveram êxito no trabalho proposto, considere o resultado a que cada aluno
chegou:
A astronomia é uma ciência porque suas teorias são compatíveis com os dados disponíveis das
melhores agências espaciais.
A sociologia é uma ciência porque suas teorias são baseadas em evidências. Além disso, a
sociologia consegue, com base no uso de modelagem computacional, realizar predições sobre
fenômenos sociais com alto nível de acurácia.
A psicanálise não parece ser uma ciência, ou talvez seja uma pseudociência, porque suas principais
hipóteses não constituem uma teoria científica. Mais ainda, algumas alegações sobre possíveis
entidades ou objetos não podem ser testadas ou demonstradas empiricamente. Ela também tem

PENSAMENTO CIENTÍFICO 14
outro ponto falho, que consiste na ausência de uma formalização lógica adequada da qual seja
possível a extração objetiva do significado de um conceito central no campo.
Normalmente, o próprio aluno C poderia indagar sobre o motivo pelo qual a psicanálise ainda
mantém um local prestigiado em universidades públicas e particulares, sendo que ela falha em
cumprir os requisitos mínimos esperados de um campo que alega produzir conhecimento
científico.

Quais seriam os possíveis indicadores que revelariam o porquê de certas pseudociências, como a
psicanálise, ainda manterem algum prestígio na academia, mesmo não cumprindo requisitos
esperados de uma atividade que preza pela verdade?

“A ciência é mais que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar, uma forma cética de
interrogar o universo, com pleno conhecimento da falibilidade humana. Se não estamos aptos a
fazer perguntas céticas para interrogar aqueles que nos afirmam que algo é verdade, e sermos
céticos com aqueles que são autoridade, então estamos à mercê do próximo charlatão político ou
religioso que aparecer.” Carl Sagan, entrevista de 1996.

CONCEITO-CHAVE:

CONHECIMENTO CIENTÍFICO: SISTEMATICIDADE, FALIBILIDADE E


QUESTIONABILIDADE
Algumas características essenciais do conhecimento científico mostram como ele é um
conhecimento único em sua espécie, trazendo maior nível de confiabilidade em comparação com
outros tipos de saberes no mundo contemporâneo. Um aspecto central é seu princípio de
sistematização, que é basicamente a forma como seus enunciados são estruturados logicamente,
evitando confusões da linguagem ordinária, como contradições lógicas e polissemia.

A sistematização do conhecimento científico permite que seus enunciados não entrem em


contradição ao longo de uma explicação a respeito de algum fenômeno da realidade, evitando a
utilização de jargões desnecessários e, por vezes, incompreensíveis, como sentenças que fazem
parte de muitos sistemas filosóficos dos chamados filósofos do irracionalismo, como Friedrich
Hegel e Martin Heidegger.

A adoção de uma estrutura lógica dentro de enunciados científicos permitiu que qualquer discurso
ou método dialéticos fosse extirpado do conhecimento científico, contrariando a crença popular de
que a dialética é um elemento indispensável na atividade científica. Isso ocorre desde o surgimento
da ciência moderna, admitindo tacitamente o Princípio da Não Contradição de Aristóteles, que
assegura que afirmações contraditórias não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Portanto, a
ciência evita o uso de proposições contraditórias, como “esse círculo é quadrado”, “toda verdade é
uma mentira” e “tudo é relativo”.

A dialética é um conceito problemático desde Heráclito, significando em seus primórdios a ideia de


que existe um Princípio da Unidade dos Contrários, ou seja, a ideia de que todas as coisas que
existem possuem uma contraparte ou uma entidade oposta (por exemplo, partículas e
antipartículas). Muitos séculos depois, o filósofo Hegel buscou desenvolver a dialética dentro de
seu sistema filosófico, admitindo alguns pressupostos da tese original, como a ideia de que existe
uma unidade dos opostos e a noção segundo a qual todas as coisas mudam. No entanto, Hegel foi
muito pouco claro sobre o que ele queria dizer com “dialética”, de modo que até hoje não existe um
consenso entre filósofos sobre o que ela é: uma lógica não clássica, que romperia com o Princípio
da Não Contradição da ciência moderna; uma ontologia das coisas; ou simplesmente ambas.
Apesar do extenso debate filosófico sobre a dialética, ela não conseguiu ganhar espaço em
nenhuma ciência natural, social ou biossocial – nem mesmo na ciência formal, com a lógica e a
matemática.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 15
Outro aspecto central do conhecimento científico é a falibilidade, que significa que todo discurso
científico é passível de correção, evitando assim qualquer tipo de dogmatismo, como a estagnação
de uma hipótese científica e o culto à autoridade. Esse conceito está presente na tese do filósofo da
ciência Karl Popper (2013), que estipulou que a falseabilidade ou refutabilidade é a condição para
refinar cada vez mais hipóteses e teorias científicas.

Esse princípio de falseabilidade é importante para a estruturação de hipóteses iniciais ou


primitivas, por polir afirmações destituídas de evidências científicas, mas não é um critério de
demarcação satisfatório para produzir conhecimento científico. Na verdade, mesmo que alguns
cientistas considerem que a ciência siga o modelo popperiano, nenhum filósofo da ciência
considera-o como um critério satisfatório – especialmente porque a pseudociência também
mantém um nível de conciliação com o respectivo critério de demarcação.

A falibilidade permite que a ciência progrida com novos dados e evidências, fazendo também com
que as teorias sejam cada vez mais (re)ajustadas à realidade, produzindo um conhecimento
diferenciado em comparação com os outros, sendo então mais profundo e verdadeiro. Essa posição
também é admitida por filósofos científicos – ou seja, filósofos que estão em dia com os resultados
da ciência e tecnologia –, que assumem que a ciência produz um tipo de conhecimento mais
profundo e verdadeiro.

A ciência também mantém em seu núcleo um aspecto de questionabilidade ou ceticismo, que


significa dúvida metodológica e consiste na adoção do ceticismo científico, que é o princípio
segundo o qual todas as hipóteses e teorias devem ser questionadas de forma metódica,
responsável e cientificamente orientada. Isso significa que a ciência não adota um tipo de ceticismo
conhecido como radical, em que tudo deve ser questionado, que advoga por um questionamento
absoluto, irresponsável, descontrolado e, portanto, dogmático. A questionabilidade promovida na
ciência é a que submete alegações e hipóteses destituídas de evidências razoáveis à crítica de outros
cientistas, promovendo um diálogo construtivo, sadio e útil para o desenvolvimento da ciência.

O ceticismo científico não deve ser confundido com o negacionismo da ciência, que é a posição que
defende a rejeição completa ou parcial do conhecimento científico. O negacionismo da ciência está
atrelado a posições ideológicas de seus praticantes, entrando em cena quando a ciência revela um
fato em relação ao qual a pessoa está em desacordo por alguma razão política, religiosa ou cultural.
Alguns exemplos de negacionismo da ciência incluem a negação de efetividade das vacinas, a
rejeição da circunferência da Terra, a depreciação das consequências das mudanças climáticas e a
resistência em aceitar a evolução biológica das espécies através do processo de seleção natural.

OBJETIVIDADE, POSITIVIDADE, RACIONALIDADE E EXPLICABILIDADE

No contexto do conhecimento científico, o conceito de objetividade não deve ser confundido com
objetivismo, que é doutrina ideológica e pseudofilosófica de Ayn Rand. A objetividade se refere à
pretensão clara e objetiva na formulação de enunciados científicos, evitando o subjetivismo
interpretativo, que é a noção segundo a qual é possível a extração de diversas interpretações e
múltiplos significados de um determinado texto. Por conta de a linguagem científica ser diferente
da linguagem ordinária, principalmente pela sua construção lógica e sistematização, o subjetivismo
não faz parte das proposições científicas.

A objetividade é atrelada a uma concepção positiva de ciência, cujo papel é o acúmulo gradual de
conhecimento por meio da confirmação empírica, em vez de uma estrutura desordenada que
desmorona a cada nova revolução científica, como defendeu de forma irresponsável o filósofo e
historiador da ciência Thomas Kuhn. Segundo Kuhn (2017), a ciência muda como a moda, de
modo que o objetivo da ciência não seria mais a verdade. No entanto, essa concepção ignora que
todas as revoluções científicas são sempre parciais, que elas nunca rompem totalmente com o
PENSAMENTO CIENTÍFICO 16
conhecimento anterior, como é o caso da mecânica clássica de Newton, que, mesmo após o
surgimento da teoria da relatividade geral e da mecânica quântica, ainda permanece válida para
calcular a trajetória de objetos terrestres e continua sendo usada para enviar foguetes ao espaço.

A teoria da evolução de Charles Darwin também é outro exemplo dessa característica positiva da
ciência, pois ela foi atualizada com os dados da genética e da biologia molecular, revelando um
panorama ainda mais abrangente sobre a evolução das espécies, explicando até a origem de certos
traços comportamentais nos seres humanos modernos. No entanto, a ciência não progride apenas
com base em experimentos, ela precisa de racionalidade.

A racionalidade presente no conhecimento científico pode ser explicada de duas formas, pelo
menos: a ideia de que todo discurso científico é debatível de forma organizada (com o exercício do
uso da razão) ou a ideia de que o raciocínio formal é um alicerce na construção do conhecimento
científico. A primeira ideia pressupõe tacitamente características anteriormente explicadas, como
as noções de sistematização e de objetividade, de modo que apenas com uma linguagem
compreensível, logicamente e objetivamente coerente, é possível discutir racionalmente
conhecimentos e problemas científicos, enquanto a segunda exprime a ideia de que a construção de
conceitos lógicos e formais serve para representar objetos que possuem existência concreta,
material e real na realidade, como campos, partículas e cérebros.

De acordo com a última definição, sem o raciocínio formal, o qual consiste na ciência formal da
lógica e da matemática, nenhum conhecimento seria possível, pois são necessários sempre
símbolos e expressões matemáticas não apenas para representar objetos, mas também para
quantificar os dados oriundos da investigação científica. Até mesmo a filosofia contemporânea,
como a filosofia analítica e a filosofia científica, trata o raciocínio lógico-matemático como
essencial para a produção de conhecimento filosófico. No entanto, o conhecimento científico busca
trabalhar com o raciocínio formal visando fornecer uma explicação mais adequada com base nos
dados e nas evidências da investigação científica, de modo que não é um mero exercício lógico
destituído de valor empírico.

A pretensão de elaborar cada vez mais proposições e teorias ajustadas à realidade revela o aspecto
de explicabilidade da ciência. Sem a pretensão de explicar a realidade, ou algum de seus níveis em
particular (físico, químico, biológico, psicológico, social, artificial, etc.), os cientistas não teriam
qualquer motivo para investigar o mundo e produzir conhecimento científico. A explicabilidade,
portanto, refere-se simplesmente ao papel da ciência em investigar o mundo e prover
conhecimentos cada vez mais profundos sobre as coisas.

ASSIMILE
O conhecimento científico advoga pelo princípio de racionalidade, de modo que seu discurso é
universalmente compreensível.
O aspecto corretivo do conhecimento científico é sempre guiado pelas evidências da realidade.
Toda a atividade científica cultiva o questionamento cético moderado ou razoável, que é orientado
pela evidência.

REVISIBILIDADADE, AUTONOMIA, ACUMULABILIDADE E VERIFICABILIDADE


O conhecimento científico é justamente difícil de definir por conta de suas diversas características.
Em comparação com o conhecimento religioso, por exemplo, apenas o conhecimento científico tem
como preocupação a revisibilidade de seus conceitos e teorias mediante a investigação científica.
Enquanto o conhecimento religioso admite múltiplas interpretações de um texto como igualmente
válidas, o que importa no conhecimento científico é a compatibilidade de seu corpo de
conhecimento com as evidências, independente do que um cientista pensa a respeito. Pelo mesmo
motivo, a ciência não deve ser comparada com a política, pois seu conhecimento não é decidido
como verdadeiro mediante uma votação por decreto ou escolha da população. O conhecimento

PENSAMENTO CIENTÍFICO 17
científico é tratado como verdadeiro quando os resultados de uma investigação apontam numa
determinada direção.

Já a autonomia existente na ciência pode se referir ao âmbito individual e coletivo, como quando
um cientista tem liberdade para investigar - seguindo os protocolos éticos da pesquisa científica - e
quando a ciência tem liberdade para investigar problemas que contradizem anseios políticos. Por
exemplo, quando os cientistas sociais podem estudar livremente os impactos das desigualdades
sociais nas populações de baixa renda, ou quando o objeto de estudo são os efeitos sistêmicos das
mudanças climáticas, que, normalmente, contradizem interesses privados de empresas ou
políticos. Contraexemplo: quando os cientistas são impedidos de investigar por conta de sua
nacionalidade ou etnia, como ocorreu com os físicos judeus durante a emergência do nazismo na
Alemanha, ou quando os pesquisadores são perseguidos pelo governo com a desculpa de serem
infiltrados de uma potência mundial rival ou advogarem por uma suposta ideologia contrária à
aceita pelo Estado, como aconteceu no caso dos geneticistas de plantas na antiga União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Mesmo com todas as dificuldades que a história da ciência revela sobre o processo de construção
do conhecimento científico ao longo dos séculos, toda a experiência passada é traduzida em
conhecimento sociológico, revelando que a ciência e a política, embora sejam atividades
completamente distintas, dependem de uma relação amigável para prosperarem,
seja para promover a investigação científica fornecendo recursos financeiros do Estado, seja para
usar os resultados científicos na elaboração de políticas públicas mais justas.

A acumulabilidade do conhecimento científico é o que justifica seu aspecto de progresso,


justamente porque exemplos de experimentos malsucedidos são considerados, não apenas para
refletir sobre os desafios metodológicos e epistemológicos da ciência, mas também para aumentar
o rigor necessário durante a avaliação dos trabalhos que são submetidos para revistas científicas.
Mais ainda, os resultados negativos na ciência, com base no olhar sociológico, podem revelar
aspectos que foram negligenciados sistemicamente durante a época de aceitação ou
implementação de uma ideia. Por exemplo, a aplicação política de ideias pseudocientíficas, que já
não eram muito bem aceitas, no início do século XX, como a eugenia e o darwinismo social, levou
ao extermínio de judeus, negros, pobres e pessoas com deficiência, sob o pretexto de “busca pela
pureza genética”.

A elucidação da pseudociência só foi possível graças ao princípio de verificabilidade da ciência, que


é a ideia segundo a qual um enunciado, uma hipótese ou uma teoria deve ser passível de ser
colocada à prova. No entanto, o conceito de verificabilidade requer um contexto adequado por
conta de sua polissemia.

A noção mais forte de verificabilidade foi apresentada pelo lógico Rudolph Carnap, durante a
emergência do positivismo lógico do Círculo de Viena. Esse círculo era formado por um grupo de
cientistas e filósofos interessados nos problemas filosóficos, históricos e sociológicos da ciência. A
despeito dos mitos que circulam sobre o círculo, eles defendiam teses bastantes heterogêneas,
tinham preocupações políticas e sociais sobre a atividade científica, não eram ingênuos e nem
reducionistas (não reduziam todo o conhecimento às ciências naturais) e buscavam uma
linguagem universal para a ciência. No entanto, a tese de Carnap ficou imensamente conhecida ao
ponto de ser tratada equivocadamente como representativa de todo o círculo.

A tese verificacionista de Carnap postulava que uma proposição tem sentido se, e somente se,
existir alguma circunstância que permita sua verificação. Se não existisse alguma possibilidade de
verificação, a proposição seria considerada como destituída de sentido e significado e, portanto, ela
não faria outra coisa a não ser trazer pseudoproblemas. Essa tese foi duramente golpeada,
justamente por outro filósofo que era simpatizante do círculo, mas que não fazia parte dele: Karl
Popper.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 18
Karl Popper enfatizou que a tese não era suficiente como um critério para proposições, além de
diversos outros problemas enumerados em sua obra A Lógica da Pesquisa Científica (2013),
argumentando que a condição de verificabilidade não é suficiente para que uma proposição ou
teoria seja considerada científica, mas simplesmente a condição de sua possível refutação.
Para Popper, uma teoria é científica se, e somente se, existir alguma circunstância que permita sua
refutação. Se não existir nenhuma circunstância passível de refutação, a teoria não é considerada
científica. Com isso, Popper lançou as bases de sua hoje conhecida tese: o falseacionismo.

REFLITA
Dado o sucesso do conhecimento científico na explicação de diversos fenômenos da realidade, o
que torna a ciência um campo confiável?
Dado o contexto de negacionismo anticientífico na sociedade contemporânea, por que é
importante adotar o ceticismo científico?
Por que a lógica é um elemento indispensável dentro do conhecimento científico?

FACTUALIDADE, ANALITICIDADE E COMUNICABILIDADE

A ciência não se resume a uma atividade puramente empírica. Ela também contempla disciplinas
que lidam com aspectos formais do método científico, que usam seu aspecto de racionalidade para
investigar problemas matemáticos, lógicos e semânticos. Para clarificar essa abrangência, é
necessária uma distinção rápida sobre esses dois tipos de ciências: a ciência fática (ou factual) e a
ciência formal.

Como explica o filósofo Mario Bunge em seu livro La Ciencia, su Método y su Filosofía (2014), a
ciência fática lida com entes concretos ou materiais (como campos, partículas, animais, pessoas),
adequa-se aos fatos e possui consistência empírica (como a física, a química, a biologia, a
psicologia, a sociologia), enquanto a ciência formal lida com entes ideais (como números,
conceitos, axiomas), adequa-se a um conjunto de regras e possui consistência racional (como a
lógica e matemática). No entanto, tanto a ciência fática como a ciência formal normalmente se
cruzam em um processo de enriquecimento contínuo.

A ciência formal fornece à fática a analiticidade essencial para sua sistematização, formalização e
objetividade. Com esse tratamento analítico, o conhecimento científico se torna mais exato, porque
evita-se a ambiguidade e a armadilha da linguagem ordinária. Desse modo, justifica-se a definição
de Bunge (2014) da ciência como um tipo de conhecimento sistemático, racional, exato, verificável
e, portanto, falível, sendo a melhor reconstrução conceitual do mundo do qual fazemos uso.

Finalmente, a ciência preza pela comunicabilidade, ou seja, os resultados científicos são passíveis
de serem comunicáveis de forma objetiva para quaisquer pesquisadores ao redor do mundo. Mais
ainda, os resultados podem ser traduzidos na linguagem ordinária com o objetivo de visar à
popularização da ciência e ao enriquecimento cultural através da atividade de divulgação científica.

EXEMPLIFICANDO
O conhecimento científico tem uma estrutura lógica ordenada, a qual permite a extração de
proposições objetivas.
O conhecimento científico visa explicar a realidade em sua totalidade, adequando sua metodologia
científica para o estudo de cada nível (físico, químico, biológico, psicológico, social e artificial).
O conhecimento científico progride ao longo do tempo, ajustando suas teorias às evidências,
corrigindo imprecisões e mantendo seu aspecto questionador frente a uma gama de hipóteses
sobre o mundo.

Devido à natureza peculiar do conhecimento científico, suas diversas características revelam o


porquê de ele poder ser considerado como um tipo de conhecimento mais profundo, verdadeiro e
PENSAMENTO CIENTÍFICO 19
confiável. Embora muitos argumentem que o aspecto autocorretivo seja uma sentença de risco, o
que levaria a duvidarmos cada vez mais do nível de verdade e profundidade desse tipo de
conhecimento, ignora-se que a requerida compatibilidade das teorias com as evidências é o que
aproxima a ciência da descrição mais precisa o possível da realidade.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
O ceticismo científico é uma das características fundamentais da ciência e de toda a atividade
intelectual. O astrônomo e divulgador científico Carl Sagan escreveu uma obra chamada O Mundo
Assombrado Pelos Demônios (2006), em que ele descreve exemplos de aplicação do ceticismo
científico na vida cotidiana. O ceticismo, argumenta Sagan, é uma ferramenta indispensável para
não deixar enganar a nós mesmos.
Qual é a definição de ceticismo científico?

a. Uma abordagem filosófica que adota a suspensão de juízo pela impossibilidade de provar
algum fenômeno.
b. Uma abordagem niilista que considera a ciência isenta de valores.
c. A negação absoluta do conhecimento científico.
d. Uma abordagem que consiste na dúvida metódica ou razoável aplicada a situações e
afirmações destituídas de boas evidências.
e. A crença religiosa no poder da ciência.

Questão 2
A verificabilidade é a noção que advoga a preocupação com o teste experimental. No entanto, essa
posição não pode ser confundida com o verificacionismo do Círculo de Viena e nem com o
falseacionismo do filósofo da ciência Karl Popper.

O que significa verificacionismo?


a. Um critério de demarcação entre ciência e pseudociência.
b. Um critério para verificar através da observação se certos enunciados são significativos.
c. Um critério ético para a ciência.
d. Um axioma matemático.
e. Uma lógica não clássica.

Questão 3
A lógica é uma ciência formal, embora possa ser aplicada na ciência fática com o objetivo de
proporcionar melhor clareza e objetividade para os enunciados científicos. Seu uso evita a
ambiguidade da linguagem ordinária, facilita o entendimento conceitual e impede a contradição no
conhecimento científico. A dialética, por outro lado, tolera contradições e ambiguidades da
linguagem ordinária. No entanto, ela ainda é considerada por muitos como uma ferramenta
essencial para a ciência, os quais acabam ignorando suas implicações com o Princípio da Não
Contradição de Aristóteles e defendendo que ela serve como uma técnica de comparabilidade entre
ideias aparentemente distintas, a partir da qual, de alguma forma, seria possível a extração de uma
nova ideia ou hipótese.

Historicamente, qual pensador é considerado o pai da dialética?


a. Friedrich Hegel.
b. Friedrich Nietzsche.
c. Martin Heidegger.
d. Aristóteles.
e. Heráclito.

REFERÊNCIAS

PENSAMENTO CIENTÍFICO 20
BUNGE, M. La Ciencia, su Método y su Filosofía. [S.l.]: Editora Sudamericana, 2014.

CARNAP, R. The Logical Structure of the World and Pseudoproblems in Philosophy. [S.l.]: Editora Open
Court, 2003.

MARCONDES, D. Textos Básicos de Filosofia e História das Ciências: a revolução científica. [S.l.]: Editora
Zahar, 2016.

POPPER, K. A Lógica da Pesquisa Científica. 2. ed. [S.l.]: Editora Cultrix, 2013.

SAGAN, C. O Mundo Assombrado Pelos Demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. [S.l.]: Editora
Companhia de Bolso, 2006.

QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO?

SEM MEDO DE ERRAR


Para resolver o problema, é necessário pensar nas circunstâncias sociais que moldam a
administração e gestão universitária.

Desse modo, pode-se concluir que a pseudociência mantém algum nível de prestígio e lugar na
universidade, não por razões teóricas ou níveis de verdade, mas simplesmente pela pressão social
exercida pelos próprios praticantes da disciplina, de modo que a simples existência de grupos
fechados, onde apenas profissionais certificados da área sejam tolerados, contribui para o
impedimento da livre circulação de ideias sobre os problemas que o campo enfrenta.

Ao impedir que profissionais de outros campos relacionados tenham direito ao debate, como
psicólogos experimentais, neurocientistas cognitivos e biólogos evolutivos, revela-se o indicador de
dogmatismo, que está presente em qualquer pseudociência e visa impedir o fomento da crítica
científica responsável com o objetivo não apenas de análise dos problemas de um campo, mas
também de procurar ajustar suas hipóteses aos melhores dados disponíveis da investigação
comportamental.

Revelados seus aspectos opostos ao do conhecimento científico, justifica-se que um campo ou


disciplina não se constitui de um saber científico autêntico. Então, é necessário também procurar
saber as motivações que os envolvidos na prática teriam apenas para manter o ensino de
psicanálise em instituições de educação, como a questão da remuneração excessiva envolvida e a
reputação da qual gozam em certos setores universitários e da grande mídia.

AVANÇANDO NA PRÁTICA

ANÁLISE DA SUPOSTA REIVINDICAÇÃO CIENTÍFICA POR COACHES


O mundo empresarial está repleto de “choaches profissionais”, que são sujeitos que alegam
dedicar-se ao desenvolvimento cognitivo, comportamental e organizacional da classe trabalhadora
por meio de técnicas que devem ser aplicadas diariamente para maximizar a capacidade de
trabalho. O coaching, porém, não é uma profissão regulamentada e, constantemente, choca-se com
PENSAMENTO CIENTÍFICO 21
o mesmo tipo de problema que é tratado por profissionais certificados, como psicólogos,
psiquiatras, técnicos de administração e de gestão de empresas. Os coaches, de forma rotineira,
fazem uso do jargão científico, alguns reivindicam até que suas ideias são compatíveis com a física
quântica, com o objetivo de enfatizarem que suas técnicas possuem respaldo da ciência. Com base
no que você aprendeu ao longo do livro, como alguém poderia saber se as reivindicações dos
coaches são realmente baseadas em evidência?

RESOLUÇÃO
O primeiro indicativo de que o coaching não é baseado em evidência é a falta de regulamentação
profissional para um campo que reivindica técnicas para a saúde mental, a segurança e a gestão no
trabalho.

O segundo indicativo é o excesso de autodenominados coaches que alegam possuir técnicas


próprias e/ou originais baseadas em ciência, porque uma técnica testada não é um produto
“original”. Uma técnica baseada em ciência geralmente é aperfeiçoada ao longo do tempo, por mais
de uma pessoa, de modo que sua originalidade individual é extirpada pelo enriquecimento da
contribuição coletiva da ciência. No entanto, os coaches não alegam que sua técnica foi produto de
estudo colaborativo da ciência, embora reivindiquem o status de cientificidade.

O terceiro indicativo é a busca por papers, ou seja, artigos científicos que são publicados em
revistas acadêmicas especializadas. Esses papers passam por um processo de revisão por pares,
que é basicamente um processo de crítica responsável feita por pesquisadores independentes para
avaliar a consistência dos dados com a hipótese proposta e procurar possíveis indicações de
fraudes e/ou falhas metodológicas ao longo da estrutura do trabalho submetido. Se o coaching, por
exemplo, não tem trabalhos publicados em revistas especializadas com alto fator de impacto,
confirmando assim suas principais hipóteses, então o campo é qualquer coisa, exceto ciência e
técnica baseada em evidência.

O quarto indicativo é o apelo à física quântica, uma falácia lógica contemporânea, que consiste em
reivindicar a autoridade da teoria quântica para supostamente embasar alguma afirmação
extraordinária. Pelo fato de a física quântica possuir uma matemática complexa, ela geralmente
acaba sendo mal compreendida pelo público leigo, de modo que hoje coaches e outros
pseudocientistas a invocam para explicar qualquer coisa sobre o mundo. A física quântica, no
entanto, não lida diretamente com aspectos comportamentais dos seres humanos e nem endossa
qualquer alegação de autoajuda individual e empresarial. Ela também não diz nada sobre o
pensamento alterar a realidade. Normalmente, a física quântica lida com o estudo de objetos
pequenos, como campos e partículas elementares, bem como algumas de suas aplicações para
estudar fenômenos biológicos (como a bússola magnética dos pássaros) e químicos. Essas
concepções equivocadas da teoria quântica surgem de uma confusão envolvendo o conceito de
observador (uma noção propagada pelo documentário pseudocientífico Quem Somos Nós, de
2004), que, contrariamente à crença popular e ao significado da linguagem ordinária, não significa
consciência, pensamento ou seres humanos, mas, sim, instrumento de medida – ou seja, o aparato
técnico que faz a medição da partícula. Então, quando um suposto profissional diz que a física
quântica explica o comportamento, a sociedade, a mente, ou que ela alega que o pensamento pode
mudar realidade, significa que essa pessoa não entende de física quântica ou está sendo bem mal-
intencionada para vender alguma receita milagrosa e, consequentemente, falsa.

Por conta desses indicativos, é razoável supor, com um grande nível de certeza, que a disciplina
reivindicada, como o coaching (autoajuda empresarial), constitui um exemplo de campo não
baseado em evidência. Mais ainda, em razão de o campo apelar à ciência para justificar suas
alegações que carecem de evidências (ou simplesmente são falsas), é seguro sentenciar que o
coaching constitui um exemplo de pseudociência.

UNIDADE 01 SEÇÃO 3
PENSAMENTO CIENTÍFICO 22
COMO AGIR COM ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA?

PRATICAR PARA APRENDER


Provavelmente, em algum momento de sua vida, você já pensou sobre as possíveis consequências
éticas do uso de animais na pesquisa científica, ou mesmo sobre os experimentos nazistas com
humanos. Com base nesses exemplos, é possível que você tenha considerado que a ciência poderia
estar isenta de princípios éticos, ao menos é o que algumas pessoas defendem.

No entanto, será que a ciência é um “tudo vale”, em que reflexões sobre a ética e a saúde dos
indivíduos ou animais de laboratórios não são consideradas? Será que a ética representa um
empecilho para o desenvolvimento pleno da ciência? Até que ponto devemos estar cientes da
importância dos postulados éticos que norteiam a pesquisa científica?

Na corrida não apenas por um entendimento profundo sobre doenças emergentes, mas também
pelo desenvolvimento de medicamentos e vacinas, certos protocolos éticos desempenham sua
importância na investigação científica. Além disso, a ética, enquanto campo de investigação, tem
conseguido acompanhar a ciência com o objetivo de enriquecê-la ao estudar seus potenciais
problemas éticos.

Com base no estudo recíproco entre ciência e ética, alternativas cada vez mais humanísticas para o
estudo em laboratório têm sido apresentadas, com o objetivo de evitar o uso e o teste desenfreados
com animais. Mesmo o campo da tecnologia, que mantém uma relação bilateral com a ciência,
também tem levado em consideração o raciocínio ético, principalmente ao pensar nas possíveis
consequências sobre o desenvolvimento de armas e robôs automatizados em um contexto de
guerra.

Aqui, convido você a concentrar-se nos fundamentos éticos da pesquisa científica, analisando seus
possíveis impactos e benefícios no desenvolvimento da ciência.

Um grupo de cientistas quer investigar o cérebro humano e, para isso, eles lançam uma ficha de
inscrição solicitando voluntários para sua pesquisa. A pesquisa é apresentada como tendo grande
potencial para a área da saúde, com o objetivo de testar um futuro medicamento para a doença de
Alzheimer. No entanto, a ficha de inscrição não diz nada sobre os possíveis riscos aos voluntários
ao serem submetidos ao teste experimental. Em resumo, não há avaliação dos riscos sendo
apresentada para os voluntários.

Mesmo na ausência de protocolos de riscos, diversos voluntários assinam a ficha de inscrição com
o objetivo de contribuírem para a ciência. Então, o grupo de cientistas inicia sua pesquisa
neurocientífica.

No experimento, os cientistas dividem seus voluntários em dois grupos: o grupo A e o grupo B. O


grupo A recebe uma droga com potencial de reparar danos nas células cerebrais e maximizar a
memória, enquanto o grupo B recebe placebo. Quem está incumbida de ministrar os comprimidos
é uma enfermeira voluntária.

No decorrer do experimento, o grupo A começa a relatar cefaleia, náuseas, vômitos, diarreias e


perda de apetite. O grupo B, no entanto, relata apenas uma sensação de relaxamento. Então, após
os cientistas decidirem dosar uma segunda leva de comprimidos, ocorre a morte de um voluntário
no grupo A.

O grupo de cientistas, então, decide que o experimento deve ser encerrado, por conta da morte e
dos efeitos graves provocados pela ingestão da substância.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 23
acordo com a situação-problema, quais foram as violações éticas que o grupo de cientistas cometeu
e que contribuíram para o fracasso do experimento científico?

O progresso científico, guiado pelos princípios morais delineados nos demais mandamentos, é a
condição indispensável do progresso humano e das liberdades individuais e por isso ele não será
jamais obstado por qualquer princípio religioso, por relativismos culturais ou particularismos
sociais que possam existir." Richard Dawkins.

CONCEITO-CHAVE

A ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA: A QUESTÃO DOS VOLUNTÁRIOS

A ética é um campo de conhecimento filosófico que estuda os princípios éticos. No entanto, existe
também uma ética científica, que é o enfoque multidisciplinar que, em conjunto com a ciência,
busca avaliar a plausibilidade da adoção de certos princípios éticos e normas sociais. No geral, esse
campo pode ser visto como o estudo do comportamento moral com base na antropologia, na
psicologia, na sociologia e na história, tratando de abordar o surgimento, a manutenção, a reforma
e o declínio das normas sociais, enquanto a ética filosófica analisa conceitos éticos, como
altruísmo, bondade e cooperação, bem como filosofias éticas ou simplesmente preceitos morais, ou
seja, ações justificadas por princípios éticos filosóficos que podem ser benéficas ou nocivas para
outras pessoas.

A ética também estuda a ciência – especialmente, as normas éticas que vigoram na comunidade
científica. Ela estuda ainda o impacto ético de certos estudos que são feitos com animais e
humanos. Além disso, a ética está interessada no comportamento inadequado durante o
desenvolvimento de uma pesquisa – principalmente, na motivação do cientista em fraudar
resultados. De fato, a ética é uma disciplina abrangente por conta de sua ampla gama de problemas
estudáveis, sobretudo da ciência.

Entre os diversos problemas éticos que advém da atividade científica, três merecem atenção: a
questão do consentimento dos voluntários para o desenvolvimento de uma pesquisa, o problema
da preservação de identidade e integridade e, por último, a relação entre voluntários e
pesquisadores no decorrer da investigação científica.

O primeiro problema ético, que envolve a questão do consentimento dos voluntários, refere-se à
autorização prévia de uso de certos dados dos participantes na pesquisa científica. De outro

modo, uma pesquisa que utiliza de forma indevida dados de seus voluntários sem o consentimento
necessário está violando princípios éticos e, consequentemente, prejudicando a qualidade da
pesquisa.

O segundo problema ético, referente à preservação de identidade e integridade, refere-se à


proteção de informações sensíveis dos participantes de um estudo experimental. Também se refere
ao princípio de que os participantes devem estar cientes dos riscos envolvidos no teste
experimental do qual serão voluntários – nesse caso, é importante deixar claros os possíveis riscos
trazidos aos voluntários ao se submeterem ao experimento.

O terceiro problema ético envolve a relação entre voluntários e pesquisadores. Nesse sentido, o
problema mais evidente é a possível manipulação do comportamento dos voluntários de acordo
com a intenção do cientista de obter um resultado específico em um estudo clínico. Por exemplo,
um voluntário poderia agir de acordo com as expectativas do pesquisador ao ser submetido a um
teste clínico para investigar a eficácia de algum fármaco – o que, consequentemente, enviesaria os
resultados, prejudicando a qualidade da evidência. O voluntário poderia dizer que, ao ingerir o
fármaco testado, ele conseguiu obter os melhores benefícios à saúde, mesmo que o relato, de fato,
PENSAMENTO CIENTÍFICO 24
não proceda. Portanto, durante a condução de testes clínicos, principalmente no âmbito da saúde,
é necessário que os voluntários sejam selecionados de forma aleatória (randomizados), que exista
uma amostragem significativa para ser representativa e, mais ainda, que existam grupos de
controle de placebo – especialmente para identificar a possibilidade de o resultado obtido sobre a
eficácia do fármaco ser estatisticamente significativo quando comparado ao grupo que tomou
placebo (por exemplo, uma pílula de farinha que visivelmente parece ser o fármaco real, mas sem
suas propriedades farmacológicas).

ÉTICA COM OS DADOS DA PESQUISA


A ética também está relacionada à forma como o trabalho científico é produzido e apresentado na
hora da avaliação pelos pares, de modo que plágios, manipulações de dados estatísticos e
falsificações não são tolerados quando descobertos pelos revisores. Na pseudociência, acontece o
contrário: a manipulação e falsificação de dados é sempre tolerada em nome do convencimento
público em favor de uma hipótese. Por exemplo, o caso envolvendo o hoteleiro Erich von Däniken,
autor do livro Eram os Deuses Astronautas? (2018), que falsificou dados para apoiar a sua
reivindicação de que os alienígenas teriam visitado a Terra no passado e ajudado as civilizações
antigas a construírem artefatos megalíticos; e o caso relatado pelo crítico literário Frederick Crews,
em seu livro Freud: The Making of an Illusion (2017), que expõe diversas fraudes cometidas pelo
médico e neurologista Sigmund Freud no decorrer da história da psicanálise – especialmente,
quando Freud mentiu sobre os benefícios da cocaína em pacientes viciados em morfina, ou quando
se apropriou dos escritos de outros autores que já haviam produzido trabalhos sobre o inconsciente
e quando reforçou, sem qualquer evidência, a histeria como um comportamento estereotipado do
sexo feminino.

A parapsicologia é um excelente exemplo histórico que mostra como a ética pode ser vital para a
questão da validade de um campo de investigação, pois é uma disciplina que nasceu no século XIX
como sendo um exemplo de ciência, mas que caiu no esquecimento após um enriquecimento de
seus protocolos éticos de pesquisa. Basicamente, a parapsicologia nasceu com o objetivo de estudar
o suposto fenômeno paranormal, que era tratado como real pelos parapsicólogos. No entanto, com
o auxílio de mágicos e ilusionistas entre o final do século XIX e início do século XX, como o famoso
cético Harry Houdini, o fenômeno paranormal começou a ser identificado como meros truques de
ilusão, sendo apenas produtos de fraude intencional, nos quais os cientistas acreditavam porque
não estavam instruídos sobre seus pontos cegos. Com a orientação de Houdini e, muito mais tarde,
de outros mágicos que surgiram em meados dos anos 1980, como James Randi, os protocolos de
pesquisa científica de pesquisa parapsicológica começaram a ser projetados por ilusionistas e
céticos interessados nesse tipo de investigação. Após a implementação desses protocolos, seguida
pela constante revisão de estudos do campo da parapsicologia, absolutamente nenhuma evidência
foi encontrada a favor do suposto fenômeno paranormal. Desde então, estudos do campo da ética
sobre a pesquisa científica têm utilizado a parapsicologia como um expressivo exemplo de como
fraudes e manipulação de dados levam à degradação de um campo de investigação e à consequente
classificação de pseudociência, pois ainda que a hipótese do fenômeno paranormal nunca fosse
confirmada experimentalmente, os parapsicólogos, caso estivessem orientados pela ética em sua
pesquisa, poderiam realizar estudos investigando os fatores sociais que levariam as pessoas a
acreditarem em crenças paranormais ou espirituais, sem precisarem pressupor que elas são reais.

Na comunidade científica, esses exemplos de comportamentos antiéticos não são tolerados sob
nenhuma forma – por isso, nenhum astrônomo ou astrobiólogo responsável considera como
plausível a noção de que extraterrestres já visitaram a Terra; nenhum filósofo científico, psicólogo
experimental ou neurocientista cognitivo considera a psicanálise como um campo válido do
conhecimento científico; e, claro, nenhum físico ou psicólogo experimental considera a
parapsicologia uma ciência.

Um trabalho científico orientado eticamente é original, com dados normalmente refletindo as


consequências reais do estudo. De fato, podem ocorrer casos em que os revisores independentes
PENSAMENTO CIENTÍFICO 25
encontram falhas, mas um cientista que preza pela ética buscará corrigir o trabalho que apresentar
problemas. Também é possível a violação dessas condutas éticas durante a investigação científica,
mas quando isso acontece, os pesquisadores são punidos, em vez de recompensados – por
exemplo, na pseudociência, como nos casos de Däniken e de Freud, eles são considerados
revolucionários, em vez de charlatões, pelo grande público.

ASSIMILE
A ética é um campo de investigação filosófico que pode usar os dados da ciência para avaliar
princípios éticos ou normas sociais.
A ética também é um princípio filosófico que norteia a pesquisa científica, de modo que não é
possível a existência da ciência sem princípios éticos ou normas sociais (como o ethos da ciência
clarificado pelo sociólogo da ciência Robert K. Merton).
Apenas a pseudociência negligencia os princípios éticos, de modo que a trapaça é considerada
válida para moldar a crença ou opinião de algum indivíduo.

ÉTICA COM O RIGOR CIENTÍFICO


A atitude ética na investigação científica representa o cuidado que os pesquisadores devem ter ao
elaborarem seus projetos de pesquisa, pois existem órgãos reguladores que avaliam as
consequências sobre certos tipos de estudos que usam animais e humanos – por exemplo, estudos
com impactos nocivos à saúde dos indivíduos geralmente não são aprovados, especialmente por
conta de experiências relatadas anteriormente em investigações psicológicas, como o famoso
experimento de aprisionamento de Stanford, cujo objetivo era analisar o comportamento humano
numa sociedade na qual os indivíduos eram apenas definidos pelo grupo. Esse experimento teve
que ser interrompido bem antes de sua conclusão porque os voluntários começaram a usar formas
de tratamento abusivas com outros participantes, como violência física e verbal.

A orientação ética na pesquisa científica destaca que o cientista também deve ter cuidado durante a
coleta de dados, de modo a evitar possíveis contaminações e/ou enviesamento cognitivo, pois
poderiam prejudicar a qualidade do trabalho. Resultados obtidos de forma duvidosa levam ao
desperdício de recursos essenciais – às vezes, dinheiro público –, que poderiam ser usados em
pesquisas mais bem projetadas. Por essa mesma razão, a replicação de estudos é vista como uma
tarefa fundamental para identificar o risco de contaminação e enviesamento nos resultados de um
estudo individual.

Um cientista deve ser orientado pelos riscos que uma pesquisa malfeita pode trazer a longo prazo,
principalmente em uma sociedade com recursos escassos que esteja passando pelo enfrentamento
de crises econômicas ou pandemias. A ética revela o nível de responsabilidade do cientista com sua
produção intelectual, de modo que negligenciá-la só contribuirá para a justificação ideológica de
corte orçamentário da pesquisa científica – pelo menos, é o pretexto mais frequentemente
utilizado por governos anticientíficos, pois não enxergam a ciência como um investimento vital
para o progresso social, mas como um gasto desnecessário, sob a desculpa do suposto excesso de
fraudes, vieses cognitivos e erros ao longo da história da ciência.

REFLITA
Qual lição podemos aprender ao adotarmos princípios éticos na elaboração das pesquisas
científicas?
Como a ciência pode contribuir com a ética?
Por que a rejeição dos princípios éticos leva ao florescimento da pseudociência?

INSTÂNCIAS ÉTICAS
Quando um cientista é denunciado por fraude, uma comissão de ética pode ser convocada para
analisar o caso, podendo ocorrer até a perda da titulação acadêmica do pesquisador. Em outras
situações, dependendo do nível da ocorrência, a retratação pública do próprio cientista pode ser
vista como suficiente em um caso não intencional de erro na elaboração de sua pesquisa.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 26
Órgãos regulatórios também contribuem para analisar de que forma os animais usados em
experimentos estão sendo tratados, de modo que a violência e o sofrimento não são toleráveis

no ato da pesquisa científica. A violação das normas éticas de proteção animal pode levar ao
encerramento imediato da investigação científica e o autor poderá responder a processo por conta
dessa violação – além, é claro, do possível impedimento no exercício de futuras pesquisas
experimentais.

Finalmente, os cientistas adotam tacitamente um conjunto de princípios éticos em comunidade,


também chamados de ethos da ciência – primeiramente percebido e estudado pelo sociólogo da
ciência Robert K. Merton –, que consistem em universalidade, desinteresse, ceticismo coletivo,
comunismo epistêmico e originalidade. A universalidade se refere à ciência poder ser praticada por
qualquer pessoa, independentemente de sua etnia ou localização geográfica. O desinteresse se
refere à necessidade de os anseios coletivos estarem acima dos interesses individuais/privados. O
ceticismo coletivo (ou ceticismo científico) se refere à dúvida metódica, em que hipóteses e teorias
são sujeitas à crítica responsável pela comunidade científica. O comunismo epistêmico, que não
tem nenhuma relação com o conceito de comunismo político, refere-se à noção de que a ciência é
uma propriedade de todos, acessível a todos, independente da situação socioeconômica. Por
último, mas não menos importante, a originalidade se refere ao estimulo à produção de novas
pesquisas e teorias.

EXEMPLIFICANDO
A ética orienta os cientistas na produção de pesquisas mais sofisticadas, proporcionando o
conhecimento dos impactos que afetariam sua qualidade.
A ética é um incentivo na busca pela verdade, porque contribui para a rejeição de atitudes que
possam levar ao comportamento fraudulento.
Existem órgãos e comissões de ética responsáveis por avaliar um projeto de pesquisa, tendo a
cautela de olhar para a questão do cuidado animal e humano na investigação científica.
A ética é o princípio norteador da investigação científica, contribuindo não apenas para a
elaboração de pesquisas mais bem executadas, mas também para que os cientistas mantenham um
elevado nível de responsabilidade com seus projetos experimentais. Sem ética, a ciência não seria
possível, pois a preocupação coletiva com a saúde dos indivíduos, sobretudo dos voluntários de
pesquisa, seria substituída pelo interesse individual. O princípio ético humanista, cultivado nas
ciências da saúde e na prática da medicina, seria substituído pelo comercialismo. A preocupação
com a verdade daria cada vez mais espaço para a necessidade de ganho financeiro elevado.
Portanto, uma disciplina ausente de princípios éticos, principalmente em nível de comunidade,
não pode ser considerada uma ciência, mas uma pseudociência em sua mais pura essência.

FAÇA VALER A PENA

Questão 1
A ética é um campo de investigação filosófico e, ao mesmo tempo, o princípio que norteia a
atividade científica. Ela contribui de diversas formas para o conhecimento científico e tecnológico e
tem servido como indicador em inúmeros trabalhos de filosofia da ciência para detectar produções
de qualidade altamente duvidosa e disciplinas com tendências pseudocientíficas. Inclusive, a ética
já foi usada em conjunto com procedimentos experimentais para avaliar os experimentos
conduzidos por um campo que nasceu como ciência, mas se tornou pseudociência.

Qual é o campo que nasceu como ciência e se tornou pseudociência com a aplicação de princípios
éticos na avaliação dos trabalhos experimentais?
a. Astronomia.
b. Psicologia.
c. Psicanálise.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 27
d. Ufologia.
e. Parapsicologia.

Questão 2
O ethos da ciência é o conjunto de princípios éticos ou normas sociais que norteia toda a
comunidade científica. Esses princípios são conhecidos como Normas de Merton. No entanto,
existem também as chamadas contranormas, que são atitudes as quais não se esperam de uma
comunidade científica. Algumas dessas normas opostas às da ciência são facilmente identificáveis
em exemplos de pseudociência.

Quais são as contranormas identificadas pelo sociólogo da ciência Robert K. Merton?


a. Ceticismo, comunismo, desinteresse e originalidade.
b. Dogmatismo, isolamento, particularismo e desinteresse.
c. Dogmatismo, isolamento, particularismo e interesse.
d. Ceticismo, socialismo, comunismo e desinteresse.
e. Dogmatismo, comunismo, ceticismo, individualismo.

Questão 3
Os princípios éticos norteiam não apenas a prática da atividade científica, mas também a atividade
médica, pois levam aos médicos e pesquisadores a reflexão sobre a importância de todos os
envolvidos numa pesquisa médica. O princípio ético humanista, por exemplo, enfatiza que a
prática médica deve ser vista como destituída de motivações financeiras, de modo que seu foco é
centrado no bem-estar, e não no lucro comercial.
Por que os princípios éticos são essenciais para a elaboração de experimentos nas ciências da
saúde?
a. Os princípios éticos levantam preocupações legítimas sobre os potenciais riscos envolvidos
no quadro de saúde dos voluntários e auxiliam na informação prévia para consentimento das
pessoas que participarão dos experimentos como voluntárias.
b. Os princípios éticos servem para alertar os voluntários de que a ciência não é confiável.
c. A ciência funciona de forma isenta de valores e princípios éticos.
d. Os princípios éticos são adotados durante a investigação pseudocientífica.
e. Os princípios éticos não desempenham nenhuma tarefa na ciência, pois são considerados
exemplos que freiam o progresso científico.

REFERÊNCIAS

BUNGE, M. Ética, ciencia y técnica. [S.l.]: Editora Sudamericana, 1996.

BUNGE, M. La Ciencia, su Método y su Filosofía. [S.l.]: Editora Sudamericana, 2014. MERTON, R. K.


Sociologia: teoria e estrutura. [S.l.]: Editora Mestre Jou, 1968.
SAGAN, C. O Mundo Assombrado Pelos Demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. [S.l.]: Editora
Companhia de Bolso, 2006.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO

COMO AGIR COM ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA?

SEM MEDO DE ERRAR


Ocorreram diversas violações éticas no desenvolvimento do projeto de pesquisa e na forma como
foi apresentada a ficha de inscrição para os voluntários.

Primeiro: os cientistas desconsideraram potenciais riscos na ingestão da substância prometida


para contribuir para a melhora cognitiva. Em uma pesquisa científica, os cientistas devem avaliar
as condições de risco, incluindo possíveis sintomas e a possibilidade de morte de voluntários.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 28
Segundo: o grupo não deixou totalmente claros os eventuais riscos aos quais os voluntários
estariam expostos ao participar da pesquisa científica. Na investigação científica, os riscos devem
ser claros para os voluntários que decidirem participar, até mesmo para se avaliar a
compatibilidade do grupo-alvo com o objetivo da pesquisa e salientar possíveis problemas de saúde
dos participantes, já que integrar a pesquisa poderia contribuir para seu agravamento clínico.

Terceiro: o experimento não deveria seguir sem a aprovação de uma comissão regulatória de ética.
Normalmente, os cientistas interessados em testar a eficácia de alguma substância devem
submeter seus protocolos com o “desenho” de pesquisa (projeto experimental), destacando os
objetivos e os possíveis riscos à saúde dos voluntários. Além disso, o projeto deve passar por uma
banca para avaliação e, consequentemente, aprovação, rejeição ou melhor adequação com os
protocolos éticos de pesquisa biomédica.

Um experimento bem projetado informaria os participantes com os dados necessários sobre os


possíveis riscos de participação causados pelos experimentos, utilizando uma linguagem clara e
solicitando consentimento para uso e extração de dados relevantes para o desenvolvimento do
estudo. Além disso, o grupo de cientistas submeteria o projeto de pesquisa a uma comissão de
avaliação para averiguar a adequação aos protocolos éticos de investigação científica.
Dessa forma, punições por não cumprimento de normas da pesquisa científica seriam evitadas.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
A EMPRESA QUE BUSCOU ESTUDAR O COMPORTAMENTO DE SEUS FUNCIONÁRIOS

Uma empresa estava interessada em estudar o comportamento de seus funcionários durante o


horário de trabalho, na intenção de usar os resultados para estabelecer políticas mais efetivas que
ajudassem a maximizar a produtividade de cada setor. Então, a empresa decidiu: (A) monitorar o
acesso, (B) filmar as expressões faciais com a webcam dos computadores, (C) instalar escutas em
cada computador e (D) monitorar à distância a tela dos celulares. A empresa conseguiu: (A)
registrar dados de login dos usuários, com base no monitoramento de acesso; (B) detectar
expressões faciais de insatisfação após receberem a ordem de um chefe;
(C) ouvir a insatisfação dos funcionários com o trabalho, o chefe e as políticas da empresa, bem
como registrar conversas de natureza altamente íntima; e (D) capturar mensagens privadas de
funcionários, trocadas com suas famílias e amigos.
Em seguida, a empresa, com base nos dados recolhidos, decidiu demitir os funcionários
insatisfeitos por justa causa, fortificou as políticas de monitoramento e começou a oferecer
recompensas financeiras para quem conseguisse ser mais produtivo durante o mês.

Com base no que foi visto no texto, a empresa agiu de forma ética? Justifique sua resposta.

RESOLUÇÃO
A empresa não agiu de forma responsável, porque violou diversos protocolos éticos e a privacidade
de seus funcionários ao capturar dados particulares sem qualquer consentimento, incluindo
informações sobre a vida privada e dados de acesso de contas não correspondentes aos serviços da
empresa. A empresa também agiu de má-fé ao decidir demitir os funcionários insatisfeitos, ao
invés de ter sido mais clara e aberta sobre seus objetivos profissionais e estratégicos para aumentar
a produtividade

A empresa poderia, por exemplo, criar uma enquete em que os funcionários pudessem opinar
sobre o que contribuiria para elevar seus níveis de produtividade no trabalho. Com base nos
resultados, ela poderia propor políticas mais eficazes, sem a necessidade de violar a privacidade e a
conduta ética de seus funcionários – evitando, inclusive, a recolha de dados que sequer seriam
úteis para a proposta inicial do estudo da empresa.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 29
UNIDADE 02 SEÇÃO 1

QUAIS OS PRINCIPAIS TIPOS DE PESQUISA?

CONVITE AO ESTUDO
Caro aluno,

Veja como a ciência está em todos os lugares. Hoje, ela é um dos elementos mais básicos em todos
os aparatos tecnológicos, como no celular, na televisão, no computador e, principalmente, nos
dispositivos de GPS.

No entanto, todos esses aparatos tecnológicos não surgiram do nada. Essas tecnologias são
produtos de investigações científicas mais elementares, principalmente com base no estudo com
partículas elementares, estudo exige a adoção de um método para avaliar o nível de verdade das
hipóteses e das teorias.

Esse é o método científico. Embora muito pouco compreendido, ele também nos auxilia na hora de
avaliarmos afirmações que nos parecem duvidosas, como quando vamos avaliar a existência de
evidência para alguma substância ou terapias que nossos amigos e familiares nos recomendaram
para um problema específico.

Devido ao fato desse momento único na história ser altamente dependente da ciência e tecnologia,
é necessário entendermos como o conhecimento científico é produzido, quais passos nos levam
cada vez mais próximos à verdade e, principalmente, quais os limites desse tipo único de
conhecimento – é isso que veremos ao longo desta unidade.

PRATICAR PARA APRENDER


Você sabe o que é o método científico? Talvez você já deve ter pensado que é uma fórmula secreta
para produzir conhecimento científico. Uma sugestão para essa resposta é geralmente apresentada
em diagramas e infográficos, que reduzem a concepção de método científico a algo análogo a uma
receita de bolo, porém, isso não é uma representação fidedigna do método científico nem
representa o grau mais elementar da pesquisa científica.

O método científico, que será apresentado ao longo do livro, deve ser visto como um conjunto de
procedimentos teóricos, experimentais e, principalmente, éticos, que podem ser usados não apenas
na ciência, mas na filosofia, tecnologia e até mesmo na vida cotidiana para a resolução de
problemas.

Um exemplo de aplicação do método científico na vida cotidiana para avaliação de um problema é


na hora de averiguar a plausibilidade da reivindicação de um farmacêutico que tenha como
objetivo vender um produto homeopático ou qualquer tipo de medicina alternativa. Para isso, seria
necessário apenas um celular com acesso à internet para consultar – especialmente, na base de
dados de um periódico de medicina baseada em evidências – estudos de revisão de literatura
científica, com o objetivo de extrair da conclusão a resposta mais adequada para contrastar com a
reivindicação do farmacêutico. Suponha-se, para fins didáticos, que o farmacêutico tenha afirmado
que a homeopatia é recomendada para a gripe, sobretudo, para melhorar o sistema imunológico,
enquanto que o estudo de revisão aponta que, com base na avaliação de 500 estudos randomizados
e com controle de placebo, a homeopatia não tenha apresentado nenhum efeito clínico
PENSAMENTO CIENTÍFICO 30
significativamente estatístico. A partir dessa informação, você pode desconsiderar a afirmação do
farmacêutico e, consequentemente, evitar que seu dinheiro seja desperdiçado com homeopatia e
outros tipos de pseudomedicinas.

Porém, existem diversas outras formas de avaliar certas reivindicações, principalmente com base
na realização de pesquisas experimentais. Devido à abrangência dos diferentes tipos de técnicas e
metodologias científicas, bem como de sua importância na vida cotidiana, convido- lhe a
mergulhar no processo de construção do conhecimento, analisando suas diferentes abordagens na
solução de problemas.

Um grupo de cientistas quer investigar os possíveis efeitos da homeopatia no organismo de pessoas


com gripe. Para isso, o grupo decidiu fazer uma pesquisa exploratória - especialmente um ensaio
observacional.

Os cientistas selecionaram cerca de 20 voluntários gripados para ingerir doses de comprimidos


homeopáticos. Cerca de 4 horas após a ingestão de substâncias homeopáticas, os pesquisadores
perguntam aos voluntários o que eles sentem. Todos eles, sem exceção, relataram algum nível de
melhoria em sua condição de saúde.

Então, os pesquisadores encerram o experimento e escrevem suas descobertas em trabalho


formalizado e, consequentemente, submetem para uma revista científica.

Tendo como base a descrição desse tipo de experimento, é seguro afirmar que ele foi bem
conduzido?
O método científico é comprovado e verdadeiro. Não é perfeito, é apenas o melhor que temos.
Abandoná-lo, junto com seus protocolos céticos, é o caminho para uma idade das trevas." Carl
Sagan

CONCEITO-CHAVE
TIPOS DE PESQUISAS CIENTÍFICAS

Há diversos tipos de pesquisas científicas, cada qual com seus objetivos, particularidades e,
principalmente, objetos de estudos. A diversidade da pesquisa científica permite estudar diversos
problemas, da origem do Universo ao comportamento humano, também permite estudar um
mesmo problema sob diferentes perspectivas metodológicas, com o objetivo de enriquecer o
conhecimento científico, proporcionando uma visão de mundo mais ampla e consistente com as
evidências científicas.

Por causa dessa ampla variedade metodológica de pesquisas, uma consequência inevitável é o
investimento diversificado para cada tipo de pesquisa, de modo que um físico experimental, por
conta da necessidade de instrumentação adequada e a necessidade de exportar ainda mais
ferramentas para empreender sua pesquisa, acaba recebendo mais verba para sua pesquisa do que
um filósofo ou sociólogo literário, que desenvolve pesquisas de cunho teórico, geralmente
revisando a literatura acadêmica vigente para desenvolver seu trabalho.

Isso, no entanto, contribui para uma visão valorativa incorreta da ciência - especialmente pela
crença de que maior investimento em uma ciência é um critério que define sua qualidade
metodológica ou seu nível de importância. Um exemplo didático que refuta essa concepção
equivocada da ciência é dado por cientistas e filósofos, que desenvolveram pesquisas bibliográficas
que tinham como objetivo analisar a metodologia de estudos da psicologia evolutiva sobre a
questão da divisão do trabalho, diferenças de gêneros e, sobretudo, desigualdades sociais.

Esse tipo de estudo da psicologia evolutiva tem tido ampla repercussão e tem sido considerado útil
em decisões políticas que envolvem a possibilidade de rejeitar a implementação de políticas
PENSAMENTO CIENTÍFICO 31
públicas. Uma ideia constantemente propagada para reforçar a posição contrária às políticas
sociais é de que a pobreza e a desigualdade social estão nos genes, de que políticas sociais são
inúteis e que o quociente de inteligência (Q.I.) é determinado pela genética. No entanto, diversos
cientistas e filósofos têm argumentado amplamente contra a metodologia desses estudos dizendo
que “são apenas histórias”, ou seja, que não possuem qualquer tipo de correspondência empírica
entre a hipótese e a afirmação do qual os proponentes do campo defendem. Por causa dos críticos
da psicologia evolutiva que enfatizaram sobre o possível impacto da implementação de ideias
“evolutivas” no âmbito político, os cientistas e filósofos contribuíram para reforçar a importância
das ciências sociais – mesmo com o campo recebendo pouca verba para a pesquisa e sendo
constantemente ameaçado por ideólogos e pseudocientistas.

Os tipos diversificados de pesquisas científicas incluem a pesquisa bibliográfica, a pesquisa


documental, a pesquisa de campo, a pesquisa de laboratório, a pesquisa qualitativa, a pesquisa
quantitativa, a pesquisa exploratória, a pesquisa descritiva e a pesquisa explicativa. Cada tipo de
pesquisa tem sua importância dentro da ciência, mas elas também podem ser conduzidas em
outros campos de conhecimento, como na filosofia, no jornalismo e, principalmente, na tecnologia
- especialmente nas tecnologias sociais, como a administração, o direito e a pedagogia.

A pesquisa bibliográfica, utilizada amplamente em estudos de revisões de literatura científica,


refere-se a um tipo de estudo que busca consultar amplas bases de dados, sobretudo indexadores
de artigos científicos e livros-textos com o objetivo de procurar saber o quanto um problema já foi
estudado e o quão significativo é a sua evidência. Um exemplo prático desse tipo de estudo é
quando o objetivo do pesquisador é identificar a reivindicação de eficácia de alguma terapia ou
técnica médica para algum problema de saúde. O pesquisador, dessa maneira, consulta a base de
dados, filtra os resultados de buscas, escolhe os estudos, analisa suas discrepâncias metodológicas,
emprega uma técnica estatística adequada e extraí a porcentagem de evidência resultante da
revisão dos estudos selecionados. Digamos, por exemplo, que o cálculo estatístico, após a análise
dos estudos selecionados, revelou que a acupuntura não produziu nenhum efeito clínico estatístico
significativo para o tratamento da dor lombar. Então, o autor adiciona sua metodologia,
procedimento e conclusão em sua pesquisa bibliográfica.

A pesquisa documental é amplamente utilizada na história, porque ela envolve a investigação


primária de algum fenômeno ou ocorrência do passado com base na coleta de documentos, livros,
testamentos, gravações, fotografias, cartas, artefatos e mais outras coisas das quais seriam úteis na
condução da investigação. Ela também tem aplicação no âmbito da investigação forense,
contribuindo para a solução de crimes com base na sua metodologia de extração de dados com o
objetivo de fornecer a melhor evidência para o julgamento criminal.

A pesquisa de campo é importante para estudar fenômenos naturais e climáticos, como a atividade
vulcânica em uma área geologicamente ativa, coletando rochas vulcânicas na área de ocorrência do
evento com o objetivo de estudar sua estrutura, composição e sua possível utilidade para prever a
ocorrências de novas erupções vulcânicas. Esse tipo de pesquisa também tem utilidade na solução
de acidentes tecnológicos, contribuindo, por exemplo, para decifrar a causa de acidentes aéreos ao
analisar o local da queda.

A pesquisa de laboratório é uma forma de estudar problemas de forma direta, com o objetivo de
produzir ou reproduzir pequenas condições em seu objeto de estudo e avaliar suas possíveis
implicações, como para testar a efetividade de uma vacina em camundongos ou mesmo para
reproduzir as circunstâncias ambientais da Terra primitiva com o objetivo de estudar a origem da
vida. Esse tipo de pesquisa também é empregado no campo da tecnologia, com o objetivo de
produzir e testar a segurança dos organismos geneticamente modificados.

A pesquisa quantitativa visa a implementação de ferramentas estatísticas para quantificar os dados


e resultados alcançados após a investigação de um fenômeno ou problema da realidade. Nesse tipo
PENSAMENTO CIENTÍFICO 32
de estudo, também utilizado em ciência social, os pesquisadores podem utilizar estatística
inferencial e deduzida, bem como modelagem computacional para prever a ocorrência de um
fenômeno em termos quantificáveis, como crises econômicas, desigualdades sociais e o impacto da
implementação de uma política pública.

A pesquisa quantitativa visa a implementação de ferramentas estatísticas para quantificar os dados


e resultados alcançados após a investigação de um fenômeno ou problema da realidade. Nesse tipo
de estudo, também utilizado em ciência social, os pesquisadores podem utilizar estatística
inferencial e deduzida, bem como modelagem computacional para prever a ocorrência de um
fenômeno em termos quantificáveis, como crises econômicas, desigualdades sociais e o impacto da
implementação de uma política pública.

A pesquisa exploratória é uma abordagem inicial para o estudo de um problema ou fenômeno da


realidade. Esse tipo de pesquisa não tem como objetivo proporcionar um conhecimento
aprofundado sobre qualquer coisa. Na sua aplicação na área da saúde, por exemplo, os
pesquisadores utilizam poucos voluntários, uma amostragem pouco ou nada representativa da
população, para testar algum novo medicamento ou terapia. Essa pesquisa serve de base para
outras mais aprofundadas e pode ser facilmente conduzida por alunos de iniciação científica ou
estagiários de laboratórios.

A pesquisa descritiva tem como objetivo interpretar e mapear a ocorrência de um fenômeno com
base em técnicas de observação e análise de dados. Ela pode ser empregada no estudo de eventos
astronômicos, como supernovas, com o objetivo de estabelecer as condições iniciais do fenômeno e
relacionar variáveis para chegar à melhor interpretação dos dados.

A pesquisa explicativa busca estabelecer um conhecimento avançado sobre um fenômeno natural


ou social procurando explicar sua origem, evolução e impacto na realidade. Nesse tipo de pesquisa,
o pesquisador busca analisar a compatibilidade de uma ideia com o conhecimento do momento,
emprega pesquisas empíricas e tenta explicar as causas de um evento. No caso das ciências
naturais, por exemplo, esse evento pode ser a evolução das espécies, com pesquisadores engajados
em fornecer a melhor explicação dos mecanismos envolvidos na transmissão de genes entre
parentescos e sua implicação no comportamento humano. No caso das ciências sociais, por
exemplo, um típico evento estudado são as crises econômicas, com cientistas tentando identificar
as variáveis importantes do sistema político-econômico do momento a fim de prever quais razões
poderiam levar um país ao colapso financeiro.

Cada tipo de pesquisa tem sua importância e utilidade, de modo que elas não podem ser vistas com
base numa visão hierárquica. Todos esses tipos de pesquisa auxiliam a ciência, ajustando as teorias
à realidade e, até mesmo, proporcionando um amplo conhecimento sobre problemas que ainda
não foram explorados.

ASSIMILE
Existem diversos tipos de pesquisas científicas, cada uma com um objetivo específico, que são
igualmente importantes para a construção de conhecimento científico.
Existem diversos modelos de métodos científicos. Entre eles, se destacam o método hipotético-
dedutivo, a falseabilidade popperiana e a concepção bungeana.
O anarquismo epistemológico, cuja a posição é exposta na máxima “tudo vale” ou “qualquer coisa
serve”, é incompatível com a investigação científica.

MÉTODOS CIENTÍFICOS

O “método científico” é um conceito difícil de definir, embora seja constantemente tratado de


forma incorreta e, às vezes, pejorativa. Na literatura filosófica do século XX, por exemplo, o
método científico chegou a ser considerado como um mito, como um elemento não existente na
PENSAMENTO CIENTÍFICO 33
investigação científica, de modo que essa visão inspirou a ideia de que a ciência é um campo onde
“tudo vale” ou “qualquer coisa serve”, tratando a ciência como um terreno baldio e equivalente a
crenças religiosas, superstições e pseudociências. Essa foi uma visão inspirada no filósofo austríaco
Paul Feyerabend que foi considerada como razoável em determinados setores das humanidades,
bem como no campo da filosofia da ciência, mas incorreta sobre a ciência e o método científico.

Outras visões de método científico, embora incorretas, também ganharam uma ampla aceitação
nos setores mais atrasados da ciência básica; em particular, duas visões tiveram uma ampla
aceitação: a visão de que a ciência funciona mediante a aplicação do método indutivo.

Karl Popper foi um dos filósofos mais críticos desse pensamento que buscava comprovar teorias
mediante a observação ou coleta de dados particulares. Isto é, digamos que um pesquisador tenha
observado um grupo de ursos pretos numa floresta e, então, tenha deduzido uma regra geral de
que todos os ursos são pretos. Uma observação de um urso polar no continente antártico, portanto,
falsearia a proposição de que “todos os ursos são pretos”, o que levaria a um problema
epistemológico, conhecido como problema da indução. Popper, então, estabeleceu que o que
determina as condições de cientificidade não é a observação particular da suposta regularidade de
um evento, mas a falseabilidade de uma hipótese ou teoria científica, ou seja, a hipótese ou teoria
científica deveria ter consequências das quais fossem possíveis de extrair sua refutação.

O exemplo que corrobora com o modelo de Popper é fornecido pelo próprio naturalista inglês
Charles Darwin, em seu livro A Origem das Espécies, que descreve que sua teoria da evolução
poderia ser falseada, caso alguém conseguisse demonstrar que algum órgão complexo existiu e que
não poderia ter sido formado por leves modificações numerosas e sucessivas ao longo do tempo.
Popper propõe o método hipotético-dedutivo que, em síntese, passa pelas seguintes etapas:
Elaboração do problema (decorrente, muitas vezes, de conflitos de teorias existentes).
Construção de um modelo teórico (em que há a formulação das hipóteses centrais).
Tentativa de falseamento das hipóteses por meio da observação e da experimentação.
Caso a hipótese não seja verificada por meio dos testes, ela estará falseada, exigindo uma nova
reformulação da hipótese ou do problema. Caso ela se supere os testes rigorosos, então ela estará
parcialmente confirmada, mesmo que provisoriamente.

Embora o critério de Popper estivesse alinhado a algumas características das teorias científicas,
como no caso da própria teoria da evolução, ele era insuficiente para demarcar a ciência de
qualquer atividade não científica, na qual inclui não apenas a filosofia, mas também

a pseudociência. Um exemplo é fornecido pelo filósofo Mario Bunge, em sua obra Pseudociência e
Ideologia, que argumenta que levar em consideração a falseabilidade, enquanto critério de
demarcação, exigiria considerar todas as teorias falsas como científicas, e também exigiria
descartar teorias científicas de alto nível que não são falseáveis, como a Teoria Geral dos Campos e
a Teoria Geral da Informação, que, sendo tão gerais, só podem ser testadas indiretamente por meio
de sua especificação.

Em resposta às propostas simplistas de cientificidade, Bunge desenvolveu sua própria tese,


distinguindo o critério de demarcação do modelo de método científico. Para Bunge, o que demarca
a ciência de outros campos cognitivos, como a filosofia e a pseudociência, é a presença de uma
comunidade de pesquisadores, uma sociedade tolerante à atividade científica, o domínio sobre
entidades reais, uma base filosófica (envolvendo a pressuposição de que [a] o mundo é composto
de coisas concretas que mudam, segundo leis, [b] uma epistemologia realista, [c] um sistema de
valores que enaltece a claridade, a exatidão, a profundidade, a coerência e a verdade, [d] e o ethos
da busca livre da verdade), uma base formal (coleção de teorias lógicas ou matemáticas do
momento), uma base específica (coleção de dados, hipóteses e teorias do momento), uma
problemática (problemas cognitivos relativos à natureza dos objetos concretos), um fundo de
conhecimento (específico e acumulado), objetivos racionais (descobrir ou utilizar leis, sistematizar
PENSAMENTO CIENTÍFICO 34
hipóteses e refinar métodos), uma metódica bem delineada (procedimentos verificáveis e
justificáveis) e um campo cognitivo sendo componente de um campo de conhecimento mais
abrangente.

Bunge considerou o método científico como sendo um conjunto de procedimentos gerais mutáveis,
ajustados para cada problema e objeto estudado, constando com (a) a identificação de um
problema envolvendo o reconhecimento de um fato, a descoberta de um problema e, em seguida, a
formulação do problema; (b) a construção de um modelo teórico envolvendo a seleção de fatores
pertinentes do problema, a invenção de hipóteses centrais e suposições auxiliares e,
principalmente, tradução matemática; (c) a dedução de características particulares envolvendo a
busca por suportes racionais e empíricos, (d) a demonstração da prova ou evidência da hipótese
envolvendo a representação e execução da prova ou evidência, a elaboração de dados e a inferência
da conclusão; (e) a introdução das consequências na teoria envolvendo a comparação das
conclusões com as predições e o reajuste de modelo; e (f), finalmente, a sugestão referente ao
trabalho anterior.

Essas características apresentadas por Bunge também rompem com concepções que levavam em
consideração a unidade do método científico como sendo algo imutável, ou mesmo semelhante a
uma receita de bolo para produzir conhecimento. Para Bunge, o método científico, mesmo sendo
único e universal, deve ser visto como um conjunto de procedimentos amplos que mudam
conforme o tempo e se ajustam a cada ciência em particular, de modo que a forma como os
biólogos investigam microrganismos não envolve o emprego das mesmas técnicas de investigação
utilizadas pelos sociólogos para estudar comportamentos sociais ou crises econômicas. De fato, há
algumas exceções, como o uso de ferramentas matemáticas e lógicas semelhantes, bem como a
atitude de busca pela verdade e admissão de cognoscibilidade da realidade, mas não é como
advogam os naturalistas metodológicos, que defendem que o método das ciências naturais deve ser
o mesmo das ciências sociais. Essa proposta também rompe com o anarquismo epistemológico de
Feyerabend, a ideia segundo a qual não existiria um método científico e universal, pois Bunge
reconhece que ele existe e pode ser – e está sendo – aplicado para estudar problemas cognitivos,
bem como todos os objetos existentes da realidade, como partículas, elementos químicos,
moléculas, planetas, estrelas, supernovas, microrganismos, cérebros, consciência, comportamento,
sociedade, ética, experiência estética, artes, cultura, política, linguagem, economia, filosofia e
muitas outras coisas, como a própria ciência (sociologia da ciência ou ciência da ciência), diferente
da crença falsa compartilhada em diversos campos das humanidades.

REFLITA
O que torna o método científico uma abordagem confiável?
Qual a importância das revisões sistemáticas no contexto das investigações científicas na área da
saúde?
Quais elementos contribuem para a objetividade científica?

PESQUISA COM PESQUISA: METANÁLISES E REVISÕES


Nenhuma pesquisa individual é suficiente para conduzir ou representar uma verdade no mundo,
pois ela pode estar sujeita a falhas metodológicas, vieses cognitivos e fraudes intencionais.
Também pode ser o caso de um estudo individual ser conduzido sem um grupo de controle
adequado para avaliar de forma rigorosa a efetividade um medicamento ou terapia.

Talvez um estudo individual não tenha uma amostragem suficientemente representativa para a
população, ou pode ser que os animais utilizados para um determinado experimento tenham
predisposição a alguma doença, de modo que um teste experimental poderia não representar
fielmente as possíveis consequências da ingestão de uma determinada substância. Nesse contexto,
entra a importância de conduzir mais experimentos com o objetivo de tentar reproduzir os mesmos
resultados – a tal chamada “reprodutibilidade”.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 35
Na reprodutibilidade, ocasionalmente, ocorre de os cientistas chegarem a resultados discrepantes
do estudo original. Na verdade, tem-se argumentado que a ciência está enfrentando uma crise de
reprodutibilidade por conta das divergências nos resultados experimentais alcançados por
pesquisadores independentes ao tentarem replicar experimentos anteriores. Por causa dessas
diferenças nos resultados experimentais e, principalmente, nas potenciais falhas metodológicas
dos diversos estudos científicos desenvolvidos ao longo dos anos, tornou-se necessária a utilização
de estudos de revisão sistemática para avaliar a qualidade da evidência produzida ao longo da
análise de dezenas, centenas ou mais de artigos científicos.

Esses estudos de revisão sistemática são extremamente importantes no campo da medicina,


porque, com base neles, é possível identificar potenciais falhas, vieses e limitações nos estudos
realizados até o momento, contribuindo para fornecer uma visão sobre o estado atual das coisas,
como para identificar a qualidade e o nível da evidência produzida até o momento. Em resumo, a
revisão sistemática é um tipo de pesquisa secundária com o objetivo de reunir estudos
semelhantes, publicados ou não, a fim de avaliá-los criticamente e, quando possível, reuni-los
numa ampla análise estatística, chamada metanálise.

A metanálise é uma técnica estatística utilizada para combinar resultados oriundos de diferentes
estudos, geralmente aplicada na revisão sistemática. A metanálise ajuda a extrair resultados
estatísticos com base na análise geral dos estudos. No entanto, a revisão sistemática pode ser feita
de forma independente das técnicas estatísticas, pois não é sempre possível e nem mesmo
adequado aplicá-las em todos os casos.

Existem diversos estudos com medicina alternativa indexados no repositório do PubMed,


revelando possíveis efeitos benéficos à saúde humana, mas isso não significa que esses estudos
tenham sido bem conduzidos. Na verdade, existir um estudo não significa que ele seja bom nem
que seja “científico”, pois a pseudociência também produz estudos, embora de baixa qualidade,
sem o controle adequado, mergulhado em vieses cognitivos e, às vezes, até com indícios de
falsificações. Esse é o caso das medicinas alternativas, como acupuntura, homeopatia, quiropraxia,
naturopatia, ozonoterapia, antroposofia, reiki, cura quântica, hidroterapia de cólon e,
principalmente, psicanálise, que são exemplos típicos de pseudociências, pseudoterapias ou
pseudotecnologias, que negligenciam os resultados extraídos das revisões sistemáticas, que
normalmente revelam que elas não produzem nenhum efeito estatisticamente significativo, exceto
efeitos placebos – que não são causados pela suposta eficácia da medicina alternativa, mas
simplesmente por conta do estado psicológico do paciente, bem como de sua relação de confiança
com seu médico. Efeitos placebos também não curam absolutamente nada, ao contrário da crença
equivocada amplamente divulgada pelos “médicos alternativos”, o efeito placebo está relacionado
simplesmente ao alívio de sintomas subjetivos, como dor, por exemplo.

As revisões sistemáticas, com ou sem abordagem metanalítica, são necessárias até mesmo na
elaboração de políticas públicas baseadas em evidências, pois, com base nelas, podemos guiar o
financiamento para técnicas e terapias realmente eficazes, evitando o desperdício de dinheiro
público com medicina alternativa e oferecendo o melhor tratamento disponível à população. Em
resumo, as revisões sistemáticas produzem o tipo mais confiável de evidência científica e podem
ser guias úteis em nossas escolhas da vida cotidiana, principalmente quando estamos procurando
cuidados médicos.

ESTRUTURA E ELEMENTOS
O método científico é a estrutura geral da ciência moderna, de modo que não é possível conceber
uma ciência sem método. No entanto, ainda existem mais algumas particularidades, por exemplo,
a estrutura do método científico é ordenada logicamente, o que significa que é permitido
contradição. Consequentemente, a dialética, por violar o princípio da não contradição, não faz
parte da ciência nem do método científico.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 36
Essa estrutura permite que o método científico, enquanto um conjunto de procedimentos teóricos,
experimentais e éticos, seja aplicado na ciência com o objetivo de fornecer a melhor explicação da
realidade. Uma consequência inevitável é que a estrutura do método requer um nível de
compatibilidade das hipóteses com as teorias mais bem confirmadas do momento, o que significa
que uma hipótese deve estar em concordância com as leis que regem o mundo, portanto, hipóteses
sobre a existência de almas, espíritos ou instâncias psíquicas psicanalíticas, por conflitarem com o
princípio de conservação de energia das leis da termodinâmica, não são científicas, mas
pseudocientíficas.

O método científico também faz uso de elementos ou símbolos formais, de modo que é possível
aplicar ferramentas da lógica e da matemática para extrair das proposições a melhor precisão e
objetividade possível, evitando, dessa forma, a ambiguidade da linguagem ordinária e,
principalmente, a armadilha da polissemia com certos conceitos. Além disso, adoção de certos
elementos ou símbolos formais refuta a crença de que não existe objetividade na ciência.

Mesmo na construção de hipóteses científicas, esses elementos são adicionados ou incrementados


com o objetivo de analisar logicamente a compatibilidade das proposições com a conclusão. Mas
isso não é uma coisa exclusiva da ciência, pois, atualmente, a filosofia científica é desenvolvida com
essas mesmas ferramentas formais e aplica o método científico para avaliar hipóteses filosóficas
pela compatibilidade com o conhecimento científico do momento.

O entendimento claro, preciso e profundo do conhecimento científico, bem como a capacidade de


comunicar descobertas científicas em diversos países e línguas, é o que revela o aspecto de
objetividade da ciência, que não é apenas possível, mas desejável para evitar a confusão e o
autoengano. O que não devemos fazer é cair no erro de pensar que objetividade é sinônimo de
neutralidade, pois a ciência advoga por princípios éticos de busca pela verdade, racionalidade,
humanismo e comprometimento com a investigação da realidade mediante contribuição da
comunidade científica. Além disso, os cientistas podem ser inspirados por posições pessoais, bem
como políticas, ideológicas e religiosas, de modo que essas posições possam contribuir com alguma
nova ideia para resolver um problema. Então, a ciência não é neutra, mas isso não significa que as
ideologias pessoais dos cientistas determinem o que é verdade, pois a ciência, enquanto
comunidade, advoga por princípios éticos que neutralizam as preferências individuais dos
pesquisadores. Daí a importância das revisões sistemáticas e da reprodutibilidade na ciência, pois
são formas de identificar exceções das quais as intenções pessoais sobrepuseram à vontade coletiva
da comunidade científica pela verdade.

EXEMPLIFICANDO
O método científico não é uma receita de bolo para produzir conhecimento, mas um conjunto de
procedimentos teóricos, experimentais e éticos que auxiliam na investigação de um problema.
O método científico pode ser aplicado não apenas na ciência, mas também na filosofia e na vida
cotidiana.
As ferramentas formais da matemática e da lógica contribuem para que a ciência mantenha sua
objetividade e exatidão, evitando as armadilhas da linguagem ordinária e a subjetividade
interpretativa.
Como foi apresentado, existem diversos tipos de pesquisas científicas que norteiam a ciência, cada
qual com sua importância e aplicação para o estudo de um problema específico. A pluralidade de
investigação permite a extração de um conhecimento mais amplo sobre a realidade mediante uso
de método científico. No entanto, o conceito de método científico é pouco claro, de modo que
diversas tentativas de modelos foram apresentadas ao longo da história da ciência e da filosofia
com o objetivo de classificá-lo, sendo os mais conhecidos o Método Hipotético-Dedutivo (inspirado
na indutivismo do filósofo Francis Bacon), a Falseabilidade do filósofo da ciência Karl Popper e a
Concepção Sistêmica da Ciência, do físico e filósofo científico Mario Bunge. Embora a ciência leve
em consideração um conjunto de procedimentos teóricos, experimentais e éticos ao longo de sua
PENSAMENTO CIENTÍFICO 37
investigação e construção de conhecimento, existem diversas ferramentas formais que contribuem
para sua melhor objetividade, evitando as armadilhas da linguagem ordinária e a subjetividade
interpretativa.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
O campo de conhecimento responsável em estudar a ciência, incluindo seus limites e o próprio
método científico. Também busca analisar as distinções entre ciência e pseudociência com o
objetivo de resolver o problema da demarcação.

Qual o nome da disciplina responsável pela tarefa descrita no enunciado?


a. Linguística da ciência.
b. Sociologia da ciência.
c. Psicologia da ciência.
d. História da ciência.
e. Filosofia da ciência.

Questão 2
Pesquisa conduzida por cientistas e tecnólogos, geralmente em ambiente controlado, que tem a
intenção de estudar microrganismos, camundongos ou simplesmente o próprio ambiente da Terra
primitiva.
Assinale o tipo de pesquisa descrita no enunciado.

a. Metanálise.
b. Pesquisa laboratorial.
c. Pesquisa exploratória.
d. Pesquisa bibliográfica.
e. Revisão sistemática.

Questão 3
Um tipo de pesquisa que visa extrair diversos estudos semelhantes para avaliar o nível de evidência
de uma intervenção específica que pode usar uma técnica estatística de metanálise para quantificar
os dados, sendo essencial para avaliar reivindicações no campo da saúde.
Assinale o nome desse tipo de pesquisa.
a. Pesquisa exploratória.
b. Hipotético-dedutivo.
c. Pesquisa bibliográfica.
d. Revisão sistemática.
e. Pesquisa laboratorial.

REFERÊNCIAS
BUNGE, M. La Ciencia, su Método y su Filosofía. [S.L.]: Editora Sudamericana, 2014. BUNGE, M. Las
pseudociencias ¡vaya timo! 2. ed. [S.L.]: Editora Laetoli, 2014.
BUNGE, M. Seudociencia e ideología. [S.L.]: Editora Alianza, 1986. FEYERABEND, P. Contra o Método. 2.
ed. [S.L.]: Editora Unesp, 2011. POPPER, K. A Lógica da Pesquisa Científica. 2. ed. [S.L.]: Editora Cultrix,
2013.
QUAIS OS PRINCIPAIS TIPOS DE PESQUISA?

SEM MEDO DE ERRAR


O experimento não foi bem delineado, porque um estudo mais rigoroso deveria considerar um
número de amostragem maior para ser representativo. Também seria necessário um estudo
randomizado e controlado por placebo com o objetivo de reduzir a possibilidade de vieses e
possibilitar uma comparação estatística entre a substância homeopática e o efeito placebo.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 38
Também seria importante avaliar a condição de saúde dos indivíduos e não apenas colher seus
relatos subjetivos de suposta melhora para avaliar de forma mais significativa os possíveis efeitos
na saúde dos pacientes.

O tempo da condução do experimento também deveria ser maior a fim de avaliar possíveis
implicações na saúde dos pacientes ao longo do dia, mesmo com a possibilidade sendo
extremamente baixa. Portanto, também seria necessário deixar os voluntários cientes dos riscos
envolvidos antes de conduzir o experimento.

Depois de um experimento bem delineado, os cientistas poderiam submeter suas descobertas


relatadas no trabalho à revisão por pares em uma revista científica conceituada.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA NA EMPRESA

Uma empresa está interessada em avaliar o nível de felicidade de seus funcionários. Para realizar
esse feito, ela aplicou um questionário padrão a todos seus colaboradores. No questionário, por
exemplo, havia itens como nível de estresse, grau de satisfação com o trabalho e com o chefe.

O objetivo da empresa, após obter os resultados sobre os níveis de felicidade de seus funcionários,
era melhorar a relação entre os diversos cargos e setores responsáveis pelos ativos da empresa,
melhorando, dessa forma, a produtividade de seus funcionários e promovendo a cooperação.

Qual tipo de pesquisa foi implementado pela empresa para avaliar o nível de felicidade de seus
funcionários?

RESOLUÇÃO
A empresa aplicou uma pesquisa qualitativa, pois tinha como pretensão apenas descrever os níveis
de felicidades de seus funcionários, bem como alguns aspectos de seus comportamentos, sem a
necessidade de quantificar estatisticamente os resultados.

UNIDADE 02 SEÇÃO 2

QUAIS MÉTRICAS SÃO UTILIZADAS NA PESQUISA?

PRATICAR PARA APRENDER


Caro estudante,

O conhecimento científico desfruta de grande prestígio na sociedade em virtude da alta


confiabilidade do conhecimento científico. Com a democratização do fazer científico, a construção
de universidades, agências e centros de pesquisa, a literatura científica expandiu enormemente,
tornando a comunicação científica um nicho de mercado altamente rentável. A pressão por
publicações decorrente da concorrência do campo científico produziu um efeito negativo sobre a
qualidade das publicações.

A fim de organizar esse volume de publicações, filtrando as boas e más produções científicas,
surgiram os indicadores e indexadores, por meio dos quais conseguimos ter uma base dos
periódicos e pesquisadores mais relevantes em determinado campo de conhecimento. Como você
sabe, conhecer a literatura científica estabelecida de uma área é importante no início de qualquer
pesquisa, tanto para fundamentá-la, quanto para extrair as questões que merecem uma
investigação mais profunda.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 39
Conhecendo indicadores e indexadores, você estará mais próximo de encontrar as produções
científicas mais relevantes para sua área de estudo. Geralmente, as boas pesquisas também
possuem boas fundamentações teóricas. Tais plataformas também dispõem de redes e mídias
sociais de colaboração que podem auxiliar no processo de comunicação entre você e pesquisadores
de todo o mundo.

Um parecerista contratado por uma agência de fomento à pesquisa é responsável pela análise
técnica de dois projetos de pesquisa que buscam financiamento. O parecerista deve analisar não
apenas os objetivos e a relevância de cada pesquisa, mas também o currículo acadêmico desses
pesquisadores.

As tabelas a seguir apresentam respectivamente a produção de cada pesquisador.

Pesquisador A
Artigos Nº de Citações
Artigo 1 30
Artigo 2 28
Artigo 3 20
Artigo 4 10
Artigo 5 4

Pesquisador B
Artigos Nº de Citações
Artigo 1 59
Artigo 2 45
Artigo 3 39
Artigo 4 2
Artigo 5 1

Considerando os dados apresentados, indique qual é o índice H de cada pesquisador e qual deveria
ser o pesquisador contemplado com o financiamento da pesquisa.
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Paulo Freire

CONCEITO-CHAVE
INDICADORES E MÉTRICAS NA PESQUISA CIENTÍFICA
Depois de desenvolver a pesquisa, entramos no campo da comunicação científica. É o dever de
todo pesquisador divulgar os resultados de sua pesquisa a fim de contribuir com o avanço daquela
área de conhecimento. Além disso, as publicações servem como um indicador de produtividade
científica do pesquisador, o que pode se transformar tanto em oportunidades e reconhecimento
acadêmico, quanto em obtenção de maior apoio financeiro para as pesquisas da área.

A forma de comunicação mais usual dos resultados de uma pesquisa é através da publicação de
artigos científicos, que são publicados em periódicos ou anais de eventos científicos e acadêmicos.

Os primeiros periódicos (revistas) foram criados em 1665 e, com o passar do tempo, o número de
periódicos só cresceu. Atualmente, há um grande número de periódicos, o que desencadeou
grandes volumes de artigos de baixa qualidade. Por essa razão, foram desenvolvidos métricas e
indicadores capazes de auxiliar na avaliação da qualidade de um periódico ou de um pesquisador,
de forma a separar o joio do trigo.

É importante que os pesquisadores analisem cuidadosamente o periódico que pretendem publicar,


e os indicadores de qualidade podem ajudar nesse processo. A avaliação da qualidade do trabalho
de um pesquisador ou periódico usualmente se dá com o auxílio de uma análise bibliométrica

PENSAMENTO CIENTÍFICO 40
realizada por indicadores. Adicionalmente, existem ferramentas analíticas de produção científica,
como InCites, SciVal, VantagePoint e Google Scholar Metrics.

De acordo com a Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica (AGUIA), os principais


indicadores de qualidade da pesquisa científica são:

Produção científica (scholary outputs): esse indicador mede volume e produtividade, mostrando o
número total de itens publicados em um dado período, por exemplo.
Contagem de citações (citation count): esse indicador mede o total de citações que um autor, uma
instituição ou um país acumulou durante um período, e têm como uma das vantagens a
comparação dos pesquisadores entre si.
Citações por publicação (citation per publication): esse indicador mostra o número de citações de
um artigo ou trabalho. Indica também uma média do impacto das citações.
Índice H (h-index): esse indicador é um dos mais utilizados atualmente, ele mede o equilíbrio
entre a produtividade e o impacto das citações. O índice pode ser calculado manualmente,
ordenando as publicações com o número de suas citações de forma decrescente. O índice é o ponto
de encontro entre a quantidade de publicação com o número de citações. Exemplo, o Índice-H 8
significa que um autor tem, no mínimo, 8 artigos publicados e estes receberam pelo menos 8
citações cada um.
Impacto de citação (citation impact): esse indicador mostra o número médio de citações que um
artigo recebeu em um período, ele é calculado pela divisão do número total de citações pelo
número total de publicações.
Impacto de citação ponderado por área de conhecimento (field-weighted citation impact): esse
indicador tem a vantagem de comparar publicações similares em termos de citação, por exemplo,
se a publicação se sobressai ou não em relação à média das citações das publicações nesse campo.
Fator de impacto do periódico (journal impact factor): esse indicador mostra quantas vezes o
artigo foi citado em relação ao total de trabalhos já publicados pelo periódico em determinado
período de tempo.

Fator de impacto do periódico sem autocitações (journal impact factor without self cites): esse
indicador adiciona uma exceção ao anterior – as citações que provém de outros trabalhos do
pesquisador são excluídas do cálculo.
Fator de impacto do periódico em 5 anos (five year journal impact factor): esse indicador mostra o
número de vezes que os trabalhos de um periódico têm sido citados no ano, de acordo com o JCR
(Journal Citation Reports).
Produção no top percentis (outputs in the top percentiles): esse indicador mostra o grau em que as
publicações estão presentes em termos percentis no universo de dados analisado. Ele mostra, por
exemplo, quantas publicações de um grupo, instituição ou país estão no topo de 1%, 10% ou 25%
dos trabalhos mais citados. Esse indicador também serve para comparar pesquisadores que
possuem índices semelhantes pelos fatores anteriores.
Colaboração (collaboration): esse indicador mostra o número de publicações de uma instituição,
pesquisador ou grupo que são produzidas com coautoria. Autorias únicas podem ser
contabilizadas.
Impacto das colaborações (collaboration impact): esse indicador mostra o impacto da citação de
uma publicação em colaboração, por exemplo, quantas citações recebeu em nível nacional,
internacional etc.
Além dos indicadores, temos ferramentas analíticas digitais que podem ser úteis para mensurar a
qualidade das pesquisas. O Incites é uma plataforma on-line de avaliação de citações e tem como
base de dados o Web of Science. O SciVal também é uma ferramenta de análise que tem como base
o Scopus e o Science Direct. O VantagePoint é uma ferramenta de mineração e análise de dados
que realiza análises bibliométricas bastando que se tenha a base de dados. O Publish ou Perish é
um software gratuito que analisa os dados do Google Scholar obtendo várias estatísticas sobre o
impacto das pesquisas. Por fim, o Google Scholar Metrics é uma das ferramentas mais conhecidas
e fácil de utilizar para avaliar rapidamente a visibilidade e a influência de produções na ciência.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 41
ASSIMILE
O uso de indicadores de produção científica tem sido muito utilizado na avaliação da qualidade de
pesquisadores e produções acadêmicas. As análises bibliométricas realizadas por meio de
indicadores são utilizadas também para fomento de recursos às pesquisas científicas.

ALTMETRIAS NA CIÊNCIA
Há formas de bibliometrias não tradicionais que surgem como alternativas ou complementos às
métricas tradicionais. Chamadas de altmetrias (altmetrics), não são baseadas em contagens de
citações, mas sim no impacto acadêmico medido com base nas pesquisas on-line, mídias sociais,
mídias on-line etc.

O surgimento da altmetria pode ser explicado por fatores como: a insatisfação com os medidores
tradicionais de impacto das pesquisas científicas; a ampliação das ferramentas de rede e das
formas de comunicação como um todo; a carência de filtros para a seleção de informações
relevantes; o movimento open access, que visa democratizar o acesso aos resultados das pesquisas
científicas.

Tais ferramentas analisam a quantidade de compartilhamentos em redes sociais, como Facebook,


Twitter, Blogs etc., citações, menções, comentários, curtidas, downloads, tagueamento,
visualizações, notícias etc. A altmetria se preocupa com o debate e a repercussão das publicações
científicas em toda a sociedade; nesse sentido é importante compreender como os resultados das
pesquisas têm sido vistos e utilizados. São algumas delas:

Altmetric: é uma empresa que rastreia onde as pesquisas publicadas são mencionadas, fornecendo
formas de monitorar as publicações no meio digital.
Impactstory: é uma ferramenta de código aberto que ajuda os pesquisadores a medir o impacto dos
resultados de pesquisa em periódicos, blogs, base de dados etc.
Plum Analytics: é uma empresa de altimetria, pertencente à Elsevier, que realiza a mensuração de
artigos e trabalhos acadêmicos considerando uma ampla base de dados.
Como acontece com os outros indicadores, cabe lembrar que a altmetria não mede de maneira
automática a qualidade de um artigo científico, mas auxilia no processo de avaliação do impacto
deste. Artigos bem citados e publicados em periódicos relevantes têm uma grande chance de serem
bons. Todavia, é possível existir casos de artigos citados repetidamente pelo fato de terem
cometidos grandes erros, o que mostra que uma análise da qualidade dos artigos apenas por
indicadores de citações nem sempre é confiável. Sendo assim, para medir de fato a qualidade de
um artigo é indispensável uma análise rigorosa sobre o seu conteúdo, metodologia e resultados.

REFLITA
A expressão “publish or perish” (publique ou pereça) é uma expressão comum utilizada para
exemplificar a pressão por publicações no meio científico. Em sua visão, quais são as principais
vantagens e desvantagens de um ambiente competitivo na produção de conhecimento científico?

MARKETING CIENTÍFICO DIGITAL


Com as redes de internet, as formas de comunicação passaram por grandes transformações.
Devido à grande presença de pessoas on-line, cresceu a necessidade de que a comunicação
científica chegue nesses espaços. Dada essas novas necessidades, novas práticas de publicação das
pesquisas e de mensuração de relevância têm sido adotadas no mundo todo, levando à criação da
ciência 2.0.

A ciência 2.0 é pensada a partir da aplicação das tecnologias de redes sociais nos processos de
produção do conhecimento científico, em especial, no processo de comunicação científica.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 42
Com o objetivo de melhorar a comunicação científica nesses espaços e seu engajamento, surgiram
iniciativas como o marketing científico digital. O marketing científico digital é uma modalidade de
marketing que está sendo utilizada para auxiliar no processo de consumo do conhecimento
científico. Dessa maneira, ele é utilizado para alavancar uma boa imagem da ciência e de seus
resultados (produtos), tendo como um dos fins a ampliação da confiança e do investimento nas
pesquisas científicas.

Segundo Araújo (2015), o marketing científico busca uma adesão ampla pelo público do discurso
científico, a promoção e divulgação dos trabalhos visando o reconhecimento das pesquisas em
diversos âmbitos e a projeção de autores a fim de conquistarem o prestígio e a visibilidade.

As estratégias de marketing científico digital são definidas com base no tipo de imagem que se quer
transmitir para o público-alvo. De acordo com Araújo (2015), os pesquisadores, os editores e as
instituições que buscam o marketing científico precisam observar três fatores indispensáveis:

A presença on-line: é importante que os interessados visem o alcance de um público amplo. Criar
blogs ou perfis em mídias sociais são ações que auxiliam nesse objetivo.
Oferecimento de um conteúdo adequado ao ambiente: o conteúdo a ser transmitido nas redes deve
ser criativo e a linguagem adequada à mídia social em questão.
Atuação responsiva: é necessário que se atente à interação com os usuários consumidores do
conteúdo para que se tenha um bom desempenho no ambiente digital. Sugere-se a criação de
espaços de participação e colaboração pelos usuários.

VISIBILIDADE CIENTÍFICA
Dada a importância das redes de internet no mundo atual, a visibilidade nestas redes tem sido cada
vez mais almejada pelo impacto social que gera tanto na ampliação do debate acadêmico quanto na
popularização da ciência. Todavia no âmbito da comunicação científica digital cabe diferenciar as
diferentes expressões e modalidades de divulgação.

Por comunicação científica, entende-se a produção e circulação de dados sobre a ciência,


tecnologia e inovação. Em geral, a comunicação científica se destina a um público especializado, de
modo que ela se dirige aos periódicos, eventos acadêmicos etc., e geralmente possui a linguagem
formal utilizada nas pesquisas.

Por divulgação científica, entende-se um processo de difusão de informação científica ao público


mais amplo, especializada em um público leigo. Dessa maneira, o discurso e a linguagem científica
são adequados para atender esse público, pois há a necessidade de tradução de termos científicos
para termos de entendimento mais popular; o objetivo é fazer com a audiência entenda o assunto.
Por jornalismo científico, entende-se uma publicação que é produzida e tratada por profissionais
de jornalismos que têm acesso a dados das pesquisas científicas. O objetivo muitas vezes é
comunicar em meios de comunicação de massa a informação científica de interesse público,
todavia, há casos em que as pesquisas são tratadas com sensacionalismos e distorcidas, visando
apenas uma maior audiência e engajamento do público. Por meio desses canais, os cientistas
podem buscar a visibilidade de suas pesquisas. Além disso, um fator que tem contribuído para o
aumento da visibilidade são as redes de colaboração entre os cientistas.

Atualmente, há uma tendência crescente do processo de internacionalização da ciência que é


percebida como uma forma de melhoria na qualidade de conhecimento produzido e de
democratização da produção científica. Essa internacionalização tem sido expressa a partir da
participação de autores de outros países nas publicações regionais (coautoria), da difusão dos
resultados das pesquisas em outros idiomas e periódicos internacionais e, também, na mensuração
dos impactos das publicações internacionais que mostram a influência das pesquisas em outros
países. Uma expressão de suas vantagens está na contestação realizada por estudos de que o
PENSAMENTO CIENTÍFICO 43
número de citações das publicações que envolvam pesquisadores de diferentes países é superior
quando comparado ao número de citações das publicações estritamente nacionais (GHENO,
2020).

EXEMPLIFICANDO
O indicador impacto da citação é calculado dividindo o número total de citações obtidas pelo
número total de publicações. O IC mostra o número médio de citações que uma publicação recebeu
em determinado período de tempo. Entretanto, o indicador ignora o volume total da produção e
isso pode causar distorções. Exemplo, o pesquisador X publica um artigo que obtém 50 citações.
Por sua vez, o pesquisador Y publica 10 artigos com receberam 200 citações. No cálculo do impacto
de citação, o pesquisador X tem um maior número que o pesquisador Y, mesmo que ele tenha
publicado mais.

Esse caso ilustra que é preciso ter cuidado na interpretação e no uso dos indicadores.

Assegurar a qualidade da produção científica é parte constitutiva de sua credibilidade. Tão


fundamental quanto conhecer as etapas da produção científica é saber encontrar produções de
qualidade. Os indicadores e as ferramentas digitais altimétricas estão disponíveis para nos auxiliar
com essa tarefa.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1
Os indicadores de produção científica surgiram da necessidade cada vez mais crescente de avaliar a
qualidade de pesquisadores e produções acadêmicas para fins de reconhecimento e mérito
acadêmico, bem como avaliação comparativa para fomento de recursos às pesquisas científicas.
Assinale a alternativa que contém um indicador de produção científica.
a. Scholary Count.
b. Citation per count.
c. Scholary Impact.
d. Citation Impact.
e. Ten year scholary impact.

Questão 2
As redes de internet provocaram enormes transformações na comunicação humana e afetaram
também a forma como se dá o reconhecimento da produção científica, isso porque a

insatisfação com os medidores tradicionais de impacto de pesquisas levou a um movimento que


buscava incluir as redes de internet como formas legítimas de mensuração de impacto das
produções científicas.

Assinale a alternativa que nomeia a forma alternativa de bibliometria que o texto se refere:
a. Scholar Metrics.
b. Altmetrics.
c. Open Access.
d. Scientific Analytics.
e. Paywall.

Questão 3
A comunicação on-line se consagrou como uma das formas de comunicação mais importantes do
nosso século. A comunidade científica percebeu a necessidade de ocupar esse espaço, ampliando as
formas de divulgação científica para as redes sociais. O marketing científico digital surge para
aumentar a visibilidade da ciência e dos pesquisadores nas redes de internet.
Assinale a alternativa que contém três fatores a serem observados, considerando uma estratégia de
marketing científico digital:
PENSAMENTO CIENTÍFICO 44
a. Presença on-line, oferecimento de conteúdo inadequado ao ambiente e atuação responsiva.
b. Presença off-line, oferecimento de conteúdo adequado ao ambiente e atuação interativa.
c. Presença on-line, oferecimento de conteúdo inadequado ao ambiente e atuação prescritiva.
d. Presença off-line, oferecimento de conteúdo adequado ao ambiente e atuação interativa.
e. Presença on-line, oferecimento de conteúdo adequado ao ambiente e atuação responsiva.

REFERÊNCIAS
Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica (AGUIA). Indicadores e Métricas. Publicado em
novembro, 2016. Disponível em: http://bit.ly/3qcOtO1. Acesso em: 10 dez. 2020.

ARAÚJO, R. F. Marketing científico digital e métricas alternativas para periódicos: da visibilidade


ao engajamento. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 20, n. 3, p. 67-84, 2015.

GHENO, E. M. et al. Impacto da internacionalização na visibilidade da produção científica do


Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas: BIOQUÍMICA/UFRGS (2007-2016).
Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, v. 25, p. 01-25,
2020.

QUAIS MÉTRICAS SÃO UTILIZADAS NA PESQUISA?

SEM MEDO DE ERRAR


A situação apresenta um parecerista que deve analisar dois projetos de pesquisa que buscam
financiamento. O parecerista faz análise do currículo acadêmico dos pesquisadores. Pela análise da
tabela anteriormente apresentada, o estudante deve perceber que o pesquisador A tem um índice
H maior que o pesquisador B e, portanto, deve ser escolhido em uma análise que segue esse
critério.

O pesquisador A tem o índice H = 4, porque o índice H é calculado verificando a quantidade dos


artigos e a quantidade de citações que eles tiveram. Sendo assim, o pesquisador A tem pelo menos
4 artigos com pelo menos 4 citações.

No caso do pesquisador B, ele possui um índice H = 3, porque ele tem pelo menos 3 artigos com
pelo menos 3 citações.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
BUSCANDO O MARKETING CIENTÍFICO DIGITAL
O editor chefe de uma revista científica recém-lançada contrata uma agência de marketing com o
objetivo de aumentar a visibilidade de suas publicações. A agência traz a estratégia do marketing
científico digital que busca ampliar a comunicação científica ao público mais leigo por meio das
mídias sociais.

Para que essa revista ganhe visibilidade nas redes de internet, quais os três fatores indispensáveis a
serem observados por seus editores, considerando uma estratégia de marketing científico digital?

RESOLUÇÃO
A situação apresenta o editor chefe de uma revista científica que procura uma agência de
marketing para alavancar a visibilidade nas redes sociais. O estudante deveria relembrar que, de
acordo com Araújo (2015), os pesquisadores, os editores e as instituições que buscam o marketing
científico precisam observar três fatores indispensáveis: 1. a presença on-line em mídias como
Facebook, 2. o oferecimento de um conteúdo adequado ao ambiente (com uma linguagem
adequada à internet e 3. uma atuação responsiva, procurando ter uma relação interativa com os
usuários consumidores do conteúdo.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 45
UNIDADE 02 SEÇÃO 3

É POSSÍVEL CONFIAR EM UMA PESQUISA CIENTÍFICA?

PRATICAR PARA APRENDER


Caro estudante,
Você já deve ter ouvido falar em Fake News. As Fake News são notícias fabricadas que propagam
mentiras a respeito de um assunto em particular ou sobre uma pessoa, em geral, pública. Elas são
extremamente danosas à sociedade e muitas vezes causam danos irreversíveis, como a queda
brusca nas taxas de vacinação de uma população.

As Fake News devem ser combatidas com informação e conhecimento de qualidade e nós sabemos
que o conhecimento científico pode ser muito útil nessa tarefa. Devemos criar o hábito de sempre
checar as informações antes de compartilhá-las. De preferência, devemos nos informar por meios
confiáveis, incluindo publicações científicas de periódicos de qualidade.

Atualmente, o processo de avaliação dos manuscritos científicos inclui a utilização de indicadores e


métricas que auxiliam na garantia da confiabilidade e segurança das informações publicadas.
Nesta seção, você aprenderá como identificar as Fake News e as formas de combatê-la. É
importante saber diferenciar as informações de forma genuína, portanto, você também aprenderá
sobre as ferramentas e os processos envolvidos na análise da qualidade de publicações e
pesquisadores, incluindo o controle dos interesses que podem interferir negativamente na
produção do conhecimento científico.

Um parecerista contratado por uma agência de fomento à pesquisa é responsável pela análise
técnica de dois projetos de pesquisa que buscam financiamento. Os recursos são limitados,
portanto, de acordo com a avaliação do parecerista, o melhor projeto receberá todos os recursos.

Nos projetos não constam os nomes dos pesquisadores participantes a fim de evitar conflito de
interesses, todavia, o parecerista percebe que um dos projetos envolve a pesquisa no laboratório
Finz, em que é colaborador. A decisão do parecerista é favorável ao financiamento desse projeto.

Explique se há indícios de conflito de interesses nessa avaliação e quais providências deveriam ter
sido tomadas. Nossas preferências não determinam o que é verdade. Carl Sagan

CONCEITO-CHAVE
QUALIDADE DAS PUBLICAÇÕES
Como se sabe, a produção de conhecimento científico envolve algumas etapas, dentre elas duas são
essenciais: a produção de conhecimento – dada pela condução da investigação – e a divulgação dos
resultados – feita pelas publicações e comunicações em meios especializados. Ao submeter um
artigo a uma revista, o manuscrito é geralmente submetido à revisão por pares e sua aprovação se
dá quando os critérios e as condições que regem uma boa pesquisa são seguidos pelos cientistas.

O número de artigos submetidos para publicação cresce vertiginosamente. Por conta desse
crescimento, os sistemas de avaliação passaram por mudanças como a criação de métricas e
indicadores que facilitassem na avaliação da qualidade dos trabalhos publicados. Um dos
indicadores mais utilizados se chama Fator de Impacto (FI). O FI mostra quanto um periódico
contribuiu para o avanço de uma área a partir do número de citações dos artigos publicados por
ele. Esse indicador é utilizado para avaliar as revistas científicas do mundo todo, se utiliza do
International Scientific Indexing (ISI), um banco de dados com periódicos selecionados.

Com a popularização do FI, muitas revistas também passaram a utilizá-lo na avaliação dos
pesquisadores, abrindo uma tendência que hoje é denominada de “produtivismo acadêmico” e
PENSAMENTO CIENTÍFICO 46
também muito criticada por exigir que o pesquisador publique cada vez mais, acarretando, muitas
vezes, que ele não dê a importância devida para a qualidade do que é publicado.

O FI é calculado levando em conta um ano como período, trata-se de ver a soma de todas as
citações que a revista recebeu nos dois anos anteriores e fazer a divisão pelo total de artigos
publicados dentro desse período. Surgiram também variações desse índice, como o Índice de
Imediatez, que faz o mesmo cálculo, mas não leva em conta o período de dois anos, favorecendo a
análise das revistas criadas a pouco tempo.

Apesar da relevância do FI para a bibliometria na ciência, pondera-se que o FI pode apresentar


distorções, afinal, artigos com erros grosseiros podem ser citados como uma forma de exemplificar
o que não deve ser feito. Nesse sentido, há a necessidade de uma análise global que leve em conta
outros fatores a fim de garantir a qualidade do periódico e dos artigos publicados.

Na esteira da busca por métricas de avaliação de periódicos, surgiu o processo de indexação. A


indexação se tornou um reflexo da qualidade dos periódicos, uma vez que as revistas indexadas são
consideradas de maior qualidade científica. Um periódico indexado nada mais é do que uma
revista que faz parte de uma base de dados reconhecida como Scopus, Web of Science, Scielo etc.

Considera-se que as revistas indexadas possuem um trabalho metodológico rigoroso na avaliação


dos artigos submetidos. Os editores almejam que suas revistas sejam indexadas de modo a atestar
o patamar de qualidade de suas publicações. Um dos indexadores mais conhecidos é Scopus, uma
base multidisciplinar relevante na área médica, assim como o PubMed. Temos também a SciELO,
que abrange uma coleção de periódicos brasileiros, considerada a maior base de acesso aberto da
América Latina.

Há outras bases de dados indexadoras como a Directory Open Access Journals (DOAJ), que é um
diretório on-line de acesso aberto e independente; seu financiamento se dá por doações. Temos a
Redalyc, uma base de revistas em acesso aberto ibero-américas. Além dessas, uma das mais
conhecidas e relevantes indexadoras é a Web of Science, baseada em assinatura e permite uma
exploração profunda dos campos e subcampos de uma área de pesquisa.

Tanto o Scopus quanto o Web of Science são consultados somente mediante o pagamento de um
plano de assinatura. Todavia, é prática comum as universidades públicas possuírem acesso, como
acontece aqui no Brasil.

Por fim, no campo da educação, temos como mais conhecidas as bases Educ@ e Edubase. Há ainda
outras bases indexadoras, caberá o pesquisador buscar conhecer quais são as mais relevantes na
sua área de estudos.

ASSIMILE
O Fator de Impacto (Impact Factor) é uma das métricas mais utilizadas na avaliação de revistas
científicas atualmente. Ele contabiliza as citações recebidas, sendo utilizado no Brasil até por
comissões que compõem a Qualis Periódicos. O cálculo é feito somando todas as citações que a
revista recebeu no prazo de dois anos e dividindo pelo número total de publicações desse mesmo
período. O fator de impacto é criticado principalmente por não distinguir as revistas mais recentes
das revistas tradicionais, além de não distinguir áreas que podem possuir características de
produção diferentes.

QUALIDADE DOS PESQUISADORES


Os pesquisadores fazem da ciência um processo contínuo de investigação, são eles que
desenvolvem as pesquisas e publicam os resultados, que, muitas vezes, configuram-se como o
ponto de partida da investigação. São os pesquisadores também que avaliam seus pares,
recompensam os méritos ou aplicam punições quando se infringe as regras e os valores da ética
PENSAMENTO CIENTÍFICO 47
científica. A organização da ciência se dá com base em uma troca de informações visando
reconhecimento social. Segundo Bourdieu (1994), o campo científico é um campo de disputas em
que os cientistas concorrem entre si pelo alcance da autoridade científica e do poder social que isso
traz. Por essas razões, o campo científico é permeado de diversos interesses.

É um mito comum achar que os cientistas são desinteressados em suas investigações. Na verdade,
como todos os seres humanos possuem motivações para realizar determinadas tarefas, os
pesquisadores possuem motivações para realizar suas pesquisas. Eles podem se importar com o
avanço da ciência, mas também com o ganho da autoridade científica ou ainda com a vontade de
aprenderem e crescerem intelectualmente. O pesquisador compartilha de anseios que são da
própria natureza científica, como a vontade de trazer algum avanço na sua área de pesquisa, bem
como anseios pessoais, como o desejo de sucesso profissional.

Tais motivações acabam afetando a prática científica no sentido de que, muitas vezes, os
pesquisadores vão se interessar pelas questões mais relevantes de uma área pelo desejo de que os
outros percebam da mesma maneira a relevância de sua pesquisa. Os anseios pessoais, segundo
Bourdieu (1994), não só podem influenciar na escolha dos objetos da pesquisa, como também nos
métodos empregados na pesquisa, isto é, o cientista que se
preocupa com o reconhecimento social buscará métodos que são aceitos e reconhecidos pelos seus
pares.

Dessa maneira, a contribuição que o pesquisador faz à sociedade é um dos aspectos relevantes que
contam para seu reconhecimento no meio científico. Como os outros pesquisadores também
possuem a vontade de serem reconhecidos, eles competem entre si, de forma que a análise de seus
pares se torna extremamente rigorosa.

Para Merton (1985), dado esse contexto, além de buscar a aceitação por seus pares, o objetivo do
pesquisador é afirmar sua autoridade científica. Para isso, os pesquisadores precisam saber
escolher problemas que sejam relevantes para toda a comunidade e não só para eles próprios, na
intenção de propor uma solução adequada a ele.

A reputação junto com seus pares também pesa no alcance desse reconhecimento. Bolsas de
pesquisa e prêmios obtidos pelos pesquisadores são formas de obter seu reconhecimento.
Pesquisadores que cometem fraudes podem tornar sua imagem negativa na comunidade científica
de uma forma irreversível.

Como a ciência é um campo em disputa, de acordo com Bourdieu (1994), os pesquisadores mais
antigos e que ocupam as posições de prestígios terão resistências quanto a novas teorias ou
corroborações que questionem seus trabalhos e ameacem seu status de autoridade no assunto.
Essas novas teorias que provocam rupturas com os conhecimentos estabelecidos enfrentam muita
dificuldade e críticas, todavia, caso o cientista consiga superá-las, ele ganhará grande destaque
profissional. É por essa razão que, atualmente, quanto mais impacto uma publicação científica
tem, maior qualidade se atribui a ela.

Com o intuito de avaliar a excelência acadêmica de um cientista utiliza-se indicadores que traçam
análises sobre a quantidade de pesquisas publicadas, o número de citações em determinada área
etc. Um dos indicadores mais utilizados é o Índice H (h-index), que mede o equilíbrio entre a
produtividade e o impacto das citações. Por exemplo, um índice h de 10 indica que 10 artigos foram
citados pelo menos 10 vezes cada. Todavia, hoje se sabe que essas avaliações devem contemplar a
qualidade do conteúdo dessas publicações.

A busca por reconhecimento pessoal, incentivos financeiros, questões sociais e geopolíticas,


conflitos de interesses, são fatores que influenciam na produção científica e, consequentemente,
ditam a qualidade dos artigos e a qualidade dos pesquisadores. É necessário analisar a ciência
PENSAMENTO CIENTÍFICO 48
como atividade humana em construção que tem como característica seu caráter colaborativo. O
modo como o campo científico se configurou inibe quaisquer romantismos e idealismos em relação
à produção de conhecimento científico. Assim, não se trata de impedir que os pesquisadores
tenham seus próprios interesses, trata-se de colaborar para que a vontade de contribuir com o
avanço da ciência e da sociedade prevaleça em relação às demais.

REFLITA
É comum dizer que as crianças são cientistas natos, todavia, nem todo mundo segue a carreira de
cientista na fase adulta. Em sua visão, o que motiva um cientista a fazer seu trabalho?
Quais fatores podem inibir essa motivação?

CONFLITO DE INTERESSES

Como dito anteriormente, os cientistas são responsáveis pela produção de conhecimento científico
em diversos âmbitos e, como seres humanos, os cientistas possuem motivações e interesses tanto
compartilhados quanto pessoais. A fim de que a motivação principal seja sempre a contribuição
genuína com a área de estudo, os pesquisadores desenvolvem mecanismos para inibir os conflitos
de interesse que porventura surgem durante as investigações. Conflitos de interesse podem
interferir negativamente na credibilidade da produção científica. cientificamente válidos.

Tais conflitos se referem tanto a problemas com financiamentos de pesquisas e patrocinadores, por
exemplo, como também se somam aos interesses relacionados ao prestígio acadêmico, aos poderes
sociais e ao reconhecimento almejados pelos cientistas. Em situações em que há conflito de
interesses, o julgamento do pesquisador é potencialmente afetado, isto é, o cientista pode
manipular os resultados de uma pesquisa a fim de que corroborem com os resultados esperados
pela empresa que patrocina o estudo. Se não há um controle rigoroso sobre esse processo e se o
conflito de interesse não for identificado, a credibilidade da pesquisa pode ser minada.

Para melhor ilustrar uma situação de conflito de interesses, suponhamos um caso comum do meio
médico. Antes de um medicamento ser colocado à venda, ele precisará passar por testes para que
sua eficácia e segurança sejam comprovadas. Todavia, muitas vezes as pesquisas são financiadas
pelas empresas que possuem interesse na venda desse medicamente, além disso, os pesquisadores
são, geralmente, funcionários dessas empresas e, por consequência, também estão interessados na
manutenção dos seus empregos e no sucesso comercial da empresa.

Pode ser que tais interesses, ainda que existam e que devem ser reconhecidos, não atrapalhem a
boa condução da pesquisa, porque os pesquisadores seguiram a metodologia científica com o
máximo de rigor e possuem o interesse ético em contribuir positivamente com a sociedade,
reduzindo ao máximo os riscos de efeitos colaterais no uso desse medicamento. Todavia, pode ser
também que tais interesses conflitem e o interesse da empresa de colocar o medicamento para ser
vendido prevaleça frente à questão da segurança do mesmo.

A responsabilidade por observar esses conflitos de interesse é de todos os atores envolvidos na


produção de conhecimento científico: pesquisadores, orientadores, editores, universidades,
patrocinadores etc. Todos eles podem se encontrar em meio a situações de conflito de interesses
pelas mais variadas motivações e devem identificar prontamente a natureza desse conflito. Em
geral, sugere-se que a identificação desse conflito também seja inserida no artigo, na seção de
discussão, por exemplo.

A revisão por pares, a qual os artigos são submetidos antes de serem publicados, geralmente ocorre
em uma abordagem duplo cego para inibir conflito de interesses. Os avaliadores dos manuscritos
não podem ter ciência dos autores dos artigos, a fim de preservar o julgamento estritamente
profissional, eliminando qualquer interferência de questões pessoais, como relações pessoais ou
PENSAMENTO CIENTÍFICO 49
profissionais favoráveis ou desfavoráveis entre o avaliador e o avaliado, decorrentes da competição
acadêmica, por exemplo.

Diversos conflitos de interesses podem aparecer durante a condução de uma pesquisa e é tarefa do
pesquisador reconhecê-los. Além disso, deverá demonstrar quais medidas foram tomadas para
controlar tais influências com o propósito de não comprometer a credibilidade dos resultados.
Cada caso pode exigir uma estratégia diferente, o que dificulta a explanação de fórmulas prontas de
resolução desses conflitos.

Ainda assim, dois princípios podem ser observados: o princípio da plena informação e o princípio
da verificabilidade. O primeiro atesta que toda a sociedade deve ser informada sobre os potenciais
conflitos de interesse de uma pesquisa. O segundo preza pelo tratamento crítico dos resultados de
pesquisas antes de serem considerados cientificamente válidos.

EXEMPLIFICANDO
Suponha que um pai seja o árbitro no jogo de futebol do seu filho. Apesar do pai ser uma pessoa
absolutamente íntegra, temos aqui um exemplo de conflito de interesses: a vontade de que seu
filho tenha um bom desempenho conflita com a necessidade de conduzir a partida com
imparcialidade. Muitas decisões que o árbitro toma envolvem sua percepção e, portanto, sua
subjetividade. Nessas circunstâncias, nem todas as decisões parciais podem ser controladas ou
evitadas. A regra geral para evitar o conflito de interesses é afastar todos aqueles que serão
potencialmente beneficiários da função de juízes e avaliadores. Entretanto, pode haver situações
mais complexas que fogem da aplicação dessa regra de forma integral e requerem uma avaliação
minuciosa caso por caso.

CIÊNCIA VERSUS FAKE NEWS


Nos dias de hoje, o termo Fake News tem sido adotado como referência às notícias que divulgam
informações falsas ou manipuladas e que têm dominado as mídias digitais em escala global. A
ciência, embora preserve sua integridade pelo rigor na aplicação do método científico, não está
imune de seus efeitos.

As Fake News também podem se perpetuar utilizando de bases supostamente científicas a fim de
convencer o maior número de pessoas. Sua atuação pode ser vista tanto em reportagens
sensacionalistas sobre assuntos científicos na mídia em geral, que podem ser mal- intencionadas
ou não, quanto por notícias falsas deliberadamente fabricadas.

Falsificações que se pretendem científicas podem exercer efeitos extremamente negativos em uma
sociedade, como exemplificado por Peter Schulz por meio do caso “O Projeto Huemul”,
desenvolvido de 1948 a 1952, na Argentina, sob o comando do presidente Juan Perón.

Perón foi profundamente influenciado por um autoproclamado cientista alemão chamado Ronald
Richter, que migrou para a Argentina depois da derrota do nazismo, a desenvolver esse projeto.
Segundo Richter, seria possível, através de um projeto de controle de fusão nuclear, produzir
energia barata e sem lixo radioativo, o que elevaria a Argentina ao título de primeira potência
mundial. Perón investiu enorme esforço governamental e muito dinheiro público para que esse
projeto fosse desenvolvido e os experimentos de Richter não resultaram em nada. A fraude foi
desmascarada por José Antônio Balseiro, um cientista de verdade.

Além disso, as Fake News podem provocar sequelas permanentes em pessoas quando divulgam
supostos efeitos negativos das vacinas, por exemplo. Alegações totalmente falsas como “vacina
contra meningite vai dar meningite” são comuns nas redes, mas carecem totalmente de
comprovação científica e se contrapõem ao conhecimento já seguramente estabelecido sobre as
vacinas. As Fake News já levaram a uma queda expressiva na vacinação em diversos lugares do
mundo.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 50
A melhor forma de combater as Fake News é pela informação, mas não basta afirmar a autoridade
científica, é preciso contribuir no sentido de fazer as pessoas entenderem o porquê tais afirmações
são falsas. É necessário levar o conhecimento básico científico até as pessoas, além disso, é preciso
incentivar o pensamento científico para que se desenvolva o pensamento crítico.

Há alguns passos básicos para identificar se uma notícia é falsa. O primeiro deles é verificar a fonte
da informação, o site em que está sendo divulgado e o autor do conteúdo. Todavia, muitos sites
possuem nomes semelhantes a sites confiáveis, sendo necessário estar atento à autenticidade
daquele endereço.

O segundo passo é verificar a estrutura do texto, pois as Fake News frequentemente apresentam
erros de português que mostram que o texto não foi revisado. Também apresentam um teor
sensacionalista e muitas afirmações, com explicações rasas e simplórias dos assuntos.

O terceiro passo é verificar a data de publicação. Muitas vezes notícias antigas são divulgadas como
sendo novas. Além disso, é necessário ir além do título e do subtítulo. Frequentemente, o conteúdo
contradiz o que se está dizendo no título.

O quarto passo é checar as afirmações feitas em outros sites, utilizando mecanismos de pesquisa
como Google, Bing etc., também é importante acessar os indexadores de artigos e revistas de
referência, como PubMed para a área médica, que divulga informações especializadas sobre o
assunto e tais informações são publicadas apenas quando já se deu a revisão por pares. Há também
diversos blogs e sites que se preocupam em desmentir as notícias falsas que estão circulando na
web, além de agências de checagem que fazem esse trabalho de monitoramento e correção.

Por fim, cabe frisar que, se tratando de assuntos complexos, não existem respostas absolutas. É
prudente sempre adotar uma postura questionadora, compatível com o pensamento científico, a
fim de evitar consumir conteúdos de pessoas que parecem donos da verdade e que pregam
conspirações ou pseudociências. Além disso, o não compartilhamento dessas notícias, mesmo que
para criticá-las, é importante, porque o compartilhamento em si traz engajamento ao conteúdo e,
com frequência, ajuda a disseminá-las.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1
Os indicadores de produção científica surgiram como reação ao grande volume de publicações
científicas a partir dos anos 1960. A necessidade de avaliar as boas e más produções se alinhou à
constatação de que os recursos para pesquisa são limitados e devem ser dados àquelas que trazem
contribuições positivas à sociedade.
Assinale a alternativa que contém um indicador de produção científica:
a. Fator de Citação.
b. Fator de Publicação.
c. Fator de Relevância.
d. Fator de Impacto.
e. Fator de Confiança.

Questão 2
É importante ter muito cuidado ao navegar na internet. Em uma pesquisa rápida, encontramos
milhões de sites e portais de notícias que nem sempre constituem fontes seguras de informação.
Em verdade, atualmente, alguns deles foram criados para enganar e manipular a opinião pública,
dando origem à explosão de notícias falsas que conhecemos atualmente.
Assinale a alternativa que contém o termo utilizado para nomear o fenômeno que o texto se refere:
a. Fake Fact.
b. Fake View.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 51
c. Fake News.
d. Fake Idea.
e. Fake Count.

Questão 3
Os são comuns na avaliação da . Como os , em geral, também são
pesquisadores, eles podem conhecer os do projeto avaliado ou ainda estar ligado às em
que tais projetos são desenvolvidos. Entretanto, o conflito de interesse deve ser imediatamente
controlado, a fim de garantir a da avaliação.

Assinale a alternativa que preencha correta e respectivamente as lacunas:


a. conflitos de interesse; pesquisa acadêmica; avaliadores; participantes; habitações;
parcialidade.
b. conflitos de interesse; pesquisa científica; avaliadores; desenvolvedores; instituições;
integridade.
c. conflitos de interesse; pesquisa acadêmica; redatores; participantes; habitações;
maleabilidade.
d. conflitos de interesse; pesquisa científica; redatores; participantes; instituições;
parcialidade.
e. conflitos de interesse; pesquisa acadêmica; avaliadores; desenvolvedores; habitações;
comunicabilidade.

REFERÊNCIAS
BOURDIEU, P. O campo científico. In: ORTIZ, Renato (org.). Pierre Bourdieu: Sociologia. Trad. de Paula
Montero e Alícia Auzmendi. São Paulo: Ática, 1983 b, p.122- 155.

DELMAZO, C.; VALENTE, J. C.L. Fake news nas redes sociais online: propagação e reações à
desinformação em busca de cliques. Media & Jornalismo, v. 18, n. 32, p. 155-169, 2018.

DROESCHER, F. D.; SILVA, E. L. da. O pesquisador e a produção científica. Perspectivas em ciência da


informação, v. 19, n. 1, p. 170-189, 2014.

GREGOLIN, J. A. R. et al. Capítulo 5-Análise de Indicadores de Produção Científica. 2004. MERTON, R. K.


La sociología de la ciencia. Madri, Alianza Editorial, 2 vol., 1985.
REGO, S.; PALÁCIOS, M. Conflitos de interesses e a produção científica. Revista Brasileira de Educação
Médica, v. 32, n. 3, p. 281-282, 2008.

SANTOS, G. C.; XAVIER, I. D. C. M. Fontes de indexação importantes para a pesquisa. Blog PPEC,
Campinas, v.2, n.2, fev. 2018. ISSN 2526-9429. Disponível em: https://bit.ly/3sOHs7U. Acesso em: 20 jan.
2021.

SANTOS, L. H. L. dos; PEREZ, J. F. Conflito de interesses: um desafio inevitável. Revista Pesquisa FAPESP,
n. 62, p. 12, 2001.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


É POSSÍVEL CONFIAR EM UMA PESQUISA CIENTÍFICA?

SEM MEDO DE ERRAR


A situação-problema envolve um parecerista que é responsável pela avaliação de dois projetos de
pesquisa que buscam financiamento. O projeto de pesquisa escolhido pelo avaliador é o projeto
que se desenvolverá em um laboratório no qual o parecerista é colaborador. Nesse caso, está claro

PENSAMENTO CIENTÍFICO 52
a presença de um conflito de interesses: o parecerista procurará escolher o projeto em questão
porque os recursos disponíveis irão para o laboratório onde é colaborador.

Ao invés de tomar uma decisão, o parecerista deveria notificar o conflito de interesse para a
agência de fomento, a fim de que eles troquem de especialista na avaliação dessa demanda. Não
sendo possível a troca do parecerista, ele deve deixar claro que é parte interessada e caberá uma
revisão da administração ao dar a decisão final.

AVANÇANDO NA PRÁTICA COMBATENDO FAKE NEWS


Como pesquisador científico, você é convidado por um jornal de grande circulação para falar dos
efeitos nocivos que as Fake News podem causar à sociedade como um todo. O jornal pede que você
formule um roteiro com os principais meios para reconhecer a falsidade de uma notícia. Elenque
cinco passos a serem seguidos pelos leitores que os auxiliarão nessa tarefa.

RESOLUÇÃO
Alguns passos básicos para identificar fake news:
Ir além do título. Muitas vezes os títulos contradizem ou distorcem o conteúdo publicado. Verificar
a fonte da informação. Existem sites confiáveis em que a notícia foi publicada? Verificar a
gramática e estrutura lógica do texto. As notícias falsas frequentemente possuem erros de
português ou mesmo contradições.
Verificar a data da publicação. Muitas vezes notícias antigas são republicadas a fim de modificarem
alguma circunstância atual. É comum o uso delas durante as eleições.
Verificar as informações por meio de pesquisas sobre o tema e em sites que fazem
sistematicamente a verificação de notícias falsas, como agências de checagem de fatos.

UNIDADE 03 SEÇÃO 1

QUAL É SUA PERGUNTA E COMO RESPONDÊ-LA?

CONVITE AO ESTUDO
Caro estudante,

Você já deve ter feito perguntas como “Por quê?” e “Como?” muitas vezes na vida. Essa é uma
facilidade especialmente das crianças. Nós nascemos curiosos para saber a origem das coisas e a
causas dos fenômenos que observamos. A curiosidade é uma das características elementares do ser
humano.

O ser humano encontrou muitas formas de sanar suas dúvidas. Uma dessas formas, considerada a
mais confiável, é o método científico. Ao longo das tentativas da humanidade de desenvolver um
conhecimento seguro, foram desenvolvidas regras e procedimentos básicos que colocavam o ser
humano mais próximo do conhecimento verdadeiro. Tais regras formam o método científico, que
tem como etapa inicial a elaboração de um problema ou uma questão a ser investigada pelo
pesquisador.

Na pesquisa científica, as perguntas ganham uma forma específica, seguindo certas regras e
princípios, com a finalidade de tornar possível a condução de uma pesquisa com metodologia e
rigor científico. Por essa razão, as perguntas científicas geralmente são menos vagas e mais claras
dos que as que fazemos no nosso dia.

Fazer perguntas em ciência é uma prática constante que não termina com a elaboração do projeto
de pesquisa. Na verdade, a todo o momento da pesquisa, o cientista pode se sentir motivado a fazer
perguntas, especialmente quando suas hipóteses não são corroboradas pela experiência, isso deve
fazer o cientista se perguntar como e por quê a experiência é diferente do que se pensava. Dessa
forma, fazer ciência implica em saber fazer as perguntas da maneira correta.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 53
Convido-lhe a exercitar a sua curiosidade a partir da abordagem da ciência que envolve, entre
outras coisas, investigar as causas, elaborar hipóteses, resolver problemas, criar soluções.

Caro estudante,

Você já deve ter visto como a ciência e a tecnologia estão presentes em nossa vida cotidiana em
diversos segmentos. Por trás de toda construção desses artefatos ou conhecimentos estão as
perguntas, elas são muito importantes porque configuram a motivação do cientista para iniciar
uma investigação. Toda pesquisa deve conter um problema a ser tratado ou uma

pergunta como fio condutor. Tais problemas ou perguntas possuem fontes diversas, que podem
surgir a partir de conversa com familiares, de uma reflexão individual, de uma conversa com
colegas de faculdade ou trabalho. Mas há uma série de adaptações a serem feitas para que essa
curiosidade inicial se torne uma pergunta científica que possibilite o desenvolvimento de uma
pesquisa.

No desenvolvimento da pesquisa, há a formulação inicial do problema, a elaboração do projeto de


pesquisa (que consiste em um planejamento rigoroso de cada etapa da pesquisa), a criação de um
modelo de análise (as hipóteses a serem testadas), que é a forma do pesquisador quantitativo de
testar a resposta que acha mais plausível para sua pergunta, a coleta e análise de dados e a
comunicação dos resultados.

Saber conduzir uma boa pesquisa é essencial tanto a produção de conhecimento básico, quanto
para a produção de conhecimento aplicado, financiados por empresas ou governos.

O conhecimento dessas etapas e desses procedimentos que envolvem todo o método científico não
só possibilitará o desenvolvimento de uma boa pesquisa, mas também exercitará o seu pensamento
crítico. A partir do conhecimento de como uma pesquisa deve ser conduzida, você se tornará mais
capaz de julgar quando uma pesquisa é rigorosa ou não com seus resultados. Por sua vez, ficará
mais difícil de acreditar em notícias sensacionalistas, pseudociências e fórmulas mágicas de
resolução de problemas que não são verificadas ou que ainda não foram replicadas por uma
comissão independente.

Imagine que você trabalha em uma empresa química em que o departamento de marketing quer
verificar o efeito da propaganda na venda de álcool em gel. Com as informações dos faturamentos
anteriores desse produto, a empresa começa a fazer grandes campanhas publicitárias e o
faturamento desse produto no mês seguinte, fevereiro, é significativamente maior.

O departamento de marketing imediatamente comemora os resultados e supõe que a propaganda


provocou um efeito positivo nas vendas do produto. Para comprovar essa hipótese, você é
convocado enquanto pesquisador a realizar o teste da hipótese. Você elabora os seguintes
enunciados:

Observação 1: As vendas do álcool em gel aumentaram no mês de fevereiro.

Hipótese básica: Elas aumentaram em decorrência do investimento em propaganda pela empresa.

Hipótese alternativa: Há algum outro fator externo, como preocupação com a saúde, que elevou o
faturamento do produto.

Quais seriam os possíveis procedimentos a serem realizados a fim de confirmar ou refutar as


hipóteses?
“A ciência é muito mais do que um corpo de conhecimento. É uma maneira de pensar.”
PENSAMENTO CIENTÍFICO 54
Carl Sagan

CONCEITO-CHAVE
COMO FAZER PESQUISA CIENTÍFICA: ELABORANDO PERGUNTAS

Um dos primeiros passos ao desenvolver uma pesquisa científica passa por elaborar a pergunta de
pesquisa, isso porque, ao desenvolver uma pesquisa, o pesquisador tem em si alguma inquietação,
dúvida ou problema que almeja sanar. A pergunta da pesquisa é justamente essa incerteza que o
pesquisador possui sobre determinado assunto e que o encoraja a desenvolver uma investigação,
mas, se engana quem pensa que o produto final de toda investigação é a solução dessa pergunta.
Na verdade, mesmo quando é possível produzir respostas satisfatórias a uma dada pergunta (e
nem sempre é possível), outras questões surgem decorrentes da investigação, além da existência
própria daquelas que tangenciam a pesquisa e sequer foram tratadas.

Há ainda as questões-problemas que surgem a partir de um avanço na ciência. As novas


tecnologias e os novos instrumentos utilizados pela ciência geraram uma série de perguntas sobre
questões já conhecidas que originaram novos paradigmas de pesquisa. Essa capacidade de gerar
novas perguntas é uma marca do pensamento científico. Dessa maneira, não faltam incertezas a
serem trabalhadas em projetos de pesquisa. O desafio que se coloca ao pesquisador é conseguir
elaborar uma questão que possa ser transformada em um “plano de estudo factível e válido”
(HULLEY, 2008, p. 36).

São muitas as origens dos problemas de pesquisa. Um pesquisador mais experiente geralmente
toma como questão de pesquisa os problemas encontrados em seus estudos anteriores. Um
pesquisador iniciante pode e deve revisar a literatura sobre determinado tema, a fim de encontrar
questões abertas. Ele deve procurar ter um certo domínio sobre a literatura do campo de estudo
que almeja começar uma investigação. Os livros, as revisões sistemáticas e os eventos de
comunicação de pesquisa são bons pontos de partida tanto para quem sabe ou não se sabe qual
questão estudar. Os eventos de comunicação científica são grandes oportunidades de
conhecimento para o pesquisador iniciante porque ele terá contato com pesquisas mais recentes da
sua área, poderá conversar com pesquisadores experientes que já passaram pela fase que ele está,
poderá sanar dúvidas sobre as referências bibliográficas mais relevantes, além de formar parcerias
de pesquisa. Não se esqueça: a ciência é uma construção coletiva e não individual!

Para elaborar um projeto de pesquisa, aconselha-se que o pesquisador procure um orientador que
pode ser tanto um professor quanto um profissional especialista na área. Ele ou ela saberá avaliar
se, à luz do campo estudado, a questão elaborada pelo pesquisador é adequada visando os métodos
e as ferramentas da área disponíveis, isso porque algumas questões são interdisciplinares ou muito
abrangentes e precisam ser delimitadas para garantir a boa condução do estudo. Há também
pesquisas que contam com mais de um mentor. De maneira geral, uma boa pergunta de pesquisa
tem como característica ser: factível, interessante, nova, ética e relevante (FINER).

Factível: diversos estudos não alcançam seus objetivos porque não conseguem delimitar o tamanho
da sua amostra. É preciso planejar o número de pessoas participantes que serão suficientes para a
coleta de dados e isso implica em uma análise de adequação de estratégia, tempo e critérios de
inclusão ou exclusão de participantes. Além disso, o pesquisador deverá ter acesso às técnicas que
precisa para o desenvolvimento da pesquisa, isso inclui equipamentos e habilidades como: fazer a
delimitação do estudo, recrutar os participantes quando for o caso, conhecer os métodos de coleta
e análise de dados e variáveis, etc.
Também há que se ver quanto tempo o estudo irá durar e quanto irá custar, pois dependendo da
pesquisa, os custos são altos. O pesquisador deve ter o planejamento de tempo por etapa e de
insumos antes de iniciar a pesquisa, incluindo imprevistos. Uma situação que pode acontecer sem
o planejamento adequado é o encerramento da pesquisa ainda na fase de desenvolvimento por
falta de recursos. Nem sempre, é claro, isso é uma responsabilidade dos pesquisadores. As agências
PENSAMENTO CIENTÍFICO 55
que financiam pesquisas com bolsas e recursos para o desenvolvimento dos testes são, em sua
maioria, financiadas pelo governo. Um corte significativo de gastos poderá comprometer muitas
pesquisas em andamento. Por fim, o pesquisador deve ter um escopo bem definido, caso contrário
poderá se perder tentando responder mais questões do que lhe seriam pertinentes. Mesmo que
problemas secundários sejam interessantes, é importante focar em uma questão específica a fim de
conseguir se dedicar a ela e entregar resultados relevantes. Já dizia o ditado: “mais vale um pássaro
na mão do que dois voando”.

Interessante: a questão precisa ser interessante para a ciência, porque não basta que ela seja
interessante apenas para o pesquisador que a faz. Para conseguir aporte financeiro, muitas vezes, é
preciso que outros pesquisadores da área reconheçam a pertinência da questão. Os especialistas e
orientadores são essenciais nesse momento pois poderão dar o feedback necessário para saber se o
projeto de pesquisa é pertinente à luz dos seus objetivos.

Nova: Nem sempre é preciso inovar em ciência, mas com uma questão bem delimitada, é possível e
desejável a produção de novas informações a partir da pesquisa. Além disso, um avaliador do
projeto de pesquisa pode achar que um estudo que não produz nada novo não vale os recursos
reivindicados pelo pesquisador. A questão não precisa ser completamente original, mas novas
informações sobre o assunto constituem um resultado esperado de boas pesquisas.

Ética: a pergunta de pesquisa deve ser ética, de modo que não cause risco de vida para os
participantes, nem uma completa invasão de suas privacidades. Geralmente, os projetos de
pesquisa que envolvem testes em humanos ou animais não humanos passam por uma comissão de
ética para serem aprovados e as pesquisas devem seguir suas normatizações com extremo rigor.
Uma pesquisa que incorra em infrações éticas também não consegue produzir resultados
relevantes em ciência.

Relevante: A relevância tem um papel central na busca por uma boa pergunta de pesquisa. Uma
forma de pensar a relevância da pergunta é imaginar as conclusões que a pesquisa poderá chegar e
pensar quais contribuições e avanços essa conclusão pode trazer à sociedade; vale aqui também
discutir com os orientadores e especialistas da área a relevância da pergunta, bem como do projeto
de pesquisa como um todo.

Desenvolver uma boa pergunta de pesquisa, embora pareça uma tarefa individual, é, antes, uma
elaboração coletiva que envolve a participação de especialistas, professores, amigos, colaboradores
e certo domínio da literatura. São alguns exemplos de perguntas de pesquisa: A redução da
gordura alimentar pode reduzir a câncer de mama? Qual a origem dos índios americanos? Qual a
composição da atmosfera de Marte? Qual a relação entre subdesenvolvimento e dependência
econômica? “A criatividade, a persistência e a capacidade de julgamento são qualidades
necessárias a serem exercitadas nessa tarefa” (HULLEY, 2008, p. 43).

ASSIMILE
A pergunta de pesquisa é o ponto de partida de todos os estudos científicos. Ela expressa a dúvida,
inquietação e incerteza do pesquisador frente a uma parte do campo de estudo de uma disciplina.
Para elaborar uma boa pergunta de pesquisa, é necessário ter um certo domínio da literatura da
área de estudos. Também é recomendável que o pesquisador discuta sobre ela com os seus pares.
Uma boa pergunta de pesquisa tem cinco características, sob o acrônimo FINER. Ela é: factível,
interessante, nova, ética e relevante.

A CONSTRUÇÃO DE HIPÓTESES
Uma vez elaborada a questão de pesquisa pode ser necessária a elaboração de hipóteses a serem
testadas que darão uma resposta quanto ao problema colocado pelo pesquisador. As hipóteses são
uma espécie de diretrizes da pesquisa; elas indicam o que os pesquisadores estão buscando ou o
PENSAMENTO CIENTÍFICO 56
que eles estão tentando comprovar, sendo tentativas prévias de explicação do fenômeno analisado
e devem ser formuladas de forma clara e concisa. A hipótese não deve ser confundida com
pressuposto teórico, uma vez que no decorrer da pesquisa, ela pode ser descartada e avaliada. A
hipótese é sempre provisória e provável.
Nem todas as pesquisas formulam hipóteses. A formulação de hipóteses é dada apenas em estudos
correlacionais ou explicativos, isto é, que preveem um dado acerca do fenômeno analisado. Em
geral, pesquisas apenas exploratórias não formulam hipóteses. As pesquisas que formulam
hipóteses se utilizam do método hipotético-dedutivo que consiste na construção de conjecturas,
isto é, premissas altamente prováveis baseadas em hipóteses que, se confirmadas, confirmam
também sua veracidade. Um estudo que busque medir o índice de delitos de uma cidade pode ter
como hipótese que o índice para determinado semestre será menor que o semestre anterior
baseado em determinados fatores. Mais exemplos de hipóteses: quanto maior variedade houver no
trabalho, maior será a motivação do trabalhador; o índice de câncer pulmonar é maior entre
fumantes que não fumantes; a psicoterapia aumenta gradativamente a expressão do paciente sobre
o futuro e diminui a expressão sobre os fatos passados.

Uma hipótese é diferente de uma afirmação, pois o pesquisador não tem plena certeza de sua
comprovação. As fontes comuns para formulação de hipóteses são as teorias, generalizações
empíricas sobre o problema de pesquisa e estudos revisados, mas elas também podem surgir em
campos de estudo pouco explorados. Nesse caso, quanto menor o fundamento empírico da
hipótese, maior o cuidado que o pesquisador deve ter quanto a sua aceitação ou rejeição. Um erro
grave ao elaborar hipóteses se faz quando o pesquisador não revê a literatura do campo de estudo e
formula hipóteses que já foram significativamente aceitas ou descartadas por outros estudos.

Lakatos e Marconi (1991) listaram onze características que uma boa hipótese deve conter:

Consistência Lógica: o enunciado da hipótese não deve ser contraditório, além disso, deve ser
compatível com o conhecimento científico já existente.
Verificabilidade: a hipótese deve ser passível de verificação.
Simplicidade: a hipótese deve ser simples, evitando enunciados obscuros ou complexos demais.
Relevância: a hipótese deve poder explicar ou prever algum dado significativo para a pesquisa.
Apoio teórico: a hipótese precisa ser baseada em uma teoria já estabelecida, a fim de que haja uma
probabilidade maior de produção de conhecimento relevante.
Especificidade: a hipótese deve indicar as operações de sua verificabilidade. Plausibilidade e
clareza: a hipótese deve ser provável e seu enunciado claro.
Profundidade, fertilidade e originalidade: a hipótese deve indicar os mecanismos que podem levar
o conhecimento a um nível de maior complexidade do problema. Deve facilitar que mais deduções
sejam feitas e expressar uma resolução inédita para a questão.
Ainda segundo Lakatos e Marconi (1991), as hipóteses se dividem em duas categorias: hipóteses
básicas e hipóteses secundárias. As hipóteses básicas são aquelas escolhidas pelo pesquisador e que
respondem o problema diretamente, por sua vez, as hipóteses secundárias indicam respostas
complementares ou outras possibilidades de resposta para o problema em questão. Além dessa
classificação, há outras maneiras de classificar hipóteses mais gerais que variam de acordo com o
objetivo da pesquisa como: hipóteses de pesquisa, hipóteses nulas, hipóteses alternativas e
hipóteses estatísticas. As hipóteses de pesquisa podem ser entendidas como proposições acerca das
possíveis relações entre duas ou mais variáveis. Comumente se representa essas variáveis como
H11, H2, H3, etc. E há ainda uma classificação para os tipos de hipóteses de pesquisa, sendo:

Descritivas: as hipóteses desse tipo são utilizadas em estudos descritivos, por exemplo, “a
expectativa de salário dos trabalhadores da empresa x oscila entre 800 e 1.000 reais”.
Correlacionais: as hipóteses desse tipo explicam as relações entre variáveis, por exemplo, “quanto
maior a autoestima, menor o medo da rejeição”.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 57
Da diferença entre grupos: as hipóteses desse tipo têm a finalidade de comparar grupos, exemplo,
“o efeito persuasivo para deixar de fumar será maior em adolescentes que adultos”.

Causalidade: as hipóteses desse tipo estabelecem relações bem mais fortes entre duas variáveis, em
que uma variável estabelece com a outra uma relação de dependência, por exemplo, “a ausência da
figura paterna contribui para uma maior probabilidade de conduta antissocial”.
Além das hipóteses de pesquisa, temos as hipóteses nulas. Elas são os opostos das hipóteses de
pesquisa, pois as refutam. Retomando os exemplos anteriores, uma hipótese nula seria “a
expectativa de salário dos trabalhadores da empresa x varia entre 800 e 1.000 reais”. Ou ainda,
“não há relação entre autoestima e o medo de sucesso”.

Há ainda, as hipóteses alternativas e as hipóteses estatísticas. A primeira são as possibilidades de


respostas alternativas ao problema de pesquisa. Assim, poderíamos dizer, como no exemplo
anterior, que “a expectativa de salário dos trabalhadores da empresa x oscila entre 1.200 e 1.500
reais”. As hipóteses estatísticas, por sua vez, são exclusivas das pesquisas quantitativas e
representam as hipóteses (pesquisa, nula e alternativa) em símbolos estatísticos.

REFLITA
Além do valor das hipóteses para a obtenção de resultados, no que as hipóteses podem contribuir
para a pesquisa científica?
O que pode ser feito quando a hipótese básica é rejeitada?
Qual relação entre a pergunta de pesquisa e a elaboração da hipótese?

A CONDUÇÃO DA PESQUISA
Para que a pesquisa científica seja conduzida da forma correta, é necessário que o pesquisador
observe uma série de regras e princípios. De acordo com Academia Brasileira de Ciências (ABC,
2013), os princípios gerais que todo pesquisador deve seguir são: honestidade na apresentação e
descrição dos procedimentos da pesquisa; confiabilidade na execução e comunicação da pesquisa;
objetividade na coleta e no tratamento de informações; imparcialidade na execução da pesquisa;
cuidado na coleta, no armazenamento e no tratamento de dados; respeito pelos voluntários e
animais que participarem de testagens; veracidade na atribuição dos créditos aos outros; e, por
fim, responsabilidade com a formação e supervisão de novos cientistas.

Além disso, a ABC recomenda uma série de boas práticas que garantem a boa condução da
pesquisa. Em resumo, no que concerne ao planejamento da pesquisa, o pesquisador deve observar:
Os recursos e materiais necessários à execução do projeto.
A averiguação da capacidade científica do pesquisador em dar procedimento à pesquisa. A
documentação de dados e informações prévias relevantes para a pesquisa.
Reconhecimento dos possíveis conflitos de interesse que possam atrapalhar a pesquisa. A análise
sobre propriedade intelectual quando for pertinente à pesquisa.
No que concerne ao manuseio de dados, o pesquisador ou a equipe responsável deve: Registrar os
dados coletos de forma fidedigna.
Guardar os dados da melhor forma.
Arquivar os dados da pesquisa por prazo razoável.
Colocar os dados à disposição para que outros pesquisadores possam replicar o estudo. No que
concerne a execução do projeto, o pesquisador ou a equipe responsável devem:

Conduzir a pesquisa visando a prevenção de falhas e desperdício de recursos. Tratar todos os


objetos de pesquisa com respeito, incluindo artefatos culturais. Ter compromisso com a saúde dos
participantes da pesquisa.
Garantir a confiabilidade dos dados e resultados. Dar crédito aos financiadores dos seus projetos.
A integridade da pesquisa é um valor absoluto. Tais regras gerais valem para todo tipo de pesquisa,
embora haja regras mais pertinentes a algumas pesquisas que outras. Isso porque há, ao menos,
duas abordagens em pesquisa: as pesquisas qualitativas e as pesquisas quantitativas. As pesquisas
PENSAMENTO CIENTÍFICO 58
quantitativas se debruçam sobre dados que podem ser quantificados, usualmente recorre à
linguagem matemática, especialmente à estatística, a fim de mostrar as causas e relações de
determinado fenômeno. A pesquisa qualitativa, por sua vez, não se preocupa com a representação
matemática dos fenômenos e sim com a compreensão mais geral deles. Os seus objetos não são
quantificáveis, centrando-se na compreensão e explicação de dinâmicas sociais.

De acordo com as características de cada projeto de pesquisa, são escolhidas diferentes formas de
pesquisa, sendo que não há uma melhor que a outra, mas a que mais se adequa aos seus objetivos.
É possível, inclusive, aliar a pesquisa qualitativa com a quantitativa.

As pesquisas diferem-se também quanto a sua natureza: a pesquisa básica enfoca em construir
conhecimentos novos sem aplicação prática prevista, enquanto a pesquisa aplicada visa os
resultados práticos desse novo conhecimento, dessa maneira, como as pesquisas visam objetivos
diferentes, é possível classificá-las de maneira mais específica. De maneira geral, as pesquisas
exploratórias têm como objetivo tornar o problema mais explícito ou elaborar hipóteses, isso
envolve levantamento bibliográfico, entrevistas (pesquisa semiestruturada) e análise de exemplos
do problema. A pesquisa descritiva visa descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade,
sendo exemplos: estudos de caso, análise documental e pesquisa ex-post-facto. A pesquisa
explicativa visa determinar os fatores responsáveis pela ocorrência de determinados fenômenos.

Os procedimentos de pesquisa também variam. As pesquisas experimentais seguem um


planejamento extenso e rigoroso. Usualmente tais pesquisas definem o objeto, suas variáveis e a
elaboração de instrumentos para a coleta de dados, podendo ser desenvolvidas em laboratório ou
no campo. Já a pesquisa bibliográfica é feita a partir da obtenção de referências teóricas como
livros e artigo científicos, com o objetivo de recolher neles informações que ajudem a solucionar o
problema inicial. A pesquisa documental segue caminho semelhante, mas também pode recorrer a
fontes mais diversificadas como cartas, filmes, fotografias, pinturas, jornais etc.

Há ainda pesquisas de campo, etnográficas, de levantamentos (censos) e estudos de caso. Cada


pesquisa tem sua particularidade, mas em termos gerais, as pesquisas científicas seguem as
seguintes etapas: reconhecimento e formulação do problema, exploração do problema na
bibliografia ou coleta de dados exploratória, planejamento da pesquisa e elaboração da
problemática, elaboração de um modelo de análise (hipóteses), coleta de dados, análise dos dados
e comunicação dos resultados.

ACEITAÇÃO E REJEIÇÃO DE HIPÓTESES


Em algumas pesquisas, principalmente se correlacionais ou explicativas, se faz necessário a
elaboração de hipóteses, a fim de que possa se obter informações que ajudam a responder o
problema de pesquisa. Cada pesquisa é diferente, portanto, algumas podem ter mais de uma
hipótese analisada, principalmente quando o problema de pesquisa é complexo. Uma etapa central
da pesquisa é avaliar se a hipótese foi aceita ou rejeitada no confronto com os dados empíricos. À
rigor, um estudo não é capaz de aceitar ou rejeitar uma hipótese de maneira definitiva, o estudo
apenas indica evidências a favor ou contra. Lembre-se que na ciência não há certezas absolutas ou
indiscutíveis.

Há vários métodos para testar as hipóteses. Um deles é o Método Hipotético-Dedutivo, elaborado


pelo filósofo da ciência Karl Popper na obra Conjecturas e Refutações: o desenvolvimento do
conhecimento científico (2003). Segundo Popper, quando os conhecimentos acerca de
determinado tema são insuficientes, surgem os problemas. Visando explicar o problema, as
hipóteses são formuladas. São elas que ditam as consequências que terão de ser testadas ou
falseadas. A partir dessa etapa, procura-se evidências empíricas que contradizem a hipótese.
Quando não se consegue derrubá-la, então a hipótese é corroborada. Assim temos o esquema:
PROBLEMA – HIPÓTESE – PREVISÃO – TENTATIVA DE FALSEAR – CORROBORAÇÃO.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 59
Há também o método hipotético-indutivo quando se constrói as hipóteses a partir da observação
da experiência. Quando se tem alguma informação que dá à hipótese um certo nível de
probabilidade, é mais comum o uso do método hipotético-dedutivo. Todavia, na prática, os dois
métodos se articulam, pois os modelos elaborados na ciência geralmente atendem tanto um quanto
o outro.

Os resultados encontrados na tentativa de falsear a hipótese devem ser comparados com os


resultados esperados para que se possa tirar conclusões. Se houver divergência entre eles, é
necessário fazer uma análise que contemple saber: qual a causa dessa divergência, no que a
experiência é diferente do que se presumia na hipótese e, a partir de uma nova análise de dados
disponíveis, agora é possível elaborar novas hipóteses e examinar em que medida elas respondem
melhor o problema colocado. Nem sempre as hipóteses são aceitas nas pesquisas, mas isso não
significa que a pesquisa não tenha utilidade. O simples fato de eliminar uma das hipóteses, ainda
que provisoriamente, faz com que os cientistas fiquem mais próximos da resposta do problema de
suas pesquisas.

EXEMPLIFICANDO

Veja o exemplo prático de formulação hipótese em uma pesquisa sobre as cobras corais.
Observação 1: As cobras corais são coloridas.
Pergunta: Por que essa espécie tem esse tipo de coloração?

Hipótese básica: As cores fortes servem para afastar possíveis predadores.

Hipótese secundária ou alternativa: Na natureza, as cores fortes servem de camuflagem.

Previsão: se colocarmos cobras de borracha uma com cores e uma marrom em fundos brancos com
a presença de pássaros, os pássaros tentaram atacar a de borracha, em vez da colorida (H1), ou
atacaram as duas igualmente (H2).

Coleta de dados: Nos testes efetuados, os pássaros atacaram significativamente mais as cobras
marrons.

Interpretação dos resultados: A hipótese básica é mais provável e foi corroborada.

A elaboração de boas perguntas, a construção de hipóteses significativas e a testagem delas de


forma adequada são fundamentais em uma pesquisa quantitativa. Além disso, o pesquisador deve
estar sempre atento aos princípios e valores éticos tais como honestidade, respeito, imparcialidade,
responsabilidade, entre outros, a fim de garantir uma condução adequada da pesquisa. Uma boa
pesquisa, mesmo sem a corroboração de hipótese, colabora com o avanço da ciência.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1
A pesquisa científica exige uma série de regras e boas condutas para garantir a obtenção de bons
resultados. Sem o cumprimento dessas regras e práticas, teríamos uma menor confiabilidade dos
resultados científicos, um atraso no avanço da ciência e, por consequência, um desperdício de
recursos.
Segundo a Academia Brasileira de Ciências, qual dos princípios a seguir são esperados na
condução de uma pesquisa científica?

a. Subjetividade.
b. Responsabilidade.
c. Desonestidade.
d. Passividade.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 60
e. Cordialidade.

Questão 2
A pesquisa começa por uma pergunta. Essa pergunta pode surgir a partir de uma curiosidade,
dúvida, incerteza ou problema que o pesquisador identifica em uma determinada área de estudo.
Ela expressa a motivação do pesquisador para fazer uma investigação. Sem a capacidade humana
de fazer perguntas, o surgimento das ciências ficaria comprometido.
Qual acrônimo expressa as características que uma boa pergunta de pesquisa deve conter?
a. FIVER.
b. FOPER
c. FAER.
d. FERA.
e. FINER.
Questão 3
Depois da elaboração e exploração do problema de pesquisa, os pesquisadores desenvolvem as
hipóteses explicativas do fenômeno estudado. As hipóteses, quando elaboradas, devem seguir
certas características para garantir que sejam compatíveis com o método científico.
Segundo Lakatos e Marconi (1991), quais são as características que uma hipótese de pesquisa deve
possuir?

a. Consistência Lógica, Simplicidade, Destreza, Apoio Teórico, Especificidade, Plausibilidade,


Clareza, Profundidade, Verificabilidade e Cognoscibilidade.
b. Consistência Lógica, Complexidade, Significância, Apoio Teórico, Especificidade,
Plausibilidade, Clareza, Profundidade, Verificabilidade e Eticidade.
c. Consistência Lógica, Simplicidade, Relevância, Apoio Teórico, Especificidade,
Plausibilidade, Clareza, Profundidade, Fertilidade e Originalidade.
d. Consistência Lógica, Complexidade, Relevância, Apoio Teórico, Especificidade,
Marcabilidade, Clareza, Profundidade, Fertilidade e Eticidade.
e. Consistência Lógica, Simplicidade, Significância, Apoio Teórico, Especificidade,
Plausibilidade, Clareza, Profundidade, Verificabilidade e Cognoscibilidade.

REFERÊNCIAS

ABC. Rigor e integridade na condução da pesquisa científica. 2013.


HULLEY, S. B. et al. Delineando a pesquisa clínica. 4 ed. Artmed Editora, 2015.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1991.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


QUAL É SUA PERGUNTA E COMO RESPONDÊ-LA?

SEM MEDO DE ERRAR


Um dos procedimentos possíveis a serem feitos pelo pesquisador são:

Pesquisa semiestruturada: realizar uma pesquisa com os novos clientes a fim de entenderem a
motivação da compra do produto e o meio publicitário no qual elas encontraram o produto.
Pesquisa exploratória: verificar se há outros fatores atualmente relevantes que poderiam causar
esse aumento como: surtos de doenças altamente transmissíveis pelo contato, grandes eventos
previstos para o mês de fevereiro, etc.
Na pesquisa com os novos clientes, a amostra indicou que 30% deles compraram o produto por
preocupação com a saúde; 50% pelos benefícios do produto em relação aos concorrentes e os
outros 20% por motivos diversos. Além disso, na pesquisa exploratória, foram rejeitadas as
hipóteses de surto por doenças ou de grandes eventos.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 61
O pesquisador, analisando os dados, observou que há mais evidências a favor dos efeitos positivos
da pesquisa publicitária do que de efeitos externos, apontando então que poderia existir de fato
uma correlação entre o investimento em publicidade.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
AVALIANDO A BOA CONDUÇÃO DA PESQUISA
Você é o supervisor do departamento científico nessa empresa química. Após a realização do teste
de hipóteses, a fim de verificar o efeito positivo nas vendas do álcool em gel, você recebeu o
relatório da pesquisa e deve fazer uma análise sobre a condução da pesquisa.

Você observa que o pesquisador responsável não considerou a sazonalidade de compras do álcool
em gel como fator externo a ser descartado na hipótese alternativa. Além disso, o pesquisador
cometeu diversas falhas éticas como plágio e manipulação de dados na elaboração da pesquisa.

Dada a situação apresentada, qual seria a recomendação do supervisor ao pesquisador responsável


pelo experimento?

RESOLUÇÃO
O supervisor recomendou ao pesquisador responsável que refizesse desde o início sua pesquisa,
pois o resultado poderia ser totalmente diferente do que o que foi constatado. Além disso, o
supervisor orientou sobre as falhas éticas graves cometidas pelo pesquisador na condução do
experimento, como plágio e manipulação de dados dos entrevistados. O supervisor proibiu que o
estudo fosse publicado até a sua correção completa.

UNIDADE 03 SEÇÃO 2

COMO COLETAR DADOS E ANÁLISÁ-LOS?

PRATICAR PARA APRENDER


Caro estudante,

Você já deve ter percebido como o conhecimento científico é cercado de prestígio e autoridade. Até
os dias de hoje, há uma crença de que a ciência é, de algum modo, superior aos outros
conhecimentos. Produtos e técnicas produzidos por pesquisa científicas são quase imediatamente
aceitos pela sociedade. Na verdade, o selo “comprovado cientificamente” é um fator relevante para
muitas pessoas na hora de decidir comprar ou não determinado produto.
Além disso, diversos conhecimentos procuram se passar por científicos buscando, de alguma
forma, alcançar sua credibilidade. Esse prestígio da ciência deve muito aos seus resultados práticos
nos diversos segmentos da sociedade. Tais resultados, considerados confiáveis e bem-sucedidos, só
foram alcançados por meio de um método especial que, quando seguido rigorosamente, produz
conhecimento confiável e verdadeiro. Assim, o método científico tem uma série de regras e
procedimentos a serem conduzidos e que não podem ser negligenciados. Uma das etapas mais
importantes, o núcleo da confiabilidade científica, é a etapa de análise e coleta de dados. Convido-
lhe ao estudo das fontes, técnicas e formas de coletar e analisar dados brutos ou secundários, tão
essenciais à integridade da pesquisa.

Em uma indústria química, o departamento de marketing quer verificar o efeito da propaganda na


venda de álcool em gel. Com as informações dos faturamentos anteriores desse produto, a empresa
começa a fazer grandes campanhas publicitárias e o faturamento desse produto no mês seguinte,
fevereiro, é significativamente maior. O departamento de marketing imediatamente comemora os
resultados e supõe que a propaganda provocou um efeito positivo nas vendas do produto. Para
comprovar essa hipótese, a empresa financia uma pesquisa científica.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 62
Na etapa de coleta de dados, o pesquisador responsável define “estado civil” como uma das
variáveis do estudo. Isto é, na amostra de 1.050 pessoas entrevistadas, 1.000 disseram ser
solteiras. A atribuição de “estado civil” como variável nesta etapa a pesquisa está correta?
Justifique.

“O conhecimento científico é independente dos conhecimentos da fé que são imutáveis, a fé nos faz
dizer creio, e a ciência, sei” Blaise Pascal

CONCEITO-CHAVE
COMO COLETAR DADOS: FONTE DE DADOS
A pesquisa científica geralmente tem pelo menos cinco fases: a elaboração e exploração do
problema, o estabelecimento de um modelo de análise (hipóteses), a verificação e coleta de dados,
a análise de dados e os resultados. A coleta de dados é uma etapa essencial a qualquer pesquisa
científica, todavia, os métodos e procedimentos de coleta serão diferentes para cada tipo de
pesquisa. Por exemplo, temos ao menos dois tipos gerais de pesquisa: a pesquisa experimental, que
envolve a coleta de dados em campo ou laboratório, podendo ser tanto qualitativa quanto
quantitativa, e a pesquisa bibliográfica, que envolve a procura na literatura existente de uma
resposta para o problema tratado. Ela também é essencial para a fundamentação teórica de
qualquer pesquisa.

Como se pode observar, ambas abordagens são complementares e geralmente trabalham juntas.
Na pesquisa experimental, as fontes dos dados mais comuns são: experimentos laboratoriais,
estudos de campo, entrevistas, estudos de caso, observações empíricas, experimentos
computacionais, etc. Na pesquisa bibliográfica, as fontes são documentos, registros, atas, cartas,
livros, teses, artigos científicos, relatórios, periódicos técnicos, estudos gerais, metanálises, bancos
de dados digitais etc. Cada fonte exige um tratamento específico da informação.

Há pesquisas que contam com fontes secundárias e fontes primárias de informação. As fontes
secundárias são geralmente dados que já foram coletados por outros estudos e estão disponíveis
por meio de alguma listagem de informação. As fontes primárias seriam os dados brutos a serem
coletados na pesquisa, como os dados obtidos de um questionário elaborado pelo pesquisador.

Na pesquisa quantitativa, com relação a suas fontes primárias, em geral elas podem vir da
observação ou da utilização de instrumentos como levantamentos ou survey, que são formas de
descobrir o que existe e como existe no ambiente social analisado; em geral, são descritivos e visam
determinar as características, opiniões de populações, a partir de amostragens representativas.
Têm como vantagem a aplicação simples, fácil decodificação e análise dos dados. Como
desvantagem, há o problema de confiabilidade, pois uma vez que se faz perguntas às pessoas, elas
podem se recusar a prestar informações verídicas, por isso é necessário muito cuidado na análise
dos dados coletados.

Devido ao grande volume de informações disponíveis nas pesquisas bibliográficas, que ocorrem
tanto para fundamentar teoricamente a pesquisa quanto para dar respostas ao problema tratado,
deve-se ter muito cuidado com a confiabilidade e autenticidade das informações coletadas. Em
geral, as fontes de pesquisa e bancos de dados são a base para verificar o que já existe publicado e o
que está em pauta na comunidade científica. Ao longo do tempo, muitas teorias foram consagradas
e conhecê-las é tarefa indispensável de um pesquisador iniciante.

Procurar conhecer fontes seguras sobre o assunto tratado é fundamental. As informações servem à
tomada de decisão nas pesquisas. Dessa maneira, o pesquisador precisa ter a capacidade de saber
filtrar, verificar consistência, validade e pertinência das informações que encontra. Com
informações mais consistentes, chegamos a decisões mais corretas e, por consequência, a
resultados melhores.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 63
Na pesquisa bibliográfica, recomenda-se o fichamento de artigos, teses ou demais materiais. São
perguntas essenciais a serem feitas quando se ficha o artigo: como se procedeu a pesquisa? Quais
foram os caminhos para alcançar o objetivo proposto? Qual foi o tipo de pesquisa? Como foi
utilizada a amostragem? Quais instrumentos utilizados para a coleta de dados? Quais foram os
resultados? (BARLETA et al., 2018, p. 8).

A maioria das bases de dados confiáveis estão vinculadas ao trabalho realizado em universidades.
Essas são algumas bases de dados de acesso gratuito: BV – Biblioteca Virtual, Periódicos CAPES,
SIB, Livres, BDTD, Biblioteca digital de Produção Intelectual, Portal de Livros Abertos USP,
SciELO, ERIC, Educ@, WebQualis, Dedalus, Biblioteca digital de teses, entre outros. Há também
fontes seguras para a pesquisa bibliográfica que são pagas ou por convênio, algumas delas: Scopus,
Web of Science, JSTOR, LISA, Academic Search Premier, Project Muse, ANPAD, entre outras.
Outras fontes de busca possíveis: Google Scholar, Books, Open Library, Bioline International, Arca,
Directory of Open Acess Journal, SpringerLink, Scirus, Inomics, BPubs, EconLit, American History
Online, Ethnologue, Political Information, WikiArt, WorldWideScience, MathGuide, Academic
Index, Lexis, entre outros.

ASSIMILE
Há dois tipos gerais de pesquisa: experimental e bibliográfica. A pesquisa experimental envolve a
coleta de dados brutos, sendo possível mesclar com a bibliográfica. A pesquisa bibliográfica
envolve a coleta de dados produzidos anteriormente por outros estudos.
As fontes de pesquisa devem ser confiáveis. É necessário checar a consistência lógica, validade e
pertinência das informações antes de adotá-las.
Na pesquisa bibliográfica, recomenda-se o fichamento dos artigos, teses, livros, estruturando e
elencando os objetivos, a metodologia e os resultados do estudo analisado.

TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS


Há diversas técnicas de coletas de dados. Cada pesquisa utilizará uma técnica que esteja mais
adequada aos seus objetivos. Nas pesquisas quantitativas, as fontes dos dados podem vir da
observação, levantamentos ou survey. Comecemos pela observação, que pode ser classificada em
seis tipos:

Estruturada: em que é especificado o que deve ser observado e como deve ser sua coleta. Não
estruturada: o problema ainda não foi formulado, apenas se orienta a observação.
Natural: no ambiente em que a situação ocorre. Planejada: em um ambiente artificial.
Disfarçada: entrevistados não sabem que estão sob observação. Não disfarçada: entrevistados
sabem que estão sob observação.
A observação é muito importante na pesquisa científica e, em relação a outros métodos, ela traz a
vantagem de que os dados são apreendidos diretamente, sem intermediação. Contudo, uma
possível desvantagem é que o próprio pesquisador pode provocar alterações nos fenômenos
observados, podendo dar uma interpretação deslocada do objeto, produzindo resultados pouco
confiáveis. Por essa razão, o pesquisador observador deve estar atento para não contaminar sua
observação com suas crenças, pensamentos e opiniões.

Os levantamentos, por sua vez, examinam amostras de uma população ou grupo por meio de
documentos, questionários, entrevistas e formulários. A entrevista é a técnica em que o
pesquisador formula perguntas ao sujeito observado. As questões devem ser elaboradas pensando
nas mais relevantes ao estudo, além de estarem baseadas em uma bibliografia atualizada do
assunto. Todos os dados coletados devem ser verificados em termos da sua credibilidade.

Como vantagem, a entrevista: é eficiente na obtenção de dados com profundidade, os dados são
suscetíveis à classificação e quantificação, permite a avaliação de informações não previstas
anteriormente, etc. As desvantagens seriam: fornecimento de respostas inverídicas, influência
exercida pelo entrevistador no entrevistado, etc. A entrevista ainda pode ser classificada como
PENSAMENTO CIENTÍFICO 64
sendo: estruturada (roteiro previamente estabelecido), não estruturada (sem direcionamento do
processo pelo pesquisador) e semiestruturada (roteiro básico flexível).

O questionário é uma série de perguntas que devem ser respondidas pelo público pertinente à
pesquisa. Ele deve ser objetivo e com uma extensão limitada, estando acompanhado de instruções
que esclareçam o propósito e facilite o preenchimento pelo público-alvo. As vantagens dos
questionários são: menor curso, anonimato das respostas, menor influência dos entrevistadores,
etc. As desvantagens podem ser: baixo índice de retorno, limitado a quem saiba ler e escrever, etc.
É preciso que o número de questões não seja extenso. Os tipos de questões podem ser classificados
em abertas (em que o informante pode responder livremente), fechadas (escolha entre duas opções
disponíveis de resposta) e múltipla escolha (dispõe uma série de respostas possíveis).

Os formulários, por sua vez, são coleção de questões anotadas pelo entrevistador na presença do
público-alvo que pode ser configurado como um meio termo entre entrevista e questionário.

Suas vantagens são: a presença do pesquisador. que pode elucidar os objetivos da pesquisa, e ser
amplamente utilizado e flexível. Como desvantagens possíveis do formulário temos: menor
liberdade de respostas dada a presença do pesquisador, tempo de resposta mais demorado e risco
de distorções pela presença do pesquisador entrevistador.

Na elaboração do projeto e no planejamento de pesquisa, caberá ao pesquisador indicar qual


método de coleta de dados mais se adequa a sua pesquisa e aos seus objetivos. Também é possível
que o pesquisador insira outros métodos quando os dados obtidos não parecerem atender
suficientemente à demanda da pesquisa.

REFLITA
Em sua opinião, como o pesquisador pode fazer para diminuir as chances de interferência da sua
própria subjetividade no objeto observado?

METODOLOGIAS E PROCEDIMENTOS
As metodologias e os procedimentos em pesquisa devem responder as perguntas “como” e “onde”,
porque são elas que ditam o trajeto a ser seguido para o alcance dos objetos de pesquisa. Assim, o
primeiro passo para coleta de dados é determinar qual o método de análise adequado à pesquisa.
Além disso, deve-se determinar qual a natureza da pesquisa: qualitativa ou quantitativa.

Deve estar claro o tipo de pesquisa que será trabalhada: bibliográfica, documental ou de campo. A
pesquisa bibliográfica é obtida a partir de material já existente presente em teses, livros e artigos. A
pesquisa documental é similar, a diferença é a natureza das fontes, pois as informações dos
documentos não necessariamente foram anteriormente tratadas e analisadas. Já a pesquisa de
campo consiste na produção dos dados no ambiente observado.

Também é preciso indicar as modalidades da pesquisa, isto é, o papel do pesquisador e dos


participantes na pesquisa.

Pesquisa participante: trata-se do envolvimento do pesquisador com o objeto observado, o


pesquisador interage com os participantes em todas as situações acompanhando-os bem de perto.
Pesquisa ação: o pesquisador não só acompanha o ambiente, como também intervém para
modificá-lo. Existe um objetivo de alterar a situação dos participantes.
Estudo de caso: o pesquisador traça um estudo profundo sobre um objeto particular que pode ser
representativo dos demais.
História oral: os participantes são protagonistas nos registros dos fatos; é um método que se utiliza
de entrevistas e retratos autobiográficos.
Vale lembrar que tais métodos não são excludentes entre si, eles podem ser utilizados em conjunto
na pesquisa. Os pesquisadores devem ter ciência do tipo de universo e amostragem da pesquisa,
PENSAMENTO CIENTÍFICO 65
bem como das técnicas que podem ser utilizadas, como observação, questionários, formulários,
entrevistas.

O universo trata do conjunto da população a ser estudada e a amostragem é a base lógica do estudo
que serve de referencial do todo. A amostragem para ser representativa precisa oferecer a melhor
descrição da população. Ela é exclusiva da pesquisa quantitativa, na qual temos: amostragem
probabilísticas e não probabilísticas. A primeira busca uma maior imparcialidade, pode ser
aleatória, sistemática, estratificada ou de conglomerados. É o único método que permite a
representação do todo. A segunda consiste em uma escolha dos elementos que irão compor a
amostra, embora exija uma análise imparcial, podendo ser dos tipos: conveniência, intencional ou
cotas.

A coleta de dados também pode ser classificada em termos de contínuas, periódicas ou ocasionais.
A primeira ocorre quando as informações dos eventos que acontecem são coletadas à medida que
eles ocorrem. A segunda acontece em ciclos, como os levantamentos (censos). Por fim, a terceira
ocorre sem preocupação de continuidade ou periodicidade. Nas pesquisas em que são realizadas
coletas de dados contínuas ou periódicas, o objetivo é a enumeração total. A estatística participa
desse processo dando organização e delineamento aos dados a fim de permitir inferências a partir
das informações coletadas.

ANÁLISE DE DADOS
Depois de feita a coleta, os dados estão desorganizados e pouco claros, então, a primeira coisa a
fazer é tratá-los. A apresentação dos dados pode se dar por meio de tabelas, quadros e gráficos que
permitam ao pesquisador fazer inferências e chegar a conclusões. Para a elaboração desses, há
inúmeros recursos digitais que auxiliam a apresentação dos dados, como o Excel.

As tabelas são formas não discursivas, representadas por números e códigos, dispostos em ordem,
segundo as variáveis analisadas do fenômeno. As tabelas, preferencialmente, devem ser completas
para que dispense a consulta ao texto, contenha os dados necessários, tenha uma estrutura
simples, objetiva e certa consistência lógica.

Os quadros podem ser entendidos como arranjos de palavras dispostas em colunas e linhas, com
ou sem números. Eles possuem um teor esquemático e descritivo, não estatístico como as tabelas,
mas suas formas de apresentação são bastante semelhantes.

Por sua vez, os gráficos representam a forma dinâmica dos dados, sendo mais eficientes na
visualização de tendências. Não se deve utilizar tabela e gráfico para uma mesma informação.

O gráfico pode ser particularmente útil para traduzir dados de difícil compreensão em uma
linguagem simples.

As escalas dividem-se em duas: nominais e de ordem. As nominais consistem na atribuição de


nomes a eventos ou objetos: gênero, local de nascimento. As ordinais são atribuição de ordem,
hierarquia a dados qualitativos como: classe social (A, B, C), estado geral do paciente (ruim,
regular, bom).

Na análise de dados, também é importante o procedimento de operacionalização dos dados, que


consiste em transformar os dados em variáveis para que depois sejam expressos em tabelas,
gráficos e quadros.

Uma variável é simplesmente alguma coisa que muda, ou seja, as variáveis devem assumir valores
diferentes ou categorias diferentes. Exemplo, as variáveis de valor podem ser as idades: 17, 18, 20,
32, 45. As variáveis de categoria podem ser os gêneros: feminino, masculino, não binário etc.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 66
As variáveis são muito importantes porque, através delas, observamos as variações dos fenômenos
analisados na pesquisa. Elas podem ser de dois tipos: qualitativas e quantitativas. As variáveis
qualitativas são os dados de atributos ou qualidades, por exemplo, sobre o assunto que você mais
lê: Literatura. Já as variáveis quantitativas são números em certa escala, por exemplo, quantos
livros você lê ao ano: 12.

As variáveis também se dividem por tipos:

Independentes: são explicativas das variáveis dependentes, consistem em fatores determinantes,


causas, de certo resultado. Exemplo: testagem da temperatura como fator modificador da taxa de
crescimento de determinado organismo. A variável independente é a temperatura, enquanto a
dependente é a taxa de crescimento.
Dependentes: são afetadas pelas variáveis independentes, constituem o resultado ou a resposta de
algo que foi estimulado.
Moderadoras: também pode ser condição, causa, estímulo, contudo, são menos importantes que as
independentes. Por exemplo, o desempenho do aluno pode variar dependendo do número de horas
de estudo (variável independente) e da iluminação do ambiente (variável moderada).
Intervenientes: são as variáveis que estão entre as independentes e dependentes. Elas afetam o
fenômeno observado, mas não podem ser mensuradas devido ao seu caráter puramente hipotético.
Exemplo: menor nº de dias trabalhados -> satisfação no trabalho -> produtividade. De controle: as
variáveis de controle são neutralizadas ou anuladas de propósito para não interferirem na análise
da relação entre variável independente e dependente. Por exemplo, sexo e idade. A hipótese
colocada: as variáveis “sexo” e “idade” influenciam a relação entre asma e alergia. Assim, o
pesquisador saberá que variações próximas dessas hipóteses não são significativas, porque a
hipótese não é verdadeira.
As variáveis também expressam relações: lineares, curvilíneas ou exponenciais. Isso significa
analisar se, por exemplo, caso X mude, há mudanças em Y? Caso aumente Y, X também aumenta?
Se Y diminui, X aumenta? etc.

EXEMPLIFICANDO
Na realização de pesquisas com questionários, cada questão se torna uma variável. Cada variável
deve ser codificada em uma coluna de uma planilha e cada questionário ocupa uma linha da
planilha.
Você deve ter notado que os procedimentos metodológicos podem variar de acordo com o escopo,
o objetivo e a natureza da pesquisa. Por essa razão, o planejamento deve ser feito levando em conta
as características do objeto de estudo, dos objetivos da pesquisa e do problema que se propõe
resolver.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1
A circulação de notícias falsas tem levado a um crescente ceticismo quanto à veracidade e
confiabilidade das informações disponíveis na internet. Todavia, atualmente, a internet é um lugar
imprescindível para a divulgação da pesquisa científica. Dessa maneira, sabendo filtrar, é possível
chegar a informações certas e seguras.
Quando se pesquisa na internet, qual é o procedimento que deve ser realizado acerca das
informações?

a. É necessário checar a inteligibilidade, a validade e relevância das informações, antes de


adotá-las.
b. É necessário checar a gramática, invalidade e utilidade das informações, antes de adotá-las.
c. É necessário checar a consistência, invalidade e relevância das informações, antes de adotá-
las.
d. É necessário checar a consistência lógica, validade e pertinência das informações, antes de
adotá-las.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 67
e. É necessário checar a inteligibilidade, validade e utilidade das informações, antes de adotá-
las.

Questão 2
A entrevista é uma técnica de coleta de dados em que o pesquisador tem um contato direto com a
pessoa ou grupo observado a fim de coletar suas impressões acerca de um assunto. Esse método
não dispensa um planejamento adequado de seus objetivos, desenvolvimento e aplicação. Caso
contrário, a entrevista pode não gerar dados confiáveis
Assinale a alternativa que completa correta e respectivamente:
As da entrevista devem ser elaboradas pensando nas mais ao estudo e devem estar
baseadas em uma do assunto.
Todos os dados coletados devem ser em termos da sua .

a. teorias, irrelevantes, bibliografia atualizada, clonados, plausabilidade.


b. hipóteses, relevantes, bibliografia desatualizada, verificados, credibilidade.
c. questões, irrelevantes, bibliografia atualizada, apagados, razoabilidade.
d. teorias, relevantes, bibliografia desatualizada, direcionados, confiabilidade.
e. questões, relevantes, bibliografia atualizada, verificados, credibilidade.

Questão 3
Na pesquisa quantitativa, após a coleta dos dados brutos, é necessário organizá-los em termos de
variáveis ou constantes e em termos de apresentação que podem ser por gráficos, quadros

e tabelas. Esse procedimento garante que as informações estejam claras e organizadas para a
visualização das causas, efeitos e tendências do fenômeno observado.
Em relação às variáveis dependentes e independentes, assinale a alternativa correta:

a. A primeira é explicada pela segunda, a segunda é determinante da primeira.


b. A primeira é determinante pela segunda, a segunda é explicada pela primeira.
c. A primeira é causada pela segunda, a segunda é determinante da primeira.
d. A primeira é explicada pela segunda, a segunda é causada pela primeira.
e. A primeira é causada pela segunda, a segunda é explicada pela primeira.

REFERÊNCIAS
DA SILVA, D.; LOPES, E. L.; JUNIOR, S. S. B. Pesquisa quantitativa: elementos, paradigmas e definições.
Revista de Gestão e Secretariado, v. 5, n. 1, p. 01-18, 2014.

BARLETA, M. et al. Fontes de pesquisa e bases de dados especializadas, PUC, 2018.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1991.

SEVERINO, A. Metodologia do Trabalho Científico. Cortez, 2002.

QUAL É SUA PERGUNTA E COMO RESPONDÊ-LA?

SEM MEDO DE ERRAR


Um dos procedimentos possíveis a serem feitos pelo pesquisador são:

Pesquisa semiestruturada: realizar uma pesquisa com os novos clientes a fim de entenderem a
motivação da compra do produto e o meio publicitário no qual elas encontraram o produto.
Pesquisa exploratória: verificar se há outros fatores atualmente relevantes que poderiam causar
esse aumento como: surtos de doenças altamente transmissíveis pelo contato, grandes eventos
previstos para o mês de fevereiro, etc.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 68
Na pesquisa com os novos clientes, a amostra indicou que 30% deles compraram o produto por
preocupação com a saúde; 50% pelos benefícios do produto em relação aos concorrentes e os
outros 20% por motivos diversos. Além disso, na pesquisa exploratória, foram rejeitadas as
hipóteses de surto por doenças ou de grandes eventos.

O pesquisador, analisando os dados, observou que há mais evidências a favor dos efeitos positivos
da pesquisa publicitária do que de efeitos externos, apontando então que poderia existir de fato
uma correlação entre o investimento em publicidade.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
AVALIANDO A BOA CONDUÇÃO DA PESQUISA
Você é o supervisor do departamento científico nessa empresa química. Após a realização do teste
de hipóteses, a fim de verificar o efeito positivo nas vendas do álcool em gel, você recebeu o
relatório da pesquisa e deve fazer uma análise sobre a condução da pesquisa.

Você observa que o pesquisador responsável não considerou a sazonalidade de compras do álcool
em gel como fator externo a ser descartado na hipótese alternativa. Além disso, o pesquisador
cometeu diversas falhas éticas como plágio e manipulação de dados na elaboração da pesquisa.

Dada a situação apresentada, qual seria a recomendação do supervisor ao pesquisador responsável


pelo experimento?

RESOLUÇÃO
O supervisor recomendou ao pesquisador responsável que refizesse desde o início sua pesquisa,
pois o resultado poderia ser totalmente diferente do que o que foi constatado. Além disso, o
supervisor orientou sobre as falhas éticas graves cometidas pelo pesquisador na condução do
experimento, como plágio e manipulação de dados dos entrevistados. O supervisor proibiu que o
estudo fosse publicado até a sua correção completa.

UNIDADE 03 SEÇÃO 3

ESCREVER E PUBLICAR: COMO LEVAR A CIÊNCIA PARA AS PESSOAS?

PRATICAR PARA APRENDER


Caro estudante,
Atualmente, a informação científica é um recurso valioso para o desenvolvimento da sociedade em
seus diversos setores: acadêmico, industrial, governamental, empresarial, etc. Esse tipo de
informação é gerido por uma grande indústria de editores de revistas e livros a nível mundial.
Conhecer o contexto de transformação desse processo, os meios de publicação científica, a
estrutura e os formatos dos textos científicos são fundamentais para que se possa produzir ciência.
Também é necessário conhecer as tecnologias que trouxeram muitas ferramentas positivas para o
desenvolvimento das pesquisas científicas e comunicação dos resultados. Há ferramentas digitais
que auxiliam na pesquisa de fontes bibliográficas, na análise de dados, na revisão de textos e no
gerenciamento das referências bibliográficas.

Convido-lhe a refletir sobre a dimensão da produção de conhecimento científico e tecnológico em


nossos tempos.

Em uma indústria química, o departamento de marketing quer verificar o efeito da propaganda na


venda de álcool em gel. Com as informações dos faturamentos anteriores desse produto, a empresa
começa a fazer grandes campanhas publicitárias e o faturamento desse produto no mês seguinte,
fevereiro, é significativamente maior. O departamento de marketing imediatamente comemora os
resultados e supõe que a propaganda provocou um efeito positivo nas vendas do produto. Para
comprovar essa hipótese, a empresa financia uma pesquisa científica.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 69
Após a conclusão da pesquisa, o pesquisador inicia o processo de publicação dos resultados. Para
isso, ele resolve fazer uma busca nas revistas científicas mais relevantes disponíveis na internet
sobre a temática do estudo. Qual o principal critério que o pesquisador deve observar na hora de
escolher uma revista a fim de alcançar esse objetivo?

“A nossa geração tem que escolher o que ela valoriza mais: lucros de curto prazo ou habitabilidade
de longo prazo no nosso lar planetário?” Carl Sagan

CONCEITO-CHAVE
FORMATOS E NORMAS DE PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA
A publicação científica ocorre quando os pesquisadores buscam tornar acessíveis a outros os
resultados de suas investigações. A divulgação dos resultados da investigação pode ser expressada
por diversas formas de publicação. A publicação científica faz parte de um ramo mais amplo
denominado de Comunicação Científica, que envolve diferentes formas de comunicação dos
resultados (formais, informais, escritas, verbais) e que, por sua vez, se insere no contexto mais
amplo da Investigação Científica. A preocupação com a difusão do conhecimento existiu quase
sempre, no entanto, ao longo do tempo ocorreram transformações na sociedade que afetaram a
comunicação científica. São exemplos:

O surgimento das tecnologias de informação afetou enormemente os sistemas de produção e


divulgação da ciência. Como exemplo, temos a migração do papel para os meios digitais.
O crescimento do número de revistas científicas e também o aumento na formação de
pesquisadores.
A parte editorial da publicação científica deixou de ser acadêmica e passou a ser comercial. A
comunicação científica acaba envolvendo diversos atores da sociedade como acadêmicos
(responsáveis pela investigação), universidades (instituições que possuem os recursos e ambiente
necessário para a investigação), financiadores (órgãos do governo ou agências que
financiam bolsas e materiais da pesquisa), editores (gerem o controle de qualidade, produção e
distribuição do conhecimento), bibliotecários (fazem a gestão da informação e sua preservação) e a
população geral (todos nós que somos indiretamente e diretamente beneficiados com a pesquisa).

Os formatos mais comuns de publicação são: artigo científico, artigo de revisão, comunicações,
cartas ao editor, working papers. O artigo científico é o formato mais comum, em geral, eles
comunicam os resultados da pesquisa científica. Sua estrutura é normalizada, isto é, segue uma
série de padrões e regras. Os artigos são estruturados em: Introdução, Método, Resultados e
Discussão. Esse tipo de artigo passa por um processo chamado de Peer-Review ou revisão por
pares (especialistas na área) antes de ser publicado.

O artigo de revisão traça uma avaliação crítica sobre diversos artigos com o assunto de interesse da
pesquisa, apresentando uma visão comparativa entre eles. São bons para ter uma visão geral do
assunto. Metanálises ou revisões sistemáticas fazem parte desse nicho e também passam por Peer-
Review.

As comunicações são apresentações resumidas da pesquisa a fim de divulgá-las, que compõem


uma síntese geral da pesquisa e podem ser feitas enquanto a pesquisa está em desenvolvimento.
Em geral, tais comunicações, apesar de passarem por Peer-Review, são publicadas em um curto
espaço de tempo. Essa é uma de suas vantagens.

As cartas ao editor são expressões de opinião sobre um artigo publicado na revista que constitui
um tema em discussão na comunidade científica. Esse formato não apresenta resultados, apenas
opiniões do autor. Não passa por Peer-Review.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 70
Working papers são artigos em fase de elaboração disponíveis, normalmente, em programas de
pós-graduação das universidades. Costuma conter informações bastante atualizadas sobre diversos
temas.

Independente do tipo de publicação que o pesquisador irá escolher, recomenda-se que o autor
consulte a seção “Diretrizes para publicação” da revista que ele está interessado em publicar. Isso
porque os artigos científicos têm uma estrutura bastante definida e padronizada. O autor precisa
adequar sua pesquisa ao tipo de normalização que a revista em questão adota.

A normalização refere-se ao processo de aplicação de normas previstas para a publicação científica.


Ela fixa regras para o tratamento das publicações referenciadas no trabalho científico, isto é, elas
padronizam e uniformizam as referências bibliográficas da pesquisa. Esse processo traz vantagens
como:
Garante a veracidade e segurança das informações. Protege os direitos autorais dos estudos
citados.
Facilita a comunicação das informações, sejam elas primárias ou secundárias. Evita duplicidade de
fontes.
As regras da normalização técnica são feitas por órgãos especializados. No Brasil, a normalização
se dá pela entidade privada e sem fins lucrativos ABNT – Associação Brasileira de Normas
Técnicas, fundada em 1940. Cada país tem seu órgão responsável pela padronização de
informações. Nos Estados Unidos, por exemplo, é a APA - American Psychological Association.

Atualmente, a norma brasileira de padronização de Referências Bibliográficas é a NBR


6023/agosto 2002. Ela fixa as condições a serem seguidas na padronização das referências de um
trabalho. Tais normas podem ser acessadas através de manuais simplificados que faculdades e
universidades, em geral, disponibilizam na internet, a fim de orientar estudantes, docentes e
pesquisadores.

ASSIMILE
A normalização acadêmica consiste no processo de organização dos conteúdos da pesquisa visando
a prevenção de problemas, cooperação entre os pares e economicidade. Elas existem para facilitar e
organizar o acesso ao conteúdo científico produzido. Possui, ao menos, quatro vantagens: garante a
veracidade e segurança das informações, protege os direitos autorais, facilita a comunicação das
informações e evita a duplicidade de fontes.

FERRAMENTAS DIGITAIS
Um dos maiores desafios em uma pesquisa científica é capturar, organizar, consultar e utilizar as
informações obtidas durante todo o processo da pesquisa. Atualmente, há inúmeras ferramentas
digitais que auxiliam na organização das informações e referências bibliográficas, como Mendeley,
Zotero, Endnote e fastformat.co.

O Mendeley, fundado em 2008, é um gerenciador de referências bibliográficas e também uma rede


social. Por meio dele é possível organizar as bibliografias automaticamente, colaborar com outros
pesquisadores, importar com facilidade artigos, encontrar informações relevantes no artigo que
está lendo, além de acessar e ler seus e outros artigos de qualquer lugar. Com esse software é
possível gerar estatísticas de número de artigos, regiões geográficas e identificação de leitores por
área do conhecimento, entre outros recursos.

O Zotero, fundado em 2006, também é um gerenciador de bibliografia, em que é possível registrar


dados bibliográficos de livros, artigos, páginas web, etc. Um dos seus diferenciais é o fato de ser
gratuito e de Código Aberto. Com esse software é possível gerar citações e referências de acordo
com as normalizações, como ABNT, APA, Chicago, etc.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 71
O EndNote, fundado em 1988, também é um gerenciador de referências bibliográficas. Ele dispõe
de recursos que permitem a busca, o armazenamento e a organização das referências recolhidas
em bases de dados credenciadas. O software é integrado a diversas bases de dados confiáveis.
Enquanto o Mendeley e o Zotero são gratuitos, o EndNote é pago.

O fastformat.co, por sua vez, é uma ferramenta gratuita de formatação de texto que deixa suas
informações totalmente de acordo com as regras ABNT, entre outras. A ferramenta formata todo o
texto da forma correta, com caixas para que você escreva dentro, permitindo visualizar o arquivo
durante esse processo. É muito útil, principalmente, para dissertações, teses e monografias.

REFLITA
Como os conflitos de interesse econômicos na ciência podem afetar os princípios e valores que
regem a pesquisa científica como objetividade, positividade, racionalidade e explicabilidade?

PUBLICAÇÃO DOS RESULTADOS: ACESSO ABERTO E ACESSO PAGO


Antigamente, os principais financiadores das pesquisas científicas eram pessoas ricas que
utilizavam seus recursos para apoiar o avanço da ciência. Com o passar do tempo, a ciência foi
aumentando em importância na sociedade e os investimentos no avanço científico foram
institucionalizados, tornando-se um foco de questões políticas, sociais e empresariais. A motivação
para tal é que a ciência se tornou um diferencial competitivo na sociedade capitalista. Atualmente,
os países com as maiores economias do mundo investem milhões de dólares em ciência e
tecnologia.

As inovações são dadas pela ciência e ter acesso à informação científica é crucial no
desenvolvimento de novos conhecimentos e tecnologias. Desse modo, os canais de comunicação
científica e publicação do conhecimento ganham cada vez mais relevância. No entanto, a cobrança
de assinaturas com preços muito elevados, pelos editores comerciais das revistas científicas, tem
impedido que informações novas a partir de estudos realizados sejam acessadas por grande parte
da comunidade científica que não dispõe de recursos para tal. O paywall ou acesso pago na ciência
tem provocado inúmeros problemas: o orçamento de bibliotecas tem ficado quase totalmente
comprometido, o acesso pago impede que diversos cientistas altamente qualificados tenham acesso
a informações relevantes para suas próprias pesquisas em andamento, além de contribuir para a
exclusão de pessoas da atividade científica.

Nesse contexto, surgiram iniciativas de plataformas de compartilhamento e colaboração gratuitas,


visando a comunicação científica em sua forma mais ampla e inclusiva. O open acess ou ciência
aberta é um meio de fazer o conhecimento voltar a circular entre os cientistas. A internet
amplificou e fortaleceu esse movimento pois forneceu novas formas de publicação e
compartilhamento das pesquisas. Esse movimento incentiva a transparência na ciência, promove
esclarecimento na gestão dos dados científicos, que passam a estar acessíveis a toda sociedade e,
por consequência, amplia a participação e o conhecimento de outros grupos sobre a ciência que
está sendo desenvolvida.

Nesses bancos de dados gratuitos é possível encontrar artigos publicados com revisão por pares,
pré-prints, deixando que a pessoa leia, distribua, imprima, copie e use em sua pesquisa. As únicas
restrições são dos direitos autorais, em que o autor precisa ser reconhecido e citado. Além disso, há
modelos de comunicação científica em que a pesquisa é compartilhada desde o início. Conclui-se
que o modelo de ciência aberta contribui enormemente com a transparência, aprendizado,
colaboração, reutilização e inclusão social no meio científico.

DIVULGANDO A PESQUISA
A publicação de um artigo científico passa por diversas etapas, em geral, segue a seguinte ordem:
seleção da revista, submissão do artigo, avaliação inicial do editor (aceitação do artigo, peer-review
(revisão por pares), atualização do artigo (propostas pelos pares), submissão do artigo revisado e
PENSAMENTO CIENTÍFICO 72
publicação. O processo de publicação é frequentemente demorado e raramente decorre em menos
de seis meses entre a submissão e a aceitação para publicação. Em muitos casos, as revistas
mencionam a data de submissão e a de aceitação quando o artigo é publicado. Além disso, é cada
vez mais comum a disponibilização digital do artigo, ao invés da publicação impressa.

Existem três modelos principais de publicação:

Publicação Tradicional: este modelo se baseia na venda de artigos por subscrição, isto é, os autores
publicam seus artigos que só são acessados mediante pagamento de assinatura.
Acesso Aberto: neste modelo, os autores submetem seus artigos, podendo ou não pagar uma taxa
de submissão, porém os utilizadores têm acesso livre ao artigo, contribuindo para a eliminação de
barreiras no acesso ao conhecimento científico.
Modelo Híbrido: o modelo híbrido é uma opção que mescla os dois anteriores, em que se mantém
o pagamento de acesso, mas existe a opção de publicação em acesso aberto. São exemplos:
Elsevier, Taylor & Francis ou Springer.
A publicação Acesso Aberto aplica-se tanto a artigos como a dados científicos resultantes das
pesquisas que não foram utilizados. Há duas vias de publicação:

Via Dourada: o acesso aos artigos é gratuito através do site da revista, mas cobra-se o pagamento
de taxas de publicação. Nessa via, o acesso é imediato após a publicação, que passa pela análise
Peer-Review.
Via Verde: o acesso aos artigos também é gratuito através do depósito dos artigos em repositórios
de acesso aberto (institucionais ou temáticos). Os artigos também se submetem ao peer-review e
podem ficar retidos por um período.
Alguns desses repositórios são: DOAJ (Directory of Open Access Journals), OpenDOAR (The
Directory of Open Access Repositories), ROAR (Registry of Open Access Repositories), ROARMAP
(The Registry of Open Access Repository Mandates and Policies), Sherpa / Juliet
(Research Funders' Open Access Policies), SPARC (Scholarly Publishing and Academic Resources
Coalition).

O processo de peer-review pode identificar más posturas na pesquisa científica. A pressão para a
publicação tem ficado cada vez maior. É necessário que autor pense na qualidade do seu trabalho,
pois isso pode afetar sua reputação acadêmica. Fraudes, plágios, conflitos de interesse não
divulgados, manipulação de dados, submissões simultâneas de um mesmo artigo em duas revistas,
duplicação de artigos, pode marcar de forma negativa a imagem dos pesquisadores.

O plágio destaca-se por ser considerado uma das piores posturas no âmbito da publicação
científica. É preciso que o artigo a ser publicado seja original. Caso você queira sanar sua dúvida
em relação ao plágio, muitos autores recorrem a softwares detectores de plágio. Um dos mais
utilizados pelos editores é o Thenticate, no entanto, existem também outros gratuitos como o
Plagiarism Tools.

Se o artigo for aceito ou publicado, é importante conhecer, de preferência antes da submissão, o


fator de impacto das revistas. O fator de impacto é um meio de avaliar a qualidade e relevância das
revistas. Esse impacto da publicação pode ser avaliado por meio de indicadores bibliométricos,
para avaliação dos autores, que se baseiam no número de citações do artigo.
Esses indicadores bibliométricos permitem saber, por exemplo, quais são os autores mais citados
em uma área científica específica e quais revistas têm o maior impacto em uma determinada área.
É imprescindível conhecer e se manter atento a esses indicadores tanto para a publicação quanto
para o almejado reconhecimento profissional de um pesquisador.

EXEMPLIFICANDO
De maneira geral, o processo de peer-review se dá pelas seguintes etapas:

PENSAMENTO CIENTÍFICO 73
o recebimento do manuscrito; a verificação se o manuscrito atende os pré-requisitos, por exemplo,
o número de palavras, padronização de referências, etc.; avaliação da qualidade e relevância do
manuscrito pela revista; escolha de um a três revisores especialistas na área para conferirem um
parecer. A partir daí, com base no parecer dos revisores, o editor da revista toma a decisão de
aceitação ou rejeição do manuscrito. Se aceito, o manuscrito entra no processo de publicação.

A ciência como atividade humana é profundamente afetada pelas demandas e relações de uma
época. A publicação científica deve ser vista como parte do processo de desenvolvimento da
pesquisa. Como a ciência nos beneficia coletivamente, não se pode esconder os resultados de uma
pesquisa, é necessário divulgá-los para que, assim, eles tragam inúmeros retornos práticos à
sociedade como um todo.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1
A normalização acadêmica consiste no processo de organização dos conteúdos da pesquisa visando
a prevenção de problemas, cooperação entre os pares e economicidade. Elas existem para facilitar e
organizar o acesso ao conteúdo científico produzido.
Assinale a alternativa que contém a sigla do órgão responsável pela normalização dos trabalhos
técnicos no Brasil.

a. APAC.
b. CMS.
c. APA.
d. ANPOF.
e. ABNT.

Questão 2
O modelo mais atual de divulgação do conhecimento é o que dá acesso à pesquisa disponível
gratuitamente, sem restrições de uso. Essa ideia se baseia na visão de que as informações
científicas devem estar disponíveis a todos e se põe àqueles que obriga a assinatura de revistas para
ter acesso aos conteúdos publicados.

Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa a que ele se refere:


a. Acesso livre.
b. Acesso pago.
c. Acesso restrito.
d. Acesso hibrido.
e. Acesso aberto.

Questão 3
Atualmente, a pesquisa científica ganhou tanta credibilidade quanto o interesse de vários setores
da sociedade nas informações produzidas por ela. Isso acarretou em uma transformação
significativa da maneira como se dá a produção e divulgação do conhecimento científico.
Assinale a alternativa que mostra algumas das transformações sociais que afetaram a forma de
produzir e publicar conhecimento científico.

a. Surgimento das tecnologias analógicas, aumento no número de pesquisadores e revistas


científicas e ênfase na dimensão qualitativa da ciência.
b. Surgimento das tecnologias digitais, diminuição do número de pesquisadores e revistas
científicas e a ênfase na dimensão quantitativa da ciência.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 74
c. Surgimento das tecnologias digitais, aumento no número de pesquisadores e revistas
científicas e a ênfase na dimensão comercial da ciência.
d. Surgimento das tecnologias analógicas, diminuição no número de pesquisadores e revistas
científicos e a ênfase na dimensão quantitativa da ciência.
e. Surgimento das tecnologias digitais, aumento no número de pesquisadores e revistas
científicas e a ênfase na dimensão qualitativa da ciência.

REFERÊNCIAS
CASARIN, H. C. S.; CASARIN, S. J. C. Pesquisa Científica: da teoria à prática. Curitiba: Ibpex, 2011.
ÖCHSNER, A. Introduction to scientific publishing: Backgrounds, concepts, strategies. Heidelberg:
Springer, 2013
YAMAKAWA, E. K. et al. Comparativo dos softwares de gerenciamento de referências bibliográficas:
Mendeley, EndNote e Zotero. Transinformação, v. 26, n. 2, p. 167-176, 2014.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


ESCREVER E PUBLICAR: COMO LEVAR A CIÊNCIA PARA AS PESSOAS?

SEM MEDO DE ERRAR


Após a conclusão da pesquisa, o pesquisador iniciou o processo de publicação dos seus resultados.
Ele resolve buscar na internet as revistas mais relevantes no tema do artigo em questão. O
principal critério para avaliar a relevância de uma revista é o fator de impacto. Em geral, esse fator
de impacto é um índice gerado a partir da avaliação dos autores já publicados e a quantidade de
citações dos artigos publicados. Além disso, há critérios, como a submissão dos artigos à revisão
por pares, que devem ser observados na hora de escolher uma revista que preze pela qualidade do
conteúdo publicado.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
UTILIZANDO AS FERRAMENTAS DIGITAIS DISPONÍVEIS
Você submete um artigo a uma revista especializada na sua área de estudos. No processo de revisão
por pares, o parecerista retorna com a posição de que o artigo deve ser publicado após alguns
ajustes. O parecerista comenta que algumas referências bibliográficas não se encontram no padrão
ABNT necessário para a publicação. Um exemplo de referência errada encontrada no texto:
“Principles of Marketing. J. Rowe. F. Clark. 1927. Economica”
Quais ferramentas digitais você poderia utilizar para resolver esse problema?

RESOLUÇÃO
Visando normalizar a pesquisa, você poderia ter utilizado os softwares Mendeley, Zotero,
EndNote ou fastformat.co que são, além de outras coisas, gerenciadores de referências
bibliográficas. Eles dispõem de recursos em que as referências podem ser automaticamente
padronizadas, de acordo com as regras das normas ABNT, por exemplo.
Utilizaremos o Mendelely como ilustração.

Com o Mendeley instalado e configurado, vá na aba “View” e clique em “Citation Style”. Procure
por ABNT, clique em “Install”. Não se esqueça de instalar também o plugin para o Word.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 75
Feito isso, vá em “Literature Search” no Mendeley, procure o título do artigo e clique em “Save
Reference”.

Agora, abra o Word e clique na guia Referências e na aba do Mendeley, clique em “Insert Citation”,
busque pelo título do texto e adicione a citação (no lugar em que ela deve aparecer no texto).
Depois de inserida a citação, vá em “Insert Bibliography” para inserir a referência de acordo com
ABNT. Procure pela referência e clique em ok.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 76
Resultado da referência no padrão ABNT:

UNIDADE 04 SEÇÃO 1

COMO ANALISAR UM TRABALHO CIENTÍFICO?

CONVITE AO ESTUDO
Caro estudante,

Ao final de um curso ou disciplina, muitas vezes você é encorajado a escrever uma monografia
sobre o assunto que estudou. Os trabalhos de final de curso ou monografias te preparam para a
redação científica, em que quase sempre é necessário seguir uma estrutura que conta com etapas
de introdução, desenvolvimento, conclusão, etc. A escrita científica é parte da metodologia a ser
seguida no desenvolvimento das pesquisas, por isso é importante conhecê- la. Dada a enorme
quantidade de artigos e pesquisas publicados atualmente, se faz necessário distinguir as pesquisas
que seguem o maior rigor e excelência científica.

Nesta unidade, você aprenderá como analisar e redigir um artigo científico, a modalidade mais
comum de divulgação científica. É importante conhecer o que se espera de cada seção do artigo,
com particular atenção à seção de metodologia e resultados que contempla, dentre outras coisas, a
coleta e o tratamento dos dados da amostra. Não obstante, a partir da experiência com a redação
científica de artigo, você conseguirá alinhar o conteúdo da sua pesquisa com os outros diversos
PENSAMENTO CIENTÍFICO 77
formatos de comunicação científica já conhecidos por você, sejam eles, resumos, comunicações,
revisões, entre outros.

PRATICAR PARA APRENDER


Caro estudante,
A essa altura, você já deve saber que a informação mais qualificada da atualidade é a informação
científica. A credibilidade da ciência foi construída por meio da aplicação de metodologias
rigorosas do início ao fim da pesquisa, capazes de produzir resultados efetivamente confiáveis.
Você já deve saber também que a comunicação científica é indispensável nesse processo, pois é por
ela que os cientistas e toda a sociedade ficam cientes do surgimento de novos problemas, bem
como de soluções para os problemas.

Assim, dado seu papel crucial, a produção de artigos científicos também deve seguir uma
metodologia rigorosa que permita a explanação clara dos resultados e a plena comunicação com
seus pares. Os artigos possuem uma estrutura que comumente consiste em introdução,
desenvolvimento, metodologia e resultados, mas que pode variar dependendo do campo de
pesquisa. Saber como redigir artigos científicos, bem como saber interpretá-los, é parte essencial
na busca por informações qualificadas nos dias atuais e pode contribuir em muito com o
aprimoramento e a atualização da prática profissional em qualquer área de atuação.

Você construiu sua carreira como pesquisador e foi contratado por uma empresa automobilística
para desenvolver um estudo sobre a eficiência energética de dois tipos de ar- condicionado para
automóveis. A ideia apresentada pela equipe é encontrar o aparelho com maior eficiência
energética para ser instalado em um novo modelo de carro.

Sendo assim, você deve elaborar a metodologia que deve ser empregada na condução do estudo,
indicando o método de coleta de dados, os possíveis cálculos efetuados para mensuração da
eficiência energética e qual seria a melhor ferramenta estatística para a apresentação dos dados
coletados.

Quando se é alfabetizado cientificamente, o mundo parece diferente à sua vista, e essa


compreensão dá-lhe poder. – Neil de Grasse Tyson

CONCEITO-CHAVE

ENTENDIMENTO DA METODOLOGIA
Saber redigir e analisar artigos científicos é uma habilidade essencial a ser adquirida pelo
pesquisador. Antes de tudo, é necessário compreender a estrutura de um artigo que geralmente
passa por introdução, metodologia, resultados e discussão. Cada etapa da pesquisa possui uma
série de critérios e procedimentos a serem seguidos, os quais podem variar conforme o tipo de
pesquisa. Todavia, em geral, construímos uma análise fundamentada de um artigo observando se
ele cumpre adequadamente os seguintes aspectos (CASARIN, 2012; PEREIRA, 2018):

Tema: inicialmente, deve-se ficar claro o tema do trabalho analisado. Esse tema deve ser relevante
na área de conhecimento ao qual se enquadra, pois assim se justifica o emprego dos recursos.

Título: o título do artigo deve ser elucidativo, preciso e curto. Os leitores que buscam o artigo
devem conseguir saber pelo título se o artigo atende suas necessidades de pesquisa. Para isso, é
aconselhável que tenha entre 10 a 12 palavras.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 78
Autores: são aqueles que efetivamente contribuíram no desenvolvimento da pesquisa e deve- se
observar suas instituições de origem ou qualificação de cada um deles. Também recomenda-se
incluir formas de contato.

Resumo: tem a finalidade de síntese da pesquisa, dando uma ideia de quais foram os objetivos e os
caminhos encontrados. Inclui-se aqui os métodos utilizados. Geralmente, também se coloca uma
versão do resumo em outro idioma.
As palavras-chave identificam o tema do artigo por meio da catalogação.

Introdução: é a parte do trabalho em que é apresentado o problema da investigação, as


justificativas da pesquisa, a fundamentação teórica da pesquisa, bem como os objetivos do
trabalho, as hipóteses e variáveis utilizadas. A fundamentação teórica se baseia, em geral, nas
últimas pesquisas da área de estudo.

Justificativas da pesquisa: o relatório da pesquisa deve incluir uma consideração sobre a relevância
do tema ou problema a ser investigado, o que e onde se pode contribuir com a realização da
pesquisa.

Objetivos gerais e específicos: o artigo deve ser claro quanto aos seus propósitos, os objetivos
devem ser bem definidos e coerentes, além de compatíveis com os métodos e o corpo de
conhecimento estabelecido da área.

Hipóteses e variáveis: as variáveis são os parâmetros que irão variar, os atributos que se pretende
investigar. Elas devem estar bem definidas e explícitas no artigo. Além disso, deve haver uma
previsão do comportamento destas (hipótese) que é apoiada na literatura da área.

Metodologia: o artigo deve informar claramente quais são os procedimentos e métodos utilizados a
fim de testar as hipóteses. O nível de detalhamento deve ser alto para permitir que outro
pesquisador replique o experimento. Inclui saber qual o tipo de pesquisa, a abordagem, o lócus da
pesquisa, a população, a amostra, os instrumentos utilizados, os cuidados técnicos, as medidas
éticas e a forma de análise de dados.

Amostra: o artigo deve detalhar muito bem a população do estudo para que outras pesquisas
possam ter parâmetros de comparação. A análise desse conteúdo deve ser meticulosa porque
podem esconder falhas que comprometem os resultados da investigação.

Instrumento de coleta de dados: o artigo deve ser explícito quanto aos procedimentos utilizados na
coleta de dados, aos meios e instrumentos utilizados, às variáveis de estudo e escalas de variação. A
utilização de um instrumento não confiável pode comprometer totalmente o resultado obtido.
Além disso, deve-se dizer quem coletou, qual período da coleta, os cuidados tomados durante, etc.

Validade interna e externa: consiste em uma das etapas mais importantes nas análises dos artigos.
Aqui é necessário observar criticamente se, por exemplo, não há situações intervenientes que
convergem com a variável independente e podem afetar a variável dependente; se a forma de
seleção da amostra é adequada quando não é aleatória, se não há enviesamento na amostragem,
etc.

Em suma, é necessário verificar se não há possibilidades de interferência dos resultados que não
tenham sido levadas em conta. Há que se verificar também a validade externa, o quanto os
resultados conseguem gerar generalizações em outros ambientes ou com outras amostragens. A
avaliação também inclui uma análise da confiabilidade e validade dos instrumentos utilizados na
coleta de dados.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 79
Dimensão Ética: o artigo deve respeitar os princípios e as diretrizes éticas determinados pelo
Comitê de Ética da instituição a que ele está vinculado, principalmente durante a experimentação
com humanos e animais não humanos. Sem esse controle, os resultados da pesquisa são
severamente comprometidos.

Resultados, discussão e conclusão: o artigo deve apontar claramente quais foram os resultados, de
forma lógica, objetiva e ordenada, podendo utilizar para isso tabelas, gráficos, como material
complementar. O artigo deve ser capaz de responder diretamente e objetivamente a questão-
problema colocada na introdução. Após essa etapa, os resultados devem ser discutidos à luz do
conhecimento da literatura, comparando-os com outros estudos, a fim de reforçar a validade de
sua resposta ou solução.

Parece óbvio, mas um dos aspectos importantes de análise é a coerência geral do artigo desde a
introdução até a discussão final. Ele não deve conter contradições, mas sim uma harmonia lógica
entre as ideias. A falta de coerência pode ser uma das fontes de erros e falhas da pesquisa científica.
Não menos importante, o artigo deve indicar adequadamente todas as referências utilizadas para
sua composição. É muito comum que as referências sejam normalizadas para facilitar a
comunicação com os outros pesquisadores. Uma boa pesquisa, em geral, conta com um número
razoável de referências, indicando que se conhece bem a literatura disponível sobre o tema.

ASSIMILE
Conforme explica Casarin (2012), os trabalhos científicos são frequentemente estruturados em
ordem cronológica: Introdução, Metodologia, Resultados e Discussão, Conclusão e Referenciais
Bibliográficos.

A seção “Introdução” contém as razões que motivaram a investigação e mostra para os leitores
como o artigo está estruturado.
A seção “Metodologia” fornece detalhes suficientes para outros cientistas reproduzirem os
experimentos descritos no artigo.

As seções “Resultados” e “Discussão” apresentam e discutem os resultados da pesquisa,


respectivamente. Essas duas seções frequentemente são combinadas para que os leitores entendam
o que os resultados significam.
A seção “Conclusão” apresenta o resultado do trabalho interpretando os achados em um nível de
abstração mais alto do que a Discussão e relacionando esses achados ao problema de pesquisa
declarado na Introdução.
LEITURA DOS RESULTADOS
Dada sua importância, abordaremos mais profundamente a análise dos resultados de um artigo
científico. A seção dos resultados indica o que foi encontrado na pesquisa, isto é, mostra os dados
relevantes obtidos pelo pesquisador. Segundo Pereira (2013), é importante que se apresente as
características “demográficas, socioeconômicas, clínicas ou de outra natureza” do objeto estudado.
Tais dados podem ser alocados em tabelas para uma melhor visualização.
Essa parte serve como indicativo das condições a serem observadas para o estudo poder ser
replicado. Também deve-se indicar os critérios de exclusão dos participantes na amostra.

Após a explicitação da amostragem, os resultados devem ser elencados em uma ordenação.


Primeiro, os mais relevantes, aqueles que respondem diretamente à questão do artigo. O
pesquisador, na sequência, poderá expor os resultados secundários, aqueles achados que não eram
esperados, mas que são relevantes. Há algumas dicas que podem ser seguidas para facilitar a
elaboração da seção de resultados, são elas:

Apresentar os resultados de forma ordenada e lógica. Dar ênfase somente a informações


imprescindíveis.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 80
Não emitir opiniões ou julgamentos sobre o que foi encontrado, pois a parte interpretativa cabe à
seção de discussão.
Não replicar no texto os resultados que estão nas ilustrações. Indicar a significância estatística dos
resultados.
Assim, espera-se que na seção de resultados se encontre as informações mais relevantes que a
pesquisa obteve. A seção de resultados deve ter um texto curto, simples, objetivo, que preze pela
clareza e pela ordenação lógica, seguindo sempre as regras da comunicação científica.
Muitas vezes, se faz necessário redigir o texto mais de uma vez, até alcançar a clareza pretendida.

REFLITA
Na hora de interpretar os dados e expor os resultados, o pesquisador deve ter muito cuidado para
não enviesar e comprometer esses dados com sua análise. Na sua visão, quais práticas podem ser
feitas durante a pesquisa a fim de minimizar uma análise tendenciosa dos dados coletados?

ANÁLISE DE TABELAS, QUADROS E GRÁFICOS


Na etapa da análise de dados, é comum o uso de estatística descritiva que auxilia na forma de obter
informações a partir dos dados coletados. São utilizadas para essa tarefa, resumos, gráficos e
tabelas. Muitas vezes, a simples visualização dos dados coletados não consegue
expressar todas as informações contidas neles, pois existem informações escondidas que só podem
ser visualizadas com aplicações de técnicas e métodos estatísticos. Antes de resumir em gráficos,
tabelas e quadros, precisamos saber sobre o que iremos falar, isto é, qual o tipo de variável que
estamos interessados. Segundo Da Silva (2011), elas podem ser:

Qualitativas: as variáveis desse tipo medem a qualidade, podendo ser ordinais, como o índice de
aprovação de um político (péssimo, ruim, regular, bom ou ótimo), ou podem ser nominais, como o
sexo de uma pessoa, feminino ou masculino.
Quantitativas: as variáveis desse tipo medem a quantidade, podem ser discretas (os valores são
contáveis) ou contínuas (os valores dentro de um intervalo), por exemplo, a altura de uma pessoa.
Existem também métodos específicos quando queremos descrever duas ou mais variáveis e como
se relacionam entre si. As ferramentas descritivas e analíticas de dados são inúmeras e devem ser
utilizadas conforme os objetivos da pesquisa, são algumas delas:

Tabela de frequência: indica a frequência observada de um fenômeno. Essa frequência pode ser
classificada em absoluta ou relativa – absoluta como o número de eventos e relativa como o
percentual. Podemos utilizá-la, por exemplo, quando queremos observar a variável “torcedor de
time” em uma turma com 20 alunos em São Paulo, conforme a Tabela 4.1.

Tabela 4.1 | Exemplo de tabela de frequência


Categoria Frequência Absoluta Frequência Relativa
Corinthians 10 0,50
Palmeiras 7 0,35
São Paulo 2 0,10
Santos 1 0,05
Total 20 1,00
Fonte: Elaborada pela autora.

Gráfico de barras: o gráfico de barras apresenta a frequência absoluta ou relativa de uma


observação ou fração de observações. A altura das barras representa o que mais foi observado. Um
exemplo desse tipo de gráfico ilustra a nota de cada aluno em uma turma (Figura 4.1).

PENSAMENTO CIENTÍFICO 81
Figura 4.1 | Exemplo de gráfico de barras
Fonte: Elaborada pela autora.

Gráfico de setores (pizza): esse gráfico apresenta uma frequência relativa de uma observação. Eles
não são bons para comparações temporais. A Figura 4.2 traz um exemplo desse tipo aplicado às
notas dos alunos.

Figura 4.2 | Exemplo de gráfico de setores (pizza) Fonte: Elaborada pela autora.

Histograma: se parece com o gráfico de barras, mas possui diferenças. O histograma mede um
grupo de dados e não uma certa informação como o gráfico de barras. Note que, em relação ao
gráfico de barras, no histograma não é possível identificar a nota de cada aluno.

Figura 4.3 | Exemplo de histograma Fonte: Elaborada pela autora.

Tabulação cruzada: quando queremos descobrir se há alguma relação entre duas variáveis
diferentes, podemos utilizar a tabulação cruzada. Por exemplo, podemos fazer uma tabulação
cruzada com duas variáveis: preço da refeição (R$ 10 a R$ 40) e avaliação da qualidade (ruim,
bom, ótimo, excelente) pelos entrevistados. Note que a tabela a seguir indica que conforme
aumenta o preço, a satisfação com a qualidade aumenta.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 82
Tabela 4.2 | Exemplo de tabulação cruzada Preço da RefeiçãoFonte: Elaborada pela autora.

Diagramas de dispersão: mostra a relação de duas variáveis quantitativas. Cada par observado de
duas variáveis (x, y) é marcado como um ponto a partir das coordenadas. O diagrama é usado para
verificar a existência de uma relação de causa e efeito entre duas variáveis quantitativas. A Figura
4.4 traz um exemplo de gráfico comparativo entre idade da mulher e do marido. Como se observa,
à medida que a idade da mulher aumenta, a idade do marido também aumenta.

Figura 4.4 | Exemplo de diagrama de dispersão Fonte: Martins (2014, s/p)


Gráfico temporal ou sequencial: esse tipo de gráfico mostra a evolução de uma variável ao longo do
tempo. É semelhante ao de dispersão, mas neste caso, pode-se unir os pontos consecutivos (Figura
4.5).

PENSAMENTO CIENTÍFICO 83
Figura 4.5 | Exemplo de gráfico sequencial Fonte: Elaborada pela autora.

Cabe lembrar que não basta apresentar os dados em formas de gráficos ou tabelas sem ter uma
teoria estabelecida que ajude a interpretá-los corretamente e fundamente a leitura. Caso contrário,
pode-se incorrer nas chamadas relações espúrias. As relações espúrias são correlações estatísticas
entre variáveis que não possuem significado teórico, isto é, não existe nenhuma relação de causa e
efeito entre elas. Elas podem acontecer por pura coincidência ou por uma terceira variável. Um
caso muito conhecido desse tipo é a relação estatística existente entre um aumento nos números de
afogamentos e os lançamentos de filmes com o ator Nicolas Cage.

Figura 4.6 | Exemplo de correlação espúria Fonte: Brenner (2019, s/p).

CENÁRIO DA PESQUISA
O cenário da pesquisa consiste na descrição do lugar onde o pesquisador estudará o fenômeno
observado, da população ou tamanho da amostra a ser utilizada e dos eventos a serem observados
naquele ambiente. Por exemplo, o cenário de uma pesquisa sobre o trabalho rural pode ser as
próprias propriedades rurais, como fazendas, e os sujeitos entrevistados podem ser posseiros.

O lócus da pesquisa irá variar de acordo com o tipo de pesquisa. As pesquisas de campo podem ser
classificadas em três tipos, de acordo com os objetos de estudo e metodologias: pesquisas
exploratórias, quantitativas-descritivas e experimentais.
As pesquisas exploratórias objetivam uma compreensão mais ampla do tema estudado, as
quantitativas uma compreensão mais detalhada do objeto em dados quantitativos e as
experimentais se objetiva o conhecimento das variáveis que produzem o efeito analisado no objeto
estudado.
Apesar das particularidades de cada pesquisa, em geral, sugere-se que uma descrição detalhada do
lócus da pesquisa inclua uma definição adequada da população, o método a ser utilizado na coleta
de dados, o tipo de abordagem da pesquisa, quais fenômenos serão estudados e quais eventos
serão observados, os métodos de mensuração utilizados e a fundamentação teórica do problema
investigado.

EXEMPLIFICANDO
O cenário da pesquisa consiste em uma descrição detalhada de todo o ambiente onde a pesquisa
será desenvolvida, os atores envolvidos, as características relevantes do lugar para a pesquisa. É
extremamente importante escolher corretamente o cenário da pesquisa. Por exemplo, para
verificar uma mudança nos padrões de competitividade da indústria de automóveis, pode ser feita
uma pesquisa dentro de empresas de automóveis do Grande ABC, em São Paulo. A escolha desse
lugar não é arbitrária, uma vez que a região abriga e já abrigou inúmeras empresas de automóveis,
tornando-se um polo relevante desse setor.

Escrever um artigo científico pode exigir muito tempo e esforço, mas os seus resultados
contribuem para o avanço do conhecimento científico, o que torna o processo gratificante. Com as
ferramentas adequadas e a metodologia correta, a escrita científica pode ser facilitada. A prática
PENSAMENTO CIENTÍFICO 84
constante da redação científica é a garantia para um aprimoramento contínuo da comunicação
científica pelo pesquisador.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1
Nesta seção, foi apresentado o problema da investigação, as justificativas da pesquisa, a
fundamentação teórica da pesquisa, bem como os objetivos do trabalho, as hipóteses e variáveis
utilizadas.
Assinale a alternativa que representa corretamente a seção descrita.

a. Introdução.
b. Resumo.
c. Resultados e discussão.
d. Conclusão.
e. Metodologia.

Questão 2
Os artigos científicos são frequentemente estruturados em ordem cronológica: Introdução,
Metodologia, Resultados e Discussão e Conclusão, Referenciais Bibliográficos.
Além da estrutura formal, um artigo científico deve conter:

a. O projeto de pesquisa.
b. Dados originais.
c. Consistência lógica.
d. Agradecimentos.
e. O salário dos pesquisadores.

Questão 3
Consiste na descrição do lugar onde o pesquisador estudará o fenômeno observado, da população
ou tamanho da amostra a ser utilizada e dos eventos a serem observados naquele ambiente.
Assinale a alternativa que apresenta corretamente a ideia referida no texto.

a. Cenário da Universidade.
b. Lócus dos Dados.
c. Cenário de Pesquisa.
d. Lócus da Habitação.
e. Cenário da Investigação.

REFERÊNCIAS
BRENNER, W. Por que toda vez que o Nicolas Cage aparece em um filme, várias pessoas morrem afogadas?
Up date or die, 2019. Disponível em: https://bit.ly/38btNj5. Acesso em: 20 dez. 2020.
CASARIN, H. C. S; CASARIN, S. J. Pesquisa científica: da teoria à prática. Curitiba: InterSaberes, 2012.
DA SILVA, T. R. Avaliação da Disciplina de Tratamento e Análise de Dados/Informações. São Paulo:
JupiterWeb, 2011.

FIRMINO, C. Aprenda como reduzir o custo de produção na sua indústria de alimentos. MF Consultoria,
2017. Disponível em: https://bit.ly/3eakOTm. Acesso em: 20 dez. 2020.

GREENHALGH, T. Como ler artigos científicos. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.

KOLLER, S. H.; DE PAULA COUTO, M. C. P.; VON HOHENDORFF, J. Manual de produção


científica. Porto Alegre: Penso Editora, 2014.

MARTINS, E. G. M. Diagrama ou gráfico de dispersão, Rev. Ciência Elem., V2(3), 2014.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 85
PEREIRA, M. G. A seção de resultados de um artigo científico. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 22, n.
2, p. 353-354, 2013.

PEREIRA, M. G. Artigos científicos: como redigir, publicar e avaliar. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2018.

COMO ANALISAR UM TRABALHO CIENTÍFICO?

SEM MEDO DE ERRAR


Você foi contratado por uma empresa automobilística para desenvolver uma pesquisa sobre
eficiência energética de ar-condicionado para automóveis. Ao elaborar a metodologia, você definiu
que mensuraria o consumo de energia dos equipamentos em diferentes intervalos de tempo e em
temperaturas variadas, a fim de avaliar qual deles apresentaria uma melhor eficiência energética.

Assim, em um intervalo definido de tempo, como a cada duas horas, por exemplo, com intervalos
de temperatura graduais, sob condições controladas em laboratório, é possível mensurar qual dos
aparelhos consome mais energia. Em uma conta simples, a eficiência energética pode ser
mensurada por meio da quantidade de energia gasta dividida pelo total oferecido pela rede elétrica
durante a atividade. O ar-condicionado que tem maior eficiência energética será o que dá o
resultado mais próximo de 1.

Para exposição dos dados coletados, o gráfico sequencial é o mais indicado, pois esse tipo de
gráfico mostra a evolução de uma variável ao longo do tempo. A variável em questão é a
temperatura.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
AVALIANDO UM MANUSCRITO CIENTÍFICO

Um parecerista é contratado para avaliar a aceitação de um manuscrito submetido a uma revista


científica de alto impacto na literatura. Contudo, ao ler o manuscrito, o parecerista se depara com o
seguinte trecho na seção de “Introdução”:

Os testes foram aplicados em jovens de 15 a 19 anos. Os jovens, a princípio, respondiam a


perguntas de aquecimento sobre o tema de pesquisa. Em seguida, os jovens respondiam a
perguntas sobre comportamentos-alvo. Os resultados mostraram que 45,4% dos jovens
responderam... (KOLLER, 2014, p. 133)

Considerando o contexto apresentado, escreva a indicação do parecerista com os erros cometidos


pelo autor na redação deste trecho e indique de que maneira tais erros podem ser corrigidos.

RESOLUÇÃO
Em primeiro lugar, a introdução é a seção em que se apresentam as motivações da pesquisa, os
problemas a serem investigados e uma breve revisão literária. Portanto, a disposição dos
resultados não poderia estar na seção de Introdução. Em segundo lugar, a redação do texto mostra
que o manuscrito não foi submetido à revisão antes do envio para a revista. Uma má escrito do
texto compromete o objetivo da comunicação científica. O trecho em questão pode ser corrigido e
reescrito da seguinte forma:

Os testes foram aplicados em jovens de 15 a 19 aos. A princípio, os participantes respondiam a


perguntas de aquecimento sobre o tema da pesquisa. Em seguida, eram questionados sobre os
comportamentos-alvo. Os resultados mostraram que 45,4% dos entrevistados indicaram...”.

(KOLLER, 2014, p. 134)

PENSAMENTO CIENTÍFICO 86
UNIDADE 04 SEÇÃO 2

QUAIS FATORES PODEM INTERFERIR EM UMA ANÁLISE

PRATICAR PARA APRENDER


Caro estudante,

Você já deve ter notado que muitas vezes tratamos dados como sinônimo de informação e
informação como sinônimo de conhecimento, mas essas são associações enganosas. Os dados
necessitam da interpretação e, portanto, da informação para que tenham significado. A
informação, por sua vez, é construída por um arranjo de dados visando um objetivo específico. Não
há realmente informação desinteressada, desconectada de um sujeito que realiza a organização dos
dados. Por essa razão, como os dados precisam ser interpretados e analisados, é bem possível – na
verdade, muito provável – que sejam interpretados incorretamente, em algum momento.

No desenvolvimento de uma pesquisa científica, é crucial que o pesquisador tenha noção de seus
próprios vieses cognitivos a fim de minimizar a interpretação incorreta dos dados. Muitas vezes,
nós ficamos cegos dos nossos próprios vieses e apenas um observador externo consegue nos
indicar esses problemas. Nesta seção, convido você a compreender a dimensão de responsabilidade
e cuidado exigidas no tratamento de qualquer tipo de dados. Reconhecer o papel do sujeito na
interpretação e no tratamento de dados é fundamental ao desenvolvimento de um pensamento
mais criterioso na busca pela informação e pelo conhecimento.

Uma indústria automobilística está preocupada com os defeitos que um de seus produtos vem
apresentando. A fim de sanar o problema na escala de produção, a empresa contrata você,
pesquisador da área, para a composição de um levantamento detalhado da produção desse item.
Ao iniciar a investigação, você elabora uma tabela com os tipos de problemas encontrados e a
frequência com que eles têm ocorrido após cada item produzido ser analisado.
Tabela | Problemas e frequência na produção
Problemas Frequência Problemas Frequência
A 10
B 15
C 25
A Defeito na tampa plástica.
B Defeito na placa de processamento.
C Soldas soltas.

Considerando o contexto apresentado, indique se os dados apresentados com a variável


“Problemas” são nominais, ordinais, contínuos ou discretos. Além disso, justifique sua resposta.
Os números não falam por si próprios. Nós falamos por eles. Nós os imbuímos de significado. –
Nate Silver.

CONCEITO-CHAVE
INFORMAÇÕES, DADOS E CONHECIMENTO
Nos dias atuais, temos um grande volume de informação disponível a nós apenas por um clique.
Antigamente, reis e rainhas eram privilegiados por possuírem uma, duas ou três
centenas de livros. Atualmente, qualquer pessoa pode ter facilmente essa quantidade de livros,
principalmente em formatos digitais. Com tanta informação disponível, é comum nós
assimilarmos inteligência com quantidade de informação, mas essa conexão pode ser bastante
enganosa.

Tratar a informação e o conhecimento como sinônimos é uma crença bastante comum nos nossos
tempos. Nós lidamos com dados, informações e conhecimento diariamente, todavia muitas vezes
os tomamos como sinônimos e cabe saber diferenciá-los.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 87
Dados podem ser definidos como a matéria-prima da informação, eles representam significados
que isoladamente não transmite nenhuma mensagem ou conhecimento. Em uma pesquisa de
opinião sobre a qualidade de um produto, por exemplo, a coleta da opinião de cada pessoa só
poderá produzir alguma informação significativa sobre a satisfação com o produto depois de ser
tratada e agregada às demais.

As informações, por sua vez, são os dados tratados. A informação é resultado do processamento
dos dados coletados que interessam ao pesquisador. Como elas possuem significado, auxiliam no
processo de tomadas de decisão.

No exemplo anterior, a informação expressaria os níveis de satisfação das pessoas entrevistadas


com o produto, revelando se a imagem que elas possuem é positiva ou negativa. Frequentemente,
se utiliza ferramentas estatísticas como indicadores para tratar os dados e obter alguma
informação que antes não poderia ser vista.

O conhecimento está além da informação porque tem tanto significado como aplicação. O
conhecimento envolve nossa faculdade de abstração, em que se é capaz de produzir novas ideias a
partir das informações que temos em dado momento. Ele exige que um sujeito seja capaz de
processar as informações identificando o que ali é importante e as direcione para algum fim. Nesse
sentido, a informação é como se fosse a matéria-prima do conhecimento.

ASSIMILE
Os dados são observações simples sobre do mundo, facilmente estruturados e que podem ser
obtidos por meio de maquinários. São quantificáveis e transferíveis.

As informações são dados tratados em termos de relevância e propósito. Necessariamente, exige a


intervenção humana, pois também exige um consenso acerca de seu significado.

O conhecimento é a informação tratada em termos de reflexão, síntese e contexto. Sua


estruturação é difícil, também não é fácil de ser construído por máquinas e frequentemente é difícil
de ser transferível.

Há ainda uma quarta diferenciação possível: a diferença entre sabedoria e conhecimento. Segundo
Ackoff (1999), sabedoria é um processo extrapolativo e não determinístico que invoca os outros
níveis de conhecimento, informação, dados e também princípios valorativos como

códigos morais, éticos, etc. Ao contrário dos níveis anteriores, a sabedoria é essencialmente
filosófica, pois coloca perguntas para as quais não há uma resposta fácil, em alguns casos, pode não
haver uma resposta. Sabedoria envolve um processo pelo qual discernimos o que é o certo e o
errado, o bom e o mau. Por ser um estado exclusivamente humano, os computadores ainda não
têm (e talvez nunca tenham) a capacidade de possuir a sabedoria.

Para que você consiga compreender plenamente, o Quadro 4.1 demonstra com exemplos as
diferenças que podemos encontrar entre os assuntos trabalhados anteriormente.

Quadro 4.1 | Diferenças entre dados, informação, conhecimento e sabedoria

Dados: Os dados representam um fato ou uma declaração de evento sem relação com outras
coisas. Exemplo: Está chovendo.
Informação: A informação incorpora a compreensão de uma relação de algum tipo,
possivelmente causa e efeito. Exemplo: A temperatura caiu 15 graus e começou a chover.
Conhecimento: O conhecimento representa um padrão que conecta e geralmente fornece um
alto nível de previsibilidade, como o que é descrito ou o que vai acontecer a seguir.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 88
Exemplo: Se a umidade for muito alta e a temperatura cair substancialmente, é improvável que a
atmosfera seja capaz de reter a umidade, então chove.
Sabedoria: A sabedoria incorpora mais uma compreensão dos princípios fundamentais
incorporados no conhecimento que são essencialmente a base para o conhecimento ser o que é. A
sabedoria é essencialmente sistêmica. Exemplo: O fenômeno chuva ocorre porque engloba uma
compreensão de todas as interações que acontecem entre chuva, evaporação, correntes de ar,
mudanças de temperatura, etc.
Fonte: Elaborado pela autora.

DADOS ISOLADOS
Os dados, como vimos, constituem a matéria-prima da informação. Dados isolados são dados que
não têm nenhum significado ou nenhum sentido objetivo. Por exemplo, queremos saber se uma
empresa está sendo bem sucedida em determinado ramo. Sabe-se que a empresa teve um
faturamento no 2° semestre do ano passado de meio milhão de reais. O que isso significa? O que se
diz da empresa a partir disso? É possível dizer que é uma empresa de sucesso ou não?
Provavelmente você acha que não, porque não podemos aferir essa informação apenas com esse
dado isolado. Para fazer avaliações como essas é necessário cruzar, organizar e alinhar dados
isolados. Esse tratamento pode ser feito por meio de ferramentas estatísticas, gráficos, tabelas,
figuras. Quando fazemos isso, nós transformamos os dados em informações que serão úteis para
qualquer análise que se almeje fazer.

Quando temos um histórico de faturamento crescente no semestre, informação que obtemos a


partir do alinhamento dos dados isolados de faturamento de cada mês, podemos afirmar o que está
ocorrendo com a empresa, por exemplo. Somente por meio do processamento desses dados,
obtemos respostas para a nossa investigação. Os dados podem ser classificados em duas grandes
categorias:

Dados qualitativos: esses dados são considerados não numéricos, por exemplo, a cor dos olhos, a
cor da pele, a textura do cabelo etc.

Dados quantitativos: esses dados são especificamente numéricos e através dos números são
apresentados. Tais dados estão ligados a perguntas como “quanto?”, “qual valor de?”, etc.
Há, ainda, uma classificação mais específica. Os dados qualitativos apresentam sempre uma
característica de atributo ou qualidade do objeto de pesquisa.
Tais dados podem ser divididos em dois tipos gerais: nominal e ordinal.

O dado nominal é o dado que não exige nenhuma ordenação para a interpretação de seus
resultados. Exemplos podem ser: tipo sanguíneo, sexo etc.
Já o dado ordinal, ao contrário, exige uma ordem para a interpretação de seus resultados, como de
pequeno a grande, bom a mau etc. Exemplos podem ser: grau de instrução (fundamental, médio,
superior), ordem de chegada (primeiro, segundo, terceiro).

Os dados quantitativos, por sua vez, podem ser divididos em contínuos e discretos. Dados
contínuos são medidos e não contados, são dados em que todos os valores são possíveis. Por
exemplo, a medição da altura de uma pessoa é um dado contínuo e pode ser dada em metros,
centímetros, milímetros etc. Assim como a definição da idade de uma pessoa em anos, meses ou
dias. Já os dados discretos são utilizados com números que contam e não medem. São utilizados
números inteiros apenas. Por exemplo, a quantidade de alunos em uma sala sempre será um
número inteiro.

INFORMAÇÕES CONTEXTUALIZADAS
A informação é uma espécie de conjunto de dados contextualizados. Isto é, os dados brutos ou
isolados só ganham significado ou se transformam em informações a partir da experiência do
pesquisador e do que ele almeja obter nesse processo. Sendo assim, a partir dos objetivos da
PENSAMENTO CIENTÍFICO 89
pesquisa definidos pelo pesquisador, os dados são organizados de forma a constituírem
informações.

A informação, por exemplo, é fabricada a partir da experiência dos indivíduos e de acordo com
suas preferências. Muitas vezes ela aparece atrelada a um contexto de aplicação. Nesse sentido, o
olhar do pesquisador sobre os dados definirá a aplicabilidade das informações. Por exemplo, pode
ser que em uma pesquisa sobre a obesidade, a coleta de dados sobre a cor dos olhos do público
analisado não seja relevante, assim, para essa pesquisa o dado “cor dos
olhos” não terá nenhuma significação e será descartado. Por outro lado, os dados sobre as idades
ou gênero do público podem ser úteis quando cruzados com outras informações.

Já o conhecimento provém de uma sábia utilização das informações. Essa tarefa também é
influenciada da experiência e perspectiva do pesquisador, muitas vezes pessoas diferentes
produzem conhecimentos diferentes. Dado, informação e conhecimento são muito valiosos para
nossa compreensão de mundo.

REFLITA
Você já se deparou com a percepção de que quanto mais nos aprofundamos em um assunto, muitas
vezes as coisas se tornam cada vez mais abstratas e deslocadas da realidade? Ao refletirmos sobre o
papel do pesquisador e as metodologias científicas, vemos, entretanto, que por mais abstrata que a
pesquisa possa parecer, ela tem a função de interpretar a realidade que vivemos a partir de nossas
necessidades. Além disso, a todo momento o pesquisador é convocado a tomar decisões que
refletem sua experiência e bagagem profissional. Em sua visão, a investigação científica pode ser
considerada uma prática social de conhecimento?

INDICADORES PONDERADOS
Frequentemente, os dados coletados de pesquisas não são exatamente representativos da
população-alvo. A ponderação é uma técnica estatística que pode ser usada para corrigir quaisquer
desequilíbrios nos perfis de amostra após a coleta de dados. Imagine que temos uma população-
alvo dividida igualmente por gênero. Se entrevistarmos uma amostra de 400 pessoas nessa
população, dos quais 300 são homens e 100 mulheres, saberemos que nossa amostra representa
mais homens. Ponderar os dados resultantes pode nos ajudar a corrigir esse desequilíbrio.

As proporções desejadas para homens e mulheres são 50%. A proporção de homens, portanto,
precisaria ser “reduzida” de 75% (300 em 400 entrevistas) para 50%, enquanto a proporção de
mulheres precisaria ser “ponderada” de 25% para 50%. Nesse caso, a ponderação multiplicaria as
entrevistas com as mulheres por 2, de modo que a resposta feminina fosse ampliada nos dados. Por
exemplo, na questão de gênero, temos 100 pessoas respondendo do sexo feminino, mas após a
ponderação, isso se torna 200, pois os dados "feminino" são contados duas vezes.

As entrevistas com homens precisam ser correspondentemente reduzidas. Nesse caso, precisamos
obter 300 respostas para contar efetivamente como 200, portanto, multiplicamos as respostas
masculinas por dois terços. Antes de ponderar, tínhamos 300 homens codificados na questão de
gênero. A multiplicação por dois terços nos dá 200 homens, igualando o número de respostas
femininas após a ponderação.

Os números usados para multiplicar as respostas de cada proporção da amostra são chamados de
fatores de ponderação. Normalmente, a ponderação é usada para combinar o perfil da população
em mais de uma variável para obter uma amostra mais representativa possível. Por exemplo, para
obter uma amostra representativa da população de um país,
podemos ponderar uma série de variáveis demográficas, como sexo, idade, região e nível social.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 90
A ponderação pode alterar a estrutura de seus dados de maneira negativa, portanto, é necessário
cautela ao aplicá-la. Não é aconselhável, por exemplo, aumentar o peso de pequenos grupos de
entrevistados para que representem uma proporção significativa da amostra total, pois isso
significa que os resultados da pesquisa são desproporcionalmente afetados por uma pequena
minoria de entrevistados.

Há inúmeros recursos estatísticos de ponderação. A média ponderada é um dos indicadores de


ponderação. Nos cálculos em que se utiliza a média aritmética simples, todos os valores têm o
mesmo peso ou importância. Ponderar significa pesar, então, na média ponderada, multiplicamos
cada valor por um peso que expressa sua importância relativa. Em geral, calcula- se a média
aritmética ponderada da seguinte maneira: soma-se os produtos dos valores pelos seus pesos e
depois divide-se esse resultado pela soma dos pesos.

EXEMPLIFICANDO
Suponha que você tenha prestado um concurso em que as disciplinas da prova detinham pesos
diferentes. As disciplinas eram Português, Matemática, Informática e Direito Administrativo, cada
disciplina tinha o respectivo peso 3, 3, 2 e 2. Ao olhar o resultado preliminar, você constata que
acertou 8 em Português, 7 em Matemática, 5 em Informática e 4 em Direito Administrativo.

Dessa maneira, o cálculo da sua nota é a média ponderada desses valores. Sendo assim, no
numerador temos:
No denominador temos os pesos: 3 + 3 + 2 + 2 = 10. Assim, a divisão de 63/10 dá 6,3 como sua
média ponderada e nota final.

Nesta seção, você aprendeu a diferenciar informação, dados e conhecimento. Aprendeu também as
diferentes classificações dos dados e soube da importância de saber aplicá-los à sua pesquisa. O
tratamento dos dados é uma das partes mais importantes na apresentação dos resultados da
pesquisa, pois ainda que sua pesquisa possa trazer avanços significativos, um tratamento deficiente
dos dados pode colocar tudo a perder.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1
Existe uma diferença entre dados e informações. Dados são os fatos ou detalhes dos quais as
informações são derivadas. Dados individuais raramente são úteis sozinhos.
Para que os dados se mostrem úteis, eles precisam passar pelo processo de:

a. Contextualização.
b. Pressurização.
c. Experimentação.
d. Apropriação.
e. Automatização.

Questão 2
Dados são fatos brutos e desorganizados que precisam ser processados. Os dados podem ser algo
simples, aparentemente aleatório e inútil até que sejam organizados.
Os dados podem ser classificados de diferentes maneiras. Assinale a alternativa que apresenta uma
forma correta de classificação de dados qualitativos.

a. Contínuo.
b. Discreto
c. Nominal.
d. Organizacional.
e. Cardinal.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 91
Questão 3
Esses dados assumem valores em um intervalo constante de números. Em geral, este tipo de dado
é proveniente de medições de uma característica da qualidade de uma peça ou produto. Os
possíveis valores incluem "todos" os números do intervalo de variação da característica medida.
Assinale a alternativa que apresenta o tipo correto de dado que o texto se refere.

a. Dados contínuos.
b. Dados discretos.
c. Dados nominais.
d. Dados ordinais.
e. Dados intercalares.

REFERÊNCIAS
ACKOFF, R. L. Ackoff’s Best. John Wiley & Sons, New York, 1999, p. 170-172.

BURCH, S. Sociedade da informação/sociedade do conhecimento. In: AMBROSI, A.; PEUGEOT, V.;


PIMENTA, D. Desafios das palavras. Paris: C&F Editions, 2005. Disponível em: https://bit.ly/3kJgJXr.
Acesso em: 28 jan. 2021.

BUSSAB, W. O.; MORETIN, P. A. Estatística básica. 4. ed. São Paulo: Atual Editora, 1987.. Acesso em: 28
jan. 2021.

MAGALHÃES, M. N.; LIMA, C. P. Noções de probabilidade e estatística. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2001.

QUAIS FATORES PODEM INTERFERIR EM UMA ANÁLISE?

SEM MEDO DE ERRAR


Você é contratado por uma indústria automobilística para sanar os problemas de um dos produtos
de sua linha de produção. Ao analisar o caso, você mapeia três tipos de problema e a frequência
com que eles aparecem, tal como indica a Tabela.

Para a elaboração da tabela, os dados apresentados na variável “A” devem ser qualitativos
nominais, pois para cada item do produto você verificou um defeito A, B ou C. Todos os defeitos
possuem o mesmo grau de severidade, afinal, qualquer um deles afeta a qualidade de produção.
Sendo assim, não há uma ordem entre eles e, portanto, tais dados podem ser considerados
qualitativos nominais.

AVANÇANDO NA PRÁTICA SUBTÍTULO DE CONTEÚDO


Imagine que você trabalha em um grande hospital como pesquisador e a sua equipe médica está
conduzindo uma pesquisa sobre fatores de internação e está interessada em saber quantas pessoas
internadas naquele estabelecimento têm diabetes. Sua equipe faz um levantamento com 7 grupos
de 50 pessoas cada. A Tabela a seguir representa um resumo dos dados coletados.

Tabela | Resumo do número de pessoas com diabetes.

Nº de Pessoas com Diabetes Grupos


5 1
6 2
7 3
8 4
9 5
10 6
11 7

PENSAMENTO CIENTÍFICO 92
Considerando o contexto apresentado, avalie se os dados da variável “nº de pessoas com diabetes”
são nominais, ordinais, contínuos ou discretos. Além disso, justifique sua resposta.

RESOLUÇÃO
No hospital que você trabalha, sua equipe médica conduziu uma pesquisa sobre fatores que levam
à internação, mapeando quantas pessoas internadas naquele estabelecimento possuem diabetes.
Ao avaliar a tabela apresentada por seus colegas, você deve ter identificado que a variável “nº de
pessoas com diabetes” traz valores quantitativos discretos, porque a quantidade de pessoas com
diabetes é contada e, portanto, assume valores inteiros, configurando um caso de dado
quantitativo discreto.

UNIDADE 04 SEÇÃO 3

COMO TRADUZIR PESQUISAS PARA A PRÁTICA PROFISSIONAL?

PRATICAR PARA APRENDER


Caro estudante,

Veja como a ciência está na vida cotidiana. Alimentos, celulares, refrigeradores, GPS,
computadores, televisores, medicamentos, vestimentas, políticas públicas – a ciência está por trás
de todos eles. A cada dia surge um novo produto ou conhecimento a partir das pesquisas científicas
e de seu aprimoramento. Pela importância que a ciência detém na nossa sociedade, ela passou a ser
considerada um bem público.

Seja para o nosso consumo ou para nossa prática profissional, o conhecimento científico é muito
valioso. É possível aplicar o método científico para contextos amplos, como em negócios e
empresas. A mentalidade científica aplicada ao ambiente profissional contribui para a inovação,
criatividade e resolução de problemas.

Com a velocidade de produção do conhecimento científico cada vez maior, também é importante
ficar atento aos novos métodos, procedimentos e conhecimentos na sua área profissional. Assim,
ser um bom profissional hoje em dia, em qualquer área, exige estar atualizado quanto ao que de
novo é produzido.

Convido você a conhecer as modalidades da formação continuada que auxiliam nessa atualização
profissional.

Você é contratado por uma empresa automobilística para a elaboração de um projeto de melhoria
de uma peça metálica defeituosa. A equipe de profissionais aplica o método científico do início ao
fim dos estudos. A análise inicial aponta que:

A peça metálica possui um grande risco em um dos seus componentes.


Foi constatado que a máquina responsável pela manufatura estava suja durante a produção do
componente.
A hipótese básica elaborada pelos pesquisadores é que o risco pode ter sido proveniente da sujeira
da máquina.
Considerando o contexto apresentado, esboce as próximas etapas do estudo utilizando o método
científico, incluindo a predição da hipótese, experimentação e possíveis resultados.

Os benefícios da ciência não são apenas para os cientistas, mas para toda a humanidade. – Louis
Pasteur.

CONCEITO-CHAVE
PESQUISA TRAZENDO AVANÇOS NA PRÁTICA
PENSAMENTO CIENTÍFICO 93
Além de sanar a curiosidade humana, a ciência é importantíssima para achar soluções aos
problemas que a humanidade enfrenta. A ciência, tecnologia e inovação se consagraram como
fundamentais para o desenvolvimento da sociedade em muitos aspectos, como educação,
crescimento econômico, geração de emprego e renda. Por essa razão, investir em ciência se tornou
uma necessidade pelo seu diferencial competitivo. No mundo todo, a pesquisa científica
possibilitou enormes avanços na saúde, alimentação, produção de energia, entre outros setores.
Isso porque uma das suas características é a capacidade de produzir inovações, de especial
interesse no contexto empresarial, ambiental ou econômico.

A inovação pode agregar valor em produtos de uma empresa, diferenciando-os, promovendo


vantagens competitivas, mesmo que momentaneamente. Em mercados competitivos como de
commodities, ela é ainda mais fundamental. Aqueles que conseguem inovar neste contexto ficam
em posição de vantagem em relação aos demais, alavancando suas vendas e seus lucros,
permitindo o acesso a novos mercados ou até mesmo novos modelos de negócio.

Atualmente, pela importância que desempenha na sociedade, a pesquisa científica é vista como um
bem público. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 reserva os artigos 218 e 219 para a
promoção da pesquisa e da capacidade tecnológica (BRASIL, 1988). O desenvolvimento de
qualquer país está diretamente ligado à aplicação de investimentos nesse setor. As pesquisas
científicas não só produzem produtos e inovação, mas também auxiliam na busca por soluções
definitivas para problemas relacionados a políticas públicas de Estado, como o combate à pobreza,
educação desigual, melhora da educação, melhora da saúde etc.

Os investimentos em ciência podem ser feitos em duas dimensões complementares: a ciência


básica e a ciência aplicada. A ciência básica produz conhecimento que alimenta os processos de
inovação, como carros, máquinas de raios-X, computadores, vacinas, etc. Ela é feita a longo prazo,
de modo que não se esperam retornos financeiros de forma imediata. Já a ciência aplicada estuda
formas de aplicação do conhecimento científico em benefício da sociedade, buscando a solução de
problemas práticos, visando uma utilidade econômica e o desenvolvimento tecnológico.

Assim, enquanto a ciência básica produz conhecimentos novos, a ciência aplicada reinterpreta
esses conhecimentos com uma finalidade pragmática. Ambas são complementares e muito
importantes para o avanço científico. Todavia, a pesquisa básica é muitas vezes negligência pela
demora de trazer resultados. Não há como esperar inovação sem o investimento em pesquisa
básica.

As pesquisas trazem implicações para questões que enfrentamos, das mais básicas às mais
complexas. O simples ato de lavar as mãos é um hábito fruto do avanço do conhecimento científico.
Há 150 anos, não era um ritual comum, inclusive pelos médicos, mas a partir da teoria microbiana
desenvolvida pelos biólogos, se constatou que a lavagem das mãos evitava infecções e sua
propagação.

Uma pessoa nascida no final do século 18, morreria sem completar os 40 anos de idade. Todavia,
alguém que nasce hoje provavelmente poderá viver até os 70 anos, no mínimo. Diversos fatores
decorrentes dos avanços científicos são responsáveis por isso, como o avanço na prevenção e no
combate das doenças, o desenvolvimento da produção de alimentos, a melhora nas condições de
trabalho e redução da carga horária de trabalho, etc. Tudo isso foi construído durante os séculos
através de pesquisas científicas.

Uma visão científica de mundo ainda pode proporcionar outros benefícios que podem ser
utilizados no dia a dia. Utilizar o raciocínio científico, buscar evidências, elaborar soluções da
mesma forma que o cientista, pode ajudá-lo a resolver problemas cotidianos, inclusive na prática
profissional, como a melhoria de processos administrativos ou de engenharia, por exemplo.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 94
ASSIMILE

Commodities são produtos que funcionam como matéria-prima e indiferenciados, que não há
diferença em função do produtor, produzidos em larga escala. São exemplos de commodities: soja,
milho, minérios, petróleo, café.

FORMAÇÃO CONTÍNUA
A formação é o motor de evolução da carreira profissional de qualquer pessoa. Atualmente, a
formação contínua ganhou força, dada a rapidez que o conhecimento científico se desenvolve.

A formação contínua envolve um processo de constante aprimoramento e um esforço contínuo de


atualização dos saberes necessários à área de atuação profissional. Para ser um bom profissional é
necessário estar atento à atualização do conhecimento aprendido. Cursos de atualização e
especialização complementam a formação obtida no ensino superior, ampliando ideias já
adquiridas, modificando-as e propondo novos conceitos.

À medida que as teorias de uma área de estudo vão sendo testadas, novas linhas de pesquisa e
conclusões surgem, abrindo novos caminhos e formas de aplicar esses conhecimentos, com
técnicas aprimoradas, mais eficientes, etc. A pós-graduação é a modalidade de ensino que abarca
as especializações ministradas presencialmente ou a distância, ela serve para alavancar a carreira,
proporcionando muitas vezes melhores salários e cargos de liderança no mercado de trabalho.

Existem diversos tipos de pós-graduação, são alguns deles:

Especialização: é um tipo que enfoca no nível técnico profissional, fornecendo o título de


especialista no campo de estudo e objetiva o aprofundamento dos conhecimentos da sua área de
formação, fazendo o direcionando da graduação. Para obter o título de especialista, é necessário a
entrega de uma monografia.

Aperfeiçoamento: são similares às especializações, com a diferença que dispensam os requisitos


gerais das especializações, não exigindo a entrega de monografia.

MBA: o significado da sigla é Mestre em Administração de Negócios e é voltado para a atuação


profissional, com foco na área de negócios e administração. Compreendido muitas vezes como uma
especialização do ramo corporativo. O trabalho final é sempre feito com ênfase na prática, na
realidade das corporações.

Mestrado acadêmico – Stricto Sensu: esse tipo de pós-graduação tem o período fixo de dois anos e
é voltado para a pesquisa cientifica. O seu objetivo é aprofundar e direcionar os conhecimentos
obtidos na graduação e formar pesquisadores e professores de ensino superior. Ele conta com a
supervisão de um orientador e exige defesa de uma dissertação para a obtenção do título de
mestre.

Mestrado profissional: possui as mesmas exigências que o acadêmico, todavia têm como foco o
desenvolvimento de técnicas e estudos voltados ao mercado de trabalho.

Doutorado: objetiva um aprofundamento maior que o mestrado e também é voltado para a


pesquisa científica. Esse tipo de formação leva quatro anos e exige a elaboração de uma tese sobre
uma área a ser defendida como requisito para obtenção do título. Essa tese, em geral, deve possuir
um conteúdo original que contribuía com o avanço do campo de estudos.

REFLITA

PENSAMENTO CIENTÍFICO 95
Dada a rapidez como o conhecimento é produzido hoje em dia, em sua visão, por que ser um
profissional atualizado no mercado de trabalho? Quais os diferenciais competitivos que esse
profissional ganha com a formação continuada?

CIÊNCIA DO COTIDIANO
Os avanços da ciência trouxeram muitas mudanças na vida cotidiana, são inúmeros os exemplos:
meios de comunicação rápida, computadores, celulares, eletricidade, máquinas, carros, vacinas,
tratamentos, cirurgias, medicamentos, entretenimento, internet, etc. Imagine como era o mundo
sem muitas dessas invenções. Tais avanços mudaram completamente nossos hábitos, aumentou a
velocidade da vida, ampliou nossas ocupações, os limites de nossas curiosidades, as formas de lazer
e o conforto que jamais foram sonhados por nossos antepassados.

Nossa alimentação, vestimenta, higiene devem muito ao conhecimento científico acumulado


durante séculos. Esse conhecimento ajudou a humanidade de diversas formas, contribuindo
inclusive para manutenção da espécie, ao diminuir e até mesmo erradicar doenças consideradas
graves que já mataram muitas pessoas, colaborando para a duplicação da expectativa de vida em
diversos países.

Desde os tempos da revolução industrial, no século XVIII, houve enormes esforços para baratear
uma série de matérias-primas como aço, vidro, cobre, que seriam utilizadas em novos processos de
fabricação e de geração de energia. A partir desse contexto, o aumento crescente das indústrias, a
expansão das telecomunicações e o avanço da medicina trouxeram para a ciência uma dimensão
global (MACHADO, [s.d]).

Atualmente, estamos no desenvolvimento de uma quarta revolução, a da informação (SCHWAB,


2016). Muitos artefatos, recursos, processos de organização estão migrando para o ambiente
virtual. Desde a comunicação até moedas virtuais, tudo a partir do avanço das áreas de
biotecnologia, computação, nanotecnologia, robótica, quântica, etc. Nesse processo, surgem novas
necessidades e ferramentas que auxiliam em nossas atividades diárias. Se hoje a sociedade desfruta
diariamente de todos os benefícios dessas inovações é em decorrência do investimento de recursos
públicos e privados no financiamento das pesquisas científicas.

Sendo assim, a ciência deixou de ser um empreendimento de poucos para ser parte integrante do
nosso dia a dia. Matemática, Biologia, Química não são disciplinas meramente abstratas, são
conhecimentos que ancoram nossas principais ferramentas, utensílios, conhecimento e recursos
diários. A mesa em que estuda, o papel em que lê, a casa, o avião, praticamente tudo está ancorado
direta ou indiretamente em conhecimento científico.

EXEMPLIFICANDO
Pode parecer estranho nos dias de hoje, mas um século atrás a notícia de que você ou um familiar
seu tinha diabetes era praticamente uma sentença de morte. Foi graças à descoberta da insulina,
em 1921, por Frederick Banting e Charles Best que possibilitou a criação de um
tratamento, permitindo que os diabéticos tivessem uma vida normal (PIRES e CHACRA, 2008).
Graças à ciência, uma pessoa com diabetes, nos dias de hoje, tem a expectativa de vida equiparável
a de uma pessoa saudável.

APLICANDO NOVOS CONHECIMENTOS NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL


Atualmente é crescente a preocupação para se adotar uma mentalidade científica na prática
profissional. Toda profissão requer uma ampla e diversificada gama de habilidades. Os cientistas
têm habilidades e maneiras de trabalhar que são relevantes e transferíveis para problemas fora da
ciência.

Você se lembra como funciona o método científico. Iniciamos com um problema de pesquisa que
pode ser tanto uma lacuna no conhecimento quanto um problema real que precisa ser solucionado.
PENSAMENTO CIENTÍFICO 96
Na prática profissional, muitas vezes encontramos problemas que precisam ser explicados e
solucionados, seja um processo que não funciona como deveria, um produto defeituoso, uma
logística ou gestão ineficiente.

Começamos sempre elaborando uma hipótese. A hipótese deve indicar e explicar a causa do
problema trabalhado. Além disso, é muito importante que da hipótese derive-se predições. Tais
predições são maneiras de solucionar o problema que serão testadas, a fim de verificar qual traz a
melhor solução. É importante que, sendo pesquisador ou não, você explicite qual hipótese é, em
sua visão, a mais explicativa. Além disso, também é essencial ter mais de uma hipótese para qual
você irá recorrer caso a sua hipótese básica seja descartada.

Vamos dar um exemplo prático. Uma empresa preocupada com a baixa produtividade dos
funcionários busca meios de alcançar uma melhoria nesse aspecto. A hipótese inicial é a de que a
baixa produtividade está relacionada a uma motivação deficiente por parte dos funcionários. A
empresa pode, a fim de testar sua hipótese, implementar uma política de incentivos salariais e
progressão salarial por produtividade. Durante um período de tempo, pode-se observar se a
motivação dos funcionários aumentou ou não através de levantamentos e entrevistas. A partir
disso, busca-se encontrar uma correlação entre maior motivação e produtividade. Em caso de
negativa, a hipótese deve ser reformulada.

Vemos então que podemos incorporar uma mentalidade científica à nossa prática profissional por
meio da aplicação do raciocínio científico. Temos pelo menos três atitudes que contribuem para o
pensamento científico e podem ser aplicadas a contextos mais amplos.

Questionar sempre: os cientistas precisam ser céticos. Como seus colegas de negócios e da
indústria, eles também devem inovar. À medida que questionam o estabelecido, os cientistas
inovam, surgem novos produtos, designers, áreas. Inovação e questionamento andam juntos. Na
prática, pense se determinado processo é o mais adequado, se existiria outra forma de aumentar
sua eficiência. A atitude de curiosidade e ceticismo diante da vida são fundamentais para a
inovação.
Competitividade colaborativa: os melhores cientistas competem e colaboram prontamente uns
com os outros. Alguém em um campo ou organização diferente pode ter a chave para
desvendar o problema no qual está trabalhando. Quando os problemas ficam difíceis, os cientistas
querem formar a melhor equipe, mesmo que o parceiro seja um competidor feroz. Observe que
muitos problemas não podem ser resolvidos isoladamente. Em muitos casos, a elaboração de uma
equipe ou a colaboração de outras pessoas é necessária para desenvolver a solução de um problema
complexo.
Colabore como um cientista.
Não ter medo de problemas: o negócio do cientista é o desconhecido. Muitas vezes é necessário
encarar o desconhecimento, o difícil e o incerto. Para o cientista, o desconhecido é uma
oportunidade a ser perseguida e não evitada. Nesse sentido, quando surgem problemas, deve-se
racionalizar: divida o problema em hipóteses menores a serem testadas. Avalie as probabilidades e
a inter-relação entre os fatores que afetam a causa do problema. É importante construir uma
equipe que saiba lidar com a incerteza e volatilidade do conhecimento.
Incorporar um pensamento científico sólido às decisões do dia a dia na prática profissional pode
ajudar a inovação, ao estimular o pensamento ousado e criativo. Uma mentalidade científica
apreende o mundo de uma forma sistemática: comece com alguma pergunta geral baseada em sua
experiência; formule uma hipótese que resolveria o quebra-cabeça e que também gere uma
previsão testável; reúna dados para testar sua previsão; e, finalmente, avalie sua hipótese em
relação às hipóteses concorrentes.

No entanto, muitas vezes, precisamos agir em estado de ignorância parcial, com pouco ou nenhum
conhecimento acumulado sobre o assunto. Nesses casos em que não podemos testar nossas

PENSAMENTO CIENTÍFICO 97
hipóteses, o método científico nos ensina a não inferir muito de qualquer resultado. Às vezes, a
única resposta verdadeira é que simplesmente não sabemos.
O método científico é instrutivo, não para extrair respostas, mas para destacar os limites do que
pode ser conhecido. Uma mente científica deve sempre permanecer cética sobre o que sabe. Seja
cético em relação aos dados por todos os meios, mas também seja cético em relação a explicações
plausíveis, sabedoria convencional, ideologias inspiradoras, anedotas convincentes e, acima de
tudo, sua própria intuição. O resultado não deve ser uma paralisia total, nem uma adesão servil aos
dados, muito menos excluir a criatividade ou a imaginação. Em vez disso, deve nos levar a um
mundo mais racional e baseado em evidências.
Nesta seção você refletiu sobre a presença e a importância da ciência na vida cotidiana, o modo
como a produção científica revolucionou as relações sociais, os hábitos e as necessidades de grande
parte da humanidade. A ciência se destaca não só por seus feitos, mas por ser uma maneira de
pensar. O pensamento científico, ao induzir a criatividade e inovação, se mostra importante até
mesmo para os negócios.

FAÇAVALER A PENA
Questão 1
A ciência e seus frutos são muito úteis para a sociedade de forma em geral, mas ela não é reduzida
ao trabalho em laboratórios. Na verdade, o pensamento científico pode ser aplicado a contextos
mais amplos.
Assinale a alternativa que contém um exemplo de contexto em que é possível aplicar o método
científico.
a. Relacionamentos.
b. Administração de negócios.
c. Crítica de cinema.
d. Avaliação artística.
e. Tratado filosófico.
Questão 2
É uma modalidade de formação continuada que visa o aprofundamento na área de formação, exige
a entrega de uma dissertação e tem o período de 2 anos.
Assinale a alternativa que apresenta a modalidade que o texto se refere.

a. Especialização.
b. Aperfeiçoamento.
c. Mestrado.
d. Doutorado.
e. Pós-doutorado.
Questão 3
Hoje em dia, dada a velocidade em que o conhecimento é produzido, mesmo as pessoas recém-
formadas necessitam de atualização profissional. Essa atualização pode ser obtida com programas
de formação continuada.
Assinale a alternativa que contém um dos principais benefícios da formação continuada:
a. Garantia de empregabilidade.
b. Diferencial competitivo.
c. Mudança de escolaridade.
d. Publicação de uma tese.
Contato com pesquisadores de outras áreas.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição Federal. Presidência da República, v. 1, 1988.
MACHADO, F.. Revolução Industrial - Evolução tecnológica transforma as relações sociais. Pedagogia &
Comunicação. UOL Educação. [s.d]. Disponível em: https://bit.ly/2PzGZrL. Acesso em: 5 fev. 2021.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 98
PASTERNAK, N.; ORSI, C. Ciência no cotidiano: Viva a razão. Abaixo a ignorância! São Paulo: Editora
Contexto, 2020.
PIRES, A. C.; CHACRA, A. R. A evolução da insulinoterapia no diabetes melito tipo 1. Arquivos Brasileiros
de Endocrinologia & Metabologia, v. 52, n. 2, p. 268-278, 2008.
COMO TRADUZIR PESQUISAS PARA A PRÁTICA PROFISSIONAL?
SEM MEDO DE ERRAR
Você foi contratado por uma empresa a fim de promover melhorias na produção de uma peça
metálica. Aplicando o método científico do início ao fim dos estudos, você tira algumas conclusões
e elabora um teste de hipótese baseado em duas observações: I. A peça metálica possui um grande
risco em um dos seus componentes. II. Foi constatado que a máquina responsável pela manufatura
estava suja durante a produção do componente. Sua hipótese básica pode ser a de que o risco foi
ocasionado pela sujeira da máquina. Com base nessa hipótese, temos de elaborar um teste para
que ela seja corroborada ou falseada.
Intuitivamente, a predição é que após a máquina ser limpa, não irá ocorrer mais riscos. Assim, a
experimentação será feita em um ambiente controlado com a utilização de uma máquina em
condições semelhantes àquela inicial que passe por uma limpeza padronizada. Após esse
procedimento, deve-se verificar em uma certa amostragem, como em uma amostragem de 1.000
peças, se há algum risco semelhante ao reportado inicialmente.

Após a realização dos testes, inicia-se a análise dos dados e resultados. Alguns dos resultados
possíveis podem ser:

O risco sumiu em todas as peças e ao final da produção a máquina estava limpa.


O risco não sumiu em todas as peças e ao final da produção a máquina estava suja. O risco não
sumiu em todas as peças e ao final da produção a máquina estava limpa. A análise aponta que se o
resultado for A, então provavelmente a hipótese pode ser corroborada.

Caso o resultado seja B, então a máquina está se sujando durante a produção e produzindo o risco
em algumas peças. Se C for verdadeiro, então a sujeira pode não ser a causa dos riscos, ainda que
possa ser um efeito secundária da causa.
Caso B seja verdadeira, precisamos reformular as hipóteses. A nova hipótese para B, pode ser: a
máquina está se sujando durante o processo e a sujeira é responsável pelo defeito.
Assim, o novo teste de predição poderia ser a elaboração de um novo procedimento que limpe a
máquina durante o seu funcionamento.
Caso C: seja verdadeira, também precisamos reformular as hipóteses. A nova hipótese para C
depende do levantamento de outras possíveis causas para o defeito da máquina, uma vez que a
sujeira é, nesse caso, descartada como agente causador do risco. Ela pode ser um efeito secundário
do mal funcionamento ou estar relacionada com a manutenção de outro componente que foi
corrigido durante a limpeza.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
PENSAMENTO CIENTÍFICO APLICADO AOS NEGÓCIOS
O diretor do RH de uma empresa elabora um novo treinamento para os funcionários com uma
metodologia de ensino que se baseia no pensamento científico. O objetivo desse treinamento é
promover entre os funcionários a criatividade, a inovação, o espírito colaborativo e uma maneira
mais produtiva de lidar com os desafios. Para auxiliá-lo, você deve indicar quais possíveis
fundamentos e pilares que esse treinamento deve ter, visando o alcance dos objetivos definidos
pelo diretor.

RESOLUÇÃO

PENSAMENTO CIENTÍFICO 99
Para a situação problema em questão, a partir da aplicação do pensamento científico à esfera
profissional, temos pelo menos três posturas que podem ser incentivadas no treinamento a serem
adotadas pelos funcionários da empresa. São elas:

Questionar sempre: os cientistas precisam ser céticos. Como seus colegas de negócios e da
indústria, eles também devem inovar. À medida que questionam o estabelecido, os cientistas
inovam, surgem novos produtos, designers, áreas. Inovação e questionamento andam juntos.
Competitividade colaborativa: os melhores cientistas competem e colaboram prontamente uns
com os outros. Em muitos casos, a elaboração de uma equipe ou a colaboração de outras pessoas é
necessária para desenvolver a solução de um problema complexo.

Não ter medo de problemas: para o cientista, o desconhecido é uma oportunidade a ser perseguida
e não evitada. Nesse sentido, quando surgem problemas, deve-se racionalizar: dividir o problema
em hipóteses menores a serem testadas, avaliar racionalmente as probabilidades e a inter-relação
entre os fatores causadores do problema.

PENSAMENTO CIENTÍFICO 100

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