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GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA

SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA – SESAB


SUPERINTENDÊNCIA DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE – SAIS
DIRETORIA DE GESTÃO DO CUIDADO – DGC
COORDENAÇÃO DE POLÍTICAS TRANSVERSAIS – CPT
ÁREA TÉCNICA DE SAÚDE BUCAL – ATSB

NOTA TÉCNICA 001/2020

Assunto: Implantação de Apoio Matricial – Componente da Atenção Especializada – Rede de


Cuidados da Pessoa com Deficiência.

APRESENTAÇÃO

A Portaria GM nº 793/2012, que institui a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (RCPD), se
apresenta como um novo marco na atenção integral a essa população no Sistema Único de Saúde. A
RCPD é composta por pontos de atenção situados em três componentes: I – Atenção Básica; II –
Atenção Especializada em Reabilitação; III – Atenção Hospitalar e Urgência e Emergência.
Os diversos pontos de atenção da RCPD serão articulados entre si, de forma a garantir a
integralidade do cuidado e o acesso regulado a cada ponto de atenção e/ou aos serviços de apoio,
observadas as especificidades inerentes e indispensáveis à garantia da equidade na atenção a estes
usuários, quais sejam:
I – acessibilidade;
II – comunicação;
III – manejo clínico;
IV – medidas de prevenção da perda funcional, de redução do ritmo da perda funcional e/ou da
melhora ou recuperação da função; e
V – medidas da compensação da função perdida e da manutenção da função atual.
No que se refere ao Componente II – Atenção Especializada em Reabilitação, a legislação sinaliza a
importância do estabelecimento de fluxos e práticas de cuidado à saúde de forma contínua,
coordenada e articulada entre os diferentes pontos de atenção da rede em cada território, com a
realização de ações de apoio matricial na Atenção Básica, no âmbito da Região de Saúde de seus
usuários, compartilhando a responsabilidade com os demais pontos da Rede de Atenção à Saúde.
Dessa forma, os Centros Especializados em Reabilitação (CER) e Centros de Especialidades
Odontológicas (CEO) devem incorporar nos seus processos de trabalho ações de apoio matricial
que se destinem a ampliar a comunicação e integração entre os serviços, assim como
instrumentalizar os profissionais para a ampliação da resolutividade da Atenção Básica no cuidado
às pessoas com deficiência neste âmbito de atenção.

O QUE É APOIO MATRICIAL?

O apoio matricial em saúde objetiva assegurar retaguarda especializada a equipes e profissionais


encarregados da atenção a problemas de saúde. Trata-se de uma metodologia que se propõe a
superar a comunicação centrada nos mecanismos de referência e contra-referência, protocolos e
centros de regulação, ou seja, pretende tornar direto o contato entre os profissionais dos diferentes
pontos de atenção (CAMPOS; DOMITTI, 2007).
O apoio matricial pretende oferecer tanto retaguarda assistencial quanto suporte técnicopedagógico
às equipes de referência. A equipe ou profissional de referência têm a responsabilidade pela
condução de um caso individual, familiar ou comunitário. Os apoiadores matriciais são
especialistas em uma determinada área que compartilham ações e saberes com os profissionais de
referência.
Na implantação do Apoio Matricial da RCPD, os profissionais dos CER e dos CEOs serão os
apoiadores matriciais, enquanto que os da Atenção Básica serão considerados como os
profissionais de referência.
A composição da equipe de referência e a criação de especialidades em apoio matricial buscam criar
possibilidades para operar-se com uma ampliação do trabalho clínico e do sanitário, já que se
considera que nenhum especialista, de modo isolado, poderá assegurar uma abordagem integral
(CAMPOS; DOMITTI, 2007).
A atenção às pessoas com deficiência esteve historicamente centrada em Centros de Reabilitação, o
que promoveu, muitas vezes, a desresponsabilização das Equipes de Atenção Básica do cuidado às
pessoas com deficiência, pois havia um imaginário de que quaisquer intervenções destinadas a essa
população deveria ser realizada por profissionais especializados. Nesse sentido, rotineiramente,
intervenções básicas de saúde, como por exemplo, a abordagem a uma exodontia simples ou a
realização de um exame ginecológico, são encaminhadas para serviços especializados, quando
poderiam ser realizadas nas unidades básicas de saúde.
Considerando a necessidade de romper com processos estigmatizantes no que se refere à atenção à
saúde da pessoa com deficiência, bem como a importância de que as intervenções a essa população
ocorram próximas ao seu domicílio e também a necessidade de ampliação da resolutividade da
Atenção Básica, destaca-se a importância da metodologia do apoio matricial para a transformação
desse quadro. Visto que essa metodologia possibilita a instrumentalização dos profissionais da
Atenção Básica a se sentirem mais aptos a oferecer atenção integral a essa população.

COMO IMPLANTAR O APOIO MATRICIAL?


Há duas maneiras para o estabelecimento desse contato entre referências e apoiadores (CAMPOS;
DOMITTI, 2007):
1) Realização de encontros periódicos e regulares – a cada semana, quinzena ou mais
espaçados – entre equipe de referência e apoiador matricial. Nesses encontros, objetiva-se
discutir casos ou problemas de saúde selecionados pela equipe de referência, elaborar
projetos terapêuticos e acordar linhas de intervenção para os vários profissionais
envolvidos. Além da discussão de casos, é possível realizar atendimentos ou visitas
domiciliares conjuntas entre apoiadores e equipes de referência.
2) Além desses encontros, em casos imprevistos e urgentes, em que não seria recomendável
aguardar a reunião regular, como na lógica dos sistemas hierarquizados, o profissional de
referência aciona o apoio matricial, de preferência por meios diretos de comunicação
personalizada (contato pessoal, eletrônico ou telefônico) e não apenas por meio de
encaminhamento impresso entregue ao paciente, solicitando algum tipo de intervenção ao
apoiador. Nessas circunstâncias, é possível acordar uma agenda após a avaliação da
gravidade do caso.
Para a implantação do Apoio Matricial, sugere-se a realização de algumas ações para que as equipes
de CER e CEO se estruturem:
1) Identificação das Unidades Básicas de Saúde que fazem parte do território de abrangência
do CER ou CEO;
2) Contato com as Unidades para estabelecimento de cronograma fixo para realização do apoio
matricial;
3) Realização de um primeiro encontro de apoio para apresentação dos profissionais,
levantamento de dúvidas e casos relativos à atenção às pessoas com deficiência;
4) Identificação de casos de pessoas com deficiência da área para discussão e acompanhamento
conjunto, com cronograma definido.
QUANDO SOLICITAR O APOIO MATRICIAL?

• Nos casos em que a equipe de referência sente necessidade de apoio para abordar e conduzir um
caso que exige, por exemplo, esclarecimento diagnóstico, estruturação de um plano de tratamento,
entre outros;

• Quando se necessita de suporte para realizar intervenções específicas da atenção primária;

• Para integração do nível especializado com a atenção primária no tratamento de pacientes, por
exemplo atualização de protocolos já instituídos;

• Quando a equipe de referência sente necessidade de apoio para resolver problemas relativos ao
desempenho de suas tarefas, como, por exemplo, dificuldades na abordagem de pacientes com
necessidades especiais, manejo de crianças e adolescentes ou qualquer situação cotidiana
considerada difícil pelo profissional.

• Qualquer outra situação definida pelas equipes da rede de atenção, nos seus protocolos locais
institucionalizados.

Observação: A operacionalização do apoio matricial envolve fatores que interferem na rotina dos
serviços, dentre eles: o deslocamento de profissionais para outras instituições e bloqueio de agendas
de atendimento à população. Portanto, quando houver a solicitação do apoio matricial, recomenda-
se seu registro em instrumentos institucionais passíveis de arquivamento, pois em caso de
auditorias, as equipes envolvidas terão a possibilidade de resguardar-se de possíveis sanções quanto
à questões trabalhistas. Além disso, para que a execução do apoio matricial seja efetiva, orienta-se o
diálogo entre gestão municipal e equipes envolvidas, com seus respectivos gestores, incluindo
também os pacientes e seus responsáveis, no caso em que estes estiverem diretamente implicados
no processo.

EXEMPLOS DE ESTRATÉGIAS PARA APOIO MATRICIAL

DISCUSSÃO DE CASO

A discussão de caso, além de constituir-se como ferramenta técnica em busca da resolutividade de


problemas, também caracteriza-se como instrumento pedagógico, promovendo a troca de
conhecimento e autonomia profissional. A discussão de caso também permite que a equipe de
referência amplie sua visão sobre o paciente, pois este como sujeito, é produto de um meio que
sofre influência de fatores que transcendem a dimensão biológica e a individual, portanto, é
necessária a comunicação entre os núcleos de saber pare melhor integralização do cuidado ofertado.

Para este tipo de estratégia, sugere-se o seguinte modelo para registro:

LOCAL: DATA: TURNO:


PARTICIPANTES: SERVIÇO DE ORIGEM:

... ...
RELATO DO CASO
Informações sobre o paciente. Sugere-se descrever aspectos sociais como condições de vida,
moradia, situação econômica, nível de escolaridade, relação com a família, rede de apoio,
principalmente quando forem pacientes com necessidades especiais, hábitos, fatores biológicos,
dentre outros.

MOTIVO DO APOIO MATRICIAL


Descrever quais causas ou dificuldades que culminaram para solicitação de apoio. Quais fatores
disparadores? Problema apresentado no atendimento pela pessoa ou família: opiniões dos
envolvidos, incluindo a equipe que realiza o acompanhamento, e sua história clínica, fator
desencadeante, manifestações sintomáticas, evolução, dentre outros.

DISCUSSÃO
Estratégias e ações já desenvolvidas pelo usuário e pelo solicitante do apoio matricial na oferta
de cuidado. Quais os avanços obtidos na terapêutica?

PLANO TERAPÊUTICO
Definição do plano terapêutico de maneira conjunta entre equipe do CEO, eSF, NASF, CER,
sempre que possível, integrado com o paciente ou quaisquer outros indivíduos que possam
contribuir para o cuidado, como exemplo: familiares, assistente social, professores. Importante
ainda, que no plano de tratamento estejam claros os pontos de atenção pelos quais o paciente
percorrerá, estimativa de tempo para finalização do tratamento e os profissionais envolvidos no
processo.

ENCAMINHAMENTOS
RELATOR(A) COORDENADOR(A)
CONSULTA COMPARTILHADA

O atendimento compartilhado pode ser executado em qualquer Ponto de Atenção da Rede, tanto
entre profissionais da mesma área de conhecimento, como exemplo: cirurgião – dentista da AB e
periodontista do CEO ou por profissionais de áreas de conhecimento distintas, como cirurgião-
dentista e enfermeiro, pois cada um pode ofertar a sua conduta dentro de cada núcleo do saber,
de forma a complementar um objetivo comum. No entanto, para utilizar esta ferramenta faz-se
necessário um planejamento prévio, no intuito de evitar que mesmo a consulta ocorrendo no mesmo
espaço haja fragmentação das práticas de cuidado.
Além de atuar na resolução direta do problema para o qual foi solicitada, a consulta compartilhada
promove capacitação da equipe de saúde para que os próprios profissionais consigam lidar com os
diferentes aspectos de pacientes que procuram a atenção especializada e a atenção primária.

Observação: É possível a utilização de ambas as estratégias de apoio matricial apresentadas acima.

ONDE E COMO REGISTRAR AS ATIVIDADES DE MATRICIAMENTO?


Algumas atividades não possuem código de registro específico para os sistemas de informação em
saúde, porém isso não inviabiliza o registro do apoio matricial. Desta forma, quando ocorrer
consulta compartilhada, discussão de caso, construções de projetos terapêuticos singulares, dentre
outros dispositivos de matriciamento, os profissionais envolvidos devem, minimamente, registrar no
prontuário do paciente; se a equipe preferir, o registro também poderá ser realizado em livro ata ou
serem lavrados relatórios das atividades.

Observação: É importante lembrar que casos clínicos escolhidos pela equipe para publicação em
revistas, eventos científicos ou para compartilhamento com fins de qualificação técnico-pedagógico,
precisam da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelo paciente ou seus
responsáveis.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde: Centro de Estudo e Pesquisa em Saúde Coletiva. Guia prático de
matriciamento em saúde mental / Dulce Helena Chiaverini (Organizadora) [et al.]. [Brasília, DF]:,
2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Atenção Básica. Diretrizes do NASF: Núcleo de
Apoio à Saúde da Família. 2009. 164 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Especializada à Saúde. Departamento de
Atenção Especializada e Temática. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Saúde
da Família. Guia de Atenção à Saúde Bucal da Pessoa com Deficiência. – Brasília: Ministério da
Saúde, 2019.
CAMPOS, G.W.S.; DOMITTI, A.C. Apoio matricial e equipe de referência: uma metodologia para
gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 2, 2007.

RESPONSÁVEIS PELA ELABORAÇÃO*:


Edição 2013
Fernanda Reis – Área Técnica de Saúde da Pessoa com Deficiência – SESAB/SAIS/DGC/CPT/ATSPD
Julie Eloy Kruschewsky – Área Técnica de Saúde Bucal – SESAB/SAIS/DGC/CPT/ATSB
Maria de Fátima Guimarães Varela – Área Técnica de Saúde Bucal – SESAB/SAIS/DGC/CPT/ATSB
* Contribuição de:
Rodolfo Pimenta – Cirurgião Dentista – Residente em Saúde da Família – Secretaria de Saúde do Estado da Bahia e
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.

Edição 2020
Fernanda Reis – Área Técnica de Saúde da Pessoa com Deficiência – SESAB/SAIS/DGC/CPT/ATSPD
Julie Eloy Kruschewsky – Área Técnica de Saúde Bucal – SESAB/SAIS/DGC/CPT/ATSB
* Contribuição de:
Naiara Sales de Souza – Cirurgiã Dentista, Residente em Saúde da Família da Fundação Estatal Saúde da Família/
Fundação Oswaldo Cruz;

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