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funciona na prática
A metodologia ativa contextualiza o conhecimento e favorece o
protagonismo, autonomia e a colaboração entre os alunos. Entenda
como implementá-la no ensino remoto
Por Aline Naomi
08/06/2021
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O uso de metodologias ativas, que colocam o aluno no centro do processo de ensino e aprendizagem, tem
ganhado força ultimamente. Uma dessas metodologias é a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP). A
partir de uma questão norteadora, em geral ligada à realidade dos estudantes, eles investigam, debatem e
elaboram um produto ou uma possível solução, usando os conteúdos curriculares. Nesse processo, trabalham
em grupos e aprendem de forma coletiva e colaborativa.
Uma das vantagens da ABP é que a relação com um tema ligado ao contexto dos estudantes tende a despertar
o interesse da turma e favorecer o engajamento. Foi o que aconteceu com o professor Luiz Felipe Lins em
seu projeto “Geometria e Construção”, vencedor do Prêmio Educador Nota 10 em 2020. Ao receber o
panfleto de um prédio em construção, Luiz Felipe levou o material a seus alunos e percebeu que eles nunca
tinham visto uma planta baixa. “A maioria mora em comunidades e as casas são construídas aos poucos”, diz
o professor, que dá aula de Matemática para o Fundamental 2 na rede municipal do Rio de Janeiro.
Ele aproveitou então a oportunidade para ensinar alguns conceitos de arquitetura. Dividiu os alunos em
grupos e propôs que cada um montasse o projeto de uma casa. Com a atividade, ele conseguiu abordar
conceitos matemáticos como escalas e áreas. Durante o processo, percebeu também algumas deficiências da
turma, como a dificuldade de realizar operações com decimais, e aproveitou para repassar o conteúdo.
Neste Nova Escola Box compartilhamos estratégias que permitam desenvolver propostas inspiradas na
metodologia de Aprendizagem Baseada em Projetos durante o ensino remoto.
O professor explica que, nesse tipo de prática, há um planejamento de como serão trabalhados determinados
conteúdos, mas o processo pode ser adaptado de acordo com o que os estudantes vão trazendo. “Existe um
planejamento e eu vou articulá-lo aos conceitos que preciso trabalhar, como área, mas eles apontam outras
necessidades também, e eu abordo esses conteúdos na aula seguinte”.
No projeto, os alunos calcularam a quantidade de piso necessária para a casa, fizeram uma pesquisa de
campo para orçar o custo do material e montaram uma planilha — primeiro de forma manual e, depois, no
computador. Por fim, os grupos construíram uma maquete das casas planejadas e apresentaram para o
restante da classe.
Além disso, a Aprendizagem Baseada em Problemas pressupõe a elaboração de uma solução para um dado
desafio, geralmente de um cenário hipotético. Já a Aprendizagem Baseada em Projetos procura solucionar
problemas da vida real com propostas mais amplas.
Em ambos os casos, o objetivo é despertar o interesse dos alunos sobre determinados temas, relacionando
diferentes conceitos e habilidades. Nesse sentido, os dois modelos conseguem colocar o estudante no centro
da aprendizagem e atendem às propostas da BNCC.
Alunos protagonistas
A ideia de trabalhar com projetos também pode partir dos próprios alunos. Foi o que aconteceu com Arabelle
Calciolari, professora de inglês para os Anos Iniciais do Fundamental da rede municipal de Jundiaí (SP) e
uma das premiadas do Educador Nota 10 em 2019. Sua colega, a professora de Educação Física Mariana
Maziero, precisava trabalhar hip hop com os alunos. Como Arabelle já havia envolvido as turmas em outros
projetos, eles deram a ideia de convidar a educadora para esse trabalho. Assim, ela pôde trabalhar os
aspectos históricos e sociais do gênero.
Chamado de “Hip hop: do passado à atualidade”, o projeto articulou não só a dança, mas a música, o grafite
e as questões raciais envolvidas. Além disso, os alunos puderam conhecer um coletivo que atua na cidade, a
exemplo dos coletivos norte-americanos da década de 1980.
Quando foi realizado, no período de aulas presenciais, o projeto resultou em um grafite no muro da escola,
mas Arabelle destaca que o mais importante foi o aprendizado durante o processo. “Fomos notando algumas
mudanças nas crianças. Eles aceitaram muito bem o projeto. Teve aluno que ficou o ano inteiro com
vergonha, mas na hora dançou”, conta a professora que já havia desenvolvido outros projetos anteriormente,
envolvendo o dramaturgo William Shakespeare e os Beatles.
Neste curso, você irá conhecer as metodologias Ensino Híbrido e Aprendizagem Baseada em Projetos,
estratégias que promovem maior engajamento dos alunos por meio de uma participação mais ativa na
construção de conhecimento. Veja quais são as orientações e para que servem cada modelo.
Avaliação e BNCC
Arabelle e Luiz Felipe observam que a avaliação de um projeto tem de considerar todo o processo de
desenvolvimento e não apenas o produto final. “Às vezes, o educador foca no produto final, achando que
isso vai mostrar se o aluno aprendeu ou não. Mas é durante o processo que está ocorrendo a aprendizagem, e
aí devem entrar a escuta e o olhar atento do professor”, ressalta Arabelle.
No projeto de Luiz Felipe, a avaliação final consistiu em uma autoavaliação, na qual os alunos contaram as
dificuldades que encontraram, as aprendizagens que tiveram e como eles usaram a matemática. “Isso foi
muito rico. Alguns estudantes relataram que aprenderam a trabalhar em equipe e a escutar o outro. Uma
estudante disse que perdeu a vergonha do pai, que era pedreiro”, lembra o professor.
Além disso, a metodologia traz a possibilidade de integrar duas ou mais disciplinas, como fez Arabelle. “A
BNCC é dividida em componentes curriculares, e a ideia do projeto é tentar integrar isso, porque muitas das
habilidades propostas dizem respeito a um mesmo fenômeno, ao mesmo objeto de estudo”, reforça o
consultor.
“Dentro do projeto conseguimos trabalhar um tema e juntar todos os componentes curriculares. Essa
interação é importante porque as coisas não têm essa separação entre as áreas do conhecimento. Se um rio
está poluído, quantas áreas não estarão envolvidas na solução desse problema?”, questiona a educadora.
Como a ABP pressupõe muita interação entre os alunos, a aplicação da metodologia no modelo presencial
costuma ser mais fácil, uma vez que no ensino remoto essa interação depende da conectividade e do acesso à
tecnologia.
No começo da pandemia, Arabelle ficou preocupada uma vez que a oralidade é muito importante nas aulas e
ela não seria reproduzida pelas famílias que acompanham as crianças. Além disso, poucos alunos tinham
acesso a plataformas como o Google Meets. A professora e sua colega juntaram as turmas de 4º e 5º ano para
elaborar o projeto de hip hop por meio de pesquisa online, apresentação dos alunos, indicações de músicas,
vídeos e filmes e conversa a distância com um membro de um coletivo.
Além de procurar adaptar o projeto “Geometria e Construção” para o ensino remoto, Luiz Felipe pensou, ao
cozinhar durante a pandemia, em trabalhar com algoritmos e fluxogramas usando receitas. “Na aula, comecei
meu vídeo fazendo um pudim e mostrei que ali tinha um fluxograma. Desafiei que eles fizessem uma
guloseima junto com os pais e montassem um fluxograma”, conta o professor. “Projetos são ações coletivas e
colaborativas. No momento, quem pode colaborar é a família, que está junto deles, mas deu para ser
colaborativo e mão na massa.”
Considere a necessidade ou a vontade dos estudantes. Arabelle conta que o projeto que desenvolveu sobre
Shakespeare, por exemplo, veio de uma necessidade de aprenderem determinados conteúdos. “Já o projeto
do hip hop partiu de um desejo deles.”
Conheça seu aluno. É preciso conhecer o estudante para instigar a curiosidade em aprender.
Tenha escuta ativa e olhar atento. A avaliação de um projeto não pode focar apenas no produto final. “O
importante é o que eles fizeram para chegar a esse produto e o que eles aprenderam”, afirma Arabelle.
Questione a aplicação dos conhecimentos. É preciso olhar para a realidade dos alunos e questionar as
aplicações práticas do que está sendo ensinado. “As crianças valorizam muito mais os conhecimentos que
elas sabem aplicar”, observa Luiz Felipe.
Coloque-se no lugar da criança. Ao pensar em uma sequência didática mediada por projetos, tente se
colocar no lugar da criança e pensar se aquilo é interessante.
Faça alterações de acordo com as demandas dos alunos. Luiz Felipe relata que é muito interessante, em
cada etapa do projeto, discutir com os estudantes se cada ação planejada surtiu efeito e gerou aprendizagem.
“A partir daí, planejamos novas ações e vamos avançando, mas eles me auxiliam porque são protagonistas
do processo.”