Você está na página 1de 35

16/05/2022

Psicologia do Trabalho e das Organizações


Módulo II: Psicologia das Organizações

Catarina Brandão e Filomena Jordão


fjordao@fpce.up.pt

ANO LETIVO 2021-2022

MÓDULO II: PSICOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

Agenda

1. Âmbito, desenvolvimento histórico e pertinência


2. O conceito de Organização e suas dimensões
3. Modelos sobre as organizações
3.1. A organização científica do trabalho (OCT)
3.2. A Burocracia
3.3. O Movimento das Relações Humanas
3.4. A Perspetiva Sistémica das Organizações
3.5. A Abordagem Sociotécnica das Organizações
3.6. O Modelo do processo de organizar (Organizing)
3.7. Uma Sistematização das Teorias das Organizações
Filomena Jordão

4. Novas formas organizacionais


5. Conclusões gerias sobre a Psicologia das Organizações

1
16/05/2022

MÓDULO II: PSICOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

3. MODELOS SOBRE AS ORGANIZAÇÕES


3 .6 . O MODE LO DO P R OCE SSO DE OR G ANIZA R
(ORGAN IZ IN G )

Filomena Jordão

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Conteúdos

3.6.1. O emergir da perspetiva interpretativa nos estudos


organizacionais
 O legado do Movimento das Relações Humanas - Fase não-
experimental;
 A sistematização dos vários sistemas de Boulding (1956).

3.6.2. O Modelo do Processo de Organizar ou Organizing


 Os processos cognitivos ou construtivos do “fazer-sentido”
organizacional;
Filomena Jordão

 Os processos políticos inerentes ao processo de organizar.

2
16/05/2022

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Bibliografia

 Daft, R. L., & Weick, K. E. (1984). Toward a model of


organizations as interpretation systems. Journal of Management
Review, 9(2), 284-295.
https://doi.org/10.5465/amr.1984.4277657

 Jordão, F. (1998). A dimensão interpretativa da realidade e


acção organizacional. In Uma abordagem cognitiva das
Organizações: Estudos de mapeamento cognitivo na banca
portuguesa (pp. 57-94 e 101-105). FPCEUP.

 Weick, K. E. (1979). An introduction to organizing. In The social

Filomena Jordão
psychology of organizing (2nd Ed, pp. 1-23). McGraw-Hill, Inc.

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

3.6.1. O emergir da perspetiva


interpretativa nos estudos organizacionais

3
16/05/2022

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

O emergir da perspetiva interpretativa


MARCH E SIMON (1958)

 O estudo das Organizações foi dominado por uma perspetiva


essencialmente racionalista e objetivista até ao final da década
de sessenta;
 Em 1966 Katz e Khan e, em 1969, Karl Weick, publicam duas
obras essenciais (respetivamente, Organizations and the
system concept e The social psychology of organizing) onde
propõem que a Organização é uma realidade subjetiva,
socialmente construída;
 Percursores desta postura, pois de alguma forma já haviam
salientado a importância da vertente cognitiva e/ou
interpretativa na análise/estudo das Organizações, foram:

Filomena Jordão
 Roethlisberger e Dickson (1939)
 Boulding (1956).
(Jordão, 1998)

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

O emergir da perspetiva interpretativa


MARCH E SIMON (1958)

“Men are disturbed not by things, but


by the views they take of them.”
(Epictetus, no séc. I a.C., In Eden, Jones & Sims, 1979: 7)
Filomena Jordão

(Jordão, 1998)

4
16/05/2022

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

O legado do Movimento das Relações Humanas – MARCH E SIMON (1958)

Fase não-experimental

Reinterpretação das queixas dos trabalhadoras e dos problemas


surgidos na indústria proposta por Roethlisberger e Dickson em 1939

 O que verdadeiramente
provocava a mudança de
MUDANÇA X RESPOSTA

comportamento dos
ATITUDES
trabalhadores eram as ("sentimentos")
interpretações que eles faziam
das alterações introduzidas nos
seus contextos de trabalho, que HISTÓRIA CONTEXTO DO
PESSOAL TRABALHO
eram influenciadas pela sua

Filomena Jordão
história pessoal e pelo próprio
contexto de trabalho.
(Jordão, 1998)

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

A sistematização dos vários sistemas de Boulding


(1956)

Boulding …

 propõe uma sistematização da Teoria Geral dos Sistemas de


acordo com a complexidade de organização da sua unidade
“individual” básica ou unidade de comportamento, o sistema;

 define uma hierarquia de sistemas com nove níveis de


complexidade crescente;

 Considera as Organizações sociais como dos sistemas mais


complexos, o penúltimo nível, o oitavo, da hierarquização que
Filomena Jordão

propõe.

(Jordão, 1998)

5
16/05/2022

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

A sistematização Nível

1.
Descrição

Nível da estrutura estática dos sistemas; uma descrição cuidada destas estruturas é o começo do
dos vários Funcionamento
das estruturas
conhecimento teórico organizado em quase todos os campos e sem ela nenhuma teoria dinâmica
ou funcional é possível.

sistemas de 2.
Funcionamento Nível dos sistemas dinâmicos simples com movimentos necessários predeterminados; sistemas

Boulding (1956) das máquinas simples de equilíbrio estável; ex.: alavanca, roldana

Nível dos sistemas cibernéticos ou dos mecanismos de controlo; diferem dos anteriores pelo facto
3. Nível do de que a transmissão e interpretação da informação é uma parte essencial do sistema (ex.: modelo
Termóstato de homeostasia); o sistema move-se para a manutenção de qualquer equilíbrio dado, dentro de
limites.

4. Nível da É o do "sistema aberto" ou estrutura de auto - manutenção; início da diferenciação entre vida e não
célula - vida; possuem as propriedades de auto - manutenção e de auto - reprodução;

5. Nível Tipificado pela planta; características básicas: (1) divisão do trabalho entre as células para formar
genético - uma sociedade celular com partes mutuamente dependentes e diferenciadas; (2) diferenciação
societal clara entre genotipo e fenotipo;

Maior mobilidade, comportamento teleológico e auto - consciência; desenvolvimento de receptores


de informação especializados (ouvidos, olhos) que levam ao aumento na admissão de informação;
6. Nível
o comportamento é a resposta (R) não a um estímulo (E) específico mas a uma "imagem" ou
“animal”
estrutura de conhecimento ou visão do meio como um todo; as dificuldades em prever o
comportamento destes sistemas deve-se a esta intervenção da imagem entre o (E) e a (R).

O indivíduo humano como sistema para além de todas as características anteriores o Homem
possui auto - consciência, i.é, a sua imagem tem uma qualidade auto - reflexiva - ele não só sabe
como sabe o que sabe; propriedade que está ligada com o fenómeno da linguagem e do simbolismo
7. Nível
- capacidade de produzir, absorver e interpretar símbolos; o Homem possui também uma imagem
“humano"
mais elaborada do tempo e da relação - o Homem existe não só no tempo e no espaço mas na
história e o seu comportamento é muito afectado pela sua visão do processo temporal no qual ele
se situa.

A unidade destes sistemas não é o indivíduo humano enquanto tal mas o "papel" - aquela parte da
pessoa que está implicada com a Organização ou situação em questão; as Organizações sociais são
8. Nível das
consideradas como um conjunto de papéis ligados por canais de comunicação. A este nível
Organizações
devemos estar preocupados com o conteúdo e o significado das mensagens, com a natureza e
sociais
dimensões dos sistemas de valores, com a transcrição de imagens em registos históricos, com as
simbolizações subtis da arte, música e poesia e com a complexa gama de emoções humanas.

9. Sistemas (nível reservado aos “desconhecidos inevitáveis” (Boulding, 1956: 205), que segundo o autor
(Jordão, 1998: 66) transcendentais também evidenciam estrutura e relações sistémicas)

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

A sistematização dos vários sistemas de Boulding


(1956)

As Organizações definidas como um …

 "conjunto de papéis ligados por canais de comunicação."


(Boulding, 1956: 205)

para cujo estudo …

 «se deve estar preocupado com o conteúdo e o


significado das mensagens, com a natureza e dimensões
dos sistemas de valores, … e com a complexa gama de
emoções humanas.» (Boulding, 1956: 205).
Filomena Jordão

(Jordão, 1998)

6
16/05/2022

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

3.6.2. O Modelo do Processo de Organizar


(Organizing)

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

O Modelo do processo de Organizar

Modelo proposto originalmente por Karl Weick em 1969 que


foi, posteriormente, retomado em 1991 por Hosking e Morley:

 Weick propõe uma abordagem do processo de organizar


fundamentalmente cognitiva e social;

 Hosking e Morley consideram que o processo de organizar é


também intrinsecamente político (entendido este também
como processo construtivo do “fazer-sentido” organizacional).
Filomena Jordão

(Jordão, 1998)

7
16/05/2022

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Abordagem cognitiva do Processo de Organizar

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

O Modelo do processo de Organizar

A realidade organizacional vista como uma …


realidade inquestionavelmente realidade subjetiva, entidade
objetiva, concreta e independente sociocognitivamente construída;
dos agentes da sua definição; uma um processo
entidade

As Organizações decorrem …
 … de uma relação de criação mútua entre pessoas e contextos (Hosking &
Morley, 1991);
 … da operacionalização de um puzzle onde interpretações e
Filomena Jordão

procedimentos partilhados e apropriados se traduzem numa associação


de comportamentos assumidos pelos diferentes atores organizacionais
(Weick, 1979).
(Jordão, 1998)

8
16/05/2022

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

O Modelo do processo de Organizar


Para Weick …

“Most "things" in organizations are actually relationships, variables tied


together in systematic fashion. ... The word organization is a noun, and it
is also a myth. If you look for an organization you won't find it. What you
will find is that there are events, linked together, that transpire within
concrete walls and these sequences, their pathways, and their timing are the
forms we erroneously make into substances when we talk about an
organization". (Weick, 1979: 88)

“Organizations, despite their apparent preoccupation with facts, numbers,


objectivity, concreteness, and accountability, are in fact saturated with

Filomena Jordão
subjectivity, abstraction, guesses, making do, invention and arbitrariness …
just like the rest of us. (Weick, 1979: 5)

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Os processos cognitivos ou construtivos do “fazer-


sentido” organizacional

O organizing como “uma gramática consensualmente validada


para reduzir a ambiguidade através de comportamentos
entrecruzados.” (Weick, 1979: 3).

Esta definição remete para três aspetos primordiais:

(a) A atividade tipo das Organizações

(b) A ambiguidade dos inputs

(c) Os comportamentos entrecruzados


Filomena Jordão

(Jordão, 1998)

9
16/05/2022

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Os processos cognitivos ou construtivos do “fazer-


sentido” organizacional

(a) A atividade tipo das Organizações

 Atividade humana contínua de atribuição de significados ou


de fazer–sentido organizacional;

 Como a atividade organizacional é essencialmente social e


coletiva, ela implica a partilha de fórmulas de
funcionamento entre os seus múltiplos atores.

Filomena Jordão
(Jordão, 1998)

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Os processos cognitivos ou construtivos do “fazer-


sentido” organizacional

(b) A ambiguidade dos inputs

O meio das Organizações é um meio onde predominam inputs


equívocos, isto é, «inputs que têm múltiplos significados»
(Weick, 1979: 174).

Cabe às Organizações gerir esta riqueza e multiplicidade de


significados que podem ser impostos a uma dada situação.
Filomena Jordão

(Jordão, 1998)

10
16/05/2022

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Os processos cognitivos ou construtivos do “fazer-


sentido” organizacional

(c) Os comportamentos entrecruzados

Os comportamentos de qualquer pessoa no interior de uma


Organização são contingentes com o de outra ou outras, ou
seja, a ação concretizada por um ator A desencadeia uma
resposta do ator B, resposta esta que vai por sua vez,
desencadear nova resposta do ator A.

É a esta sequência interativa entre dois ou mais atores


organizacionais a que Weick chama de "interações recíprocas",
isto é, a um ato segue-se uma resposta e a esta, um

Filomena Jordão
ajustamento do primeiro.

(Jordão, 1998)

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Os processos cognitivos ou construtivos do “fazer- MARCH E SIMON (1958)

sentido” organizacional

O processo de organizar corresponde a um processo de construção


permanente de significação organizacional, constituído por quatro
processos básicos:

(1) O processo de mudanças ou transformações ecológicas,

(2) O processo de enactment,

(3) O processo de seleção e,

(4) O processo de retenção.


Filomena Jordão

(Jordão, 1987)

11
16/05/2022

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Os processos cognitivos ou construtivos do “fazer- MARCH E SIMON (1958)

sentido” organizacional

(1)(2) As transformações ecológicas e o processo de "enactment"

A porção de realidade destacada corresponde essencialmente às


transformações e às diferenças que os fluxos de experiência
apresentam vindo a constituir «os materiais brutos para o processo de
‘fazer-sentido’ ou de atribuição de significado».

“to enact” um ambiente significa literalmente “criar a aparência de


um ambiente” (Weick, 1982: 278).

Filomena Jordão
(Jordão, 1987)

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Os processos cognitivos ou construtivos do “fazer- MARCH E SIMON (1958)

sentido” organizacional

(1)(2) As transformações ecológicas e o processo de "enactment"

 O conceito de enactment remete para o importante papel que


as pessoas ou as Organizações têm na criação dos meios com
que se confrontam e que aceitam posteriormente como
exteriores a si;

 Os atos resultantes do processo de “fazer-sentido


organizacional” são atos de invenção ou de criação e não atos
de descoberta, eles implicam uma ordem sobreposta e não uma
Filomena Jordão

ordem subjacente (Weick, 1982).

(Jordão, 1987)

12
16/05/2022

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Os processos cognitivos ou construtivos do “fazer- MARCH E SIMON (1958)

sentido” organizacional
(3) O processo de seleção
 Consiste na "imposição de várias estruturas a dispositivos
equívocos construídos numa tentativa de reduzir a sua
ambiguidade" (Weick, 1979: 131).

 O processo de seleção envolve duas atividades:


a atividade de pontuação e a atividade de estabelecer relações

Significa cortar o curso da experiência em Implica o estabelecimento de relações,


unidades razoáveis, nomeáveis e nomeadas; tipicamente relações causais, entre os

Filomena Jordão
é arbitrária, constituindo uma pré condição elementos destacados na atividade de
para a atividade de atribuição de sentido. pontuação.
(Jordão, 1987)

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Os processos cognitivos ou construtivos do “fazer- MARCH E SIMON (1958)

sentido” organizacional

(4) O processo de retenção

Consiste «num armazenamento relativamente íntegro (claro,


fácil de compreender) de produtos eficazes de "fazer-sentido"»
(Weick, 1979: 131).

Os ambientes construídos, ou seja, "documentos históricos


armazenados no processo de retenção geralmente sob a forma
de mapas causais, que podem ser impostos a atividades
subsequentes» (Weick, 1979: 229).
Filomena Jordão

(Jordão, 1987)

13
16/05/2022

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Os processos cognitivos ou construtivos do “fazer- MARCH E SIMON (1958)

sentido” organizacional

(4) O processo de retenção

Ambiente percebido Ambiente construído


Remete para uma influência unívoca do Considera que o meio que é focalizado por
objeto para o sujeito: algumas um indivíduo tem não só a ver com
características objetivas do objeto características do meio como com
influenciam o conhecimento que o sujeito características do próprio sujeito
nomeadamente, com as suas experiências
faz dele.
passadas a maior parte das quais
armazenadas no processo de retenção.

O ambiente construído é assim, o resultado do processo individual de

Filomena Jordão
organizar, ou seja, é o resultado e não um input de um episódio de
atribuição de sentido.
(Jordão, 1987)

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

MARCH E SIMON (1958)


Em resumo

Segundo esta perspetiva


 ambiente e organização são criações conjuntas dos atores
organizacionais quando envolvidos num processo de interação
social;
 ambientes objetivos separados das Organizações puramente não
existem, o que há são representações ambientais na mente dos
indivíduos.

na forma de mapas cognitivos, e particularmente


na forma de mapas causais, que vão sendo
Filomena Jordão

alterados e desenvolvidos com a experiência.

(Jordão, 1987)

14
16/05/2022

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Tema ou fórmula básica de "fazer-sentido" ou de atribuição MARCH E SIMON (1958)

de significado no modelo do processo de organizar


«HOW CAN I KNOW WHAT I /YOU THINK UNTIL SEE WHAT I/YOU SAY?»

A
AS ORGANIZAÇÕES PROCEDEM AO
ENACTMENT DE MATERIAL
LINGUÍSTICO BRUTO - CONVERSAS,
DISCUSSÕES, REFLEXÕES.
B
ESTE MATERIAL LINGUÍSTICO
É ANALISADO RECTROSPETIVAMENTE
SENDO-LHE ATRIBUÍDO UM
SIGNIFICADO
C
CONHECIMENTO ARMAZENADO NO
PROCESSO DE RETENÇÃO

Filomena Jordão
OBJETIVO DESTE PROCESSO: REDUZIR A AMBIGUIDADE DOS INPUTS CONSTRUÍDOS E CHEGAR A UM
CONHECIMENTO DA REALIDADE COM QUE SE ESTÁ CONFRONTADO.
(Jordão, 1987)

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Abordagem cognitiva e política do Processo de


Organizar

15
16/05/2022

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Os processos políticos inerentes ao “fazer- MARCH E SIMON (1958)

sentido” organizacional

Hosking e Morley (1991), ao contrário de Weick, consideram o processo


de organizar como intrinsecamente político e intrinsecamente
cognitivo (entendidos estes também como processos construtivos de
“fazer - sentido” organizacional).

Nem todos os atores organizacionais têm igual poder para


influenciar a ação organizacional …

A tarefa de organizar é especificamente, tarefa e

Filomena Jordão
responsabilidade dos gestores.

(Jordão, 1987)

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Os processos políticos inerentes ao “fazer- MARCH E SIMON (1958)

sentido” organizacional

O gestor passa a ser visto como …


 O gestor de símbolos e interpretações desempenhando papel importante
na descodificação e interpretação dos acontecimentos do meio e da sua
tradução em ações organizacionais;

 O seu papel é o de “encorajar e desenvolver padrões de significados


desejáveis" (Morgan, 1986: 135), o que lhes confere o estatuto de
intérpretes "privilegiados" da realidade organizacional (Daft & Weick,
1984);

 Atores organizacionais que têm poder formal para influenciar de forma


Filomena Jordão

decisiva as interpretações, pensamentos organizacionais, ou de formular


a interpretação da Organização (Daft & Weick, 1984).

(Jordão, 1987)

16
16/05/2022

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

MARCH E SIMON (1958)


Em síntese …

O Modelo do processo de organizar ou de “fazer–sentido”


organizacional, assenta em dois pressupostos base:

 A realidade organizacional é uma realidade em permanente


construção, profundamente influenciada pelos pressupostos dos
seus agentes de definição (teóricos e/ou atores organizacionais) e,
portanto, passível de várias leituras ou interpretações;

 O papel dos atores organizacionais nomeadamente o do gestor,


altera-se passando este a ser visto como o de um “processador de
informação” organizacional privilegiado que, de modo a ultrapassar
as dificuldades que a complexidade de informação com que é

Filomena Jordão
confrontado lhe coloca, desenvolve estruturas de conhecimento ou
esquemas cognitivos na base dos quais funciona.
(Jordão, 1987)

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

MARCH E SIMON (1958)


Em síntese …

O Modelo do processo de organizar ou de “fazer–sentido”


organizacional tem 3 dimensões:

 dimensão cognitiva da ação organizacional

 dimensão coletiva (social) da ação organizacional

 dimensão política da ação organizacional


Filomena Jordão

(Jordão, 1987)

17
16/05/2022

O MODELO DO PROCESSO DE ORGANIZAR (ORGANIZING)

Referências
 Astley, W. G. (1985). Administrative science as socially constructed truth.
Administrative Science Quarterly, 30, 497-513. https://doi.org/10.2307/2392694
 Daft, R. L., & Weick, K. E. (1984). Toward a model of organizations as
interpretation systems. Journal of Management Review, 9(2), 284-295.
https://doi.org/10.5465/amr.1984.4277657
 Boulding, K. E. (1956). General systems theory - The skeleton of science.
Management Science, 2 (3), 197-208. https://doi.org/10.1287/mnsc.2.3.197
 Eden, C., Jones, S. & Sims, D. (1979). Thinking in organizations. The Macmillan
Press Ltd.
 Hosking, D.-M. & Morley, I. E. (1991). A Social psychology of organizing. People,
processes and contexts. Harvester Wheatsheaf.
 Jordão, F. (1998). A dimensão interpretativa da realidade e acção organizacional. In
Uma abordagem cognitiva das Organizações: Estudos de mapeamento cognitivo na
banca portuguesa (pp. 57-94 e 101-105). FPCEUP.

Filomena Jordão
 Morgan, G. (1986). Images of Organization. SAGE Publications.
 Weick, K. E. (1979). The social psychology of organizing (2nd Ed.). McGraw-Hill, Inc.

MÓDULO II: PSICOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

Intervalo (10’)
Filomena Jordão

18
16/05/2022

MÓDULO II: PSICOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

3. MODELOS SOBRE AS ORGANIZAÇÕES


3 .7 .UMA SISTE MAT I ZAÇÃ O DAS TEORIAS DAS
OR GANIZA Ç Õ E S

Filomena Jordão

UMA SISTEMATIZAÇÃO DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

Conteúdos

3.7.1. Características do campo de estudos das Teorias das


Organizações
3.7.2. A sistematização das Teorias das Organizações de Burrell e
Morgan (2019)
 Principais dimensões e os pressupostos subjacentes
 O conceito de "paradigma"; O paradigma funcionalista, o paradigma
interpretativo, o paradigma humanista radical e o paradigma
estruturalista radical.
3.7.3. A abordagem metafórica das Teorias das Organizações
(Morgan, 1980, 2006)
 O conceito de metáfora
Filomena Jordão

 As metáforas do Paradigma Funcionalista e do Paradigma


Interpretativo (teorias, características, vantagens, limites);
 As metáforas dos Paradigmas Humanista e Estruturalista Radical.

19
16/05/2022

UMA SISTEMATIZAÇÃO DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

Bibliografia

 Burrell, G. & Morgan, G. (2019). Sociological Paradigms and


Organizational Analysis. Elements of the Sociology of Corporate
Life (pp. VIII-37). Routledge.
 Jordão, F. (1998). Um esquema organizador para o estudo das
Organizações. In Uma abordagem cognitiva das Organizações:
Estudos de mapeamento cognitivo na banca portuguesa (pp. 17-
23). FPCEUP.
 Morgan, G. (1980). Paradigms, Metaphors, and Puzzle Solving in
Organization Theory. Administrative Science Quarterly, 25(4), 605–
622. https://doi.org/10.2307/2392283

Filomena Jordão
 Morgan, G. (2006). Images of Organizations (pp. 25-69). Sage
Publications.

UMA SISTEMATIZAÇÃO DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

3.7.1. Características do campo de estudos das


Teorias das Organizações

20
16/05/2022

CARACTERÍSTICAS DO CAMPO DE ESTUDOS DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

Estudo da realidade organizacional


MARCH E SIMON (1958)

O campo de estudos das Organizações é caracterizado por


uma grande diversidade teórica e por uma certa confusão
derivada da sua pouca sistematização.

O que pode ser explicado por:


 a pouca idade deste campo de estudos;
 a interdisciplinaridade do campo;
 as diferentes teorias implícitas dos seus autores;
 a sua natureza paradigmática.

Filomena Jordão
(Jordão, 1998)

CARACTERÍSTICAS DO CAMPO DE ESTUDOS DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

Estudo da realidade organizacional


MARCH E SIMON (1958)

Por esta razão, vários autores propuseram sistematizações das


várias teorias ou perspetivas teóricas desenvolvidas sobre as
Organizações.

Qualquer sistematização cumpre dois fins:

 são grelhas de leitura do que existe;

 possuem um valor heurístico.


Filomena Jordão

(Jordão, 1998)

21
16/05/2022

UMA SISTEMATIZAÇÃO DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

3.7.2. A sistematização das Teorias das


Organizações de Burrell e Morgan (2019)

A SISTEMATIZAÇÃO DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES DE BURRELL E MORGAN

MARCH E SIMON (1958)


Características

A sistematização proposta por Burrell e Morgan (2019) é


 a mais abrangente;
 permite a articulação com a perspetiva metafórica
posteriormente desenvolvida por Morgan (1980, 1989)*; e é
 a que mais tem estimulado a discussão neste campo de
estudos.

Com a sua sistematização os autores procuram não só situar as


várias teorias das Organizações umas em relação às outras como
enquadrá-las no seu contexto sociológico mais alargado, isto é,
Filomena Jordão

no desenvolvimento das Ciências Sociais em geral.

*A 1ª Edição do livro de Burrell e Morgan é de 1979. (Jordão, 1998)

22
16/05/2022

A SISTEMATIZAÇÃO DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES DE BURRELL E MORGAN

MARCH E SIMON (1958)


Características

Tese central e Dimensões


Todas as teorias das Organizações refletem uma série de pressupostos
acerca …

(a) da natureza do mundo social 1ª Dimensão: subjetiva - objetiva


e da forma como ele pode ser dos pressupostos relativos à
investigado; e, Natureza da Ciência Social.

(b) acerca da sociedade e da 2ª Dimensão: sociologia da


forma como ela e as suas regulação - sociologia da mudança

Filomena Jordão
unidades se estruturam. radical – pressupostos sobre a
Natureza da Sociedade.
(Burrell & Morgan, 2019; Jordão, 1998)

A SISTEMATIZAÇÃO DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES DE BURRELL E MORGAN

1ª Dimensão: Pressupostos sobre a Natureza da MARCH E SIMON (1958)

Ciência Social
Questão ontológica: A "realidade" é de natureza "objetiva", ou o produto
Qual a natureza da ‘realidade’? da cognição individual?; é externa ao indivíduo ou o
produto da consciência individual?

Questão epistemológica: O conhecimento é real e capaz de ser transmitido de


Qual a natureza do conhecimento? forma tangível ou é mais subjetivo baseado na
experiência e no discernimento pessoal?

Questão da natureza humana: Os seres humanos são vistos como condicionados pelas
Qual a relação entre os seres suas circunstâncias externas ou como criadores do seu
humanos e o ambiente? ambiente, os controladores e não os controlados;

Questão metodológica: Procura de leis universais que explicam e governam a


Filomena Jordão

Como é que o investigador pode realidade que está a ser observada ou ênfase sobre a
conhecer a realidade investigada? explicação e compreensão do que é único e particular
para o indivíduo.
(Burrell & Morgan, 2019)

23
16/05/2022

A SISTEMATIZAÇÃO DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES DE BURRELL E MORGAN

MARCH E SIMON (1958)


1ª Dimensão: Subjetiva-Objetiva

Pressupostos Relativos à Natureza da Ciência Social

PÓLOS
SUBJECTIVO OBJECTIVO
PRESSUPOSTOS
ONTOLÓGICOS nominalismo realismo
EPISTEMOLÓGICOS anti - positivismo positivismo
NATUREZA HUMANA voluntarismo determinismo
METODOLÓGICOS ideográfico nomotético

Filomena Jordão
(Fonte: Jordão, 1998: 19)

A SISTEMATIZAÇÃO DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES DE BURRELL E MORGAN

2ª Dimensão: Sociologia da Regulação vs. MARCH E SIMON (1958)

Sociologia da Mudança Radical

Pressupostos sobre a Natureza da Sociedade

 REGULAÇÃO - explicação da sociedade pela unidade, ordem


e integração social, coesão;

 MUDANÇA RADICAL - explicação da sociedade pelos


fenómenos de mudança, das contradições, dos conflitos
estruturais e das formas de domínio predominantes.
Filomena Jordão

(Burrell & Morgan, 2019; Jordão, 1998)

24
16/05/2022

A SISTEMATIZAÇÃO DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES DE BURRELL E MORGAN

Os paradigmas para análise das Ciências Sociais

Paradigma SOCIOLOGIA DA MUDANÇA RADICAL

perspetiva ou modo de
O
pensar geral que reflete S HUMANISTA ESTRUTURALISTA
B
crenças e pressupostos U RADICAL RADICAL
J
fundamentais sobre a B E
natureza das Organizações E C
(Khun, 1983); C T
T I
visão implícita ou explícita I
INTERPRETATIVO FUNCIONALISTA V
da realidade; V O
O
são realidades alternativas
e mutuamente exclusivas.

Filomena Jordão
SOCIOLOGIA DA REGULAÇÃO

(Fonte: Jordão, 1998: 20)

A SISTEMATIZAÇÃO DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES DE BURRELL E MORGAN


SOCIOLOGIA DA MUDANÇA RADICAL

O
S HUMANISTA ESTRUTURALISTA B
U RADICAL RADICAL
J
B E
E C
C T
T
MARCH E SIMON (1958)
I

Paradigma Funcionalista
I V
V INTERPRETATIVO FUNCIONALISTA
O
O

SOCIOLOGIA DA REGULAÇÃO

 Tem servido de referente dominante para a condução da sociologia


académica e o estudo das organizações;

 Perspetiva enraizada na sociologia da regulação abordando o seu objeto


de estudo de um ponto de vista objetivista;

 Tende a assumir que o mundo social é constituído por artefactos e


relações empíricas relativamente concretos que podem ser
identificados, estudados e medidos através de abordagens derivadas das
ciências naturais;

 Perspetiva altamente pragmática na orientação: está preocupada em


compreender a sociedade de forma a gerar conhecimento que possa ser
Filomena Jordão

utilizado - orientada para a resolução de problemas.

(Burrell & Morgan, 2019; Jordão, 1998)

25
16/05/2022

A SISTEMATIZAÇÃO DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES DE BURRELL E MORGAN


SOCIOLOGIA DA MUDANÇA RADICAL

O
S HUMANISTA ESTRUTURALISTA B
U RADICAL RADICAL
J
B E
E C
C T
T
MARCH E SIMON (1958)
I

Paradigma Interpretativo
I V
V INTERPRETATIVO FUNCIONALISTA
O
O

SOCIOLOGIA DA REGULAÇÃO

 Preocupado em compreender o mundo ao nível da experiência subjetiva;


procura explicações na consciência e subjetividade individual, no quadro
de referência do participante e não na observação da ação;

 O mundo social é visto como um processo social emergente, criado pelos


indivíduos envolvidos; apesar de se reconhecer que a realidade social tem
alguma existência fora da consciência de qualquer indivíduo, é vista como
pouco mais sendo do que uma rede de pressupostos e significados
intersubjetivamente partilhados - o estatuto ontológico do mundo social
aparece como bastante questionável e problemático;

 O mundo das questões humanas é coesivo, ordenado e integrado - estão


orientados para obter a compreensão do mundo social criado

Filomena Jordão
subjetivamente, tal como ele é, em termos de um processo decorrente
(ongoing process).
(Burrell & Morgan, 2019; Jordão, 1998)

A SISTEMATIZAÇÃO DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES DE BURRELL E MORGAN


SOCIOLOGIA DA MUDANÇA RADICAL

O
S HUMANISTA ESTRUTURALISTA B
U RADICAL RADICAL
J
B E
E C
C T
T
MARCH E SIMON (1958) I

Paradigma Humanista Radical


I V
V INTERPRETATIVO FUNCIONALISTA
O
O

SOCIOLOGIA DA REGULAÇÃO

 Coloca a ênfase central na consciência humana;

 Defende que a consciência do ser humano é dominada por


superestruturas ideológicas com as quais ele interage constituindo,
contudo, um "calço" cognitivo entre ele e a sua verdadeira consciência -
"calço da alienação" ou "falsa consciência", que inibe ou impede a
verdadeira realização humana.

 Todos os autores que se enquadram neste paradigma partilham da


preocupação de libertar a consciência e experiência humana do domínio
da superestrutura ideológica do mundo social na qual os Homens
sobrevivem. Procuram mudar o mundo social através da mudança dos
modos de cognição e consciência
Filomena Jordão

 Maior ênfase na mudança radical, modos de domínio, emancipação,


privação e potencialidade.
(Burrell & Morgan, 2019; Jordão, 1998)

26
16/05/2022

A SISTEMATIZAÇÃO DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES DE BURRELL E MORGAN


SOCIOLOGIA DA MUDANÇA RADICAL

O
S HUMANISTA ESTRUTURALISTA B
U RADICAL RADICAL
J
B E
E C
C T
T
MARCH E SIMON (1958)
I

Paradigma Estruturalista Radical


I V
V INTERPRETATIVO FUNCIONALISTA
O
O

SOCIOLOGIA DA REGULAÇÃO

 Visão da sociedade contemporânea como sendo caracterizada por conflitos


fundamentais que originam mudança radical através de crises políticas e
económicas. É através de tais conflitos e mudanças que os seres humanos
se emancipam das estruturas sociais nas quais vivem.

 Enfatiza o facto de que a mudança radical está imbuída na própria


natureza e estrutura da sociedade contemporânea;

 Está empenhado na mudança radical, emancipação e potencialidade,


numa análise que enfatiza o conflito estrutural, os modos de domínio, a
contradição e a privação;

 O paradigma deve ao trabalho de Karl Marx o seu principal contributo

Filomena Jordão
intelectual.

(Burrell & Morgan, 2019; Jordão, 1998)

UMA SISTEMATIZAÇÃO DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

3.7.3. A abordagem metafórica das Teorias das


Organizações (Morgan, 1980, 2006)

27
16/05/2022

A ABORDAGEM METAFÓRICA DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

MARCH E SIMON (1958)


O conceito de metáfora

PARADIGMA
(realidades alternativas) A

Modos diferentes de abordar e


estudar uma realidade dentro
de um certo paradigma; METÁFORAS 1 3
2
partilham um conjunto de
pressupostos fundamentais.
ESCOLAS TEÓRICAS a d
b c

Filomena Jordão
(Baseado em Morgan, 1980)

A ABORDAGEM METAFÓRICA DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

MARCH E SIMON (1958)


O conceito de metáfora
 A utilização de uma metáfora implica utilizar uma imagem para estudar um
assunto;
 A eficácia de uma metáfora será maior quando as diferenças entre os dois
fenómenos forem significantes mas não totais (comparação seletiva);
 Nenhuma metáfora apreende a natureza total da vida organizacional;
 Diferentes metáforas podem constituir e apreender a natureza da vida
organizacional de diferentes modos, gerando cada uma delas tipos de
insight poderosos, distintos mas essencialmente, parciais;
 Reconhecer que as teorias das Organizações são metafóricas é reconhecer
que elas são um empreendimento subjetivo preocupado com a produção de
análises unilaterais da vida organizacional;
Filomena Jordão

inspira um espírito de crítica e relativiza um comprometimento excessivo


com determinado ponto de vista, com determinada metáfora.
(Morgan, 1980; 2006)

28
16/05/2022

A ABORDAGEM METAFÓRICA DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

Algumas das metáforas características de cada MARCH E SIMON (1958)

paradigma
SOCIOLOGIA DA MUDANÇA RADICAL

INSTRUMENTO DE DOMINAÇÃO
PRISÃO PSÍQUICA "SCHISMATIC"
S CATÁSTROFE O
U B
B J
J MÁQUINA
E
E T
T TEXTO ORGANISMO I
I V
JOGO LINGUAGEM SISTEMA CIBERNÉTICO
V O
O ENACTED SENSE MAKING SISTEMA POLÍTICO

TEATRO

Filomena Jordão
CULTURA

SOCIOLOGIA DA REGULAÇÃO
(Baseado em Morgan, 1980)

A ABORDAGEM METAFÓRICA DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES


SOCIOLOGIA DA MUDANÇA RADICAL

O
S HUMANISTA ESTRUTURALISTA B
U RADICAL RADICAL

Metáforas e Teorias do
J
B E
E C
C T
T

Paradigma Funcionalista
I
I V
V INTERPRETATIVO FUNCIONALISTA
O
O

SOCIOLOGIA DA REGULAÇÃO

A Organização como ‘Máquina’


 Importância dada à estrutura e tecnologia;
 O funcionamento da Organização é avaliado em termos da sua
eficácia;
 A Organização como um meio para alcançar objetivos pré-
determinados;
 A Organização como estrutura estática.

Teorias
 Organização Científica do Trabalho (OCT)
Filomena Jordão

 A Teoria da Burocracia

(Morgan, 1980; 2006)

29
16/05/2022

A ABORDAGEM METAFÓRICA DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

Metáforas e Teorias do Paradigma Funcionalista

A abordagem mecanicista funciona bem quando

 A tarefa a realizar é simples;


 A estabilidade do meio é tal que garante que os produtos
fabricados sejam apropriados;
 Se quer fabricar/produzir exatamente o mesmo produto
durante muito tempo;
 A precisão é um critério importante;

 Os elementos humanos da "máquina" são obedientes e se

Filomena Jordão
comportam como o previsto.

(Morgan, 1980; 2006)

A ABORDAGEM METAFÓRICA DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

Inconvenientes/Fraquezas das teorias da metáfora MARCH E SIMON (1958)

mecanicista

 Dão origem a um tipo de organização que tem grandes dificuldades em se


adaptar às circunstâncias - as organizações não são feitas para a inovação
mas para a prossecução de objetivos previamente definidos;

 Podem engendrar uma burocracia restrita e rígida - a compartimentação


em diversos níveis hierárquicos, funções, papéis e indivíduos tende a criar
uma série de obstáculos;

 Emergência de objetivos secundários (individuais e/ou grupais) que podem


minar a capacidade da organização em prosseguir os seus objetivos
previamente definidos - importância da organização informal;
Filomena Jordão

(Morgan, 1980; 2006)

30
16/05/2022

A ABORDAGEM METAFÓRICA DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

Inconvenientes/Fraquezas das teorias da metáfora MARCH E SIMON (1958)

mecanicista

 Limita o desenvolvimento das capacidades humanas, modelando os


indivíduos de tal modo que eles se adaptam à máquina da
organização o que tem consequências a dois níveis:

Ao nível individual: Ao nível organizacional:


 Reforça, pela sua institucionalização,  Não rentabilizando o potencial
os comportamentos de passividade, criativo dos seus elementos, a
de dependência e de organização não dispõe de soluções
desresponsabilização do trabalhador criativas para os problemas com que
- podem ser cometidos se pode confrontar o que leva ao
deliberadamente erros que serão enfraquecimento da sua capacidade
justificados pelo cumprimento das de resposta a situações novas e

Filomena Jordão
regras; diferentes.
 Desencoraja a iniciativa individual;
(Morgan, 1980; 2006)

A ABORDAGEM METAFÓRICA DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

Metáforas e Teorias do Paradigma Funcionalista

A Organização como um ‘Organismo’


A Organização como uma entidade viva em constante fluxo e
mudança, interagindo com o seu meio numa tentativa de satisfazer
as suas necessidades básicas, imperativas.

Teorias

 Abordagem sistémica das Organizações;


 Perspetiva sociotécnica.
Filomena Jordão

(Morgan, 1980; 2006)

31
16/05/2022

A ABORDAGEM METAFÓRICA DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

Forças da Metáfora Organicista


MARCH E SIMON (1958)

 Importância atribuída às relações entre a organização e o seu meio - a


organização mais como um processo contínuo do que como um conjunto de
partes;

 As organizações como processos em interação que devem conhecer um


equilíbrio interno tanto quanto externo - a estratégia, a estrutura, as
técnicas, a gestão e a dimensão humana das organizações como
subsistemas com necessidades próprias e vitais;

 Qualidades excecionais da organização de tipo orgânico quando se trata de


inovar;

 Enfâse na sobrevivência como objetivo ou tarefa principal que qualquer

Filomena Jordão
organização deve prosseguir - a sobrevivência como um processo.

(Morgan, 1980; 2006)

A ABORDAGEM METAFÓRICA DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

Limites da Metáfora Organicista

 Tendência a ver as organizações e o seu meio de modo muito


concreto - estas podem ser, pelo menos em parte,
consideradas como fenómenos socialmente construídos;
 Enfâse na unidade mais do que no conflito como o estado
normal da organização - leva a crer que a unidade e a
harmonia que caracterizam o organismo pode ser encontrada
na vida de qualquer organização;
Filomena Jordão

(Morgan, 1980; 2006)

32
16/05/2022

A ABORDAGEM METAFÓRICA DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES


SOCIOLOGIA DA MUDANÇA RADICAL

O
S HUMANISTA ESTRUTURALISTA B
U RADICAL RADICAL

Metáforas e Teorias do
J
B E
E C
C T
T

Paradigma Interpretativo
I
INTERPRETATIVO
MARCH E SIMON (1958)
FUNCIONALISTA
I
V
V O
O

SOCIOLOGIA DA REGULAÇÃO

Enacted Sense Making (Weick, 1977, 1979)


 As realidades organizacionais como construções sociais
progressivas dependendo das qualidades individuais em atribuir
significados;
 Os aspetos rotineiros normalmente inquestionáveis, concretos,
são menos concretos e reais do que parecem.

Teorias
 O Modelo do Processo de Organizar (Organizing)

Filomena Jordão
(Morgan, 1980; 2006)

A ABORDAGEM METAFÓRICA DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES


SOCIOLOGIA DA MUDANÇA RADICAL

O
S HUMANISTA ESTRUTURALISTA B
U RADICAL RADICAL

Metáforas do
J
B E
E C
C T
T

Paradigma Humanista Radical


I
I V
V INTERPRETATIVO FUNCIONALISTA
O
O

SOCIOLOGIA DA REGULAÇÃO

As Organizações como ‘Prisão Psíquica’


 Origem da ideia da prisão do psiquismo surge na célebre alegoria da
caverna onde Sócrates se debruça sobre a relação ente aparência,
realidade e saber;
 As realidades organizacionais como limitantes, aprisionantes e
dominantes; Os seres humanos podem ser levados a ‘legalizar’ estas
realidades;
 A vida no trabalho é um modo alienado de vida, no qual os indivíduos são
modelados, controlados e, geralmente, tornados subservientes às
necessidades artificialmente forjadas da Organização;
 Os que controlam as organizações são vistos como pessoas que utilizam
Filomena Jordão

meios ideológicos, políticos e econômicos para dominar os seus


membros e dominar o contexto mais amplo em que operam.
(Morgan, 1980)

33
16/05/2022

A ABORDAGEM METAFÓRICA DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES


SOCIOLOGIA DA MUDANÇA RADICAL

O
S HUMANISTA ESTRUTURALISTA B
U RADICAL RADICAL

Metáforas do
J
B E
E C
C T
T

Paradigma Estruturalista Radical


I
I V
V INTERPRETATIVO FUNCIONALISTA
O
O

SOCIOLOGIA DA REGULAÇÃO

A Organização como ‘Instrumento de Dominação’

 Encoraja uma análise dos meios pelos quais os modos de


dominação operam e são mantidos;
 Leva a um interesse na compreensão de como a estrutura de
poder das Organizações está relacionada com as estruturas de
poder no mundo político-económico e, de como as divisões
sociais entre classes, grupos étnicos, sexuais, etc., são evidentes
no local de trabalho.

Filomena Jordão
(Morgan, 1980; 2006)

UMA SISTEMATIZAÇÃO DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

Em síntese …

As Organizações são
complexas,
multifacetadas,
ambíguas e paradoxais.

Metáforas geram
múltiplas formas de ver
e agir nas Organizações.

O desafio na prática é
integrar os diferentes
insights para obter uma
compreensão e
estratégia de ação que
Filomena Jordão

possa ir ao encontro dos


nossos objetivos.
(Fonte: Morgan, 2006: 341)

34
16/05/2022

UMA SISTEMATIZAÇÃO DAS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

Referências

 Burrell, G. & Morgan, G. (2019). Sociological Paradigms and Organizational


Analysis. Elements of the Sociology of Corporate Life (pp. VIII-37).
Routledge.
 Jordão, F. (1998). Um esquema organizador para o estudo das Organizações.
In Uma abordagem cognitiva das Organizações: Estudos de mapeamento
cognitivo na banca portuguesa (pp. 17-23). FPCEUP.
 Kuhn, T. S. (1983). La structure des révolutions scientifiques. Flammarion.
(Traduit par Laure Meyer da 2ª Ed. da obra aumentada e revista pelo autor).
 Morgan, G. (1980). Paradigms, Metaphors, and Puzzle Solving in
Organization Theory. Administrative Science Quarterly, 25(4), 605–622.
https://doi.org/10.2307/2392283

Filomena Jordão
 Morgan, G. (2006). Images of Organizations (pp. 25-69). Sage Publications.

Psicologia do Trabalho e das Organizações


Módulo II: Psicologia das Organizações

Catarina Brandão e Filomena Jordão


fjordao@fpce.up.pt

ANO LETIVO 2021-2022

35

Você também pode gostar