Você está na página 1de 241

 

 
 
ONDAS ELETROMAGNÉTICAS 
E ÓTICA 
 
Sebenta Teórica 
 
 

 
 
 
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa 
Departamento de Física 
Engenharia Biomédica e Biofísica 
 
2019-2020 
 
Diana Aires 
Mariana A. de Oliveira 
Raquel Sales Rebordão 
 
Nota Introdutória 
 
O  presente  documento  foi  realizado  no  âmbito  de  facilitar  o  estudo,  tendo  por 
base: 
★ Apontamentos  das  aulas  teóricas  e PowerPoints do professor José Manuel 
Rebordão 
★ Fundamentals Of Photonics, Bahaa E. A. Saleh, Malvin Carl Teich 
★ Óptica Moderna – Fundamentos e Aplicações, S. C. Zilio 
★ Optics, Hecht F, 4th Edition 
★ Handbook of Optics, Bass M, 3rd Edition 
★ Artigos da Wikipédia  
★ Outras fontes disponíveis na internet. 
 
 Dada a sua natureza, esta sebenta carece de revisão por terceiros, sendo passível 
de acarretar alguns erros. 
Esperemos que ajude 
Bom estudo! 
 
 
 
 
 
Mariana & Raquel & Diana 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Observação:  Ao  longo  da  sebenta,  principalmente  no  capítulo  de  Interferometria,  é  utilizada  a  palavra 
“percas”, conforme o professor utiliza nos documentos de suporte às aulas. 
 
 
 
Junho de 2020 


 
Índice 
1. Ótica Geométrica 6 
1.1. Postulados 6 
1.2. Reflexão 6 
1.2.1. Leis da Reflexão 7 
1.3.2. Espelhos 8 
1.3. Refração 10 
1.3.1. Leis da Refração 10 
1.4. Prismas 11 
1.5.1 Superfícies esféricas 13 
1.5.2 Lentes delgadas no ar (n1=n2=1) 15 
1.5.3 Sinal da Potência e Natureza dos Focos 16 
1.5.4 Convenção de sinais 17 
1.5.5 Ampliação longitudinal/axial 19 
1.5.6. Sistemas Óticos 20 
1.5.6.1. Pontos Cardinais 20 
1.5.6.2 Aproximação paraxial 22 
1.5.6.3. Dioptria e Dioptros 23 
1.5.6.4. Sistemas Afocais 23 
1.6. Aberrações 24 
1.6.1 Aberração Esférica (AE) 26 
1.6.3 Astigmatismo 30 
1.6.4 Curvatura de Campo (Petzval) 33 
1.6.5 Distorção 35 
1.6.6 Aberrações: principais dependências 37 
1.6.7 Aberrações: frentes de onda 37 
1.6.8 Aberração Cromática 39 
1.7. Olho e Visão 40 
1.7.1. Overview 40 
1.7.2. Erros de Refração e Compensação 49 
1.8. Conceitos de Sistema 53 
1.8.1. Stop de Abertura e Pupilas 53 
1.8.2. Lentes de Campo (field lens) 59 
1.8.3 Vinhetagem 60 
1.8.4. Número-f / F-number (f/#) 61 
1.8.5. Profundidade de Campo 62 
1.9. Instrumentos Óticos 64 
1.9.1. Microscópios 67 

2. Ondas Eletromagnéticas e Feixes 74 


2.1. Parte I - Ondas 74 


2.1.1. Equações de Maxwell 74 
2.1.2. Equação de Ondas 75 
2.1.2.1. Equação de Ondas no Vazio 75 
2.1.3. Postulados da Ótica Ondulatória 76 
2.1.4. Irradiância, Potência e Energia 79 
2.1.5. Resolução da Equação de Helmholtz 80 
2.1.6. Ondas Planas 81 
2.1.7. Ondas Esféricas 82 
2.1.8. Ondas Paraboloidais 83 
2.1.9. Ondas Paraxiais 84 
2.2. Parte II - Feixes 86 
2.2.1. Propriedades dos Feixes Gaussianos 88 
2.2.2 Feixes de Hermite-Gauss 95 
2.2.3 Feixes de Languerre-Gauss 99 
2.2.4 Feixes de Bessel 100 

3. Interferometria 103 
3.1. Exemplos e Aplicações 105 
3.2 Interferências 111 
3.2.1. Ondas Esféricas Monocromáticas 114 
3.2.1.1. Interferência entre ondas planas 116 
3.2.1.2. Interferência entre ondas planas e esféricas 117 
3.2.1.3. Interferência entre ondas esféricas 118 
3.2.1.4. Interferência entre ondas com diferentes frequências 118 
3.2.1.5. Pente de frequências 119 
3.2.2. Interferência entre múltiplas ondas monocromáticas 120 
3.2.2.1 Sem Percas 120 
3.2.2.2. Com Percas 125 
3.3. Interferómetros 132 
3.3.1. Young 132 
3.3.2. Interferómetro de Fizeau 135 
3.3.2.1. Anéis de Newton 138 
3.3.3. Interferómetro de Michelson 138 
3.3.3.1. Frequency Sweeping Interferometry (FSI) 139 
3.3.3.2. Interferometria com luz branca 140 
3.3.3.3. Optical Coherence Tomography (OCT) 141 
3.3.3.4. Espectroscopia de Transformada de Fourier 142 
3.3.4. Interferómetro de Twyman-Green 142 
3.3.5. Interferómetro de Mach-Zehnder 143 
3.4. Conceitos complementares 144 
3.4.1. Phase-Shifting Interferometry (PSI) 144 
3.4.2. Phase Unwrapping 145 


3.4.3. Localização das franjas 146 
3.4.4. Coerência 147 

4. Propagação & Difração 149 


4.1. Princípio de Huygens-Fresnel e aproximações 149 
Princípio de Huygens-Fresnel: Coordenadas Cartesianas 153 
4.1.1. Aproximação de Fresnel 154 
4.1.2. Aproximação de Fraunhofer 155 
4.1.3 Princípio de Babinet 157 
4.2. Função de transmissão em amplitude (FTA) 158 
4.2.1. Lâmina de Faces Paralelas 159 
4.2.2. Elementos Transmissivos 160 
4.2.3. GRIN - Gradient Index 163 
4.2.4. Redes de Difração de Fase 164 
4.2.5. Pupilas 165 
4.2.6. Exemplos de FTA’s 166 
4.2.7. Ação de Lentes Sobre Feixes 167 
4.2.8. Formatação de Feixes Gaussianos 169 
4.3. Transformada de Fourier 169 
4.4. Difração & Resolução 177 
Difracção – aberturas e redes de difracção 177 
4.4.1. Difração de Fraunhofer 177 
4.4.1.1. Abertura Retangular 178 
4.4.1.2. Difração por uma Fenda 179 
4.4.1.3. Abertura Circular 180 
4.4.2. Redes de Difração 181 
4.4.2.1. Redes de Difração de Amplitude 181 
4.4.2.2. Redes de Difração de Perfil Retangular 184 
4.4.2.3. Redes de Difração & Espectrómetros 186 
4.4.2.4. Redes de Difração de Fase 187 
4.4.3. Difração por n fendas 190 
4.4.3.1. Difração por 2 fendas 190 
.4.4.3.2. Difração por mais de 2 fendas 193 
4.4.4. Interposição de uma Lente 195 
2.4.4.5. Difração por uma Lente 196 
4.4.6. Critério de Rayleigh 197 

5. Ótica Eletromagnética - Materiais 205 


5.1. Fenómenos de Superfície e Equações de Fresnel 205 
5.1.1. Condição de Fronteira entre Dielétricos 206 
5.1.2. Geometria: Planos 207 
5.1.3.Polarização 208 
5.1.4.Leis da Reflexão e de Snell-Descartes 209 


5.1.5. Equações de Fresnel 210 
5.1.5.2. Polarização Perpendicular 211 
5.1.5.3. Polarização Paralela 212 
5.1.5.4. Meios Dielétricos 212 
5.1.5.5.Ângulo de Brewster 213 
5.1.6. Reflexão Externa 214 
5.1.7. Reflexão Interna 215 
5.1.8.Reflexão Interna Total 216 
5.1.9. Ondas EM e Radiometria 216 
5.1.10. Reflectância e Transmitância 217 
5.2. Fenómenos de Volume e Ótica Não Linear 220 
5.2.1. Dielétricos 220 
5.2.1.1. Princípio da causalidade 222 
5.2.1.2. Materiais óticos 223 
5.2.1.3. Difração: Modelo de Lorentz 225 
5.2.2. Metais 230 
5.2.2.1. Modelo de Drude (1900) 231 
5.2.3. Ótica não-linear 233 


1. Ótica Geométrica 

1.1. Postulados 
A ótica geométrica rege-se pelos seguintes postulados: 
➔ A luz propaga-se sobre a forma de raios luminosos num espaço tridimensional; 
➔ O meio é caracterizado por um índice de refração, n=c/v 
➔ O  tempo  de  propagação  de  uma  distância  d  é  d/v  =nd/c.  O  produto nd define o 
percurso  ótico.  Em  meios não uniformes, o percurso ótico entre 2 pontos A e B é 
dado por 
B
P ercurso ótico = ∫ n(r)ds  
A
➔ Princípio  de  Fermat:  Os  raios luminosos seguem a trajetória entre os 2 pontos, A 
e B, que minimiza o tempo do percurso, minimizando portanto o percurso ótico: 
B
δ ∫ n(r)ds = 0  
A
Impactos deste princípio: 
Dedução simples das seguintes leis: 
❏ Lei da Reflexão 
❏ Lei da Refração 
➔ Princípio do Tempo Mínimo 
 
➔ Princípio  de  Huygens  -  aplica-se  a  fontes  de  ondas  geométricas.  Gerador  de 
superfícies  através  da  envolvente  de  uma  família  multi-paramétrica  de 
superfícies.  
Impacto: generalização para a ótica ondulatória.  
 
A óptica geométrica rege-se pelos seguintes princípios. 
★ Propagação retilínea; 
★ Independência entre raios luminosos; 
★ Reversividade; 
★ Mudança  de  direção  quando  um  raio  encontra  uma  superfície que separa 
dois meios cujo índice de refração é diferente. 

1.2. Reflexão 
A propagação retilínea da luz pode ser perturbada por obstáculos que obrigam os 
raios  luminosos  a  desviarem-se. A  reflexão  consiste  então  na  mudança  da  direção  de 
propagação  de  uma  onda  (desde  que  o  ângulo  de  incidência  não  seja  0º)  -  ou seja, a luz 
incide numa superfície refletora e é reenviada pela mesma.  
É  de  notar  que  se  a  interface  estiver  entre  um  dielétrico  e um condutor, a fase 
da  onda  refletida  é  mantida,  de  outro  modo,  se  a  interface  estiver  entre  dois 
dielétricos a fase pode ser retida ou ser invertida, dependendo dos índices de refração. 


A reflexão da luz pode ser: 

Reflexão  regular  -  Quando  a  luz  é  refletida  numa  superfície  lisa  e  polida,  ela 
reflete-se numa só direção. Por exemplo, quando vemos a nossa imagem num espelho. 

 
 
Reflexão  irregular  (Difusão  da  luz)  -  Quando  a  luz  é  refletida  em  direções 
diferentes,  devido  ao  facto  da  superfície  de  reflexão  ser  rugosa.  Quando  por  exemplo 
observamos  uma  imagem  refletida  na  água,  em  que  a  superfície  da  água  não  está 
completamente lisa  

 
 
 
 
 
A reflexão rege-se por 2 leis: 

1.2.1. Leis da Reflexão  

1ª  Lei  da  Reflexão  -  O  raio  incidente,  o  raio  refletido  e  a  normal  ao  espelho  no 
ponto de incidência estão no mesmo plano (são coplanares). 
2ª  Lei  da  Reflexão  -  O  ângulo  de  incidência  é  igual  ao  ângulo  de  reflexão 
(decorre do princípio de Fermat). 
A seguinte figura permite visualizar as duas leis da reflexão.  


 
A reflexão luminosa é a base da construção e utilização dos espelhos. Um espelho 
fornece  o  modelo  mais  comum  para  a  reflexão  de  luz  especular  e  consiste  tipicamente 
numa folha de vidro com um revestimento metálico, onde a reflexão ocorre realmente. 
 
Reflexão em espelhos planos: 
 
 
 
● O vértice do feixe objeto, P1, é real. 
● O vértice do feixe imagem, P2, é virtual. 
● P2 é a imagem de P1 
 
Neste caso, ambos os meios têm índice de 
refração 1 (ar). 
 
 

1.3.2. Espelhos 
Considere-se a seguinte imagem, representativa de um espelho esférico: 

 
 


Um espelho esférico pode ser côncavo ou convexo: 

 
 
Quanto à localização da imagem: 

 
 
 
Fórmulas importantes relativas a espelhos: 

 
 
Onde: 
 
 
 
 


É  de  salientar  que  a equação dos planos conjugados (geral para qualquer sistema 
ótico)  permite  saber  a  posição  axial  da  imagem  relativamente  aos  dioptros  e  a  fórmula 
da potência ótica refere-se à potência de um dioptro. 
 
Para  operar  com  fórmulas  que  concernem  os 
espelhos, é necessário obedecer a algumas Regras de Sinais: 
➔ Posições reais: valores positivos 
➔ Posições virtuais: valores negativos 
➔ Objetos/Imagens direitos: valores positivos 
➔ Objetos/Imagens invertidos: objetos negativos 
➔ Espelhos Côncavos: R<0 
➔ Espelhos Convexos: R>0 
 
 
 
 
 
 

1.3. Refração
A  refração  consiste  na  alteração  da  direção  de  uma  onda  ao  mudar  o  meio  em 
que se propaga (ou quando o meio muda gradualmente).  
Nesta  mudança  de  meios  a  frequência  da  onda  luminosa  não  é  alterada,  embora 
sua  velocidade  e  o  seu  comprimento  de  onda  sejam.  Com  a  alteração  da  velocidade  de 
propagação ocorre um desvio da direção original.  
O  quão  uma  onda  será  refratada  é  determinado  pela  alteração  na  velocidade  de 
propagação da onda e pela direção inicial da mesma. 
 
A refração rege-se por 2 leis: 

1.3.1. Leis da Refração 

1ª  Lei  da  Refração  -  o  raio  incidente  (raio  1),  o  raio  refratado  (raio  2)  e  a  reta 
normal  ao  ponto  de  incidência  (reta  tracejada)  estão  contidos  no  mesmo plano ( que no 
caso do desenho abaixo é o plano da folha): 

10 
 
2ª  Lei  da  Refração  (Lei  de  Snell)  -  para  a  luz,  a  refração  obedece  à  Lei  de 
Snell-Descartes (decorrente do Princípio de Fermat): 
n1 sinθ2
n1 sinθ1 = n2 sinθ2 ⇒ n2 = sinθ1  
 

 
 
A Reflexão Total da Luz ocorre para ângulos superiores ao ângulo crítico. Neste caso, 
não há refração. Para o cálculo do ângulo crítico, fazemos o θ2 = 90º :
n2
n1 sinθc = n2 sin (90º) ⇒ sinθc = n1  

1.4. Prismas 
Em  óptica,  um  prisma  é  um  elemento  transparente  com  superfícies  retas  e 
polidas  que  refratam  a  luz.  Os  ângulos  exatos  entre  as  superfícies  dependem  da 
aplicação.  O  formato  geométrico  tradicional  é  o  prisma  triangular  com  base 
quadrangular e lados triangulares - daí o emprego da palavra "prisma".  
Os  prismas  são  tipicamente  feitos  de  vidro,  mas  também  podem  ser  feitos  de 
qualquer material transparente aos comprimentos de onda ao qual são designados 
 

11 
 
 
Se,  para  um  dado  raio  incidente,  se  rodar  o  prisma,  o 
desvio  vai  diminuindo  até  um  mínimo,  após  o  qual  volta  a 
aumentar. 

 
 
Toda a parte do prisma que não possa ser útil é cortada para minimizar a sua 
massa. 
As redes de difração atuam como prismas.  
 
Filmes dicróicos: permitem definir quais os raios que são transmitidos e quais os 
que são refletidos. 

1.5. Lentes
Lente: duas superfícies normalmente esféricas 
que delimitam um volume bem definido de um material 
com um índice de refração n. 
 

12 
 
 
As  lentes  designam-se  através  concavidade  e  convexidade  das  duas  superfícies. 
Consoante  o  sinal  do  raio  de  curvatura,  as  lentes  vão  ter  diferentes  tipos  de 
propriedades, nomeadamente de potência óptica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Uma  lente  é  caracterizada  pela  sua  espessura  (representado  em  cima por delta). 
Podem  fazer-se  dois  tipos  de  abordagens:  uma  tendo  em  conta  a  espessura  e  outra em 
que  pode  se  considerada  desprezável:  a lente delgada. Numa maneira geral é necessário 
ter em conta a espessura física da lente porque a espessura tem efeitos significativos. 
 

1.5.1 Superfícies esféricas  


 
Dioptro:  superfície  de  descontinuidade  entre  dois  meios  com  diferentes  índices 
de  refração. Um dioptro refrata raios luminosos e transforma feixes luminosos em feixes 
luminosos. 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aproximação paraxial:  
● Objeto P1 próximo do eixo 
● Pequenos ângulos de incidência  
● Raios luminosos próximos do eixo 
 

13 
Traçando  raios  e  calculando  ângulos  nas  condições  da  aproximação  paraxial, 
todos  os  raios  se  intersectam  em  P2,  a  imagem  de  P1.  Tal  como  nos espelhos, as contas 
dão-nos  simultaneamente  a  localização  axial  do  plano  imagem  e  a  distância  transversa 
da imagem ao eixo. 
 
Potência:  capacidade  de  um  sistema  ótico  de  alterar  a  convergência  (ou 
divergência) de um feixe.  
 
 
 
 
 
 
 
Tendo  em  conta  as  equações  acima,  a  equação  dos  planos  conjugados  e  a  da 
potência ótica, podemos comparar vários planos. 
 
 
 
Quanto  mais 
semelhantes  os  meios  são,  ou 
seja, têm valores de índice de refração mais próximos, menor a potência.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A equação dos planos conjugados dá-nos: 
● posição axial da imagem relativamente ao dioptro 
● posição transversa da imagem do ponto relativamente ao eixo 
 
z2
A  ampliação  transversa  é  proporcional  a  − z1
  (como  nos  espelhos)  mas  é 
corrigida pela razão entre os índices de refração: 
 
 
 

14 
Através  da  equação  dos  planos  conjugados  conseguimos  obter  duas  situações 
interessantes: 
● Objetos no infinito têm a sua imagem no plano focal imagem ( f i ) 
● Objetos no plano focal objeto ( f o ) têm a sua imagem no infinito 
 

1.5.2 Lentes delgadas no ar (n1=n2=1) 

 
 
Relembrar que uma lente é constituída por dois dioptros. 
 
O que caracteriza uma lente:  
● índice de refração do material (tipicamente um vidro um plástico) 
● raios de curvatura dos dois dioptros  
● espessura axial 
● índice de refração do espaço objeto 
● índice de refração do espaço imagem  
 
De  notar  que  no  exemplo  em  cima,  o  raio  de  curvatura  R1  é  positivo  pois  o  centro  de 
curvatura está à direita do vértice e o raio de curvatura R2 é negativo. 
 
Lente delgada no ar: 
● espessura é desprezada 
● índice de refração do espaço objeto/imagem é 1, pois é uma lente no ar  
 
Tendo  em  conta isto, podemos obter as seguintes expressões apenas válidas para 
lentes delgadas no ar: 
 
1 1 1 1 z2
K= f
= z1
+ z2 f
= (n − 1)( R1 − 1
R2
) y 2 =− y  
z1 1
1

 
 
 
 

15 
1.5.3 Sinal da Potência e Natureza dos Focos  
 
● Se K > 0, F e F´são ambos reais. 
● Se K < 0, F e F´são ambos virtuais 
 
Em  seguida  serão  apresentadas  as  várias  situações  para  que  se  possa  perceber 
melhor o porquê das frases acima. 
 
Foco Imagem 
 
K > 0 - Lente Positiva 
Feixe  de  raios  paralelos  incide  na  lente,  sendo  transformado  num  feixe  de  raios 
que converge para um ponto: foco imagem (representado por F’ na imagem) que é real.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
K < 0 - Lente Negativa 
Feixe  de  raios  paralelos  incide  na  lente,  sendo  transformado  num  feixe 
divergente, com o seu vértice no foco imagem que é virtual.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Foco objeto 
 
K > 0 - Lente Positiva 
O  foco  objeto  é  um  ponto  à  esquerda  da  lente  em  que,  se colocarmos uma fonte 
de  energia  pontual,  temos  a  garantia  que  o  feixe  transmitido  pela  lente  dá  um  feixe 
colimado. O objeto é real. 
 
 
 
 

16 
K < 0 - Lente Negativa 
Para  constituirmos  um  feixe  paralelo  à  saída,  é  necessário  um  feixe  que  convirja 
para  o  ponto  F  (foco  objeto).  Mas  neste  caso  o  ponto  foco  objeto  é  manifestamente 
virtual. A imagem deste objeto virtual colocado no foco objeto vai se formar no infinito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conclusão: 
● Lente Positiva: foco imagem e foco objeto reais 
● Lente Negativa: foco imagem e foco objeto virtuais 
 

1.5.4 Convenção de sinais 


 
A  convenção  de  sinais  é  a  mesma dos espelhos: tudo o que é real é positivo, tudo 
o que é virtual é negativo.  
Embora  muitos  livros  usem  as  palavras  convergente/divergente  para  descrever 
os  tipos  de  lentes,  a  mesma  lente  pode  fazer  convergir  ou  fazer  divergir  um  feixe 
incidente.  Tudo  depende  da  posição  do  objeto  e  do  plano  imagem  onde  nós  fazemos  a 
avaliação da “vergência” do feixe. Por isso, denominamos lente positiva/negativa 
 
  +  - 

So   Objeto Real  Objeto Virtual 

Si   Imagem Real  Imagem Virtual 

f ’  Lente Positiva  Lente Negativa 

yo   Objeto direito  Objeto invertido 

yi   Imagem direita  Imagem invertida 

MT   Imagem direita  Imagem invertida 

 
 
 

17 
Imagens de Objetos Reais (no ar) 
 
Objeto  Imagem - Potência Positiva 

Localização  Tipo  Localização  Orientação  Amplificação 

∞ > S o > 2f   Real  f < S i < 2f   Invertida  Minimizada 

S o = 2f   Real  S i = 2f   Invertida  Mesmo 


tamanho 

f < S o < 2f   Real  ∞ > S i > 2f   Invertida  Aumentada 

So = f     ± ∞     

So < f   Virtual  ∣S ∣ > S o   Direita  Aumentada 


∣ i∣
Objeto  Imagem - Potência Negativa 

Anywhere  Virtual  ∣S ∣ < ∣f ∣ , Direita  Minimizada 


∣ i∣
S o > ∣∣S i ∣∣  
 
 
 
➔ Lente positiva tem as propriedades de um espelho côncavo.  
➔ Lente negativa tem as propriedades de um espelho convexo. 
  
E por isso, num telescópio podemos substituir espelhos por lentes (e vice-versa). 
 
 
 
 
Para 2 dioptros: 
 

 
 
 
 

18 
Real vs Virtual 
Um  objeto  virtual  tem  sempre  na  sua  origem  um  objeto  real.  Uma  forma  de 
gerar um objeto virtual é juntar a primeira e segunda/quarta situações. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As  questões  de  real/virtual,  podem  agora  ser  mais  bem  entendidas  com  a 
formação de imagem através de uma lente simples. O conceito de “objeto virtual” tem de 
ser sempre entendido na perspectiva de uma lente específica.  

1.5.5 Ampliação longitudinal/axial 


 
Se  tivermos um objecto 3D, só podemos constituir a sua imagem no espaço 3D se 
o  fizermos  plano  a  plano.  Objectos  com  a  mesma  altura  a  diferentes  distâncias  do eixo, 
têm diferentes dimensões. A imagem de um objecto 3D será fortemente distorcida.  
 
As  partes  do  objecto  mais  próximas  da  lente,  terão  imagens  mais  afastadas  e 
serão  maiores  do  que  as  partes  mais  afastadas  do  objecto.  Se  o  objeto  estiver  próximo 
do Foco Objecto a deformação será muito significativa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O  conceito  de  Ampliação Longitudinal M “agarra” esta realidade. No fundo, avalia 
a  extensão  axial  imagem  (dl’)  associada  à  extensão  axial  objecto  (dl).  Basta  calcular  a 
derivada  dl’/dl  e  concluir  que  M  =  -m^2.  Como  m  varia  para  cada  par  de  planos 

19 
conjugados,  M  variará  ainda  mais  rapidamente e será sempre negativo. (m é a ampliação 
transversa) 
 

1.5.6. Sistemas Óticos 


 
Composição de Sistemas Ópticos 
 
Num  sistema  de  cadeia,  a  imagem  do  sistema  k  é  o  objeto  do  sistema  k+1  - 
propaga-se  a  imagem  ao  longo  dos  espaços  intermédios,  de  lente  para  lente.  As 
distâncias  entre  lentes  consecutivas  são  sempre  consideradas  positivas,  da  esquerda 
para a direita.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As  ampliações  transversas  multiplicam-se, para se obter a ampliação transversa 
final. 
 
Quando  a  distância  entre  as  duas  lentes  é  exactamente  igual  à  soma  (algébrica) 
das  duas  distâncias  focais  e,  ao  mesmo  tempo,  o  objeto  é  real  e  está  no  infinito:  temos 
um  telescópio,  e  a  imagem  final  encontra-se  também  no  infinito  –  é  um sistema afocal, 
muito importante para propagar e transformar feixes laser, ou para telescópios, etc. 

1.5.6.1. Pontos Cardinais  


Os  pontos  cardinais  consistem  de  três  pares  de  pontos  localizados  no  eixo  óptico 
de  um  sistema  óptico  ideal,  rotacionalmente  simétrico  e  focal.  Para  sistemas  ideais,  as 
propriedades  básicas  de  imagem  (e.g.,  tamanho  da  imagem,  localização  e  orientação)  são 
completamente  determinadas  pelas  localizações  dos  pontos  cardinais.  São  particularmente 
importantes para lentes espessas. 
Os  pontos  cardinais  permitem  encarar  parte  de  um  sistema  como  uma  “black 
box”  e  viabilizam  a  aplicação  única  da  equação  dos  planos  conjugados  a  um  sistema 
constituído por um número arbitrário de componentes ópticos.  
O  único  sistema  ideal  que  pode  ser  alcançado  na  prática  é  o  espelho  plano. 
Consequentemente,  a  utilidade  prática  dos  pontos cardinais seria muito limitada. Como 
tal,  os  pontos  cardinais  são  amplamente  usados  para  aproximar  o  comportamento  real 
dos sistemas rotacionalmente simétricos e focais. 
 

20 
Existem 3 pares de pontos cardinais: 
● Pontos Focais F e F’ 
● Pontos Nodais N e N’ 
● Pontos Principais H e H’ 
 
Situação de Focagem: 
Plano principal imagem (H’) 
Ponto principal imagem 
 
Situação de Colimação: 
Plano principal objeto (H) 
Ponto principal objeto 
 
Conhecendo  2  pares,  podemos 
facilmente obter o terceiro. 
 
A  potência  da  lente  (a  sua  capacidade 
para  alterar  a  convergência  ou  divergência de um feixe) pode ser avaliada pela distância 
de F’ a H’ - distância focal imagem, f’.  
 
É  de  notar que nada implica que f=f’. Aliás, no olho humano, esta igualdade não se 
verifica.  
  
Com os pontos cardinais, definem-se duas distâncias efetivas relevantes: 
 
Distância focal objeto efetiva: f (distância entre H e F) 
Distância focal imagem efetiva: f’ (entre H’ e F’) 
 
 
 
 
 
 
Podemos  recuperar  algumas  fórmulas  matemáticas  já  abordadas,  agora  à luz dos 
pontos cardinais: 
 
n n′
Equação dos planos conjugados : so + si =K 
 
n′
Potência ótica (é um invariante ótico): K= n
f = f′  
 
n l′ n1 si
Ampliação transversa: m = M T =− n′ l =− n2 so  
 
 

21 
1.5.6.2 Aproximação paraxial 
 
Na  ótica  geométrica,  a  aproximação  paraxial  é  uma  aproximação  de  pequenos 
ângulos,  usado  na  óptica  gaussiana  e no ray tracing quando o raio passa por um sistema 
ótico. 
Um  raio  ou  feixe  paraxial  é  um  raio  que  faz  um  pequeno  ângulo  com  o  eixo 
óptico  do  sistema  durante  todo  o trajeto por meio deste. Isto significa que, em qualquer 
ponto  do  sistema  óptico,  teremos  um  pequeno  ângulo  do  raio  em  relação  ao  eixo 
óptico.Tendo em vista esta propriedade, temos três importantes aproximações: 

sinθ ≈ θ tanθ ≈ θ cosθ ≈ 1  


Também  é  muito  utilizado  a  aproximação  paraxial  de  segunda  ordem,  chamada 
apenas  de  paraxial, onde as aproximações para o seno e tangente, mostrados acima, não 
se alteram, sendo que o cosseno passa a ser: 
θ2
cosθ ≈ 1 − 2
 
 
Sistemas  óticos  ideais  transformam  cones  (de raios luminosos) em cilindros - um 
cilindro  é  um  cone  com  o  vértice  no  infinito.  O  vértice  pode  encontrar-se em qualquer 
ponto do espaço. 
 
Qualquer  sistema  ótico  que  forme  imagens  comporta-se  como um sistema ótico 
ideal e forma imagens perfeitas sempre que: 
★ Os raios luminosos se propaguem “suficientemente próximo” do eixo; 
★ Os  ângulos  de  incidência  dos  raios  com  as superfícies que intersetam são 
“pequenos”. 
➔ Estas  condições  traduzem-se  em  termos  de  ângulos  ou  formas  de  superfície.  Se 
θ << 1 ,  as  aproximações  abordadas  são  aplicáveis.  Nestas  condições,  as 
superfícies esféricas são aproximadas a paraboloides.  
 
No  domínio  da  aproximação  paraxial  podemos  calcular  a  localização,  dimensões 
e orientação da imagem.  
Quando estas condições não são satisfeitas, há aberrações (a minimizar). 
 
 
 
 
 
 
 
 

22 
1.5.6.3. Dioptria e Dioptros  

Dioptria (D) 
A  dioptria  é  a  unidade  de  medida  da  potência (K). É calculada através do metro e 
não tem “subdivisões”. 
Invariante  ótico  (ex:  potência  ótica):  quantidade  que  caracteriza  um  sistema 
ótico, independentemente do espaço em que é calculada. 
 
Dioptro 
Relembrar  que  um  dioptro  é  a  superfície  de  descontinuidade  entre  dois  meios 
com diferentes índices de refração.  
 
Pontos cardinais de um dioptro 
Para  dioptros  ou  espelhos  (simples),  os  Planos  Principais  coincidem  e  são 
tangentes ao vértice da superfície. 
Para  localizar  os  pontos  nodais,  pensem  na  única  situação  em  que  não  existe 
deflexão  angular,  e  que  envolve  o  centro  de  curvatura  C  do  dioptro  ou  do  espelho: 
apenas  um  raio  orientado  para  C  não  sofre  deflexão.  Os  dois  pontos  nodais 
encontram-se, portanto, no centro de curvatura da superfície. 
 

1.5.6.4. Sistemas Afocais 

Em óptica, um sistema afocal (sem sistema focal) é aquele cuja distância focal é 
infinita. Nestes sistemas não conseguimos saber a posição dos pontos principais.  
Um sistema diz-se afocal se: 
➔ K=0 dioptrias 
➔ F ou F’ no infinito 
➔ H ou H’ no infinito 
 
Este  tipo  de  sistema  pode  ser  criada  com  um  2  elementos  ópticos,  onde  a 
distância entre os elementos é igual à soma dos de cada elemento de distância focal: 
 
F ′1 = F 2 ou f ′1 + f ′2 = d  
 
Aplicações: 
● Constituição  de  sistemas  que  “entreguem”  um  feixe  luminoso  ao  olho  - 
criando  um  feixe  colimado  na  retina  (microscópios,  telescópios, 
binóculos…) 
● Alteração do diâmetro de feixes (laser) 
● Propagação de feixes a grandes distâncias 
 

23 
Quando  um  sistema  é  afocal,  a  equação  dos  planos  conjugados  não  se  consegue 
aplicar  ao  sistema  inteiro.  Tem  de  ser  aplicada  sequencialmente,  às  partes  que  o 
compõem.  
 
Para  duas  lentes  separadas  de  d = f 1 + f 2 ,  conclui-se  facilmente que, seja qual for 
a posição do objeto, a ampliação transversa é constante e igual a: 

 
Um  conceito  importante  é  o  de  Ampliação 
Angular.  Dois  objetos  no  infinito  separados  por  um 
ângulo  θ   vão  constituir  imagens  no  plano  focal 
separadas lateralmente de: 
x = f ′1 tanθ  
 
Se  θ for  pequeno,  x ≈ f ′1 θ   e  a distância focal 
representa  o  fator  de  escala  que  relaciona  o  observável  no  sensor  e  os  ângulos 
no campo angular do instrumento.  
 

1.6. Aberrações 
 
Sistemas óticos reais (não ideais) 
A aproximação paraxial deixa de ser válida quando: 
● o objeto se afasta do eixo 
● diâmetro da lente aumenta  
● os ângulos de incidência aumentam 
 
Feixes cónicos 
● vértice bem definido, associados a objetos pontuais 
● contribuem para a mancha luminosa no plano imagem 
● representados mentalmente por cones (conjunto de secções planas que 
passam pelo eixo) 
● objetos pontuais no infinito são representados por cilindros (cones com o 
vértice muito afastado) 
 
 
Nas aberrações, os raios luminosos provenientes de um feixe cónico: 
● não se intersetam num único ponto  
● intersetam-se, mas no sítio errado 
 
 
 

24 
Exemplo - Olho Humano 
À medida que o diâmetro da pupila aumenta, a qualidade da imagem na retina 
degrada-se significativamente tanto em extensão (dimensões) como em estrutura.  
 

 
O número-f (ou f/#) da lente representa a razão f/D, em que D é o diâmetro da 
lente. Quanto menor for o f/# mais aberta é a lente, maior é o seu diâmetro de 
captação da luz. De um modo geral, a imagem degrada-se à medida que o objecto se 
afasta do eixo, e melhora quando o diâmetro diminui (f/# aumenta).  
 
Tipos de Aberrações 

 
 
Nota:  as  aberrações  classificam-se  da  mesma  forma  para  imagens  ópticas  ou 
electrónicas.  Em  microscopia  electrónica,  as  lentes  são  implementadas com campos magnéticos 
que deflectem os electrões, mas as aberrações definem-se do mesmo modo, embora numa escala 
muito  mais  reduzida,  pois  o  comprimento  de  onda  dos  feixes  de  electrões  é  cerca  de  1000x 
menor. 
 
 
 
 
 

25 
Esta  imagem  representa a variedade de manchas 
luminosas  em  sistemas  que  tenham,  em 
diferentes  proporções,  para  luz  monocromática. 
Um  sistema  real  manifesta-as  todas  em 
conjunto, “aditivamente”. 
 
 
 
As  aberrações  podem  ser  quantificadas  de  várias  formas.  No  diagrama  acima,  é 
medido  o  desvio  máximo  da  frente  de  onda  geométrica  real  relativamente  à  frente  de 
onda  geométrica  ideal  prevista  com  as  equações  e  conceitos  válidos  no  âmbito  da 
aproximação  paraxial.  Este  desvio  é  tipicamente medido em termos de comprimento de 
onda da luz no meio. O 1º valor refere-se à aberração pura no vértice mais próximo. 
 

1.6.1 Aberração Esférica (AE) 


Para  um  objeto  no  infinito,  imaginemos  o  feixe  cilíndrico  de  raios  incidentes, 
constituído  por  um  contínuo  de  folhas  (superfícies)  cilíndricas  com  diferentes  raios  de 
curvatura. 
 

Os  raios  paraxiais  focam  num  Foco  Imagem  (conceito  paraxial),  representado 
pela interseção dos raios azuis com o eixo ótico.  
Os  raios  vermelhos  representam  o  cilindro  que  incide  mesmo no bordo da lente, 
estes  vão  intersetar  o  eixo,  neste  caso  por ser uma lente positiva, antes do foco paraxial 
- o chamado Foco Marginal. 
Há  um  plano  onde  a  dispersão  transversa  dos  raios  é  mínima  (o  cone  marginal 
interseta  o  “cone”  paraxial).  Nesse  plano,  temos  um  círculo de confusão mínima. É aqui 
que  colocamos  o  sensor  para  termos  imagens  aceitáveis.  Ao  fazer  isso,  estamos  a 
colocar deliberadamente o sensor fora do plano imagem paraxial, violando a EPC. 
 
Quando  a  lente  tem  AE  há  dispersão  da  luz  no  plano  imagem.  Este  tipo  de 
aberração  é  inevitável  em  lentes  simples com dioptros esféricos.  Pode ser compensada 
com  superfícies  asféricas  ou  com  pares  de  lentes  (de  materiais  diferentes,  tipicamente 

26 
+/-).  É  também  possível  otimizar  o  desenho  de  uma  lente  de  modo  a  reduzir  a 
quantidade de aberração. 
 
Quantificação da Aberração Esférica: 
● Aberração Transversa - Extensão transversal dos raios luminosos (mais 
frequente) medida pela interseção dos raios marginais relativamente ao 
eixo 
● Aberração Longitudinal - dá-nos a distância entre o foco marginal e o 
foco paraxial 
 
A  AE  varia  com  o  cubo  da distância dos raios ao eixo. Por isso, a AE toma valores 
controlados  com valores pequenos (perto do eixo), mas dispara à medida que o diâmetro 
da lente aumenta. 
 
Cáustica 
Uma cáustica é a superfície dos raios de luz refletidos ou 
refratados por uma superfície curva ao objeto, ou a projeção dessa 
superfície de raios em outra superfície. É um fenómeno diretamente 
depende das AE pode ocorrer com lentes ou espelhos. A cáustica 
aproxima-se de uma folha cónica, um pouco arredondada. Sobre a 
cáustica, a intensidade luminosa é mais elevada, pois a “densidade” de raios luminosos 
é maior. 
As franjas escuras que se vêm em algumas imagens de AE não são explicáveis em 
OG. Pertencem ao padrão de difração, pois o laser é uma fonte monocromática. Os 
efeitos da AE não dependem da posição do objeto no campo. 
 
Overcorrected e Undercorrected  
Apresentaremos  duas  lentes  positivas  mas  com  diferentes  formas.  Apesar  de 
terem  a  mesma  potência  ótica,  introduzem  diferentes  quantidades  de  Aberração 
Esférica (apreciadas pela “extensão” do volume focal). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lente  positiva  biconvexa  -  AE  é  menor.  A  deflexão  angular  total  é  repartida  pela 
primeira  e  segunda  superfícies,  consequentemente,  os  ângulos  de  incidência  na 
primeira  e  segunda  superfície  são  menores.  Como  podemos  ver  na  imagem,  os  raios 
marginais intersetam o eixo depois do foco paraxial, daí o termo overcorrected.  
 

27 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lente  plano-convexa  -  AE  é  maior.  A  face  plana  não  participa  na  deflexão 
angular.  Todo  o  trabalho  de  focalização  é  da  responsabilidade  do  2º  dioptro  esférico,  e 
os  ângulos  de  incidência  são  maiores.  A  aproximação  paraxial  é  mais  intensamente 
violada,  e  a  qualidade  da imagem diminui. Se invertêssemos a lente, pondo a parte plana 
para o lado do foco, a situação seria mais vantajosa.  
Um  dos  princípios  práticos  para  a  construção  de  sistemas  é  garantir  que  a 
deflexão  angular  que  queremos  que  o  sistema  ótico  faça  sobre  um  feixe  que  vem  do 
objeto,  seja  o  mais  possível  repartida, com o máximo de equidade por todos os dioptros 
que constituem o sistema.  
 
1.6.2 Coma
Existe apenas para objectos fora do eixo. O feixe incidente imagina-se como um 
cone oblíquo, com vértice no objecto e base no 1º dioptro do sistema óptico. Há 
assimetria na distribuição dos ângulos de incidência que origina uma mancha tão 
inconveniente em todas as aplicações. No coma, é importante agregarmos os raios por 
folhas cónicas, com vértice no objecto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O alvo é colocado à distância prevista pela EPC (no plano imagem paraxial). 
1. É  traçado  o  raio  que  passa  pelos  pontos  nodais  e  que  permite  identificar 
no  alvo  a  posição  imagem  paraxial  e  que  está  de  acordo  com  o  valor  da 
ampliação transversa. 
2. É  traçado  um  conjunto  de  raios  paraxiais  em torno do raio anterior, e que 
se  apoiam  numa  folha cónica estreita. (Reparem que as interseções destes 

28 
raios  com  o  plano  imagem  paraxial  formam  uma  circunferência  cujo 
centro não é a imagem paraxial… Há um desvio.) 
3. São  traçados  mais  raios  sobre  diferentes  folhas  cónicas  e  o  efeito 
amplia-se 
 
As  circunferências  são  progressivamente  maiores  e  o  seu  centro  afasta-se  cada 
vez  mais  da  posição  da  imagem  paraxial.  Quando  todos  os  raios  são  traçados  obtemos 
um  cone  oblíquo  com  vértice  na  imagem  paraxial,  e  com  a  forma  de  um  cometa,  com 
um  núcleo  muito  intenso  e  uma  grande  cauda  com  uma  densidade  de  energia 
decrescente. 
 
O  coma  é  uma  aberração  complicada.  A  situação  que  está  abaixo representada é 
um  espelho  que  recebe  um  feixe  de  raios  paralelos  provenientes  de  um  objeto  fora  do 
eixo.  
Temos  várias  circunferências  associadas  às  situações  1, 2 e 3. Estas situações são 
associadas  a  folhas  cilíndricas  de  raios  que  intersetam  o  espelho a diferentes distâncias 
ao  eixo.  À  medida  que  z  (distância  ao  eixo)  aumenta,  vamos  tendo  circunferências  com 
raios ( R ) e distâncias da imagem paraxial ( Δ ) progressivamente maiores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O  raio  (R)  destas  circunferências  é  diretamente  proporcional  a  h (medida  do 
desvio  lateral  do  objeto  em  relação  ao  eixo)  e  varia  quadraticamente  com  z .  O  2f 2
funciona  apenas  como  fator de escala. O coma (diâmetro destas circunferências) é tanto 
maior  quanto  maior  a  distância  do  objeto  ao  eixo  e  varia  quadraticamente  com  o 
diâmetro  da  lente.  A equação  Δ = R  diz-nos que a distância do centro da circunferência 
em relação à imagem paraxial é igual ao valor ao raio da circunferência em questão.  
Através  destas  duas  equações  temos  caracterizada  a  família  de  circunferências 
no  plano  imagem.  Para  um  objeto  fixo,  se  tomarmos  r  como  parâmetro da família, pode 
ser calculada a envolvente: um cone com abertura de 60º. 
 
Resumindo:  O  coma  é  uma  aberração  que  está  associada  à  constituição  de 
manchas  luminosas  com  forma  de  cones  com  uma  abertura  de  60º  e  uma  distribuição 
assimétrica  de  energia (máximo da distribuição na região do núcleo e uma grande cauda 
de cometa, onde a densidade vai diminuindo progressivamente). 

29 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na  imagem  em  cima  temos  um  objeto  no  infinito  (não  axial)  a  uma  distância 
angular  θ   do  eixo.  O  vértice  de  cada  folha  cónica  transmitida  através  da  lente 
encontra-se  no mesmo plano ótico (EPC é respeitada), mas com diferentes distâncias do 
eixo.  Num  sistema  com  coma  é  como  se  a  ampliação  transversa  fosse  também  em 
função da distância do objeto ao eixo.  
 
Exemplos de coma: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À  esquerda  -  disco  de  Airy,  um  conceito  decorrente  da  difracção.  A  difracção 
impede  que  a  mancha  luminosa  seja  inferior  ao  disco  de  Airy.  Quando  a  OG  consegue 
que  isso  aconteça  dizemos  que  o  sistema  está  “limitado  por  difracção”.  À  direita  - 
imagem  astronómica.  Quanto  mais  brilhante  for  a  estrela,  maior  a  extensão  visível  do 
coma.  Estrelas  a  diferentes  distâncias  angulares  do  eixo,  terão  diferentes  valores  do 
coma, o qual aumentará do centro para a periferia.  

Imagem  típica  de  um  conjunto  de  objectos  pontuais 


distribuídos  por  todo  o  campo  angular  do  sistema  óptico.  O 
coma  aumenta  do  centro  para  a periferia, e a “cauda” do cometa 
afasta-se sempre do eixo óptico. 
 

1.6.3 Astigmatismo 
Nos  sistemas  ópticos  com  simetria  de  revolução,  o astigmatismo só se manifesta 
para  objetos  fora  do  eixo  óptico  (tal  como  o  coma).  Existe  também  em  sistemas  sem 
simetria  de  revolução  (ex.:  olho  humano).  Nesta  situação  pode  ocorrer  astigmatismo 
quando  a  potência  óptica  depende  da  orientação  do  plano  que  contém  o  eixo  de maior 
simetria.

30 
 
 
É  útil  agregar  os  raios  luminosos  em  planos  que  contenham  o  objeto,  a  imagem 
paraxial  e  os  pontos  nodais  (vamos  assumir  que  N=N’).  Nas  figuras  estão  apenas 
representados dois planos: 
● Plano Meridional - contém o eixo dos Z (eixo ótico) e o objeto pontual 
● Plano Sagital - perpendicular ao meridional 
 
A  distribuição  dos  ângulos  de  incidência  no  1º  dioptro  é  simétrica  para  os  raios 
sagitais,  mas  assimétrica  para  os  raios  meridionais.  A  falta  de  simetria  entre  planos 
perpendiculares é o que está na base das características do astigmatismo.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os  planos  do  foco  meridional  (azul)  e  do  foco  sagital  (laranja)  não  coincidem, 
estão afastados! Como se a potência meridional fosse superior à potência sagital…  
 
Os  raios  sagitais  não  convergem  no  foco  meridional  e, nesse plano, formam uma 
pequena  linha  focal  (azul,  vertical).  Da  mesma  forma,  os  raios  meridionais  não 
convergem  no  foco  sagital  e  nesse  plano  formam uma pequena linha focal (horizontal, a 
laranja).  Ou  seja,  nos  dois  planos  focais  formam-se  pequenas  linhas  focais 
perpendiculares entre si!  
 
Quando  consideramos  todos  os  planos  de  raios  luminosos  temos  uma  estrutura 
focal  complexa  em  que  temos  linhas  focais  perpendiculares  nos  extremos,  elipses  com 
diferentes  excentricidades  no  meio  e,  algures,  uma  das  elipses  que  degenera  num 
círculo, constituindo um círculo de confusão mínima.

31 
 
● Linhas focais perpendiculares entre si (com distância entre elas) 
● Manchas  elípticas  com  excentricidade  variável  entre  0  (no  círculo  de  confusão 
mínima) e +/-1 nas linhas focais 
● É  como  se  a  potência  óptica  variasse  com  o  plano  que  se considera, tomando os 
valores  extremos  nos  planos  sagital  e  meridional,  e  valores  intermédios  nos 
outros planos 
 
O  astigmatismo  pode  ser  tolerável.  Quantifica-se  através  do  comprimento  das 
duas  linhas  focais  e  da  separação  entre  os  dois  planos  focais.  Distância  transversa  do 
objecto  ao  eixo  -  h ;  raio  da  abertura  da  lente  -  r .  Varia  quadraticamente  com  r   e 
linearmente com r (o coma é linear com h e quadrático com r ). 
 
Exemplos de astigmatismo: 
 
 
Próximo  do  círculo  de  confusão  mínima  -  o  raio  é 
essencialmente  constante,  e  com  resquícios  das  linhas 
focais verticais. 
 
 
Imagens  nos  eixos  meridional  ou  tangencial  e 
sagital.  No  eixo  não  há  astigmatismo,  mas 
rapidamente  as  pequenas  linhas  focais  aumentam 
(quadraticamente  com  a  posição  transversa  do 
objeto),  sendo  perpendiculares  entre  si  nos  dois 
planos  focais.  O  seu  comprimento  aumenta 
também com o campo. 
 

32 
Situação  peculiar  em  que  todas  as  aberrações  estão  simultaneamente presentes 
com  uma  câmara  do  sistema  PLAT.  A  imagem  (PSF)  de  um  objeto  pontual  colocado  a 
cerca  de  14º  do  eixo.  É  um  misto  de  aberração  esférica,  coma,  astigmatismo  e  outras 
aberrações.  A  questão  aqui  é  como  determinar  o  centro  de brilho desta mancha, que só 
se pode estimar com base nas leituras dos sensores e análise de imagem. 
 
Resumo:  Até  agora  aceitámos  violar  as  condições  de  validade  da  aproximação 
paraxial  e  vimos  a  natureza  e  estrutura  da  imagem  gerada  por  sistemas  óticos  com 
aberração  esférica,  coma  e  astigmatismo.  Nestes  três  casos,  o  sistema  ótico  gera  um 
feixe  que  não  tem  vértice  bem  definido  e  a  uma  mancha  luminosa  que,  em  certas 
condições,  ainda  utilizamos  como  imagem,  se  o  nosso  sensor  não  puder  resolver  a  sua 
estrutura interna, ou se o sistema ótico for limitado por difração.  
 
Na  curvatura  e  distorção,  para  cada  objeto  pontual,  o  feixe  imagem  tem  um 
vértice  bem  definido,  mas  a  sua  localização (longitudinal ou transversal) não satisfazem 
nem a EPC nem a equação da ampliação transversa. 
 
 

1.6.4 Curvatura de Campo (Petzval) 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curvatura  de  campo  -  imagem  de  cada  um  dos  objetos  é  perfeita  mas  forma-se 
sobre uma superfície curva e é por isto que a aberração se chama curvatura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Feixes  cónicos  de  raios  luminosos  que  emergem  da  lente  e  convergem  para  um 
ponto que está colocado à frente (ou em alguns casos atrás) do plano imagem paraxial. 
 

33 
A  maior  parte  dos  sensor  que  utilizamos  na  instrumentação  são  planos,  mas  a  . 
imagem  forma-se  sobre  uma  superfície  curva.  Se  posicionarmos  o  sensor  no  vértice da 
superfície  curva  conseguimos  ter  imagem  de  boa  qualidade  no  centro,  mas  imagens 
desfocadas na periferia; se ajustamos a imagens na periferia, desfocamos os objetos mais 
próximos do eixo ótico do sistema. 
 
A  curvatura  de  campo afeta sistemas de lentes e sistemas de espelhos, e pode ter 
sinais (de curvatura) positivo ou negativo. 
 
 
 
 
 
 
 
No  caso  da  lente  (à  esquerda),  a  superfície  é  côncava  –  a  superfície  imagem 
encontra-se  antes  do  plano  imagem  paraxial.  No  caso  do  espelho  (à  direita),  após 
reflexão,  a  luz  desloca-se  da  direita  para  a  esquerda,  e  a  superfície  de  Petzval 
encontra-se depois do plano imagem paraxial.  
Esta  aberração  é  quantificada  através  do  raio  de  curvatura  da  superfície  de 
Petzval,  que  deve  ser  tão  elevado  quanto  possível.  Prova-se  que  a  curvatura  de  Petzval 
tem  as  mesmas  dependências  do  astigmatismo:  varia  linearmente  com  o  raio  da 
abertura  da lente, r, e quadraticamente com a distância transversa do objeto à lente, h. É 
por  esta  razão,  que  estas  duas  aberrações,  se  devem  compensar.  A  curvatura  viola  a 
EPC, pois a posição longitudinal da imagem não é a prevista pela EPC. 
 
Compensação da Curvatura 
A  curvatura  pode  ser  compensada  de  várias  formas:  a  mais  frequente  é  associar 
lentes  (ou  blocos  de  lentes)  com  curvaturas  de  sinais  opostos.  Ganha-se  complexidade, 
mas resolve-se o problema. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À  esquerda  uma  lente  asféricas  que  introduz  atrasos  diferentes  no  eixo  e  na 
periferia.  As lentes asféricas são caras e o cálculo das superfícies só é ótimo para um par 
específico  de  planos  conjugados.  À  direita,  um  elemento  - Field Flattener, que introduz 
atrasos  distintos  e  planifica  a  superfície  imagem.  Como  a  correção  não  é  completa,  em 

34 
astronomia  posiciona-se  um  (ou  algumas  centenas  de)  robot  que  vai  à  zona  da  imagem 
com um feixe de fibras e capta a imagem no sítio onde ela está mais bem constituída. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recentemente  começamos  a  ver  aparecer  matrizes  de  sensores  planos  cuja 
envolvente  é  curva,  adaptando-se,  portanto,  à  superfície  imagem  curva.  Esta  solução  é 
muito  interessante  para  planos  focais  de  área  muito  grande  (>  m^2),  constituído  por 
centenas de sensores (CCD ou CMOS) de ~10 cm de largura.  
Finalmente,  mas  ainda  em  fase  de  investigação,  com  tensões  e  temperaturas 
adequadas  é  possível  deformar  as  pastilhas  de  silício  com  as  quais  os  sensores  são 
feitos. Estas duas últimas soluções são muito promissoras para as próximas décadas. 
 
 

1.6.5 Distorção 

 
 
As  imagens  são perfeitas, mas não estão, transversalmente, nos sítios certos. São 
muito  usadas, as distorções típicas, em almofada ou em barril (em cima). A compensação 
da distorção é feita através da otimização da localização do stop de abertura do sistema 
(em  baixo),  ou  através  de  sistemas  simétricos  em  relação  a  um  plano  axial.  Só  no  caso 
ortoscópico  se  consegue  que  o  raio  central  do  feixe  imagem intersecte o plano imagem 
no sítio que a ampliação transversa determina. 
 
 
 
 
 
 
 
 

35 
Nas  aplicações  reais,  em  que  a  geometria  da  imagem  é  muito  importante,  a 
distorção  tem  de  ser  descrita  com  modelos  em  série  de  potências.  A  distorção “cresce” 
radialmente  em  torno  de  um  ponto  especial  (o  centro  da  distorção,  xc ,  y c ).  O  modelo 
quantifica  o  desvio  do  observável  ( xd , y d )  relativamente  à  posição  ideal  ( xu , y u )  através 
de  um  polinómio  radial  a  partir  do  centro  da  distorção.  Em  astrometria  e  em  visão 
computacional,  a  distorção  tem  de  ser  rigorosamente  estimada,  calibrada  e 
compensada,  e  os  resíduos  da  correção  podem  ter  de  ser  da  ordem  de  p/10  ou mesmo 
de  p/20.  Nos  sistemas  ópticos,  e  em  primeira  aproximação,  a  distorção  varia  com  o 
cubo  da  distância  radial  do  objecto  ao  eixo.  Não  é  afetada  pelo  raio  da  abertura  da 
lente. 
 
Objetivas Fish-eye  
Existe  uma  gama  muito  alargadas  de  objectivas  de  grande  angular  que, 
naturalmente,  introduzem  grandes  distorções  na  passagem  do  seu  campo  angular  para 
um  plano  imagem  plano.  São  as  chamadas objectivas olho-de-peixe (fish-eye objetives). 
Estas lentes exigem modelos matemáticos não polinomiais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As  objectivas  olho-de-peixe  (fish-eye  objectives)  são  basicamente  objectivas  de 
grande  campo  angular,  que pode chegar a 180º. Garantem campo angular, boa qualidade 
de  foco,  mas,  inevitavelmente,  enorme  distorção!  Todavia,  conhecendo  o  modelo 
analítico  da  distorção,  pode  ser  compensada,  sendo  possível  calcular  as  coordenadas 
cartesianas de pontos de interesse e implementar os modelos utilizador. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

36 
1.6.6 Aberrações: principais dependências 
 
Aberrações de Seidel de 3ª ordem 
 
Aberração  Esférica  Coma  Astigmatismo  Curvatura  Distorção 

Expoentes  y3   y2 h   y h2   y h2   h3  

Principais  dependências  das  5  aberrações  (aberrações  de  Seidel  de  3ª  ordem) 
com  o  diâmetro  da  pupila,  y  e  com  a  posição  angular  ou  transversa  do  objecto  no 
campo de um instrumento óptico, h. 
 
Aberrações de Seidel de 5ª ordem 
 
Aberração  Esférica de  Coma  Astigmatismo  Petzval de  Distorção  Esférica  Coma 
5ª ordem  Linear  de 5ª ordem  5ª ordem  de 5ª ordem  Oblíqua  elíptico 

Expoentes  y5   y4 h   y h4   y h4   h5   y 2 h2   y 2 h3  
 
Podemos  recorrer  a  um  conjunto  de  termos  de  ordem  superior.  Os  nomes  são 
parecidos com os de 3ª ordem sempre que as manchas luminosas forem parecidas. 
 

1.6.7 Aberrações: frentes de onda 


 
Frente de onda geométrica 
● Lugar  geométrico  de  pontos  do  espaço  atingidos  ao  mesmo  tempo  pela 
perturbação luminosa 
● À mesma distância óptica (Percurso Óptico) da fonte. 
 
Esfera de referência  
● Frente  de  onda  que  se  deseja  que  o  sistema  gere,  centrada  na  imagem 
paraxial e que cumpre as equações: 
○ Equação dos planos conjugados 
○ Ampliação transversa 
 
Aberração da frente de onda  
● Percurso óptico (W) entre a onda e a esfera de referência 
 
 
 
 

37 
O  feixe  imagem  não  tem vértice bem definido. Ao feixe imagem real corresponde 
uma  frente  de  onda  real,  que  não  é  esférica  (azul).  Se  fosse  (vermelho),  o  feixe  de  raios 
associado  convergeria  para  uma  imagem  pontual,  sem  aberração.  À  direita,  à saída uma 
frente  de onda real (preto) e a frente de onda de referência (rosa). A aberração é definida 
como o percurso óptico entre as duas superfícies, nW(x,y).  
O raio luminoso que emerge da pupila em (x,y) e é perpendicular à frente de onda 
real,  incide  no  plano  imagem  paraxial  desviado  de  Δr   em  relação à imagem paraxial (no 
fundo,  Δr  é a aberração transversa).  Calculando o gradiente de W(x,y) podemos calcular 
as intersecções dos raios luminosos com o plano imagem paraxial. 
 
W depende das coordenadas: 
● Na pupila de saída (x,y) 
● Do objecto (x,h) 
Em sistemas com simetria axial: 
● Invariantes de rotação (objecto / pupila) 
x2 + y 2 , xξ + y η , ξ 2 + η 2  
● Pode-se fazer ξ = 0   
 
W pode ser desenvolvido em série de potências de x2 + y 2 , y η e η 2 : 
 
 
 
 
 
 
NOTA:  Não  há  termo  constante  (no  centro  da  pupila,  W  =  0),  nem  fazem  sentido  termos  que  não 
dependam de (x,y). 
 
Termos  de  1ª  ordem  ( ai ):  esfera  de  referência  está  centrada  no  ponto  errado  (e 
não na imagem gaussiana): em z desfocagem (defocus), em x,y tilt 
Termos de 2ª ordem ( bi ): aberrações primárias ou de Seidel 
 
 
 
Para  cada  caso  temos,  à  esquerda,  a  posição 
relativa  das  duas  frentes  de  onda 
geométricas  (a  real  e  a  de  referência)  na 
pupila  de  saída,  e  à  direita  o  percursos 
óptico  entre  elas, isto é, W. É W que é sujeito 
a  uma  representação  em  série  de  funções 
adequadas. 
Expansão de Zernike 
As  funções  de  Zernike  constituem 
uma  base  de  funções  que  se  definem  em  coordenadas  polares  (r,  ).  São  ortonormais 
num  disco,  isto  é  num  domínio  circular  -  a  pupila  de  saída.  Quando  a  pupila  não  é 
circular  mas  um  anel  (a  pupila  de  saída  de um telescópio, com o secundário a obstruir a 

38 
parte central do primário), ou um retângulo (caso do telescópio Gaia), pode-se construir, 
a  partir  das  funções  de  Zernike  um  novo  conjunto  de  funções  ortonormais  nesse 
anel/retângulo,  com  o  processo  de  Gram-Schmidt.  A  sua  representação  gráfica  ajuda  a 
perceber  que  as  características  geométricas  que  cada  uma  destas  funções  consegue 
representar. 
 
 
 

1.6.8 Aberração Cromática 


Se  um  prisma  separa  as  componentes  cromáticas  de  um  feixe  de  luz  branca, 
então  para  se  preservar  a  utilidade  da  lei  da  refracção,  temos  de  admitir  que  n  tem 
valores  diferentes para as várias cores primárias. Assim tudo depende da cor: a distância 
focal  de  uma  lente,  a  sua  potência,  a  posição  do  plano  imagem,  as  aberrações,  etc.  No 
visível,  a  AC  é  avaliada  através  da  separação  longitudinal  entre  os  focos  extremos:  o 
azul e o vermelho (amarelo no meio).  
 
 
 
 
 
Para  compensar  a  aberração  cromática  usam-se  pares  de  lentes  feitas  de 
materiais  que  têm  propriedades  ópticas  distintas,  e  associadas  em  combinações  +/-.  O 
critério  de  desenho  é  fazer  coincidir  os  focos  extremos,  Fazul  =  Fvermelho.  Daqui 
resulta  uma  irisação  residual  -  a  cor  secundária  -  no  amarelo,  que  não  pode  ser 
compensado  desta  forma  –  exigiria,  por  exemplo,  uma  terceira  lente. No caso de fontes 
monocromáticas (laser) a aberração cromática não existe.  
 
 

39 
1.7. Olho e Visão 

1.7.1. Overview 
A  Visão  é  um  domínio  muito  rico  (seja  na  vertente  “natural”,  seja  na  vertente 
“artificial”  ou  computacional).  O  olho  é  o  1º  elemento  da  visão.  A  sua  constituição 
encontra-se na seguinte imagem. 

Constituição do Olho: 
★ Córnea - localizada na região polar anterior do globo ocular.  
★ Cristalino  -  de  forma  (logo,  potência  óptica) variável, controlado de forma 
automática, e viabilizando o mecanismo de acomodação. 
★ Retina  -  superfície  sensorial  aproximadamente  esférica  que  contém  uma 
zona  cega  na  inserção  do  nervo  óptico  na  retina,  e  uma  zona  de  mais 
elevada  concentração  de  sensores  que  efetuam  a  transdução  do  sinal 
luminoso (fóvea).
★ Cones e bastonetes - sensores 
 
O olho humano é constituído por 4 dioptros organizados em: 
1. Córnea 
2. Humor aquoso (câmara anterior do olho) 
3. Cristalino vítreo 
4. Retina 
 
A  córnea  e o cristalino têm a função de focar a luz através da pupila para a retina, 
como  se  fosse  uma  lente  fixa.  São  as  lágrimas  (secreção  lacrimal)  que  mantêm a córnea 
húmida e saudável. 

40 
O  olho  humano  é  dotado  de  uma  abertura  (a  pupila)  de 2 a 8 mm de diâmetro na 
íris  (membrana  colorida,  na  superfície  anterior  do  cristalino),  dotada  de  um  sistema  de 
controlo de diâmetro, em malha fechada). 
 
Para o olho humano distinguimos dois eixos: 
Eixo  ótico  -  eixo  em  torno  do  qual  os  4  dioptros  têm  um  nível  razoável  de 
simetria de resolução. É perpendicular aos 4 dioptros.  
Eixo  visual  -  eixo  que conecta a fóvea ao ponto nodal imagem, N’. Numa direção 
paralela, passa no plano nodal objeto.  
 

Na  visão  binocular,  os  mecanismos  automáticos  de  convergência  ajustam  a 


orientação  dos  dois  eixos  visuais,  que  se  intersectam  naturalmente  no  ponto  de 
interesse em visão binocular normal.

Os nossos olhos são capazes de efetuar diferentes tipos de movimentos: 

● Movimento  sacádico  do  olho:  movimento  rápido  e  intermitente  que  os  olhos 
realizam  para  acompanhar  uma  linha  e  para  que  a  palavra  que  queremos  ler 
esteja  focada  na  fóvea  -  rápida  passagem  no  ponto  foveal.  (A  palavra  sacádico 
remete para movimento brusco e rápido.) 
● Movimentos  de  fixação  ou  acompanhamento:  a  fixação  tem  que  ser  muito 
rápida  e  precisa,  uma  vez  que  estamos  em  constante  movimento,  tal  como  os 
objetos que fixamos.
● Movimentos  de  convergência:  é  um movimento coordenado dos olhos no qual 
os  seus  eixos  se  desviam  simultaneamente  até  ao  ponto  de  visão.  Mudando  a 
distância  do  objeto  em  relação  ao observador, os movimentos de convergência 
mantêm-no  fixado  nas  fóveas  de  ambos  olhos.  medida  que  o  objeto  se 
aproxima,  os  movimentos  de  convergência  mudam  as  direções  da  visão  de 
ambos  os  olhos  até  ao  nariz.  Se  o  objeto  se  aproximar  até  uns  poucos 

41 
centímetros  da  cara,  é  impossível  uma  maior  convergência,  tendo  lugar  uma 
“dupla visão”. 

Deve-se  assinalar  que  os  movimentos  sacádicos  são  repentinos,  mudando 


intermitentemente  a  posição  do  olho,  enquanto  que  os  movimentos  de  fixação  e 
convergência são suaves e contínuos. 
 
O  olho  –  aliás,  os  dois  olhos,  coordenados  em  situações  normais  –  não  se 
encontra em repouso! 
Temos  interesse  em  usar  a  zona  da  fóvea  quando  queremos  analisar  um  objecto 
com atenção, varrendo ciclicamente os pontos críticos.  
O  globo  ocular  roda,  de  modo  a  que  a  imagem  se  centre,  tanto  tempo  quanto 
possível,  em  torno  do  eixo  visual.  Note-se,  todavia,  que  mesmo  em  regimes  de  atenção 
extrema,  existem  sempre  movimentos  sacádicos  não  controlados  (com  frequências  da 
ordem  de  10-100  Hz)  que  garantem  que a zona de interesse – ou os seus pontos críticos 
- vá desfilando na região da fóvea. 

Retina 
 
A  retina  é  uma  estrutura  bastante  complexa,  conforme  se  pode  ver  na  seguinte 
figura.  Chama-se  a  atenção  para  a  inserção  do  nervo  óptico na retina. É uma zona sem 
sensores  de  luz,  o  “ponto  cego”  ou  “disco  óptico”.  Atenção:  a  luz  propaga-se  de  baixo 
para  cima,  isto  é,  passa  através  de  todas  as  estruturas  anteriores  antes  de  chegar  aos 
fotorreceptores, os cones e os bastonetes. 
 

42 
Os  fotorreceptores  são  os  cones  e  os  bastonetes,  que  contém  uma  quantidade 
finita de proteínas (rodopsina) que constituem o elemento que absorve a luz. 

  Qualquer  transdutor  tem  de  absorver  a  luz,  mudar  de  estado  e  transmitir  essa 
mudança  de  estado  ao  sistema  de  processamento  –  e  finalmente  tem  de  regressar  ao 
estado inicial para estar disponível para nova absorção. 

  Os  cones  dispõem  de  três  tipos  de  proteínas,  as  opsinas,  que  contém  moléculas 
de pigmento chamado retinal. 

  Nos bastonetes, ao conjunto opsina+retinal chama-se rodopsina. 

  Nos  cones,  existem  três  tipos  de  opsinas, com espectros de absorção distintos, o 


que  está  na  base  da  visão  das  cores  da  responsabilidade  apenas  dos  cones  –  podem 
absorver  os  espectros  de  absorção  normalizados,  e  um  gráfico  da  sensibilidade  relativa 
decorrente dos foto-sensores dos cones. 

O mecanismo de transdução consiste na transformação isomérica da molécula de 
retinal  por  absorção  da  luz  (moléculas  passam  de  cis  a  trans).  A  transformação  inversa 
demora  tempo (ordem dos milissegundos), o que permite explicar a resposta logarítmica 
do olho à luz, bem como a saturação para luminosidades elevadas. 

A seguinte tabela elenca as principais diferenças entre cones e bastonetes. 

43 
 
*  -  Numa  perspetiva  legal,  a  cegueira  existe  quando  o  melhor  olho  tem  uma  acuidade 
visual  inferior  a  1/10  e/ou  o  campo  visual  é  inferior  a  10º  (certos  graus  de  daltonismo 
entram nesta categoria).  

 
O  gráfico  seguinte  representa  a  distribuição  angular  dos  cones  e bastonetes, em 
termos  do  respetivo  número  (N)  por  grau  (N/grd).  Note-se  que  a  escala  é  logarítmica, 
que  os  cones  estão  essencialmente  concentrados na fóvea e que não há fotorrecetores 
no ponto cego. 

 
 
Mas  há  outros  olhos  animais  muito  diferentes  do  olho  humano.  O  olho  humano 
dispõe  de  um  sistema  óptico  e  de  um  sensor  extenso,  o  que  lhe  permite  a  visão  de 
objetos  extensos  em  paralelo.  Muitos  animais  têm  olhos  compostos, em que cada canal 
tem  a  sua  óptica,  o  seu sensor e fica associado a uma direção bem definida. O campo de 
visão  3D  é  também  totalmente  distinto.  A  junção  dos  sinais  e  a reconstrução do mundo 
será certamente diferente da do ser humano. 
 

44 
Olho Humano - Modelo 
 
Os  Modelos  do  olho  são  basicamente  caracterizações  estatísticas  sobre 
populações.  ).  O  modelo  de  LeGrand  foi  um  dos  primeiros  e  dos  mais  usados.  Vamos 
então  caracterizar  o  olho  como  sistema  óptico.  As  suas  propriedades  dependem  da 
Acomodação:  um  mecanismo  automático  que  ajusta  a  potência  do  cristalino  de  modo a 
garantir que a imagem se mantém focada na retina. 

  Com  efeito,  já que não se pode deslocar a retina, a EPC obriga a que alguma coisa 


mude:  a  potência  do  cristalino,  logo  a  potência  do  olho  e  a  posição  dos  seus  pontos 
cardinais. 

  Nas  seguintes  tabelas,  temos  os  dados  descritivos:  posição  (Z,  em  mm)  em 
relação  ao  vértice  na 1ª superfície da córnea, o raio de curvatura (R, em mm), o índice de 
refracção do meio que se segue (n) e a potência óptica do dioptro (K, em dt). 

  Há  variação  de  vários  parâmetros  quando  se  considera  o  regime  acomodado  (à 
direita):  R,  n e K variam. Em baixo, temos as propriedades ópticas ao nível de subsistema 
(córnea  e  cristalino)  e  do  olho  completo.  Para  cada  caso,  temos  os  valores  em  regime 
Não Acomodado (NA) e acomodado (A). 

45 
Segue-se  uma  imagem  representativa  do  modelo  óptico  do  olho  completo  (NA). 
Note-se: 

★ A  posição  dos  pontos  principais  (P  e  P’)  no  interior  da  câmara  anterior  o  olho,  a 
cerca de 1.6 mm da superfície anterior da córnea. 
★ A assimetria na posição dos pontos focais F e F’. 
★ A  posição  dos  pontos  nodais,  N  e  N’,  pouco  depois  do  cristalino  e  que 
determinam a orientação do eixo visual. 
★ O  descentramento  do  ponto  cego  e  da  mácula  relativamente  ao  eixo óptico, que 
intersecta a retina em F’ 

A mácula é uma estrutura em torno da fóvea, com maior densidade de cones. 

  Olho Humano - Parâmetros Óticos 

46 
Importante reter: 

❏ O  aumento  da  potência  do  olho  com  a  acomodação  (cerca  de  12  dt), 
devida exclusivamente ao cristalino. 
❏ A variação da distância focal imagem com a acomodação. 
❏ Os  dois  valores  importantes  do  campo  angular 
de  visão  108  e  5º  (de  um  olho  e  da  fóvea)  – 
notem  que  os  108º  não  se  distribuem 
simetricamente  devido  à  limitação  causada 
pelo nariz – com se verá no próximo slide. 
❏ A  enorme  variação  do  diâmetro  da  pupila,  com 
a  correspondente  variação  do  f/#,  que  passa 
de  f/6.8  (pupila  menor)  para  f/2.4  (pupila 
maior). 

  Recordem que f/# = f/D, em que D é o diâmetro da pupila. 

Quanto aos pontos cardinais: 

● Pontos principais: dentro da câmara anterior do olho 


● Pontos  focais  são  assimétricos  -  assimetria  dos  valores  do  índice  de 
refração 
● Eixo  visual  passa  na  fóvea  opondo-se  transversalmente  à  mácula  e  ao 
ponto cego. 

Existem  três  tipos  de  opsinas  nos  cones,  com  diversos  espectros  de absorção – 
os  cones  são  normalmente  referidos  como  cones  S(hort),  M(edium), L(ong) (referência a 
comprimentos  de  onda).  Se,  por  razões  clínicas  ou  genéticas,  um  ou  vários  têm 
sensibilidades  reduzidas  ou  nulas,  temos  degradação  das  perceções  cromáticas,  ou 
mesmo cegueira das cores. 

47 
1.7.2. Erros de Refração e Compensação 
 
As perturbações optométricos referem-se à visão longínqua, à visão próxima ou 
à convergência (dos eixos visuais). 
 
Problemas Optométricos 
 
Visão Monocular - problemas independentes em cada olho. 
 
Visão Longínqua  
★ Emetropias - sem problemas optométricos 
★ Ametropias - independentes entre si, podendo coexistir.  
○ Miopia - a imagem forma-se antes da retina 
○ Hipermetropia - a imagem forma-se depois da retina 
○ Astigmatismo  ocular  -  não  é uma nova ametropia, mas apenas uma 
“desconformidade”  entre  as  potências  ópticas  segundo  diferentes 
planos  de  raios  luminosos  (tal  como  se  viu  na  aberração  com  o 
mesmo nome) 
 
Visão Próxima 
★ Presbiopia - o olho não possui potência suficiente para focar objetos 
próximos.  

Visão Binocular 
★ Estrabismos  -  dificuldade  em  obter  um  foco.  Condição  em  que  os  olhos 
não  estão  corretamente  alinhados  entre  si  quando  a  pessoa  foca  um 
objeto.  A  condição  pode-se  manifestar  de  forma  permanente  ou  apenas 
ocasionalmente.Geralmente passam com o crescimento. 
 
Vamos agora analisar algumas ametropias mais detalhadamente.  
 
Miopia 
 
O foco imagem situa-se à frente da retina. 
O  olho  é  demasiado  potente  para  o  comprimento  que 
tem ou é demasiado comprido para a potência que tem. 
Um  míope  vê  bem  desde  que  o  objeto  seja  colocado 
num  ponto  específico  -  ponto  remoto.  Neste  caso,  o 
feixe  consegue  convergir  para  a  retina.  Tudo  o  que  se 
insira  no  plano  do  ponto  remoto  é  bem  visualizado por 
um míope. 
Objetos  entre  infinito  e  o  “farpoint”  não  são  bem 
percecionados.  
Ametropia  em  que  o  organismo  não  recorre  à 
acomodação 

48 
 
Compensação:  lentes  negativas para combater o excesso de potência ótica ou cirurgias 
LASIK  -  lasers  de  fento-segundo  (fs)  que  permitem  a  escultura  da  córnea,  tirando 
material  do  estroma  (material  que  constitui a córnea) e ajustando o raio de curvatura da 
superfície  anterior  da  córnea.  Com  impulsos  fs,  o  material  é  removido  por  disrupção 
(campo  elétrico  muito  intenso  no  foco  quebra  as  ligações  moleculares),  e  não  por 
aquecimento  e  mudança  de  fase).  As  perturbações  são  mínimas  pois  não  há 
aquecimento.  
 
 
 
Hipermetropia  
 
O  foco  imagem  situa-se  para  lá  da  retina  o  que  implica 
que  na  retina  o  feixe  ainda  não  tenha  convergido.  Por 
conseguinte,  há  na  fóvea  muitos  cones  excitados, 
provocando uma imagem difusa.  
O  olho  é  pouco  potente  (demasiado  fraco)  para  o 
comprimento  que  tem  ou  demasiado  curto  para  a 
potência que tem. 
Para  um  hipermetrope  formar  uma  imagem  na  retina 
sem  recorrer  à  acomodação,  tem  de  receber  um 
convergente  para  um  ponto  especial,  virtual,  situado 
atrás  da  retina:  o  ponto  remoto,  R.  A  potência  óptica 
que tem é apenas suficiente para aumentar um pouco a convergência do feixe. 
Um  olho hipermetrope recorre à acomodação - deformação do cristalino, aumentando a 
potência  ótica,  para  observação  de  objetos longínquos. Como consequência, gasta a sua 
reserva  de  acomodação,  que  deixa  de  estar  disponível  para  a  visão  próxima  e  origina 
cansaço  visual  resultante  da  ação  constante  dos  músculos  responsáveis  pela 
acomodação - passa a ter dificuldade em ver ao perto e cansaço visual.  
Compensação: lente positiva! 
 

 
 

49 
Astigmatismo Ocular 
 
O  astigmatismo  é  um  erro  de  refração  do  sistema 
óptico  no  qual  as  imagens  produzidas  são  distorcidas. 
Advém  de  uma  curvatura  irregular  da  córnea  ou  uma 
forma  irregular  do  cristalino,  o  que  faz  com  que  que  a 
luz não seja corretamente focada na retina.  

As  superfícies  da  córnea  e  do  cristalino  não  são 


exactamente esféricas: 

● A  córnea  tem  potência  vertical  superior  à 


horizontal; 
● O  cristalino  tem  potência  horizontal  superior  à 
vertical. 

Como vimos na aberração “astigmatismo”, vamos ter um 
foco  meridional  e  um  foco  sagital  axialmente 
separados,  e  duas  pequenas  linhas  focais 
perpendiculares  nos  dois planos focais (que “desfocam” 
linhas radiais orientadas perpendicularmente no plano imagem). 

O  astigmatismo  ocular  pode  surgir  em  indivíduos  com  outras  ametropias.  A  sua 
compensação  efetua-se  simultaneamente.  Temos  de  usar  lentes  com  superfícies  elas 
próprias  astigmáticas,  mas  com  o  astigmatismo oposto. Podemos usar lentes cilíndricas 
ou  lentes  tóricas.  Nos  dois  casos,  a  potência  varia  continuamente  entre  dois  valores 
extremos  (positivos  ou  negativos).  É  sempre  possível 
determinar  um  corte  num  volume  tórico  (seja 
côncavo  ou  convexo)  com  potência  esférica  que 
compensa  a  ametropia  e  com  potência  cilíndrica 
que compensa o astigmatismo. 

 
Presbiopia (vista cansada) 
 
A  presbiopia  refere-se  à  visão  próxima  e  tem  como 
causa  a  degradação  da  capacidade  do  cristalino  em 
assumir  uma  configuração  que  viabilize  a  formação 
da  imagens  de  objetos  próximos  na  retina,  por 
ineficiência  da  atuação  dos  músculos  ou  do  sistema 
de  controlo.  A  acomodação  ocular  degrada-se  com a 
idade:  das  ~12-13  dt  iniciais,  restam  ~2-3  dt  após  os 
50 anos.   
 
 

50 
Para  objetos  próximos,  se  a  potência  óptica  máxima  diminui,  a  distância  objeto  deve 
aumentar, mas dificilmente pode ultrapassar o comprimento do braço.  
A  compensação  faz-se  através  de  lentes  bifocais  ou  de  lentes  progressivas.  A 
acomodação  é  quantificada  através  da  posição do Ponto Próximo ou da diferença entre 
as potências ópticas máxima e mínima do olho. 
 
 
 
Ótica ocular: Acomodação 

Há,  em  qualquer  idade,  um  limite  máximo  à  capacidade  de  acomodação.  Para 
aquém do Ponto Próximo,PP, a imagem não se forma na retina. 

  A  distância  do  PP à córnea é normalmente assumida como sendo de 10” (cerca de 


25.4  cm):  a  distância  mínima  de  visão distinta. Mas muita gente tem uma capacidade de 
acomodação superior, ou seja, tem um PP mais próximo. 

  Com  a  diminuição  da acomodação, o PP afasta-se e o plano objecto conjugado da 


retina para a acomodação máxima, afasta-se também. 

  A gama de posições visualizáveis varia, portanto entre as posições de R e de P. 

  Podemos  colocar  R  no  infinito,  compensando  a  ametropia.  Para  colocar  P  a uma 


distância  confortável,  temos  de  implementar  uma  compensação  adicional  (e 
independente) da ametropia. 

  Podemos  ou  não  concretizar  as  duas  compensações  na  mesma  lente?  Dentro de 
limites,  sim,  com  lentes  bifocais  ou com lentes progressivas, funcionalmente ajustadas à 
orientação  do  eixo  visual  em  tarefas  próximas  e  na  observação  ao  longe.  Ou  com  dois 
óculos distintos, para tarefas de curto e médio alcance. 

 
 
 
Ponto Remoto e Próximo & Correções 
A  compensação  da  ametropia  tem  certamente  consequências  na  visão  próxima, 
através da alteração da posição do Ponto Próximo (PP). 

  Em  cima  –  miopia:  um  míope  com  o  remoto  a  50  cm.  Tendo  potência  em 
excesso,  o  seu  PP  encontra-se  apenas  a  8  cm.  Com  a  lente  negativa  de  compensação, 
que  desloca  o  seu  remoto  para  infinito,  o  PP  afasta-se  também  (para  23  cm).  A visão ao 
longe  está  restabelecida  à  custa  de  uma  pequena  degradação  da visão próxima: 23 cm é 
bem  inferior  ao comprimento do braço e é perfeitamente compatível com uma distância 
normal de leitura. 

  Em  baixo  –  presbiopia: representa-se um presbita que vê bem entre 200 e 50 cm 


(PP).  Com  a  compensação  da  presbiopia  com  uma lente progressiva, a gama de posições 
de  visão  melhora  e  o  PP  aproxima-se  para  25  cm.  Com  uma  lente  bifocal,  a  lua  inferior 

51 
gera  uma  zona  de  trabalho  próxima  (entre  25  e  40  cm)  e  uma  zona  de  visão  longínqua, 
porventura sem solução de continuidade. 

 
 

 
 
 

1.8. Conceitos de Sistema 


Definir-se-á  agora  um  certo  número  de  conceitos  de  sistema,  que  podem  ser 
objecto  de  especificação-utilizador,  ou  que  constituem  graus  de  liberdade  para 
melhorar a qualidade da imagem ou viabilizar a correta utilização de um sistema óptico. 
 

1.8.1. Stop de Abertura e Pupilas 

Qualquer  sistema  tem  uma  abertura  que  limita  o  fluxo  luminoso  que  é 
transmitido  da  entrada  para  a  saída.  Pode  ser  uma  abertura  expressamente  colocada 
para tal fim ou pode ser, simplesmente, o bordo de uma das lentes. 
Do  ponto  de  vista  de  cálculo  de  fluxos  luminosos,  é  sempre  importante 
conhecermos  os  ângulos  sólidos  de  entrada  (espaço  objeto)  e  de saída (espaço imagem) 
e,  de  modo  geral,  são  diferentes.  Todavia,  descontadas  as  perdas  por  absorção,  por 
reflexão  ou  por  difusão  nas  lentes ou espelhos, o fluxo à entrada é igual ao fluxo à saída, 
pois a energia conserva-se. 
 
 

52 
Para estes efeitos, importa conhecer a posição axial e o diâmetro de 3 aberturas: 
★ o  diafragma  ou  stop  de  abertura  (a  abertura  física  que  efetivamente  confina 
lateralmente o feixe), 
★ a sua imagem vista do espaço objecto (pupila de entrada), e 
★ a sua imagem vista do espaço imagem (pupila de saída). 
 
 
 

 
Conhecidas  as  pupilas,  os  ângulos  sólidos  (em  sr)  são  conhecidos e os fluxos (em 
W)  podem  ser  calculados,  mesmo  sem  nada  mais  se  saber  sobre  a  estrutura do sistema 
óptico (além, é claro, da potência e dos pontos cardinais…). 
Com  esta  definição,  as  pupilas  e  o stop de abertura são todos conjugados entre si, 
embora  por  partes  diferentes  do  sistema  óptico.  Pode  ainda  acontecer  que  uma  pupila 
coincida com o stop de abertura e/ou com a outra pupila. 
 
 
 

53 
À  esquerda,  o  cone imagem está totalmente definido pela abertura física, que é o 
stop de abertura: o cone objecto calcula-se com os raios imagem extremos. 
Um  observador  no  objecto  não  “vê”  directamente  o  stop  de  abertura.  Vê  a  sua 
imagem  dada  pela  lente  interposta,  isto  é,  vê  o  stop  de  abertura  através  de uma lupa. 
Essa  imagem  é  a  Pupila  de  Entrada  (PE)  do  sistema,  neste  caso,  virtual  e  maior  que  o 
stop. 
Por  força  da  relação  de conjugação entre o stop e a PE, um raio orientado para o 
bordo  da  PE,  após  ser  deflectido  pela  lente  passa  pelo  bordo  do  stop  de  abertura.  O 
ângulo  sólido  objecto  calcula-se  (por  definição)  dividindo a área da PE pelo quadrado da 
distância à PE. 
 
À  direita,  é  o  cone  objecto  que  é  directamente  condicionado,  e  os  seus  raios 
extremos  determinam  o  cone  imagem.  Um  observador  colocado  no  plano  imagem  vê  a 
imagem  do  stop  dada  através  da  lente,  que funciona como lupa. Essa imagem é a Pupila 
de  Saída  (PS).  Neste  caso,  a  PS  também  é  virtual  e  ampliada.  Conhecida  a PS, o ângulo 
sólido  imagem calcula-se dividindo a área da PS pelo quadrado da sua distância ao plano 
imagem. 
À esquerda, a PS coincide com o Stop. à Direita, a PE coincide com o Stop. 
Imaginem  agora  o  mesmo  exercício  admitindo  que  a  lente  é  bem  mais  pequena 
(a  vermelho).  É  o  diâmetro  da  lente  que  determina  os  dois  cones  e  os  dois  ângulos 
sólidos.  O  Stop  e  as  duas  Pupilas  (PE  e  PS)  coincidem  todas  na  lente  e  têm  todas  o 
mesmo diâmetro. 
 
➔ Exemplos - Telescópios 

 
Representa-se  um  telescópio  (com  plano  imagem  a  distância  finita)  e  três  feixes 
objecto  (objecto  no  eixo,  a  verde).  Todos  os  feixes  preenchem  completamente  a 
objectiva, que funciona como stop de abertura. 

54 
Forma-se  uma  imagem  intermédia  real  no  plano  focal  da  objectiva.  Neste  plano, 
pode  ser  inserido  uma  abertura  que  limite  o  campo  angular  efectivo  –  um  stop  / 
diafragma de campo. 
A  2ª  lente  (ocular)  conjuga  o  plano  objeto  da  imagem  intermédia  com  o  plano 
imagem final. 
Todos  os  feixes se sobrepõem inteiramente num plano à frente do plano imagem. 
Isto  significa  que,  caso  lá  fosse  colocado  um  diafragma  de  diâmetro  variável,  seria 
possível  reduzir,  por  igual  para  todo  o  campo,  a  quantidade  de  luz que flui para o plano 
imagem  final.  Seria  uma  posição  natural  para  a  colocação  do  stop  de  abertura.  Note-se 
que  este  plano  é  conjugado  do  bordo  da  objectiva  pela  2ª  lente:  será,  portanto,  o  plano 
da pupila de saída e a ampliação transversa é fácil de calcular. 
 

 
Representa-se  uma  alça  telescópica  (mira  de  pontaria),  afocal  e  dois  feixes 
objecto que preenchem completamente a objectiva, que funciona como stop de abertura. 
Forma-se  uma  1ª  imagem  intermédia  real  no  plano  focal  da  objectiva.  Como esta 
imagem  está  invertida,  segue-se  um  sistema  de  inversão,  de  duas  lentes,  que  inverte  a 
imagem  e  forma  nova  imagem  intermédia  real  no  “2º  plano  focal”.  Este  bloco  inversor é 
constituído  por  lentes  iguais  (embora  invertidas  para  corrigir  a  distorção)  e,  no  caso 
representado, a ampliação transversa é m = -1. 
Segue-se  a  ocular  (3  lentes)  que  coloca  a  imagem  no  infinito  e  posiciona  da 
pupila  de  saída  à  distância  adequada  (o  relevo  ocular  -  numa arma, deve ser acautelado 
o  recuo,  para  que  a  ocular  não  “colida”  com  o  olho…).  O  olho  recebe  um  conjunto  de 
feixes paralelos e, sem precisar de acomodação, constitui a imagem final na retina. 
Sobre  qualquer  imagem  intermédia real, pode ser colocado um retículo / mira calibrada 
para  ajudar  a  fazer  medidas,  estimar  ângulos  etc.  Sobre  os  mesmos  planos,  pode  ser 
colocado um stop de campo – colocado no “2º plano focal”. 
Neste  caso,  o  conjunto  formado  pelo  bloco  inversor  e  pela  ocular  é  responsável 
por  conjugar o plano do stop de abertura (a abertura limite da objectiva, que é também a 
pupila de entrada) com o plano da pupila de saída. 
É  de  notar  que  o  sistema  total  é  afocal,  e  que  a  ampliação  angular  é 
–f_objectiva/f_ocular  pois  o  bloco  inversor é “neutro” (m=-1). A dimensão efectiva da 
imagem  final  na  retina  depende  do  ângulo  que  o  Raio  Principal  (do  feixe  inclinado) 
final faz com o eixo. 

55 
Salienta-se ainda que a extensão transversa do feixe do extremo do campo é bem 
menor  que  a  do  centro  do  campo  -  o  seu  diâmetro  está  limitado  pelo  sistema inversor: 
pelo  bordo  inferior  da  1ª  lente  e  pelo  bordo  superior  da  2ª.  A  irradiância  da  imagem 
associada será certamente inferior à da imagem central. 
Em suma: 
★ Viu-se  o  stop/diafragma  de  abertura  e  as  duas  pupilas,  todos  conjugados entre 
si (azul escuro). 
★ Definiu-se  o  stop/diafragma  de  campo  e  as suas janelas – associados a objectos 
ou imagens reais – e todos conjugados entre si (azul claro). 
★ Viu-se  o  raio principal (sobretudo o do bordo do campo) que passa pelos centros 
das pupilas (a vermelho). 
★ Em  conjunto, conhecidos todos estes elementos, é possível esboçar os contornos 
do  feixe  luminoso  (através  dos  raios  marginais  do  centro  do  campo)  nos  vários 
espaços (objecto, intermédios e imagem), sem fazer contas. 
★ Com  a  PE  conhecida,  é  conhecido  o  ângulo  sólido  que  esta  subentende  quando 
vista  do  centro  do  campo,  e  é  possível  calcular  o  fluxo  luminoso  que  acaba  por 
ser  recebido  no  plano  imagem  final  (descontadas  as perdas nos vários elementos 
ópticos intermédios, lentes, espelhos ou filtros) 
 

 
 
 
 
 
 
 
 

56 
Interface com o sistema ótico seguinte 
Quando  se  adiciona  um  novo  sistema, 
deseja-se,  naturalmente,  que  toda  a luz que sai 
do 1º possa ser utilizada pelo 2º.  
Se  toda  a  luz  emerge  pela  PS1  e  toda  a 
luz  que  entra  pela  PE2  chega  ao  plano  imagem 
final,  então  é  necessário  que  a  PS2  =  PE1  em 
termos  longitudinais,  e  é  ainda  necessário  que 
o diâmetro da PE2 não seja inferior ao da PS1. 
Note-se  que  se  a  PS1  estiver 
devidamente  posicionada,  o  “relevo  ocular” 
pode  tomar  o  valor  conveniente  para  acautelar  o  movimento  das  pestanas,  o  recuo  de 
uma arma, etc. 
É por esta razão que é tão importante saber colocar as pupilas de um sistema, em 
função  da  forma como o sistema vai ser usado. No caso dos microscópios, lunetas, etc, a 
PS  do  1º  sistema  deve  ser  real  e  explicitamente  localizada  a  3.045  mm  (nominais)  do 
vértice da córnea do olho. 
 
Sistemas Telecêntricos 
Os  sistemas  telecêntricos  representam  uma 
classe  importante  de  sistemas  ópticos  pela  sua 
relevância  em  metrologia,  isto  é,  a  “arte”  de  bem  medir, 
ou em visão computacional. 
Um  sistema  é  telecêntrico  quando  o  raio 
principal (associado a objetos fora do eixo) é paralelo ao 
eixo.  Consequentemente,  a  pupila  correspondente 
encontra-se  no  infinito.  Esta  questão  tem  muita 
importância  sobretudo na perspectiva da imagem que se 
recebe num sensor. 
O  raio principal representa o raio em torno 
do  qual  um  feixe tem simetria máxima. Isto 
significa que: 
★ se  torna  mais  fácil  estabelecer  o 
“centro”  de  uma  mancha luminosa na 
imagem, 
★ uma  eventual  desfocagem  (sensor 
ligeiramente  afastado  da  posição  óptima)  tem  os  mesmos  efeitos  em  todos  os 
pontos do campo, 
★ o feixe incide tão perpendicularmente quanto possível no sensor, etc. 
Na  perspectiva  do  plano  imagem,  a  distância  finita,  não  é  difícil  aceitar  que  se  o 
stop  de  abertura  se  encontrar  no  Plano  Focal  Objecto  da  lente  seguinte,  o  sistema  é 
telecêntrico (imagem de cima, no meio).  

57 
Portanto,  através  da  posição  adequada  do  stop  de  abertura  selecionamos  a 
forma do feixe objecto que efectivamente contribui para a imagem final. 
 

1.8.2. Lentes de Campo (field 


lens) 
As  figuras  representam  um  telescópio, 
um  sistema  afocal,  em  que  a  distância  entre 
lentes  é  igual  à  soma  das  duas  distâncias 
focais. 
Na  primeira  imagem,  note-se  que  o 
feixe  vermelho  só  passa  parcialmente  pela 2ª 
lente,  logo,  a  imagem  correspondente  será 
certamente  menos intensa. Aumentando ainda 
mais  a  inclinação  do  feixe  vermelho,  não  é 
difícil  imaginar  a  situação  a  partir  da  qual  o 
feixe  vermelho  nem  sequer é intersectado pela 
2ª lente. 
Na  segunda  imagem  colocou-se  uma 
nova  lente no plano da imagem intermédia – a 
lente  de  campo.  Para  esta  lente,  l  =  0  e  l’  =  0, 
isto  é,  as  distâncias  objecto  e  imagem  são 
ambas  nulas  e  coincidem  (m=+1).  Mas  esta 
lente  não  é  totalmente  inócua.  Na  parte  superior,  ela  funciona  como  um  prisma,  e 
portanto  deflecte  a  luz  aproximando-a  da  base  do  prisma,  desta  forma,  aumentando  a 
fração do feixe que intersecta a 2ª lente. 
É  esta  a  função  de  uma  lente  de  campo:  aumentar  um  pouco  o  campo  angular 
de  um  sistema  e  aumentar  um  pouco  a  intensidade  das  imagens  mais  próximas  do 
bordo do campo. Para a usar, o sistema tem de constituir imagens intermédias reais. 
É  verdade  que  esta  lente  pode  contribuir  para  as  aberrações  do  sistema  –  mas 
também  contribui  com  mais  4  parâmetros  (dois  raios  de  curvatura,  uma  espessura  um 
índice  de  refracção) para os graus de liberdade que podem ser utilizados na optimização 
do sistema óptico. 

58 
1.8.3 Vinhetagem 

 
Tem-se  aqui  um  tripleto,  com  um  stop  de abertura bem identificado (diafragma). 
Nas  condições  paraxiais  normais,  as  pupilas  (não  representadas)  devem  ter  a  mesma 
forma  circular  do  diafragma  –  à  esquerda,  representa-se  a  forma  da  PE  (circular)  para 
um objecto axial. 
Mas  para  objectos  próximos do bordo do campo, o mesmo diafragma não é ainda 
o Stop de Abertura e as pupilas não são as mesmas. 
Note-se  que,  para  um  objecto  na  parte  inferior  do  campo,  o  feixe  luminoso  é 
limitado,  por  baixo, pelo bordo da 1ª lente, e é limitado, por cima, pelo bordo da 3ª lente. 
O  Stop  de  Abertura  é,  assim,  delimitado  por  arcos  de  círculo  em  planos  distintos!  A 
pupila,  efectivamente  tem  uma  forma  totalmente  diferente  e,  sobretudo,  uma  área 
muito menor (em baixo à esquerda). 
Se  a  área  diminui,  o  fluxo  luminoso  diminui  e  a  imagem  será  menos intensa. É 
este o fenómeno de vinhetagem (vignetting). 
Não  será  necessário  enfatizar  que  os  consumidores  não  gostam  de  objectivas 
com  vignetting  excessivo.  Daí  que  os  fabricantes  reduzam  deliberadamente  o  campo 
angular  de  um  instrumento,  recorrendo  a  diafragmas  de  campo,  para  tornar  menos 
relevante este fenómeno. 
Na  astronomia,  a  vinhetagem  também  não  é  desejável,  mas  como  se  trata  de um 
fenómeno  físico  inescapável,  os  astrónomos  especificam  uma  atenuação  máxima  do 
fluxo luminoso no bordo do campo que os fabricantes têm de satisfazer. 
Se  os  efeitos  da  redução  da  área  da  pupila  são  fáceis  de  entender,  os  efeitos  da 
alteração  da  forma  da  pupila  são mais subtis: se se altera a forma, altera-se o padrão de 
difracção  e  a  resolução  especial  ou  angular  do  sistema  degrada-se  –  mas  isto  só  se 
pode  explicar  no  âmbito da propagação (ondulatória) da luz e da física (e matemática) da 
difracção. 

59 
Exemplo: 

1.8.4. Número-f / F-number (f/#) 


O f/# é uma medida da convergência do feixe.  
Repare-se que, por definição, ele pressupõe um objecto 
no infinito e a imagem no plano focal. 
Quanto  maior  for,  mais  estreito  é  o  feixe, 
mais  fechada  é  a  lente,  menor  é  a  área  das 
pupilas, menor é o fluxo luminoso. 
A  escala  parece  bizarra:  1.4  –  2.8 – 4 – 5.6 – 
8  –  11  –  16  –  22  ...  Cada  vez  que  se  passa  para  o 
valor seguinte, o fluxo reduz-se a metade! 
 
 
Em  fotografia,  trabalha-se  com  a  irradiância 
no  plano  imagem.  É  preciso  entregar  ao 
sensor  uma  densidade  de  energia  bem 
definida.  
Temos  dois  graus  de  liberdade,  impostos 
pela  sensibilidade  do  sensor:  o  tempo  de 
exposição  e  o  f/#.  Se  aumentarmos  o  tempo  de  exposição,  podemos  fechar  a  lente 
(aumentar o f/#). 
Mas  não  de  qualquer  modo...  Por  exemplo,  se  o objecto estiver em movimento, o 
tempo  tem  de  ser  tão  reduzido  quanto  possível,  logo  a  exposição  é  controlada  através 
do f/# que deve diminuir (aumentando a área da pupila). 
Quanto  menor  for  o  f/#  mais  cara  é  uma  objectiva...  Sendo  o  diâmetro  maior, 
mais  bem  compensadas  têm  de  ser  as  aberrações  (que dependem do diâmetro da lente) 
e mais complexo é o sistema. 
 
 

60 
1.8.5. Profundidade de Campo
f/#  tem  outros  efeitos,  na  fixação  da 
profundidade de campo e de foco: 
Profundidade  de  campo:  zonas  distintas 
do objecto estão simultaneamente focadas. 
Profundidade  de  foco:  se  a  posição  do 
sensor  for  ligeiramente  alterada,  tal  não  tem 
grande impacto sobre a qualidade da imagem 

As  duas  profundidades  dependem  essencialmente  da  abertura  dos  feixes  nos 
espaço  objecto  e  imagem,  logo  do  f/#.  Quanto  maior  for  o  f/#  mais  fechados  são  os 
feixes e maiores são as duas profundidades. 
Novamente  relacionado  com  a difracção: quanto mais estreito for o feixe imagem 
(maior  f/#)  maiores  são  os  padrões  de  difracção  e  mais  reduzida é a resolução espacial 
do  instrumento.  Portanto,  na  maior  parte  das  aplicações  científicas,  é  necessário 
especificar um valor máximo do f/# que não pode ser ultrapassado. 
Do  ponto  de vista físico, é o sensor que determina os critérios relevantes, através 
do  diâmetro  máximo  do  círculo  de  confusão:  se  se  tratar  de  um  sensor  com  um pixel de 
largura  p,  o  sinal  é  o  mesmo  desde  que  a  mancha  luminosa seja inferior a p. Se o sensor 
for  o  olho,  nós  não  somos  sensíveis  a  variações  inferiores  a  p  =  0.1  mm  (situação 
optimista, mas é o valor que normalmente se usa para estas questões...). 
Portanto,  para  um  dado  par  de  conjugados  (a  situação  altera-se  de  par  para  par) 
ficam definidos: 
★ O diâmetro útil máximo da lente (logo, o seu f/#), 
★ O  valor  da  profundidade  de  foco  (uma  pequena  gama  de  posições  em  torno  do 
plano imagem). 
É  agora  possível  passarmos  para  o  espaço  objecto  e  determinar  os  dois  planos 
objecto  (A  e  B)  conjugados  dos  dois  planos  imagem  (A’  e  B’)  que  delimitam  o  volume  do 
foco.  Note-se  que  a  profundidade  de  campo  não  é  simétrica  em  torno  da  posição 
nominal do objecto. 
Consoante  as  aplicações,  o  utilizador pode especificar a profundidade de foco ou 
a profundidade de campo, mas não as duas. 
 
 
 
 
 
 
 

61 
Para consolidar esta secção, seguem-se dois diagramas. 

62 
1.9. Instrumentos Óticos 

Todos  conhecem  as  lupas  e  sabem  que uma lupa é um sistema auxiliar do olho. A 


sua  óptica  pressupõe,  portanto,  que o olho humano é o 2º sistema óptico que se segue à 
lupa, e que a interface geométrica e fotométrica (energética) deve ser estabelecida. 
Uma  imagem  real,  final,  deve  ser  constituída  na  retina  e  é  essa  imagem  que  nos  deve 
permitir  analisar  com  maior  ampliação  detalhes  do  objecto  inicial  de  pequenas 
dimensões. 
Contrariamente  ao  que  muitos  possam  pensar,  as  lupas  são  constituídas,  normalmente 
por 2 ou 3 lentes coladas entre si – pares ou tripletos. 
Não  temos  essa  percepção,  pois o adesivo que é usado tem um índice de refração muito 
próximo  do  das  lentes  e,  consequentemente,  nada  parece  estar  a  ser  difundido  da 
interface.  É  de  notar  que  algumas  lupas devem produzir informação métrica (com miras 
auxiliares)  e  que  pode  ser  muito  importante  compensar  a  distorção  e  ter  um  campo 
angular relativamente extenso. 
 
 
 
Lupa 
Com  uma  lupa  queremos  aumentar 
a  dimensão  da  imagem  na  retina 
relativamente  à  dimensão  que  ela  teria  se 
estivesse a ser criada sem ajuda.  
Como  pode  acontecer  que  a  lupa 
(de  potência  óptica  D  –  o  inverso  da 
distância  focal)  gere  feixes  colimados, 
recorre-se  ao  conceito  de  Ampliação 
Angular, (Magnifying Power, MP). 
De  uma  forma  convencional, 
comparam-se  os  dois  ângulos  segundo  os 
quais o mesmo objecto é visto: 
★ Sem  ajuda  (un-aided)  à  distância 
convencionada  para  a  posição  do 
Ponto Próximo, d0 = 25 cm. 
★ Com  ajuda  (aided)  da  lupa 
determinado  o  ângulo  definido  pela 
direcção do raio principal do extremo do objecto. 
Na  aproximação  paraxial,  assumindo  que  os  ângulos (em rad) e as suas tangentes 
são  aproximadamente  iguais, é possível construir uma expressão geral para a MP função 
de todos os parâmetros relevantes: 

63 
As  três  situações  representadas  diferem  em  termos  da  ampliação  máxima 
conseguida  –  que  é  máxima no caso 2 (lupa colada ao olho e imagem virtual tão próxima 
quanto possível do olho, isto é no Ponto Próximo). 
Como  regra  prática,  divide-se  a  Potência  da  lupa  por  4  (1/0.25m)  e  soma-se 
uma unidade, obtendo assim uma boa estimativa da MP de uma lupa. 
 
1) Lupa à distância focal do olho 
1 l = f,    MP = doD 
 
 
2) Lupa “colada” ao olho 

2 l=0  
 
 
MP é máximo se L for mínimo: 
isto é, L = do: 
 

 
 
Se do = 0.25 m (convenção): 

 
 
3) Objecto no plano focal objecto da lupa 

3 so = f  
 
 
Lentes Fish-eye 
Constituídas  por  uma  objetiva com um 
grande  campo  angular,  variando  entre  100  e 
180º,  inevitavelmente  à  custa  de  uma  grande 
distorção. 
Desde  que  seja  conhecido  o  modelo 
matemático  do  “mapping”  entre  direções 
angulares  no  “mundo”  e  o  plano  imagem,  as 
imagens  são  dotadas  de  qualidade 
metrológica.  Em  função  do  tipo  de projecção, 
assim  os  modelos  matemáticos  mais 

64 
adequados.  São  feitas  as  devidas  transformações  de  coordenadas  esféricas  para 
cartesianas (imagem) através de projeções trigonométricas bem definidas. 
Uma  fish-eye  tem  um  Stop  de  Abertura  único  (implementado  através  de  uma  abertura 
física), mas a pupila de entrada é muito fragmentada, como se pode ver no exemplo. 
 
Mapeamento (mapping) 
θ, ϕ (mundo) → x,y (imagem) 
X/Z,Y/Z → x,y(r) 
 
Projecções: 
Gnonómica (rectilínea): r = f tan θ  
Estereográfica: r = 2f tan θ /2 
Equidistante: r = f θ  
Equisólida: r = 2f sin θ /2 
Ortográfica: r = f sin θ  

Sistemas de Abertura Única Vs. Sistemas de Abertura Múltipla 


Os  sistemas  podem  ter  uma  pupila  monolítica,  mesmo  de  grandes  dimensões, 
como  por  exemplo,  o  radio-telescópio  FAST,  na  China, com 500 m de diâmetro, embora 
só  cerca  de  300  m  sejam  utilizáveis  para  qualquer  ângulo.  Consoante  a  posição 
transversa  da  antena,  assim  a  direcção  segundo  a  qual  se  regista  o  sinal  EM,  em 
amplitude, fase e polarização. 
A  exactidão  no  posicionamento  da  antena  garante  uma  resolução  angular  de 
cerca  de  8”,  em  campos  angulares  de  2x60º  ou  de  2x26.4º  (medidas  em  relação  ao 
zénite). 
Mas  os  sistemas  podem  ter  uma abertura múltipla (Multiple Aperture Telescopes, 
MAT),  sendo  o  sinal  recombinado  opticamente,  num  interferómetro)  ou  digitalmente 
(sendo  a  informação  obtida  por  correlações),  no  caso  de  rádio-telescópios,  em  que  são 
mensuráveis, ao longo do tempo, a amplitude, a fase e a polarização da onda detectada. 
Na  combinação  óptica,  a  pupila  é  fragmentada,  com  se  vê  na  parte  superior  e  a 
combinação  de  todas exige um acordo de fase entre todos os feixes, podendo necessitar 

65 
de  linhas  de  atraso  que  compensem  eventuais  diferenças  de  percurso  óptico  entre  os 
sistemas independentes. 
1.9.1. Microscópios 
Consideram-se os seguintes tipos de microscópios: 
★ ópticos de várias famílias; 
★ electrónicos,  em  modo  de  reflexão  ou  de  transmissão,  que  beneficiam  do 
comportamento  ondulatório  de  feixes  de  partículas  (electrões),  mas  que,  têm 
arquitectura  semelhante  aos  ópticos  embora  implementem  as  lentes  com  uma 
tecnologia diferente; 
★ Scanning  Probe  Microscopes  (SPM)  baseados  em  efeitos  quânticos,  campos 
próximos (ondas evanescentes), nanofísica, ..., e de que existem vários tipos (AFM, 
STM, FFM, ...). 
 

 
 
 
 

66 
 
 

O  microscópio  óptico  não  evoluiu  muito, 


mantendo  as  mesmas  componentes  e 
funcionalidades: 
★ Objectivas e ocular. 
★ Focagem (grosseira e fina) 
★ Fonte  de  iluminação  (diferentes  gamas 
espectrais)  e  condensador  (por 
transmissão ou por reflexão) 
★ Porta-objectos 

Newton equation(conjugated planes) 


xixo=f2 

Do ponto de vista óptico, temos: 


★ Objetiva e ocular; 
★ Objeto pequeno a curta distância, num meio com 
índice de refacção controlado (ar, óleo, ...) 
★ Produção da imagens finais no infinito (viabilizando 
a observação pelo olho, serm necessidade de 
acomodação); 
★ Muitas oculares dispõem de compensação dióptrica 
para viabilizar a sua utilização por amétropes sem 
óculos colocados, posicionando o F’ do microscópio no R (não compensado) do 
observador; 
★ Diafragma de Campo num plano imagem intermédio, real; 

67 
★ Ocular a funcionar como Lupa, com o seu objecto no plano focal objecto da 
ocular (e que é a imagem intermédia formada pela objectiva); 
★ Distância fixa normalizada de 160 mm entre F’ e o plano imagem (caraterística 
distintiva, que viabiliza a intermutabilidade das objectivas). 
★ A última característica, torna adequada a utilização da equação de Newton (x 
x’=f^2), no contexto da qual a ampliação transversa da objectiva (entre 
conjugados finitos) é –xi/f). 
★ Define-se Ampliação Angular de forma semelhante à da Lupa, mas entrando em 
conta com as duas ampliações: transversa da objectiva e angular da ocular. 
★ Stop de abertura: uma abertura interna da objectiva, quase sempre o bordo do 1º 
dioptro. 
★ Acoplamento entre pupilas: PS do microscópio e PE do olho; 
 

Objetivas: 

As  objectivas  são,  também  muito  complexas,  e  constituídas,  facilmente,  por  20  a  30 
dioptros. Uma objectiva “apenas” tem de: 
★ trabalhar a distância imagem fixa (x = 160 mm), 
★ ser  luminosa,  isto  é,  ter  uma  pupila  de  entrada  tão  grande  quanto  possível,  sem 
vinhetagem, 
★ ser limitada por difracção, 
★ maximizar a ampliação transversa, 
★ não ter aberração cromática, 
★ não ter curvatura ou distorção, 
★ eventualmente, trabalhar em meio líquido, 
★ eventualmente,  estar  preparada  para  uma  lâmina  vidro  colocada  sobre  o 
espécimen, 
★ ter um f/# tão pequeno quanto possível, 

68 
★ não  gerar  reflexões  internas  entre  os  muitos  dioptros  que  degradem  a 
observação. 
 
 
 
 
 
 
Objetivas de óleo e abertura numérica 
Nas  objectivas  de  imersão,  procura-se  aproximar  o  índice  de  refracção  do 
espaço  objecto  do  da  1º  lente  de  modo  a  reduzir  as  perdas  por  reflexão interna total na 
lamela  de  vidro  que  cobre  o espécimen, sem prejudicar excessivamente a potência do 1º 
dioptro. 
Desta  forma,  é  possível  aumentar  a  abertura  do  cone  de  luz  no  espaço  objecto, 
isto  é,  aumentar  a  Abertura  Numérica  (NA)  da  objectiva, o que tem impacto no valor do 
fluxo  luminoso  (por  razões  óbvias)  mas  também  na  resolução  especial  do  microscópio 
(uma vez mais, por razões decorrentes da difracção). 
Embora  a  NA  e  o  f/#  se  relacionem  facilmente,  a  1ª  usa-se  essencialmente  em 
microscopia e fibras ópticas, e o 2º usa-se para sistemas com conjugados no infinito. 
 

 
 
 
Para uma lente com foco no infinito: 

69 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Iluminação de Koehler 
Sendo  sempre  necessária  uma  fonte  luminosa,  queremos  certamente  que  ela 
ilumine  uniformemente  o  objecto,  e  não  queremos que a sua estrutura seja visível sobre 
a imagem do objecto de interesse. 
Na  iluminação  de  Koehler,  garante-se  que  não  existe  nenhuma  imagem  real 
intermédia  da  fonte  sobreposta  com  nenhuma  imagem  do  objecto.  Basta,  por  exemplo, 
que  a  Pupila  de  Saída  (PS)  do  sistema  Colector+Condensador  se  forme  no  plano  objecto. 
Desta  forma, a imagem da fonte formar-se-á, por exemplo, na PE do olho, e sempre bem 
afastada da retina. 
 

 
 
 
 
Na  imagem  ao  lado  tem-se  a  iluminação  de 
Koehler  num  microscópio  óptico  por  reflexão  - 

70 
usado,  por  exemplo,  em microscopia da superfície de objectos opacos, tais como rochas, 
minerais, … 
Repare-se  que  a  última  imagem  real  do  filamento  se  encontra  no  plano  focal 
objecto  da  objectiva,  o  que  significa  que o objeto é iluminado através de um contínuo de 
feixes colimados. 
No  canal  de  observação,  na  vertical,  a  luz  difundida  pelo  objecto  é  transmitida 
através  do  espelho  semitransparente,  formando-se  a  imagem  intermédia  ampliada  no 
plano focal objecto da ocular. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dark Field Microscopy 
 
O  objecto  é  iluminado  através  de  uma  “folha  cónica”, 
com  alguma  espessura,  criada  por  uma  abertura  opaca 
central no condensador. 
Caso  nada  no  objecto  difunda  a  luz  iluminante,  esta 
vai ser bloqueada pelo Stop de Abertura da objectiva. 
Existindo  microestruturas  difusoras  (por  difracção), 
apenas  a  componente  difractada  será  coletada  pela objectiva 
e formará a imagem. 
Daqui provém a designação “campo escuro”. 
 
 
 
 
 
 
 
Arquitetura Confocal  
Temos  aqui  representados  os  dois 
canais,  de  iluminação  (verde)  e  de 
observação  (vermelho)  [o  comprimento  de 
onda  no  vermelho  é  superior  ao  do  verde... 
fluorescência...]. 
A  fonte  é  um  laser  (intenso  e 
monocromático)  ,  focada  num  pequeno  furo 
(pinhole),  o  qual  é  conjugado  no  plano  de 

71 
interesse  pela  objectiva,  após  reflexão,  sem  perdas,  num  espelho  dicróico.  Note-se  que 
todo  o  volume  do  espécime  é  iluminado  (duplo  cone)  embora  a  densidade  de  potência 
seja superior no plano alvo. 
O  objecto  difunde,  fluorescendo,  a  energia  dos  fotões  diminui  e  o  comprimento 
de  onda  só  pode  aumentar....  Cada  ponto  que  fluoresça  (no  duplo  cone  iluminado)  vai 
constituir  o  seu  feixe  divergente  com  vértice  no  próprio  ponto. Representam-se dois: o 
que provém do plano de interesse e um outro (tracejado). 
Tais  feixes  divergentes  são  colectados  pela  mesma  objectiva  (que  não  pode  ter 
aberração cromática) e totalmente transmitidos (sem perdas) pelo espelho dicróico. 
À  frente  do  detector  temos  um  2º  pinhole:  o  feixe  vermelho  (traço  contínuo) 
passa,  sem  percas;  o  feixe  tracejado  é  essencialmente  bloqueado  (embora  passe  ainda 
uma  pequena  parte  que  pode ser bloqueada, como se verá). O espécime foi opticamente 
reduzido a um plano seleccionado pelo utilizador. A profundidade de campo diminuiu. 
Esta  arquitectura  chama-se  confocal  pois  os  dois  pinholes  são  conjugados  um 
do  outro,  através  de  duas  passagens  pela  mesma  objectiva,  e  são  conjugados  com  o 
plano de interesse. 
Num  tal  plano  procede-se  ao  varrimento  2D,  e  o  processo pode ser repetido para outro 
plano,  desta  forma  se  gerando  dados  em  volume,  plano  a  plano.  As  técnicas  de 
computação  gráfica  permitem  reconstituir  o  volume  3D  e  visualizar  os  dados  3D  da 
melhor maneira possível. 
 
 
Multi-photon Flourescence Microscopy 
 
Em  cima,  com  microscopia  de 
fluorescência  linear,  a  1  fotão,  em  que  a 
arquitectura  confocal  consegue  parcialmente 
bloquear  parte  da  luz  proveniente  de  planos  não 
desejados. 
Em  baixo  tem-se  uma  imagem  obtida  com 
fluorescência  multi-fotónica,  a  2  fotões;  limita-se 
a  detecção  dos  fotões  emitidos  (com  uma  dada 
energia)  ao  plano  de  interesse,  desta  forma 
realizando  um  corte  planar  de  um  objecto  3D,  e 
eliminando  quase  totalmente  o  sinal  proveniente  de 
zonas antes ou depois do volume de foco. 
Isso  não  quer  dizer  que  tais  zonas  não 
fluoresçam,  mas  fazem-no  em  regime  linear  e  tais 
fotões  são  facilmente  filtrados  pelo  espelho  dicróico  ou 
por filtros adicionais. 
 
 
 
 

72 
 
 
 
Observações adicionais: 
❏ A  utilização de um laser de Titânio-Safira que permite gerar impulsos laser muito 
curtos  (ps-fs),  desta  forma  aumentando  a  probabilidade  dos  fenómenos  de 
absorção multi-fotónicos. 
 
❏ A  inserção  de  um  subsistema  para  efectuar  o  varrimento  2D  da  amostra 
(scanning  mirrors),  uma função que pode ser tecnologicamente implementada de 
muitas  formas  possíveis:  2 espelhos oscilantes a operar próximos da ressonância, 
deslocamentos mecânicos com dispositivos piezo-eléctricos, etc. 

2. Ondas Eletromagnéticas e Feixes 

2.1. Parte I - Ondas 

2.1.1. Equações de Maxwell 


Há 4 campos que caracterizam o meio eletromagnético: 

Estes parâmetros satisfazem as equações de Maxwell 


através de rotacionais ( ∇ ×) e divergências( ∇ .). 
Cada rotacional (produto externo) contém 3 equações 
lineares por isso as equações de Maxwell são 8 e não 4 
Tem-se ainda, para os campos D e B:.  
 
 
 
 
 
 
E definem-se as seguintes leis empíricas:  

73 
 
 

2.1.2. Equação de Ondas 


As  6  componentes  de  E  e  H  (dois  campos  cujas  equações  de  Maxwell  envolvem 
rotacionais)  satisfazem  uma  mesma  equação  de  2ª  ordem:  Ei  ou  Hj  →  u(r,t),  em  que  r 
contempla 3 variáveis de natureza espacial e t, uma variável de natureza temporal.  
A referida equação é a equação das ondas: 

 
As  suas  soluções  não  são  necessariamente  soluções  das Equações de Maxwell (1ª 
ordem).  A  passagem  a  segunda  ordem,  concretizada  nesta  equação,  implica  um  novo 
espaço de soluções muito mais amplo.  

2.1.2.1. Equação de Ondas no Vazio 


A velocidade c, função das propriedades da matéria, tem um valor muito parecido 
com  o valor experimental da velocidade da luz medida através da observação das luas de 
Júpiter. 
★ Não quererá tal significar que a luz é uma onda EM? 
★ As  suas  variações,  de  meio  para  meio,  não  permitirão  entender  o  significado  do 
índice de refracção? 

A  construção  da  equação  de  ondas  decorre  da  aplicação  do  rotacional  a  cada 
equação rotacional de Maxwell. Usando a identidade vetorial: 
∇ × (∇ × E ) = ∇(∇.E) − ∇2 (E)  

74 
E  aplicando  a  outra  equação  rotacional  e  uma  das  equações  sobre a divergência, 
obtém-se: 

, no vazio, c ≈ 3 × 108 m/s  


 
u(r,t) representa qualquer uma das 6 componentes do campo EM.  
 
Note-se que:  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A  equação  das 
ondas  no  vazio  pode 
ser  resolvida 
isoladamente 
(aproximação  escalar  do  EM  ou  óptica  ondulatória)  ou  apenas  constituir  uma condição 
necessária a que qualquer solução das eq. de Maxwell tem de satisfazer. 
 

2.1.3. Postulados da Ótica Ondulatória 


➔ A luz propaga-se sob a forma de ondas escalares (um valor caracteriza a onda, 
não um vetor). 
➔ A velocidade de propagação, c, num meio de índice n é: 

 
No vazio, n=1 e c=c0.  
➔ A  onda  (e  os  fenómenos  físicos)  é  descrita  por  uma  função real, u(r,t),  r = (x,y,z) 
solução da equação de ondas (linear): 

 
➔ Na  fronteira  entre  dois  meios,  u(r,t)  varia  de  acordo  com  os  índices  dos  dois 
meios.  Todavia,  a  repartição  dos  fluxos  só  pode  ser  analisada  pela  ótica 
electromagnética. 

75 
➔ A equação de ondas mantém-se válida em meios não homogéneos, desde que o 
índice de refracção n(r) – logo c(r) - varie lentamente. 

Em  EM,  estabelece-se  que  a  quantidade  S  =  E  x  H  (vector  de  Poynting) 


representa  o  fluxo (instantâneo) da energia EM através de uma área unitária cuja normal 
é paralela a S. 

S oscila à frequência n para uma onda plana monocromática: 

A  média  temporal  de  S  ao  longo  de  um  período  representa  a  taxa  efectiva  de 
propagação de energia do campo EM. 

Para uma onda plana (polarização linear), a média temporal de S (em W/m2) é: 

 
 
 
 
 
 
 
Ondas Monocromáticas 
A equação de ondas suporta funções periódicas no tempo. A sua forma geral é: 

Amplitude a(r) e Fase espacial φ (r): podem ser funções de r. 

Frequência ν de uma onda luminosa: ~ 3x1011 – 3x1016Hz. 

A  função de onda real, u(r,t), pode ser escrita de forma ainda mais geral, na forma 
complexa, U(r,t) – também solução da EO: 

 
Sendo que a amplitude complexa é dada por: 

76 
 
Esta  abordagem  é  diretamente  determinada  pela  validade  do  princípio  de 
sobreposição: 
Faz  sentido  estabelecer  soluções  matematicamente  simples,  e  pensar  em 
construir  soluções  mais  complicadas  por  soma  –  sobretudo  quando  se  dispõem  de 
instrumentos matemáticos para somar funções harmónicas (teoria de Fourier). 
Note-se  o  seguinte:  queremos  sempre  obter  uma  função  real,  u(r,t).  Fazemos  as 
contas  com  uma  sua  generalização analítica, U(r,t), de que u é a parte real – mas U tem a 
parte  real  e  uma  componente  imaginária  (que  é  a transformada de Hilbert de u). U(r,t) é 
o Sinal Analítico associado a u(r,t). 
 
Quando  impomos  à  Equação  de  Ondas  que  a  sua  dependência  temporal  seja  a 
dependência  temporal  de  uma  onda  monocromática,  obtemos  a  Equação  de 
Helmholtz.  Com  esta, procuramos soluções periódicas no tempo, em qualquer ponto do 
espaço  -  isso  significa  que  toda  a  dependência  temporal  tenha  de  estar  concentrada 
numa função harmónica do tempo - a exponencial complexa cumpre essa função.  
A Equação de Helmholtz dá então soluções para a amplitude complexa. 
 
 
 
Amplitude Complexa 
Para  ondas  monocromáticas,  cuja  variação  temporal  está  totalmente  contida  na 
exp,  podemos  inserir  U(r,t)  na  Eq,  de  Ondas  e  concluir  que  a  Amplitude Complexa, U(r) 
tem de satisfazer a equação de Helmholtz: 

 
 
É  de  salientar  que  a  Equação  de  Helmholtz  refere-se  apenas  a  dependência 
espacial e não temporal.  
No  processo,  aparece  a  constante k=w/c, o Número de Ondas, na realidade, uma 
frequência espacial: 

 
Este  é  um  caso  particular de uma relação geral das ondas num meio material, em 
que  as periodicidades espacial e temporal são relacionadas. É essa a responsabilidade da 
Relação de Dispersão, ω = ω (k) . Cada meio, para cada tipo de ondas, terá a sua.  

77 
 
Ondas Monocromáticas Planas: 
Temos  portanto  uma  1ª  família  de  soluções: 
ondas  planas,  parametrizadas  por  um  vetor  de 
módulo k. 
Têm  superfícies  de  igual  fase  planas,  não 
são  confinadas  lateralmente  (não  há  limitação 
transversa).  Sendo  a  irradiância  constante  sobre 
tais  superfícies,  o  fluxo  é  infinito.  Não  são 
fisicamente  aceitáveis,  mas  ótimos  modelos  para  o 
comportamento  local  de  ondas  em  torno  das 
direcções de propagação e muitos casos. 
Uma  combinação  linear  de  ondas  planas  é 
solução da EH.  
A  algoritmia  para  se  lidar  com  séries  de  ondas  planas  existe.  São  as  Séries  e 
Transformadas de Fourier! 
 
A Irradiância ótica, que se calcula com E(r,t)=2<u2(r,t)>, é: 

 
Média sobre grande número de períodos: E(r) = <|U(r)|2> = a2(r) 
Frentes de onda: superfícies de igual fase, φ (r) = cte. 
Na seguinte imagem podemos ver 2 tipos de frentes de onda: 

78 
 
As  normais  à  frentes  de  onda,  grad  φ (r),  representam  as  direcções  ao  longo  das 
quais  a  fase  varia  mais  rapidamente  –  correspondem  aos  raios  luminosos,  da  óptica 
geométrica.
As  fase  da  Amplitude  Complexa  estabelecem  a  ponte  com  as  frentes  de  onda 
geométricas da Óptica Geométrica (longe dos bordos e longe dos volumes focais). 
O módulo da Amplitude Complexa, dá-nos directamente a Irradiância. 
 

2.1.4. Irradiância, Potência e Energia 


 
A  Irradiância  ótica  E(r,t)  –  fluxo  óptico  por  unidade  de  área,  em  Wm-2,  ou 
potência por unidade de área (é um escalar), define-se como: 

 
A  média  temporal  [<>]  é  calculada  durante  um  intervalo  de tempo >> período da 
onda (~2x10-15 s, @ l = 600 nm). 
Integrando  a  irradiância,  obtém-se  o  fluxo  em  Watts.  O  Fluxo,  P,  (em W) através 
de uma área A perpendicular à direcção de propagação é: 

 
A Irradiância, E, [Wm-2] é um observável. 
 

2.1.5. Resolução da Equação de Helmholtz 

79 
A  resolução  da  equação  de Helmholtz é possível através do método de separação 
de variáveis: 
Equação de Helmholtz: 

 
 
Procuremos, em coordenadas cartesianas, soluções da forma X(x)Y(y)Z(z) . Existirão? 
A EH toma a forma: 

 
 
 
Dividindo por XYZ e rearranjando: 

 
 
 
 
1º  membro  só  é  função  de  x.  O  2º  só  é  função  de  y  e  z.  Logo,  ambos têm de ser iguais a 
uma  constante  (que  se  verá  que  tem  de  ser  negativa,  -l2)  Fazendo  o  mesmo  para  o  2º 
membro: 

 
Importante:  A  3  constantes  ( − l2 , − m2 , − n 2 )   têm  de  ser  negativas.  Caso  não  se 
usassem  constantes  negativas,  obter-se-ia  exponenciais  reais  para  a  amplitude 
complexa, que poderiam ser: 
➔ Negativas (o que implica ao longo de iterações, a extinção da exponencial); 
OU 
➔ Positivas  (fisicamente  inadmissível  pois  a  amplitude  não  pode  crescer  ad 
eternum)  
 
As 3 equações podem-se resolver facilmente (oscilador harmónico) → Ondas Planas 

80 
A  separação  de  variáveis  pode  também  ser  feita  em  coordenadas  esféricas,  usando  as 
variáveis θ, φ, r → Ondas Esféricas 
 

2.1.6. Ondas Planas 


Uma onda plana é uma onda de frequência 
constante,  cujas  frentes  de  onda 
(superfícies  de  fase  constante,  por 
exemplo,  os  máximos  de  amplitude)  são 
planos  infinitos,  paralelos  entre  si,  e  com 
amplitude  constante  e  perpendicular  ao 
vector de velocidade de fase.  
Nos casos mais simples, esta é a mesma da 
direção de propagação. 
Superfícies de onda (planas) consecutivas com a mesma fase, estão separadas de um 
comprimento de onda, λ : eik(z+ λ ) = ei(kz+2 π ) 

λ = 2 π /k, logo λ = c/n → k = 2 π / λ (Número de Ondas!) 


 
Onda plana monocromática (ao longo 
do eixo dos z): 
★ É uma função periódica de z com 
período l = c/n 
★ É uma função periódica de t, com 
período t = 1/n. 
★ A amplitude A é constante em 
todo o espaço 
★ Irradiância (Wm-2): E(r) = A2 
 
 

2.1.7. Ondas Esféricas 


Uma  onda  esférica,  em  física,  é  uma  onda tridimensional cujas frentes de onda para um 
observador  em  repouso face à fonte e ao meio de propagação são esferas concêntricas - 
cujos  centros  coincidem  com  a  posição  da  fonte 
emissora. 
A  EH  é  separável em coordenadas esféricas, que são as 
coordenadas  naturais  para  situações  com  simetria 
esférica,  associadas  a  fontes  pontuais  e  com  meios 
isótropos. 

81 
★ Irradiância (Wm-2): E(r)=|A|2/r2 
★ Frentes de onda (igual fase) esféricas 
★ Amplitude varia com 1/r - O módulo de U(r)=U(|r|) U(r) diminui com 1/r – a 
irradiância tende para zero no infinito com r12 . 
 
Separação de variáveis em coordenadas esféricas (note-se a irrelevância de θ e ϕ ): 

 
Máximos consecutivos da amplitude são separados de λ = 2 π /k. 
 
Muitas  vezes  só  interessa o campo próximo do eixo de propagação (+/- a), a uma 
considerável  distância  da  fonte  -  a  grandes  distâncias  da  fonte,  as  ondas  esféricas 
podem ser aproximadamente ondas planas: 

Princípio  de  Huygens  :  representação  de  frentes  de  onda  é  feita  tal  que  cada  ponto 
de  uma  frente  de  onda se comporta como uma nova fonte de ondas elementares, que se 
propagam  para  além  da  região  já  atingida  pela  onda  original  e  com a mesma frequência 
que ela 

2.1.8. Ondas Paraboloidais

Amplitude complexa associada à onda esférica 


r → distância do ponto de observação à singularidade 

82 
 
A aproximação de Fresnel é válida para: 

 
Define-se o Número de Fresnel, N F : 

 
Estas  aproximações  paraboloidais  são  muito  úteis:  comportam-se  como  ondas 
planas  ao  longo  do  eixo,  e  temos  uma  variação  da  fase  paraboloidal  para  pequenos 
desvios  do  eixo,  o  que  acontece  para  pequenos  ângulos  ou  para  Números  de  Fresnel  <1 
(quando o N F difere muito de 1, não é possível aproximar). 
 
As ondas paraboloidais constituem um exemplo das chamadas Ondas Paraxiais 
 
 

2.1.9. Ondas Paraxiais  


Uma  onda  diz-se  paraxial,  se  as  normais  às  frentes  de  onda  são  paraxiais: 
pequenos ângulos com o eixo de propagação. 
Modula-se a amplitude de de uma onda plana de uma forma lenta em relação a λ . 
As  ondas  paraxiais  são  basicamente  ondas  planas  mas  em  que  se  procura 
contemplar  alguma  variação transversa da amplitude, para colmatar os aspectos “menos 
físicos” das ondas planas (que, teoricamente, transportam fluxos infinitos…). 
Uma  vez  mais,  procuramos  uma  forma  de  solução:  onda  plana  ao  longo  do  eixo 
dos z (exp ikz), mas com graus de liberdade através da amplitude A(r). 

U(r)  satisfaz  a  equação  de  Helmholtz    desde  que  A(r)  satisfaça  a 


Equação de Helmholtz Paraxial (EHP): 
 

 
 

83 
A  EHP  é  obtida  desprezando  várias  derivadas  parciais  e  a  sua  solução  mais 
simples  é  a  onda  paraboloidal  enquanto  a  sua  solução  mais  interessante  é  a  onda 
Gaussiana (associada a perfis transversos gaussianos). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Em síntese da Parte I - Ondas: 
 

84 
 
   

85 
 

2.2. Parte II - Feixes 


Um  feixe  consiste  numa  onda  confinada  em  torno  de  um  determinado  eixo  de 
propagação. Aplicando um módulo em A(r), |A(r)|, obtemos confinamento. 

Os  feixes  gaussianos  são  gerados  por  lasers.  Os  casos  puros  são  também 
chamados modos EM (eletromagnéticos), as soluções matemáticas mais simples. 

  Como  a  EHP  é  linear,  combinações  lineares  de  feixes  deste  tipo  são  também 
soluções  e  modelam  a  complexa  sobreposição  de  modos  que  se  observam  na  realidade 
com lasers. 

  A  designação  “gaussiano”  parece  que  deveria  remeter  exclusivamente  para  as 


situações  de  ordem  00.  A  envolvente  destas  distribuições  complexas  da  irradiância  é  de 
facto  gaussiana,  embora  entrecortada  por  linhas  em  que  as  funções  de  Hermite  e  os 
polinómios de Laguerre têm zeros. 

Formato geral da solução da EHP: 

Sendo que se tem: 

★ Onda “essencialmente” plana ao longo do eixo dos z, (exp –ikz) 


★ A variação longitudinal (em z) de A(r) é lenta

O  ponto  de  partida  é  a  onda  paraboloidal,  à  qual  vamos  adicionar  um  grau  de 
liberdade  adicional,  para  garantir  invariância  perante  uma  translação  ao  longo  do  eixo 
dos  z,  mas  num  plano  complexo.  O  novo  grau  de  liberdade  é  quantificado  através  do 
parâmetro de Rayleigh, z 0 . 

86 
Se a onda paraboloidal 

é solução da EHP, uma versão “transladada” de ( ξ ) também é: 

ξ pode ser real ou complexo. Se ξ =− iz 0 , (z0- parâmetro de Rayleigh): 

Quase  sempre  se  prefere  denominadores  reais,  à  custa  de  numeradores 


complexos.  Para  tal,  multiplicam-se  os  numeradores  e  denominadores  pelo  conjugado 
do denominador, ( z + iz 0 )* e fazem-se as simplificações e agregações evidentes: 

●   Esta  solução  mantém  as  propriedades  da  fase da onda plana (kz), embora 


a fase seja perturbada por dois fatores… 
● Surge uma exponencial real negativa, no módulo. 
● W e R são funções auxiliares de z, apenas

 
Separando as partes real e imaginária de 1/q(z): 

Juntado, obtém-se a Amplitude Complexa do modo (0,0) de um Feixe Gaussiano: 

, com 

 
Parâmetros livres: A1 , z0 , λ  

87 
2.2.1. Propriedades dos Feixes Gaussianos 
 
Antes de mais: 

 
 
Analisaremos as seguintes propriedades dos feixes gaussianos: irradiância 
(W/m ), potência (W), largura do feixe, divergência, profundidade de foco, fase, frentes 
2

de onda, qualidade do feixe. 


 
 
1) Irradiância E( ρ ,z)

E (r) = ∣U (r)∣2  

A Irradiância, em ( W /m2 ) é |E|^2, e é basicamente determinada pela Gaussiana 


negativa 2D.  

★ E (z) é uma função gaussiana de r, com máximo em z=0, E(0,0) 


★ A largura do feixe W(z) aumenta com z 
 

88 
 

➔ O perfil transversal, radial, em ro, para diferentes valores de z – note-se que z  


aparece naturalmente medido em unidades de z 0 . 
➔ O perfil longitudinal ao longo do eixo dos z – note-se a redução de E a 50% para 
z = z 0 . 

Ainda de notar: 

➔ A diminuição da irradiância com 1/z2 (pois W ~ z , assimptoticamente) 


➔ A relação entre sigma e a função W: W = 2. sigma, o que significa que W será um 
“diâmetro” do feixe, em unidades de desvio padrão. 

 
2) Potência ou Fluxo 
Razão da designação gaussiana: embora a amplitude não seja 0, 99% do fluxo, 
concentra-se para distâncias transversas inferiores a 1.5W(z)! A onda é efetivamente 
confinada lateralmente e assim temos um feixe gaussiano. 
 
O Fluxo P (em W) total de um feixe obtém-se integrando a irradiância num plano 
transverso ( I 0 = ∣A0 ∣ 2 ): 
 
O fluxo é metade da irradiância máxima E(0,0) multiplicado por uma “área do 
feixe” no plano da cintura e não depende de z. 
Em termos do fluxo, P, a Irradiância ( W /m2 ) toma a forma: 
 
Num círculo de raio ρ0 : 
 
ρ0 = W (z) → 86%   
ρ0 = 1.5 W (z) → 99%  
 
3) Largura do Feixe 
W(z) mede a largura do feixe. Para cada z, a Irradiância, E , diminui de 1/e2 ~ 0.135  
para ρ = W (z) , ou seja, relativamente ao valor máximo, que se verifica sobre o eixo. 
 
Como ~86% da fluxo (W) está contida num círculo de raio W(z), este último 
considera-se raio do feixe em z: 

89 
 
 
★ Mínimo, W 0 , em z=0 → plano da cintura (beam waist) 
★ Diâmetro do feixe (spot size): 2 W 0  
★ W(z) = √2 W 0 para z = ± z 0  
 
No fundo, a largura é mínima no plano da cintura, z=0, e aumenta 
simetricamente em relação à cintura, de forma não linear até poucos z0, e linearmente 
assimptoticamente. 
 
4) Divergência 
Se z ≫ z 0 , o factor 1 pode ser desprezado: 
 

 
 
➔ Se W 0 diminui, ( z 0 diminui), θ0 aumenta. 
➔ Feixes muito direcionais: pequeno λ e grande cintura W 0  
 
A  variação  linear  assimptótica  de  W(z)  pode  ser  agarrada  pela  divergência  do 
feixe,  que  varia  inversamente  com  o  diâmetro  da  cintura:  quanto  maior,  menos 
divergente  é  o  feixe:  permite  controlar  a  densidade  de  potência  luminosa,  isto  é  a 
irradiância (em W /m2 ) - parâmetro crítico para estabelecer a interface com o sensor. 
 
5) Profundidade de Foco 
Se  o  feixe  gaussiano  for  produzido  por  um  laser  e  focado  por  uma  lente  à 
esquerda  é  gerado  um  feixe  com este perfil próximo da cintura, é esta a zona útil. Como 
muitas  vezes  os  feixes  são  no  infravermelho,  é  preciso  que  a  profundidade  seja  bem 
apreendida pelo cirurgião. Deve sentir o local da cintura do feixe a manipular. 
 
O  plano  da  cintura  é  o  plano  de  melhor  “foco”.  A  profundidade  de  foco  ou 
distância  confocal  é  a  distância  ao  longo  da  qual  o  raio  do  feixe  não  excede  √2W 0 ,  e  é 
igual ao dobro do parâmetro de Rayleigh: 
 

90 
 
 
Se λ = 633 nm (HeNe):  
➔ 2 W 0 = 2 cm → 2 z 0 = 1 km 
➔ 2 W 0 = 20 μ m → 2 z 0 = 1 mm 
 
6) Fase ao longo do eixo 
 
A fase do feixe gaussiano é: 
 
 
Ao longo do eixo ( ρ = 0):  
 
kz é a fase de uma onda plana 
um desvio relativamente à fase da onda plana 
 
Diferença de fase associada à passagem pela cintura, π , efeito Gouy: 
 

 
 
O 1º termo traduz a fase de uma onda plana que se propaga ao longo do eixo dos 
z. Mas não o é totalmente, pois há duas correcções: 
1. Efeito de Gouy, toma valores assimptóticos de ± pi/2 na passagem pelo 
plano da cintura. A variação de fase assimptótica materializa-se a poucas 
constantes de Rayleigh de distância! 
2. Fase Quadrática, reminiscente de uma onda esférica na aproximação 
paraboloidal, mais relevante à medida que nos afastamos do eixo. 
 
A 2ª correcção marca três domínios característicos: onda plana na cintura, 
esférica no infinito e … onda gaussiana entre os dois regimes anteriores, em que as 
frentes de onda são esféricas mas em que a posição do centro de curvatura varia… 
O 3º termo representa, para cada z, a fase de uma onda esférica na aproximação 
paraboloidal, com raio de curvatura na origem R(z): 
 

91 
★ R(z) → ∞ quando z → 0 (cintura): fase de uma onda plana 
★ |R(z)| é mínimo para z = z 0  
★ R(z) varia linearmente com z quando z ≫ z 0 : onda esférica 
O facto de as superfícies de igual fase se poderem considerar as ondas esféricas, 
tem uma importância capital para a física dos lasers! 
 
7) Frentes de Onda 
 

 
Os Feixes Gaussianos são modos das cavidades esféricas: se os raios de curvatura 
das Frentes de Onda forem iguais aos raios de curvatura dos espelhos, a onda 
reflecte-se sobre si própria e a configuração da onda mantém-se estável → modo EM. 

 
As características dos espelhos determinam a posição do plano da cintura (plano 
z=0). As condições fronteira (Maxwell) determinam que os FG sejam modos próprios da 
cavidades ressonantes esféricas, isto é, que constituam as soluções estacionárias para a 
distribuição dos campos E e H no interior da cavidade ressonante. 
 
Parâmetros do feixe em cavidades ressonantes 
Os parâmetros da cavidade determinam os parâmetros do feixe. Com dois 
espelhos separados de d, coloca-se a origem z=0 algures: 
 

 
 
Resolve-se este sistema em ordem a z 0 , z 1 e z 2 – mas tem de se garantir que z 0 é 
real, isto é que z 0 2 > 0 : 
 

 
 

92 
Estabilidade das Cavidades Ressonantes 
  
Cintura dentro ou fora da cavidade ressonante 
Sendo  um  laser  constituído  por  uma  cavidade  ressonante 
(com  meio activo interno à cavidade que gera fotões que alimentam 
energeticamente  o  feixe),  os  feixes  gaussianos  são  a  forma 
eletromagneticamente  necessária  para  a  organização  das  ondas 
geradas  por  lasers.  Os  parâmetros  da  cavidade  determinam  os  do 
feixe: posição do plano z=0 e parâmetro de Rayleigh. 
 
Cavidades ressonantes laser estáveis e instáveis: 
Esta  condição  determina  a estabilidade da cavidade, isto é, a 
permanência  da  solução  perante  pequenas  perturbações 
mecânicas da posição e orientação dos espelhos. 

 
 
Lasers 
 

 
 
Sobre lasers e sobre a geração interna (à cavidade) da onda gaussiana, 
estritamente qualitativo. Recorde-se as características da emissão estimulada de 
radiação: 
★ Para haver EE, tem de haver absorção – há uma fonte de energia externa 

93 
★ Alguns fotões emitidos por EE ao longo do eixo da cavidade geram mais e mais 
fotões idênticos ao longo do mesmo eixo (o sistema tem ganho positivo) 
★ A situação apenas se mantém estável ao longo do tempo para feixes gaussianos, 
que são os modos próprios da cavidade ressonante 
★ Parte do feixe é perdida e passa para o exterior, por isso a refletividade do 
espelho de saída (output coupling) não pode ser de 100%. 
 
 
 
Resumindo: 
★ Onda plana 
○ Amplitude complexa 
○ Direcção de propagação 
★ Onda esférica 
○ Amplitude complexa 
○ Localização da origem 
★ Feixe Gaussiano 
○ Amplitude máxima, A0  
○ Direcção (eixo de propagação do feixe) 
○ Localização da cintura (posição do plano z=0) 
○ Um parâmetro adicional, z 0 ou W 0  
■ Se os parâmetros forem conhecidos num ponto qualquer ao longo 
do eixo de propagação podem ser calculados para qualquer outro 
ponto 
■ Por exemplo, se R(z) for conhecido para dois pontos separados de 
Δz =d, todos os parâmetros do feixe podem ser determinados 
 

 
 
8) Qualidade do Feixe, fator M^2 
 
O feixe gaussiano constitui um caso limite, ideal. Uma medida do desvio de um 
feixe real relativamente ao feixe gaussiano é uma medida de qualidade do feixe. 
 
O factor de qualidade mais frequente é o factor M 2 : 
➔ Para o feixe real e para o feixe gaussiano ideal, calcula-se o produto: 
P = (diâmetro da cintura, 2W m ).(divergência total, 2θm )  

94 
➔ Para um feixe Gaussiano, P 0 = 4λ/π  
O factor M 2 define-se como: 
M 2 = P F eixe Real / P o = π /λW m θm  
  
Quanto mais próximo de 1, mais Gaussiano é o feixe: 
 
HeNe  M 2 < 1.1  

Lasers iónicos  M 2 ~ 1.1 − 1.3  

Lasers díodo  M 2 ~ 1.1 − 1.7  

Potência elevada, multi-modo  M2 ~ 2 − 4  


 
A medida de M 2 faz-se com câmaras CCD a várias distâncias. 
 
Modos laser 
 

 
 
1)  Os  feixes  laser  são  mais  complexos,  mantendo-se  sempre  como  feixes,  isto  é, 
confinamento axial e decaimento gaussiano assimptótico.  
2)  Encontramos  vários  tipos de “simetrias”, diretamente determinadas pela forma 
geométrica dos espelhos, das aberturas ou do próprio volume do meio activo. 
 

2.2.2 Feixes de Hermite-Gauss 


 
Em que condições poderão existir soluções derivadas do FG anterior, mas em 
que a amplitude transversa possa ter outras dependências espaciais (em x,y, em r,theta, 
...)? Mantendo-nos na famílias de soluções com variáveis separadas (em x, y), será que 
existem funções multiplicativas X(x), Y(y) e Z(z) que possam gerar FG com uma estrutura 
mais rica? Repare-se que vimos já que W(z), constituindo o raio do feixe, pode servir 
como “unidade de média em x e em y. 
 
Há outras soluções da EHP que mantém a forma paraboloidal das frentes de 
onda mas que possuem outras distribuições da irradiância: 

95 
Ondas paraboloidais ajustam-se aos espelhos da cavidade ressonante com grande raio de 
curvatura, viabilizando a auto-reprodução da onda na cavidade ressonante: os seus modos. 

Partindo de uma onda gaussiana,  


podem-se construir outras cujas amplitudes sejam versões espacialmente moduladas 
das da onda gaussiana.: 

 
Existirão 3 funções reais compatíveis com a EHP? 

Calculando as derivadas, com , e usando o 


facto de AG ser solução da EHP 
 

 
 
Obtemos: 

 
 
As equações em u,v são as equações aos valores próprios que definem os 
polinómios de Hermite. Os Polinómios de Hermite admitem soluções polinomiais reais 
e valores próprios inteiros. (l,m = 0,1,2,3, …) 
 
Quanto à 3ª equação,  

 
 
Juntando tudo: 

96 
 
Gl(u) são as funções de Hermite-Gauss: 

 
 
Os polinómios de Hermite introduzem correções adicionais na fase longitudinal, 
e a amplitude complexa vem expressa em termos das funções de Hermite-Gauss, o 
produto de um polinómio de Hermite pela Gaussiana. O que vale em u, vale igualmente 
em v, mas agora voltamos já às coordenadas transversas habituais x,y. 
 
Polinómios de Hermite 
Equação diferencial de Hermite:  
 
➢ Funções próprias do oscilador harmónico quântico 
➢ Base de completa de funções ortonormada de funções em R [peso w(x)] 
 

 
 
★ Polinómios reais, ou pares ou ímpares. 
★ O número de zeros é igual à ordem do polinómio. 
★ Em conjunto, constituem uma base ortonormada de funções. 

 
 
Em baixo a representação gráfica dos polinómios de Hermite de n=0 -> n = 5. 
(Número de zeros = n). 

97 
 
 
 
Feixes de Hermite-Gauss 

 
 
Funções de Hermite-Gauss 

 
 
❖ Sempre que um H tem um zero, a amplitude complexa tem um zero... 
❖ O produto de uma gaussiana por um polinómio, cria secções positivas e 
negativas na amplitude complexa. 
❖ O comportamento assimptótico da gaussiana NÃO é destruído – é esta a 
razão pela qual este tipo de feixes se chamam ainda “gaussianos”. 
❖ Quando passamos da distribuição de amplitudes para a distribuição de 
irradiâncias , U^2, as bossas negativas tornam-se positivas, mas os zeros 
mantêm-se nas mesmas posições. Em torno dos zeros, há certamente 
“faixas” de irradiância muito reduzida, que separam os vários lobos 
luminosos de um feixe. 
❖ Os inteiros l,m são identificadores da ordem de cada modo: um feixe de 
ordem n, tem n+1 lobos (segundo cada dimensão). 
 

98 
Irradiância (W/m^2) 

 
 
Modos (l,m) 

 
O Feixe Gaussiano inicial é o modo TEM(0,0) 

2.2.3 Feixes de Languerre-Gauss 


 
O  Feixe  Gaussiano  é  o modo TEM (0,0). Os modos de Hermite-Gauss formam um 
conjunto  completo  de  soluções  da  EHP.  Qualquer  feixe  se  pode  considerar  uma 
combinação  linear  de  funções  da  base  de  Hermite-Gauss.  Os  coeficientes  da  soma 
dependem da cavidade ressonante. 
 
Há  outras  famílias  completas  de  soluções:  os  modos  de  Laguerre-Gauss,  que  se 
obtém  a  partir  da  EHP  em  coordenadas  cilíndricas  (roh,phi,z),  com  separação  de 
variáveis entre roh e phi. Os valores próprios são inteiros, l,m são contadores de modos. 
 
Equação de Laguerre: xy” + (1 - x)y' + ny = 0  
 

 
 
L  –  Polinómios  generalizados  de  Laguerre,  gerados  a  partir  da  Fórmula  de 
Rodrigues: 

99 
 
Note-se: 
 
➔ A  Gaussiana  radial  não  é  destruída,  nem  os  principais  termos  da  fase  plana  e 
paraboloidal 
➔ A modulação da amplitude transversa por polinómios de Laguerre em r 
➔ A existência de uma nova fase azimutal, em phi 
➔ Uma nova estrutura da fase longitudinal [l+m+1 -> l+2m+1] 
 

 
 
Com  Laguerre  ficam  explicadas  uma  variedade  de 
configurações  transversas  possíveis  da  amplitude  complexa,  logo  da 
irradiância  de  feixes  gaussianos.  Note-se  que,  sendo  a  EHP  linear, 
combinações  lineares  de  FG’s  (seja  qual  for  a  simetria)  são  ainda 
soluções  da  EHP,  logo  soluções  fisicamente  admissíveis,  e  podem  ser 
geradas por lasers. 

 
 

2.2.4 Feixes de Bessel 


 
Será que existem soluções da equação de Helmoltz com fortes semelhanças com 
as ondas planas ao longo de um eixo (z), mas cuja configuração transversa não se altere 
com a propagação? Existindo, são os chamados non-diffracting beams. 
Sim, desde que A(x,y) satisfaça uma equação de Helmholtz bidimensional (apenas 
em x,y). Se impusermos ainda separação de variáveis, em variáveis polares, obtemos a 
equação de Bessel, e as soluções da EHP são os feixes de Bessel, pois a amplitude 

100 
transversa é determinada por funções de Bessel, Jm. Existem então soluções tipo onda 
plana mas não uniformes em planos perpendiculares ao eixo de propagação. 
 

Procuram-se soluções da EH (não da EHP) da forma:   


 
A(x,y) [não depende de z] deve satisfazer: 

 
 
Em variáveis polares, com separação de variáveis: 

 
 
Jm() - funções de Bessel de 1ª ordem 

 
 
 
Existe  ainda  uma  fase  azimutal  que  se 
adiciona à fase da onda plana em z. 
 
Note-se  que  diferentes  secções  transversas 
do  feixe  têm  o  mesmo  perfil  de  irradiância, 
exclusivamente determinado por Jm(kt.ro). 
 

 
 
Estes  feixes  de  Bessel  podem  ser  gerados  fazendo  passer  feixes  gaussianos  por 
axicones.  Os  feixes  caracterizam-se  por  uma  espécie  de  espigão  axial  que  se  mantem 
invariante  com  a  propagação  (dentro  de  limites,  evidentemente...).  Têm  a  desvantagem 
de distribuírem uma parte muito significativa do seu fluxo (em W) fora do eixo... 
 
 

101 
Famílias das funções de Bessel 
 
Há  várias  famílias,  de  1ª  e  2ª  espécie,  modificadas  ou  não),  e  em  número  infinito 
em cada família. Podem ser aproveitadas em todo o seu domínio, ou só parcialmente. 
 

 
Os  J’s  são  extremamente  importantes  em  difracção  e  na  explicação  da 
propagação  da  luz  pelos  núcleos  da  fibras  ópticas.  Os  Y’s,  modelam  a  estrutura  do 
campo  nas  bainhas  das  fibras  ópticas.  Às  vezes,  excluímos  umas  pois  não  podemos 
tolerar valores infinitos no intervalo que nos interessa… 
 
A  partir  do  conhecimento  da  fonte  luminosa  escolhemos  uma  onda  ou  feixe, 
porventura  sob  a  forma  de  somas ou integrais. Conhecida a fonte e a posição do objecto 
iluminado,  sabemos  calcular  analiticamente  a  amplitude  da  onda  no  plano  do  objecto 
iluminado.  Normalmente  cabe-nos  a  nós  controlar a forma como um objeto é iluminado 
por  uma  fonte.  O  objecto  perturba a amplitude e a fase da onda incidente, e a propagação 
após o objecto é o que designa como difracção.   

102 
3. Interferometria 
As  interferências  resultam  da  sobreposição  de  duas  ou  mais  ondas 
eletromagnéticas.  A  partir  de  uma  perspectiva  da  ótica  clássica,  a  interferometria  é  o 
mecanismo  pelo  qual  a  luz  interage  com  a  luz.  Outros  fenómenos,  como  a  refração, 
dispersão  e  difração,  descrevem  a  forma como a luz interage com o seu ambiente físico. 
A  interferometria  foi  fundamental  para  estabelecer  a  natureza  ondulatória  da  luz.  As 
primeiras  observações  foram  de  padrões  de  franjas  coloridas  em  filmes  finos.  Usando o 
comprimento  de  onda  da  luz  como  uma escala, a interferência continua a ser de grande 
importância prática em áreas como a espectroscopia e a metrologia. 
 
A  maior  parte  dos  interferómetros,  tem  duas  ondas  interferentes  (uma  delas 
poderá  ser  modelada,  sendo  a  de  referência).  Um  interferómetro  a  duas  ondas  é  um 
“comparador”  entre  ondas,  que  serve  para  obter  informação  de  um  sistema  físico,  com 
uma  resolução  da  fração  do  comprimento  de  onda  (no  visível,  décimos a centésimos de 
micrómetro).  Quando  duas  ondas  se  sobrepõem  na  mesma  região  do  espaço,  o  padrão 
de  irradiâncias resultante altera-se significativamente, às vezes, de forma não visível por 
ser  insuficiente  a  resolução  do  olho/detector.  Estas  alterações  são  explicadas  pelos 
conceitos  associados  à  interferometria,  que  utiliza  interferómetros  para  uma  variedade 
de aplicações. 
 
 
A reter sobre Interferometria 
 
★ Da  linearidade  da  equação  de  Helmholtz  decorre  que  a  soma  de  amplitudes 
complexas é solução da equação de Helmholtz. 
 
★ O  cálculo  da  distribuição  espacial  da  irradiância,  E(x,y),  em  planos 
perpendiculares  ao  eixo  dos  ZZ,  é  relevante  para  quaisquer  pares  de  tipos  de 
ondas  (planas,  esféricas,  gaussianas),  em  que  a  diferença  de  fase  entre  as  ondas 
varie espacialmente. 
 
★ A análise das situações de interferência reduz-se aos casos de interferência entre 
ondas  planas  e/ou  esféricas,  contando  a  posição relativa das respetivas fontes em 
relação  ao  plano  de  observação.  Uma  das  ondas  é  considerada como referência, a 
outra  contém,  através  de  pequenas  variações  espaciais  ou  temporais  da  fase,  a 
informação desejada. 
 
★ Existem  vários tipos de interferómetros: de divisão de amplitude ou de divisão de 
frente  de  onda;  de  dois  feixes  ou  de  feixes  múltiplos,  com  ou  sem  percas.  A  sua 
arquitectura,  variáveis  de  que  depende  a  diferença  de  fase  e  perfil  das  franjas, 
distinguem-nos.  Nomes  a  conhecer:  Young,  Fizeau,  Michelson  (e  variantes), 
Mach-Zehnder, Fabry-Perot. 
 

103 
★ Uma  cavidade  ressonante  constitui uma situação em que o número de ondas que 
se  sobrepõem  (interferem)  é  muito  elevado,  em  função  das  refletividades  dos 
espelhos  que  a  constituem.  As  características  da  Amplitude  Complexa  que  daí 
resulta  são  da  maior  relevância  para o funcionamento dos lasers: constituição de 
ondas estacionárias e frequências de ressonância. 
 
Identidades Trigonométricas 

 
 
Se  modulamos  (multiplicativamente)  duas  funções  harmónicas,  obtemos  duas 
funções  com  frequências  soma  e  diferença.  Se  somamos  duas  funções  harmónicas, 
obtemos  uma  função  modulada,  com  frequências  soma  e  diferença.  Se  as  duas 
frequências  forem  relativamente  próximas,  a  diferença  de  frequências  é  baixa  e  a  soma 
de frequências pode ser (ou não) elevada.  
 
Há  uma  arquitetura  de  detectores  (1D  ou  2D)  (referidos  como  detectores 
heterodinos)  que  se  baseiam  na  mistura  (soma)  do  sinal  a  medir  com  um  outro  de 
referência,  e  o  resultado  é  um  sinal  de  amplitude  modulada,  com  termos  de  baixa 
frequência (deteta e mede-se facilmente) e termos de alta frequência (de média nula...). 
 
Soma de sinais 

 
 

104 
Soma  de  dois  senos,  traduz-se  numa  amplitude  modulada.  A  envolvente  é  um 
sinal  de  baixa  frequência  (diferença,  a  vermelho),  fácil  de  separar e de detetar. O “resto” 
é  um  sinal  de  frequência  mais  elevada  (soma),  muitas  vezes  superior  à  frequência  de 
corte  do  detector  (1D  ou  2D)  –  logo,  não  detectável.  Quando  os  detectores  são  de 
energia  (é  o  caso  da  óptica),  o  sinal  é  de  irradiância,  E=|U|^2  –  a  azul,  em  baixo  –  que 
tem uma frequência dupla da da envolvente... 
Atenção:  tudo  isto  é  válido  no  tempo/frequência  (a  1D)  ou  no  plano  espacial 
(x,y/frequências espaciais) (a 2D), através de “franjas” de interferência. 

3.1. Exemplos e Aplicações 


Interferogramas 
 

 
 
Temos aqui padrões de interferência típicos: 
★ 4  da  esquerda:  interferências  entre  dois  feixes,  realizados  com  lasers  de 
comprimento de onda de 514 nm (verde) ou 633 nm (vermelho); 
★ 2  da  direita:  interferência  entre  feixes  múltiplos:  duas  ondas  com  frequências 
pouco diferentes (em baixo), um espectro mais complexo (em cima). 
 
Reparar em: 
➔ Perfil  das  franjas:  variação  essencialmente  sinusoidal  da  irradiância,  à esquerda, 
franjas mais “binárias” à direita 
➔ Tipo  de  “ruído”  de  fundo,  típico  da radiação coerente (laser), um “granitado” que 
se designa por speckle, inescapável quando se usa esta radiação (laser, radar, ...) 
➔ Estruturas  finas  e  “aleatórias”  no  fundo  (sobretudo  à  esquerda):  traduzem  a 
difração por sujidades, pequenas partículas, que existem nas superfícies ópticas. 
 
Nos  interferogramas  da  esquerda,  a  informação  reside  na posição do “esqueleto” 
das  franjas  (linha  central),  no  número  de  forma  das  franjas,  que  podem  ser  analisadas 
visualmente  ou  serem  “interpretadas”  por  sistemas  de visão computacional. Neste caso, 
é  importante  filtrar  os  vários  tipos  de  “ruído”,  para  que  a  informação  quantificada  seja 
correcta.  Nos  da  direita,  a  informação  reside  no  número  de  padrões  independentes  e 

105 
nas  relações  numéricas  entre  os  raios  de  curvatura  em  cada  um  dos  diversos  sistemas 
de franjas circulares (1 por cada comp. de onda). 
 
Propriedades do Meio 
Os  interferogramas  podem  revelar  as  propriedades do meio através do qual uma 
das  ondas  se  propaga  (a  outra,  a  de  referência,  é  quase  sempre  cuidadosamente 
protegida). 

 
 
À  esquerda  em  baixo:  visualização  da  perturbação  induzida  no  ar  pela  chama  de 
uma  vela  ou  por  um  escoamento  de  um  fluido.  O  ar  é  um  meio  “transparente”,  mas  as 
variações  do  índice  de  refracção  afectam  a  fase  da  onda  que  o  atravessa,  e  tais 
variações  de  fase  só  podem  ser  visualizadas  através  da  criação  de  padrões  de 
interferência.  Em  fluidos,  os  padrões  são  obtidos  durante  um  tempo  muito  curto 
(relativamente  ao  tempo  natural  da  dinâmica  dos  fluidos)  exigindo  laser  pulsados  (ms  – 
fs).   
Nos  outros  casos,  temos  som  (tambor  à  esquerda  e  guitarra  e  violino,  à  direita) 
que  afecta  a  superfície  do  instrumento  que  vibra  de  uma  forma  estacionária:  ventres 
com  amplitude  máxima  de  vibração  (escuros)  e  zonas  de  nodos  em  que  não  ocorre 
vibração  (iluminados).  Esta  configuração  de  franjas  (obtidas  durante  um  tempo  muito 
superior ao período do som) informam-nos sobre a forma como o instrumento reage aos 
estímulos, a sua reverberação, o seu timbre, etc.  
 
Note-se  que  estes  padrões  de  franjas  de  interferência  podem não nos dizer tudo 
sobre  a  forma  como  as  superfícies  se  comportam,  designadamente  em  termos  de  fases 
relativas  entre  os  diferentes  sub-padrões  (e  que  se  relacionam  com  a  distribuição  das 
convexidades e concavidades das superfícies). 
 
Outro exemplo de Interferograma 
Com  radares  em  satélites,  podemos  fazer  interferir  numericamente  as  ondas 
difundidas pelo solo em dois instantes diferentes, para identificar possíveis variações de 

106 
uma  em  relação  à  outra.  Os  radares  são  sistemas  ativos,  que  emitem  um  impulso  de 
radiação EM e recebem o respectivo eco, após propagação (ida e volta). 

 
 
Acima  trata-se  de  uma  aplicação  típica  em  sismologia,  em  que  se  procuram 
medir  os  deslocamentos  de  natureza  tectónica, e em que se obtém resoluções da ordem 
do  mm,  sobretudo  na  sequência  de  tremores  de  terra.  A  radiação  radar  (de  natureza 
electromagnética)  é  coerente  e  temos  os  mesmos  tipos  de  ruído  (speckle).  A  detecção  é 
feita  em  amplitude  e  em  fase  (e  não  em  irradiância)  porque  as  frequências  próprias  do 
radar  (MHz-GHz)  são  muito  mais  baixas  que  as  da  luz  visível  (THz),  e  dispomos  de 
sensores  de  amplitude  e  de  fase  para  o  sinal  recebido.  Os  sinais  existem  sob  forma 
digital  e  o  padrão  de  interferências  entre  os  dois  conjuntos  de  sinais  é  calculado 
numericamente. 

3.2 Interferências 
Princípio da Sobreposição 
Interferência  é  o  fenómeno  que  tem  como  origem  a  adição  vetorial  dos  campos 
eletromagnéticos  (princípio  da  superposição).  Ao  calcular  a  intensidade  do  campo 
resultante  veremos  que  esta  pode  ser  maior  ou  menor que a soma das intensidades dos 
campos  que  se  superpuseram.  Em  geral,  são  oriundos  da  mesma  fonte  e  percorrem 
caminhos  ópticos  distintos,  de  forma  que  haverá  uma  diferença  de  fase  entre  eles.  Se a 
fonte  for  coerente  teremos  interferência  estacionária,  ao  passo  que  se  a  fonte  for 
incoerente teremos interferência não estacionária. 
 
A  interferometria  limita-se  a  assumir  a  linearidade  das  equações  de  Maxwell,  de 
ondas  e  de  Helmholtz:  se  conhecemos  duas  ondas,  a  respectiva  soma  é  solução.  Pelo 
princípio da sobreposição, o campo elétrico total é dado por: 
 

 
 
Com  radiações  ópticas  no  visível,  não  é  possível  a  medição  da  irradiância 
instantânea:  as  frequências  são  muito  superiores  às  frequências  de  corte  dos  sistemas  de 
detecção  que  funcionam  com  base  na  energia.  Para  se  verificar  uma  acumulação 
suficiente  de  energia,  o  sinal  é  recebido  durante  muitos  ciclos  de  variação  da  onda, e o 
sistema de detecção realiza uma efectiva média temporal.  
Não  é  possível  seguir  as  variações  de  amplitude  do  campo  (~ 1014   Hz)!  Só  a 
Irradiância, I (em W /m2 ) é que pode ser medida: 

107 
=    
 
Logo, para duas ondas e respectivos campos: 
 

 
 

Calculando as médias temporais, obtém-se a Irradiância total:   


 

 
A  irradiância  devida  à  sobreposição  de  duas ondas é constituída por 3 termos. I é 
a  soma  das  irradiâncias  individuais  e  do  termo  de  interferências,  I 12 que  pode  ser 
positivo, negativo ou nulo . 
 
Em  termos  estritos  da  óptica  ondulatória,  em  que  não  existe campo eléctrico, E, 
mas  apenas  uma  função  de  onda  u(r,t)  e,  para  ondas  monocromáticas,  a  sua  Amplitude 
Complexa, U(r). 

 
Para  ondas  monocromáticas  com  a  mesma  frequência,  a  soma  das  duas  ondas 
pode  ser  traduzida  diretamente  em  termos  das respectivas Amplitudes Complexas, U1 e 
U2, com os respectivos módulos, A1 e A2, e fases, phi1 e phi2. 
 

 
(Da  maior  importância  em  interferometria  é  a  diferença  de  fase,  delta,  entre  as  ondas 
interferentes em cada ponto, r.) 
 
 
Quase  sempre  a  nossa  detecção  é  realizada  num  plano,  onde  se  coloca  um 
detector.  Em  cada  ponto  desse  plano,  delta  irá  naturalmente  variar,  de  forma  mais  ou 
menos lenta.  

108 
A  Irradiância  variará  em  correspondência,  com  uma  modulação  co-sinusoidal 
sobreposta  a  uma  base,  I1+I2.  Para  ondas  monocromáticas  com a mesma frequência: ( In 
~ |An|2). 

 
 
 
 
Para duas ondas planas monocromáticas que se deslocam segundo as direcções 
definidas pelos vetores de onda, k1 e k2, com módulos de amplitude vectoriais, e com 
fases na origem arbitrárias, eps1 e eps2  
 

 
 
Note-se  que  I12=0  se  as  ondas  tiverem  polarizações  perpendiculares..  Notem 
ainda  que  I1  e  I2  são  intrinsecamente  positivos,  e  que  o  valor  de  I12  (positivo  ou 
negativo) pode não ser suficiente para criar valores nulos da irradiância total. 
 

 
 

 
 

 
 
Nos  pontos  em  que  delta  for  um  múltiplo  par  ou  ímpar  de  pi,  teremos  máximos 
ou  mínimos  da  irradiância,  descrevendo  situações  de  interferência  construtiva  e 
destrutiva, respectivamente.  
 
Irradiância máxima → interferência construtiva: 

 
 
Irradiância mínima → interferência destrutiva: 

109 
 
 
No  caso  em  que  as  duas  amplitudes  têm  o  mesmo  módulo  a  expressão  para  a 
irradiância total simplifica-se, o valor mínimo é 0, e as franjas têm contraste máximo: 

 
 
 
 
Da  visibilidade  do  padrão  de  interferências  surge  a  expressão  geral  para  a 
irradiância  de  um  padrão  de  interferências  entre  dois  feixes,  para  ondas  parcialmente 
coerentes.  Gama,  o  grau  complexo  de  coerência,  é  um  observável  – a visibilidade – e é 
uma função chave da teoria da coerência 

 
 
Imax  e  Imin  são  as  intensidades  máximas  e  mínimas  no  padrão  de  franja.  A 
visibilidade  da  franja  terá um valor entre 0 e 1. A visibilidade máxima ocorrerá quando as 
duas  ondas  têm  a  mesma  intensidade.  A  visibilidade  cairá  para  zero  quando  uma das as 
ondas  tem  intensidade  zero.  Em  geral,  as  intensidades  das  duas  ondas  podem  variar de 
acordo  com  a  posição,  pelo  que  que  a  intensidade  média  e  a  visibilidade  marginal 
também  podem  variar  ao  longo  do  padrão  de  franjas.  A média no plano de observação é 
igual  à  soma  das  intensidades  individuais  das  duas  interferências  ondas.  O  termo 
interferência redistribui essa energia em franjas claras e escuras. 
 
A  irradiância  varia  de  ponto  para  ponto,  e  é  determinada  pela  variação  de  delta 
de  ponto  para  ponto.  A  irradiância  I0  (média)  também  pode  ser  não  uniforme,  mas 
normalmente  a  sua  variação  é  lenta  –  recordem  os  feixes  gaussianos,  cuja  irradiância  é 
regida  por  uma  gaussiana,  de  desvio  padrão  W(ro),  e  sobre  a qual se inscreve a variação 
explicada pelo cos(delta). 

3.2.1. Ondas Esféricas Monocromáticas 


Para  duas  ondas  esféricas,  as  contas  fazem-se  da  mesma  forma,  embora  a 
expressão  para  as  fases  individuais  seja  diferente.  Note-se  que  delta  depende  da  parte 
geométrica, mas também das diferenças entre as fases na origem das duas ondas. 
 

110 
 
 
Para fontes próximas, as amplitudes (1/r) são semelhantes em P. Logo: 

 
Máximos de irradiância: δ = 2πm  

 
Mínimos de irradiância: δ = 2πm′ = (2m + 1)π  

 
(Relembrar que, m é inteiro e que se as fontes estiverem em fase no emissor, ε1 = ε2 .) 
 
 
Elipsóides e Hiperbolóides 
Com duas fontes, gerando ondas que se sobrepõem no espaço, logo interferem, o 
espaço 3D fica preenchido por um contínuo de folhas hiperboloidais como mesmo valor 
da irradiância. Nestes casos a soma ou subtração dos rs é constante. 

 
 
 

111 
Os máximos ocorrem sobre hiperbolóides com focos em S1 e S2 
 

 
 
Neste  espaço  contínuo  de  hiperbolóides,  inserir  um  sensor  plano  (CCD,  filme 
fotográfico)  é  definir  uma  secção  planar.  A  respectiva  intersecção  dá  origem  a  franjas 
definidas  no  plano  do  detector,  cuja  forma,  densidade,  etc,  apenas  depende  da 
configuração  volúmica  das  superfícies  hiperboloidais.  Consoante  a  posição  do  sensor 
em  relação  à  linha  que  una  os  focos  dos  hiperbolóides,  assim  a  configuração  de  franjas 
no detector. 
No  caso  do  interferómetro  de  Young,  a  linha  de  focos  é  paralela ao detector e as 
franjas  são  lineares,  degradando-se para hipérboles com o afastamento. No caso em que 
detector é perpendicular à linha focal, temos basicamente franjas circulares. 
Note-se  que  se as fases na origem das duas fontes variarem, todos estes padrões, 
seja  a  3D  no  espaço  como  a  2D  no  plano  do  detector,  se  deslocam  rigidamente,  e  onde 
estavam  máximos  podemos  passar  a  encontrar  mínimos  ou  qualquer  outro  valor 
intermédio. 

3.2.1.1. Interferência entre ondas planas 


A onda plana é produzida por uma fonte pontual monocromática no infinito e é 
aproximada por uma fonte de luz colimada. Ondas planas com a mesma intensidade, I0, 
com um ângulo q entre si, ± theta /2 em relação ao eixo dos Z:  

 
Para  ondas  planas,  com  a  mesma  fase  na  origem  note-se  a  forma que o vetor de 
ondas  k  assume.  A  fase  de  cada  uma  é  dada por k.r, e a observação é feita no plano z=0, 
o que anula a 3ª parcela do produto interno quando se calcula a diferença de fase, phi. 
 
 
 

112 
 
 
 
 
Diferença de fase entre as duas ondas em z=0  

 
Irradiância total em z=0  

 
 
Padrão periódico segundo o eixo dos x, de período p: 

   
Exemplos: 

 
 
Surgem  franjas  paralelas  entre  si  e  ao  eixo  dos  y,  com  um  perfil  cossinusoidal, 
cujo  período  (segundo  x)  diminui  quando  o  ângulo  theta  aumenta,  até  a  um  valor 
máximo  de  lambda/2  para  feixes  segundo  a  mesma  direcção  mas  com  sentidos  de 
propagação opostos. 
 
Se  eps1-eps2  não  for  0  há  uma  translação  rígida  do  padrão.  Se  eps1-eps2  variar 
caoticamente  ao  longo  do  tempo  temos  uma  trepidação  caótica  do  padrão  no  plano  do 
sensor, que pode levar à inexistência de um padrão estável, logo visível. 
 
Elemento  crítico  para  caracterização  da  coerência  de  um  feixe  luminoso  e, 
simultaneamente,  para  o  representar:  o  nosso  modelo  para  um  feixe  monocromático 
incoerente  é  radiação  monocromática  gerada  por  fontes  cuja  fase  na  origem  (eps)  varia 
caoticamente ao longo do tempo. 
 
Se  precisamos  de  registar  um  padrão  estável  de  interferências,  temos  de  criar 
condições  para  que  a  diferença  entre  os  eps  se  mantenha  constante  ao  longo  do tempo. 
Manter  a  configuração de elementos ópticos conduz os feixes mecânica e termicamente 
estável.  Qualquer  deslocamento  de  lambda  de um dos espelhos, transforma um máximo 
num  mínimo,  o  que  é  excessivo,  pois perdemos um dos observáveis mais importantes: o 
número de franjas que se possam contar entre dois pontos no plano do sensor. 

113 
3.2.1.2. Interferência entre ondas planas e esféricas 
Para  a  interferência  entre  uma  onda  plana  e  uma  onda  esférica  no  plano  z=0,  as 
contas são semelhantes. Assume-se que: 
★ o factor 1/r varia pouco no zona de interesse 
★ as intensidades na origem são idênticas 
★ a onda esférica se deixa aproximar por uma onda paraboloidal 
 
As  franjas  são  circulares,  contáveis,  e  a  variação  do  seu  raio  de  curvatura  com  o 
inteiro m segue uma lei bem definida. A densidade de franjas aumenta com sqrt(m). 
 
Exemplos: 
Holograma de um ponto 
Focagem de onda onda plana. Este padrão de franjas circulares 
representa o holograma de um ponto. 
Placa Zonal de Fresnel (Fresnel Zone Plate) 
Lentes para raios-X. Quando binarizados são conhecidos como 
placas zonais de Fresnel. São utilizados como lentes difrativas para feixes de raios-X – os 
materiais são basicamente transparentes para feixes de raios-X cuja frequência óptica é 
muito elevada. 

3.2.1.3. Interferência entre ondas esféricas 


 

 
Os máximos ocorrem sobre hiperbolóides com 
focos em S_1 e S_2 
 
Entre  duas  ondas  esféricas,  o  exercício 
anterior  (onda  plana/esférica)  repete-se  para  duas 
ondas  esféricas  na  aproximação  paraboloidal.  A 
configuração  do  padrão  de  franjas  depende  da 
colocação  e  orientação do detector, logo do tipo de 
secção plana que o detetor permitir materializar. 
 
Quando  uma  frente  de onda com aberrações ou formas irregulares interfere com 
uma  frente  de  onda  de  referência,  é  produzido  um  padrão  de  franjas  com  forma 
irregular.  No  entanto,  as  regras  para  a  análise  deste  padrão  são  o  mesmo  que  em 

114 
quaisquer  duas  frentes  de  onda.  Uma  dada  franja  representa  uma  diferença  de  fase 
entre  as  duas  frentes  de  onda.  As  franjas  adjacentes  correspondem  a  uma  diferença  de 
fase  de  2R.  Se  a  referência  for  uma  onda  plana,  obtém-se  a  forma absoluta da frente de 
onda  irregular.  Se  a  referência  for  uma  onda  esférica,  o  mapa  de  diferenças  de  fase 
representa a diferença entre as duas frentes de onda. 

3.2.1.4. Interferência entre ondas com diferentes frequências  


Para  duas  ondas  monocromáticas  de  diferentes  frequências,  a  função  de  onda 
resultante num ponto fixo, P, é: (dependência em r não explicitada) 

 
A irradiância total em P será – após as devidas médias temporais: 

 
 
A  média  temporal  do  termo  soma,  em  ν 1 + ν 2 ,  será  quase  sempre  nula. 
Observam-se  batimentos,  mistura  óptica,  heterodinagem  óptica,  etc.  Quando  as  duas 
ondas  não  têm  a  mesma  frequência,  temos  de  trabalhar  diretamente  com  as  funções de 
onda  u(r,t),  soluções  da  equação  de  ondas,  na  forma  u=U(r)  exp(iwt)  =  sqrt(I(r))  exp(iwt) 
para fazer aparecer a intensidade. 
 
Em  qualquer  ponto,  P,  não  explicitado,  a  irradiância  variará  ao  longo  do  tempo, 
mas  apenas  a  componente de baixa frequência será detectável na maior parte dos casos, 
pois  a  média  temporal  dos  termos  com  a  frequência  soma  será  nula.  Note-se  que  o  sinal 
detectado  terá  frequências  diferentes  consoante  for  detectado  em  amplitude  ou  em 
irradiância.  Esta  “mistura  de  ondas”  ou “heterodinagem” é uma técnica metrológica (2D) 
e de telecomunicações (1D) muito importante. 

3.2.1.5. Pente de frequências 


Sejam  M = 2L + 1   ondas  monocromáticas  com  a  mesma  intensidade  I 0   e 
frequências equidistantes em torno de ν 0 : 

 
 
Num qualquer ponto P, a função de onda total é: 

 
 
Em P, a irradiância total variará no tempo: 
 

115 
 
Lasers pulsados em regime de bloqueamento de modos 
Sequência  de  impulsos com período  T F , intensidade de pico  M 2 I 0 , e intensidade 
média M I 0 . A duração de cada impulso é τ = T F /M : 
ν F = 1GHz; T F = 1ns; M = 1000 → τ = 1ps  
 
Trata-se  da  soma  de  2L+1  termos  de  uma  série  geométrica  de  razão 
exp(2 × 2π× ν F t) exp(2.2pi.niuFt). 
Quanto  maior  for  o  número  de  ondas  monocromáticas,  M,  mais  curtos  e  mais 
intenso  são  os  impulsos,  que  constituem  um  “trem”  periódico  de  impulsos  de  período 
T F .  Para  gerar  impulsos  laser  ultracurtos  recorre-se  a  esta  forma  de  interferências, 
isto  é  ao  regime  de  bloqueamento  de  modos.  Como  se  arranjam  muitas  ondas 
monocromáticas?  Recorrendo  a  materiais  com  grande  largura  de banda (corantes, CO2, 
titânio-safira,  etc)  e  a  cavidades  ressonantes  que  suportem  um  grande  número  de 
modos longitudinais. 
Como se medem as variações de fase? 
Considere-se  uma  onda  plana  monocromática,  de  amplitude  unitária,  que  se 
propaga ao longo do eixo dos z: 
u(r, t) = exp i(kr − wt) → exp i(kz − wt) = exp(iφ)  
com k = 2π /λ e k = w/c . φ = k z − wt é a fase da onda 
 
Qual  é  a  diferença  de  fase  entre  dois  pontos  separados  de  Dz  ao  longo  da 
direcção de propagação da onda (aqui, o eixo dos z, em geral a direcção de k)? 
 
Δφ = k Δz  
 
Se  o  meio  não  for  homogéneo,  esta  variação  é  diferencial,  e  será  necessário 
integrar  ao  longo  da  trajectória  entre  os  dois  pontos.  OPD  =  Optical  Path  Difference  é o 
Percurso Óptico entre os dois pontos, ao longo da direcção de propagação. 
 
Analisámos  situações  de  interferência  entre  duas  ou  mais  ondas 
monocromáticas,  porventura  um  número  infinito  de  ondas.  Veremos  de  seguida  outras 
situações  em  que  também  interferem  um  número  elevado  de  ondas,  mas  com a mesma 
frequência.  Na  prática  devemo-nos  preocupar  com  as  variações  de  fase  já  que,  em 
interferometria,  é  sempre  necessário  calcular  fases  num  determinado  ponto,  para 
depois calcular diferenças de fase entre as ondas interferentes nesse ponto. 
A  origem  absoluta  da  fase  é  arbitrária.  Mas  quando  as  duas  ondas  interferentes 
são  geradas  a  partir  de  uma  mesma  onda,  é  a  partir  do  ponto  de  separação  que  se 
devem  contabilizar  as  variações  de  fase  das  ondas  interferentes.  Quando  analisarmos 
mais  em  detalhe  cada  um  dos  interferómetros,  identificaremos  o  componente  óptico  a 
partir  do  qual  se  devem  analisar  todos  os  fenómenos  que  podem  afectar  a  variação  da 
fase. 
 
Dito de uma forma simples:  
★ Percurso óptico vezes o número de ondas no vazio 

116 
★ Percurso geométrico, em unidades de cdo no meio, vezes 2pi 

3.2.2. Interferência entre múltiplas ondas monocromáticas  

3.2.2.1 Sem Percas 


Note-se que |h| = 1 
Voltemos  à  sobreposição  (e  interferência)  de  muitas  (M)  ondas  com  a  mesma 
frequência  mas  que  diferem  na  fase  de  um  modo  regular.  Definido  um  critério  de 
contagem  /  numeração  das  M  ondas,  assumamos  que  a  diferença  de  fase  entre  ondas 
“consecutivas”  é  ϕ   (ou  φ em  cima  porque  sou  tosca).  A  hipótese  de  terem  todas  a 
mesma  intensidade  não  é  irrealista  e  pode  ser  relaxada,  mas  é  util  para  este  primeiro 
modelo. 
Sejam  M  ondas  com  amplitudes  complexas  com  a  mesma  intensidade  e  fases 
igualmente espaçadas de j : 

 
 
As  amplitude  complexas  das  ondas  “consecutivas”  diferem  entre  si  do  factor 
multiplicativo  h = exp (jϕ) .  Nestas  condições,  a  soma  de  todas  as  amplitudes  pode  ser 
posta  sob  a  forma  de  uma  série  geométrica  de  razão  h,  com  M  termos,  cuja  soma  é 
conhecida: 
Se  então,    e  portanto,  a  amplitude  complexa 
resultante da soma de M ondas é dada por: 

 
Quadrando,  temos  a  irradiância,  cuja  forma  analítica  e  representação  gráfica em 
função  da  fase  ϕ   são  semelhantes  à  situação  de  “bloqueamento  de  modos”.  A 
irradiância é dada por: 

 
Conclusões a tirar: 
➔ A irradiância é máxima para ϕ múltiplo de 2π ; 
➔ Quanto  maior  for  o  número  de  ondas  em  causa,  mais  estreitos  são  os  intervalos 
de ϕ para os quais a irradiância tem valores próximos dos máximos; 
➔ Os valores de pico são proporcionais a M. 

117 
 
Este  modelo  é  aplicável  a  redes  de  difracção  2D  ou  3D,  a  cavidades  ressonantes 
de lasers, a phased arrays, etc. 
 
Interferência entre múltiplas ondas: rede de difração 2D 
Este  modelo  pode  ser  aplicado  a  uma  rede  de  difracção.  Temos  aqui 
representados redes de dois tipos: 
❖ de amplitude, com absorção selectiva nas zonas opacas 
❖ de  fase,  basicamente transparentes, mas desfasando localmente a onda incidente 
de um valor que tem a ver com a topografia da rede 
 
Uma  rede  de  difracção  difrata  a  luz!  Gera  vários  feixes  (ordens  de  difracção) 
segundo  uma  gama  de  direções  angulares  muito  bem  definidas.  A  difracção  é 
extremamente  sensível  ao  comprimento  de  onda,  razão  pela  qual  as  redes  são  sempre 
usadas em espetrómetros, instrumentos que analisam o espectro de uma radiação. 
 
 
 
Irradiância: 

 
Esta é apenas uma condição necessária, não uma condição suficiente. A largura 
efectiva de cada furo / fenda também conta, e pode acontecer que, ao longo de uma 
destas direcções não se propague qualquer fluxo óptico. 
 
Diferença de percurso óptico entre feixes consecutivos: δ = OP D = d sin θ  

 
 
Diferença de fase entre feixes consecutivos :  
ϕ = k OP D = (2π /λ)d sin θ = (2π /λ0 )nd sin θ = k o nd sin θ  
 
Condição para os Máximos de irradiância: ϕ = 2pm d sin θ = ml  
 
Distribuição da Irradiância: 
★ Na região comum a todas as ondas 

118 
★ Determinada pelo padrão de difracção das fendas 

 
Uma rede de difracção de amplitude pode ser considerada uma colecção de finos 
retângulos paralelos entre si, num fundo opaco. Imagine-se que a rede é iluminada por 
uma onda plana segundo o eixo dos z.  
Quais são os ângulos, theta, de difracção, para os quais a diferença de fase entre 
feixes consecutivos é 2pi.M? Tais direções são as direcções das ordens difratadas… 
Segundo cada uma de tais direções, as ondas emergentes de cada uma das fendas está 
em fase com todas as demais, e este conjunto de muitas ondas pode interferir 
construtivamente. Para todas as outras direcções que não satisfaçam essa condição, a 
interferência é, globalmente destrutiva, e nenhuma luz deverá emergir segundo tais 
direcções. 
Quanto maior for o número de fendas iluminadas pela onda incidente, mais bem 
definidas estão tais direcções. 
 
Rede de difração 2D 
Se  a  onda  incidente  iluminar  a  rede  de  difracção  segundo  outro  ângulo,  alfa  (se 
não  se  propagar segundo o eixo dos z), é necessário entrar em conta com a fase da onda 
incidente  nas  diversas  fendas,  que  é  diferente  pois  elas  são  iluminadas  em  instantes 
diferentes.  A  equação  das  redes  altera-se  ligeiramente,  as  direcções  de  emergência das 
diversas ordens variam rigidamente, mas o processo e as conclusões são em tudo iguais. 

 
 
Se  a  frequência  da  rede  for  elevada  e  o  diâmetro do feixe elevado (>>d), os feixes 
emergentes  de  cada  fenda  sobrepõem-se  espacialmente  e  a  soma  das  ondas  é 
naturalmente  implementada.  Todavia, se tal não acontecer (interpretando literalmente a 
situação  representada  à  direita),  é necessário forçar que as ondas se sobreponham, logo 
interfiram.  Isso  faz-se  com  um  lente  que  recebe  um conjunto de finos feixes paralelos e 
os  faz  naturalmente  convergir  para  o  seu  plano  focal  imagem,  de  acordo  com  as leis da 
óptica geométrica. 

119 
 
Em  qualquer  dos  casos, para frequências elevadas da rede, veremos num alvo um 
conjunto  de  máximos  bem  definidos  de  irradiância  -  únicas  zonas  para  as  quais  a 
interferência  é  construtiva  –  bem  separadas  por  zonas  sem  luz  –  zonas  extensas  de 
interferência destrutiva. 
 

 
 
Na  realidade,  esta  imagem  revela  outros  elementos  importantes  que  só  podem 
ser explicados pela teoria da difração: 
➔ há uma ordem “ausente”… 
➔ a intensidade das ordens não é igual… 
 
Tenham  sempre  presente  que  estas  equações  das  redes  constituem  condições 
necessárias mas não suficientes… 
 
Rede de difração 3D 
 
Irradiância: 

 
 
 
Diferença entre percursos ópticos: (AB+BC) - AC ’ 
Condição para máximos de interferência: (AB+BC) - AC ’ = mλ  
Como: AB = B C = d/sin θ, AC = 2d/tan θ, AC ′ = AC cos θ  
 
Lei de Bragg: 
mλ = 2d sin θ ⇔ sin θ = mλ/(2d)   
 

120 
 
Filmes finos em camada múltipla: 
Uma  aplicação da mesma natureza ocorre com redes 
de  difracção  3D:  cristais  (espaçamento  inter-atómico  ~nm, 
da  ordem  de  grandeza  do  cdo  dos  raios-X,  mas  muito 
menor que o CDO da luz visível (micrómetro). 
Podemos  imaginar  que  as  diversas  ondas  sejam 
geradas  por  “reflexão”  nos  vários  planos  atómicos  e  que, 
mais  uma  vez,  apenas  se  devem  observar  feixes  difratados 
segundo  direções  para  as  quais  as  diferenças  de  fase  entre 
reflexões  “consecutivas”  sejam  de  múltiplos  de  2π .  É esse o 
conteúdo  da  Lei  de  Bragg  aplicável  a  cristais e a raios-X, ou 
a  estruturas  de  multi-camada  fina  que  se  se  depositam 
sobre  superfícies  para  controlar  a  forma  como  reflectem 
(ou  não)  a  luz,  em  função  dos  ângulos  e  do  cdo.  Também 
aqui, a interferência só será construtiva para as direções que satisfizerem a Lei de Bragg. 
 
Phased-array antenna / interferometric imaging 
Uma  aplicação  de  outro  tipo  é  hoje  banal  nos  domínios  rádio  e  das  microondas: 
controlando  a  fase  de  um  conjunto  de  emissores,  espacialmente  distribuídos, 
controla-se a direcção segundo a qual se gera um feixe de ondas rádio. São os chamados 
Phased-arrays. 
Desta  forma,  consegue-se  orientar  dinamicamente  um  feixe  sem  movimento 
mecânico  das  fontes,  sem  espelhos  ou  qualquer  outro  tipo  de  reflectores.  A  sua 
aplicação  em  sistemas  radar  é  óbvia.  A  agilidade  angular  do  sistema  depende 
exclusivamente da electrónica de controlo da fase nos emissores (e do tempo necessário 
para a recepção do eco e seu processamento). 

 
 
Esta  tecnologia  pode  também  ser  aplicada  nos  radar  laser  –  LIDAR  –  em 
desenvolvimento  para  a  navegação  autónoma  de  veículos,  com  os  quais  o  veículo 
constrói  a  atualiza  frequentemente  uma  representação  do  seu  ambiente  3D  e  toma  as 
decisões de navegação necessárias. 
 

121 
Em  rádio-astronomia aplica-se exactamente o mesmo princípio mas ao contrário 
e  sobre  um  conjunto  de  recetores:  ao  aplicar  um  conjunto  de  diferenças  de  fase  bem 
definido,  a  um  array  de  recetores,  apenas  se  viabiliza  a  interferência  construtiva  de 
ondas  rádio  que incidam segundo uma direcção bem definida. Eletronicamente, faz-se o 
varrimento  de  uma  gama  2D  de  direcções  e  a  imagem  é  construída,  direcção  por 
direcção. 
Esta  é  a  base  da  “formação  de  imagem  interferométrica”,  de  que  a  imagem  do 
buraco negro (2019) é o exemplo de maior visibilidade recente… 

3.2.2.2. Com Percas 


Vamos  generalizar  o  modelo  anterior,  sem  percas,  a  um  modelo  de  ondas 
monocromáticas,  com  percas:  cada  onda  difere  da  vizinha  em fase, de phi, mas também 
em  amplitude,  aqui  representada  por  |h|  <  1.  As  ondas  são  ainda  “contáveis”,  mas  agora 
podemos  passar  ao limite, para um número infinito de ondas, pois a série converge, pois 
vamos assumir que há percas, logo |h|<1. 
 
Sejam M ondas com amplitudes complexas com intensidades decrescentes e 
fases igualmente espaçadas de phi: 

 
Amplitude complexa soma ( M → ∞ ): 

 
 
Quadrando,  obtém-se  a  irradiância,  definida  em  termos  de  um  coeficiente,  a 
Finesse, que depende das percas, |h|.  
 

 
 
Quanto menores forem as percas, maior é a Finesse e reciprocamente: 
★ Se  as  percas  forem  muito  grandes,  o  número  de  ondas  em  causa  é  reduzido, 
tendendo-se para uma situação de interferência a dois feixes.  
★ Se  as  percas  forem  reduzidas,  temos  um  número  elevado  de  feixes,  e  temos  um 
número elevado de ondas que interferem 
 

 
 
 

122 
Função de Airy 
 

 
Esta  forma  específica  de  variação  da  Irradiância  define  a  chamada  Função  de 
Airy. Da sua representação gráfica, constata-se: 
★ A sua periodicidade, com máximos em múltiplos de 2pi; 
★ A largura dos máximos é tanto maior quanto menor for a Finesse; 
★ Para  Finesses  baixas  (grandes  percas)  o  perfil  da  distribuição  de  irradiância  é 
essencialmente  sinusoidal,  o  que  assinala  que  o  número  efectivo  de  feixes 
interferentes é reduzido (tendencialmente, 2). 
★ Para  Finesses  elevadas,  os  máximos  são  muito  bem  definidos  (delta-Dirac  em 
phi),  o  que  coloca  elevados  constrangimentos  sobre  as  condições  em  que  a 
interferência  é  construtiva:  a  seletividade  e  a  sensibilidade  são  enormes.  É  o  que 
viabiliza o funcionamento dos lasers! 
 
A  diferença  de  fase,  j,  entre  ondas  “consecutivas”  pode  ser  função  de:  r,  t,  l,  n, 
n(T),  L(T),  r,  r’,  t,  t’  …  Num  laser,  com  uma  cavidade  de  comprimento  L,  ondas 
“semelhantes”  repetem-se  todos  os  2L  (ida  e  volta).  A  diferença  de  fase  entre  ondas 
semelhantes consecutivas é: 
j = k 2L = 4pnL/10 = 4pnL/c = 2pn/(c/2L) = 2pn/F SR  
 
Para  haver  interferência  construtivas,  j  =  2pm  ou  n  =  mFSR.  Se  apenas  um 
parâmetro for variável, a função de Airy representa I em função desse parâmetro livre. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

123 
c/2L banda espectral livre / Free Spectral Range (FSR) [Hz] 
Imaginemos  que  temos  no  interior  da  cavidade  ressonante  (plana-plana)  um 
meio  activo,  com  emissão  estimulada  dominante,  e  com  fotões  que  se  propagam 
segundo  o  eixo  da  cavidade.  (Os  outros  fotões,  não  nos  interessam,  acabam  por 
abandonar a cavidade, fazem parte das percas…). 
Podemos  imaginar  que  esses  fotões  alimentam energeticamente uma onda plana 
que  oscila  dentro  da  cavidade,  regressando  sobre  si  própria,  ora  da  esquerda  para  a 
direita,  ora  da  direita  para  a  esquerda.  Como  o  espelho  de  saída  é  parcialmente 
reflector,  cada  uma  destas  ondas  será  parcialmente  transmitida  para  o  exterior  da 
cavidade  ressonante:  propagam-se  ao  longo  da  mesma  direcção,  estão  sobrepostas, 
interferem.  Se  as  percas  forem  reduzidas  (refletividade  do  espelho  pouco  menor  que 
100%),  o  número  de  ondas  é  muito  elevado,  e  a  teoria  aplica-se  (embora  a  potência 
óptica externa seja reduzida...) 
 
A  diferença  de  fase  entre  ondas  consecutivas,  phi  pode  ser  expresso  em  termos 
de  λ, ν, L, n .  Imaginemos  que  temos  uma  cavidade  estável  (mecânica  e  termicamente). 
ϕ   é  uma  medida  da  frequência,  ν ,  e  o  gráfico  pode  ser  usado  como  I( ν ).  Apenas  as 
frequências  múltiplas  do  FSR  é  que  podem  originar  máximos  bem  definidos.  Isto significa 
que  o  meio  ativo  pode  gerar  muitos  fotões  com  muitas frequências dentro da sua banda 
espectral.  Nesta,  apenas  um  pequeno  conjunto  de  fotões  contribui para máximos muito 
bem  definidos,  ao longo do eixo! Um laser é uma fonte bem mais monocromática do que 
o que a sua risca espectral de fluorescência sugere! 
 

 
O  que  acontece  se  a  cavidade  não  estiver  devidamente  estabilizada,  térmica  e 
mecanicamente?  Ao  longo  do  tempo,  L(n(T),t)  varia,  e  as  frequências  ressonantes  (que 
dependem  de  L  através  do  FSR) variam também. A coerência do laser reduz-se, pois não 
é  possível  prever  a  sua  frequência  e  fase  ao  longo  do  tempo,  que  vão  variar 
caoticamente.  Esta  redução  da  coerência  do  laser  torna-o  inútil  para  interferometria, 
holografia  –  aplicações  em  que  a  estabilidade  da  fase  é  essencial  – mas habilita-o ainda 
para comunicações, processamento de materiais, metrologia não coerente, etc. 
 
Étalons  
Melhoram a monocromaticidade de lasers. 
O  meio  ativo  é  representado  pela  sua  risca  de  fluorescência,  contínua  e  larga,  a 
azul  em  baixo.  Nos  processos  de  emissão  estimulada,  apenas  podem  ser  produzidos 
fotões  compatíveis  com  a  risca  de  fluorescência  (muitos  mais  no centro da risca do que 
mais afastados desse centro). 

124 
 
 
Os  designados  “modos  da  cavidade”  são  as  frequências  múltiplas  do  FSR 
compatíveis  com  a  risca  de  fluorescência.  Apenas  estes  modos  podem  ser  alimentados 
com  fotões  e  desta  forma  constituir  feixes  (gaussianos,  numa  cavidade  ressonante 
constituída  por  espelhos  esféricos).  Houve  um  aumento  da  monocromaticidade  da 
radiação:  o  espectro  passou  de  contínuo  a  discreto  (~10  modos  representados).  O  feixe 
laser  pode  ser  modelado  como  uma  soma  de  ondas  monocromáticas,  com  frequências 
que  se  podem  conhecer,  com  amplitudes  previsíveis,  mas  com  fases  relativas  ( ε ) 
imprevisíveis. 
O  laser  está  a  gerar  várias  ondas  monocromáticas,  cada  uma  delas  com  uma 
frequência  central  muito  bem  definida,  cada  uma  delas  com  uma  largura  de  banda 
(largura  da  risca,  não  representada)  determinada  pela  Finesse  da  cavidade  (todos  os 
factores que permitem calcular o factor |h|). 
 
Para  aumentar a monocromaticidade do feixe laser e apenas viabilizar a oscilação 
de  1  modo  basta  adicionar  uma  2ª  cavidade ressonante mais curta no interior da 1ª - um 
Étalon.  O  seu  FSR  será  maior,  os  seus  modos  (a  rosa)  serão  mais  espaçados,  e  o  laser 
funcionará  apenas  nas  frequências  que  forem  simultaneamente  frequências  de 
ressonância  das  duas  cavidades.  No  caso  representado,  apenas  o  modo  central  seria 
retido,  e  o  laser  designar-se-ia  como  monomodo  (e  a  sua  coerência seria muito elevada). 
(A  estabilidade  térmica  e  mecânica  do  étalon  é  crítica,  sem  o  que  o  laser será instável e 
poderá nada emitir!) 
 

3.2.2.3.Espetrómetros de Fabry-Perot 
O  interferómetro  Fabry-Perot  é  um  exemplo  importante  de  um  sistema  que  faz 
uso  de  interferência de feixes múltiplos. Permite analisar o espectro de feixes luminosos 
constituídos  por  vários  modos  –  os chamados modos longitudinais. Este interferómetro 
serve  como  espetrómetro  de  alta  resolução  e  também  como  oscilador  óptico.  Nesta 

125 
última  utilização,  é  um  componente  essencial  de  um  laser.  A  radiação  em  análise  entra 
numa  cavidade  ressonante  de  comprimento  L,  oscila  ao  longo  do  eixo,  acabando  por 
emergir pelo espelho de saída, atrás do qual temos um detector de potência luminosa. 
 
O  sistema  consiste  em  duas  superfícies  paralelas  altamente  refletoras separadas 
por  uma  distância.  Estas  duas  placas  reflectoras  separadas  são  referidas  como  um 
Fabry-Perot  etalon  ou  cavidade,  e  um  arranjo  alternativo  tem  os  revestimentos 
refletidos  aplicados  nas  duas  superfícies  de  uma  única  placa  de  vidro.  As  duas  lentes 
servem  para  colimar  a  luz  de  um  ponto  da  fonte  alargada  na  região  da  cavidade  e  para 
depois  fazer  uma  imagem  desse  ponto  no  ecrã.  O  ecrã  está localizado no plano focal da 
lente  para que sejam vistas franjas de igual inclinação localizadas no infinito. A luz de um 
comprimento  de  onda  fixo  só  atravessará  o  etalon  em  determinados  ângulos  bem 
definidos.  
 

 
Num  analisador  espectral,  um  dos  espelhos  da  cavidade  oscila,  controlado  por 
um  pequeno  actuador  piezoeléctrico.  Neste  caso apenas L tem o direito de variar, o que 
impõe  um  rigoroso  controlo  sobre  a  temperatura  (para  que ro, n e, logo, phi não variem 
e o analisador mantenha íntegra a sua calibração). 
 

 
 
A  cada  valor  instantâneo  de  L  está  associado  um  conjunto  de  frequências  de 
ressonância:  ν = mF SR = m2π /L .  Se  essas  frequências  estiverem  presentes  no  espectro 
em  análise,  as  múltiplas  ondas  internas  interferem  construtivamente  e  o  detector 
detecta.  Caso  contrário,  não  há  nada  para  detectar,  pois  a  radiação  extingue-se  por 
interferências  destrutivas.  Para  não  haver  ambiguidade,  o  valor  do  FSR  tem  de  ser 
superior à largura de banda espectral (expectável) da radiação em análise. 
 

126 
Quanto maior for a finesse, maior é a resolução espectral destes analisadores, e 
mais fidedigno é o espectro medido. 
 
Na  transmissão são produzidas franjas circulares de feixe múltiplo extremamente 
afiadas.  Se  a  fonte  não  for  monocromática,  forma-se  um  padrão  circular  independente 
separado  para  cada  comprimento  de  onda.  A  localização  ou  escala  das  franjas  está 
dependente  do  comprimento  de  onda.  Se  a  fonte  for  composta  por  dois  comprimentos 
de  onda  estreitamente  espaçados,  a  estrutura  dos  anéis  é  duplicada  e  a  separação  dos 
dois  conjuntos  de  anéis  permite  avaliar  diretamente  a  estrutura  hiperfina  das  linhas 
espectrais.  Espectros  mais  complexos,  geralmente  compostos  por  linhas  espectrais 
discretas,  podem  também  ser  medido.  Esta  análise  é  possível  mesmo  que  a  ordem  de 
interferência seja a mais elevada no centro do padrão. 
 
Em lâminas de faces paralelas, a refletividade e transmissividade das superfícies 
(r, r’, t, t’) é determinada pelas equações de Fresnel: 

 
Diferença de fase entre feixes consecutivos: 

 
θ′ - ângulo de refração interno à lâmina 
 
Atenuação entre feixes consecutivos: r’^2 

 
 
As  franjas  de  vigas  múltiplas  de  igual  espessura  podem  ser  produzidas  por  duas 
superfícies  de  alta  reflectividade  em  estreita  proximidade,  numa  configuração  com 
interferómetro  Fizeau.  As  franjas  escuras  estreitar-se-ão  a  linhas  agudas,  e  cada  franja 
representará  um  contorno  de  OPD  constante  entre  as  superfícies.  Tal  como 
anteriormente,  uma  franja  escura  corresponde  a  um  intervalo  de  um número inteiro de 
meios  comprimentos  de  onda.  A área entre as franjas será brilhante. As melhores franjas 
ocorrerão  quando  o  ângulo  e  a separação entre as superfícies for mantida pequena. Isto 
evitará que os múltiplos reflexos se desprendam ou reflitam para fora do intervalo. 
 
Cada  dioptro  reflete  e  transmite  parcialmente.  Tanto  por  transmissão  como  por 
reflexão,  temos  várias  ondas  paralelas  entre  si,  e  desfasadas  de  uma  fase  constante 
(sendo  a  lâmina  de  faces  planas  e  paralelas).  O  valor  de  π  depende  agora  da  geometria 
(no caso dos lasers, θ=0). 

127 
 
Uma lente integra: força a interferência entre múltiplas 
ondas 
 
Em  função  da  geometria  e  diâmetro  do  feixe 
incidente,  pode  ser  necessário  forçar  a  sobreposição 
entre  os  múltiplos  feixes,  usando  uma  lente  e medindo a 
irradiância no plano focal. 
 
 
Interferência entre múltiplas ondas, com percas: Fabry- Perot 
 

 
Uma  cavidade  ressonante  de  um  laser  constitui  um  interferómetro  de 
Fabry-Perot,  com  theta=0.  Foi  usado  já  no  século  XIX  para  obter  espectros  de  elevada 
resolução espectral. 
 
★ A  lâmina  de  faces  paralelas  é  uma  cunha  de  ar,  de  espessura  t,  delimitada  por 
superfícies planas e paralelas. 
★ A fonte é extensa, e é colocada no infinito, por se encontrar no plano focal objeto 
da  1ª  lente.  A  lâmina  recebe,  portanto  uma  onda  plana  de cada um dos pontos da 
fonte extensa. 
★ A  2ª  lente,  à  direita,  implementa  a  integração,  força  a  sobreposição  dos  feixes 
emergentes da lâmina de faces paralelas. 
★ O  padrão interferométrico é constituído por máximos com a forma de finos anéis 
circulares.  Para  cada  cdo,  constitui-se  um  sistema  de  anéis,  muito  finos  (a 
Finesse tem de ser sempre elevada). 
★ Se  a  fonte  for  constituída  por  vários  CDO,  existirão  outros  tantos  sistemas  de 
anéis, e podem-se distinguir e identificar os cdo associados. 
 
Com  este  interferómetro  foi  possível  entender  que  a  célebre  risca  amarela  do 
sódio,  na  realidade,  era  um  dobleto,  constituída  por  duas  riscas  muito  finas  e  muito 
próximas. 
 
 
 
 

128 
Resumindo: 
★ Sobrepondo  ondas,  obtemos  padrões  espaciais  de irradiância com propriedades 
muito  específicas,  normalmente  associados  a  franjas  que  representam  máximos 
de interferência construtiva, separados por mínimos de interferência destrutiva. 
★ É  a  diferença  de  fase  entre  as  ondas,  variável  de  ponto  para  ponto  no  detector, 
que determina o valor da irradiância em cada ponto. 
★ Para  cada  caso,  para cada interferómetro, o valor da diferença de fase, delta deve 
ser  bem  modelado.  Quase  sempre,  uma  das  ondas constitui uma referência para 
a  outra,  e  a  interferometria  permite  medir  a  diferença  de fase de uma em relação 
à  outra,  a  de  referência  (permite  medir  os  cosseno  da  diferença  de  fase,  não  a 
fase directamente). 
★ Delta  depende  de  inúmeras  variáveis,  direta  ou  indiretamente.  Controlamos  o 
interferómetro  de  modo  a  garantir  que  o  que  se  pode  medir  diretamente 
(número,  forma  das  franjas  e  a  sua  localização  espacial  no  plano  do  detector)  se 
consegue relacionar quantitativamente com a grandeza em análise. 

3.3. Interferómetros 

3.3.1. Young 
Em  1801,  Thomas  Young  realizou  uma  experiência 
fundamental  para  demonstrar  a  interferência  e  a  natureza 
ondulatória  da  luz.  A  luz  monocromática de um único furo ilumina 
uma  tela  opaca  com  dois  furos  ou  fendas  adicionais.  A  luz 
difunde-se  a  partir  destes  orifícios  e  ilumina  uma  tela  de 
visualização  a  uma  distância  grande  em  relação  à  separação  dos 
orifícios.  Como  a  luz  que  ilumina  os  dois  orifícios  provém  de  uma 
única  fonte,  as  duas  frentes  de  onda  difratadas  são  coerentes  e 
formam  franjas de interferência onde os feixes se sobrepõem. Com 
o  interferómetro  de  Young,  demonstrou-se a natureza ondulatória 
da luz e também de feixes de partículas (electrões, protões, etc). 
É  constituído  por  dois  pequenos  furos  (ou  fendas),  iluminados  pela  mesma 
radiação  que  se  pretende  estudar.  De  cada  um  dos  furos  temos  uma  onda,  e  da  sua 
sobreposição  no  espaço,  na  zona  do  detector,  resulta  um  padrão  de  interferências 
simples (pode ter várias configurações). 
 
É  o  exemplo  típico  de  um  interferómetro  de  divisão  da  frente de onda (DFO): os 
dois  furos,  ou  fendas,  selecionam  diferentes  zonas  da  frente  de  onda,  no  mesmo 
instante  ou  em  instantes  diferentes,  consoante  a  inclinação do feixe incidente. Trata-se 
de  um  interferómetro  fundamental  para  se  caracterizar  a  coerência  espacial  da 
radiação. 
 
O  OPD  (Optical  Path  Difference)  calcula-se  facilmente  se  se  baixar  a 
perpendicular  de  S1  para  a  linha  S1P, o que só é válido para pequenos valores de theta. A 
partir  do  OPD, a fase phi obtém-se multiplicando por k. Note-se que as fases iniciais são 
iguais,  o  que  significa  que  as  ondas  estão  em  fase  em  x=0  –  caso  contrário,  o  padrão 

129 
estaria  centrado  noutro  ponto.  Traçando  uma  linha  de  S1  a  B  que  é  perpendicular  ao 
segundo  raio.  Como  L  é  muito  maior  que  d,  as  distâncias  de  B  a  P  e  S1  a  P  são 
aproximadamente iguais.  
 
 

 
 

 
Trata-se,  todavia  de  uma  aproximação  no  âmbito  da  qual  as  franjas,  paralelas  ao 
eixo dos y, são periódicas em x, com período p e com um perfil sinusoidal (cos phi). 
 
Efeitos da largura (D) da fenda (D << d) 
Nas  abordagens  iniciais, considera-se que as fontes S1 e S2 são pontuais (os focos 
dos  hiperbolóides).  Na  realidade,  qualquer  furo  ou  fenda  tem  dimensões  finitas  (D).  Os 
efeitos  da abertura finita manifestam-se num sinc^2 que depende da dimensão D, e que 
é  responsável por reduzir a visibilidade / contraste das franjas quando nos afastamos do 
centro. 
A  luz  utilizada  para  produzir  o padrão de interferência é difratada pelos orifícios. 
As  interferências  só  são  possíveis  se  a  luz  for  dirigida  nessa  direcção. O padrão total de 
intensidade  de  interferência  é, portanto, modulado pelo padrão de difracção de um furo 
(assumindo aberturas de fenda): 

 
Um  padrão de interferências depende criticamente do cdo, p é aliás proporcional 
ao  cdo.  Se  a  radiação  incidente  for  policromática,  teremos  vários  padrões 
monocromáticos  coincidentes  na  franja  central,  mas  com  diferentes  períodos.  Na 
sobreposição de todos, apenas a franja central e pouco mais, em torno, será visível. 

130 
 
 
 
Podemos visualizar: 
➔ A variação do período do padrão de interferências com o CDO; 
➔ O impacto da aproximação feita no paralelismo das franjas;  
➔ A diminuição transversa da visibilidade das franjas; 
➔ Uma outra visualização do padrão e interferências para radiação policromática. 
 
 
Outros interferómetros de divisão de frente de onda 
 

 
 
 
É  importante  notar  que  todas  estas  configurações se reduzem ao interferómetro 
de  Young!  Basta  calcular  a  imagem  da  fonte  pontual  inicial  dada  pelos  dois  elementos 
ópticos representados: pares de prismas, espelhos, parte central da lente bloqueada.... 
 
Bi-prisma (Fresnel) 
Podemos  usar  interferómetros  para  caracterizar  impulsos  laser  ultra-curtos  (fs). 
O  bi-prisma  de  Fresnel  (dois  prismas  com  base comum) gera duas ondas com diferentes 
inclinações, mas em que ocorre também uma espacialização da frequência luminosa.  

131 
O  padrão  de  interferência  excita  um  cristal  não  linear  (óptica  não-linear)  e  os 
sinais  gerados  permitem  recuperar  a  forma  temporal  do  impulso  ultra-curto.  É 
também  um  interferómetro  de  DFO,  pois  uma  parte  da  onda  passa  através  de  um  dos 
prismas e a restante através do outro prisma. 

 
Espelho de Loyd 
O  espelho  de  Loyd  tem  todavia  uma  diferença  relevante,  que  iremos  encontrar 
várias  vezes.  A  franja ao nível do espelho é escura, embora as distâncias geométricas das 
duas  fontes  ao  ponto  P  sejam  as  mesmas.  E  há  interferência  destrutiva,  o  que  significa 
que  as  ondas,  por  alguma  razão,  estão desfasadas de pi. De facto, como veremos com as 
equações  de  Fresnel,  no  paradigma  eletromagnético,  a  reflexão  altera  a  fase  da  onda 
reflectida  em relação à onda incidente, o que significa que tem de ser tida em conta esta 
desfasagem  (há  apenas  uma,  no  caso  de  duas  reflexões  este efeito compensar-se-ia) no 
cálculo da diferença de fase entre as duas ondas em P. 
 
Em  muitas  situações  reais,  existem  componentes  ópticos  que  são  iluminados  e 
que  podem  dar  origem  a  este  tipo  de  franjas  de  Young,  muitas  vezes inadvertidamente, 
constituindo,  portanto,  ruído  que  deve  ser  descontado  ou  filtrado,  de  alguma  forma, 
para não contaminar o sinal. 

3.3.2. Interferómetro de Fizeau  


O  Interferómetro  de  Fizeau  (IF)  é  um  dos  mais  úteis 
interferómetros  de  divisão  de  amplitude  para  testar  superfícies 
ópticas  (de  lentes  ou  espelhos)  -  planas,  esféricas  ou  asféricas  -  e 
medir  frentes  de  onda  –  logo  o  efeito combinado das aberrações de 
um  sistema.  É  um  exemplo  de  um  “instrumento  de  nulo”,  isto  é, 
funciona  sobre  uma  situação  nula,  de  zero,  quando  a  superfície  ou 
sistema  de  lentes  em  análise  for  “perfeito”,  isto  é,  conforme  às 
especificações (supostas e conhecidas). 
Antes  de  analisar,  recordemos  como  varia  o  padrão  de 
interferências  entre  duas  ondas  planas  com  o  ângulo:  o  período 
diminui  quando o ângulo aumenta. No limite, quando o ângulo tende 
para  0,  o  período  tende  para  infinito,  isto  é,  a  irradiância  é 
constante  em  todo  o  detector,  não  há  franjas,  não  há  qualquer 
estrutura.  À  medida  que  o  ângulo  aumenta,  o  período  diminui  até 
que  excede  a  capacidade  de  resolução  do  olho  e  as  franjas 
desaparecem  (mas  estão  lá).  A  maior  parte  dos  interferómetros  de 

132 
DFO  funciona  com  base  no  estabelecimento  de  uma  situação  de  nulo,  que  acontece 
sempre  que  a  diferença  de  fase  entre  as  duas  ondas  seja  constante,  não  havendo, 
portanto, franjas discretas, visualizáveis. 
 
O  interferómetro  Fizeau  compara  uma  superfície  óptica  com outra, colocando-a 
na  proximidade  imediata.  A  fonte  alargada  é  filtrada  para  ser  quasimonocromática. 
Forma-se  uma  pequena  caixa  de  ar  entre  as  duas  superfícies  ópticas  e  observam-se 
franjas de igual espessura entre as duas superfícies.  
 
Interferência de duas ondas planas com a mesma intensidade: 
 

 
 
2 ondas planas que interferem segundo: 
★ a mesma direcção padrão de interferência uniforme 
★ um ângulo, q franjas lineares e paralelas, de período  

 
Ópticas  de  referência  em  linha  com  a  superfície  em  análise.  Dimensões  das 
ópticas  de  referência  semelhantes  às  da  superfície  ou lente em teste. As franjas existem 
em volume, e intersectam o detector. 
No  caso  limite  em  que  d  é  constante  (não  depende  de  r),  o  interferograma  é 
homogéneo:  não  há  franjas  -  irradiância  constante.  Havendo  franjas,  há  desvios 
relativamente à situação ideal, e cada inter-franja corresponde a 1l de OPD. 
A  injecção  de  um  feixe  único  e  a  recolha  das  duas  ondas  é  feita  através  de  um 
separador  de feixe (beam splitter). O feixe é colimado por uma lente tão perfeita quanto 
possível:  a  onda  utilizada  no  interferómetro  deve ser plana. Existe sempre um elemento 
que  gera  uma  onda  refletida.  No  caso  de  cima,  é  a  2ª  superfície  de  uma  lâmina  de faces 
paralelas  perfeita  (planicidade,  lambda/100),  que  retro-reflete  parte  do  feixe  incidente, 
e  constitui  a  onda  de  referência  tão  plana  quanto  a  onda  incidente.  A  onda  refletida 
transportará irregularidades topográficas. 
Temos  assim  duas  ondas  que  se  propagam  da  direita  para  a  esquerda,  que  têm 
histórias  de  fase  diferentes  a  partir  da  superfície  plana  de  referência,  e  o  padrão  de 
interferências  que  vierem  a  constituir  descreverá tais diferenças através de franjas: dois 
pontos  separados  por  uma  interfranja  estarão  separados  de  lambda/2,  em  z, 

133 
relativamente  à  superfície  de  referência,  o  que  permite  construir  uma  boa  ideia  da 
topografia da superfície. 
 
Se  a  superfície  em  teste  for  verdadeiramente  plana  e  for  paralela  à  superfície 
plana  de  referência,  ela  refletirá  uma  onda  plana  segundo  a  mesma  direcção  da  onda 
plana  de  referência,  e  o  padrão  de  interferências  não  revelará  franjas,  pois a DPO entre 
as  duas  ondas  é  constante.  Se  houver  franjas  e  se  estas  forem paralelas e equidistantes, 
tal  apenas  revelará  que  as  duas  ondas  fazem  entre  si  um  certo  ângulo  e  que  as  duas 
superfícies  não  são  paralelas:  tratar-se-ia  de  um  problema  de  alinhamento, não de falta 
de  planicidade.  Muitas  vezes  é  preferível  partir  de  uma  situação  estruturada  (com 
franjas) do que de uma situação homogénea (sem franjas). 
 

 
 
A  óptica  de referência pode gerar uma onda esférica perfeita focada para F, o que 
permite  testar  um  espelho  esférico  desde  que  o  seu  centro  de  curvatura,  C,  coincida 
com  F  –  o  que  é  apenas,  uma  questão  de  operação  do  IF.  Se  o  espelho  não  for  esférico 
ou  não  tiver  o  raios  de  curvatura  certo,  teremos  uma  situação  de  interferência  entre 
duas  ondas  esféricas  separadas  longitudinalmente.  Por  vezes  utiliza-se  PSI  com  4 
interferogramas, sendo possível recuperar a topografia da superfície. 
 

 
Neste  caso  (acima)  o  espelho  é  asférico.  Utiliza-se  um  Holograma  Gerado  por 
Computador  para  gerar  a  onda  de  referência  adequada  à  forma  asférica  do espelho. No 
teste,  se  o  espelho  tiver  a  forma  asférica  prevista,  as  duas  ondas  interferentes  são 
idênticas, delta é constante, e não se devem observar franjas. 
 

134 
 
 
Teste  de  um  espelho  (esférico  ou  não)  de  grande  raio  de  curvatura  contra  um 
plano.  As  ondas  não  serão  nunca  idênticas,  mas  se  R  for  elevado,  o  número  de franjas é 
contável  e  o esqueleto das franjas é identificável. Do padrão de franjas é possível estimar 
a curvatura do espelho. 

3.3.2.1. Anéis de Newton 


Os  anéis  de  Newton  são  formados  por  cunhas  de  ar  delgadas  entre  duas 
superfícies,  ou  por  filmes  finos  (com  as  suas  duas  superfícies):  bolas  de  sabão,  películas 
de óleo, duas lamelas de microscópio pressionadas uma contra a outra... 
Industrialmente,  e  durante  o  processo  de  fabrico  de  lentes,  colocar em contacto 
a  superfície  em  teste  contra  um  plano  de  referência  e  contar  franjas  permite  saber  o 
valor  máximo  da  espessura  da  cunha de ar, logo, estimar se o raio de curvatura se está a 
aproximar das especificações. 
 

 
 
Na  zona  de  toque  (espessura  de  ar  nula),  na  superfície  em  teste,  ocorre  uma 
variação  de  fase  de  pi.  A  franja  central  é  portanto  escura,  pois  aí  a  interferência  é 
destrutiva. 

3.3.3. Interferómetro de Michelson 


Michelson 
Os  sistemas  de  abertura  múltipla,  são  no  fundo  interferómetros  a  N  feixes 
coletados pelas diversas aberturas, e cuja combinação é feita interferometricamente. 
 

135 
 
 
À  esquerda,  Michelson  utilizou  um  interferómetro  não  só  para  concluir  que  a 
hipótese  do  éter  (século  XIX)  não  tinha  sustentação,  como  também  para  medir  o 
diâmetro  angular  de  uma  estrela  que  não  se  podia  resolver,  recorrendo  ao  contraste  de 
franjas de interferência. 

 
O  interferómetro  de  Michelson  tem  uma  arquitectura  simples:  o  feixe 
proveniente  da  fonte  é  dividido  em  dois  por um separador de feixe (beam splitter) cada 
um segue para um espelho. 

 
 
Há  reflexão  e  recombinação  após  passagem  pelo  mesmo  beam  splitter.  Como 
podem  ter  ocorrido  diferentes  “histórias”  a  cada  um  dos  feixes,  o  resultado  da 
sobreposição informa-nos sobre a diferença entre tais “histórias”.  
 
O  interferómetro  de  Michelson  é  o  exemplo  típico  de  um  interferómetro  de 
divisão  de  amplitude:  as  duas  ondas  que  interferem  tem  a  mesma  forma,  as  mesmas 
superfícies  de  igual  fase,  mas  transportam  diferentes  quantidades  de  energia:  ocorre 
uma divisão da amplitude complexa (e não uma partição especial da frente de onda). 

136 
O  IM  é  composto  por  dois  ramos  perpendiculares,  funcionando  em 
retro-reflexão,  muitas  vezes  com  um  dos  espelho  móvel  e  o  outro  ramo  protegido.  A 
história  de  fase  dos  dois  feixes  deve  ser  conhecida  a  partir  do  separador  de  feixe.  A 
diferença  de  fase  inicial  entre  os  dois  feixes  é  kn(L2-L1)  e  a  irradiância  no  detector  é  o 
seu  cos.  Os  dois  feixes  estão  sobrepostos  no  ramo  do  detector,  e  a  medida  é  feita  ao 
longo do tempo, num detector colocado num ponto fixo, P. 
 
Imaginemos  que  o  espelho  móvel  se  desloca  de  L.  A  diferença  de  fase  varia  com 
L,  e  cada  vez  que  L  se  alterar  de  lambda/2,  a  diferença  de  fase  varia  de  2pi:  o  detector 
detecta  um  período  de  oscilação. Uma aplicação imediata é a medida de deslocamentos: 
cada  ciclo  no  detector  corresponde  a  meio  cdo.  Se  se  contarem  os  ciclos  durante  um 
certo intervalo de tempo, temos directamente a velocidade do espelho. 
 
Se o espelho se deslocar de L: 
OP D = 2L  
Dj = k 2L  
S e L = 1/2, Dj = 2p (1 ciclo de variação) 
 

 
 
Podemos  medir  a  fase  de  sinais  periódicos  no  tempo  (amplificadores  lock-in, 
phase  meters,  ...).  Podemos  dividir  um  ciclo  de  variação  em  32,  64  partes,  e  ter  uma 
resolução  da  medida  da  distância.  Para  lambda  =  0.6  mícron,  isto  significa  0.01  mícron 
de  resolução.  Para  para  aproveitarmos  esta  resolução,  não  podemos  perder  nenhuma 
oscilação  no  detector  (necessário  pôr  limites  à  velocidade  máxima  de  deslocamento  do 
espelho móvel, para não exceder a largura de banda da nossa electrónica de detecção). 

137 
Uma  limitação  desta  abordagem  simples  é  que  não  é  possível  saber  em  que 
sentido  é  que  o  espelho  se  desloca.  Para  tal,  teremos  de usar dois detectores e OU usar 
duas polarizações nos dois feixes, OU usar uma fonte laser com duas frequências. 
 
Exemplos:  Confirmação  da  hipótese  do  éter;  detecção  de  ondas  gravitacionais 
(LIGO,  2018,  embora  com  uma  resolução  muito, muito superior, por força das cavidades 
ressonantes que são implementadas em cada um dos braços do IF). 
 
 
Variações do Interferómetro de Michelson 
 

 
 
O  interferómetro  de  Michelson  tem  diversas  “variantes”  (Twyman-Green, 
Mach-Zhender, Fizeau, ...), da maior importância na caracterização micrométrica e teste 
de  lentes, espelhos, etc. São todos interferómetros de divisão de amplitude, a dois feixes, 
embora com diferentes geometrias e formas de materializar o feixe de referência. 
 
São  ainda  interferómetros  de  Michelson  os  utilizados  para  detecção  de  ondas 
gravitacionais  (na  Terra  -  LIGO,  ou  no  espaço  -  LISA,  em  construção)  ou  para  realizar 
biópsias da retina através de Optical Coherence Tomography, ou OCT. 
 

 
Nos  primeiros,  a  onda  gravitacional  altera  de  forma  diferente  os  dois  ramos  do 
interferómetro,  e  essa diferença é mensurável através da constituição ou alteração de um padrão 
de  interferências.  Na  OCT  depende  da  coerência  da  fonte  laser,  e  exige  ainda  um  varrimento 
mecânico  de  um  espelho,  para  ir  selecionando  a  radiação  retro-difundida  pelas  várias  camadas 
microscópicas  da  retina. Para além da resolução transversa, é igualmente importante a resolução 
longitudinal (tal como, aliás, ocorre em ecografia ultrassónica). 
 
Sistemas 
A  dimensão  física  dos  interferómetros  é  a  que  for  necessária  à  geometria  dos 
feixes luminosos envolvidos. 
 

138 
 
 
À  esquerda:  um  interferómetro  de  Michelson  industrial  para  medir 
deslocamentos  e  ângulos  a  lambda/32  (ou  melhor...).  À  direita:  um  interferómetro  de 
feixes múltiplos (Fabry-Perot) para analisar o espectro de um feixe laser. 
 
Sagnac 
 

 
 
Uma  outra  configuração  de  muito  interesse  é  a  de  Sagnac,  em  que  numa 
cavidade  ou  num  anel  de  fibra,  com  entradas  e saídas dos feixes, se geram ondas que se 
propagam  em  sentidos contrários, e em que as acelerações  mecânicas do sistema geram, 
por  efeito  Doppler,  variações  de  frequência  entre  as  duas  ondas.  Através  da  medida  da 
diferença  entre  frequências  ópticas  (com  interferometria),  podemos  calcular  o  valor  da 
aceleração mecânica do dispositivo. 
 
Os  sistemas  de  navegação  muito  precisos  (aviões,  satélites)  utilizam  3 
interferómetros  de  Sagnac  para  medir  as  3  componentes  da  aceleração  e,  por 
integração  da  equação  de  Newton  do  movimento,  recuperar  ou  prever  a  trajectória 
seguida, viabilizando a navegação autónoma de precisão. 
 

 
 

139 
3.3.3.1. Frequency Sweeping Interferometry (FSI) 
Uma variante do IM permite medir distâncias sem que haja deslocamento de um 
dos  espelhos.  Utiliza-se  um laser sintonizável em frequência (2-20 GHz) – alterando-se o 
comprimento  da  cavidade  ressonante,  com  atuadores  piezo-elétricos  -  varia-se  a 
frequência  e  detectam-se os ciclos de variação do sinal no detector (parte inteira e parte 
não  inteira,  N).  A  variação  de  frequência  DNIU  é  medida  com  um  analisador  espectral 
(interferómetro  de  Fabry-Perot  de  Finesse  elevada).  Com  base  em  N  e  em  DNIU, 
obtém-se  uma  medida  de  L,  tanto  melhor  quanto  maior  for  DF  (nenhum  ciclo  pode  ser 
perdido...). 
 
 

3.3.3.2. Interferometria com luz branca 


Se  a  fonte  num IM for policromática, só há variação temporal do sinal mensurável 
quando  os  dois  ramos  forem idênticos (o que só acontece numa pequena janela de atraso 
temporal dada pelo tempo de coerência da radiação utilizada). 
Portanto,  se se fizer o varrimento mecânico de um dos ramos do interferómetro, 
passar-se-á  por  uma  posição  em  que tal igualdade se verifica. Controlando a posição do 
espelho (ou sistema) móvel, faz-se uma medida da topografia num dado ponto, com base 
na  posição,  registada,  do  espelho  que  efectuar  o  varrimento.  O  exercício  pode  ser feito 
numa  área  extensa,  ou  repetido,  ponto  a  ponto,  de  modo  a  reconstituir  uma  topografia 
de uma zona extensa. 
 

140 
 
 
 
Este  tipo  de  interferometria  com  luz  “branca”  –  melhor  dito,  fontes  de  coerência 
controlada,  coerência  muito  menor  que  a  dos  lasers  –  permite  atingir  resoluções  da 
ordem  de  nanómetro,  utilizando-se  díodos  super-luminescentes,  que  têm  uma  largura 
de banda de ~10-50 nm. 

3.3.3.3. Optical Coherence Tomography (OCT) 


A  OCT  baseia-se  num  IM,  alimentado  por  uma  fonte  de  baixa  coerência,  a  qual 
exige  que  a  DPO  não  exceda  o  comprimento  de  coerência  da  fonte,  tipicamente  de 
fracção  de  micrómetro.  Como  consequência,  cada  uma  das  camadas  da  retina,  apenas 
pode  contribuir  para  o  sinal  quando  o  espelho  de  referência  se  encontra  na  posição 
certa. 

 
Trata-se,  portanto,  de  um  IM  em  que,  em  cada  ponto  da  retina,  o  espelho  de 
referência  oscila  longitudinalmente,  desta  forma  permitindo  “sondar”  em  profundidade 
a  estrutura  da  retina  nesse  ponto,  antes  de passar para o ponto seguinte ao longo dessa 
linha. 

141 
As  atuais  implementações  da  OCT  baseiam-se  em  fibras ópticas e guias de onda, 
e  cada  vez  menos  em  componentes  discretos.  A  sua  arquitectura,  e  processamento  de 
sinal,  estão  associados às qualificações “time-domain” (sequencial no tempo, com fontes 
de  baixa  coerência)  e  “frequency  domain”  (paralela  no  tempo,  e  com  fontes 
policromáticas). 
 

 
 
A  OCT  fornece  um  corte  plano,  perpendicular  à  retina,  e dá informação sobre as 
suas  diversas  camadas.  A  sua  geometria  global  de  funcionamento  é muito semelhante à 
da  ecografia  clínica,  embora  com  outro  tipo  de  radiações:  ondas  EM  em  vez  de 
ultrassons. 
 

3.3.3.4. Espectroscopia de Transformada de Fourier 

 
 
Se  a  radiação  que  se  injecta  num  IM  for  não  monocromática  –  sendo,  portanto, 
parcialmente  coerente  –  e  se  o  espelho  de  referência realizar um varrimento periódico, 
criam-se  condições  para  que  componentes  monocromáticas  da  radiação  interfiram  em 
torno da configuração de equilíbrio do IM. 
A  modulação  temporal  do  sinal  no  detector  pode  ser  localmente  caracterizada 
pela  sua  Visibilidade  [(Imax-Imin)/(Imax+Imin)]  que,  demonstra-se,  é  o  grau  complexo 

142 
de  coerência  da  radiação,  gama.  Por  transformação  de  Fourier,  obtém-se  a  densidade 
espectral de potência, vulgo, o espectro da radiação. 
 
A  Espectroscopia  por  Transformada  de  Fourier  (Fourier  Transform  Infra  Red 
Spectroscopy,  FTIR)  é  muito  usada  no  infravermelho,  e  tem  inúmeras  implementações 
em  espectroscopia  de  elevada  resolução,  tanto  em  laboratório  como  em  satélites,  para 
análise espectral da radiação emitida pela atmosfera (canal ascendente). 

3.3.4. Interferómetro de Twyman-Green 


O  interferómetro  de  Twyman-Green  é  uma  variante  do  interferómetro  de 
Michelson  especialmente  adaptado  para  medida  de  superfícies  e  de  aberrações  de 
sistemas. 
A  separação  do  ramo  de  referência  dá-lhe  flexibilidade  em  relação a Fizeau, pois 
as  ópticas  que  materializam  o  feixe  objectivo  não  têm  de  ter  as  dimensões  do 
componente  em  teste.  Por  outro  lado,  trabalha  da  mesma  forma  em  transmissão  (teste 
de  sistemas  de  lentes)  e em reflexão (teste de espelhos). Note-se que, em transmissão, o 
feixe  passa  duas  vezes  pelo  sistema,  em  sentidos  contrários,  o  que,  basicamente, 
amplifica a relevância de quaisquer aberrações. 

 
 
É  também  um  interferómetro  de  nulo:  se  as  características  do  elemento  em 
teste  estiverem  conforme  às  características  dos  componentes  de  referência,  a 
interferência  faz-se entre duas ondas planas que se propagam ao longo do mesmo eixo, e 
não  há  franjas.  Quaisquer  diferenças,  traduzem-se  em  franjas  que  nos  permitem 
quantificar as aberrações: 
 
 
 
 
 
 
 

143 
3.3.5. Interferómetro de Mach-Zehnder 
Trata-se  de um interferómetro único para analisar objetos de fase. Um dos feixes 
é  de  referência,  e  o  ramo  correspondente  deve  ser  protegido.  O  objecto  de  fase  é 
inserido no 2º ramo. 
Com  componentes  discretos  (espelhos,  prismas,  separadores  e  feixe,  etc),  este 
interferómetro  tem  uma  geometria  de  um  paralelogramo  e  as  duas  ondas,  à  saída, 
propagam-se  segundo  a  mesma  direcção,  e  são  totalmente  sobrepostas.  Na  configuração 
inicial, a diferença de fase entre as duas ondas é nula, pois os percursos geométricos são 
idênticos.  As  duas  ondas são idênticas à saída, a DPO é nula, e a diferença de fase é nula. 
O padrão de interferências é uniforme, não há qualquer franja. 
 

 
 
 
Qualquer  perturbação  que  afete  a  fase 
da  onda  no  ramo  de teste de phi(x,y), traduz-se 
numa  diferença  de  fase  de phi(x,y) e a condição 
phi=(2m+1)pi  determina  as  franjas  em  que  a 
interferência é destrutiva. 
O  IMZ  pode  ser  implementado  com  guias  de 
ondas em inúmeros moduladores de luz, ou em sensores 
de  variáveis  que  afetem,  de  algum  modo,  o  índice  de 
refracção  do  guia  de  ondas.  Nestas  configurações,  a 
geometria  em  paralelogramo  deixa  de  ser  relevante,  e  o 
que  é  distintivo  do  IMZ  é  a  DPO=0  entre  os  dois  ramos 
na  ausência  de  perturbação.  O  IMZ,  juntamente  com  o 
interferómetro  de  Young,  é  muito  importante  para  a 
implementação experimental de conceitos de óptica quântica. 
 
 

144 
3.4. Conceitos complementares 

3.4.1. Phase-Shifting Interferometry (PSI) 


Com  a  PSI,  a  interferometria  tornou-se  um  instrumento  metrológico  de  elevada 
resolução, e exactidão, e não-ambíguo. 
 
Os  interferómetros  produzem-nos  um  mapa  da  variação do cos(delta), mas o cos 
não  é  inversível,  isto  é,  não  se  pode  extrair  inequivocamente  phi,  mas  apenas 
mod(phi,2pi). Desta forma, o OPD não pode ser quantificado. A tan(delta) é inversível! 
Com  4  interferogramas  em  que  se  sujeita  um  dos  feixes  a  uma  variação  de  fase 
suplementar  e  controlada  (por  exemplo,  0,  pi/2,  pi,  3pi/2)  e  conhecida  (aplicada 
tipicamente  com  actuadores  piezoeléctricos),  podemos  combiná-los  e  obter  a 
distribuição espacial da tan(delta) e, daí, a variação espacial de delta, logo da OPD. 

 
 
 

 
 
Um  exemplo  adicional  do  interferómetro  de  Fizeau  com  PSI.  As  franjas  são 
compatíveis  com  uma  superfície  plana,  embora  ligeiramente  inclinada  relativamente  à 
superfície  de  referência.  É  fundamental  que,  no  seu  movimento  mecânico,  se  assegure 
sempre  o paralelismo da referência, sem o que, a densidade de franjas e/ou a orientação 
do padrão de franjas se altera. 

145 
3.4.2. Phase Unwrapping 
Quando  se  não  aplica  PSI,  a  “recuperação”  da  fase  –  o  levantamento  da 
ambiguidade  –  pode  ser  feito  através  da  operação  de  “desembrulhar  a  fase”  (phase 
unwrapping),  técnica  aplicável  a  pequenas  regiões  no  interior  das  quais  se  pode 
considerar  que  não  há  variações  da  concavidade  /  convexidade  da  superfície  em 
análise. 
Em  1D,  o  processo  é  relativamente  simples  de  apreender,  em  2D  é  necessário 
entrar  em  conta  com  o  gradiente  2D  local  e  garantir  coerência  nas  extrapolações. 
Aceita-se  que  a  DPO  deve  variar  lentamente,  pois  não  existirão  razões  físicas  para 
alterações  dramáticas  da  superfície  em  teste,  o  que  permite  construir  uma  estimativa 
globalmente aceitável da configuração em teste. 

3.4.3. Localização das franjas 


A  lente  integradora  força  a  sobreposição  das  várias  ondas  de  que  se  pretende 
forçar  a  interferência.  No  caso  em  que o padrão de interferências preenche a totalidade 
do  espaço  3D  podem  ainda  localizar  as  franjas,  selecionar  o  plano  em  que  queremos 
analisar uma dada situação de sobreposição e o padrão de interferências que daí resulta. 

 
Em  1,  num  interferómetro  de  Mach-Zhender,  vemos  que  o  padrão  só  se  pode 
constituir  na  região  de  sobreposição.  Apenas  uma  lente  (não  representada)  poderia  criar 
materializar  um  padrão  de  interferências  real,  imagem  de  um  padrão  de 
interferências-objecto  virtual.  Em  2,  os  feixes  apenas  se  sobrepõem  numa  pequena 
região limitada do espaço, e as franjas estão naturalmente confinadas. 

 
Já  analisámos  3,  mas  da  esquerda  para  a  direita  quando  se  estudou  o 
interferómetro  de  Fabry-Perot.  Mas  façamo-lo  agora,  do  ecrã  para  a  fonte.  As  ondas de 

146 
que  forçamos  a  interferência  no  plano  focal,  são necessariamente aquelas que emergem 
organizadas  sob  a  forma  de  ondas  planas  do  interferómetro.  O  que  significa  que  se  o 
alvo  não  se  encontrasse  à  distância  focal  da lente, a lente estaria a selecionar outro tipo 
de ondas, convergentes ou divergentes, que porventura emergissem do interferómetro. 

 
É  o  que  acontece  em  4,  em  que  a  lente  e  a  sua  orientação  angular  em  relação  à 
lâmina  de faces paralelas, de facto seleciona as ondas que pretendemos ver interferir. Se 
a  lente  se  aproximar  da  normal  à  lâmina,  vai  recolher  ondas  planas  que  emergem  ao 
longo  da  normal,  e  que  darão  origem  a  outros  padrões  de  interferência.  A  lente 
seleciona  a  direção  ao  longo  da  qual  se  pretende  analisar  um dado interferómetro. Esta 
é  a situação das películas de óleo, bolas de sabão, etc, em que a lente representa o nosso 
olho.  Duas  pessoas  a  olhar  para  a  mesmo  filme  fino,  a  partir  de  diferentes  direções,  não 
vêem o mesmo padrão nem as mesmas cores.... 

3.4.4. Coerência 
Coerência  tem  a  ver  com  “previsibilidade”  da 
variação  da  amplitude  e  da  fase  ao  longo  do  tempo  num 
ponto  P,  ou  do  valor  da  amplitude  e  da  fase  em  Q 
conhecidos  os  valores  em  P.  Estas  duas  perspectivas 
remetem  para  conceitos  associados  à  coerência  temporal  e 
à  coerência  espacial.  Se  a  1ª  depende  do  espectro  da  onda, a 
2ª tem a ver com a distribuição espacial das frentes de onda. 
 
Em  1  e  2  vemos  que  consoante  as  relações  de 
amplitude  e  de  fase  entre  várias  ondas  componentes,  o 
resultado  da  sobreposição/interferências,  pode  ter  uma 
elevada  correlação  ao  longo de janelas temporais maiores (1) 
ou  mais  pequenas  (2).  Essa  correlação  assume  valores 
significativos  durante,  em  média,  um  tempo  de  coerência, 
no  interior  do  qual  as  nossas  previsões  são aceitáveis – mas 
nada se pode dizer para janelas temporais maiores. 
 
 
 
Vemos  de  que  forma  a  regularidade 
(depende  da  previsibilidade)  pode  ser 
transposta  de  um  sinal  no  tempo, 

147 
para  um  no  espaço.  Se  a  onda  em  3b  fosse  usada  num  interferómetro  de  Young,  o 
padrão refletiria a diferença de fase entre as aberturas, e alterar-se-ia se esta variasse.  
 
(Se a variação for muito rápida, reduzido tempo de coerência, nenhum padrão é observado.) 
 

 
A  Função  de  Coerência  Mútua  mede  a  correlação  espácio-temporal  da  função de 
onda,  V(r,t) (solução da equação de ondas), entre dois pontos e em diferentes momentos, 
separados  de  τ ,  realizando  as  médias  adequadas.  Note-se  a semelhança entre o termos 
de  interferências,  I12,  e  Gama.  Esta  será  a  razão  pela  qual  o  contraste  de  um  padrão de 
interferências  constitui  uma  medida  de  uma  versão  normalizada  de  Gama,  e  que  o 
interferómetro  de  Young  seja  o  instrumento  para  caracterização  da  coerência  de 
campos  luminosos  arbitrários.  Da  função  de  coerência  mútua,  Gama,  dependem  todas 
as  demais  funções  de  coerência,  tanto  do  domínio  espácio-temporal,  como  no  espaço 
de Fourier, em termos de frequências temporais (espectrais) e espaciais 

 
 
Resumo do capítulo: 
Um  interferómetro  (a  2  feixes)  é  um  instrumento  de  “nulo”:  ondas  idênticas  dão 
origem  a  padrões  de  interferência  uniformes  (sem  franjas),  contra  o  qual  o  nosso 
fenómeno se deixa “visualizar”. 
Nos  interferómetros  de  2  ondas,  uma  funciona  como  referência  (instrumento 
comparador).  Os  elementos  ópticos  (lentes,  espelhos,  elementos  ópticos  difrativos,  …) 
que  a  geram  têm  de  ser  perfeitos  e  estáveis  (monocromáticas,  coerência  elevada)!  A 
qualidade  da  medição  depende  da  qualidade  das  referências...  [Hubble...]: componentes 
ópticos e feixe. 
Ondas  muito  diferentes  dão  origem  a  franjas  em  excesso,  que  podem  não  ser 
resolvidas  pelo  sistema  de  detecção.  Um  interferómetro  deve  ser  configurado  de modo 
a  que  as superfícies de igual fase das ondas envolvidas sejam semelhantes, e as franjas 
resolúveis  e  contáveis.  Todos  os  fatores  de  fase  da  onda  utilizada  devem  ser 
cuidadosamente  identificados  e  controlados.  As franjas permitem medir o valor do  cos 
d  (r,t).  A  informação  física  reside  numa  ou  várias  das  variáveis  que  determinam  a 
diferença de fase entre as duas ondas: d = d {l, n, n(T), L(T), …}. 
A  função  cos  é  par:  sem  PSI,  é  impossível  saber  se  a  referência  está  atrasada  ou 
adiantada  em  relação  à  outra  onda:  há  ambiguidade  na  recuperação  da DPO, que muitas 
vezes  não  é  necessário  levantar.  A  função  acos  só  é  definida  módulo  2p.  A  fase deve ser 

148 
“desembrulhada”  (phase  unwrapping)  para  se  obterem  as  variações  efectivas  das 
grandezas físicas. 
O  perfil  das  franjas  depende  do  tipo  de  interferómetro,  da razão entre os feixes, 
da  coerência  da  radiação e dos factores de perca (associados aos fatores de reflexão e de 
transmissão  em  amplitude das superfícies: r,  r’,  t,  t’ ). O ruído óptico coerente (speckle) 
afecta particularmente o processamento digital de interferogramas. 
As  “franjas”  num  interferómetro  podem  ser  espaciais  ou  temporais  (variação  do 
sinal  num  ponto  tipicamente  associado  a  uma  variação  temporal  num  dos  ramos) 
[Michelson].  As  franjas  podem  ser  espacialmente  localizadas  (fontes  extensas)  – reais ou 
virtuais  (é  preciso  uma  lente  para  as  materializar)  -  ou  não  localizadas  (na  região  de 
sobreposição). 

4. Propagação & Difração 


A  difração  refere-se  ao  conjunto  de fenómenos físicos que ocorrem quando uma 
onda  encontra  um  obstáculo  ou uma fenda. Define-se então como a flexão de ondas em 
torno  de  obstáculos  ou  ângulos  ou  através  de  uma  abertura  na  região  da  sombra 
geométrica  do  obstáculo/abertura  -  distorção  causada  na  frente  de  uma  onda 
eletromagnética  que  incide  sobre  um  obstáculo  de  dimensões  comparáveis  ao  seu 
comprimento  de  onda.  O  objeto  difractante  ou  abertura  efetivamente  torna-se  numa 
fonte secundária da onda em propagação. 

4.1. Princípio de Huygens-Fresnel e aproximações 


Na  física  clássica,  o  fenómeno  da  difração  é  descrito  pelo  princípio  de 
Huygens-Fresnel,  que  trata  cada  ponto  de  uma onda em propagação como uma coleção 
de  pequenas  ondas  (ondículas  ou  ôndulas)  esféricas  e  individuais,secundárias, 
portadoras  da  mesma  frequência  que  caracteriza  a  onda  primária  (conforme  sugere  a 
seguinte imagem). 

 
  A  amplitude  em  qualquer  ponto  resulta  então  da  sobreposição  das  pequenas 
ondas. 
  O  padrão  de  bandas  características  é  mais  pronunciado  quando  a  onda  oriunda 
de  uma  fonte  coerente  (e.g.  um  laser)  encontra  uma  fenda  cujas  dimensões  são 
comparáveis ao seu comprimento de onda, como mostra a imagem seguinte.  

149 
 
Isto deve-se à adição ou  interferência de diferentes pontos da frente de onda (ou 
equivalentemente,  de  cada  ondícula)  que  viajam  por  percursos  óticos  de  diferentes 
comprimentos.  Contudo,  se  houver  múltiplas  aberturas  espaçadas,  pode  ser  obtido  um 
complexo padrão de intensidade variável.  
Estes  efeitos  também  ocorrem  quando  uma  onda  luminosa  viaja  num  meio  de 
índice  de  refração  variável  (ou  quando  uma  onda  sonora  viaja  num  meio  de  impedância 
acústica variável). 
 
O  Princípio  de  Huygens-Fresnel  é  o  princípio  básico  da  propagação  /  difração 
de  ondas.  Para  além  da  imagem  mental  que  proporciona  –  baseada  na  interferência 
entre  ondas  esféricas geradas a partir de fontes virtuais - é relevante relacioná-lo com o 
princípio  de  Huygens  da  Óptica  Geométrica:  as  superfícies  de  igual  fase  são, 
essencialmente, as superfícies de onda geométricas. 
 
À  luz  da  ótica  geométrica,  o  princípio  de  Huygens  (PH)  consiste  no  modelo 
prático  para  calcular  frentes  de  onda  geométricas  (FOG)  a  partir  de  outras.  É  um 
princípio  alternativo ao princípio de Fermat, baseado na modelação da luz em termos de 
famílias de frentes de onda geométricas (o princípio de Fermat atua sobre feixes de raios 
luminosos).  Baseia-se  então  na  operação  de  envolvente,  uma  superfície  que  “delimita” 
uma família de superfícies parametrizadas por 1 ou vários parâmetros.  
 
À  luz  da ótica ondulatória, o princípio de Huygens-Fresnel traduz-se na seguinte 
questão: 
Como propagar uma onda, conhecida a sua posição inicial em ∑, num dado plano? 

 
As  FOG  são facilmente visualizáveis em termos de lugares geométricos de pontos 
do  espaço  atingidos  simultaneamente  pela  perturbação  luminosa.  Baseia-se  na  ideia de 
ondículas  virtuais  emitidas  a  partir  de  fontes  pontuais  e  virtuais,  e  na  operação 
matemática de envolvente, que permite calcular a superfície que “toca” tangencialmente 
todas as superfícies de uma família de superfícies. 

150 
Nos  termos  do  PH,  a  última  frente  de  onda  conhecida  é  “forrada”  por  um 
contínuo  de  fontes  pontuais  virtuais,  que  radiam  frentes  de  onda  esféricas  virtuais 
(wavelets,  ou  ôndulas  ou  ondículas),  que  se  propagam  com a mesma velocidade da onda 
principal  até  aí,  e,  em  cada  instante,  a  envolvente  permite  calcular  a  frente  de  onda 
propagada. 
Assim  se  demonstra  que  as  FDO  planas  ou  esféricas  se  propaguem  como  planas 
ou  esféricas,  respectivamente,  e  que  as  ondas  se  refractam  numa  superfície  plana  de 
acordo  com  a  lei  de  Snell-Descartes,  que  os ângulos são iguais na reflexão em espelhos. 
Assim  se  podem  construir  frentes  de  onda  transmitidas  por  lentes  com  potência  não 
nula, aplicando o PH a cada uma das superfícies. 
O  PH  tem  alguns  graus  de  liberdade:  as  ondículas  podem  ser  elipsoidais  e  não 
esféricas,  as  velocidades  de  propagação  podem  ser  diferentes  segundo  os  respectivos 
eixos  principais,  e  foi  deste  modo  Huygens  explicou  o  fenómeno  da dupla refracção na 
calcite.
E  o  PH  tem  também  algumas  dificuldades:  prevê  uma  2ª  onda  que se propaga na 
direcção  oposta  (retropropagação),  o  que  não  é  possível.  Em  adição,  a  ideia  de 
sincronismo  e  de  tempo  de  propagação  está  subjacente  à  ideia  de  fase  que,  para  uma 
onda  monocromática,  é  uma  medida  do  tempo;  mas  a  utilização  da  envolvente não tem 
qualquer correspondência com conceitos ondulatórios. 
A  óptica  ondulatória  permite  gerar  novas  ondas  a  partir  de  outras  ondas 
conhecidas:  a  operação  de  soma  (ou  de  integral),  pois  a  Equação  de  Ondas  e  a  de 
Helmholtz  são  equações  lineares,  e  qualquer  combinação  linear  de  soluções  é  ainda 
solução. 
Considere-se  apenas  a  questão  da  propagação  de  ondas  monocromáticas;  como 
as  ondas  não-monocromáticas  são  combinações  lineares  de  ondas monocromáticas, a 
propagação das primeiras decorre da propagação das segundas.  
Atentando  na  geometria  (ver  imagem):  abertura  Sigma  (𝚺)  plana,  no  plano (x1,y1); 
P1  é um ponto corrente de 𝚺. Pretende-se calcular o campo em pontos P0 de um plano à 
distância  z,  com  coordenadas  (x0,y0).  P1P0  faz  um  ângulo  𝛉  com  o  eixo  dos  z.  r01  é  a 
distância entre P1 e P0. 

151 
O  campo  é  conhecido  em  𝚺.  Geralmente  ilumina-se  𝚺  com  uma onda controlada 
por  nós,  conhecida.  Conhecemos  𝚺,  sabemos  modelar o que esta abertura faz à onda no 
plano z=0. O resultado é U(x1,y1). 
Admita-se  então  que  cada  um  dos  pontos  P1  em  𝚺  radia  uma  onda  esférica 
(centrada  em  P1)  e  cuja  amplitude  é  conhecida  nesse  plano,  U(x1,y1).  Tais  ondas 
propagam-se  como  ondas  esféricas.  Cada  uma  delas  está  definida  em  P0.  Todas  se 
sobrepõem  em  P0.  O  campo  resultante  é  a  soma  dos  campos  interferentes em P0  é o 
que  representa  o  integral.  Uma  soma  de  ondas  esféricas  produzidas  por  cada  um  dos 
pontos de 𝚺, que interferem, e o campo em P1 é o resultado dessas interferências. 
Para  melhor  entender  o  princípio  de  Huygens-Fresnel,  é  pertinente  analisar  a 
matemática inerente à equação de Helmholtz. 
 
Matemática da Equação de Helmholtz 

A  equação  de  Helmholtz  permite  construir  soluções.  Exige 


condições  fronteira  consistentes  (seja sobre a função, seja sobre a   
derivada  normal)  e  a  solução  depende,  naturalmente  dos  valores  Equação de Helmholtz 
impostos  na  fronteira.  O  ponto  de  partida é o Teorema de Green,   
que  se  pode  aplicar  a  um  par  de  funções  bem  comportadas  num 
volume  fechado,  V,  que  tem  de  ser  delimitado  por  várias 
superfícies, S1, S2, … 
Teorema de Green 
Em  3D  a  fronteira  tem  de  ser  associada  a  um  volume,  que  nos   
interessa  que  contemple  a  superfície  que  tem  a  abertura  𝚺,  que 
vamos  considerar  plana  O  resto  da  fronteira  tem  de  se  tornar 
 
irrelevante.  Neste  caso,  a  condição  de  radiação  de  Sommerfeld, 
Função auxiliar de Green 
exige  que  assimptoticamente  as  soluções  tendam  para  0  no   
infinito pelo menos com 1/r. 
Temos  de  garantir  que  o  campo  à  esquerda  de  𝚺,  antes  da 
difracção,  é  apenas  o  campo  associado  à  onda  incidente,  isto  é,   
que não existe onda rectro-difractada; a função auxiliar de Green  Condição de Radiação de Sommerfeld 
garante  isso  mesmo.  Existem  várias  alternativas  para a função de   
Green,  que  são  experimentalmente  indiscerníveis  no  que  diz 
respeito ao campo difractado, para a direita da abertura 𝚺. 
O  resultado final é o integral de Huygens-Fresnel – agora descrito   
Integral de Rayleigh-Sommerfeld 
pelo  integral  de  Rayleigh-Sommerfeld  -  com  duas  “pequenas” 
diferenças: 
● Uma  constante  multiplicativa,  que  assegura  um  desfasamento  de  π/2  da  onda 
difractada relativamente à onda incidente – não esqueçam que i = exp(iπ/2) 
● Um factor de obliquidade, cosθ , que assegura que: 
○ A  amplitude  da  onda  diminui  para  pontos  colocados  na  sombra 
geométrica  do  objeto  𝚺,  até  ao  valor  zero  que  é  imposto  fora  de  𝚺,  na 
construção desta solução; 
○ Não  existe  onda  retro-difractada  (e  que  varia  com  a  função  de  Green 
retida) 
U(P0)  depende  da  onda  incidente  na  abertura  𝚺  e  da  própria  abertura  𝚺: 
dimensões, forma, fator de reflexão ou transmissão (etc). 
 

152 
 
Spot de Poisson 
 
Inicialmente  o  princípio  de  Huygens-Fresnel  não  foi  bem  aceite:  Poisson 
demonstrou  que  se  o  PHF  fosse  correto,  seria  inevitável  observar  um  spot  luminoso no 
centro  da  sombra geométrica de uma esfera opaca (tinha de haver um máximo central! - 
conforme sugere a seguinte imagem).  
 

 
A  experiência  levada  a  cabo  por  Arago  (o  spot  de  Poisson  também  pode  ser 
designado spot de Arago) comprovou a existência do referido ponto luminoso: 

 
 

Princípio de Huygens-Fresnel: Coordenadas Cartesianas 


Para  utilizar  o  integral  da  propagação,  teremos  de  lhe dar outra forma e de fazer 
aproximações. 

153 
Nesta  imagem  considera-se  que  o  plano  de  observação  é  paralelo  ao  plano  da 
abertura  difractante  –  z  será  portanto  um  parâmetro,  que  consideraremos  fixo  para 
cada situação experimental. 
Pode  colocar  algumas  dificuldades  no  caso  de  objectos  não  planares,  com  espessura 
longitudinal – mas vamos considerá-los delgados. 
 

4.1.1. Aproximação de Fresnel 


Proceder-se-á  no  sentido  de  desenvolver  r  na  série  binomial  da  sqrt,  e  reter 
apenas os primeiros termos. 
Note-se  que  o  campo  em  P0  nos  aparece  como  associado  à  interferência  de  ondas 
paraboloidais  -  na  realidade,  fez-se  o  mesmo  que  fizemos  na  aproximação  paraboloidal 
das ondas esféricas. 
Surge-nos  a  fase  transversa  quadrática,  e  uma  fase  longitudinal  linear  em  z  (como  z  é 
um  parâmetro  que  toma  o  mesmo  valor  em  todos  os  pontos do plano de observação ou 
de detecção, o factor exp ikz é simplesmente uma constante complexa multiplicativa). 
 
Aproximação binomial para r01  


Denominador: r01 ~ z. 

Expoente: termos de 2ª ordem, pois k= λ é muito grande, em geral. 
 
Daqui  decorre  que  a  aproximação  de  Fresnel  é  válida  apenas  para  distâncias  z 
bem  superiores  a  uma  quantidade  que  depende  de  λ,  mas  também  da  distância 
transversa máxima entre pontos, um na abertura difractante, Σ, e o outro no detector. 
 
Quanto  maior  for  lambda,  mais  cedo  começa  a  região  do  espaço  em  que  a 
aproximação de Fresnel é válida (e vice-versa). 
 
´É́  de  salientar  que  na  aproximação  de  Fresnel,  o  campo  no  detector  se  pode 
obter  por  convolução,  entre  o  campo  em  Sigma  e  a  função  h,  logo  que  a  difracção  em 
regime  de  Fresnel  se  pode  considerar  um  sistema  linear  invariante,  ou  , 
alternativamente, que a propagação se pode encarar como um filtro espacial. 
 
 
 
 
 

154 
4.1.2. Aproximação de Fraunhofer 
Para  a  aproximação  de  Fraunhofer  é  necessário  garantir  que  o  termo  de  fase 
que  se  despreza é << 1rad, o que se traduz numa condição adicional sobre a distância de 
observação,  z.  Note-se  que esta condição incide apenas sobre as dimensões da abertura 
difractante, através do seu “raio” máximo. 
Nessas condições, estamos na aproximação de Fraunhofer da difracção. 
 

Para  desprezar  o  termo  basta  que  .  Assim,  pode-se 


aproximar o termo quadrático a 1 em Σ. 
 
À  parte  as  constantes  multiplicativas  iniciais  –  que  não  têm  relevância  para  a 
irradiância  (observável),  note-se  que  a relação entrada / saída (isto é, campo emergente 
deΣ  /  campo  no  plano  do  detector)  tem  uma  forma  matemática  especialmente 
importante.Para  que  tal  aconteça,  os  limites  de  integração  foram  expandidos  para 
infinito, isto é, a integração é feita sobre todo o plano z=0: 

 
 
Isto  compreender-se-á  melhor  quando 
separarmos  o  campo  U(z=0)  em  dois  factores, 
um  que tem a ver com a onda incidente, e outro 
que  apenas  depende  da  natureza  e  geometria 
do objecto.  
A  “opacidade”  do  objeto  fora  de  Σ  será 
descrita  pela  função  de  transmissão  em 
amplitude do objecto. 
 
A  amplitude  complexa  em  (x,y),  no  plano  de  observação,  é  proporcional  à 
Transformada de Fourier (TF) do campo, calculada para a frequência espacial 2D (fX, fY): 

 
Como se aplica agora o princípio de Huygens-Fresnel? 
 
Pode-se  considerar  que  o campo no plano de observação resulta da interferência 
de  um  número  infinito  de  ondas  planas  definidas  no  plano  z=0  (que  também  são 
aproximações de ondas esféricas quando R ➝ထ) 
Na  aproximação  de  Fraunhofer,  o  campo  no  detector  calcula-se  fazendo  a 
transformada  de  Fourier  do  campo  emergente  da  abertura  Σ,  e  esta  transformada  é 
calculada  para  valores  específicos  das  frequências  espaciais,  fx  e  fy,  determinados  pela 
geometria  do  problema  no  detector  (x,y,z)  e  por  lambda,  naturalmente.  Em  cada  ponto 

155 
do  detector  (x,y),  materializa-se  o  valor  da  TF  do  campo  emergente  da abertura para as 
frequências espaciais (f X,fY). 
Este  resultado  é  crítico  para  todas  as  aplicações  operacionais  da  difracção,  e 
determinam,  como  se  verá,  a  resolução de um sistema baseado em radiações EM, isto é, 
a dimensão do mais pequeno detalhe que pode ser preservado na imagem de um objecto 
de  que  se  constitui  uma  imagem através de um sistema de formação de imagem (óptico, 
electrónico, ultrassons, …). 
 
Em  iluminação  paralela,  for  inserida  uma  lente  positiva  de  distância  focal f entre 
a  abertura  e  o  observador,  e  o  espectro  de  difracção  for  observado  no  plano  focal  da 
lente - basta fazer nas equações: z à f 
 
Com  uma  fonte  de  luz  distante  da  abertura,  a  aproximação  de  Fraunhofer  pode 
ser  usada  para  modelar  o  padrão  difratado  num  plano  de  observação  distante  da 
abertura  (campo  longínquo  -  far  field).  Em  termos  práticos,  pode  ser  aplicada  ao  plano 
focal de uma lente positiva. 
Quando  a  distância  entre  a  abertura  e  o  plano  de  observação  (no  qual  o  padrão 
difratado  é  observado)  é  grande o suficiente para que o percurso ótico se estenda desde 
as  bordas  da  abertura  até  um  ponto de observação muito menor que o comprimento de 
onda  da  luz,  os  percursos  ópticos  de  propagação  das  ondículas  individuais  de  todos  os 
pontos  da  abertura  até  ao  ponto  de  observação  podem  ser  tratados  como  paralelos  - 
define-se  então  o  campo  longínquo  (far  field).  O  campo  distante  é  então  localizado  a 
2
uma  distância  significativamente  maior  que  Wλ ,  onde  λ  é  o  comprimento  de onda e W 
é  a  maior  dimensão  na  abertura.  A  difração  de  Fraunhofer  é  usada  para  modelar  esta 
situação.  
 
Por  exemplo,  se  uma  abertura  circular  de 
0,5  mm  de  diâmetro  for  iluminada  por  um  laser 
com  c.d.o  de  0,6  μm,  a  equação  de  difração  de 
Fraunhofer  pode  ser  empregue  se  a  distância  de 
visualização for maior que 1000 mm.  
 
 
Resumindo: 
 

156 
Regimes de Difração: 

 
 
4.1.3 Princípio de Babinet 
O  princípio  de  Babinet  afirma  que  o  padrão  de  difração  de  um  objeto  opaco  é 
idêntico  ao  de  uma  abertura  com  o  mesmo  tamanho  e  formato,  excetuando  a 
intensidade  geral  do  feixe  -  princípio  geral  que  permite  relacionar  em  irradiância 
padrões de difracção de aberturas complementares. 

➢ O  padrão  de  difracção  de  um  objecto  opaco,  T,  e  do  seu 
complementar, T’, são idênticos. 
➢ A  soma  dos  dois  campos  difratados  por  T+T’,  deve  ser  igual  ao 
campo associado ao feixe não perturbado por nenhum deles. 
➢ Em  pontos  do  campo  iluminante  em  que  Etotal  =  0,  os  campos 
devidos a T e a T’ devem ser simétricos, pois Etotal = ET + ET’ = 0. 
➢ Nesses  casos,  ET  =  -  ET’  mas as irradiâncias são iguais: IT = IT’ . Os 
padrões de difracção são idênticos! 
➢ Como  implementar  Etotal  =  0  ?  Para  objectos  inseridos  algures 
no  sistema  óptico  se  a  observação  dos  padrões  de  difracção 
for  feita  fora  da  imagem  da  fonte  pontual,  a condição anterior 
é cumprida. 
 
 
 
 
 

157 
 
Por  linearidade,  o  campo  resulta  da  combinação  dos 
campos  emergentes  das  diversas  sub-aberturas  consideradas 
isoladas - aqui a abertura envolvente S1, e o padrão S2. 
Nas  imagens  da  direita,  a  semelhança  dos  padrões 
complementares  é  bem  visível.  A  estrutura  de  fundo  é  devida 
ao ruído (speckle) do próprio feixe iluminante. 

4.2. Função de transmissão em amplitude (FTA) 


Nesta  parte  estudar-se-á  como  é  que,  em  óptica  ondulatória,  se  deve  descrever 
matematicamente  objectos  que  interagem  com  a  luz,  de  modo  a podermos materializar 
o campo U(P1) que aparece na integranda. 

 
A  abordagem  da  FTA  presume  que  os  objectos  sejam  delgados  e/ou  que 
introduzem  variações  lentas  da  fase  –  é  o correspondente a uma aproximação paraxial. 
O  objeto  imprime  a  sua  marca  sobre  U-,  sem  que  ocorra  qualquer  tipo  de propagação. 
Tudo se passa no mesmo plano, antes e depois. 
Quase  todos  os  objectos  são  híbridos  pois,  mesmo  quando  são  de  fase,  são  sempre 
finitos,  e  a sua dimensão finita tem de ser descrita através da FTA, quase sempre através 
de valores nulos da FTA for a dos limites do objecto. 
É  o  melhor  que  se  consegue  para incluir, em óptica ondulatória, o conceito de sombra – 
em óptica electromagnética, as coisas serão diferentes. 
 
Sequência de eventos: 

1. Fonte  gera  uma  onda  que  se  propaga  em ZZ, até ao objeto, que se encontra em Z 


= 0 U-(x,y) = |U-|exp (iφ-) 
2. O  objeto  altera  a  onda  incidente  (Z=0-),  gerando-se  uma  onda  emergente  (Z=0+), 
U+(x,y) = |U+| exp (iφ+) 
3. A  onda  emergente  continua  a  propagar-se  de  acordo  com  o  princípio  de 
Huygens-Fresnel, alterada com as características do objeto.  
 
 

158 
 
Como se descreve o objecto, de forma a calcular a onda emergente? 
 
Considera-se o objecto inscrito num paralelepípedo, com faces planas. 
Define-se a Função de Transmissão em Amplitude, t(x,y), [FTA] 
tal que: 
U+(x,y) = t(x,y) U-(x,y) 
 
|U+(x,y)| = |t(x,y)| |U-(x,y)| e φ+(x,y) = Φ (x,y) + φ-(x,y) 
 
 
A FTA pode ser de:  
 

 
 
Amplitude ⇽ amplitude complexa, equação de Helmoltz 
Transmissão ou Reflexão 
Objecto: limitado por planos paralelos, normais a ZZ 
Amplitude Complexa incidente: U-(x,y) 
Amplitude Complexa transmitida: U+(x,y) 
Função de transmissão / reflexão em amplitude, t(x,y): 
U+(x,y) = t(x,y) U-(x,y) 
Variação de fase de uma onda plana que se propaga de uma distância d: 

 
 

4.2.1. Lâmina de Faces Paralelas 


Uma  lâmina  de  faces  planas  e  paralelas  atrasa  uma  onda,  não  alterando  a  sua 
direção  de  propagação  nem  a  forma  das  frentes  de  onda.  Conhecendo  U − podemos 
construir U + e por conseguinte saber a FTA.  
É  de  assinalar que não se está a ter em conta as dimensões finitas da lâmina: com 
a FTA, as lâminas são objetivamente infinitas! 

159 
Amplitude incidente: U- (x,y,0) 
Amplitude transmitida: U+(x,y,d) 
Função de transmissão em amplitude: t(x,y) = U+(x,y,d) / U-(x,y,0) 
0 < z < d : Onda plana – U(x,y,z) = U (x,y,0) exp (-ink0z) (incidência normal) 
Uma lâmina de espessura d (no ar) introduz uma variação de fase de: 
Incidência normal: Δφ = nk0d = 2πd/λ 
Incidência segundo θ: Δφ = nk0d cos θ1, com sinθ = n sinθ1 
 
A função de transmissão em amplitude de uma lâmina de faces paralelas é: 
t(x,y) = exp (-ink0d cos θ1) 

4.2.2. Elementos Transmissivos 


Nesta abordagem geral, note-se o papel crítico assumido pela “hipótese paraxial”. 
O  elemento  óptico  introduz  variações  de  fase  transversas,  diferentes  de  ponto 
para ponto, mas tais variações ocorrem lentamente. 
Não  há  lugar  a  qualquer  consideração  de  “refracção” ou alteração da direcção de 
propagação local da onda. 
Um componente é limitado pelos planos z=0 e z=d0. 
A espessura d(x,y) varia lentamente. 
O  onda  incidente  é  descrita  na  aproximação  paraxial, os 
ângulos  de  incidência  são  pequenos,  o  desvio  lateral 
insignificante. 
A  função  de  transmissão  em  amplitude  (FTA)  do 
componente  rconstrói-se  para  o  paralepipedo  de 
espessura d0, por exemplo para a sequência de índices: 
ar – n – ar 
A onda atravessa: 
uma espessura d(x,y) de material (índice n) 
uma espessura d0–d(x,y) de ar (índice 1) 
 

160 
Trata-se de um elemento de fase: 
t(x,y) = h’0 exp [-ink0d(x,y)] exp {-ik0 [d0 - d(x,y)] } 
t(x,y) = h0 exp [-i(n-1) k0 d(x,y)] 
 
Prismas 
O  modelo  geral  é  facilmente  aplicável  a  um 
prisma.  Para  pequenos  ângulos,  recupera-se 
facilmente o desvio angular já bem conhecido da OG, 
δ=(n-1)α. 
Note-se  a  forma  como  esta  FTA  permite  descrever 
os  efeitos  de  dispersão  cromática,  através  da 
variação do índice com o CDO. 
 
t(x,y) = h0 exp {-i[n(l)-1] k0 d(x,y)} 
 
Tem-se: 
 
d(x,y) = x tan α ≈ x α 
t(x,y) = h0 exp [-i(nλ-1) k0 αx] 
U-(x,y,z=0) = 1 U+(x,y,z=d) = t(x,y) = exp(-2πi (nl-1)αx 
 
U+  representa uma onda que se propaga fazendo um ângulo θ  com o eixo dos z, e 
cosθ  =  (n-1)α  –  resultado  já  conhecido  do  estudo  dos  prismas,  e  que  dá  a  deflexão  do 
feixe, para pequenos ângulo. 
 
Lentes Delgadas 
Uma  lente  constituída  por  duas  faces  esféricas  pode  ser  considerada como duas 
lentes  plano-esféricas,  cuja  espessura  geométrica  se  calcula  facilmente,  uma  vez  mais 
aplicando uma aproximação paraxial. 
Ao  contabilizar  as  duas  espessuras  transversas,  todas  as  constantes  físicas  (n,  R1 
e  R2)  deixam-se  naturalmente  incluir  numa  constante  única,  f,  que  recupera  a  equação 
da potência de uma lente delgada no ar. 
O  conceito  de  distância  focal,  ou  de  potência,  de  uma  lente  emerge  assim, 
naturalmente, na óptica ondulatória. 
 
FTA geral: t(x,y) = h0 exp[-i(n-1)k0d(x,y)] 
Espessura de uma lente plano-convexa de raio R: 

Na aproximação paraxial (plano-convexa):  

161 
 

e a espessura é:  
 
Para uma lente completa, com raios de curvatura R1 e R1: 
x2 +y 2
t(x, y ) = h0 e−ik 2f  
E os termos constantes agrupam-se naturalmente em: 
 
Recupera-se a distância focal de uma lente delgada! 
 
Se  fizermos  incidir  uma  onda  plana  unitária,  segundo  o  eixo dos z, numa lente, a 
onda  emergente  é  U+=t,  isto  é,  descreve  uma  onda  esférica  na  aproximação 
paraboloidal, com centro à distância f da lente: Ponto Focal Imagem , F’. 
Se  fizermos  incidir  uma  onda  esférica emitida a partir de P1, real, à distância z1 da lente, 
devemos  multiplicá-la  pela  FTA  da  lente  em  z=0  e  analisar  a  sua  fase:  esta  é  a  de  uma 
onda esférica, também na aproximação paraxial, centrada em P2, à distância z2 da lente. 
z1,  z2  e  f  satisfazem a equação dos planos conjugados, que assim se recupera em óptica 
ondulatória. 

 
U-(x,y, z=0) = 1 
x2 +y 2
U+(x,y, z=f) = t(x,y) = h0 e−ik 2f   
 
Se U- for uma onda esférica / paraboloidal: 

 
Uma lente positiva de distância focal f, transforma: 
● Ondas  planas  em  ondas  paraboloidais 
convergentes para o foco. 
● Uma  onda  paraboloidal  centrada  em  P1  (objecto) 
noutra  centrada  em  P2,(imagem),  isto  é,  conjuga 
planos que satisfazem a Eq. dos Planos Conjugados: 1/z1 + 1/z2 = 1/f 
 
 
 
 
 
 

162 
4.2.3. GRIN - Gradient Index 

Componentes GRIN 
Se  o  nosso  componente  for  uma  lâmina  de  faces  paralelas  mas  com  um  índice 
variável,  a  FTA  calcula-se  da  mesma  forma!  É  possível  construir  lentes  GRIN,  de 
potência  positiva  ou  negativa,  controlando  o  gradiente  transverso  do  índice  de 
refracção 
 
Óticas GRIN 
A  óptica  do  índice  de  gradiente  (GRIN) é o ramo da óptica que abrange os efeitos 
ópticos  produzidos  por  um  gradiente  do  índice  de  refração  de  um  material.  Essa 
variação  gradual  pode  ser  usada  para  produzir  lentes  com  superfícies  planas  ou  lentes 
que  não  possuem  as  aberrações  comuns  nas lentes esféricas tradicionais. As lentes com 
índice de gradiente podem ter um gradiente de refração esférico, axial ou radial. 
A  seguinte  imagem  mostra  uma  lente GRIN com variação parabólica do índice de 
refração,  n,  consoante  a  distância radial, x. (Esta lente foca a luz do mesmo modo que as 
lentes convencionais): 

t(x,y) = h0 exp [-i n(x,y) k0 d0] 


n(x,y) é o perfil de variação do índice de refracção do material 
Por  exemplo,  se    com  αd0  <<  1,  a  lâmina 
comporta-se como uma lente de distância focal f=αd02/n0 
 
Os  seguintes  exemplos  são  relevantes  para  o  nosso  cristalino,  ou  na propagação 
de  microondas  e  ondas  rádio  na  atmosfera.  O  mesmo  se  passa  na  deflexão  da  luz  com 
as chamadas lentes gravitacionais:
Lente Olho-de-peixe de Maxwell 
n = n0 / [1 + (r/R)2] 
A imagem de um ponto sobre a esfera forma-se na posição diametralmente oposta 
Lente de Luneburg 
n = [2 - (r/R)2]1/2 
Conjuga duas esferas concêntricas uma na outra 
Um feixe colimado é focado na superfície oposta 
Cristalino ocular 
n : 1.406 (camadas centrais) à 1.386 
+ Miragens. Lentes gravitacionais. Microondas na atmosfera. 

163 
4.2.4. Redes de Difração de Fase 
Em  óptica,  uma  rede  de  difração  é  um  componente  óptico  com  uma  estrutura 
periódica  que  divide  e  difrata  a  luz  em  vários  feixes  que  viajam  em  direções  diferentes. 
As  redes  de  difracção  de  fase  (que  normalmente  actuam  em  reflexão,  não  em 
transmissão),  têm  uma  topografia  regular  e  muito  fina,  e  um  perfil  topográfico 
sinusoidal,  binário,  em  dente  de  serra,  etc.  No  domínio  óptico,  em  espectroscopia,  por 
exemplo, têm, frequências entre 500 e 3000 linhas/mm. 
Por exemplo, os hologramas são quase sempre redes de difracção de fase. 
Estas  redes  são  feitas  com  litografia  laser,por  feixes  de  electrões,  com  radiação  UV 
através de máscaras, etc. 
t(x,y) = h0 exp[-i(n-1)k0d(x,y)] 
 

A sua espessura varia harmonicamente:  

A FTA será:

Podemos  simplificar  a  FTA  e  dar-lhe  a  forma  de  uma  combinação  linear  de 
funções  simples  (senos  e  cossenos),  embora  em  número  potencialmente  infinito  (na 
prática)  o  número  de  ordens  de  difracção  é  sempre  finito.  A  importância  relativa  dos 
vários  termos  é  dada  por  valores  de  funções  de  Bessel,  dependendo  do  factor  de 
modulação da topografia, m. 
A  FTA  simplifica-se  então  recorrendo  à  função  geradora  das  funções  de  Bessel 
de 1ª espécie: 

 
 
 
 
 
 
 
 

164 
4.2.5. Pupilas 
Pupilas Retangulares 
 
A  função  rect(ângulo)  em  nada  altera  a  onda  incidente  dentro  da  abertura,  e 
anula-a totalmente fora, pois t=0 fora da abertura. 
Estes  objetos  serão,  portanto,  objetos  de  amplitude,  e  não  afectam  a  fase  da 
onda incidente. 
É  um  exemplo  de  uma  função  2D  separável, a sua definição 2D obtém-se a partir 
do produto de funções 1D. 
Todos  os  objectos  são  sempre  finitos:  a  função  rect,  ou  outras  equivalentes, 
determinam  os  respectivos  limites  e  procuram  emular  o  conceito  de  “sombra 
geométrica”. 
 

 
Um rectângulo 2D é um produto de dois rect 1D: 

 
 
Pupilas Circulares 
 
A  função  circ(ulo)  em  nada  altera  a  onda  incidente  dentro  da abertura, e anula-a 
totalmente fora, pois t(r)=0 fora da abertura. 
É um exemplo de uma função 2D não separável. 
Estes  objetos  serão,  portanto,  objectos  de  amplitude,  e  não  afectam  a  fase  da 
onda incidente. 
Todos  os  objectos  são  sempre  finitos:  a  função  circ,  ou  outras  equivalentes, 
determinam  os  respectivos  limites  e  procuram  emular  o  conceito  de  “sombra 
geométrica”. 
 

165 
4.2.6. Exemplos de FTA’s 

Segue-se uma síntese de FTA’s relevantes.  


A  rede  de  difracção  harmónica  de  amplitude  atenua  localmente  o módulo de U, 
sem alterar a fase da onda incidente, e fá-lo de forma harmónica. 
De  notar  que,  nesta  figura,  estão  representadas  duas redes finitas (de amplitude 
e  de  fase), o que se consegue multiplicando por um rect que representa um quadrado de 
lado 2w. 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

166 
4.2.7. Ação de Lentes Sobre Feixes 
Será que um feixe Gaussiano permanecerá Gaussiano quando é transmitido 
por uma lente delgada?  

A FTA de uma lente delgada é t(r) = exp [ jkr2/2f], com ρ =(x2+y2)½ 

A amplitude complexa U-(r) da onda gaussiana incidente é multiplicada por t(r). 

A  amplitude  complexa  emergente,  U+(r)  deve  ser  devidamente  interpretada,  em 


termos de eventuais funções R’, W’ e z’0. 

Conhecendo  U-  e  a  FTA  da  lente,  podemos  de  imediato  escrever  o  campo  U+ 
imediatamente após a lente (na face plana de saída do paralelepípedo envolvente. 

Relação entre as fases antes e depois da lente: 

O  módulo  da  onda  gaussiana  não  está a ser alterado, desde que se considere que 


o  diâmetro  da  lente  é  superior ao diâmetro do feixe gaussiano. Caso contrário, ter-se-ia 
de ter em conta com a alteração do módulo do feixe. 

O  feixe  transmitido  é  ainda  gaussiano  –  tem  exactamente  a  mesma  estrutura  de 


fase - mas com função curvatura R’ modificada. 
Os  demais  parâmetros  do  feixe  transmitido  podem  ser  determinados  a  partir de 
W e de R. 
 
 
 
 

167 
Parâmetros do feixe gaussiano transmitido: 

 
 
Nota:  Etendue  ou  Étendue  é  uma  propriedade  da  luz  num  sistema  óptico,  que  caracteriza a formo 
como  a  luz  está  "espalhada"  em  área  e  ângulo.  Corresponde  ao  produto  do  parâmetro  de  feixe  (BPP)  na 
óptica de feixes gaussianos. 
 
A reter: 

 
 
 
 
 
 
 
 
 

168 
4.2.8. Formatação de Feixes Gaussianos 
Em aplicações tais como: 
➔ Laser scanning 
➔ Impressão laser 
➔ Leitura de CD 
➔ Fusão laser 
➔ Bisturi laser 
➔ Processamento de materiais por laser 
W’0 deve ser tão pequeno quanto possível: 
λ e f tão pequenos quanto possível 
W0 tão grande quanto possível 
Diâmetro mínimo da lente de focagem: D= 2 W0. Logo: 

 
É  importante  ter  presente  que  a  Irradiância  do  feixe  incidente  +  coeficiente  de 
absorção do material à potência óptica absorvida à variação de temperatura do meio, e a 
temperatura  condiciona  as  mudanças  de  fase  no  meio,  ou a desnaturação das proteínas 
em materiais biológicos, etc.  

4.3. Transformada de Fourier


Na  aproximação  de Fraunhofer, a propagação entre planos afastados é regida por 
um  integral  de  Fourier,  e,  U+,  se  deve  decompor  no  produto do campo incidente, U-, e 
na  FTA  do  objecto difractante. Em particular, sempre que U- seja uma onda plana que se 
propague  ao  longo  do  eixo  dos  z,  a  saída  é,  simplesmente,  a  TF  da  entrada,  sendo  a 
entrada representada pela FTA do objecto difractante. 

Uma  transformação  ou  uma  transformada  de  Fourier  (FT)  é  uma  transformação 
matemática  que  decompõe  uma  função  (geralmente  uma  função  do  tempo  ou  de  um 
sinal)  em  suas  frequências  constituintes.  O  termo  transformada  de  Fourier  refere-se  à 
representação  no  domínio  da  frequência  e  à  operação  matemática  que  associa  a 
representação no domínio da frequência a uma função do tempo. 
 

169 
 
Na  figura  anterior  figura  tem-se  representado  na  primeira  linha  o  gráfico  da 
função  de  pulso  unitário  f  (t)  e  sua  transformada  de  Fourier  f̂  (ω),  uma  função  da 
frequência  ω.  A  translação  (isto  é,  atraso)  no  domínio  do  tempo  é  interpretada  como 
mudanças  de  fase  complexas  no  domínio  da frequência. Na segunda linha, é mostrado g 
(t),  um  pulso  unitário  atrasado,  ao  lado  das  partes  reais  e  imaginárias  da transformação 
de  Fourier.  A  transformação  de  Fourier  decompõe  uma  função  em  autofunções  para  o 
grupo de translações. 
 
Os  seguintes  conceitos  são  fundamentais  em  1D,  e  directamente  aplicáveis  em 
2D. 
 
Séries de Fourier 
 
Uma  função  periódica,  g(x),  de  período  λ  ou  frequência  f0,  deixa-se  representar 
em série de Fourier: 
 

 
 
É vantajoso usar exponenciais complexas e coeficientes de Fourier, Cn, complexos: 

 
 
 
 
 
 
 
 

170 
SÍNTESE DE FOURIER 
❏ Em Física, esta relação pode ser 1D (tempo), 2D (imagem), 3D (cristais), ... 
❏ Os coeficientes de Fourier são complexos: Cn= |Cn|exp (i𝝋) 
❏ Apenas quando g(x) é uma função real se tem Cn = C-n*. 
❏ O argumento da exponencial vem expresso em rad. O 
factor multiplicativo de x, tem as dimensões inversas: 
frequências (espaciais, temporais, ...): fn = n/λ. 
❏ Todas as frequências são múltiplas da frequência 
fundamental, f0 = 1/λ: fn = n f0 (harmónicas) 
❏ No tempo/frequência (Hz), fn à nn, logo, exp(-2πinnt) à 
exp(-iwnt) 
 
 

 
 
Transformada Integral de Fourier (1D e 2D) 
Sinais  não  periódicos  (anarmónicos)  não  admitem  desenvolvimento  em  série  de 
Fourier.  Todavia,  considerando  um sinal não periódico como um sinal periódico com um 
período  infinito,  podemos  generalizar  a  série  de  Fourier  num  Integral  de  Fourier  e 
aplicá-lo a qualquer função: 

 
❏ A  TF  de  f(x),  F( ξ )  fica  definida  no  espaço  das  frequências  (temporais, 
espaciais 1D, 2D ou 3D). 
❏ O  kernel  de  Fourier  (exponencial  complexa)  é  linear  na  variável  de 
integração. 
❏ A  variável  independente  ξ   da  Transformada  de  Fourier  é o coeficiente de 
x, dividido por 2πi. 
❏ A utilização de 2π no argumento, fixa o significado físico de  ξ  ( frequências 
lineares vs angulares). 

171 
A generalização do Integral de Fourier a 2D (e, em geral, a nD) é imediata: 

 
Frequência espacial 2D  u = (u,v), muitas vezes referida como ξ = ( ξ η) 
 
A  passagem  da  série  para  o  integral  de  Fourier,  do  caso  periódico  para  o  não 
periódico,  faz-se  recorrendo  ao  artifício  de  se  considerarem os objectos não periódicos 
como  objectos  periódicos  de  período  infinito.  Em  Física,  as  grandezas  físicas  satisfazem 
sempre  as  condições  de  existência  do  integral:  a  energia  de  um  sinal  é  sempre  finita, 
não existem infinitas descontinuidades, e pode demonstrar-se que o integral existe. 
Mantém-se  inalterado  significado  das  frequências  (espaciais  ou  temporais),  que 
agora  variam  continuamente  –  deixa  naturalmente  de  existir  uma  frequência 
fundamental. 
Releva-se  a  importância  da  escolha  do  factor  de  2πi  no  argumento,  na  posterior 
utilização  física  de  tais  frequências,  e  o  domínio  de  integração,  que  expressa 
explicitamente  poder  ser  posta  em  evidência  a  necessidade  de  frequências  muito 
elevadas.  
A  generalização  1D  à  2D  é  natural,  em  termos  formais.  As  frequências  são  agora 
vetores  2D,  viabilizando  explicitamente  a  análise  de  padrões  periódicos  segundo 
direções  arbitrárias.  É  muito  frequente,  em  óptica,  a  utilização  das  variáveis (u,v) ou ( ξ
,η) para as duas componentes cartesianas de tais vectores. 
É  ainda  mais  útil  o  estabelecimento  de  coordenadas  polares  no  espaço  2D  de 
frequências,  que  nos  permite  utilizar  o  módulo  como  valor  absoluto  da  frequência 
segundo  a  direcção  da  periodicidade,  e  o  ângulo  (argumento)  como  a  orientação  de  tal 
direcção de periodicidade. 
A parte real do kernel de Fourier,  

,  representa  um  padrão 


periódico  de  perfil  sinusoidal  em  2D,  ao  longo  da direcção de u, com  frequência linear 
|u| ou período 1/|u|:  
 

172 
No  caso  de  funções  f(x,y)  pares,  a  parte  imaginária  do  kernel  é  irrelevante,  e 
qualquer  função  real  se  deixa  sintetizar  através  da  soma  (sobreposição)  de  inúmeros 
padrões  sinusoidais  deste  tipo,  com amplitudes |F(u)| e fases arg(F(u)) determinados pela 
TF de f(r). 
O  mesmo  se  passa  com  funções  reais,  sendo  necessário  considerar  frequências 
negativas  explicitamente,  pois  F(u)  =  F(-u)*  -  note-se  que,  em  tais  casos,  |F(u)|  =  |F(-u)|, 
logo a densidade espectral de potência nada revelará, pois |F(u)|2 = |F(-u)|2: 

 
No caso de funções reais, podemos mesmo afirmar que qualquer imagem se pode 
considerar  como  soma  de  um  número  infinito,  denso  de  padrões  periódicos,  com 
diferentes frequências, direcções de periodicidade, amplitude e fases. 
A  amplitude  de  um padrão tem basicamente a ver com o seu contraste (diferença 
entre máximos e mínimos). 
A  fase  de  um  padrão  representa,  basicamente,  um  indicador  da  sua  posição 
translacional no espaço 2D. 
 
F(0,0) representa o valor médio da função f(r): 

 
 
Propriedades da Transformada de Fourier 
Seguem-se  algumas  propriedades  da  TF  -  inversa,  dupla  transformação, 
linearidade – e outras menos triviais mas da maior importância em física e para o estudo 
da difração: as propriedades da TF perante a translação ou mudança de escala da função. 

Definições:  
 

Dupla transformação:  
 

Linearidade:

173 
Translação:  
 

Escala:  
 

Energia / T. Parseval:  
 
 
 
É de salientar as propriedades da TF perante a translação e perante a translação e 
a mudança de escala: 
 
Translação  Mudança de Escala 

 
 
 

 
 

 
TF do rect 2D à sinc 
 
A  TF  de  um  rect  calcula-se  facilmente.  O  seu  resultado,  em  óptica,  costuma  ser 
expresso  através  da função “seno cardinal” ou sinc, que é a função sinx/x, mas em que x 
se expressa em unidades de π. Note-se que, desta forma, os zeros do sinc são inteiros! 

174 
Salienta-se que: 
 
➔ Os  zeros  se  distribuem  regularmente,  e  que 
as  envolventes  (dos  máximos  e  dos  mínimos) 
decaem com 1/|x|. 
➔ A  função  sinc  “ocupa”  os  4  quadrantes  com 
valores não nulos. 
➔ A  sua  representação  como  imagem  (valores 
codificados  em  níveis  de  cinzento)  é  quase 
sempre a representação do sinc^2.  

 
 

 
 
TF do circ à somb 
 
O  circ  é  uma  função 2D não separável, e a sua TF 
tem  de  ser calculada em 2D. Tratando-se de uma função 
estritamente  radial,  o  cálculo  da  sua  TF  é  igualmente 
feito  em  coordenadas  polares  no  plano  de  frequências  espaciais  (u,v).  Para  se  obter  o 
resultado  final,  são  utilizadas  propriedades  das  funções  de  Bessel  da  família  da  que  já 
vista  aquando  do  estudo  da  FTA  de  uma  rede  de  difração  de  fase.  A  Transformada  de 
Fourier  em  coordenadas  esféricas  (ρ,ϕ),  para  funções  com  simetria  radial,  é  conhecida 
como transformada de Fourier-Bessel. Para a função circ: 
 

ρ = (u2+v2)1/2 
 
 
 
 

175 
No  caso  do  circ,  a  sua  TF  é  a  função  “chapéu  mexicano”  ou  “sombrero”,  assim 
chamada por razões óbvias: 

 
(À direita temos o resultado da TF da função circ, com aspecto de sombrero) 
 
A  função  de  Bessel  J1  tem  um  comportamento  muito  semelhante  ao  sin,  embora 
os  zeros  não  sejam regularmente espaçados nem a sua amplitude seja constante.A razão 
J1(x)/x tem um comportamento muito semelhante ao sinc. 
Funções de Bessel de 1ª ordem (n = 0, 5): 
 

   

176 
 

4.4. Difração & Resolução 


 
Nesta  secção  pretende-se  aplicar  os  resultados  destas  últimas  sessões  –  a FTA e 
a TF - à operacionalização do integral de propagação na aproximação de Fraunhofer!  
Vamos começar por integrar os conceitos anteriores a algumas aberturas simples 
e a redes de difracção. 
Posteriormente,  veremos  o  efeito  das  lentes  na  propagação  e  o  seu  impacto  na 
resolução dos sistemas ópticos 
 
 
Difracção – aberturas e redes de difracção

4.4.1. Difração de Fraunhofer 


 
Aproximação de Fraunhofer 
 
É  de  salientar  aquilo  que  já  foi  abordado  a  propósito  da  aproximação  de 
Fraunhofer,  bem  como  o  alerta que foi feito relativamente ao interesse em interpor uma 
lente  positiva  com  uma  pupila  finita,  sendo  a  observação  da  amplitude  complexa  feita 
no  seu  plano  focal  (z=f),  para  controlar  a  separação  necessária  e,  simultaneamente,  a 
escala do padrão de difracção. 

 
Uma  vez  que  a  transformada  de  Fourier  de  uma  função  é  já  nossa  conhecida,  o 
integral  de  difracção,  na  aproximação  de  Fraunhofer  tem  agora  uma  leitura  simples:  à 
parte  os  factores  multiplicativos  iniciais,  a  amplitude  é  a  TF  do  campo  emergente  da 

177 
abertura  Σ,  sendo  a  transformada  calculada  para  as  frequências  espaciais  f X  e  fY  que 
dependem da geometria e física do problema. 

 
Repare-se  que  se  o  nosso  detector  for  suficientemente  grande,  ele  detetará 
frequências espaciais elevadas, pois f X é proporcional a x. 
Vamos  então  concretizar  a  difracção,  em  regime  de  Fraunhofer  para  alguns 
objectos descritos pela sua FTA.

4.4.1.1. Abertura Retangular 


Abertura rectangular de semi-dimensões wX e wY, e área A. 
Calculamos,  neste  caso,  a  TF  analiticamente,  necessariamente  em  termos  das 
variáveis  naturais  no  espaço  de  Fourier,  que  são  as  frequências  espaciais  f X  e  fY  –  mas 
logo  de  seguida,  concretizamo-las  em  função  exclusivamente  dos  dados  físicos  do 
problema. 
 

O  padrão  de  irradiância  é  descrito  por  dois  sinc2 ,  com  diferentes  escalas,  pois 
trata-se  de  um  rectângulo  mais  alongado  segundo  a  horizontal  –  logo,  o  seu  padrão  de 
difracção será mais comprimido segundo a horizontal: 

 
 
 
 

178 
 
Note-se, na figura à direita: 
● A  relação  entre  os zeros do sinc e o centro das franjas 
escuras ou mínimos de irradiância; 
● A  significativa  redução  do  máximo  do  2º  lobo 
relativamente ao máximo do lobo central (< 0.1); 
● A  largura  total  do  lobo  central,  definida  entre  os 
valores  -1  e  +1  do  argumento,  e  que  varia 
inversamente  com  w, e directamente com o CDO e com 
z. 
 
 
 

4.4.1.2. Difração por uma Fenda 


Para  uma  fenda  de  largura  a=2wY,  (segundo  Y),  infinita  segundo  X,  à  distância 
z=D,  o  mésimo  zero  ocorre  quando  o 
argumento do sinc é m: 

 
Note-se  que  esta  equação  –  muito 
usada  nos  livros  mais  simples,  identifica  os 
mínimos,  não os máximos - como acontece 
com  a  equação  das  redes  de  difracção,  em 
que  são  os  máximos  que  são  muito  bem 
definidos. 

Para uma fenda de largura a, o mésimo MÍNIMO ocorre segundo a direcção θm tal que: 

 
Na  seguinte  imagem  tem-se  a  diferença  nos  padrões  obtidos  para  uma  fenda 
larga e uma fenda estreita. 

179 
4.4.1.3. Abertura Circular 
Abertura circular de raio w e área A. 
Calculamos,  neste  caso,  a  TF  analiticamente,  necessariamente  em  termos  das 
variáveis naturais no espaço de Fourier, que neste caso, será a frequência espacial radial, 
ro  –  mas logo de seguida, concretizamo-las em função exclusivamente dos dados físicos 
do problema. 
O  padrão  de  difracção  vem  descrito  em  termos  da  função  de  Bessel  J1,  sob  a 
forma  de  um  chapéu  mexicano,  e  mantém,  naturalmente,  a  simetria  radial  do  objecto 
difractante,  com  um  disco  central  e  vários  anéis  concêntricos  e  com  energia 
progressivamente menor. 

O  diâmetro  do  disco 


central  tem  exactamente  as 
mesmas  dependências  que  se 
encontraram  na  abertura 
rectangular:  quando  maior  for  o 
círculo,  mais  concentrado  é  o 
seu padrão de difracção. 
O  valor  máximo  do  1º 
anel  é  ainda  mais  pequeno  que 
no  caso  rectangular:  0.0175  – 
isto  significa  que  grande  parte 
da  energia  está  concentrada  no 
lobo central. 

180 
4.4.2. Redes de Difração

4.4.2.1. Redes de Difração de Amplitude 


As redes de difracção de amplitude alteram, ponto por ponto o módulo da 
amplitude complexa incidente, mas não alteram a sua fase. 
Rede periódica linear, segundo o eixo x, 2D, de frequência espacial f0, modulação 
m, inscrita num quadrado de semi-largura w. 
Função de transmissão em amplitude: 

 
Conforme  já  visto,  tem-se  em  baixo  a  FTA  de  uma  rede  sinusoidal  de  amplitude, 
finita, de frequência f0 e modulação m, inscrita num quadrado de lado 2w. 
 

 
Vejamos  como  se  fazem  as  contas  para  uma  rede  1D,  pois  os  aspectos 
matemáticos são os mesmos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

181 
Façamos m = 1, para eliminar uma constante. (amplitude das ondas) 
Seguindo as imagens anteriores: 
 
❏ Conhece-se  a  TF  de  um  rect  de  largura  2w:  é  um  sinc,  e  tem  de  se  corrigir  a 
escala 
❏ O  1º  factor  é  a  soma  de  1  com  um  cos.  Conhece-se  a  TF  do  cos  (dois  impulsos 
centrados em +/-f0). A TF de uma constante é um impulso na origem. 
❏ Tomem  nota  que  a  TF  de  um  produto  é  a  convolução  das  TF’s dos factores, MAS 
que  o  impulso  é  o  elemento neutro da convolução, e que se limita a “transferir” o 
seu argumento na convolução. 
❏ O resultado são 3 sincs, centrados na origem, e em +/- f0. 
❏ Materializando  a  frequência  espacial,  obtém-se  directamente  a  amplitude 
complexa, e daí a irradiância. 
❏ No  último  passo,  simplifica-se,  considerando  que  f0  é  suficientemente  elevado 
para  que  os  sincs  consecutivos  só  se  intersectem  nos  lobos  de  muito  reduzida 
intensidade.  Os  produtos  cruzados  desprezam-se  e  a  irradiância  é basicamente 
a soma dos quadrados dos 3 sincs. 
 
A  2D,  as  contas  são  as  mesmas,  mas é necessário transportar as duas dimensões, 
tanto no espaço directo como no espaço de frequências. 
 
Retomando a função de transferência em amplitude: 

 
-
Iluminação por onda plana (em z=0 ): Ui( ξ , η ) = 1. 
Campo no plano da rede ( ξ , η ), logo depois da rede (em z=0+): U( ξ , η ,0) = tA( ξ , η ) 

Teorema da Convolução:  
Transformadas de Fourier dos dois factores: 

 
O δ-Dirac é o elemento neutro da convolução: 

 
 
Como o δ-Dirac é o elemento neutro da convolução, o campo no infinito é: 
 

182 
 
Note-se  que  como  a  rede  é  periódica  segundo  o  eixo dos x, o sinc em y pode ser 
posto em evidência. 
Para se calcular a Irradiância no infinito, I(x,y) ~|U(x,y)|2. Se: 
 
f0 >> 1/w  (ou wf0 >> 1 - muitos ciclos de variação no interior da abertura) 
   
Os  três  sinc’s  não  se  sobrepõem.  Os  produtos  cruzados  serão  desprezáveis.  Isto 
é,  a  aproximação  que  se  faz  para  se  garantir  que  os  três  sincs  não  se  sobrepõem  é 
equivalente  à condição f0 >> 1/w, ou seja, para uma dada dimensão da rede de difracção, 
a rede tem de ter uma frequência superior a um dado limiar, isto é, w.f0>>1. 
 
Obtemos  assim  a  distribuição  espacial  da  irradiância  para  redes  de  difracção 
sinusoidais em amplitude. 
Aparece  aqui  o  conceito  de  “ordem  de 
difracção”:  o  feixe  difractado 
divide-se  em  três  feixes,  um  central 
(ordem  0)  e  um  par  de  ordens 
simétricas,  desviadas  angularmente.  O 
aparecimento  de  3  ordens  decorre 
exclusivamente  do  perfil  sinusoidal 
da  rede,  descrito  pelo  factor  1+cos  na 
FTA da rede. 
Repare-se  que  cada  ordem  tem 
uma  microestrutura,  descrita  por  um 
sinc.  O  sinc  vem  da  forma  da  rede.  Se 
a  rede  fosse  circular, por exemplo, não 
teria  aparecido  o  sinc  mas  sim  um 
sombrero! 
Como  a  dimensão  da  pupila  é  muito  maior  que  a 
dimensão  característica  da  rede  (1/f0),  os  sincs 
traduzem  uma  micro-estrutura,  presente em cada 
ordem. 
Este espectro é caracterizado por: 
● Separação entre ordens (λz f 0 ), que aumenta com f0. 
● Largura  de  cada  “ordem”  (lobo  central),  que  varia  com  λz/w  –  inversamente 
proporcional à dimensão da rede. 
● A  modulação  da  rede,  m,  determina  a  distribuição  de  energia  pelas  3  ordens, 
2
através do factor m4 . 
●Ao  longo  da direcção de y, a irradiância é descrita por um sinc semelhante, já que 
se considerou que a abertura era quadrada. 
Note-se,  finalmente,  a  variação linear da separação e espessura das ordens com o CDO 
–  razão  pela  qual  as  redes  de  difracção  são  componentes  críticos  de  quase  todos  os 
espectrómetros. 
 

183 
 
Na  seguinte  figura  perceciona-se  claramente  as  três  ordens  e  a  dispersão 
cromática decorrente da variação rápida das características da rede com o CDO. 

 
Na  realidade,  esta  rede  não  será  estritamente  sinusoidal  –  vêm-se  resíduos  de 
um  novo  par  de  ordens  (+/-2),  embora  com  muito  pouca  energia,  o  que  revela  que  os 
desvios a uma FTA sinusoidal são mínimos. 
 

4.4.2.2. Redes de Difração de Perfil Retangular 


A  1D  calcula-se  a  TF  de  uma  rede  de  difracção  de  perfil  quadrado,  de  período  b, 
inscrita  numa  janela  de  largura  c.  Naturalmente  a  <  b  <  c,  pelo  que  os  detalhes  do 
espectro que dependam destes parâmetros devem variar em “sentido” contrário. 
Esta  rede  pode  ser  modalizada  partindo  de  um  conjunto  regular  de  posições  (impulsos 
separados  de  b),  e  inserindo  uma  abertura  de  largura  a  centrada  em  cada  uma  das 
posições anteriores. O conjunto ocupa uma extensão c: 

184 
 
O resultado final no espaço de Fourier, é um número infinito de ordens (descritas 
por  sinc)  igualmente  espaçadas  de  1/b.  A  amplitude  de  cada  sinc  é  determinada  pelo 
valor  de  sinc(a/b.n),  que  irá  diminuindo  quando  n  aumenta,  dadas  as  características  o 
sinc. 

A 2D, seguindo a ordem a imagem em baixo: 


1  -  Uma  tal rede de difracção 2D binária, finita, pode-se considerar construída de 
acordo com o que a figura descreve. 
2 – Malha de posições que traduz a orientação central de cada abertura, e sua TF 
3 – Pupila rectangular externa, envolvente da rede, e sua TF 
4  –  Abertura  individual  que  é  repetida  em  torno de cada posição de referência, e 
sua  TF.  Esta  abertura  tem  de  ser  muito  mais  pequena  que  a  abertura  3,  logo  o  seu 
espectro é bem mais largo. 
5+6+7  –  Uma  outra  descrição  da  mesma  situação.  Matematicamente,  a repetição 
de  cada  abertura  individual  numa  rede  de  pontos  pode  ser  descrita  pela  operação  de 
convolução (*). 
A TF de uma convolução entre duas funções é simplesmente o produto das duas TF. 
8 – TF de 5, que contempla o padrão de repetição e a abertura confinante, finita. 
9 – TF da abertura individual 6, o motivo (4) 
10  =  8x9  –  Resultado  final,  que  descreve  o  espectro  de  7,  isto  é,  o  espectro  da 
rede completa, descrita por um motivo, padrão de repetição e abertura confinante. 
Notem-se  todas  as  características  relevantes  da  difracção:  o  padrão  de  difracção 
da  abertura  confinante  é  repetido  regularmente  em  função  da  frequência da rede, e a 
amplitude  de  todas  estas  ordens  é  determinada  pelo  padrão  de  difracção  de  uma 
abertura individual. 
 

185 
 
 

4.4.2.3. Redes de Difração & Espectrómetros 


As  redes  de  difracção  constituem  o  elemento  crítico  dos  espectrómetros,  pois 
implementam a separação angular espectral de um feixe não monocromático. 
Num  espectrómetro  aproveita-se  apenas  uma  das  ordens,  o  que  significa  que  é 
importante  que  a  distribuição  de  energia  seja  assimétrica  –  o  que  se  consegue  com 
redes com perfil em dente de serra – as chamadas blazed gratings, que são redes de fase, 
como  se  verá  de  seguida.  Estas  redes  permitem  optimizar  a  eficiência  e  a  sensibilidade 
de um espectrómetro, aproveitando ao máximo o fluxo luminoso disponível. 
A  entrada  de  um  espectrómetro  permite,  basicamente,  entregar  um  feixe 
colimado  à  rede  de  difracção,  para  que  a  geometria  do  feixe  e  da  rede  sejam 
perfeitamente  controladas.  É  essa  a  função  do  1º  espelho  côncavo,  após  a  fenda  de 
entrada. 

 
Após  difracção,  e  para  uma  dada  ordem  bem  definida,  constituem-se  feixes 
monocromáticos  colimados  com  diferentes  orientações  angulares,  que  são  focados  em 
zonas diferentes de um detector, por um 2º espelho côncavo. 
A  medida  é feita no detector, no qual existe uma relação única entre a posição no 
detector e o λ. 
A  calibração  de  um  espectrómetro  é  feita  com  vários  feixes  laser  com  λ’s 
conhecidos. 

186 
4.4.2.4. Redes de Difração de Fase 
Como  já  foi  referido,  na  modelação  da  FTA 
de  uma  rede  de  fase,  estas  estão  associadas  a  um 
número  infinito  de  ordens  de  difracção  –  na 
prática,  sempre  finito,  mas  sempre  maior  que  o 
número de ordens nas redes de amplitude. 
 
Rede de fase, periódica, linear, segundo o 
eixo x, 2D, de frequência espacial f0, modulação m, 
inscrita num quadrado de semi-largura w. 
Função de transmissão em amplitude (complexa): 

 
(Vimos  já  a  FTA  de  uma  rede  de  fase  de  perfil  sinusoidal,  de  frequência  f0  e 
modulação m). 
 
O  campo  difratado,  em  condições  de  Fraunhofer,  é  calculado  de  forma 
semelhante.  Recorde-se  a  identidade  que  envolve  as  funções  de  Bessel,  e  que 
transforma  uma  função  complicada  numa  soma  de  funções  simples  (exponenciais 
complexas – com a forma do kernel de Fourier!) 
As  TF  dos  dois factores da FTA são simples de obter – consultando uma tabela de 
transformadas, a TF de uma exponencial complexa linear é um δ-Dirac. 

187 
 
 
As  duas  TF  combinam-se  por  convolução  pois  o  δ-Dirac  é  o  elemento  neutro  da 
convolução  –  o  argumento  do  δ  é  simplesmente  transferido  para  a  função  ao  qual  se 
aplica, os sinc. 
 
Combinando: 

 
O  resultado  é  uma  amplitude  complexa  constituída  por  um  número  infinito  de 
sincs  ao  longo  do  eixo  dos  x,  igualmente  espaçados,  mas  cuja  amplitude  máxima  é 
determinada por funções de Bessel de ordem q, para o valor m/2. 

 
Para  calcular  a  irradiância,  impõe-se  uma  vez  mais  que  o  número  total  de 
períodos  da  rede  seja  elevado,  para  que  os  inúmeros  sincs  não  se  sobreponham,  e  a 
irradiância seja, basicamente, uma soma de sinc2 . 

188 
 
Na  figura  acima  tem-se  um  conjunto  de  ordens  igualmente  espaçadas,  cuja 
intensidade  é  definida  por  funções  de  Bessel  de  1ª  espécie  – porventura, para algumas 
ordens,  a  sua  intensidade  será  nula  ou  muito  reduzida  e  elas  não  serão  observáveis 
(ordens ausentes). 
A  estrutura  fina  do  espectro  é  determinada  pelo  padrão  de  difracção  da 
abertura confinante (se rectangular, um sinc, se circular, um somb, etc). 
Estas  redes  de  perfil  harmónico  têm  pares  de  ordens  simétricas  em  termos  da 
distribuição  de  energia.  Não  são  utilizáveis  em  espectrómetros,  pois  serão  pouco 
eficientes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

189 
Sintetizando: Redes de amplitude VS. Redes de fase 

 
 

4.4.3. Difração por n fendas 

4.4.3.1. Difração por 2 fendas 


Vejamos  agora  como  descrever  a  difração  por  duas  fendas,  analisando 
novamente o interferómetro de Young. 
Vimos  já  onde  é  que  as  ondas  transmitidas  pelas  duas  fendas  poderiam estar em 
fase,  para  podermos  ter  interferências  construtivas  e  máximos  de  irradiância  – mas, no 
contexto estrito da interferometria, nada se poderia dizer sobre a distribuição da energia 
pelos vários lobos luminosos. 
Agora,  sabemos  descrever  as  duas  ondas  interferentes,  que  são  as  duas  ondas 
difratadas por cada uma das aberturas. 

190 
 
É  necessário  então  invocar  agora,  depois  de  tratar  da  mudança de escala, aquela 
propriedade  da  TF  que  permite  lidar  com  translações  do  objecto  no  plano,  pois  é  a esta 
propriedade  a  que  se  deve  a  constituição  de  um  padrão  com  zeros  periodicamente 
distribuídos. 

 
O  resultado  final,  é  um  sinc2   (resultante  das  aberturas  individuais)  que  modula 
um cos2 (resultante da existência de duas fendas). 
Como  as  fendas  são  mais  pequenas  que  a  separação  entre  elas,  as  escalas  dos 
padrões correspondentes é inversa, isto é, são as características da fenda que modulam 
o padrão de interferências a dois feixes – e não o contrário. 

191 
Se  aumentarmos  o  número  de  fendas  MAS  mantivermos a separação entre elas, 
obtemos variantes deste padrão. 
É conveniente relembrar alguns conceitos de interferometria:

RELEMBRAR: Interferência entre múltiplas ondas - rede de difração 2D 

Irradiância:  
Diferença  de  percurso  óptico  entre  feixes 
consecutivos: OPD = d sin θ 
Diferença de fase entre feixes consecutivos : 
φ  =  k  OPD  =  (2π/λ)d sin θ = (2π/λ0) nd sin 
θ = k0 nd sin θ 
Condição para os Máximos de irradiância: 
φ = 2πm → d sinθ = mλ 
Distribuição da Irradiância: 
❏ Na região comum a todas as ondas 
❏ Determinada  pelo  padrão  de  difracção  das 
fendas 

 
 
 
É  de  salientar  como  varia  a  largura  de  cada  máximo  com  o  número  de  ondas 
interferentes 
 
Uma  rede  de difracção de amplitude pode ser considerada uma colecção de finos 
retângulos  paralelos  entre  si,  num  fundo  opaco.  Imagine-se  que  a  rede  é  iluminada por 
uma  onda  plana  segundo  o  eixo  dos  z.  Segundo  cada  uma  de  tais  direções,  a  onda 
emergente  de  cada  uma  das  fendas  está  em  fase  com  todas  as  demais,  e  este  conjunto 
de muitas ondas pode interferir construtivamente.  
Isto  significa  que,  ao  invés,  para  todas  as  outras  direcções  que  não  satisfaçam 
essa  condição,  a  interferência  é,  globalmente  destrutiva,  e  nenhuma  luz  deverá 
emergir segundo tais direcções. 

192 
Quanto  maior  for  o  número  de  fendas  iluminadas  pela  onda  incidente,  mais 
bem definidas estão tais direcções. 

.4.4.3.2. Difração por mais de 2 fendas 


Ao  aumentar  o  número  de  fendas  (2 → 5 → 10 → 100), as zonas de interferência 
construtiva  tornam-se  cada  vez  mais  estreitas,  mas  as  “ordens”  de  difração  ocorrem 
segundo as mesmas direcções. 
Como  as  todas  as  fendas  são  idênticas,  é  o  mesmo  sinc  que  modula  a 
intensidade do padrão de interferências. 
À  medida  que  o  número  de  fendas  aumenta,  concentra-se  cada  vez  mais  a 
microestrutura  do  padrão  em torno de cada ordem – mas mantém-se inalterada a forma 
como  a  energia  se  distribui,  pois  os  valores  que  se  utilizam  do  sinc  são  os  mesmos. 
Visualmente,  as  ordens  serão  mais  intensas,  pois  o  mesmo  fluxo  distribuir-se-á  agora 
por uma micro-estrutura de menores dimensões. 

★ Nas  redes,  N 
aberturas idênticas de largura a, estão periodicamente distribuídas (período d). 
★ O espectro de difracção da abertura fixa a intensidade relativa das várias ordens. 
★ A  equação  das  redes  (d  sin  θm  =  mλ,  para  incidência  normal)  fixa, através de d, as 
direcções segundo as quais ocorrem máximos (as ordens de difracção). 
★ Quanto  menor  for  d  (e  maior  a  frequência  da  rede,  f  =  1/d)  maior  o ângulo entre 
ordens consecutivas (e maiores são os valores dos ângulos de difracção). 
★ Quanto  maior  for  N,  menor  é  a  largura  de  cada  ordem,  e  mais reduzido é o nível 
do sinal entre as ordens. 
★ As  distâncias  entre ordens no plano de observação (à distância z da rede) não são 
constantes. Se xn representar a posição do máximo de ordem n: 

xn = nλz (d2-n2λ2)-1/2 

★ Como a radicanda tem de ser positiva, o número máximo de ordens (inteiro): 

n ≤ d/λ. 
★ Consoante a relação entre a e d, podem não ser visíveis todas as ordens 
 
 

193 
Múltiplas Aberturas Idênticas 
Quando  temos  muitas  aberturas  idênticas  que  constituem  um  padrão extenso, o 
seus  padrão  de  difracção  pode  variar  significativamente,  em  função  da  regularidade da 
distribuição. 
Nos  casos  periódicos,  seja  em  1D  como  em  2D  ou  3D  (raios-X  e  cristais),  os 
máximos  ocorrem  segundo  direcções  muito  bem  definidas,  e  a  envolvente  geral  do 
padrão observável é determinado pela difracção da abertura individual. 
A  fase  do  campo  difratado  por  cada  uma  das  aberturas  vai  variar  de  acordo com 
as coordenadas do dentro de cada abertura. 
No  caso  de  distribuições  não  regulares  /  periódicas,  o  padrão  tem 
características completamente distintas 

Um  objecto  g(x)  pode  ser  constituído  por  um  conjunto 


de  M  motivos  idênticos,  f(x),  (de  amplitude  ou  fase), 
distribuídos periódica ou aleatoriamente em posições xn: 

 
 
 
A  amplitude  do  padrão  de  difracção G(u) é determinada pelo padrão de difracção 
do  motivo,  F(u),  multiplicado  por  uma  função,  H(u),  com  máximos  tanto  mais  bem 
definidos  quanto  mais  periódica  for  a 
distribuição  e  maior  o  número  de 
repetições.  (Equação  das  rede,  Teorema 
matricial).  
 
No  caso  não  periódico  geral,  H(u) 
varia  estocasticamente em função de u (não esquecer que a frequência especial u é dada 
pelo valor de x/λ.z), e nada de especialmente relevante se observará, em geral, dentro da 
envolvente do padrão, que é determinada pela difracção do motivo individual.

Difração - Efeitos das lentes e resolução 


Retomemos  a  matemática da aproximação de Fresnel, válida para distâncias bem 
mais reduzidas - campo próximo. 
A integranda contém o campo emergente da abertura Σ, isto é, o campo U+=t.U-. 

194 
 
 

4.4.4. Interposição de uma Lente 


Vai-se  então  fazer  incidir  uma  onda  plana  num  objecto  com  FTA  conhecida,  t, 
colocar  logo  a  seguir  uma  lente  positiva  de  distância  focal  f,  e  observar  o  que  se  passa 
no plano focal da lente, à distância z=f. 
A  amplitude  emergente  do  conjunto  objecto+lente  pode  ser  propagada,  na 
aproximação de Fresnel, para o plano focal da lente. 
Repare-se  que  as  duas  exponenciais  quadráticas  se  compensam  e  desaparecem 
da integranda. 
A  amplitude  complexa  no  plano  focal  é  assim  essencialmente  determinada  pela 
TF da FTA do objecto, exactamente como na aproximação de Fraunhofer. 
Para  observar  a  amplitude  difratada  na  aproximação  de  Fraunhofer  basta 
interpor  uma  lente  e  observar  no  plano  focal  da  lente.  A  sua  distância  focal,  f,  permite 
controlar a escala do padrão de difracção. 
Este  difractómetro  é,  pois,  um  computador  óptico  que  calcula,  à  velocidade  da 
luz, a TF de um objeto 2D, colocado imediatamente antes da lente. 
Este resultado é (quase) geral. O objecto pode estar colocado noutra posição, mas 
se  for  iluminado  por  uma  onda  plana,  a  sua  TF  continua  a  poder  observar-se  no  plano 
focal da lente. 
Uma  onda  plana  U-(x,h)  =  1  ilumina  um  objeto  caracterizado  pela  sua  FTA,  t(ξ,η), 
ao qual se segue, imediatamente, uma lente de distância focal f: 
 

195 
 

 
Fazendo  incidir  uma  onda  plana  U-(x,h)  =  1 numa lente (distância focal f, raio r ), a 
primeira  é  difratada  pela  lente,  e  a  onda  difratada  propaga-se  (vai-se  então  considerar 
que a lente é, ela própria, o objecto difratante).  
A  FTA  da  lente  tem  de  incluir  os  efeitos  da  sua  pupila  finita,  por  exemplo,  um 
círculo de raio ρ: 

 
Temos  de  considerar  a  forma  e  dimensões  da  pupila  de  saída,  por  exemplo,  um 
círculo,  descrito  pela  função  circ.  A  Pupila  pode  ser  anular,  rectangular,  conter 
obstruções  internas,  etc,  e  nesses  casos  não  seria  o  circ  a  função  adequada.  De  uma 
maneira  geral,  vamos  chamar  Função  Pupila,  P( ξ , η ),  à  componente  da  FTA  que  tem 
toda  a  informação  necessária  sobre  o  sistema  óptico,  com  excepção da fase quadrática. 
Sabemos,  em  princípio,  o  que  esta  lente  vai  fazer:  transformar  a  onda plana numa onda 
esférica convergente para F’. 
 

2.4.4.5. Difração por uma Lente 


Quando  uma  onda  plana  é  difratada  por  uma  lente  finita  com  uma  dada  função 
Pupila,  P, e a mesma é propagada para o plano focal da lente, na aproximação de Fresnel, 
obtém-se  o  padrão  de  difração  da  pupila.  Se  a  pupila  é  circular,  reencontramos  o 
padrão  de  Airy,  de difracção de um circ. Se a pupila tiver uma função Pupila arbitrária, P, 
no plano focal a amplitude complexa é determinada pela TF(P). 

196 
Note-se  quais  são  os  valores  das  frequências  espaciais  que  são  utilizados:  f X  → 
x/λf.  É  agora  a  distância  focal,  f, que determina a escala do padrão de difracção. Nesse 
sentido,  para  reduzir  a  escala  basta  diminuir  a  distância  focal.  Salienta-se  que  esta  é  a 
situação  de  formação  de  imagem  que  ocorre  quando  o  nosso  objecto  está  no  infinito  – 
uma estrela, por exemplo. 
O que se observa no plano focal não é portanto apenas a simples convergência de 
uma  onda  esférica  para  o  Foco  Imagem  –  é  um  padrão  de  difracção  da  pupila  do 
sistema  óptico,  tanto  mais  proeminente  quanto  menor  for  a  pupila,  tanto  mais 
concentrado quanto maior for a pupila. 

Iluminação por onda plana:  U+( ξ , η ) = t(ξ,η)

FTA da lente:  
Propagação para o plano focal da lente (z = f) (condições de Fresnel): 

 
No plano focal, a irradiância é descrita pelo quadrado do módulo da TF da pupila, P(ξ,η) : 
–Uma onda plana e uma pupila circular à um padrão de Airy 
–Duas  ondas  planas  angularmente  próximas  à  dois  padrões  de  Airy,  porventura 
parcialmente sobrepostos. 
 
Esta é a situação normal de formação de imagem de objetos no infinito. 
A estrutura fina da imagem é determinada pela difracção na Pupila. 

4.4.6. Critério de Rayleigh 

Raio w, Diâmetro D = 2w →  
Diâmetro do lobo central: 

  Para z → f, o diâmetro do círculo de Airy é 1.22cdo.f/w. 
O  valor  do  disco  de  Airy  é  instrumental  para  se  objetivar  o  conceito  de  resolução, 
através do critério de Rayleigh. 
 

197 
Critério  de  resolução  de Rayleigh: duas fontes incoerentes podem ser resolvidas 
por  um  sistema  limitado  por  difracção  e  com  uma  pupila  circular  quando  o  centro  do 
padrão de irradiância de Airy de uma coincidir com o primeiro zero do padrão de Airy da 
outra. 
A seguinte figura ilustra este conceito: 

 
Um  sistema  que  satisfaça  o  critério  de  Rayleigh  diz-se  limitado  por  difracção  – 
não  é  útil  prosseguir  com a redução das aberrações, pois a mancha luminosa (a imagem) 
está já condicionada pela difracção na pupila. 
Nas  aplicações  médias  e  mais  exigentes,  o  utilizador  necessita  de  sistemas 
limitados por difracção. 
O  critério  de  Rayleigh  é  “conservador”;  foi  feito  para  estabelecer  uma  condição 
suficiente  para  o  olho  humano.  Se  o  critério  de  Rayleigh  for  satisfeito  (e  se  as  estrelas 
tiverem  a  mesma  intensidade)  o  observador  verá  dois  objectos  distintos  (se  lá 
estiverem). 

 
Com  detectores  mais  sensíveis,  de  menor  ruído,  é  possível  distinguir  mínimos 
menos  cavados  entre  os  dois  máximos  adjacentes,  o  que  significa  um  “ganho”  em 
resolução.  
Mesmo  sendo  conservador,  o  critério  de Rayleigh funciona como referência para 
a especificação da qualidade e do desempenho dos sistemas ópticos. 
 
O  critério  de  Rayleigh  tem  a  vantagem  de  ser  quantificável,  pois  conhece-se  a 
posição  do  1º  zero  da  função  de  Bessel.  A  partir daí, infere-se a separação mínima entre 
padrões  de  Airy  no  plano  imagem,  e  daí  passa-se  para  a  separação  mínima  entre 
objectos a distância finita, ou para a separação angular entre estrelas no infinito. 

198 
Note-se  que  f  determina  a  escala  transversa  no  plano  focal  (plano  imagem) mas 
que  a  resolução  angular,  directamente  aplicável  ao  espaço  objecto,  é  unicamente 
determinada pelo diâmetro da pupila, D. 
 
O 1º zero de J1 ocorre para πx = 1.22. 
A separação mínima radial no plano imagem (z=f) é 
metade da largura do lobo central (d) do padrão de Airy: 
d = 0.61 λf/w à 1.22 λf/D 
A separação angular (no espaço objecto), d/f, será: 
θ = 1.22 λ/D (rad) 
Duas  estrelas  serão  resolvidas  se  a  separação  entre  os 
dois padrões de Airy satisfizer o critério de Rayleigh! 
 
Critério de Rayleigh Angular 
Em  termos  angulares,  basta  usar  a  geometria  e  relacionar  ângulos  no  espaço 
objeto  e  distâncias  transversas  no  plano  imagem.  Destaca-se  importância  dos  pontos 
nodais para a determinação de ângulos. 
Note-se  que  a  resolução  transversa,  é  determinada  pelo  f/#,  mas  que  a 
resolução  angular  apenas  de  depende  do  diâmetro  da  pupila  (para  além  do  cdo, 
evidentemente). 
 
x = f tan θ = 0.61 λf / w = 1.22λf / D = 1.22 λ/ f# 
tan θ ~ θ = 1.22 λ / D 

 
Lente de diâmetro D = 2w e distância focal f 
θ– Resolução angular 
O  critério  de  Rayleigh  também  se  pode  aplicar  ao  olho,  por  exemplo,  para 
diferentes estados de dilatação da pupila 
A  difracção  determina  que  a  resolução  do  olho  com  a  pupila  aberta  (8  mm),  seja 
superior  à  do  olho  com  a  pupila  mais  fechada  (2  mm).  Tal  verifica-se,  mas  o  olho  não  é 
um  sistema  limitado  por  difracção,  e  as  aberrações  aumentam  significativamente  com 
o diâmetro da pupila. 

199 
 
Três notas finais: 
❏ O  critério de Rayleigh é conservador – sensores mais sensíveis e com menor nível 
de  ruído,  permitem  ir  mais  além  -  com  os  critérios  de  Sparrow  ou  de  Dawes 
(também devido a Lord Rayleigh), conseguimos ganhar cerca de 20%. 

 
 
❏ O  critério  de  Rayleigh  deixa  de  ser  condição  suficiente  se  as  intensidades  dos 
dois objectos são muito diferentes. 
 
❏ O  critério  Rayleigh  aplica-se a luz monocromática, mas NÃO para luz coerente. 
Com  feixes  laser,  por  exemplo,  podem  ocorrer  mínimos  no  padrão  de 
interferência  entre  as  ondas  provenientes  de  objetos  muito  próximos  que  tanto 
podem melhorar a resolução, como piorá-la. 
 
 
As  imagens  astronómicas  de  campos  de  estrelas  (objectos  pontuais,  que  não  se 
deixam  resolver  –  com  excepção  do  Sol)  são  imagens  de  padrões  de  Airy  de  difracção 
pela  pupila  do  telescópio.  Os  padrões  são  os  mesmos  em  toda  a  imagem,  embora 
possam ter maior ou menor energia consoante a magnitude da estrela. 
Quanto  maior  for  o  diâmetro  da  pupila,  mais  concentrados  são  os  padrões  de 
Airy  (ou  outros,  caso  as  pupilas  não  sejam  circulares  –  anulares,  quase  sempre, 
rectangulares). 
Tais  padrões  de  difracção  não  têm  relevância  astronómica – são efeitos espúrios 
do  instrumento  de  observação.  É  possível  camuflá-los:  basta  escolher  um  sensor  cujo 
pixel tenha a dimensão do disco de Airy, ou parecido. 
No  plano  focal,  a  difracção  é  observável,  mas  na  imagem  digital,  os  padrões  de 
difracção estarão fortemente atenuados. 

200 
O  mesmo  se  passa  nas  várias  microscopias (óptica ou confocal), com sistemas que 
têm de ser limitados por difracção.  Todavia, a difracção pela pupila não é tão visível, por 
várias razões: 
1. Em  observação  visual,  a  iluminação  é  policromática  ou  com  luz  incoerente,  e  os 
padrões  de  difração  estão  sobrepostos  mas  com  diferentes  escalas  –  a 
microestrutura esvai-se visualmente. 
2. Os  objectos  são  extensos,  não  pontuais,  o  que  contribui  para a menor relevância 
visual que a difracção parece ter – mas tem... 
3. Em microscopia confocal, o pequeno furo antes do detector final, apenas permite 
passar a luz de uma pequena parte do centro do padrão de difracção. 
 
 
 
 
 
À  direita,  o  diagrama  representa 
graficamente  o  critério  de  Rayleigh, relacionando a 
resolução  angular  (em  abcissas),  o  diâmetro  da 
pupila  (em  ordenadas)  e  o  comprimento  de  onda 
(na  diagonal, a -45º). Estão representados inúmeros 
telescópios, o olho humano, o Hubble, etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
O  segredo  da  resolução  de  um  instrumento  – 
um  telescópio,  por  exemplo  –  está  na  pupila: 
monolítica,  anular,  com  diferentes  suportes 
mecânicos  do  secundário,  que  intersectam  e 
difratam  a  luz,  constituídos  por  múltiplos 
segmentos triangulares, hexagonais, etc.  
Tudo  deve  ser  objecto  de  descrição  na  função  Pupila,  parte  da  FTA  da  óptica. 
Tudo  determina  a  distribuição  de  energia  nos  espectros  de  difracção  observados. 
Tudo condiciona a resolução angular e transversa do instrumento. 
As  imagens  de  objectos  pontuais  não  só  não  são  pontuais  como  têm  uma 
microestrutura  complexa.  Normalmente  estão  associadas  a  um  máximo  central 
proeminente,  mas  a  distribuição  de  energia  em  torno  do  máximo  pode  perturbar  a 
visibilidades  de  outros  objetos  mais  ténues  próximos,  que  podem  ficar  completamente 
obscurecidos. 
 
 
 

201 
Recuperando a aproximação de Fraunhofer, é agora pertinente notar que: 
➔ Uma  lente  de  diâmetro  D  e  distância  focal  f,  sempre  finita,  permite,  de  facto, 
beneficiar  da  aproximação  de  Fraunhofer  a  distâncias  reduzidas,  desde  que  o 
campo seja observado no seu plano focal. 
➔ A  relação  entrada  /  saída  (entre  amplitudes  complexas)  é  regida  pela 
transformada de Fourier. 
➔ A  escala  do  padrão  é  determinada  por  λ.f/D. As vantagens que esta configuração 
oferece  são  consideráveis,  permitindo  usar  f  para  controlar  a  resolução  e 
adaptar  o  sistema  óptico  às  características  do  sensor,  designadamente,  à 
dimensão do pixel. 
➔ Com  a  ajuda  da  TF,  desde  que  saibam  modelar  a  FTA  dos  objectos  difratantes, 
sabem calcular e controlar o campo luminoso onde precisarem de o usar. 
➔ Nalguns  casos,  saber-se-á  calcular  o  padrão  analiticamente,  noutros  ele  será 
facilmente  calculado  numericamente,  com  o  auxílio  de  algoritmos  rápidos  (- 
Fourier Fast Transform - FFT). 
   

202 
 
 
Objetivos de aprendizagem: Propagação e Difração 
 
1. O  Princípio  de  Huygens-Fresnel  é  o  princípio  básico  da  propagação / difracção 
de  ondas.  Para  além  da  imagem  mental  que  proporciona  –  baseada  na 
interferência  entre  ondas  esféricas  geradas  a  partir  de  fontes  virtuais  -  é 
relevante  relacioná-lo  com  o  princípio  de  Huygens  da  Óptica  Geométrica:  as 
superfícies de igual fase são, essencialmente, as superfícies de onda geométricas. 
 
2. É  possível  estabelecer  dois  regimes  de  aproximação  do  integral  de 
Huygens-Fresnel,  consoante  a  distância,  isto  é,  os  ângulos  decorrentes  de 
distâncias  longitudinais  e  a  dimensão  transversa  das  regiões  de  interesse,  tanto 
no plano z=0, como no plano de observação. 
 
3. Com  as  aproximações de Fresnel (aproximações parabólicas às ondas esféricas) e 
de  Fraunhofer  (aproximações  planas  às  ondas  esféricas)  pode-se  determinar  o 
campo  escalar,  Uout,  num  plano  com  base  no  conhecimento do campo escalar Uin 
noutro  plano  paralelo  ao  primeiro.  A  difracção,  em  Óptica  Ondulatória, 
formaliza-se entre planos paralelos. 
 
4. Na  aproximação  de  Fraunhofer,  a  relação  entre  Uout  e  Uin,  é  simples:  Uout  é 
basicamente  a  transformada  de  Fourier  de  Uin  -  abstraindo  de  factores  de  fase 
sem  relevância  no  cálculo  da  irradiância  –  calculada  para  valores  especiais  das 
frequências espaciais. 
 
5. Assim,  desde  que  seja  conhecida  a  Função  de  Transmissão  em  Amplitude  no 
plano  z=0,  t(x,h),  é  possível  calcular  a  Amplitude  Complexa  (e  a  irradiância) 
difractada  em  qualquer  ponto  (x,y,z)  a  uma  distância  z  que  satisfaça  a  condição 
de Fraunhofer. 
 
6. A  representação  da  Amplitude  Complexa  no  plano  z=0  através  da  modelação 
completa  da  Função  de  Transmissão em Amplitude no plano z=0 é crítica. Alguns 
modelos  simples  para  aberturas  retangulares,  circulares  – tanto de fase como de 
amplitude – únicas ou regularmente distribuídas (redes de difracção), constituem 
objectivos  relevantes  da  disciplina,  designadamente  o  modelo  de  uma  lente 
dotada da respectiva fronteira. 
 
7. A  aproximação  de  Fraunhofer  impõe  uma  distância  considerável.  A  interposição 
de  uma  lente,  de  distância  focal  f,  e  a  observação  no  seu  plano  focal,  são 
equivalentes,  matematicamente,  à  aproximação  de  Fraunhofer:  a  mesma 
equação, desde que z à f. 
 

203 
8. Como  consequência,  nos  sistemas  que  formam  imagens de objectos no infinito – 
com  imagens  no  plano  focal  da  lente  –  como  os telescópios ou o olho humano, a 
imagem  é  descrita  pelo padrão de difracção de Fraunhofer da pupila de saída da 
lente. 
9. Daqui  decorre  a  teoria  do  limite  de  resolução  (de  Rayleigh),  que  remete  para  a 
estrutura  de  difracção  de  uma  abertura  circular,  isto  é,  para  a  função  sombrero 
(ou chapéu mexicano, dada pela razão entre a função de Bessel, J1(x)/x) 
 
 
Fórmulas Importantes:  

 
 
 
 
 
 
   

204 
5. Ótica Eletromagnética - Materiais 
Os fenómenos luminosos que envolvem interação entre a radiação e a matéria 
podem-se agrupar em dois grandes grupos: 
 
❏ Fenómenos  de  superfície  -  decorrentes  da  existência  de  descontinuidade  entre 
meios; 
 
❏ Fenómenos  de  volume  -  decorrem  da  forma  como  os  campos  E  e  H  de  ondas 
luminosas  afetam  a  microestrutura  da  matéria  e  são,  por  sua  vez,  afetados  por 
tais alterações do estado da matéria. 
 
A  análise  dos  fenómenos  de  superfície  revela-nos  as  equações  de  Fresnel  e  a  forma 
como,  numa  interface,  o  fluxo  se  reparte  numa  componente  refletida  e  numa 
componente refratada. 
 
A  análise  dos  fenómenos  de  volume  explica-nos  a  base  física do índice de refração e da 
fenomenologia  de  dispersão,  ou  seja,  a  forma  como  o  índice  de  refração  varia  com  o 
comprimento de onda ou com a frequência; permite o estudo da absorção das ondas EM 
pela  matéria  de  modo  a  compreendermos  as  propriedades  óticas  dos  dielétricos  e  dos 
metais; abre a porta à ótica não-linear. 

5.1. Fenómenos de Superfície e Equações de Fresnel 


Nesta  secção,  para  a  compreensão  dos  fenómenos  de  superfície,  ter-se-á  em 
atenção: 
➔ O  modo  como  os  mesmos  decorrem  das condições de continuidade dos campos 
EM em superfícies de descontinuidade; 
➔ A dedução das leis da reflexão e da refracção; 
➔ A forma como surgem as equações de Fresnel. 
Ver-se-á também o conceito de polarização, visto que a construção das equações 
de  Fresnel  exige  a  consideração  de campos elétricos com orientações específicas (ainda 
que a polarização da luz não seja objeto de estudo na cadeira de OEO). 
Estudar-se-á  ainda  os  coeficientes  de  Fresnel  de  onde  surge  a  reflexão  interna 
total  e  a  Lei  de  Brewster.  De  igual  modo,  ver-se-ão  os  concenceitos  de  refletância  e 
transmitância de superfície.  
 
 
 
 
 
 

205 
5.1.1. Condição de Fronteira entre Dielétricos 
Recuperando algumas noções de Eletromagnetismo: 

 
A  Lei  de  Gauss  aplicada  a  volumes  infinitesimais  que  incluem  dois  meios  e  a 
respectiva  descontinuidade,  e  as  leis  de  Ampère  e  de  Faraday  aplicadas  a  um  pequeno 
circuito  que  atravessa  a  superfície  de  separação  entre  dois  meios,  estão  na base – após 
passagem  ao  limite  -  das  continuidades  exigidas  (ou  descontinuidades  possíveis)  aos 
campos  E,  D,  H  e  B,  através  das  respectivas  componentes  tangenciais  ou  normais  à 
superfície de descontinuidade. 
 
Num meio homogéneo, E, H, D e B são funções da posição. 
As condições de continuidade decorrem diretamente das equações de Maxwell. 
Na fronteira entre dois meios dielétricos, sem cargas nem correntes (r = 0, J = 0): 
 

 
As componentes tangenciais de E e H são contínuas 
➔ Leis da reflexão e da refracção (geometria) 
As componentes normais de D e B são contínuas 
➔ Equações de Fresnel (radiometria) 
Em  superfícies  irregulares  (não  planas)  a  normal  à  superfície  varia 
continuamente,  logo  as  próprias  componentes  tangencial  e  normal  variarão.  Os 
fenómenos físicos que daqui decorram serão diferenciados de ponto para ponto.  
 
 

206 
Veja-se  agora  o  que  significam  as  continuidades  impostas,  comparando  os 
campos  imediatamente  acima  (P1)  e  abaixo  (P2)  da  superfície  de  descontinuidade  –  na 
passagem ao limite, P1→ P2. 
Nos esquemas que se seguem: 
➔ À esquerda, o campo tangencial é contínuo 
➔ À direita, o campo normal é contínuo 
Os  campos  3D variam de forma descontínua, mas 
as condições fronteira de Maxwell são respeitadas. 
 

 
 
 

5.1.2. Geometria: Planos 


As  ondas  EM  envolvem  dois  vetores,  E  e  H.  Considere-se  apenas  o  E;  a 
orientação  do  E  no  espaço  é  especificada  recorrendo  à  posição  relativa  entre  dois 
planos: 
❏ Plano  de  incidência:  definido  pela  direcção  de  propagação  da  onda,  k,    e  pela 
normal à superfície, N. 
❏ Plano  de  polarização:  definido  pela  direcção  de  propagação  da  onda,  k,   e  pelo 
campo eléctrico, E. 
IMPORTANTE:  O  Plano  de  Incidência  não  está  definido 
se  a  incidência  for  normal  (propagação  segundo  a 
normal  à  superfície).  Neste  caso,  a  orientação  relativa 
entre  estes  dois  planos  não  é  aplicável,  e  os  fenómenos 
de  reflexão  e  de  transmissão  não  dependem  do  estado 
de polarização da onda. 
 
 

207 
5.1.3.Polarização 
Nas  ondas  planas  monocromáticas,  o  campo  E  é  transverso  (atenção:  não  é 
assim, sempre). 
Consoante  a  orientação  de  E,  perpendicular  a  k,  assim  o  plano  de  incidência 
pode  ser  paralelo,  perpendicular,  ou  fazer  um  ângulo  qualquer  com  o  plano  de 
incidência. 
Os  dois  casos  limite  são  os  casos  em  que  o  plano 
de  polarização  é  paralelo  ou  perpendicular  ao  plano  de 
incidência. 
Quando  o  campo  E  tem  outra  orientação  (não  é 
nem  paralelo  nem  perpendicular  ao  plano  de  incidência) 
pode  sempre  ser  decomposto  em  dois  campos,  um  paralelo 
e  outro  perpendicular  ao  plano  de  incidência,  e  serem 
calculadas as respectivas componentes lineares. 
Estes  dois  campos  têm  de  ser  analisados 
separadamente  na  interface,  em  termos  de  reflexão  e  de 
transmissão.  Como  as  equações  de  Maxwell  são  lineares, 
após  análise,  podemos  recombinar  linearmente estas duas 
projecções  e  recuperar  o campo global das ondas refletida 
e transmitida. 
  
 
O  conceito  de  polarização  (de  uma 
onda  EM)  está  ligado  à forma como o Plano de Polarização (PP) varia ao longo do tempo 
– na realidade, só é fácil apreendê-lo no caso da polarização linear. 
Os  diferentes  estados  de  polarização  definem-se  pela  geometria  e velocidade de 
variação do PP de uma onda. 
No  paradigma  clássico  (≠paradigma  quântico),  considera-se  que  o  PP  está 
sempre  definido,  em  cada  instante,  mesmo  que  varie indeterminada e abruptamente no 
tempo, seja qual for a escala de tempo que se considere. 
Definem-se alguns estados de polarização úteis: 
★ Na  polarização  elíptica,  o  PP  roda 
com velocidade angular variável. 
★ Na  polarização  linear,  o  PP 
mantém-se  constante  (seja  qual 
for  a  sua  orientação no referencial 
natural de trabalho). 
★ Na  polarização  circular,  o  PP roda 
com velocidade angular constante, 
no  sentido  directo  ou  retrógrado 
(PCD ou PCE). 

208 
★ Na  luz  não  polarizada  (ou  natural),  a  orientação  do  PP  varia  caoticamente  ao 
longo do tempo. 
As  equações  de  Fresnel  são  construídas  para  estados  de  polarização  lineares. 
Não se trata de uma limitação, pois é possível descrever: 
❏ Estados circulares em termos de 2 estados lineares perpendiculares; 
❏ Estados lineares em termos de 2 estados circulares direito e esquerdo. 
 

5.1.4.Leis da Reflexão e de Snell-Descartes 


Segue-se  a  dedução  eletromagnética  das  leis  da  reflexão  e  refração  (que 
conduzirá  à  conclusão  de  que  a  frequências  das  ondas  refletida  e  transmitida  deveria 
ser  idêntica  à  da  onda  incidente).  É  importante  notar  que,  do  ponto  de  vista  EM,  no 
espaço  de  incidência  co-existem  duas  ondas:  a  incidente  e a reflectida. O campo total é 
pois a soma dos dois, sejam quais forem as respectivas intensidades. 
 
Ondas planas monocromáticas: 

 
A componente tangencial de E total na interface tem de ser contínua: 

 
Na  interface  (e  ao  longo  do  tempo),  as  dependências  espácio-temporais  das  3 
ondas devem ser comuns: 

 
Daqui decorre, necessariamente que: 

 
Logo: 

 
Estas  últimas  2  equações  impõem  condições  sobre 
as  orientações  dos  vectores,  e  deixam-se  trabalhar  para 
conduzir às leis bem conhecidas da reflexão e da refracção. 
 
 
 

209 
5.1.5. Equações de Fresnel 
Passemos  agora  ao  enquadramento  das  equações  de  Fresnel  e  dos  4  coeficientes  de 
Fresnel,  “semelhantes”  a  coeficientes  de  transmissão  e  de  reflexão  em  amplitude  ou  a  FTA  com 
que  se  estudou  no  contexto  da  óptica  ondulatória  –  só  que,  agora,  estão  em  causa  campos 
vectoriais cuja orientação é relevante. 

 
As equações de Fresnel são aplicáveis apenas a materiais não magnéticos: 

 
 
5.1.5.1. Coeficientes de Fresnel 
Teremos  um  par  de  coeficientes  para  a  reflexão,  e  outro  par  para  a transmissão. 
Em cada par, cada um lidará com polarizações diferentes. 
Os  coeficientes  são  complexos. O módulo traduzirá uma atenuação, o argumento, 
um desfasamento da segunda onda em relação à onda incidente. 
Relativamente  ao  Campo  Eléctrico,  E,  as  equações  de  Fresnel  são  4  relações 
lineares  entre  as  amplitudes  transmitidas  ou  reflectidas  do  campo  eléctrico  e  a 
amplitude do campo elétrico incidente. 
Para  polarizações  paralela  (||)  e  perpendicular  (⊥)  ao  Plano  de  Incidência, através 
de 4 coeficientes de reflexão (r⊥, r||) e de transmissão (t⊥, t||) em amplitude: 
r = |r| e iΨ t = |t| e iΦ   

 
Os  4  coeficientes  r  e  t  são  complexos,  com  um  módulo  |r|  ou  |t|  que  traduz  uma 
atenuação,  e  um  argumento  Ψ  ou  Φ  que  traduz  uma  variação da fase da onda incidente 
relativamente à onda reflectida ou transmitida. 
 
 
 
 
 

210 
5.1.5.2. Polarização Perpendicular 
Quando  o  plano  de  polarização  é  perpendicular  ao  plano  de  incidência 
(Transverse Electric - TE): 

 
ATENÇÃO:  em  materiais  não  dielétricos,  materiais  que  absorvam,  tal  como  os 
metais,  o  índice  de  refracção  é  complexo,  mas  as  equações  de  Fresnel são ainda válidas 
e  continuam  a  relacionar  as ondas incidente, refletida e transmitida ou simplesmente as 
ondas  evanescentes,  caso  nenhuma  onda  se  possa  propagar  no  meio  absorvedor.  Isto é 
assim,  pois  elas  só  dependem  de  uma  propriedade  muito  básica:  continuidades  das 
diversas componentes dos campos numa interface entre dois meios. 
 

 
As  equações  de  Fresnel  vêm  expressas  em  termos  dos  parâmetros  físicos 
habituais, designadamente dos índices de refracção e das permeabilidades magnéticas.
 
 
 
 
 
 
 

211 
 

5.1.5.3. Polarização Paralela 


Quando  o  plano  de  polarização  é paralelo ao plano de incidência – logo, o campo 
magnético é perpendicular ao plano de incidência (Transverse Magnetic - TM): 

 
Novamente, em meios não dielétricos, o índice de refracção é complexo: 

 
 

 
 

5.1.5.4. Meios Dielétricos 


No  caso  particular  de  dielétricos, as 4 equações de 
Fresnel assumem uma forma mais compacta 
Os  4  coeficientes  vêm  expressos  em  termos  dos 
ângulos  de  incidência  e  de  transmissão,  sendo  que  a 
relação  entre  ambos  é  estabelecida  pela  lei  de 
Snell-Descartes. 

212 
5.1.5.5.Ângulo de Brewster 
É  de  salientar  que  nas  expressões  para  os  3  primeiros 
coeficientes  de  Fresnel,  acima  expressas,  surgem  no 
denominador somas de ângulos ( θi + θt ) .  
Com  efeito,  quando  a  soma  dos  dois  ângulos  tende  para 
π
2 , a tangente tende para infinito e r∣ ∣ tende para 0.  
O  Ângulo  de  Brewster  é  então  o  valor  do  ângulo  de 
incidência, para o qual a soma é π2 . 

As  janelas  de  Brewster  transmitem  radiação  TM,  sem 


perdas por reflexão. 
Numa  interface,  em  polarização  paralela,  não  há  onda  refletida  se  o  ângulo  de 
incidência for igual ao ângulo de Brewster. 
Isto significa: 
❏ Pela  positiva,  que  uma  onda  com  polarização  paralela  não  é  atenuada  na 
interface; 
❏ Pela  negativa,  que  se fizermos incidir uma onda não polarizada segundo o ângulo 
de  Brewster,  toda  a  onda  reflectida  só  pode  ter  polarização  perpendicular  ao 
plano  de  incidência:  eis  uma  forma  de  se  criar  polarização  numa  onda  EM 
despolarizada. 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

213 
5.1.6. Reflexão Externa 
Na reflexão externa, o índice do 2º meio é superior ao do 1º meio (interface ar → 
vidro, por exemplo). 
De  seguida  representam-se  os  coeficientes  de  Fresnel  (reais)  à  esquerda,  e 
apenas as fases à direita. Está assinalado o ângulo de Brewster. 

 
Nos módulos: 
★ Em  transmissão,  os  t’s  são  sempre  positivos  –  a  onda  transmitida  está  em  fase 
com a incidente. 
★ Em  transmissão,  os  t’s  decaem  regularmente  para  0,  caso  da  incidência  rasante 
em que não há onda transmitida e toda a energia é reflectida. 
★ Na  reflexão  perpendicular,  a  onda  reflectida  está  sempre  em  oposição  de  fase 
com a incidente. 
★ Na reflexão paralela, até ao valor do ângulo de Brewster, ambas estão em fase. 
Nas fases: 
★ Tomam  apenas  os  valores  0  e  π  –  os  coeficientes  de  Fresnel  são  reais,  podendo 
ser positivos ou negativos. 
★ Em  polarização  perpendicular,  ocorre  sempre  um  desfasamento  de  π  na 
reflexão. 
★ Em  polarização  paralela,  a  onda  reflectida  está  em fase com a onda incidente até 
ao ângulo de Brewster, e desfasada de π para além. 
 
 
 
 
 
 
 
 

214 
5.1.7. Reflexão Interna 
Na  reflexão  interna,  o  índice  do  2º meio é inferior ao do 1º meio (interface vidro 
→ ar, por exemplo). 
Nas  figuras  seguintes,  representam-se  os  coeficientes  de  Fresnel  (reais)  à 
esquerda,  e  apenas  as  fases  à  direita.  Estão assinalados o ângulo de Brewster e o ângulo 
crítico (para a reflexão interna total). 

 
Em reflexão: 
★ A partir do ângulo crítico, a reflexão é total, seja qual for a polarização. 
★ Em  polarização  paralela,  a  onda  reflectida  está  desfasada  de  PI  em  relação  à 
incidente. 
★ As  fases  têm  um  comportamento  complexo,  sendo  o  desfasamento  fortemente 
dependente do ângulo de incidência e da polarização incidente. 
O  valor  do  ângulo  crítico  pode  ser  obtido  com  base  nos  coeficientes  de  Fresnel 
para a reflexão, ou directamente da lei de Snell-Descartes, como vimos em OG. 
O  seu  valor  é  próximo  do  do  ângulo  de  Brewster,  mas  em  nada  afecta  a  (ou  é 
afectado pela) polarização das ondas envolvidas. 

 
 
 

215 
5.1.8.Reflexão Interna Total 
Quando  n1 > n2   e  sin  (θt)  =  1,  a  energia  não  pode  fluir  para  o  2º  meio  e  ocorre 
reflexão interna total (RIT) 

 
nt/ni < 1 θi → θi – Ângulo crítico sin (θc) = nt / ni 
 
A seguinte imagem ilustra o fenómeno da reflexão interna total: 
 

 
Aplicações  importantes  do  fenómeno  da 
reflexão interna total: 
★ Na formação do arco-íris, 
★ Na  detecção  de  biomoléculas  que  alteram  n2, 
logo  alteram  a  intensidade  e  o  espectro  do 
feixe refletido internamente, 
★ Na  reflexão  da  luz  implementando  a  função  de 
“espelho”  –  e  quase  todos  os  prismas  se 
baseiam na RIT. 
★ Na condução de luz em guias de onda 

5.1.9. Ondas EM e Radiometria 


Em  EM  os fluxos de energia são descritos pelo vector de Poynting, S. Conhecidos 
os  campos  E  e  H  de  uma  onda,  no  tempo  e  no  espaço,  sabemos de que forma a energia 
flui localmente, através de |S|. 
|S| tem dimensões de Irradiância (W/m2): é uma irradiância, E ! 
Como  |S|  varia  à  frequência  da  onda,  apenas  o  seu  valor  médio  temporal  é 
2
observável.  Para  uma  onda  plana  monocromáticas,  |S|  ~ ∣E 0 ∣ ,  isto  é,  o  módulo  de  S  é 
aproximadamente igual ao quadrado da amplitude do campo eléctrico, pois o próprio |H| 
é proporcional a |E|. 

216 
Para uma onda monocromática, o vector de Poynting, S, oscila à frequência n. 

A  média  temporal  de  |S|  (um  período)  representa  a  taxa  efectiva  de  propagação 
do fluxo EM. Para uma onda plana linearmente polarizada: 

 
 
 

5.1.10. Reflectância e Transmitância 


 
A  Reflectância  e  a  Transmitância  são  razões  entre  os  fluxos  (em  W)  transmitido 
ou refletido e o fluxo incidente numa superfície. 
Numa  superfície,  a  conservação  de  energia  impõe  que  I = R + T + A, em que A é o 
fluxo absorvido. 
Em  óptica,  e  quando  lidamos  com  feixes  luminosos,  a  Irradiância  é  a  variável 
crítica, pois: 
➔ Traduz  a  densidade  de  fluxo  por  unidade  de  área  (W/m2)  do  feixe 
perpendicularmente à direcção de propagação; 
➔ O módulo do vector de Poynting é uma irradiância. 
Sendo  as  Irradiâncias  proporcionais  a  ∣E 0 ∣2 ,  é  claro  que  os  coeficientes  de 
reflexão  e  de  transmissão  em  amplitude  (os  4  coeficientes  de  Fresnel  para  as  duas 
polarizações,  paralela  e  perpendicular  ao  plano  de  incidência)  devem  permitir 
determinar  os  valores  da  reflectância  e  a  transmitância  de  uma  superfície  (suposta 
sempre  localmente  plana,  e  em  que  as  direções  dos  feixes  estão  definidas  sem 
ambiguidade). 
Portanto: 
❏ A conservação de energia deve ser garantida para a área A comum às três ondas. 
❏ As amplitudes das ondas relacionam-se pelos coeficientes de Fresnel. 
❏ A transmitância e a reflectância definem-se através de fluxos (W). 
❏ Uma  vez  que  as  secções  dos  feixes  são  distintas,  é  de  esperar  que  exista  algum 
tipo de assimetria entre os comportamentos de R e de T. 
 
 
 
 
 
 

217 
 
Fluxo – W 
Irradiância – W/m2 
Numa  superfície,  A,  o  fluxo  incidente  (I)  pode  ser  reflectido 
(R), transmitido (T) e absorvido (A): 
ΦI = ΦR + ΦT + ΦA 
A  Irradiância  nos  vários  feixes  depende  da  área  da  secção 
transversa perpendicularmente à direcção de propagação: 
E = Φ / Área 
Reflectância: R = ΦR / ΦI 
Transmitância: T = ΦT / ΦI 
O  feixe  incidente  incide  numa  área  A  da  superfície,  logo  as 
secções transversas dos vários feixes são: 
Ai = A cos ፀi 
Ar = A cos ፀr = Ai 
At = A cos ፀt 
 
Refletância: 

 
 
Transmitância: 

 
Conservação de Energia: 

 
Para duas polarizações: 

218 
Portanto: 
➔ No  caso  da  reflectância,  devida  à  simetria  imposta  pela  lei  da  reflexão,  R 
relaciona-se directamente com os coeficientes de Fresnel. 
➔ No  caso  da  transmitância,  há  uma  assimetria,  e  tem  de  se  considerar 
explicitamente a inclinação do feixe transmitido. 
➔ Garante-se  naturalmente  que  o  princípio  de  conservação  de  energia  é 
respeitado. 
➔ Não  há  nenhuma  assimetria  relativamente  às  duas  polarizações  da  onda 
incidente. 

Seguem-se  imagens  que  ilustram  o  comportamento  de  R  e  T  para  as  duas 


polarizações, em reflexão externa ou interna. 
No  gráfico  inferior,  usa-se  uma  terminologia  diferente,  p  e  s,  para  as 
componentes paralela (p) e perpendicular (s) (advém da terminologia alemã). 

 
 
Em  incidência  normal  não  há  distinção  entre  as  polarizações  paralela  (pois  o 
plano de incidência não está definido) e as duas equações tornam-se idênticas. 
Note-se  que  numa  interface  ar-vidro  normal,  ~4%  do  fluxo  incidente  é  refletido 
–  o  que  explica  a  razão  pela  qual  nós  nos  vemos  “ao  espelho”  no  vidro  de  uma  janela 
normal, desde que a intensidade exterior da luz não seja excessiva. 
 

219 
 
Em incidência normal (ፀ = 0 deg): 

 
 
Em reflexão externa (no ar , com ni = 1): 

5.2. Fenómenos de Volume e Ótica Não Linear 


 
A  grande  diferença  entre  dielétricos  e  metais  é  a  não  existência  ou  existência  de 
eletrões livres, respetivamente. 
 

5.2.1. Dielétricos 
Nos  dielétricos  os  eletrões  estão  ligados,  pelo  que  são 
materiais isolantes que não suportam corrente elétrica. 
 
Os  dielétricos  deixam-se  polarizar  sob a ação de um campo 
elétrico  dando  origem  a  dipolos.  Esta  polarização  interna 
(que  se  pode  traduzir  através  da  deformação  das  nuvens 
eletrónicas  ou  através  da rotação de moléculas polares) cria 
um  campo  interno  que  reduz  o  campo  elétrico  global  no 
interior do dielétrico. 
 
A  compreensão  da  interação  de  uma  onda  luminosa  com  o 
meio  é  feita  através  de  um  modelo  baseado  na  criação  e  na  alteração  das  propriedades 
de  um  conjunto  de  dipolos  elétricos  estabelecidos  em  volume.  Neste  contexto,  é  o 
campo  eléctrico  de  uma  onda  luminosa  que  está  em  causa  e  que  é  responsável  pela 

220 
criação  de  dipolos  e  pela  sua  dinâmica  temporal.luminosa  que  está  em  causa  e  que  é 
responsável pela criação de dipolos e pela sua dinâmica temporal. 

 
A - Átomo com a respetiva nuvem eletrónica e centro de cargas positivo; 
 
B  -  A  ação  do  campo  elétrico  de  uma  onda que se propaga no meio causa a deformação 
da nuvem eletrónica; 
 
C  -  O  centro  de  cargas  positivo  acaba  por  se  distinguir  do  centro  de  cargas  negativo 
(dipolo).  Surge  então  um  momento  dipolar  elétrico  que  varia  ao  longo  do  tempo  de 
acordo com a própria variação do campo elétrico da onda luminosa.  
 
 
 
 
 
 
 
Não esquecer : 
● O campo elétrico de uma onda luminosa varia no tempo e no espaço; 
● Os  dipolos  são,  exclusivamente,  de  natureza  eletrónica  e  os  eletrões  têm  uma 
massa  muito  pequena,  logo  o  dipolo  constituído  vai  seguir,  ao  longo do tempo, a 
própria variação do campo elétrico; 
● Se  o  dipolo  varia  devido  a  uma  maior  ou  menor  separação  dos  centros  de  carga 
positivo  e  negativo,  as  linhas  de  força  do  campo  dipolar  associado  ao  dipolo 
também variam no tempo; 
● As  equações  de  Maxwell  asseguram  que  existindo  uma  variação  do  campo 
elétrico  existirá também uma rotação (rotacional) do campo magnético, ou seja, a 
variabilidade  da  distribuição  do  campo  elétrico  induzido  pela interação do meio 
com o campo elétrico da onda luminosa irá gerar um campo elétrico adicional; 
● Todo  o  ambiente  eletromagnético  no  interior  do  meio  se  altera  com  a 
propagação de uma onda luminosa!!! 
 
 
 
 
 
 

221 
 
 
As propriedades de um meio dielétrico são totalmente descritas através da relação entre 
a  densidade  de  polarização  elétrica  P(r,t)  e  o  campo elétrico E(r,t), ou seja, esta relação 
varia consoante as propriedades físicas dos meios permitindo classificação dos mesmos: 
 
❏ Um meio é linear se P(r,t) e E(r,t) se relacionam linearmente em cada ponto; 
❏ Um meio é homogéneo se a relação entre P(r,t) e E(r,t) não depende de r; 
❏ Um  meio  é  não  dispersivo  se  P(r,t)  apenas  depende  de E(r,t) no mesmo instante 
- é um caso limite; 
❏ Um  meio  é  isótropo  se  a  relação  entre P(r,t) e E(r,t) não depende da direção de E 
- os dois vetores são paralelos. 
 
Qualquer  função  “bem  comportada”  (sem  singularidades,  sem  descontinuidades,  sem 
divergências,  …)  admite  uma  tangente  em  qualquer ponto. Portanto se o campo elétrico 
e  a  sua  gama  de  variação  forem  reduzidos,  então  podemos  linearizar  a  relação  entre 
P(r,t) e E(r,t). 
 
 

5.2.1.1. Princípio da causalidade 


 
A situação relativa ao meio não dispersivo representa um caso limite, ou seja, é 
uma situação não física. A resposta de um meio não pode ser instantânea. Um meio tem 
memória, demora a reagir a um estímulo.  
 
Veja-se o exemplo de de um caso de um meio linear: 

 
Definindo  χ(t′) = 0 se t′ > t   garante-se  que  polarização  que  se  acumula  até  um 
determinado  instante  t   depende  apenas  daquilo  que  se  passou  com  o  campo  até  esse 
instante  e  a  memória  do  sistema  tem  em  conta  os  efeitos  elétricos  anteriores 
produziram  sobre  a  matéria  ( χ(t − t′)E(t′) ).  Quando  expressa  desta  forma,  ε0 χ E , 
entende-se  que  a  densidade  volúmica  de  polarização  é  uma  convolução1  entre  a 
resposta  do  meio  ( ε0 χ )  e  o  campo  elétrico  ( E ).  Logo,  por  se  tratar de uma convolução, 
as  respectivas  transformadas  de  Fourier  (nos  domínios  tempo/frequência) 
multiplicam-se: 
 
 

1
Convolução  -  operador  linear  que,  a  partir  de  duas  funções  dadas,  resulta  numa 
terceira  que  mede  a  soma  do  produto  dessas  funções  ao  longo  ao  longo  da  região 
subentendida  pela  superposição  delas  em  função  do  deslocamento existente entre elas, 
ou seja, que expressa como a forma de uma é modificado pela outra. 

222 
Temos,  portanto,  uma  caraterização  da  polarização  espetral  que  se  obtém 
multiplicando  o  campo  monocromático  por  uma  constante  que  depende  da frequência. 
Trata-se  de  um  modelo  para  meios  dispersivos  para  dipolos  excitados  por  uma  onda 
monocromática, de frequência  ν .   χ(ν)  representa a suscetibilidade elétrica do meio e é 
necessariamente  variável  com  a  frequência  para  se  salvaguardar  o  princípio  da 
causalidade (a resposta do meio tem que seguir as causas e nunca o contrário). 
 

5.2.1.2. Materiais óticos 


 
Para meios lineares, homogéneos e isótropos pode-se considerar a seguinte relação: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Além  disso,  com  as  definições  que  se  seguem  podemos  obter  para  o  índice  de  refração 
uma forma mais próxima da sua explicação física. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
★ CRISTALINO 
 
As  três  componentes da densidade volúmica de polarização são função linear das 
três  componentes  do  campo  elétrico,  pelo  que  não  pode  ser  classificado  como 
meio isótropo (a direção de P(E) depende da direção de E). 
 
 

223 
No  caso  dos  meios  cristalinos  em  a  relação  entre  P  e  E  é  mediada,  não  por  um 
número,  mas  por  uma  matriz  de  números,  ε0 χij .  Como  consequência  a  relação 
entre  os  vetores  de  deslocamento  e  o  campo  elétrico  toma  também  uma  forma 
matricial  através  de  três  equações  lineares  que  relacionam  as  três  componentes 
do  vetor  de  deslocamento  com  as  três  componentes  do  campo  elétrico.  Os 
coeficientes  deste  sistema  de  equações  constituem  a  primitividade  do  meio 
(matriz 3 × 3 ). 
 
Embora  nos  cristais,  a  relação  entre  P  e  E  seja  linear,  é  necessário  considerar  a 
anisotropia  (existência  de  eixos  de  simetria  em  torno  dos  quais  as  propriedades 
são  diferentes  porque  as  configurações  orbitais  são também diferentes). É este o 
princípio de explicação para a birrefringência2 da calcite 
 
 
Na  calcite  os  grupos  C o3   são  paralelos 
entre  si  e  a  extensão  da  nuvem 
eletrónica  a  eles  associada  é  muito 
diferente  caso  seja  considerado o plano 
dos  grupos  carbonato  ou  o  plano 
perpendicular  a  este.  Portanto  se  o 
cristal  de  calcite  interagir  com  uma 
onda  polarizada  com  o  plano  de 
polarização  no  plano  dos  grupos  C o3   , 
o  campo  elétrico  da  onda  vai  dar 
origem  a  dipolos com propriedades que 
são  determinadas  pela  maior  extensão 
dos  orbitais  eletrónicos. Por outro lado, 
se  a  onda  luminosa  estiver  polarizada 
perpendicularmente  ao  plano  dos  grupos  C o3 ,  as  nuvens  eletrónicas  estarão 
muito  mais  confinadas  em  torno  da  posição  central  do  plano  e  os  dipolos 
elétricos  construídos  pelo  campo  elétrico  da  onda  luminosas  possuirão 
propriedades  muito  diferentes.  É  esta  relação  entre  as  direções  de  P  e  de  E  que 
permitem explicar a birrefringência da calcite. 
 
 
Foi  na  calcite  ( C aCo3 )  que  se  observou  pela  primeira 
vez o fenómeno da dupla refração. 
 
 
 

2
Birrefringência - propriedade óptica de um material que possui diferentes índices de 
refração para diferentes direções de propagação da luz.

224 
 

5.2.1.3. Difração: Modelo de Lorentz 


 
Regressando  aos  diplolos,  na 
imagem  está  representado  um 
dipolo  estabelecido  segundo  a 
vertical.  Pode-se  verificar  que 
praticamente  nada  é  emitido 
segundo  o  eixo  do  dipolo  (vertical) 
e  a  energia  é  essencialmente 
emitida  perpendicularmente a este 
mesmo eixo.  
As  setas  pretas  representam  o 
vetor  de  Poynting  (produto 
externo  entre  o  campo elétrico E e 
o  campo  magnético  H)  cujo 
módulo  representa  o  fluxo  de 
energia  /  a  irradiância da onda em 
qualquer  plano  perpendicular  à 
direção de propagação. 
 
 
❖ Campo  próximo  -  a  energia  oscila  em  torno  do  dipolo  tendo  dificuldade  em  se 
escapar para infinito - ondas evanescentes; 
 
❖ Campo longínquo - a energia propaga-se afastando-se do dipolo; 
 
É  devido  a  estas  diferenças  que  se  divide  o  estudo  da  difração  em  três  grandes  zonas: 
campo próximo, campo intermédio e campo longínquo. 
 
As  questões  fundamentais  dos  materiais  prendem-se  com  a  sua  velocidade  de 
propagação  (descrita  fenomenologicamente  pelo  índice  de  refração)  e  com  a  dispersão 
(variação do índice de refração com a cor da radiação / com o comprimento de onda). 
 
 
 
A  dispersão  é  caraterizada  pelo  Número  de  Abbe,  V,  (este  não  tem  nenhuma  base física 
especial,  é  simplesmente  um  indicador  que  ajuda  a  perceber  que  os  vidros  óticos  têm 
propriedades  muito  diferentes  e,  consequentemente,  podem  ser  utilizados  para  a 
compensação de aberrações). 
 
 
 

225 
Os  índices  d,  F  e  C  fazem  parte  de  uma  notação  que  se  refere  às  riscas  espectrais 
facilmente  observáveis  (em  materiais  como  o  Na,  H,  Fe,  Hg,  ...).  A  risca  F  está  associada 
ao  azul,  a  risca  d  ao  amarelo  e  a  risca  C  ao  vermelho.  Quanto  menor  for  a  variação  do 
índice no visível, maior é V. 
Os  fenómenos  simples  apenas  envolvem  a  1ª  derivada  do  índice  de  refração  em  ordem 
ao comprimento de onda. Todavia, a propagação de impulsos ultra-curtos (<ps) em guias 
de  onda  leva  a  uma  difração  à  saída  exigindo  que  tenhamos  também  em  conta  a  2ª 
derivada. 
 
O modelo de Lorentz permite-nos compreender a natureza física da suscetibilidade 
elétrica, χ . 
 
 
 
 
A imagem ao lado demonstra como a 
nuvem eletrónica varia, ao longo do tempo, 
com a variação do campo elétrico da onda 
luminosa. 
 
 
 

A  azul  encontram-se  as  definições  e  a  vermelho  os  respetivos  modelos,  é  do confronto 


entre  estes  que  se  pretende  adquirir  alguma  informação  adicional  relativamente  à 
variação da suscetibilidade com a frequência. 
 
No  contexto  dos  dielétricos,  os  eletrões  encontram-se  ligados,  pelo  que  Lorentz 
assumiu  um  modelo de oscilador harmónico forçado, com atrito, para o movimento dos 
electrões em torno do centro de forças que os mantém ligados, e assumiu também que a 
força  externa  era  harmónica  (o  que  corresponde  à  hipótese  de  uma  onda 
monocromática). 
 
 
 
 
 
 

226 
 
 
A equação geral do movimento de um eletrão num campo elétrico é:

Nesta  equação  encontramos  um  termo  de  aceleração  (termo  quadrático),  um  termo  de 
atrito  (termo  linear)  e  um termo que representa a força de restituição caraterizada pela 
constante  de  restituição  β   e  pela  distância  x   do  eletrão  ao  centro  de  restituição.  O 
conjunto  dos  mesmos  encontra-se  igualado  a  um  termo  que  representa a força externa 
que força o movimento do eletrão com uma frequência ω .

A frequência natural de oscilação do eletrão é dada por ω 0 = (β /m)1/2 e quando a 


frequência da força externa é muito próxima desta frequência natural ocorrem 
fenómenos de absorção, de ressonância... 
 
Portanto, o eletrão, tendo uma massa reduzida, vai seguir instantaneamente a variação 
do campo e a amplitude do movimento é: 
 
 
 
 
 
 
A partir do momento em que temos x0 podemos determinar a densidade de polarização 
dielétrica: 
 
 
 
Como, por outro lado a densidade de polarização deve ser proporcional à intensidade 
do campo elétrico, daqui resulta: 
 
 
 
 
Fazendo as devidas substituições na equação da amplitude do movimento obtemos: 
 
 
 
 
 

227 
 
 
 
Ao  aplicar  as  mudanças  de  variáveis  chegamos  à  conclusão  de  que  χ   se  deixa 
descrever  por  uma  função  complexa  que  admite  uma  parte  real  χ ’  e  uma  parte 
imaginária χ ’’’.  
 
A  parte  imaginária  tem  uma  resposta  em  termos  de  frequência  muito  estreita  (
Δν )  centrada  em  ν 0 ,  pelo  que  é  essencialmente  desprezável  para  frequências  muito 
afastadas da frequência natural do eletrão. 
 
Quanto  à  parte  real,  verifica-se  que  esta  tende  rapidamente  para  0  para 
frequência  superiores  a  ν 0 ,  tem  uma  assíntota  horizontal  para  frequências  bem 
inferiores  a  ν 0   e  tem  uma  variação/oscilação  rápida  centrada  em  ν 0 .  Este 
comportamento  abrupto  está  na  origem  de  fenómenos  como  o  controlo  da 
transparência de um material saturando-o. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Distribuição de Lorentz/Cauchy: 
 
 
 
 
Forma canónica: 
 
 
 
 
Consequências de χ complexo: 
 
● Para meios dispersivos, não magnéticos:  
 
 

228 
Sendo o índice complexo, pode-se representar na forma: 
 
 

● A permitividade elétrica é também complexa ε = ε0 (1 + χ)  


 
● Em luz monocromática, a equação de Helmoltz mantém-se válida, mas com um 
número de ondas k complexo: 
 
 

 
● Como se comportará a Amplitude Complexa? 
 
 
 
 
 
Se α > 0 , a amplitude varia com exp( − 21 αz ) e a irradiância varia de acordo com a 
Lei de Beer: 
 
 
 
 
α(ω) é o coeficiente espetral de absorção (extinção ou atenuação). O espetro de 
absorção é um observável experimental. 
 
β representa o número de ondas, k, e é a constante de propagação, permitindo 
calcular o valor do índice de refração efetivo, n: 
 
 
 
 
A onda desloca-se com velocidade de fase c = c0 /n . 
 
 
Em muitos meios, temos situações extremas, em que a aborção é fraca ou forte, e 
existem fórmulas simplificadas úteis: 
 
Absorção fraca: χ′′ ≪ 1 + χ′ Absorção forte ∣χ′′∣ ≫ ∣1 + χ′∣  
 

229 
Num meio com múltiplas ressonâncias ( ν 0 ), com n2 = εr = 1 + χ , pode-se aplicar 
uma equação como a Equação de Selleier, n(λ) :  
 
 
 
 
 
 
 
Para materiais densos é necessário fazer uma correção ao modelo de Lorentz - .equação 
de Lorentz-Lorenz ou Clausius-Mossotti. É necessário adicionar o campo devido às 
cargas e dipolos da vizinhança ( E despolarização ) , tal que E local = E externo + E despolarização  
 
 
 
 
 
 
 

5.2.2. Metais

Nos  metais  os  eletrões  estão 


livres,  formam  correntes 
elétricas,  intervêm  em 
fenómenos  dissipativos  onde 
há  perca  de  energia  (lei  de 
Ohm)  e  podem  mesmo 
comportar-se  como  “plasmas” 
de  partículas  carregadas,  com 
uma  frequência  de  ressonância 
própria  à  qual  se  chama 
frequência  de  plasma  e  que  vai 
determinar  o  comportamento 
ótico  dos  metais  para  os  vários 
regimes de frequência.  
 
Equações de Maxwell - Metais

230 

Em metais, para ondas monocromáticas, ∂t = iω logo: 

Em  luz  monocromática,  um  metal  é  regido  pelas 


mesmas  equações  de  um  dieléctrico  ( σ = 0 ),  desde  que 
ele  seja  caracterizado  através  de  uma  permitividade 
efetiva: 
 
 
Portanto,  para  ondas  monocromáticas,  E = E 0 eiωt ,   tudo  o 
que  se  passa  com  dielétricos, que se dependa da constante 
dielétrica, εr , passa-se com metais desde que ε → εe .  

5.2.2.1. Modelo de Drude (1900) 


 
● Eletrões pouco ligados, livres; 
● Frequência natural de ressonância é nula ( ω 0 = 0 ); 
● Não há força de restituição ( β = 0 ); 
● Amortecimento por colisões com átomos e fronteiras; 
● Explica os valores DC e AC de σ , efeito de Hall e condutividade térmica. 

Tendo em conta as equações que definem densidade de corrente e considerando que J 


varia à frequência ω do campo elétrico, obtem-se a condutividade estática, σ , para 
ω = 0 e a condutividade dinâmica, σ ω . 
 
 
 
 
 
 
➔ Baixas frequências ( ω / γ <<1), os eletrões seguem o campo. 
➔ Altas frequências ( ω / γ >>1), σ ω é imaginária, a corrente J está em quadratura 
com o campo E, ou seja a diferença de fase entre J e E é de π /2 . 
 
 

231 
Com esta dependência da condutividade, a permitividade elétrica εe é: 
 
Para frequências elevadas, ω >> 1/τ c : 
 
 
 
No vazio, temos a frequência de plasma, ω p e vem: 
 
 
 
 
 
A propagação de ondas num metal depende da relação entre ω , ω p e γ = 1/τ c . 
 
Diferentes metais, com diferentes ω p têm diferentes colorações.

Portanto,  as  contas  com  metais  são  feitas  indo  às  expressões  gerais  dos  dielétricos  e 
particularizando-as para a permitividade efetiva em termos da frequência de plasma. 
 
 
 

Tal como foi esquematizado na figura acima podemos identificar três situações: 
 
● ω > ω p → εe > 0 → temo um β real (onda se propaga-se normalmente), o metal 
comporta-se como um meio “dielétrico”, sem absorção → banda plasmónica 
(Raios X) 
 
Sendo os raios X ondas de frequência elevada relativamente à frequência de 
plasma é natural que estes se propaguem pelos metais com facilidade. 

232 
● ω < ω p → εe < 0 → a permitividade é negativa, o número de ondas, k, é imaginário 
( não temos constante de propagação, não há onda) → banda proibida (espelhos) 
 
Se as ondas não se propagam no material e se elas são incidentes no metal, pelo 
princípio da conservação da energia elas têm que ser refletidas.

● ω = ω p → β = 0 → não há propagação → criação de plasmões 


 
A transição entre os dois regimes anteriores é chamada a banda plasmónica. 
Existe criação de um plasma de electrões livres à superfície, que oscila com o 
campo E da onda incidente. São os chamados plasmões 

5.2.3. Ótica não-linear 

A  imagem  mostra  o  padrão  radiado  por  um 


dipolo. 
 
Se  o  dipolo  oscilar  com  uma  frequência  bem 
definida,  a  frequência  do  campo radiado é igual 
à frequência do dipolo. 
 
Se  a  dinâmica  do  dipolo  for  periódica  mas  não 
harmónica  (ou  seja  não  regida  por  um  seno  ou 
por  um  cosseno),  devido  ao  pequeno  valor  da 
massa  do  electrão,  o  dipolo  segue 
instantaneamente  a  dinâmica  do  campo 
elétrico  que  o  gera.  Pelo  Teorema  de  Fourier,  a  oscilação  do  dipolo  resultará  da 
combinação  de  oscilações  harmónicas,  evidenciando  a  frequência  fundamental  e  os 
múltiplos  da  frequência  fundamental  das  suas  harmónicas.  O  campo  radiado 
manifestará,  portanto,  as  mesmas  frequências  embora  o  seu  peso  relativo  se  possa 
alterar. 
 
 
A  ótica  não-linear  é  o  ramo  da  ótica  que  descreve  os  fenómenos  em  que  os  campos 
magnético  e  elétrico  ocorrem  com  potências/ordens  superiores  a  1.  Tipicamente  a 
não-linearidade  é  observada  apenas  para  intensidades  de  luz  e,  por  consequência, 
intensidades  de  campo  elétrico  muito  altas  (que  é  o  que  se  observa  tipicamente  em 
lasers). 
 
Portanto,  para  grandes  intensidades  do  campo  eléctrico,  os  modelos  simples  baseados 
no  oscilador  harmónico  deixam  de  ser  aplicáveis.  No  entanto,  enquanto  as  cargas  se 
mantiverem  ligadas,  podemos  sempre  pensar  em  dipolos  em  oscilação  ainda  que  não 
harmónica. 

233 
 
Uma  forma  de  se  introduzirem  não-linearidades  na  resposta  dipolar  do  meio,  é 
definindo  a  dinâmica  dipolar  por  termos  de  ordem  mais  elevada,  que  dependam  das 
várias  potências  da  força  eléctrica  que  se  exerce  sobre  os electrões na constituição dos 
dipolos em volume. 
 
Para  campos  elétricos  luminosos  que  não  possam  ser  considerados  pequenos 
relativamente  ao  campo  atómico  do  átomo  de  hidrogénio  ( 10+12 V/m)  utiliza-se  o 
seguinte modelo: 
 
 
 
 
 
 
 
Note-se  que  o  valor  reduzido  dos  coeficientes  não-lineares  (d e   χ(3) ) não impede que a 
2º  ou  a  3º  parcelas  tomem  valores  significativos  para  os  valores  de  campos  eléctricos 
que  se  podem  obter  nos  volumes  focais  de  feixe  de  laser  focados  tanto  em  regime 
contínuo como em modo pulsado ultra-curto com impulsos da ordem de ps ou fs. 
 
Embora  os  campos  luminosos  se  aproximem  do  campo  eléctrico sofrido por um eletrão 
no  átomo  de  H  ( 10+12 V/m),  enquanto  estes  valores  forem  inferiores  a  este  limiar,  o 
campo  elétrico  externo  não  será suficiente para o ionizar (destruindo estruturalmente a 
matéria), conduzindo antes a uma oscilação forçada e pouco harmónica. 
 
Em  particular,  os  meios  em  que a densidade de polarização (P) depende do quadrado ou 
do  cubo  do  campo  elétrico  (E)  permitem  compreender  muitos  fenómenos  óticos.  Isto 
porque  nestas situações há interação não linear, o material tem uma resposta não linear, 
a  frequência  da  luz  deixa  de  ser um invariante e passa a ser possível que a luz controle 
a luz através do meio. 
 
Vejamos alguns exemplos dos fenómenos que podemos observar em meios não-lineares 
de 2º ordem:: 
 
 
 
 
 
 
 
Graficamente,  a  relação  P(E)  de  segunda  ordem  pode  ser  representada  por  uma 
parábola  e  o  feixe  resultante  será  o  resultado  da  inserção  do  campo  elétrico  incidente 
nesta “função de transferência”. 
 

234 
Recordemos  que  um  sinal  descrito 
diretamente  por  um  cosseno  quadrado  pode 
ser  traduzido  pela  sobreposição  de  um  sinal 
constante  com  um  sinal  de  frequência  dupla 
(2º harmónica). 
 
 
★ Geração de harmónicas 
 
A  imagem  abaixo  é  uma  esquematização  da  geração  de  uma  onda  de  2º  ordem. 
Um  campo  elétrico  que  oscila  em  torno  de  0  com  uma  frequência  angular  ω  
interage  com  um meio ótico não-linear de 2º ordem. Desta interação resulta uma 
variação  da  polarização  não  linear  de  frequência  2ω   e,  visto  que  a  parábola  se 
encontra  acima  do  eixo  dos  E,  esta será sempre positiva ao longo do tempo. Este 
sinal  possuirá  um  valor  médio  não nulo e portanto poderá ser decomposto numa 
componente  contínua  (dc)  com  ω = 0   e  numa  componente  alternada  com 
frequência angular 2ω que tanto admite valores positivos como negativos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
★ Soma ou diferença de frequências 
 
A  soma  ou  diferença  de  frequências  é  um  processo  ótico  não  linear  de  segunda 
ordem  em  que  a  frequência  e  direção  do  feixe  resultante  provém  da  soma  ou 
diferença,  respetivamente,  das  frequências  e  vetores  direcionais  dos  feixes 
incidentes. 
 
 
 
 
A  imagem  abaixo  ilustra  a  soma  de  dois  feixes  laser  de  comprimentos  de  onda 
λ1 = 1, 06μm   e  λ2 = 10, 6μm ,  logo  o  feixe resultante terá um comprimento de onda 
λ3 −1 = λ1 −1 + λ2 −1 = 0, 96μm . 

235 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
★ Efeito eletro-óptico 
 
Se  polarizarmos  o  material  com  um campo de uma onda,  E (ω) , e com um campo 
estático,  E (0) ,  obtemos  o  efeito  electro-óptico,  que  permite  controlar 
“instantaneamente”  o  valor  do  índice  através  de  uma  tensão  eléctrica aplicada, e 
criar  ou  alterar  a  birrefringência  de  cristais  fazendo  com  que  o  seu 
comportamento seja sensível ao estado de polarização da onda. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vejamos alguns exemplos dos fenómenos observáveis em meios não-lineares de 3º 
ordem: 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recordemos  que  a  expressão  do  cosseno  ao 
cubo  se  pode  decompor  num  termo  de tripla 

236 
frequência (3º harmónica) e ainda num termo de igual à inicial. 
 
 
★ Variação  do  índice  de  refracção  de  um  meio  com  a  intensidade  da  onda  que 
nele se propaga 
 
Efeito  de  Kerr  -  o  índice  é  perturbado  proporcionalmente  à  irradiância  local  do 
feixe (de particular relevância em guias de onda e em fibras ópticas) 
 
 
 
 
 
 
Portanto,  a  variação do índice de refração depende da constante não-linear de 3º 
ordem  ( χ -  susceptibilidade  elétrica),  depende  da  impedância  ótica  do meio ( η ) 
e ainda do índice de refração ( n ). 
 
 
★ Auto-modulação da fase 
 
Se  o  índice  de  refração  pode  variar  por  efeito de Kerr, se iluminarmos o material 
com  uma  onda  gaussiana  que  é  mais  intensa  no  centro  que  na  periferia,  vamos 
modular  o  valor  do  índice  de  uma  forma  mais  significativa  no  eixo  do  que  na 
periferia  e,  portanto,  podemos  constituir  lentes  que  alteram  a  convergência  ou 
divergência de um feixe. 
 
A  este  processo  chamamos  de  auto-modulação  da  fase  uma  vez  que  temos  a 
intensidade  da  onda  a  determinar  as  superfícies  de  igual  fase  da  onda  enquanto 
ela atravessa o meio não-linear. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
★ Geração de 3º harmónica 
 
A  geração  de  3º  harmónica  decorre  diretamente  da  identidade  trigonométrica 
que  dita  que  um  feixe  monocromático  de  frequência  ω   ,  ao  atravessar  um  meio 

237 
não-linear  de  3º  ordem,  se  decompõe  em  duas  componentes  com  frequências 
3ω e ω .  
 
 
 
Com  isto  é  possível,  com  lasers  no  IR,  gerar  radiação  coerente  no  UV  (domínio 
em  que  é  difícil constituir lasers, por ser difícil encontrar materiais metaestáveis, 
isto  é,  com  níveis  excitados  de  vida  média  longa  de modo a garantir que o ganho 
é suficiente). 
 
 
★ Geração do super-contínuo 
 
É  possível  a  partir  de  um  impulso  de  laser  com  uma  frequência  muito  bem 
definida gerar um espetro contínuo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
★ Espelhos de fase conjugada 
 
É  possível,  criando  redes  de  difração  em  materiais  não  lineares  de  3º  ordem 
constituir os chamados espelhos de face conjugada. Estes permitem implementar 
a  função  espelho  garantindo  que  a  onda  refletida  emerge  segundo  a  direção  da 
onda incidente recuperando todo o seu percurso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

238 
 
 
 
 
★ Compensação  de  deformações  de  fase  induzidas  pelo  meio  na  onda 
(turbulência atmosférica, efeitos térmicos, …) 
 
Os  espelhos  de  fase  conjugada  permitem  compensar  as  deformações  da  fase 
induzidas por perturbações não homogéneas do meio (turbulência). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

239 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 

240 

Você também pode gostar