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ONDAS ELETROMAGNÉTICAS
E ÓTICA
Sebenta Teórica
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Departamento de Física
Engenharia Biomédica e Biofísica
2019-2020
Diana Aires
Mariana A. de Oliveira
Raquel Sales Rebordão
Nota Introdutória
O presente documento foi realizado no âmbito de facilitar o estudo, tendo por
base:
★ Apontamentos das aulas teóricas e PowerPoints do professor José Manuel
Rebordão
★ Fundamentals Of Photonics, Bahaa E. A. Saleh, Malvin Carl Teich
★ Óptica Moderna – Fundamentos e Aplicações, S. C. Zilio
★ Optics, Hecht F, 4th Edition
★ Handbook of Optics, Bass M, 3rd Edition
★ Artigos da Wikipédia
★ Outras fontes disponíveis na internet.
Dada a sua natureza, esta sebenta carece de revisão por terceiros, sendo passível
de acarretar alguns erros.
Esperemos que ajude
Bom estudo!
Mariana & Raquel & Diana
Observação: Ao longo da sebenta, principalmente no capítulo de Interferometria, é utilizada a palavra
“percas”, conforme o professor utiliza nos documentos de suporte às aulas.
Junho de 2020
1
Índice
1. Ótica Geométrica 6
1.1. Postulados 6
1.2. Reflexão 6
1.2.1. Leis da Reflexão 7
1.3.2. Espelhos 8
1.3. Refração 10
1.3.1. Leis da Refração 10
1.4. Prismas 11
1.5.1 Superfícies esféricas 13
1.5.2 Lentes delgadas no ar (n1=n2=1) 15
1.5.3 Sinal da Potência e Natureza dos Focos 16
1.5.4 Convenção de sinais 17
1.5.5 Ampliação longitudinal/axial 19
1.5.6. Sistemas Óticos 20
1.5.6.1. Pontos Cardinais 20
1.5.6.2 Aproximação paraxial 22
1.5.6.3. Dioptria e Dioptros 23
1.5.6.4. Sistemas Afocais 23
1.6. Aberrações 24
1.6.1 Aberração Esférica (AE) 26
1.6.3 Astigmatismo 30
1.6.4 Curvatura de Campo (Petzval) 33
1.6.5 Distorção 35
1.6.6 Aberrações: principais dependências 37
1.6.7 Aberrações: frentes de onda 37
1.6.8 Aberração Cromática 39
1.7. Olho e Visão 40
1.7.1. Overview 40
1.7.2. Erros de Refração e Compensação 49
1.8. Conceitos de Sistema 53
1.8.1. Stop de Abertura e Pupilas 53
1.8.2. Lentes de Campo (field lens) 59
1.8.3 Vinhetagem 60
1.8.4. Número-f / F-number (f/#) 61
1.8.5. Profundidade de Campo 62
1.9. Instrumentos Óticos 64
1.9.1. Microscópios 67
2
2.1.1. Equações de Maxwell 74
2.1.2. Equação de Ondas 75
2.1.2.1. Equação de Ondas no Vazio 75
2.1.3. Postulados da Ótica Ondulatória 76
2.1.4. Irradiância, Potência e Energia 79
2.1.5. Resolução da Equação de Helmholtz 80
2.1.6. Ondas Planas 81
2.1.7. Ondas Esféricas 82
2.1.8. Ondas Paraboloidais 83
2.1.9. Ondas Paraxiais 84
2.2. Parte II - Feixes 86
2.2.1. Propriedades dos Feixes Gaussianos 88
2.2.2 Feixes de Hermite-Gauss 95
2.2.3 Feixes de Languerre-Gauss 99
2.2.4 Feixes de Bessel 100
3. Interferometria 103
3.1. Exemplos e Aplicações 105
3.2 Interferências 111
3.2.1. Ondas Esféricas Monocromáticas 114
3.2.1.1. Interferência entre ondas planas 116
3.2.1.2. Interferência entre ondas planas e esféricas 117
3.2.1.3. Interferência entre ondas esféricas 118
3.2.1.4. Interferência entre ondas com diferentes frequências 118
3.2.1.5. Pente de frequências 119
3.2.2. Interferência entre múltiplas ondas monocromáticas 120
3.2.2.1 Sem Percas 120
3.2.2.2. Com Percas 125
3.3. Interferómetros 132
3.3.1. Young 132
3.3.2. Interferómetro de Fizeau 135
3.3.2.1. Anéis de Newton 138
3.3.3. Interferómetro de Michelson 138
3.3.3.1. Frequency Sweeping Interferometry (FSI) 139
3.3.3.2. Interferometria com luz branca 140
3.3.3.3. Optical Coherence Tomography (OCT) 141
3.3.3.4. Espectroscopia de Transformada de Fourier 142
3.3.4. Interferómetro de Twyman-Green 142
3.3.5. Interferómetro de Mach-Zehnder 143
3.4. Conceitos complementares 144
3.4.1. Phase-Shifting Interferometry (PSI) 144
3.4.2. Phase Unwrapping 145
3
3.4.3. Localização das franjas 146
3.4.4. Coerência 147
4
5.1.5. Equações de Fresnel 210
5.1.5.2. Polarização Perpendicular 211
5.1.5.3. Polarização Paralela 212
5.1.5.4. Meios Dielétricos 212
5.1.5.5.Ângulo de Brewster 213
5.1.6. Reflexão Externa 214
5.1.7. Reflexão Interna 215
5.1.8.Reflexão Interna Total 216
5.1.9. Ondas EM e Radiometria 216
5.1.10. Reflectância e Transmitância 217
5.2. Fenómenos de Volume e Ótica Não Linear 220
5.2.1. Dielétricos 220
5.2.1.1. Princípio da causalidade 222
5.2.1.2. Materiais óticos 223
5.2.1.3. Difração: Modelo de Lorentz 225
5.2.2. Metais 230
5.2.2.1. Modelo de Drude (1900) 231
5.2.3. Ótica não-linear 233
5
1. Ótica Geométrica
1.1. Postulados
A ótica geométrica rege-se pelos seguintes postulados:
➔ A luz propaga-se sobre a forma de raios luminosos num espaço tridimensional;
➔ O meio é caracterizado por um índice de refração, n=c/v
➔ O tempo de propagação de uma distância d é d/v =nd/c. O produto nd define o
percurso ótico. Em meios não uniformes, o percurso ótico entre 2 pontos A e B é
dado por
B
P ercurso ótico = ∫ n(r)ds
A
➔ Princípio de Fermat: Os raios luminosos seguem a trajetória entre os 2 pontos, A
e B, que minimiza o tempo do percurso, minimizando portanto o percurso ótico:
B
δ ∫ n(r)ds = 0
A
Impactos deste princípio:
Dedução simples das seguintes leis:
❏ Lei da Reflexão
❏ Lei da Refração
➔ Princípio do Tempo Mínimo
➔ Princípio de Huygens - aplica-se a fontes de ondas geométricas. Gerador de
superfícies através da envolvente de uma família multi-paramétrica de
superfícies.
Impacto: generalização para a ótica ondulatória.
A óptica geométrica rege-se pelos seguintes princípios.
★ Propagação retilínea;
★ Independência entre raios luminosos;
★ Reversividade;
★ Mudança de direção quando um raio encontra uma superfície que separa
dois meios cujo índice de refração é diferente.
1.2. Reflexão
A propagação retilínea da luz pode ser perturbada por obstáculos que obrigam os
raios luminosos a desviarem-se. A reflexão consiste então na mudança da direção de
propagação de uma onda (desde que o ângulo de incidência não seja 0º) - ou seja, a luz
incide numa superfície refletora e é reenviada pela mesma.
É de notar que se a interface estiver entre um dielétrico e um condutor, a fase
da onda refletida é mantida, de outro modo, se a interface estiver entre dois
dielétricos a fase pode ser retida ou ser invertida, dependendo dos índices de refração.
6
A reflexão da luz pode ser:
Reflexão regular - Quando a luz é refletida numa superfície lisa e polida, ela
reflete-se numa só direção. Por exemplo, quando vemos a nossa imagem num espelho.
Reflexão irregular (Difusão da luz) - Quando a luz é refletida em direções
diferentes, devido ao facto da superfície de reflexão ser rugosa. Quando por exemplo
observamos uma imagem refletida na água, em que a superfície da água não está
completamente lisa
A reflexão rege-se por 2 leis:
1ª Lei da Reflexão - O raio incidente, o raio refletido e a normal ao espelho no
ponto de incidência estão no mesmo plano (são coplanares).
2ª Lei da Reflexão - O ângulo de incidência é igual ao ângulo de reflexão
(decorre do princípio de Fermat).
A seguinte figura permite visualizar as duas leis da reflexão.
7
A reflexão luminosa é a base da construção e utilização dos espelhos. Um espelho
fornece o modelo mais comum para a reflexão de luz especular e consiste tipicamente
numa folha de vidro com um revestimento metálico, onde a reflexão ocorre realmente.
Reflexão em espelhos planos:
● O vértice do feixe objeto, P1, é real.
● O vértice do feixe imagem, P2, é virtual.
● P2 é a imagem de P1
Neste caso, ambos os meios têm índice de
refração 1 (ar).
1.3.2. Espelhos
Considere-se a seguinte imagem, representativa de um espelho esférico:
8
Um espelho esférico pode ser côncavo ou convexo:
Quanto à localização da imagem:
Fórmulas importantes relativas a espelhos:
Onde:
9
É de salientar que a equação dos planos conjugados (geral para qualquer sistema
ótico) permite saber a posição axial da imagem relativamente aos dioptros e a fórmula
da potência ótica refere-se à potência de um dioptro.
Para operar com fórmulas que concernem os
espelhos, é necessário obedecer a algumas Regras de Sinais:
➔ Posições reais: valores positivos
➔ Posições virtuais: valores negativos
➔ Objetos/Imagens direitos: valores positivos
➔ Objetos/Imagens invertidos: objetos negativos
➔ Espelhos Côncavos: R<0
➔ Espelhos Convexos: R>0
1.3. Refração
A refração consiste na alteração da direção de uma onda ao mudar o meio em
que se propaga (ou quando o meio muda gradualmente).
Nesta mudança de meios a frequência da onda luminosa não é alterada, embora
sua velocidade e o seu comprimento de onda sejam. Com a alteração da velocidade de
propagação ocorre um desvio da direção original.
O quão uma onda será refratada é determinado pela alteração na velocidade de
propagação da onda e pela direção inicial da mesma.
A refração rege-se por 2 leis:
1ª Lei da Refração - o raio incidente (raio 1), o raio refratado (raio 2) e a reta
normal ao ponto de incidência (reta tracejada) estão contidos no mesmo plano ( que no
caso do desenho abaixo é o plano da folha):
10
2ª Lei da Refração (Lei de Snell) - para a luz, a refração obedece à Lei de
Snell-Descartes (decorrente do Princípio de Fermat):
n1 sinθ2
n1 sinθ1 = n2 sinθ2 ⇒ n2 = sinθ1
A Reflexão Total da Luz ocorre para ângulos superiores ao ângulo crítico. Neste caso,
não há refração. Para o cálculo do ângulo crítico, fazemos o θ2 = 90º :
n2
n1 sinθc = n2 sin (90º) ⇒ sinθc = n1
1.4. Prismas
Em óptica, um prisma é um elemento transparente com superfícies retas e
polidas que refratam a luz. Os ângulos exatos entre as superfícies dependem da
aplicação. O formato geométrico tradicional é o prisma triangular com base
quadrangular e lados triangulares - daí o emprego da palavra "prisma".
Os prismas são tipicamente feitos de vidro, mas também podem ser feitos de
qualquer material transparente aos comprimentos de onda ao qual são designados
11
Se, para um dado raio incidente, se rodar o prisma, o
desvio vai diminuindo até um mínimo, após o qual volta a
aumentar.
Toda a parte do prisma que não possa ser útil é cortada para minimizar a sua
massa.
As redes de difração atuam como prismas.
Filmes dicróicos: permitem definir quais os raios que são transmitidos e quais os
que são refletidos.
1.5. Lentes
Lente: duas superfícies normalmente esféricas
que delimitam um volume bem definido de um material
com um índice de refração n.
12
As lentes designam-se através concavidade e convexidade das duas superfícies.
Consoante o sinal do raio de curvatura, as lentes vão ter diferentes tipos de
propriedades, nomeadamente de potência óptica.
Uma lente é caracterizada pela sua espessura (representado em cima por delta).
Podem fazer-se dois tipos de abordagens: uma tendo em conta a espessura e outra em
que pode se considerada desprezável: a lente delgada. Numa maneira geral é necessário
ter em conta a espessura física da lente porque a espessura tem efeitos significativos.
13
Traçando raios e calculando ângulos nas condições da aproximação paraxial,
todos os raios se intersectam em P2, a imagem de P1. Tal como nos espelhos, as contas
dão-nos simultaneamente a localização axial do plano imagem e a distância transversa
da imagem ao eixo.
Potência: capacidade de um sistema ótico de alterar a convergência (ou
divergência) de um feixe.
Tendo em conta as equações acima, a equação dos planos conjugados e a da
potência ótica, podemos comparar vários planos.
Quanto mais
semelhantes os meios são, ou
seja, têm valores de índice de refração mais próximos, menor a potência.
A equação dos planos conjugados dá-nos:
● posição axial da imagem relativamente ao dioptro
● posição transversa da imagem do ponto relativamente ao eixo
z2
A ampliação transversa é proporcional a − z1
(como nos espelhos) mas é
corrigida pela razão entre os índices de refração:
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Através da equação dos planos conjugados conseguimos obter duas situações
interessantes:
● Objetos no infinito têm a sua imagem no plano focal imagem ( f i )
● Objetos no plano focal objeto ( f o ) têm a sua imagem no infinito
Relembrar que uma lente é constituída por dois dioptros.
O que caracteriza uma lente:
● índice de refração do material (tipicamente um vidro um plástico)
● raios de curvatura dos dois dioptros
● espessura axial
● índice de refração do espaço objeto
● índice de refração do espaço imagem
De notar que no exemplo em cima, o raio de curvatura R1 é positivo pois o centro de
curvatura está à direita do vértice e o raio de curvatura R2 é negativo.
Lente delgada no ar:
● espessura é desprezada
● índice de refração do espaço objeto/imagem é 1, pois é uma lente no ar
Tendo em conta isto, podemos obter as seguintes expressões apenas válidas para
lentes delgadas no ar:
1 1 1 1 z2
K= f
= z1
+ z2 f
= (n − 1)( R1 − 1
R2
) y 2 =− y
z1 1
1
15
1.5.3 Sinal da Potência e Natureza dos Focos
● Se K > 0, F e F´são ambos reais.
● Se K < 0, F e F´são ambos virtuais
Em seguida serão apresentadas as várias situações para que se possa perceber
melhor o porquê das frases acima.
Foco Imagem
K > 0 - Lente Positiva
Feixe de raios paralelos incide na lente, sendo transformado num feixe de raios
que converge para um ponto: foco imagem (representado por F’ na imagem) que é real.
K < 0 - Lente Negativa
Feixe de raios paralelos incide na lente, sendo transformado num feixe
divergente, com o seu vértice no foco imagem que é virtual.
Foco objeto
K > 0 - Lente Positiva
O foco objeto é um ponto à esquerda da lente em que, se colocarmos uma fonte
de energia pontual, temos a garantia que o feixe transmitido pela lente dá um feixe
colimado. O objeto é real.
16
K < 0 - Lente Negativa
Para constituirmos um feixe paralelo à saída, é necessário um feixe que convirja
para o ponto F (foco objeto). Mas neste caso o ponto foco objeto é manifestamente
virtual. A imagem deste objeto virtual colocado no foco objeto vai se formar no infinito.
Conclusão:
● Lente Positiva: foco imagem e foco objeto reais
● Lente Negativa: foco imagem e foco objeto virtuais
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Imagens de Objetos Reais (no ar)
Objeto Imagem - Potência Positiva
So = f ± ∞
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Real vs Virtual
Um objeto virtual tem sempre na sua origem um objeto real. Uma forma de
gerar um objeto virtual é juntar a primeira e segunda/quarta situações.
As questões de real/virtual, podem agora ser mais bem entendidas com a
formação de imagem através de uma lente simples. O conceito de “objeto virtual” tem de
ser sempre entendido na perspectiva de uma lente específica.
19
conjugados, M variará ainda mais rapidamente e será sempre negativo. (m é a ampliação
transversa)
20
Existem 3 pares de pontos cardinais:
● Pontos Focais F e F’
● Pontos Nodais N e N’
● Pontos Principais H e H’
Situação de Focagem:
Plano principal imagem (H’)
Ponto principal imagem
Situação de Colimação:
Plano principal objeto (H)
Ponto principal objeto
Conhecendo 2 pares, podemos
facilmente obter o terceiro.
A potência da lente (a sua capacidade
para alterar a convergência ou divergência de um feixe) pode ser avaliada pela distância
de F’ a H’ - distância focal imagem, f’.
É de notar que nada implica que f=f’. Aliás, no olho humano, esta igualdade não se
verifica.
Com os pontos cardinais, definem-se duas distâncias efetivas relevantes:
Distância focal objeto efetiva: f (distância entre H e F)
Distância focal imagem efetiva: f’ (entre H’ e F’)
Podemos recuperar algumas fórmulas matemáticas já abordadas, agora à luz dos
pontos cardinais:
n n′
Equação dos planos conjugados : so + si =K
n′
Potência ótica (é um invariante ótico): K= n
f = f′
n l′ n1 si
Ampliação transversa: m = M T =− n′ l =− n2 so
21
1.5.6.2 Aproximação paraxial
Na ótica geométrica, a aproximação paraxial é uma aproximação de pequenos
ângulos, usado na óptica gaussiana e no ray tracing quando o raio passa por um sistema
ótico.
Um raio ou feixe paraxial é um raio que faz um pequeno ângulo com o eixo
óptico do sistema durante todo o trajeto por meio deste. Isto significa que, em qualquer
ponto do sistema óptico, teremos um pequeno ângulo do raio em relação ao eixo
óptico.Tendo em vista esta propriedade, temos três importantes aproximações:
22
1.5.6.3. Dioptria e Dioptros
Dioptria (D)
A dioptria é a unidade de medida da potência (K). É calculada através do metro e
não tem “subdivisões”.
Invariante ótico (ex: potência ótica): quantidade que caracteriza um sistema
ótico, independentemente do espaço em que é calculada.
Dioptro
Relembrar que um dioptro é a superfície de descontinuidade entre dois meios
com diferentes índices de refração.
Pontos cardinais de um dioptro
Para dioptros ou espelhos (simples), os Planos Principais coincidem e são
tangentes ao vértice da superfície.
Para localizar os pontos nodais, pensem na única situação em que não existe
deflexão angular, e que envolve o centro de curvatura C do dioptro ou do espelho:
apenas um raio orientado para C não sofre deflexão. Os dois pontos nodais
encontram-se, portanto, no centro de curvatura da superfície.
Em óptica, um sistema afocal (sem sistema focal) é aquele cuja distância focal é
infinita. Nestes sistemas não conseguimos saber a posição dos pontos principais.
Um sistema diz-se afocal se:
➔ K=0 dioptrias
➔ F ou F’ no infinito
➔ H ou H’ no infinito
Este tipo de sistema pode ser criada com um 2 elementos ópticos, onde a
distância entre os elementos é igual à soma dos de cada elemento de distância focal:
F ′1 = F 2 ou f ′1 + f ′2 = d
Aplicações:
● Constituição de sistemas que “entreguem” um feixe luminoso ao olho -
criando um feixe colimado na retina (microscópios, telescópios,
binóculos…)
● Alteração do diâmetro de feixes (laser)
● Propagação de feixes a grandes distâncias
23
Quando um sistema é afocal, a equação dos planos conjugados não se consegue
aplicar ao sistema inteiro. Tem de ser aplicada sequencialmente, às partes que o
compõem.
Para duas lentes separadas de d = f 1 + f 2 , conclui-se facilmente que, seja qual for
a posição do objeto, a ampliação transversa é constante e igual a:
Um conceito importante é o de Ampliação
Angular. Dois objetos no infinito separados por um
ângulo θ vão constituir imagens no plano focal
separadas lateralmente de:
x = f ′1 tanθ
Se θ for pequeno, x ≈ f ′1 θ e a distância focal
representa o fator de escala que relaciona o observável no sensor e os ângulos
no campo angular do instrumento.
1.6. Aberrações
Sistemas óticos reais (não ideais)
A aproximação paraxial deixa de ser válida quando:
● o objeto se afasta do eixo
● diâmetro da lente aumenta
● os ângulos de incidência aumentam
Feixes cónicos
● vértice bem definido, associados a objetos pontuais
● contribuem para a mancha luminosa no plano imagem
● representados mentalmente por cones (conjunto de secções planas que
passam pelo eixo)
● objetos pontuais no infinito são representados por cilindros (cones com o
vértice muito afastado)
Nas aberrações, os raios luminosos provenientes de um feixe cónico:
● não se intersetam num único ponto
● intersetam-se, mas no sítio errado
24
Exemplo - Olho Humano
À medida que o diâmetro da pupila aumenta, a qualidade da imagem na retina
degrada-se significativamente tanto em extensão (dimensões) como em estrutura.
O número-f (ou f/#) da lente representa a razão f/D, em que D é o diâmetro da
lente. Quanto menor for o f/# mais aberta é a lente, maior é o seu diâmetro de
captação da luz. De um modo geral, a imagem degrada-se à medida que o objecto se
afasta do eixo, e melhora quando o diâmetro diminui (f/# aumenta).
Tipos de Aberrações
Nota: as aberrações classificam-se da mesma forma para imagens ópticas ou
electrónicas. Em microscopia electrónica, as lentes são implementadas com campos magnéticos
que deflectem os electrões, mas as aberrações definem-se do mesmo modo, embora numa escala
muito mais reduzida, pois o comprimento de onda dos feixes de electrões é cerca de 1000x
menor.
25
Esta imagem representa a variedade de manchas
luminosas em sistemas que tenham, em
diferentes proporções, para luz monocromática.
Um sistema real manifesta-as todas em
conjunto, “aditivamente”.
As aberrações podem ser quantificadas de várias formas. No diagrama acima, é
medido o desvio máximo da frente de onda geométrica real relativamente à frente de
onda geométrica ideal prevista com as equações e conceitos válidos no âmbito da
aproximação paraxial. Este desvio é tipicamente medido em termos de comprimento de
onda da luz no meio. O 1º valor refere-se à aberração pura no vértice mais próximo.
Os raios paraxiais focam num Foco Imagem (conceito paraxial), representado
pela interseção dos raios azuis com o eixo ótico.
Os raios vermelhos representam o cilindro que incide mesmo no bordo da lente,
estes vão intersetar o eixo, neste caso por ser uma lente positiva, antes do foco paraxial
- o chamado Foco Marginal.
Há um plano onde a dispersão transversa dos raios é mínima (o cone marginal
interseta o “cone” paraxial). Nesse plano, temos um círculo de confusão mínima. É aqui
que colocamos o sensor para termos imagens aceitáveis. Ao fazer isso, estamos a
colocar deliberadamente o sensor fora do plano imagem paraxial, violando a EPC.
Quando a lente tem AE há dispersão da luz no plano imagem. Este tipo de
aberração é inevitável em lentes simples com dioptros esféricos. Pode ser compensada
com superfícies asféricas ou com pares de lentes (de materiais diferentes, tipicamente
26
+/-). É também possível otimizar o desenho de uma lente de modo a reduzir a
quantidade de aberração.
Quantificação da Aberração Esférica:
● Aberração Transversa - Extensão transversal dos raios luminosos (mais
frequente) medida pela interseção dos raios marginais relativamente ao
eixo
● Aberração Longitudinal - dá-nos a distância entre o foco marginal e o
foco paraxial
A AE varia com o cubo da distância dos raios ao eixo. Por isso, a AE toma valores
controlados com valores pequenos (perto do eixo), mas dispara à medida que o diâmetro
da lente aumenta.
Cáustica
Uma cáustica é a superfície dos raios de luz refletidos ou
refratados por uma superfície curva ao objeto, ou a projeção dessa
superfície de raios em outra superfície. É um fenómeno diretamente
depende das AE pode ocorrer com lentes ou espelhos. A cáustica
aproxima-se de uma folha cónica, um pouco arredondada. Sobre a
cáustica, a intensidade luminosa é mais elevada, pois a “densidade” de raios luminosos
é maior.
As franjas escuras que se vêm em algumas imagens de AE não são explicáveis em
OG. Pertencem ao padrão de difração, pois o laser é uma fonte monocromática. Os
efeitos da AE não dependem da posição do objeto no campo.
Overcorrected e Undercorrected
Apresentaremos duas lentes positivas mas com diferentes formas. Apesar de
terem a mesma potência ótica, introduzem diferentes quantidades de Aberração
Esférica (apreciadas pela “extensão” do volume focal).
Lente positiva biconvexa - AE é menor. A deflexão angular total é repartida pela
primeira e segunda superfícies, consequentemente, os ângulos de incidência na
primeira e segunda superfície são menores. Como podemos ver na imagem, os raios
marginais intersetam o eixo depois do foco paraxial, daí o termo overcorrected.
27
Lente plano-convexa - AE é maior. A face plana não participa na deflexão
angular. Todo o trabalho de focalização é da responsabilidade do 2º dioptro esférico, e
os ângulos de incidência são maiores. A aproximação paraxial é mais intensamente
violada, e a qualidade da imagem diminui. Se invertêssemos a lente, pondo a parte plana
para o lado do foco, a situação seria mais vantajosa.
Um dos princípios práticos para a construção de sistemas é garantir que a
deflexão angular que queremos que o sistema ótico faça sobre um feixe que vem do
objeto, seja o mais possível repartida, com o máximo de equidade por todos os dioptros
que constituem o sistema.
1.6.2 Coma
Existe apenas para objectos fora do eixo. O feixe incidente imagina-se como um
cone oblíquo, com vértice no objecto e base no 1º dioptro do sistema óptico. Há
assimetria na distribuição dos ângulos de incidência que origina uma mancha tão
inconveniente em todas as aplicações. No coma, é importante agregarmos os raios por
folhas cónicas, com vértice no objecto.
O alvo é colocado à distância prevista pela EPC (no plano imagem paraxial).
1. É traçado o raio que passa pelos pontos nodais e que permite identificar
no alvo a posição imagem paraxial e que está de acordo com o valor da
ampliação transversa.
2. É traçado um conjunto de raios paraxiais em torno do raio anterior, e que
se apoiam numa folha cónica estreita. (Reparem que as interseções destes
28
raios com o plano imagem paraxial formam uma circunferência cujo
centro não é a imagem paraxial… Há um desvio.)
3. São traçados mais raios sobre diferentes folhas cónicas e o efeito
amplia-se
As circunferências são progressivamente maiores e o seu centro afasta-se cada
vez mais da posição da imagem paraxial. Quando todos os raios são traçados obtemos
um cone oblíquo com vértice na imagem paraxial, e com a forma de um cometa, com
um núcleo muito intenso e uma grande cauda com uma densidade de energia
decrescente.
O coma é uma aberração complicada. A situação que está abaixo representada é
um espelho que recebe um feixe de raios paralelos provenientes de um objeto fora do
eixo.
Temos várias circunferências associadas às situações 1, 2 e 3. Estas situações são
associadas a folhas cilíndricas de raios que intersetam o espelho a diferentes distâncias
ao eixo. À medida que z (distância ao eixo) aumenta, vamos tendo circunferências com
raios ( R ) e distâncias da imagem paraxial ( Δ ) progressivamente maiores.
O raio (R) destas circunferências é diretamente proporcional a h (medida do
desvio lateral do objeto em relação ao eixo) e varia quadraticamente com z . O 2f 2
funciona apenas como fator de escala. O coma (diâmetro destas circunferências) é tanto
maior quanto maior a distância do objeto ao eixo e varia quadraticamente com o
diâmetro da lente. A equação Δ = R diz-nos que a distância do centro da circunferência
em relação à imagem paraxial é igual ao valor ao raio da circunferência em questão.
Através destas duas equações temos caracterizada a família de circunferências
no plano imagem. Para um objeto fixo, se tomarmos r como parâmetro da família, pode
ser calculada a envolvente: um cone com abertura de 60º.
Resumindo: O coma é uma aberração que está associada à constituição de
manchas luminosas com forma de cones com uma abertura de 60º e uma distribuição
assimétrica de energia (máximo da distribuição na região do núcleo e uma grande cauda
de cometa, onde a densidade vai diminuindo progressivamente).
29
Na imagem em cima temos um objeto no infinito (não axial) a uma distância
angular θ do eixo. O vértice de cada folha cónica transmitida através da lente
encontra-se no mesmo plano ótico (EPC é respeitada), mas com diferentes distâncias do
eixo. Num sistema com coma é como se a ampliação transversa fosse também em
função da distância do objeto ao eixo.
Exemplos de coma:
À esquerda - disco de Airy, um conceito decorrente da difracção. A difracção
impede que a mancha luminosa seja inferior ao disco de Airy. Quando a OG consegue
que isso aconteça dizemos que o sistema está “limitado por difracção”. À direita -
imagem astronómica. Quanto mais brilhante for a estrela, maior a extensão visível do
coma. Estrelas a diferentes distâncias angulares do eixo, terão diferentes valores do
coma, o qual aumentará do centro para a periferia.
1.6.3 Astigmatismo
Nos sistemas ópticos com simetria de revolução, o astigmatismo só se manifesta
para objetos fora do eixo óptico (tal como o coma). Existe também em sistemas sem
simetria de revolução (ex.: olho humano). Nesta situação pode ocorrer astigmatismo
quando a potência óptica depende da orientação do plano que contém o eixo de maior
simetria.
30
É útil agregar os raios luminosos em planos que contenham o objeto, a imagem
paraxial e os pontos nodais (vamos assumir que N=N’). Nas figuras estão apenas
representados dois planos:
● Plano Meridional - contém o eixo dos Z (eixo ótico) e o objeto pontual
● Plano Sagital - perpendicular ao meridional
A distribuição dos ângulos de incidência no 1º dioptro é simétrica para os raios
sagitais, mas assimétrica para os raios meridionais. A falta de simetria entre planos
perpendiculares é o que está na base das características do astigmatismo.
Os planos do foco meridional (azul) e do foco sagital (laranja) não coincidem,
estão afastados! Como se a potência meridional fosse superior à potência sagital…
Os raios sagitais não convergem no foco meridional e, nesse plano, formam uma
pequena linha focal (azul, vertical). Da mesma forma, os raios meridionais não
convergem no foco sagital e nesse plano formam uma pequena linha focal (horizontal, a
laranja). Ou seja, nos dois planos focais formam-se pequenas linhas focais
perpendiculares entre si!
Quando consideramos todos os planos de raios luminosos temos uma estrutura
focal complexa em que temos linhas focais perpendiculares nos extremos, elipses com
diferentes excentricidades no meio e, algures, uma das elipses que degenera num
círculo, constituindo um círculo de confusão mínima.
31
● Linhas focais perpendiculares entre si (com distância entre elas)
● Manchas elípticas com excentricidade variável entre 0 (no círculo de confusão
mínima) e +/-1 nas linhas focais
● É como se a potência óptica variasse com o plano que se considera, tomando os
valores extremos nos planos sagital e meridional, e valores intermédios nos
outros planos
O astigmatismo pode ser tolerável. Quantifica-se através do comprimento das
duas linhas focais e da separação entre os dois planos focais. Distância transversa do
objecto ao eixo - h ; raio da abertura da lente - r . Varia quadraticamente com r e
linearmente com r (o coma é linear com h e quadrático com r ).
Exemplos de astigmatismo:
Próximo do círculo de confusão mínima - o raio é
essencialmente constante, e com resquícios das linhas
focais verticais.
Imagens nos eixos meridional ou tangencial e
sagital. No eixo não há astigmatismo, mas
rapidamente as pequenas linhas focais aumentam
(quadraticamente com a posição transversa do
objeto), sendo perpendiculares entre si nos dois
planos focais. O seu comprimento aumenta
também com o campo.
32
Situação peculiar em que todas as aberrações estão simultaneamente presentes
com uma câmara do sistema PLAT. A imagem (PSF) de um objeto pontual colocado a
cerca de 14º do eixo. É um misto de aberração esférica, coma, astigmatismo e outras
aberrações. A questão aqui é como determinar o centro de brilho desta mancha, que só
se pode estimar com base nas leituras dos sensores e análise de imagem.
Resumo: Até agora aceitámos violar as condições de validade da aproximação
paraxial e vimos a natureza e estrutura da imagem gerada por sistemas óticos com
aberração esférica, coma e astigmatismo. Nestes três casos, o sistema ótico gera um
feixe que não tem vértice bem definido e a uma mancha luminosa que, em certas
condições, ainda utilizamos como imagem, se o nosso sensor não puder resolver a sua
estrutura interna, ou se o sistema ótico for limitado por difração.
Na curvatura e distorção, para cada objeto pontual, o feixe imagem tem um
vértice bem definido, mas a sua localização (longitudinal ou transversal) não satisfazem
nem a EPC nem a equação da ampliação transversa.
33
A maior parte dos sensor que utilizamos na instrumentação são planos, mas a .
imagem forma-se sobre uma superfície curva. Se posicionarmos o sensor no vértice da
superfície curva conseguimos ter imagem de boa qualidade no centro, mas imagens
desfocadas na periferia; se ajustamos a imagens na periferia, desfocamos os objetos mais
próximos do eixo ótico do sistema.
A curvatura de campo afeta sistemas de lentes e sistemas de espelhos, e pode ter
sinais (de curvatura) positivo ou negativo.
No caso da lente (à esquerda), a superfície é côncava – a superfície imagem
encontra-se antes do plano imagem paraxial. No caso do espelho (à direita), após
reflexão, a luz desloca-se da direita para a esquerda, e a superfície de Petzval
encontra-se depois do plano imagem paraxial.
Esta aberração é quantificada através do raio de curvatura da superfície de
Petzval, que deve ser tão elevado quanto possível. Prova-se que a curvatura de Petzval
tem as mesmas dependências do astigmatismo: varia linearmente com o raio da
abertura da lente, r, e quadraticamente com a distância transversa do objeto à lente, h. É
por esta razão, que estas duas aberrações, se devem compensar. A curvatura viola a
EPC, pois a posição longitudinal da imagem não é a prevista pela EPC.
Compensação da Curvatura
A curvatura pode ser compensada de várias formas: a mais frequente é associar
lentes (ou blocos de lentes) com curvaturas de sinais opostos. Ganha-se complexidade,
mas resolve-se o problema.
À esquerda uma lente asféricas que introduz atrasos diferentes no eixo e na
periferia. As lentes asféricas são caras e o cálculo das superfícies só é ótimo para um par
específico de planos conjugados. À direita, um elemento - Field Flattener, que introduz
atrasos distintos e planifica a superfície imagem. Como a correção não é completa, em
34
astronomia posiciona-se um (ou algumas centenas de) robot que vai à zona da imagem
com um feixe de fibras e capta a imagem no sítio onde ela está mais bem constituída.
Recentemente começamos a ver aparecer matrizes de sensores planos cuja
envolvente é curva, adaptando-se, portanto, à superfície imagem curva. Esta solução é
muito interessante para planos focais de área muito grande (> m^2), constituído por
centenas de sensores (CCD ou CMOS) de ~10 cm de largura.
Finalmente, mas ainda em fase de investigação, com tensões e temperaturas
adequadas é possível deformar as pastilhas de silício com as quais os sensores são
feitos. Estas duas últimas soluções são muito promissoras para as próximas décadas.
1.6.5 Distorção
As imagens são perfeitas, mas não estão, transversalmente, nos sítios certos. São
muito usadas, as distorções típicas, em almofada ou em barril (em cima). A compensação
da distorção é feita através da otimização da localização do stop de abertura do sistema
(em baixo), ou através de sistemas simétricos em relação a um plano axial. Só no caso
ortoscópico se consegue que o raio central do feixe imagem intersecte o plano imagem
no sítio que a ampliação transversa determina.
35
Nas aplicações reais, em que a geometria da imagem é muito importante, a
distorção tem de ser descrita com modelos em série de potências. A distorção “cresce”
radialmente em torno de um ponto especial (o centro da distorção, xc , y c ). O modelo
quantifica o desvio do observável ( xd , y d ) relativamente à posição ideal ( xu , y u ) através
de um polinómio radial a partir do centro da distorção. Em astrometria e em visão
computacional, a distorção tem de ser rigorosamente estimada, calibrada e
compensada, e os resíduos da correção podem ter de ser da ordem de p/10 ou mesmo
de p/20. Nos sistemas ópticos, e em primeira aproximação, a distorção varia com o
cubo da distância radial do objecto ao eixo. Não é afetada pelo raio da abertura da
lente.
Objetivas Fish-eye
Existe uma gama muito alargadas de objectivas de grande angular que,
naturalmente, introduzem grandes distorções na passagem do seu campo angular para
um plano imagem plano. São as chamadas objectivas olho-de-peixe (fish-eye objetives).
Estas lentes exigem modelos matemáticos não polinomiais.
As objectivas olho-de-peixe (fish-eye objectives) são basicamente objectivas de
grande campo angular, que pode chegar a 180º. Garantem campo angular, boa qualidade
de foco, mas, inevitavelmente, enorme distorção! Todavia, conhecendo o modelo
analítico da distorção, pode ser compensada, sendo possível calcular as coordenadas
cartesianas de pontos de interesse e implementar os modelos utilizador.
36
1.6.6 Aberrações: principais dependências
Aberrações de Seidel de 3ª ordem
Aberração Esférica Coma Astigmatismo Curvatura Distorção
Expoentes y3 y2 h y h2 y h2 h3
Principais dependências das 5 aberrações (aberrações de Seidel de 3ª ordem)
com o diâmetro da pupila, y e com a posição angular ou transversa do objecto no
campo de um instrumento óptico, h.
Aberrações de Seidel de 5ª ordem
Aberração Esférica de Coma Astigmatismo Petzval de Distorção Esférica Coma
5ª ordem Linear de 5ª ordem 5ª ordem de 5ª ordem Oblíqua elíptico
Expoentes y5 y4 h y h4 y h4 h5 y 2 h2 y 2 h3
Podemos recorrer a um conjunto de termos de ordem superior. Os nomes são
parecidos com os de 3ª ordem sempre que as manchas luminosas forem parecidas.
37
O feixe imagem não tem vértice bem definido. Ao feixe imagem real corresponde
uma frente de onda real, que não é esférica (azul). Se fosse (vermelho), o feixe de raios
associado convergeria para uma imagem pontual, sem aberração. À direita, à saída uma
frente de onda real (preto) e a frente de onda de referência (rosa). A aberração é definida
como o percurso óptico entre as duas superfícies, nW(x,y).
O raio luminoso que emerge da pupila em (x,y) e é perpendicular à frente de onda
real, incide no plano imagem paraxial desviado de Δr em relação à imagem paraxial (no
fundo, Δr é a aberração transversa). Calculando o gradiente de W(x,y) podemos calcular
as intersecções dos raios luminosos com o plano imagem paraxial.
W depende das coordenadas:
● Na pupila de saída (x,y)
● Do objecto (x,h)
Em sistemas com simetria axial:
● Invariantes de rotação (objecto / pupila)
x2 + y 2 , xξ + y η , ξ 2 + η 2
● Pode-se fazer ξ = 0
W pode ser desenvolvido em série de potências de x2 + y 2 , y η e η 2 :
NOTA: Não há termo constante (no centro da pupila, W = 0), nem fazem sentido termos que não
dependam de (x,y).
Termos de 1ª ordem ( ai ): esfera de referência está centrada no ponto errado (e
não na imagem gaussiana): em z desfocagem (defocus), em x,y tilt
Termos de 2ª ordem ( bi ): aberrações primárias ou de Seidel
Para cada caso temos, à esquerda, a posição
relativa das duas frentes de onda
geométricas (a real e a de referência) na
pupila de saída, e à direita o percursos
óptico entre elas, isto é, W. É W que é sujeito
a uma representação em série de funções
adequadas.
Expansão de Zernike
As funções de Zernike constituem
uma base de funções que se definem em coordenadas polares (r, ). São ortonormais
num disco, isto é num domínio circular - a pupila de saída. Quando a pupila não é
circular mas um anel (a pupila de saída de um telescópio, com o secundário a obstruir a
38
parte central do primário), ou um retângulo (caso do telescópio Gaia), pode-se construir,
a partir das funções de Zernike um novo conjunto de funções ortonormais nesse
anel/retângulo, com o processo de Gram-Schmidt. A sua representação gráfica ajuda a
perceber que as características geométricas que cada uma destas funções consegue
representar.
39
1.7. Olho e Visão
1.7.1. Overview
A Visão é um domínio muito rico (seja na vertente “natural”, seja na vertente
“artificial” ou computacional). O olho é o 1º elemento da visão. A sua constituição
encontra-se na seguinte imagem.
Constituição do Olho:
★ Córnea - localizada na região polar anterior do globo ocular.
★ Cristalino - de forma (logo, potência óptica) variável, controlado de forma
automática, e viabilizando o mecanismo de acomodação.
★ Retina - superfície sensorial aproximadamente esférica que contém uma
zona cega na inserção do nervo óptico na retina, e uma zona de mais
elevada concentração de sensores que efetuam a transdução do sinal
luminoso (fóvea).
★ Cones e bastonetes - sensores
O olho humano é constituído por 4 dioptros organizados em:
1. Córnea
2. Humor aquoso (câmara anterior do olho)
3. Cristalino vítreo
4. Retina
A córnea e o cristalino têm a função de focar a luz através da pupila para a retina,
como se fosse uma lente fixa. São as lágrimas (secreção lacrimal) que mantêm a córnea
húmida e saudável.
40
O olho humano é dotado de uma abertura (a pupila) de 2 a 8 mm de diâmetro na
íris (membrana colorida, na superfície anterior do cristalino), dotada de um sistema de
controlo de diâmetro, em malha fechada).
Para o olho humano distinguimos dois eixos:
Eixo ótico - eixo em torno do qual os 4 dioptros têm um nível razoável de
simetria de resolução. É perpendicular aos 4 dioptros.
Eixo visual - eixo que conecta a fóvea ao ponto nodal imagem, N’. Numa direção
paralela, passa no plano nodal objeto.
● Movimento sacádico do olho: movimento rápido e intermitente que os olhos
realizam para acompanhar uma linha e para que a palavra que queremos ler
esteja focada na fóvea - rápida passagem no ponto foveal. (A palavra sacádico
remete para movimento brusco e rápido.)
● Movimentos de fixação ou acompanhamento: a fixação tem que ser muito
rápida e precisa, uma vez que estamos em constante movimento, tal como os
objetos que fixamos.
● Movimentos de convergência: é um movimento coordenado dos olhos no qual
os seus eixos se desviam simultaneamente até ao ponto de visão. Mudando a
distância do objeto em relação ao observador, os movimentos de convergência
mantêm-no fixado nas fóveas de ambos olhos. medida que o objeto se
aproxima, os movimentos de convergência mudam as direções da visão de
ambos os olhos até ao nariz. Se o objeto se aproximar até uns poucos
41
centímetros da cara, é impossível uma maior convergência, tendo lugar uma
“dupla visão”.
Retina
A retina é uma estrutura bastante complexa, conforme se pode ver na seguinte
figura. Chama-se a atenção para a inserção do nervo óptico na retina. É uma zona sem
sensores de luz, o “ponto cego” ou “disco óptico”. Atenção: a luz propaga-se de baixo
para cima, isto é, passa através de todas as estruturas anteriores antes de chegar aos
fotorreceptores, os cones e os bastonetes.
42
Os fotorreceptores são os cones e os bastonetes, que contém uma quantidade
finita de proteínas (rodopsina) que constituem o elemento que absorve a luz.
Qualquer transdutor tem de absorver a luz, mudar de estado e transmitir essa
mudança de estado ao sistema de processamento – e finalmente tem de regressar ao
estado inicial para estar disponível para nova absorção.
Os cones dispõem de três tipos de proteínas, as opsinas, que contém moléculas
de pigmento chamado retinal.
O mecanismo de transdução consiste na transformação isomérica da molécula de
retinal por absorção da luz (moléculas passam de cis a trans). A transformação inversa
demora tempo (ordem dos milissegundos), o que permite explicar a resposta logarítmica
do olho à luz, bem como a saturação para luminosidades elevadas.
43
* - Numa perspetiva legal, a cegueira existe quando o melhor olho tem uma acuidade
visual inferior a 1/10 e/ou o campo visual é inferior a 10º (certos graus de daltonismo
entram nesta categoria).
O gráfico seguinte representa a distribuição angular dos cones e bastonetes, em
termos do respetivo número (N) por grau (N/grd). Note-se que a escala é logarítmica,
que os cones estão essencialmente concentrados na fóvea e que não há fotorrecetores
no ponto cego.
Mas há outros olhos animais muito diferentes do olho humano. O olho humano
dispõe de um sistema óptico e de um sensor extenso, o que lhe permite a visão de
objetos extensos em paralelo. Muitos animais têm olhos compostos, em que cada canal
tem a sua óptica, o seu sensor e fica associado a uma direção bem definida. O campo de
visão 3D é também totalmente distinto. A junção dos sinais e a reconstrução do mundo
será certamente diferente da do ser humano.
44
Olho Humano - Modelo
Os Modelos do olho são basicamente caracterizações estatísticas sobre
populações. ). O modelo de LeGrand foi um dos primeiros e dos mais usados. Vamos
então caracterizar o olho como sistema óptico. As suas propriedades dependem da
Acomodação: um mecanismo automático que ajusta a potência do cristalino de modo a
garantir que a imagem se mantém focada na retina.
Nas seguintes tabelas, temos os dados descritivos: posição (Z, em mm) em
relação ao vértice na 1ª superfície da córnea, o raio de curvatura (R, em mm), o índice de
refracção do meio que se segue (n) e a potência óptica do dioptro (K, em dt).
Há variação de vários parâmetros quando se considera o regime acomodado (à
direita): R, n e K variam. Em baixo, temos as propriedades ópticas ao nível de subsistema
(córnea e cristalino) e do olho completo. Para cada caso, temos os valores em regime
Não Acomodado (NA) e acomodado (A).
45
Segue-se uma imagem representativa do modelo óptico do olho completo (NA).
Note-se:
★ A posição dos pontos principais (P e P’) no interior da câmara anterior o olho, a
cerca de 1.6 mm da superfície anterior da córnea.
★ A assimetria na posição dos pontos focais F e F’.
★ A posição dos pontos nodais, N e N’, pouco depois do cristalino e que
determinam a orientação do eixo visual.
★ O descentramento do ponto cego e da mácula relativamente ao eixo óptico, que
intersecta a retina em F’
46
Importante reter:
❏ O aumento da potência do olho com a acomodação (cerca de 12 dt),
devida exclusivamente ao cristalino.
❏ A variação da distância focal imagem com a acomodação.
❏ Os dois valores importantes do campo angular
de visão 108 e 5º (de um olho e da fóvea) –
notem que os 108º não se distribuem
simetricamente devido à limitação causada
pelo nariz – com se verá no próximo slide.
❏ A enorme variação do diâmetro da pupila, com
a correspondente variação do f/#, que passa
de f/6.8 (pupila menor) para f/2.4 (pupila
maior).
Existem três tipos de opsinas nos cones, com diversos espectros de absorção –
os cones são normalmente referidos como cones S(hort), M(edium), L(ong) (referência a
comprimentos de onda). Se, por razões clínicas ou genéticas, um ou vários têm
sensibilidades reduzidas ou nulas, temos degradação das perceções cromáticas, ou
mesmo cegueira das cores.
47
1.7.2. Erros de Refração e Compensação
As perturbações optométricos referem-se à visão longínqua, à visão próxima ou
à convergência (dos eixos visuais).
Problemas Optométricos
Visão Monocular - problemas independentes em cada olho.
Visão Longínqua
★ Emetropias - sem problemas optométricos
★ Ametropias - independentes entre si, podendo coexistir.
○ Miopia - a imagem forma-se antes da retina
○ Hipermetropia - a imagem forma-se depois da retina
○ Astigmatismo ocular - não é uma nova ametropia, mas apenas uma
“desconformidade” entre as potências ópticas segundo diferentes
planos de raios luminosos (tal como se viu na aberração com o
mesmo nome)
Visão Próxima
★ Presbiopia - o olho não possui potência suficiente para focar objetos
próximos.
Visão Binocular
★ Estrabismos - dificuldade em obter um foco. Condição em que os olhos
não estão corretamente alinhados entre si quando a pessoa foca um
objeto. A condição pode-se manifestar de forma permanente ou apenas
ocasionalmente.Geralmente passam com o crescimento.
Vamos agora analisar algumas ametropias mais detalhadamente.
Miopia
O foco imagem situa-se à frente da retina.
O olho é demasiado potente para o comprimento que
tem ou é demasiado comprido para a potência que tem.
Um míope vê bem desde que o objeto seja colocado
num ponto específico - ponto remoto. Neste caso, o
feixe consegue convergir para a retina. Tudo o que se
insira no plano do ponto remoto é bem visualizado por
um míope.
Objetos entre infinito e o “farpoint” não são bem
percecionados.
Ametropia em que o organismo não recorre à
acomodação
48
Compensação: lentes negativas para combater o excesso de potência ótica ou cirurgias
LASIK - lasers de fento-segundo (fs) que permitem a escultura da córnea, tirando
material do estroma (material que constitui a córnea) e ajustando o raio de curvatura da
superfície anterior da córnea. Com impulsos fs, o material é removido por disrupção
(campo elétrico muito intenso no foco quebra as ligações moleculares), e não por
aquecimento e mudança de fase). As perturbações são mínimas pois não há
aquecimento.
Hipermetropia
O foco imagem situa-se para lá da retina o que implica
que na retina o feixe ainda não tenha convergido. Por
conseguinte, há na fóvea muitos cones excitados,
provocando uma imagem difusa.
O olho é pouco potente (demasiado fraco) para o
comprimento que tem ou demasiado curto para a
potência que tem.
Para um hipermetrope formar uma imagem na retina
sem recorrer à acomodação, tem de receber um
convergente para um ponto especial, virtual, situado
atrás da retina: o ponto remoto, R. A potência óptica
que tem é apenas suficiente para aumentar um pouco a convergência do feixe.
Um olho hipermetrope recorre à acomodação - deformação do cristalino, aumentando a
potência ótica, para observação de objetos longínquos. Como consequência, gasta a sua
reserva de acomodação, que deixa de estar disponível para a visão próxima e origina
cansaço visual resultante da ação constante dos músculos responsáveis pela
acomodação - passa a ter dificuldade em ver ao perto e cansaço visual.
Compensação: lente positiva!
49
Astigmatismo Ocular
O astigmatismo é um erro de refração do sistema
óptico no qual as imagens produzidas são distorcidas.
Advém de uma curvatura irregular da córnea ou uma
forma irregular do cristalino, o que faz com que que a
luz não seja corretamente focada na retina.
Como vimos na aberração “astigmatismo”, vamos ter um
foco meridional e um foco sagital axialmente
separados, e duas pequenas linhas focais
perpendiculares nos dois planos focais (que “desfocam”
linhas radiais orientadas perpendicularmente no plano imagem).
O astigmatismo ocular pode surgir em indivíduos com outras ametropias. A sua
compensação efetua-se simultaneamente. Temos de usar lentes com superfícies elas
próprias astigmáticas, mas com o astigmatismo oposto. Podemos usar lentes cilíndricas
ou lentes tóricas. Nos dois casos, a potência varia continuamente entre dois valores
extremos (positivos ou negativos). É sempre possível
determinar um corte num volume tórico (seja
côncavo ou convexo) com potência esférica que
compensa a ametropia e com potência cilíndrica
que compensa o astigmatismo.
Presbiopia (vista cansada)
A presbiopia refere-se à visão próxima e tem como
causa a degradação da capacidade do cristalino em
assumir uma configuração que viabilize a formação
da imagens de objetos próximos na retina, por
ineficiência da atuação dos músculos ou do sistema
de controlo. A acomodação ocular degrada-se com a
idade: das ~12-13 dt iniciais, restam ~2-3 dt após os
50 anos.
50
Para objetos próximos, se a potência óptica máxima diminui, a distância objeto deve
aumentar, mas dificilmente pode ultrapassar o comprimento do braço.
A compensação faz-se através de lentes bifocais ou de lentes progressivas. A
acomodação é quantificada através da posição do Ponto Próximo ou da diferença entre
as potências ópticas máxima e mínima do olho.
Ótica ocular: Acomodação
Há, em qualquer idade, um limite máximo à capacidade de acomodação. Para
aquém do Ponto Próximo,PP, a imagem não se forma na retina.
Podemos ou não concretizar as duas compensações na mesma lente? Dentro de
limites, sim, com lentes bifocais ou com lentes progressivas, funcionalmente ajustadas à
orientação do eixo visual em tarefas próximas e na observação ao longe. Ou com dois
óculos distintos, para tarefas de curto e médio alcance.
Ponto Remoto e Próximo & Correções
A compensação da ametropia tem certamente consequências na visão próxima,
através da alteração da posição do Ponto Próximo (PP).
Em cima – miopia: um míope com o remoto a 50 cm. Tendo potência em
excesso, o seu PP encontra-se apenas a 8 cm. Com a lente negativa de compensação,
que desloca o seu remoto para infinito, o PP afasta-se também (para 23 cm). A visão ao
longe está restabelecida à custa de uma pequena degradação da visão próxima: 23 cm é
bem inferior ao comprimento do braço e é perfeitamente compatível com uma distância
normal de leitura.
51
gera uma zona de trabalho próxima (entre 25 e 40 cm) e uma zona de visão longínqua,
porventura sem solução de continuidade.
Qualquer sistema tem uma abertura que limita o fluxo luminoso que é
transmitido da entrada para a saída. Pode ser uma abertura expressamente colocada
para tal fim ou pode ser, simplesmente, o bordo de uma das lentes.
Do ponto de vista de cálculo de fluxos luminosos, é sempre importante
conhecermos os ângulos sólidos de entrada (espaço objeto) e de saída (espaço imagem)
e, de modo geral, são diferentes. Todavia, descontadas as perdas por absorção, por
reflexão ou por difusão nas lentes ou espelhos, o fluxo à entrada é igual ao fluxo à saída,
pois a energia conserva-se.
52
Para estes efeitos, importa conhecer a posição axial e o diâmetro de 3 aberturas:
★ o diafragma ou stop de abertura (a abertura física que efetivamente confina
lateralmente o feixe),
★ a sua imagem vista do espaço objecto (pupila de entrada), e
★ a sua imagem vista do espaço imagem (pupila de saída).
Conhecidas as pupilas, os ângulos sólidos (em sr) são conhecidos e os fluxos (em
W) podem ser calculados, mesmo sem nada mais se saber sobre a estrutura do sistema
óptico (além, é claro, da potência e dos pontos cardinais…).
Com esta definição, as pupilas e o stop de abertura são todos conjugados entre si,
embora por partes diferentes do sistema óptico. Pode ainda acontecer que uma pupila
coincida com o stop de abertura e/ou com a outra pupila.
53
À esquerda, o cone imagem está totalmente definido pela abertura física, que é o
stop de abertura: o cone objecto calcula-se com os raios imagem extremos.
Um observador no objecto não “vê” directamente o stop de abertura. Vê a sua
imagem dada pela lente interposta, isto é, vê o stop de abertura através de uma lupa.
Essa imagem é a Pupila de Entrada (PE) do sistema, neste caso, virtual e maior que o
stop.
Por força da relação de conjugação entre o stop e a PE, um raio orientado para o
bordo da PE, após ser deflectido pela lente passa pelo bordo do stop de abertura. O
ângulo sólido objecto calcula-se (por definição) dividindo a área da PE pelo quadrado da
distância à PE.
À direita, é o cone objecto que é directamente condicionado, e os seus raios
extremos determinam o cone imagem. Um observador colocado no plano imagem vê a
imagem do stop dada através da lente, que funciona como lupa. Essa imagem é a Pupila
de Saída (PS). Neste caso, a PS também é virtual e ampliada. Conhecida a PS, o ângulo
sólido imagem calcula-se dividindo a área da PS pelo quadrado da sua distância ao plano
imagem.
À esquerda, a PS coincide com o Stop. à Direita, a PE coincide com o Stop.
Imaginem agora o mesmo exercício admitindo que a lente é bem mais pequena
(a vermelho). É o diâmetro da lente que determina os dois cones e os dois ângulos
sólidos. O Stop e as duas Pupilas (PE e PS) coincidem todas na lente e têm todas o
mesmo diâmetro.
➔ Exemplos - Telescópios
Representa-se um telescópio (com plano imagem a distância finita) e três feixes
objecto (objecto no eixo, a verde). Todos os feixes preenchem completamente a
objectiva, que funciona como stop de abertura.
54
Forma-se uma imagem intermédia real no plano focal da objectiva. Neste plano,
pode ser inserido uma abertura que limite o campo angular efectivo – um stop /
diafragma de campo.
A 2ª lente (ocular) conjuga o plano objeto da imagem intermédia com o plano
imagem final.
Todos os feixes se sobrepõem inteiramente num plano à frente do plano imagem.
Isto significa que, caso lá fosse colocado um diafragma de diâmetro variável, seria
possível reduzir, por igual para todo o campo, a quantidade de luz que flui para o plano
imagem final. Seria uma posição natural para a colocação do stop de abertura. Note-se
que este plano é conjugado do bordo da objectiva pela 2ª lente: será, portanto, o plano
da pupila de saída e a ampliação transversa é fácil de calcular.
Representa-se uma alça telescópica (mira de pontaria), afocal e dois feixes
objecto que preenchem completamente a objectiva, que funciona como stop de abertura.
Forma-se uma 1ª imagem intermédia real no plano focal da objectiva. Como esta
imagem está invertida, segue-se um sistema de inversão, de duas lentes, que inverte a
imagem e forma nova imagem intermédia real no “2º plano focal”. Este bloco inversor é
constituído por lentes iguais (embora invertidas para corrigir a distorção) e, no caso
representado, a ampliação transversa é m = -1.
Segue-se a ocular (3 lentes) que coloca a imagem no infinito e posiciona da
pupila de saída à distância adequada (o relevo ocular - numa arma, deve ser acautelado
o recuo, para que a ocular não “colida” com o olho…). O olho recebe um conjunto de
feixes paralelos e, sem precisar de acomodação, constitui a imagem final na retina.
Sobre qualquer imagem intermédia real, pode ser colocado um retículo / mira calibrada
para ajudar a fazer medidas, estimar ângulos etc. Sobre os mesmos planos, pode ser
colocado um stop de campo – colocado no “2º plano focal”.
Neste caso, o conjunto formado pelo bloco inversor e pela ocular é responsável
por conjugar o plano do stop de abertura (a abertura limite da objectiva, que é também a
pupila de entrada) com o plano da pupila de saída.
É de notar que o sistema total é afocal, e que a ampliação angular é
–f_objectiva/f_ocular pois o bloco inversor é “neutro” (m=-1). A dimensão efectiva da
imagem final na retina depende do ângulo que o Raio Principal (do feixe inclinado)
final faz com o eixo.
55
Salienta-se ainda que a extensão transversa do feixe do extremo do campo é bem
menor que a do centro do campo - o seu diâmetro está limitado pelo sistema inversor:
pelo bordo inferior da 1ª lente e pelo bordo superior da 2ª. A irradiância da imagem
associada será certamente inferior à da imagem central.
Em suma:
★ Viu-se o stop/diafragma de abertura e as duas pupilas, todos conjugados entre
si (azul escuro).
★ Definiu-se o stop/diafragma de campo e as suas janelas – associados a objectos
ou imagens reais – e todos conjugados entre si (azul claro).
★ Viu-se o raio principal (sobretudo o do bordo do campo) que passa pelos centros
das pupilas (a vermelho).
★ Em conjunto, conhecidos todos estes elementos, é possível esboçar os contornos
do feixe luminoso (através dos raios marginais do centro do campo) nos vários
espaços (objecto, intermédios e imagem), sem fazer contas.
★ Com a PE conhecida, é conhecido o ângulo sólido que esta subentende quando
vista do centro do campo, e é possível calcular o fluxo luminoso que acaba por
ser recebido no plano imagem final (descontadas as perdas nos vários elementos
ópticos intermédios, lentes, espelhos ou filtros)
56
Interface com o sistema ótico seguinte
Quando se adiciona um novo sistema,
deseja-se, naturalmente, que toda a luz que sai
do 1º possa ser utilizada pelo 2º.
Se toda a luz emerge pela PS1 e toda a
luz que entra pela PE2 chega ao plano imagem
final, então é necessário que a PS2 = PE1 em
termos longitudinais, e é ainda necessário que
o diâmetro da PE2 não seja inferior ao da PS1.
Note-se que se a PS1 estiver
devidamente posicionada, o “relevo ocular”
pode tomar o valor conveniente para acautelar o movimento das pestanas, o recuo de
uma arma, etc.
É por esta razão que é tão importante saber colocar as pupilas de um sistema, em
função da forma como o sistema vai ser usado. No caso dos microscópios, lunetas, etc, a
PS do 1º sistema deve ser real e explicitamente localizada a 3.045 mm (nominais) do
vértice da córnea do olho.
Sistemas Telecêntricos
Os sistemas telecêntricos representam uma
classe importante de sistemas ópticos pela sua
relevância em metrologia, isto é, a “arte” de bem medir,
ou em visão computacional.
Um sistema é telecêntrico quando o raio
principal (associado a objetos fora do eixo) é paralelo ao
eixo. Consequentemente, a pupila correspondente
encontra-se no infinito. Esta questão tem muita
importância sobretudo na perspectiva da imagem que se
recebe num sensor.
O raio principal representa o raio em torno
do qual um feixe tem simetria máxima. Isto
significa que:
★ se torna mais fácil estabelecer o
“centro” de uma mancha luminosa na
imagem,
★ uma eventual desfocagem (sensor
ligeiramente afastado da posição óptima) tem os mesmos efeitos em todos os
pontos do campo,
★ o feixe incide tão perpendicularmente quanto possível no sensor, etc.
Na perspectiva do plano imagem, a distância finita, não é difícil aceitar que se o
stop de abertura se encontrar no Plano Focal Objecto da lente seguinte, o sistema é
telecêntrico (imagem de cima, no meio).
57
Portanto, através da posição adequada do stop de abertura selecionamos a
forma do feixe objecto que efectivamente contribui para a imagem final.
58
1.8.3 Vinhetagem
Tem-se aqui um tripleto, com um stop de abertura bem identificado (diafragma).
Nas condições paraxiais normais, as pupilas (não representadas) devem ter a mesma
forma circular do diafragma – à esquerda, representa-se a forma da PE (circular) para
um objecto axial.
Mas para objectos próximos do bordo do campo, o mesmo diafragma não é ainda
o Stop de Abertura e as pupilas não são as mesmas.
Note-se que, para um objecto na parte inferior do campo, o feixe luminoso é
limitado, por baixo, pelo bordo da 1ª lente, e é limitado, por cima, pelo bordo da 3ª lente.
O Stop de Abertura é, assim, delimitado por arcos de círculo em planos distintos! A
pupila, efectivamente tem uma forma totalmente diferente e, sobretudo, uma área
muito menor (em baixo à esquerda).
Se a área diminui, o fluxo luminoso diminui e a imagem será menos intensa. É
este o fenómeno de vinhetagem (vignetting).
Não será necessário enfatizar que os consumidores não gostam de objectivas
com vignetting excessivo. Daí que os fabricantes reduzam deliberadamente o campo
angular de um instrumento, recorrendo a diafragmas de campo, para tornar menos
relevante este fenómeno.
Na astronomia, a vinhetagem também não é desejável, mas como se trata de um
fenómeno físico inescapável, os astrónomos especificam uma atenuação máxima do
fluxo luminoso no bordo do campo que os fabricantes têm de satisfazer.
Se os efeitos da redução da área da pupila são fáceis de entender, os efeitos da
alteração da forma da pupila são mais subtis: se se altera a forma, altera-se o padrão de
difracção e a resolução especial ou angular do sistema degrada-se – mas isto só se
pode explicar no âmbito da propagação (ondulatória) da luz e da física (e matemática) da
difracção.
59
Exemplo:
60
1.8.5. Profundidade de Campo
f/# tem outros efeitos, na fixação da
profundidade de campo e de foco:
Profundidade de campo: zonas distintas
do objecto estão simultaneamente focadas.
Profundidade de foco: se a posição do
sensor for ligeiramente alterada, tal não tem
grande impacto sobre a qualidade da imagem
As duas profundidades dependem essencialmente da abertura dos feixes nos
espaço objecto e imagem, logo do f/#. Quanto maior for o f/# mais fechados são os
feixes e maiores são as duas profundidades.
Novamente relacionado com a difracção: quanto mais estreito for o feixe imagem
(maior f/#) maiores são os padrões de difracção e mais reduzida é a resolução espacial
do instrumento. Portanto, na maior parte das aplicações científicas, é necessário
especificar um valor máximo do f/# que não pode ser ultrapassado.
Do ponto de vista físico, é o sensor que determina os critérios relevantes, através
do diâmetro máximo do círculo de confusão: se se tratar de um sensor com um pixel de
largura p, o sinal é o mesmo desde que a mancha luminosa seja inferior a p. Se o sensor
for o olho, nós não somos sensíveis a variações inferiores a p = 0.1 mm (situação
optimista, mas é o valor que normalmente se usa para estas questões...).
Portanto, para um dado par de conjugados (a situação altera-se de par para par)
ficam definidos:
★ O diâmetro útil máximo da lente (logo, o seu f/#),
★ O valor da profundidade de foco (uma pequena gama de posições em torno do
plano imagem).
É agora possível passarmos para o espaço objecto e determinar os dois planos
objecto (A e B) conjugados dos dois planos imagem (A’ e B’) que delimitam o volume do
foco. Note-se que a profundidade de campo não é simétrica em torno da posição
nominal do objecto.
Consoante as aplicações, o utilizador pode especificar a profundidade de foco ou
a profundidade de campo, mas não as duas.
61
Para consolidar esta secção, seguem-se dois diagramas.
62
1.9. Instrumentos Óticos
63
As três situações representadas diferem em termos da ampliação máxima
conseguida – que é máxima no caso 2 (lupa colada ao olho e imagem virtual tão próxima
quanto possível do olho, isto é no Ponto Próximo).
Como regra prática, divide-se a Potência da lupa por 4 (1/0.25m) e soma-se
uma unidade, obtendo assim uma boa estimativa da MP de uma lupa.
1) Lupa à distância focal do olho
1 l = f, MP = doD
2) Lupa “colada” ao olho
2 l=0
MP é máximo se L for mínimo:
isto é, L = do:
Se do = 0.25 m (convenção):
3) Objecto no plano focal objecto da lupa
3 so = f
Lentes Fish-eye
Constituídas por uma objetiva com um
grande campo angular, variando entre 100 e
180º, inevitavelmente à custa de uma grande
distorção.
Desde que seja conhecido o modelo
matemático do “mapping” entre direções
angulares no “mundo” e o plano imagem, as
imagens são dotadas de qualidade
metrológica. Em função do tipo de projecção,
assim os modelos matemáticos mais
64
adequados. São feitas as devidas transformações de coordenadas esféricas para
cartesianas (imagem) através de projeções trigonométricas bem definidas.
Uma fish-eye tem um Stop de Abertura único (implementado através de uma abertura
física), mas a pupila de entrada é muito fragmentada, como se pode ver no exemplo.
Mapeamento (mapping)
θ, ϕ (mundo) → x,y (imagem)
X/Z,Y/Z → x,y(r)
Projecções:
Gnonómica (rectilínea): r = f tan θ
Estereográfica: r = 2f tan θ /2
Equidistante: r = f θ
Equisólida: r = 2f sin θ /2
Ortográfica: r = f sin θ
65
de linhas de atraso que compensem eventuais diferenças de percurso óptico entre os
sistemas independentes.
1.9.1. Microscópios
Consideram-se os seguintes tipos de microscópios:
★ ópticos de várias famílias;
★ electrónicos, em modo de reflexão ou de transmissão, que beneficiam do
comportamento ondulatório de feixes de partículas (electrões), mas que, têm
arquitectura semelhante aos ópticos embora implementem as lentes com uma
tecnologia diferente;
★ Scanning Probe Microscopes (SPM) baseados em efeitos quânticos, campos
próximos (ondas evanescentes), nanofísica, ..., e de que existem vários tipos (AFM,
STM, FFM, ...).
66
67
★ Ocular a funcionar como Lupa, com o seu objecto no plano focal objecto da
ocular (e que é a imagem intermédia formada pela objectiva);
★ Distância fixa normalizada de 160 mm entre F’ e o plano imagem (caraterística
distintiva, que viabiliza a intermutabilidade das objectivas).
★ A última característica, torna adequada a utilização da equação de Newton (x
x’=f^2), no contexto da qual a ampliação transversa da objectiva (entre
conjugados finitos) é –xi/f).
★ Define-se Ampliação Angular de forma semelhante à da Lupa, mas entrando em
conta com as duas ampliações: transversa da objectiva e angular da ocular.
★ Stop de abertura: uma abertura interna da objectiva, quase sempre o bordo do 1º
dioptro.
★ Acoplamento entre pupilas: PS do microscópio e PE do olho;
Objetivas:
As objectivas são, também muito complexas, e constituídas, facilmente, por 20 a 30
dioptros. Uma objectiva “apenas” tem de:
★ trabalhar a distância imagem fixa (x = 160 mm),
★ ser luminosa, isto é, ter uma pupila de entrada tão grande quanto possível, sem
vinhetagem,
★ ser limitada por difracção,
★ maximizar a ampliação transversa,
★ não ter aberração cromática,
★ não ter curvatura ou distorção,
★ eventualmente, trabalhar em meio líquido,
★ eventualmente, estar preparada para uma lâmina vidro colocada sobre o
espécimen,
★ ter um f/# tão pequeno quanto possível,
68
★ não gerar reflexões internas entre os muitos dioptros que degradem a
observação.
Objetivas de óleo e abertura numérica
Nas objectivas de imersão, procura-se aproximar o índice de refracção do
espaço objecto do da 1º lente de modo a reduzir as perdas por reflexão interna total na
lamela de vidro que cobre o espécimen, sem prejudicar excessivamente a potência do 1º
dioptro.
Desta forma, é possível aumentar a abertura do cone de luz no espaço objecto,
isto é, aumentar a Abertura Numérica (NA) da objectiva, o que tem impacto no valor do
fluxo luminoso (por razões óbvias) mas também na resolução especial do microscópio
(uma vez mais, por razões decorrentes da difracção).
Embora a NA e o f/# se relacionem facilmente, a 1ª usa-se essencialmente em
microscopia e fibras ópticas, e o 2º usa-se para sistemas com conjugados no infinito.
Para uma lente com foco no infinito:
69
Iluminação de Koehler
Sendo sempre necessária uma fonte luminosa, queremos certamente que ela
ilumine uniformemente o objecto, e não queremos que a sua estrutura seja visível sobre
a imagem do objecto de interesse.
Na iluminação de Koehler, garante-se que não existe nenhuma imagem real
intermédia da fonte sobreposta com nenhuma imagem do objecto. Basta, por exemplo,
que a Pupila de Saída (PS) do sistema Colector+Condensador se forme no plano objecto.
Desta forma, a imagem da fonte formar-se-á, por exemplo, na PE do olho, e sempre bem
afastada da retina.
Na imagem ao lado tem-se a iluminação de
Koehler num microscópio óptico por reflexão -
70
usado, por exemplo, em microscopia da superfície de objectos opacos, tais como rochas,
minerais, …
Repare-se que a última imagem real do filamento se encontra no plano focal
objecto da objectiva, o que significa que o objeto é iluminado através de um contínuo de
feixes colimados.
No canal de observação, na vertical, a luz difundida pelo objecto é transmitida
através do espelho semitransparente, formando-se a imagem intermédia ampliada no
plano focal objecto da ocular.
Dark Field Microscopy
O objecto é iluminado através de uma “folha cónica”,
com alguma espessura, criada por uma abertura opaca
central no condensador.
Caso nada no objecto difunda a luz iluminante, esta
vai ser bloqueada pelo Stop de Abertura da objectiva.
Existindo microestruturas difusoras (por difracção),
apenas a componente difractada será coletada pela objectiva
e formará a imagem.
Daqui provém a designação “campo escuro”.
Arquitetura Confocal
Temos aqui representados os dois
canais, de iluminação (verde) e de
observação (vermelho) [o comprimento de
onda no vermelho é superior ao do verde...
fluorescência...].
A fonte é um laser (intenso e
monocromático) , focada num pequeno furo
(pinhole), o qual é conjugado no plano de
71
interesse pela objectiva, após reflexão, sem perdas, num espelho dicróico. Note-se que
todo o volume do espécime é iluminado (duplo cone) embora a densidade de potência
seja superior no plano alvo.
O objecto difunde, fluorescendo, a energia dos fotões diminui e o comprimento
de onda só pode aumentar.... Cada ponto que fluoresça (no duplo cone iluminado) vai
constituir o seu feixe divergente com vértice no próprio ponto. Representam-se dois: o
que provém do plano de interesse e um outro (tracejado).
Tais feixes divergentes são colectados pela mesma objectiva (que não pode ter
aberração cromática) e totalmente transmitidos (sem perdas) pelo espelho dicróico.
À frente do detector temos um 2º pinhole: o feixe vermelho (traço contínuo)
passa, sem percas; o feixe tracejado é essencialmente bloqueado (embora passe ainda
uma pequena parte que pode ser bloqueada, como se verá). O espécime foi opticamente
reduzido a um plano seleccionado pelo utilizador. A profundidade de campo diminuiu.
Esta arquitectura chama-se confocal pois os dois pinholes são conjugados um
do outro, através de duas passagens pela mesma objectiva, e são conjugados com o
plano de interesse.
Num tal plano procede-se ao varrimento 2D, e o processo pode ser repetido para outro
plano, desta forma se gerando dados em volume, plano a plano. As técnicas de
computação gráfica permitem reconstituir o volume 3D e visualizar os dados 3D da
melhor maneira possível.
Multi-photon Flourescence Microscopy
Em cima, com microscopia de
fluorescência linear, a 1 fotão, em que a
arquitectura confocal consegue parcialmente
bloquear parte da luz proveniente de planos não
desejados.
Em baixo tem-se uma imagem obtida com
fluorescência multi-fotónica, a 2 fotões; limita-se
a detecção dos fotões emitidos (com uma dada
energia) ao plano de interesse, desta forma
realizando um corte planar de um objecto 3D, e
eliminando quase totalmente o sinal proveniente de
zonas antes ou depois do volume de foco.
Isso não quer dizer que tais zonas não
fluoresçam, mas fazem-no em regime linear e tais
fotões são facilmente filtrados pelo espelho dicróico ou
por filtros adicionais.
72
Observações adicionais:
❏ A utilização de um laser de Titânio-Safira que permite gerar impulsos laser muito
curtos (ps-fs), desta forma aumentando a probabilidade dos fenómenos de
absorção multi-fotónicos.
❏ A inserção de um subsistema para efectuar o varrimento 2D da amostra
(scanning mirrors), uma função que pode ser tecnologicamente implementada de
muitas formas possíveis: 2 espelhos oscilantes a operar próximos da ressonância,
deslocamentos mecânicos com dispositivos piezo-eléctricos, etc.
73
As suas soluções não são necessariamente soluções das Equações de Maxwell (1ª
ordem). A passagem a segunda ordem, concretizada nesta equação, implica um novo
espaço de soluções muito mais amplo.
A construção da equação de ondas decorre da aplicação do rotacional a cada
equação rotacional de Maxwell. Usando a identidade vetorial:
∇ × (∇ × E ) = ∇(∇.E) − ∇2 (E)
74
E aplicando a outra equação rotacional e uma das equações sobre a divergência,
obtém-se:
No vazio, n=1 e c=c0.
➔ A onda (e os fenómenos físicos) é descrita por uma função real, u(r,t), r = (x,y,z)
solução da equação de ondas (linear):
➔ Na fronteira entre dois meios, u(r,t) varia de acordo com os índices dos dois
meios. Todavia, a repartição dos fluxos só pode ser analisada pela ótica
electromagnética.
75
➔ A equação de ondas mantém-se válida em meios não homogéneos, desde que o
índice de refracção n(r) – logo c(r) - varie lentamente.
A média temporal de S ao longo de um período representa a taxa efectiva de
propagação de energia do campo EM.
Para uma onda plana (polarização linear), a média temporal de S (em W/m2) é:
Ondas Monocromáticas
A equação de ondas suporta funções periódicas no tempo. A sua forma geral é:
A função de onda real, u(r,t), pode ser escrita de forma ainda mais geral, na forma
complexa, U(r,t) – também solução da EO:
Sendo que a amplitude complexa é dada por:
76
Esta abordagem é diretamente determinada pela validade do princípio de
sobreposição:
Faz sentido estabelecer soluções matematicamente simples, e pensar em
construir soluções mais complicadas por soma – sobretudo quando se dispõem de
instrumentos matemáticos para somar funções harmónicas (teoria de Fourier).
Note-se o seguinte: queremos sempre obter uma função real, u(r,t). Fazemos as
contas com uma sua generalização analítica, U(r,t), de que u é a parte real – mas U tem a
parte real e uma componente imaginária (que é a transformada de Hilbert de u). U(r,t) é
o Sinal Analítico associado a u(r,t).
Quando impomos à Equação de Ondas que a sua dependência temporal seja a
dependência temporal de uma onda monocromática, obtemos a Equação de
Helmholtz. Com esta, procuramos soluções periódicas no tempo, em qualquer ponto do
espaço - isso significa que toda a dependência temporal tenha de estar concentrada
numa função harmónica do tempo - a exponencial complexa cumpre essa função.
A Equação de Helmholtz dá então soluções para a amplitude complexa.
Amplitude Complexa
Para ondas monocromáticas, cuja variação temporal está totalmente contida na
exp, podemos inserir U(r,t) na Eq, de Ondas e concluir que a Amplitude Complexa, U(r)
tem de satisfazer a equação de Helmholtz:
É de salientar que a Equação de Helmholtz refere-se apenas a dependência
espacial e não temporal.
No processo, aparece a constante k=w/c, o Número de Ondas, na realidade, uma
frequência espacial:
Este é um caso particular de uma relação geral das ondas num meio material, em
que as periodicidades espacial e temporal são relacionadas. É essa a responsabilidade da
Relação de Dispersão, ω = ω (k) . Cada meio, para cada tipo de ondas, terá a sua.
77
Ondas Monocromáticas Planas:
Temos portanto uma 1ª família de soluções:
ondas planas, parametrizadas por um vetor de
módulo k.
Têm superfícies de igual fase planas, não
são confinadas lateralmente (não há limitação
transversa). Sendo a irradiância constante sobre
tais superfícies, o fluxo é infinito. Não são
fisicamente aceitáveis, mas ótimos modelos para o
comportamento local de ondas em torno das
direcções de propagação e muitos casos.
Uma combinação linear de ondas planas é
solução da EH.
A algoritmia para se lidar com séries de ondas planas existe. São as Séries e
Transformadas de Fourier!
A Irradiância ótica, que se calcula com E(r,t)=2<u2(r,t)>, é:
Média sobre grande número de períodos: E(r) = <|U(r)|2> = a2(r)
Frentes de onda: superfícies de igual fase, φ (r) = cte.
Na seguinte imagem podemos ver 2 tipos de frentes de onda:
78
As normais à frentes de onda, grad φ (r), representam as direcções ao longo das
quais a fase varia mais rapidamente – correspondem aos raios luminosos, da óptica
geométrica.
As fase da Amplitude Complexa estabelecem a ponte com as frentes de onda
geométricas da Óptica Geométrica (longe dos bordos e longe dos volumes focais).
O módulo da Amplitude Complexa, dá-nos directamente a Irradiância.
A média temporal [<>] é calculada durante um intervalo de tempo >> período da
onda (~2x10-15 s, @ l = 600 nm).
Integrando a irradiância, obtém-se o fluxo em Watts. O Fluxo, P, (em W) através
de uma área A perpendicular à direcção de propagação é:
A Irradiância, E, [Wm-2] é um observável.
79
A resolução da equação de Helmholtz é possível através do método de separação
de variáveis:
Equação de Helmholtz:
Procuremos, em coordenadas cartesianas, soluções da forma X(x)Y(y)Z(z) . Existirão?
A EH toma a forma:
Dividindo por XYZ e rearranjando:
1º membro só é função de x. O 2º só é função de y e z. Logo, ambos têm de ser iguais a
uma constante (que se verá que tem de ser negativa, -l2) Fazendo o mesmo para o 2º
membro:
Importante: A 3 constantes ( − l2 , − m2 , − n 2 ) têm de ser negativas. Caso não se
usassem constantes negativas, obter-se-ia exponenciais reais para a amplitude
complexa, que poderiam ser:
➔ Negativas (o que implica ao longo de iterações, a extinção da exponencial);
OU
➔ Positivas (fisicamente inadmissível pois a amplitude não pode crescer ad
eternum)
As 3 equações podem-se resolver facilmente (oscilador harmónico) → Ondas Planas
80
A separação de variáveis pode também ser feita em coordenadas esféricas, usando as
variáveis θ, φ, r → Ondas Esféricas
81
★ Irradiância (Wm-2): E(r)=|A|2/r2
★ Frentes de onda (igual fase) esféricas
★ Amplitude varia com 1/r - O módulo de U(r)=U(|r|) U(r) diminui com 1/r – a
irradiância tende para zero no infinito com r12 .
Separação de variáveis em coordenadas esféricas (note-se a irrelevância de θ e ϕ ):
Máximos consecutivos da amplitude são separados de λ = 2 π /k.
Muitas vezes só interessa o campo próximo do eixo de propagação (+/- a), a uma
considerável distância da fonte - a grandes distâncias da fonte, as ondas esféricas
podem ser aproximadamente ondas planas:
Princípio de Huygens : representação de frentes de onda é feita tal que cada ponto
de uma frente de onda se comporta como uma nova fonte de ondas elementares, que se
propagam para além da região já atingida pela onda original e com a mesma frequência
que ela
82
A aproximação de Fresnel é válida para:
Define-se o Número de Fresnel, N F :
Estas aproximações paraboloidais são muito úteis: comportam-se como ondas
planas ao longo do eixo, e temos uma variação da fase paraboloidal para pequenos
desvios do eixo, o que acontece para pequenos ângulos ou para Números de Fresnel <1
(quando o N F difere muito de 1, não é possível aproximar).
As ondas paraboloidais constituem um exemplo das chamadas Ondas Paraxiais
83
A EHP é obtida desprezando várias derivadas parciais e a sua solução mais
simples é a onda paraboloidal enquanto a sua solução mais interessante é a onda
Gaussiana (associada a perfis transversos gaussianos).
Em síntese da Parte I - Ondas:
84
85
Os feixes gaussianos são gerados por lasers. Os casos puros são também
chamados modos EM (eletromagnéticos), as soluções matemáticas mais simples.
Como a EHP é linear, combinações lineares de feixes deste tipo são também
soluções e modelam a complexa sobreposição de modos que se observam na realidade
com lasers.
O ponto de partida é a onda paraboloidal, à qual vamos adicionar um grau de
liberdade adicional, para garantir invariância perante uma translação ao longo do eixo
dos z, mas num plano complexo. O novo grau de liberdade é quantificado através do
parâmetro de Rayleigh, z 0 .
86
Se a onda paraboloidal
Separando as partes real e imaginária de 1/q(z):
, com
Parâmetros livres: A1 , z0 , λ
87
2.2.1. Propriedades dos Feixes Gaussianos
Antes de mais:
Analisaremos as seguintes propriedades dos feixes gaussianos: irradiância
(W/m ), potência (W), largura do feixe, divergência, profundidade de foco, fase, frentes
2
E (r) = ∣U (r)∣2
88
Ainda de notar:
2) Potência ou Fluxo
Razão da designação gaussiana: embora a amplitude não seja 0, 99% do fluxo,
concentra-se para distâncias transversas inferiores a 1.5W(z)! A onda é efetivamente
confinada lateralmente e assim temos um feixe gaussiano.
O Fluxo P (em W) total de um feixe obtém-se integrando a irradiância num plano
transverso ( I 0 = ∣A0 ∣ 2 ):
O fluxo é metade da irradiância máxima E(0,0) multiplicado por uma “área do
feixe” no plano da cintura e não depende de z.
Em termos do fluxo, P, a Irradiância ( W /m2 ) toma a forma:
Num círculo de raio ρ0 :
ρ0 = W (z) → 86%
ρ0 = 1.5 W (z) → 99%
3) Largura do Feixe
W(z) mede a largura do feixe. Para cada z, a Irradiância, E , diminui de 1/e2 ~ 0.135
para ρ = W (z) , ou seja, relativamente ao valor máximo, que se verifica sobre o eixo.
Como ~86% da fluxo (W) está contida num círculo de raio W(z), este último
considera-se raio do feixe em z:
89
★ Mínimo, W 0 , em z=0 → plano da cintura (beam waist)
★ Diâmetro do feixe (spot size): 2 W 0
★ W(z) = √2 W 0 para z = ± z 0
No fundo, a largura é mínima no plano da cintura, z=0, e aumenta
simetricamente em relação à cintura, de forma não linear até poucos z0, e linearmente
assimptoticamente.
4) Divergência
Se z ≫ z 0 , o factor 1 pode ser desprezado:
➔ Se W 0 diminui, ( z 0 diminui), θ0 aumenta.
➔ Feixes muito direcionais: pequeno λ e grande cintura W 0
A variação linear assimptótica de W(z) pode ser agarrada pela divergência do
feixe, que varia inversamente com o diâmetro da cintura: quanto maior, menos
divergente é o feixe: permite controlar a densidade de potência luminosa, isto é a
irradiância (em W /m2 ) - parâmetro crítico para estabelecer a interface com o sensor.
5) Profundidade de Foco
Se o feixe gaussiano for produzido por um laser e focado por uma lente à
esquerda é gerado um feixe com este perfil próximo da cintura, é esta a zona útil. Como
muitas vezes os feixes são no infravermelho, é preciso que a profundidade seja bem
apreendida pelo cirurgião. Deve sentir o local da cintura do feixe a manipular.
O plano da cintura é o plano de melhor “foco”. A profundidade de foco ou
distância confocal é a distância ao longo da qual o raio do feixe não excede √2W 0 , e é
igual ao dobro do parâmetro de Rayleigh:
90
Se λ = 633 nm (HeNe):
➔ 2 W 0 = 2 cm → 2 z 0 = 1 km
➔ 2 W 0 = 20 μ m → 2 z 0 = 1 mm
6) Fase ao longo do eixo
A fase do feixe gaussiano é:
Ao longo do eixo ( ρ = 0):
kz é a fase de uma onda plana
um desvio relativamente à fase da onda plana
Diferença de fase associada à passagem pela cintura, π , efeito Gouy:
O 1º termo traduz a fase de uma onda plana que se propaga ao longo do eixo dos
z. Mas não o é totalmente, pois há duas correcções:
1. Efeito de Gouy, toma valores assimptóticos de ± pi/2 na passagem pelo
plano da cintura. A variação de fase assimptótica materializa-se a poucas
constantes de Rayleigh de distância!
2. Fase Quadrática, reminiscente de uma onda esférica na aproximação
paraboloidal, mais relevante à medida que nos afastamos do eixo.
A 2ª correcção marca três domínios característicos: onda plana na cintura,
esférica no infinito e … onda gaussiana entre os dois regimes anteriores, em que as
frentes de onda são esféricas mas em que a posição do centro de curvatura varia…
O 3º termo representa, para cada z, a fase de uma onda esférica na aproximação
paraboloidal, com raio de curvatura na origem R(z):
91
★ R(z) → ∞ quando z → 0 (cintura): fase de uma onda plana
★ |R(z)| é mínimo para z = z 0
★ R(z) varia linearmente com z quando z ≫ z 0 : onda esférica
O facto de as superfícies de igual fase se poderem considerar as ondas esféricas,
tem uma importância capital para a física dos lasers!
7) Frentes de Onda
Os Feixes Gaussianos são modos das cavidades esféricas: se os raios de curvatura
das Frentes de Onda forem iguais aos raios de curvatura dos espelhos, a onda
reflecte-se sobre si própria e a configuração da onda mantém-se estável → modo EM.
As características dos espelhos determinam a posição do plano da cintura (plano
z=0). As condições fronteira (Maxwell) determinam que os FG sejam modos próprios da
cavidades ressonantes esféricas, isto é, que constituam as soluções estacionárias para a
distribuição dos campos E e H no interior da cavidade ressonante.
Parâmetros do feixe em cavidades ressonantes
Os parâmetros da cavidade determinam os parâmetros do feixe. Com dois
espelhos separados de d, coloca-se a origem z=0 algures:
Resolve-se este sistema em ordem a z 0 , z 1 e z 2 – mas tem de se garantir que z 0 é
real, isto é que z 0 2 > 0 :
92
Estabilidade das Cavidades Ressonantes
Cintura dentro ou fora da cavidade ressonante
Sendo um laser constituído por uma cavidade ressonante
(com meio activo interno à cavidade que gera fotões que alimentam
energeticamente o feixe), os feixes gaussianos são a forma
eletromagneticamente necessária para a organização das ondas
geradas por lasers. Os parâmetros da cavidade determinam os do
feixe: posição do plano z=0 e parâmetro de Rayleigh.
Cavidades ressonantes laser estáveis e instáveis:
Esta condição determina a estabilidade da cavidade, isto é, a
permanência da solução perante pequenas perturbações
mecânicas da posição e orientação dos espelhos.
Lasers
Sobre lasers e sobre a geração interna (à cavidade) da onda gaussiana,
estritamente qualitativo. Recorde-se as características da emissão estimulada de
radiação:
★ Para haver EE, tem de haver absorção – há uma fonte de energia externa
93
★ Alguns fotões emitidos por EE ao longo do eixo da cavidade geram mais e mais
fotões idênticos ao longo do mesmo eixo (o sistema tem ganho positivo)
★ A situação apenas se mantém estável ao longo do tempo para feixes gaussianos,
que são os modos próprios da cavidade ressonante
★ Parte do feixe é perdida e passa para o exterior, por isso a refletividade do
espelho de saída (output coupling) não pode ser de 100%.
Resumindo:
★ Onda plana
○ Amplitude complexa
○ Direcção de propagação
★ Onda esférica
○ Amplitude complexa
○ Localização da origem
★ Feixe Gaussiano
○ Amplitude máxima, A0
○ Direcção (eixo de propagação do feixe)
○ Localização da cintura (posição do plano z=0)
○ Um parâmetro adicional, z 0 ou W 0
■ Se os parâmetros forem conhecidos num ponto qualquer ao longo
do eixo de propagação podem ser calculados para qualquer outro
ponto
■ Por exemplo, se R(z) for conhecido para dois pontos separados de
Δz =d, todos os parâmetros do feixe podem ser determinados
8) Qualidade do Feixe, fator M^2
O feixe gaussiano constitui um caso limite, ideal. Uma medida do desvio de um
feixe real relativamente ao feixe gaussiano é uma medida de qualidade do feixe.
O factor de qualidade mais frequente é o factor M 2 :
➔ Para o feixe real e para o feixe gaussiano ideal, calcula-se o produto:
P = (diâmetro da cintura, 2W m ).(divergência total, 2θm )
94
➔ Para um feixe Gaussiano, P 0 = 4λ/π
O factor M 2 define-se como:
M 2 = P F eixe Real / P o = π /λW m θm
Quanto mais próximo de 1, mais Gaussiano é o feixe:
HeNe M 2 < 1.1
1) Os feixes laser são mais complexos, mantendo-se sempre como feixes, isto é,
confinamento axial e decaimento gaussiano assimptótico.
2) Encontramos vários tipos de “simetrias”, diretamente determinadas pela forma
geométrica dos espelhos, das aberturas ou do próprio volume do meio activo.
95
Ondas paraboloidais ajustam-se aos espelhos da cavidade ressonante com grande raio de
curvatura, viabilizando a auto-reprodução da onda na cavidade ressonante: os seus modos.
Existirão 3 funções reais compatíveis com a EHP?
Obtemos:
As equações em u,v são as equações aos valores próprios que definem os
polinómios de Hermite. Os Polinómios de Hermite admitem soluções polinomiais reais
e valores próprios inteiros. (l,m = 0,1,2,3, …)
Quanto à 3ª equação,
Juntando tudo:
96
Gl(u) são as funções de Hermite-Gauss:
Os polinómios de Hermite introduzem correções adicionais na fase longitudinal,
e a amplitude complexa vem expressa em termos das funções de Hermite-Gauss, o
produto de um polinómio de Hermite pela Gaussiana. O que vale em u, vale igualmente
em v, mas agora voltamos já às coordenadas transversas habituais x,y.
Polinómios de Hermite
Equação diferencial de Hermite:
➢ Funções próprias do oscilador harmónico quântico
➢ Base de completa de funções ortonormada de funções em R [peso w(x)]
★ Polinómios reais, ou pares ou ímpares.
★ O número de zeros é igual à ordem do polinómio.
★ Em conjunto, constituem uma base ortonormada de funções.
Em baixo a representação gráfica dos polinómios de Hermite de n=0 -> n = 5.
(Número de zeros = n).
97
Feixes de Hermite-Gauss
Funções de Hermite-Gauss
❖ Sempre que um H tem um zero, a amplitude complexa tem um zero...
❖ O produto de uma gaussiana por um polinómio, cria secções positivas e
negativas na amplitude complexa.
❖ O comportamento assimptótico da gaussiana NÃO é destruído – é esta a
razão pela qual este tipo de feixes se chamam ainda “gaussianos”.
❖ Quando passamos da distribuição de amplitudes para a distribuição de
irradiâncias , U^2, as bossas negativas tornam-se positivas, mas os zeros
mantêm-se nas mesmas posições. Em torno dos zeros, há certamente
“faixas” de irradiância muito reduzida, que separam os vários lobos
luminosos de um feixe.
❖ Os inteiros l,m são identificadores da ordem de cada modo: um feixe de
ordem n, tem n+1 lobos (segundo cada dimensão).
98
Irradiância (W/m^2)
Modos (l,m)
O Feixe Gaussiano inicial é o modo TEM(0,0)
L – Polinómios generalizados de Laguerre, gerados a partir da Fórmula de
Rodrigues:
99
Note-se:
➔ A Gaussiana radial não é destruída, nem os principais termos da fase plana e
paraboloidal
➔ A modulação da amplitude transversa por polinómios de Laguerre em r
➔ A existência de uma nova fase azimutal, em phi
➔ Uma nova estrutura da fase longitudinal [l+m+1 -> l+2m+1]
Com Laguerre ficam explicadas uma variedade de
configurações transversas possíveis da amplitude complexa, logo da
irradiância de feixes gaussianos. Note-se que, sendo a EHP linear,
combinações lineares de FG’s (seja qual for a simetria) são ainda
soluções da EHP, logo soluções fisicamente admissíveis, e podem ser
geradas por lasers.
100
transversa é determinada por funções de Bessel, Jm. Existem então soluções tipo onda
plana mas não uniformes em planos perpendiculares ao eixo de propagação.
Em variáveis polares, com separação de variáveis:
Jm() - funções de Bessel de 1ª ordem
Existe ainda uma fase azimutal que se
adiciona à fase da onda plana em z.
Note-se que diferentes secções transversas
do feixe têm o mesmo perfil de irradiância,
exclusivamente determinado por Jm(kt.ro).
Estes feixes de Bessel podem ser gerados fazendo passer feixes gaussianos por
axicones. Os feixes caracterizam-se por uma espécie de espigão axial que se mantem
invariante com a propagação (dentro de limites, evidentemente...). Têm a desvantagem
de distribuírem uma parte muito significativa do seu fluxo (em W) fora do eixo...
101
Famílias das funções de Bessel
Há várias famílias, de 1ª e 2ª espécie, modificadas ou não), e em número infinito
em cada família. Podem ser aproveitadas em todo o seu domínio, ou só parcialmente.
Os J’s são extremamente importantes em difracção e na explicação da
propagação da luz pelos núcleos da fibras ópticas. Os Y’s, modelam a estrutura do
campo nas bainhas das fibras ópticas. Às vezes, excluímos umas pois não podemos
tolerar valores infinitos no intervalo que nos interessa…
A partir do conhecimento da fonte luminosa escolhemos uma onda ou feixe,
porventura sob a forma de somas ou integrais. Conhecida a fonte e a posição do objecto
iluminado, sabemos calcular analiticamente a amplitude da onda no plano do objecto
iluminado. Normalmente cabe-nos a nós controlar a forma como um objeto é iluminado
por uma fonte. O objecto perturba a amplitude e a fase da onda incidente, e a propagação
após o objecto é o que designa como difracção.
102
3. Interferometria
As interferências resultam da sobreposição de duas ou mais ondas
eletromagnéticas. A partir de uma perspectiva da ótica clássica, a interferometria é o
mecanismo pelo qual a luz interage com a luz. Outros fenómenos, como a refração,
dispersão e difração, descrevem a forma como a luz interage com o seu ambiente físico.
A interferometria foi fundamental para estabelecer a natureza ondulatória da luz. As
primeiras observações foram de padrões de franjas coloridas em filmes finos. Usando o
comprimento de onda da luz como uma escala, a interferência continua a ser de grande
importância prática em áreas como a espectroscopia e a metrologia.
A maior parte dos interferómetros, tem duas ondas interferentes (uma delas
poderá ser modelada, sendo a de referência). Um interferómetro a duas ondas é um
“comparador” entre ondas, que serve para obter informação de um sistema físico, com
uma resolução da fração do comprimento de onda (no visível, décimos a centésimos de
micrómetro). Quando duas ondas se sobrepõem na mesma região do espaço, o padrão
de irradiâncias resultante altera-se significativamente, às vezes, de forma não visível por
ser insuficiente a resolução do olho/detector. Estas alterações são explicadas pelos
conceitos associados à interferometria, que utiliza interferómetros para uma variedade
de aplicações.
A reter sobre Interferometria
★ Da linearidade da equação de Helmholtz decorre que a soma de amplitudes
complexas é solução da equação de Helmholtz.
★ O cálculo da distribuição espacial da irradiância, E(x,y), em planos
perpendiculares ao eixo dos ZZ, é relevante para quaisquer pares de tipos de
ondas (planas, esféricas, gaussianas), em que a diferença de fase entre as ondas
varie espacialmente.
★ A análise das situações de interferência reduz-se aos casos de interferência entre
ondas planas e/ou esféricas, contando a posição relativa das respetivas fontes em
relação ao plano de observação. Uma das ondas é considerada como referência, a
outra contém, através de pequenas variações espaciais ou temporais da fase, a
informação desejada.
★ Existem vários tipos de interferómetros: de divisão de amplitude ou de divisão de
frente de onda; de dois feixes ou de feixes múltiplos, com ou sem percas. A sua
arquitectura, variáveis de que depende a diferença de fase e perfil das franjas,
distinguem-nos. Nomes a conhecer: Young, Fizeau, Michelson (e variantes),
Mach-Zehnder, Fabry-Perot.
103
★ Uma cavidade ressonante constitui uma situação em que o número de ondas que
se sobrepõem (interferem) é muito elevado, em função das refletividades dos
espelhos que a constituem. As características da Amplitude Complexa que daí
resulta são da maior relevância para o funcionamento dos lasers: constituição de
ondas estacionárias e frequências de ressonância.
Identidades Trigonométricas
Se modulamos (multiplicativamente) duas funções harmónicas, obtemos duas
funções com frequências soma e diferença. Se somamos duas funções harmónicas,
obtemos uma função modulada, com frequências soma e diferença. Se as duas
frequências forem relativamente próximas, a diferença de frequências é baixa e a soma
de frequências pode ser (ou não) elevada.
Há uma arquitetura de detectores (1D ou 2D) (referidos como detectores
heterodinos) que se baseiam na mistura (soma) do sinal a medir com um outro de
referência, e o resultado é um sinal de amplitude modulada, com termos de baixa
frequência (deteta e mede-se facilmente) e termos de alta frequência (de média nula...).
Soma de sinais
104
Soma de dois senos, traduz-se numa amplitude modulada. A envolvente é um
sinal de baixa frequência (diferença, a vermelho), fácil de separar e de detetar. O “resto”
é um sinal de frequência mais elevada (soma), muitas vezes superior à frequência de
corte do detector (1D ou 2D) – logo, não detectável. Quando os detectores são de
energia (é o caso da óptica), o sinal é de irradiância, E=|U|^2 – a azul, em baixo – que
tem uma frequência dupla da da envolvente...
Atenção: tudo isto é válido no tempo/frequência (a 1D) ou no plano espacial
(x,y/frequências espaciais) (a 2D), através de “franjas” de interferência.
Temos aqui padrões de interferência típicos:
★ 4 da esquerda: interferências entre dois feixes, realizados com lasers de
comprimento de onda de 514 nm (verde) ou 633 nm (vermelho);
★ 2 da direita: interferência entre feixes múltiplos: duas ondas com frequências
pouco diferentes (em baixo), um espectro mais complexo (em cima).
Reparar em:
➔ Perfil das franjas: variação essencialmente sinusoidal da irradiância, à esquerda,
franjas mais “binárias” à direita
➔ Tipo de “ruído” de fundo, típico da radiação coerente (laser), um “granitado” que
se designa por speckle, inescapável quando se usa esta radiação (laser, radar, ...)
➔ Estruturas finas e “aleatórias” no fundo (sobretudo à esquerda): traduzem a
difração por sujidades, pequenas partículas, que existem nas superfícies ópticas.
Nos interferogramas da esquerda, a informação reside na posição do “esqueleto”
das franjas (linha central), no número de forma das franjas, que podem ser analisadas
visualmente ou serem “interpretadas” por sistemas de visão computacional. Neste caso,
é importante filtrar os vários tipos de “ruído”, para que a informação quantificada seja
correcta. Nos da direita, a informação reside no número de padrões independentes e
105
nas relações numéricas entre os raios de curvatura em cada um dos diversos sistemas
de franjas circulares (1 por cada comp. de onda).
Propriedades do Meio
Os interferogramas podem revelar as propriedades do meio através do qual uma
das ondas se propaga (a outra, a de referência, é quase sempre cuidadosamente
protegida).
À esquerda em baixo: visualização da perturbação induzida no ar pela chama de
uma vela ou por um escoamento de um fluido. O ar é um meio “transparente”, mas as
variações do índice de refracção afectam a fase da onda que o atravessa, e tais
variações de fase só podem ser visualizadas através da criação de padrões de
interferência. Em fluidos, os padrões são obtidos durante um tempo muito curto
(relativamente ao tempo natural da dinâmica dos fluidos) exigindo laser pulsados (ms –
fs).
Nos outros casos, temos som (tambor à esquerda e guitarra e violino, à direita)
que afecta a superfície do instrumento que vibra de uma forma estacionária: ventres
com amplitude máxima de vibração (escuros) e zonas de nodos em que não ocorre
vibração (iluminados). Esta configuração de franjas (obtidas durante um tempo muito
superior ao período do som) informam-nos sobre a forma como o instrumento reage aos
estímulos, a sua reverberação, o seu timbre, etc.
Note-se que estes padrões de franjas de interferência podem não nos dizer tudo
sobre a forma como as superfícies se comportam, designadamente em termos de fases
relativas entre os diferentes sub-padrões (e que se relacionam com a distribuição das
convexidades e concavidades das superfícies).
Outro exemplo de Interferograma
Com radares em satélites, podemos fazer interferir numericamente as ondas
difundidas pelo solo em dois instantes diferentes, para identificar possíveis variações de
106
uma em relação à outra. Os radares são sistemas ativos, que emitem um impulso de
radiação EM e recebem o respectivo eco, após propagação (ida e volta).
Acima trata-se de uma aplicação típica em sismologia, em que se procuram
medir os deslocamentos de natureza tectónica, e em que se obtém resoluções da ordem
do mm, sobretudo na sequência de tremores de terra. A radiação radar (de natureza
electromagnética) é coerente e temos os mesmos tipos de ruído (speckle). A detecção é
feita em amplitude e em fase (e não em irradiância) porque as frequências próprias do
radar (MHz-GHz) são muito mais baixas que as da luz visível (THz), e dispomos de
sensores de amplitude e de fase para o sinal recebido. Os sinais existem sob forma
digital e o padrão de interferências entre os dois conjuntos de sinais é calculado
numericamente.
3.2 Interferências
Princípio da Sobreposição
Interferência é o fenómeno que tem como origem a adição vetorial dos campos
eletromagnéticos (princípio da superposição). Ao calcular a intensidade do campo
resultante veremos que esta pode ser maior ou menor que a soma das intensidades dos
campos que se superpuseram. Em geral, são oriundos da mesma fonte e percorrem
caminhos ópticos distintos, de forma que haverá uma diferença de fase entre eles. Se a
fonte for coerente teremos interferência estacionária, ao passo que se a fonte for
incoerente teremos interferência não estacionária.
A interferometria limita-se a assumir a linearidade das equações de Maxwell, de
ondas e de Helmholtz: se conhecemos duas ondas, a respectiva soma é solução. Pelo
princípio da sobreposição, o campo elétrico total é dado por:
Com radiações ópticas no visível, não é possível a medição da irradiância
instantânea: as frequências são muito superiores às frequências de corte dos sistemas de
detecção que funcionam com base na energia. Para se verificar uma acumulação
suficiente de energia, o sinal é recebido durante muitos ciclos de variação da onda, e o
sistema de detecção realiza uma efectiva média temporal.
Não é possível seguir as variações de amplitude do campo (~ 1014 Hz)! Só a
Irradiância, I (em W /m2 ) é que pode ser medida:
107
=
Logo, para duas ondas e respectivos campos:
A irradiância devida à sobreposição de duas ondas é constituída por 3 termos. I é
a soma das irradiâncias individuais e do termo de interferências, I 12 que pode ser
positivo, negativo ou nulo .
Em termos estritos da óptica ondulatória, em que não existe campo eléctrico, E,
mas apenas uma função de onda u(r,t) e, para ondas monocromáticas, a sua Amplitude
Complexa, U(r).
Para ondas monocromáticas com a mesma frequência, a soma das duas ondas
pode ser traduzida diretamente em termos das respectivas Amplitudes Complexas, U1 e
U2, com os respectivos módulos, A1 e A2, e fases, phi1 e phi2.
(Da maior importância em interferometria é a diferença de fase, delta, entre as ondas
interferentes em cada ponto, r.)
Quase sempre a nossa detecção é realizada num plano, onde se coloca um
detector. Em cada ponto desse plano, delta irá naturalmente variar, de forma mais ou
menos lenta.
108
A Irradiância variará em correspondência, com uma modulação co-sinusoidal
sobreposta a uma base, I1+I2. Para ondas monocromáticas com a mesma frequência: ( In
~ |An|2).
Para duas ondas planas monocromáticas que se deslocam segundo as direcções
definidas pelos vetores de onda, k1 e k2, com módulos de amplitude vectoriais, e com
fases na origem arbitrárias, eps1 e eps2
Note-se que I12=0 se as ondas tiverem polarizações perpendiculares.. Notem
ainda que I1 e I2 são intrinsecamente positivos, e que o valor de I12 (positivo ou
negativo) pode não ser suficiente para criar valores nulos da irradiância total.
Nos pontos em que delta for um múltiplo par ou ímpar de pi, teremos máximos
ou mínimos da irradiância, descrevendo situações de interferência construtiva e
destrutiva, respectivamente.
Irradiância máxima → interferência construtiva:
Irradiância mínima → interferência destrutiva:
109
No caso em que as duas amplitudes têm o mesmo módulo a expressão para a
irradiância total simplifica-se, o valor mínimo é 0, e as franjas têm contraste máximo:
Da visibilidade do padrão de interferências surge a expressão geral para a
irradiância de um padrão de interferências entre dois feixes, para ondas parcialmente
coerentes. Gama, o grau complexo de coerência, é um observável – a visibilidade – e é
uma função chave da teoria da coerência
Imax e Imin são as intensidades máximas e mínimas no padrão de franja. A
visibilidade da franja terá um valor entre 0 e 1. A visibilidade máxima ocorrerá quando as
duas ondas têm a mesma intensidade. A visibilidade cairá para zero quando uma das as
ondas tem intensidade zero. Em geral, as intensidades das duas ondas podem variar de
acordo com a posição, pelo que que a intensidade média e a visibilidade marginal
também podem variar ao longo do padrão de franjas. A média no plano de observação é
igual à soma das intensidades individuais das duas interferências ondas. O termo
interferência redistribui essa energia em franjas claras e escuras.
A irradiância varia de ponto para ponto, e é determinada pela variação de delta
de ponto para ponto. A irradiância I0 (média) também pode ser não uniforme, mas
normalmente a sua variação é lenta – recordem os feixes gaussianos, cuja irradiância é
regida por uma gaussiana, de desvio padrão W(ro), e sobre a qual se inscreve a variação
explicada pelo cos(delta).
110
Para fontes próximas, as amplitudes (1/r) são semelhantes em P. Logo:
Máximos de irradiância: δ = 2πm
Mínimos de irradiância: δ = 2πm′ = (2m + 1)π
(Relembrar que, m é inteiro e que se as fontes estiverem em fase no emissor, ε1 = ε2 .)
Elipsóides e Hiperbolóides
Com duas fontes, gerando ondas que se sobrepõem no espaço, logo interferem, o
espaço 3D fica preenchido por um contínuo de folhas hiperboloidais como mesmo valor
da irradiância. Nestes casos a soma ou subtração dos rs é constante.
111
Os máximos ocorrem sobre hiperbolóides com focos em S1 e S2
Neste espaço contínuo de hiperbolóides, inserir um sensor plano (CCD, filme
fotográfico) é definir uma secção planar. A respectiva intersecção dá origem a franjas
definidas no plano do detector, cuja forma, densidade, etc, apenas depende da
configuração volúmica das superfícies hiperboloidais. Consoante a posição do sensor
em relação à linha que una os focos dos hiperbolóides, assim a configuração de franjas
no detector.
No caso do interferómetro de Young, a linha de focos é paralela ao detector e as
franjas são lineares, degradando-se para hipérboles com o afastamento. No caso em que
detector é perpendicular à linha focal, temos basicamente franjas circulares.
Note-se que se as fases na origem das duas fontes variarem, todos estes padrões,
seja a 3D no espaço como a 2D no plano do detector, se deslocam rigidamente, e onde
estavam máximos podemos passar a encontrar mínimos ou qualquer outro valor
intermédio.
Para ondas planas, com a mesma fase na origem note-se a forma que o vetor de
ondas k assume. A fase de cada uma é dada por k.r, e a observação é feita no plano z=0,
o que anula a 3ª parcela do produto interno quando se calcula a diferença de fase, phi.
112
Diferença de fase entre as duas ondas em z=0
Irradiância total em z=0
Padrão periódico segundo o eixo dos x, de período p:
Exemplos:
Surgem franjas paralelas entre si e ao eixo dos y, com um perfil cossinusoidal,
cujo período (segundo x) diminui quando o ângulo theta aumenta, até a um valor
máximo de lambda/2 para feixes segundo a mesma direcção mas com sentidos de
propagação opostos.
Se eps1-eps2 não for 0 há uma translação rígida do padrão. Se eps1-eps2 variar
caoticamente ao longo do tempo temos uma trepidação caótica do padrão no plano do
sensor, que pode levar à inexistência de um padrão estável, logo visível.
Elemento crítico para caracterização da coerência de um feixe luminoso e,
simultaneamente, para o representar: o nosso modelo para um feixe monocromático
incoerente é radiação monocromática gerada por fontes cuja fase na origem (eps) varia
caoticamente ao longo do tempo.
Se precisamos de registar um padrão estável de interferências, temos de criar
condições para que a diferença entre os eps se mantenha constante ao longo do tempo.
Manter a configuração de elementos ópticos conduz os feixes mecânica e termicamente
estável. Qualquer deslocamento de lambda de um dos espelhos, transforma um máximo
num mínimo, o que é excessivo, pois perdemos um dos observáveis mais importantes: o
número de franjas que se possam contar entre dois pontos no plano do sensor.
113
3.2.1.2. Interferência entre ondas planas e esféricas
Para a interferência entre uma onda plana e uma onda esférica no plano z=0, as
contas são semelhantes. Assume-se que:
★ o factor 1/r varia pouco no zona de interesse
★ as intensidades na origem são idênticas
★ a onda esférica se deixa aproximar por uma onda paraboloidal
As franjas são circulares, contáveis, e a variação do seu raio de curvatura com o
inteiro m segue uma lei bem definida. A densidade de franjas aumenta com sqrt(m).
Exemplos:
Holograma de um ponto
Focagem de onda onda plana. Este padrão de franjas circulares
representa o holograma de um ponto.
Placa Zonal de Fresnel (Fresnel Zone Plate)
Lentes para raios-X. Quando binarizados são conhecidos como
placas zonais de Fresnel. São utilizados como lentes difrativas para feixes de raios-X – os
materiais são basicamente transparentes para feixes de raios-X cuja frequência óptica é
muito elevada.
Os máximos ocorrem sobre hiperbolóides com
focos em S_1 e S_2
Entre duas ondas esféricas, o exercício
anterior (onda plana/esférica) repete-se para duas
ondas esféricas na aproximação paraboloidal. A
configuração do padrão de franjas depende da
colocação e orientação do detector, logo do tipo de
secção plana que o detetor permitir materializar.
Quando uma frente de onda com aberrações ou formas irregulares interfere com
uma frente de onda de referência, é produzido um padrão de franjas com forma
irregular. No entanto, as regras para a análise deste padrão são o mesmo que em
114
quaisquer duas frentes de onda. Uma dada franja representa uma diferença de fase
entre as duas frentes de onda. As franjas adjacentes correspondem a uma diferença de
fase de 2R. Se a referência for uma onda plana, obtém-se a forma absoluta da frente de
onda irregular. Se a referência for uma onda esférica, o mapa de diferenças de fase
representa a diferença entre as duas frentes de onda.
A irradiância total em P será – após as devidas médias temporais:
A média temporal do termo soma, em ν 1 + ν 2 , será quase sempre nula.
Observam-se batimentos, mistura óptica, heterodinagem óptica, etc. Quando as duas
ondas não têm a mesma frequência, temos de trabalhar diretamente com as funções de
onda u(r,t), soluções da equação de ondas, na forma u=U(r) exp(iwt) = sqrt(I(r)) exp(iwt)
para fazer aparecer a intensidade.
Em qualquer ponto, P, não explicitado, a irradiância variará ao longo do tempo,
mas apenas a componente de baixa frequência será detectável na maior parte dos casos,
pois a média temporal dos termos com a frequência soma será nula. Note-se que o sinal
detectado terá frequências diferentes consoante for detectado em amplitude ou em
irradiância. Esta “mistura de ondas” ou “heterodinagem” é uma técnica metrológica (2D)
e de telecomunicações (1D) muito importante.
Num qualquer ponto P, a função de onda total é:
Em P, a irradiância total variará no tempo:
115
Lasers pulsados em regime de bloqueamento de modos
Sequência de impulsos com período T F , intensidade de pico M 2 I 0 , e intensidade
média M I 0 . A duração de cada impulso é τ = T F /M :
ν F = 1GHz; T F = 1ns; M = 1000 → τ = 1ps
Trata-se da soma de 2L+1 termos de uma série geométrica de razão
exp(2 × 2π× ν F t) exp(2.2pi.niuFt).
Quanto maior for o número de ondas monocromáticas, M, mais curtos e mais
intenso são os impulsos, que constituem um “trem” periódico de impulsos de período
T F . Para gerar impulsos laser ultracurtos recorre-se a esta forma de interferências,
isto é ao regime de bloqueamento de modos. Como se arranjam muitas ondas
monocromáticas? Recorrendo a materiais com grande largura de banda (corantes, CO2,
titânio-safira, etc) e a cavidades ressonantes que suportem um grande número de
modos longitudinais.
Como se medem as variações de fase?
Considere-se uma onda plana monocromática, de amplitude unitária, que se
propaga ao longo do eixo dos z:
u(r, t) = exp i(kr − wt) → exp i(kz − wt) = exp(iφ)
com k = 2π /λ e k = w/c . φ = k z − wt é a fase da onda
Qual é a diferença de fase entre dois pontos separados de Dz ao longo da
direcção de propagação da onda (aqui, o eixo dos z, em geral a direcção de k)?
Δφ = k Δz
Se o meio não for homogéneo, esta variação é diferencial, e será necessário
integrar ao longo da trajectória entre os dois pontos. OPD = Optical Path Difference é o
Percurso Óptico entre os dois pontos, ao longo da direcção de propagação.
Analisámos situações de interferência entre duas ou mais ondas
monocromáticas, porventura um número infinito de ondas. Veremos de seguida outras
situações em que também interferem um número elevado de ondas, mas com a mesma
frequência. Na prática devemo-nos preocupar com as variações de fase já que, em
interferometria, é sempre necessário calcular fases num determinado ponto, para
depois calcular diferenças de fase entre as ondas interferentes nesse ponto.
A origem absoluta da fase é arbitrária. Mas quando as duas ondas interferentes
são geradas a partir de uma mesma onda, é a partir do ponto de separação que se
devem contabilizar as variações de fase das ondas interferentes. Quando analisarmos
mais em detalhe cada um dos interferómetros, identificaremos o componente óptico a
partir do qual se devem analisar todos os fenómenos que podem afectar a variação da
fase.
Dito de uma forma simples:
★ Percurso óptico vezes o número de ondas no vazio
116
★ Percurso geométrico, em unidades de cdo no meio, vezes 2pi
As amplitude complexas das ondas “consecutivas” diferem entre si do factor
multiplicativo h = exp (jϕ) . Nestas condições, a soma de todas as amplitudes pode ser
posta sob a forma de uma série geométrica de razão h, com M termos, cuja soma é
conhecida:
Se então, e portanto, a amplitude complexa
resultante da soma de M ondas é dada por:
Quadrando, temos a irradiância, cuja forma analítica e representação gráfica em
função da fase ϕ são semelhantes à situação de “bloqueamento de modos”. A
irradiância é dada por:
Conclusões a tirar:
➔ A irradiância é máxima para ϕ múltiplo de 2π ;
➔ Quanto maior for o número de ondas em causa, mais estreitos são os intervalos
de ϕ para os quais a irradiância tem valores próximos dos máximos;
➔ Os valores de pico são proporcionais a M.
117
Este modelo é aplicável a redes de difracção 2D ou 3D, a cavidades ressonantes
de lasers, a phased arrays, etc.
Interferência entre múltiplas ondas: rede de difração 2D
Este modelo pode ser aplicado a uma rede de difracção. Temos aqui
representados redes de dois tipos:
❖ de amplitude, com absorção selectiva nas zonas opacas
❖ de fase, basicamente transparentes, mas desfasando localmente a onda incidente
de um valor que tem a ver com a topografia da rede
Uma rede de difracção difrata a luz! Gera vários feixes (ordens de difracção)
segundo uma gama de direções angulares muito bem definidas. A difracção é
extremamente sensível ao comprimento de onda, razão pela qual as redes são sempre
usadas em espetrómetros, instrumentos que analisam o espectro de uma radiação.
Irradiância:
Esta é apenas uma condição necessária, não uma condição suficiente. A largura
efectiva de cada furo / fenda também conta, e pode acontecer que, ao longo de uma
destas direcções não se propague qualquer fluxo óptico.
Diferença de percurso óptico entre feixes consecutivos: δ = OP D = d sin θ
Diferença de fase entre feixes consecutivos :
ϕ = k OP D = (2π /λ)d sin θ = (2π /λ0 )nd sin θ = k o nd sin θ
Condição para os Máximos de irradiância: ϕ = 2pm d sin θ = ml
Distribuição da Irradiância:
★ Na região comum a todas as ondas
118
★ Determinada pelo padrão de difracção das fendas
Uma rede de difracção de amplitude pode ser considerada uma colecção de finos
retângulos paralelos entre si, num fundo opaco. Imagine-se que a rede é iluminada por
uma onda plana segundo o eixo dos z.
Quais são os ângulos, theta, de difracção, para os quais a diferença de fase entre
feixes consecutivos é 2pi.M? Tais direções são as direcções das ordens difratadas…
Segundo cada uma de tais direções, as ondas emergentes de cada uma das fendas está
em fase com todas as demais, e este conjunto de muitas ondas pode interferir
construtivamente. Para todas as outras direcções que não satisfaçam essa condição, a
interferência é, globalmente destrutiva, e nenhuma luz deverá emergir segundo tais
direcções.
Quanto maior for o número de fendas iluminadas pela onda incidente, mais bem
definidas estão tais direcções.
Rede de difração 2D
Se a onda incidente iluminar a rede de difracção segundo outro ângulo, alfa (se
não se propagar segundo o eixo dos z), é necessário entrar em conta com a fase da onda
incidente nas diversas fendas, que é diferente pois elas são iluminadas em instantes
diferentes. A equação das redes altera-se ligeiramente, as direcções de emergência das
diversas ordens variam rigidamente, mas o processo e as conclusões são em tudo iguais.
Se a frequência da rede for elevada e o diâmetro do feixe elevado (>>d), os feixes
emergentes de cada fenda sobrepõem-se espacialmente e a soma das ondas é
naturalmente implementada. Todavia, se tal não acontecer (interpretando literalmente a
situação representada à direita), é necessário forçar que as ondas se sobreponham, logo
interfiram. Isso faz-se com um lente que recebe um conjunto de finos feixes paralelos e
os faz naturalmente convergir para o seu plano focal imagem, de acordo com as leis da
óptica geométrica.
119
Em qualquer dos casos, para frequências elevadas da rede, veremos num alvo um
conjunto de máximos bem definidos de irradiância - únicas zonas para as quais a
interferência é construtiva – bem separadas por zonas sem luz – zonas extensas de
interferência destrutiva.
Na realidade, esta imagem revela outros elementos importantes que só podem
ser explicados pela teoria da difração:
➔ há uma ordem “ausente”…
➔ a intensidade das ordens não é igual…
Tenham sempre presente que estas equações das redes constituem condições
necessárias mas não suficientes…
Rede de difração 3D
Irradiância:
Diferença entre percursos ópticos: (AB+BC) - AC ’
Condição para máximos de interferência: (AB+BC) - AC ’ = mλ
Como: AB = B C = d/sin θ, AC = 2d/tan θ, AC ′ = AC cos θ
Lei de Bragg:
mλ = 2d sin θ ⇔ sin θ = mλ/(2d)
120
Filmes finos em camada múltipla:
Uma aplicação da mesma natureza ocorre com redes
de difracção 3D: cristais (espaçamento inter-atómico ~nm,
da ordem de grandeza do cdo dos raios-X, mas muito
menor que o CDO da luz visível (micrómetro).
Podemos imaginar que as diversas ondas sejam
geradas por “reflexão” nos vários planos atómicos e que,
mais uma vez, apenas se devem observar feixes difratados
segundo direções para as quais as diferenças de fase entre
reflexões “consecutivas” sejam de múltiplos de 2π . É esse o
conteúdo da Lei de Bragg aplicável a cristais e a raios-X, ou
a estruturas de multi-camada fina que se se depositam
sobre superfícies para controlar a forma como reflectem
(ou não) a luz, em função dos ângulos e do cdo. Também
aqui, a interferência só será construtiva para as direções que satisfizerem a Lei de Bragg.
Phased-array antenna / interferometric imaging
Uma aplicação de outro tipo é hoje banal nos domínios rádio e das microondas:
controlando a fase de um conjunto de emissores, espacialmente distribuídos,
controla-se a direcção segundo a qual se gera um feixe de ondas rádio. São os chamados
Phased-arrays.
Desta forma, consegue-se orientar dinamicamente um feixe sem movimento
mecânico das fontes, sem espelhos ou qualquer outro tipo de reflectores. A sua
aplicação em sistemas radar é óbvia. A agilidade angular do sistema depende
exclusivamente da electrónica de controlo da fase nos emissores (e do tempo necessário
para a recepção do eco e seu processamento).
Esta tecnologia pode também ser aplicada nos radar laser – LIDAR – em
desenvolvimento para a navegação autónoma de veículos, com os quais o veículo
constrói a atualiza frequentemente uma representação do seu ambiente 3D e toma as
decisões de navegação necessárias.
121
Em rádio-astronomia aplica-se exactamente o mesmo princípio mas ao contrário
e sobre um conjunto de recetores: ao aplicar um conjunto de diferenças de fase bem
definido, a um array de recetores, apenas se viabiliza a interferência construtiva de
ondas rádio que incidam segundo uma direcção bem definida. Eletronicamente, faz-se o
varrimento de uma gama 2D de direcções e a imagem é construída, direcção por
direcção.
Esta é a base da “formação de imagem interferométrica”, de que a imagem do
buraco negro (2019) é o exemplo de maior visibilidade recente…
Amplitude complexa soma ( M → ∞ ):
Quadrando, obtém-se a irradiância, definida em termos de um coeficiente, a
Finesse, que depende das percas, |h|.
Quanto menores forem as percas, maior é a Finesse e reciprocamente:
★ Se as percas forem muito grandes, o número de ondas em causa é reduzido,
tendendo-se para uma situação de interferência a dois feixes.
★ Se as percas forem reduzidas, temos um número elevado de feixes, e temos um
número elevado de ondas que interferem
122
Função de Airy
Esta forma específica de variação da Irradiância define a chamada Função de
Airy. Da sua representação gráfica, constata-se:
★ A sua periodicidade, com máximos em múltiplos de 2pi;
★ A largura dos máximos é tanto maior quanto menor for a Finesse;
★ Para Finesses baixas (grandes percas) o perfil da distribuição de irradiância é
essencialmente sinusoidal, o que assinala que o número efectivo de feixes
interferentes é reduzido (tendencialmente, 2).
★ Para Finesses elevadas, os máximos são muito bem definidos (delta-Dirac em
phi), o que coloca elevados constrangimentos sobre as condições em que a
interferência é construtiva: a seletividade e a sensibilidade são enormes. É o que
viabiliza o funcionamento dos lasers!
A diferença de fase, j, entre ondas “consecutivas” pode ser função de: r, t, l, n,
n(T), L(T), r, r’, t, t’ … Num laser, com uma cavidade de comprimento L, ondas
“semelhantes” repetem-se todos os 2L (ida e volta). A diferença de fase entre ondas
semelhantes consecutivas é:
j = k 2L = 4pnL/10 = 4pnL/c = 2pn/(c/2L) = 2pn/F SR
Para haver interferência construtivas, j = 2pm ou n = mFSR. Se apenas um
parâmetro for variável, a função de Airy representa I em função desse parâmetro livre.
123
c/2L banda espectral livre / Free Spectral Range (FSR) [Hz]
Imaginemos que temos no interior da cavidade ressonante (plana-plana) um
meio activo, com emissão estimulada dominante, e com fotões que se propagam
segundo o eixo da cavidade. (Os outros fotões, não nos interessam, acabam por
abandonar a cavidade, fazem parte das percas…).
Podemos imaginar que esses fotões alimentam energeticamente uma onda plana
que oscila dentro da cavidade, regressando sobre si própria, ora da esquerda para a
direita, ora da direita para a esquerda. Como o espelho de saída é parcialmente
reflector, cada uma destas ondas será parcialmente transmitida para o exterior da
cavidade ressonante: propagam-se ao longo da mesma direcção, estão sobrepostas,
interferem. Se as percas forem reduzidas (refletividade do espelho pouco menor que
100%), o número de ondas é muito elevado, e a teoria aplica-se (embora a potência
óptica externa seja reduzida...)
A diferença de fase entre ondas consecutivas, phi pode ser expresso em termos
de λ, ν, L, n . Imaginemos que temos uma cavidade estável (mecânica e termicamente).
ϕ é uma medida da frequência, ν , e o gráfico pode ser usado como I( ν ). Apenas as
frequências múltiplas do FSR é que podem originar máximos bem definidos. Isto significa
que o meio ativo pode gerar muitos fotões com muitas frequências dentro da sua banda
espectral. Nesta, apenas um pequeno conjunto de fotões contribui para máximos muito
bem definidos, ao longo do eixo! Um laser é uma fonte bem mais monocromática do que
o que a sua risca espectral de fluorescência sugere!
O que acontece se a cavidade não estiver devidamente estabilizada, térmica e
mecanicamente? Ao longo do tempo, L(n(T),t) varia, e as frequências ressonantes (que
dependem de L através do FSR) variam também. A coerência do laser reduz-se, pois não
é possível prever a sua frequência e fase ao longo do tempo, que vão variar
caoticamente. Esta redução da coerência do laser torna-o inútil para interferometria,
holografia – aplicações em que a estabilidade da fase é essencial – mas habilita-o ainda
para comunicações, processamento de materiais, metrologia não coerente, etc.
Étalons
Melhoram a monocromaticidade de lasers.
O meio ativo é representado pela sua risca de fluorescência, contínua e larga, a
azul em baixo. Nos processos de emissão estimulada, apenas podem ser produzidos
fotões compatíveis com a risca de fluorescência (muitos mais no centro da risca do que
mais afastados desse centro).
124
Os designados “modos da cavidade” são as frequências múltiplas do FSR
compatíveis com a risca de fluorescência. Apenas estes modos podem ser alimentados
com fotões e desta forma constituir feixes (gaussianos, numa cavidade ressonante
constituída por espelhos esféricos). Houve um aumento da monocromaticidade da
radiação: o espectro passou de contínuo a discreto (~10 modos representados). O feixe
laser pode ser modelado como uma soma de ondas monocromáticas, com frequências
que se podem conhecer, com amplitudes previsíveis, mas com fases relativas ( ε )
imprevisíveis.
O laser está a gerar várias ondas monocromáticas, cada uma delas com uma
frequência central muito bem definida, cada uma delas com uma largura de banda
(largura da risca, não representada) determinada pela Finesse da cavidade (todos os
factores que permitem calcular o factor |h|).
Para aumentar a monocromaticidade do feixe laser e apenas viabilizar a oscilação
de 1 modo basta adicionar uma 2ª cavidade ressonante mais curta no interior da 1ª - um
Étalon. O seu FSR será maior, os seus modos (a rosa) serão mais espaçados, e o laser
funcionará apenas nas frequências que forem simultaneamente frequências de
ressonância das duas cavidades. No caso representado, apenas o modo central seria
retido, e o laser designar-se-ia como monomodo (e a sua coerência seria muito elevada).
(A estabilidade térmica e mecânica do étalon é crítica, sem o que o laser será instável e
poderá nada emitir!)
3.2.2.3.Espetrómetros de Fabry-Perot
O interferómetro Fabry-Perot é um exemplo importante de um sistema que faz
uso de interferência de feixes múltiplos. Permite analisar o espectro de feixes luminosos
constituídos por vários modos – os chamados modos longitudinais. Este interferómetro
serve como espetrómetro de alta resolução e também como oscilador óptico. Nesta
125
última utilização, é um componente essencial de um laser. A radiação em análise entra
numa cavidade ressonante de comprimento L, oscila ao longo do eixo, acabando por
emergir pelo espelho de saída, atrás do qual temos um detector de potência luminosa.
O sistema consiste em duas superfícies paralelas altamente refletoras separadas
por uma distância. Estas duas placas reflectoras separadas são referidas como um
Fabry-Perot etalon ou cavidade, e um arranjo alternativo tem os revestimentos
refletidos aplicados nas duas superfícies de uma única placa de vidro. As duas lentes
servem para colimar a luz de um ponto da fonte alargada na região da cavidade e para
depois fazer uma imagem desse ponto no ecrã. O ecrã está localizado no plano focal da
lente para que sejam vistas franjas de igual inclinação localizadas no infinito. A luz de um
comprimento de onda fixo só atravessará o etalon em determinados ângulos bem
definidos.
Num analisador espectral, um dos espelhos da cavidade oscila, controlado por
um pequeno actuador piezoeléctrico. Neste caso apenas L tem o direito de variar, o que
impõe um rigoroso controlo sobre a temperatura (para que ro, n e, logo, phi não variem
e o analisador mantenha íntegra a sua calibração).
A cada valor instantâneo de L está associado um conjunto de frequências de
ressonância: ν = mF SR = m2π /L . Se essas frequências estiverem presentes no espectro
em análise, as múltiplas ondas internas interferem construtivamente e o detector
detecta. Caso contrário, não há nada para detectar, pois a radiação extingue-se por
interferências destrutivas. Para não haver ambiguidade, o valor do FSR tem de ser
superior à largura de banda espectral (expectável) da radiação em análise.
126
Quanto maior for a finesse, maior é a resolução espectral destes analisadores, e
mais fidedigno é o espectro medido.
Na transmissão são produzidas franjas circulares de feixe múltiplo extremamente
afiadas. Se a fonte não for monocromática, forma-se um padrão circular independente
separado para cada comprimento de onda. A localização ou escala das franjas está
dependente do comprimento de onda. Se a fonte for composta por dois comprimentos
de onda estreitamente espaçados, a estrutura dos anéis é duplicada e a separação dos
dois conjuntos de anéis permite avaliar diretamente a estrutura hiperfina das linhas
espectrais. Espectros mais complexos, geralmente compostos por linhas espectrais
discretas, podem também ser medido. Esta análise é possível mesmo que a ordem de
interferência seja a mais elevada no centro do padrão.
Em lâminas de faces paralelas, a refletividade e transmissividade das superfícies
(r, r’, t, t’) é determinada pelas equações de Fresnel:
Diferença de fase entre feixes consecutivos:
θ′ - ângulo de refração interno à lâmina
Atenuação entre feixes consecutivos: r’^2
As franjas de vigas múltiplas de igual espessura podem ser produzidas por duas
superfícies de alta reflectividade em estreita proximidade, numa configuração com
interferómetro Fizeau. As franjas escuras estreitar-se-ão a linhas agudas, e cada franja
representará um contorno de OPD constante entre as superfícies. Tal como
anteriormente, uma franja escura corresponde a um intervalo de um número inteiro de
meios comprimentos de onda. A área entre as franjas será brilhante. As melhores franjas
ocorrerão quando o ângulo e a separação entre as superfícies for mantida pequena. Isto
evitará que os múltiplos reflexos se desprendam ou reflitam para fora do intervalo.
Cada dioptro reflete e transmite parcialmente. Tanto por transmissão como por
reflexão, temos várias ondas paralelas entre si, e desfasadas de uma fase constante
(sendo a lâmina de faces planas e paralelas). O valor de π depende agora da geometria
(no caso dos lasers, θ=0).
127
Uma lente integra: força a interferência entre múltiplas
ondas
Em função da geometria e diâmetro do feixe
incidente, pode ser necessário forçar a sobreposição
entre os múltiplos feixes, usando uma lente e medindo a
irradiância no plano focal.
Interferência entre múltiplas ondas, com percas: Fabry- Perot
Uma cavidade ressonante de um laser constitui um interferómetro de
Fabry-Perot, com theta=0. Foi usado já no século XIX para obter espectros de elevada
resolução espectral.
★ A lâmina de faces paralelas é uma cunha de ar, de espessura t, delimitada por
superfícies planas e paralelas.
★ A fonte é extensa, e é colocada no infinito, por se encontrar no plano focal objeto
da 1ª lente. A lâmina recebe, portanto uma onda plana de cada um dos pontos da
fonte extensa.
★ A 2ª lente, à direita, implementa a integração, força a sobreposição dos feixes
emergentes da lâmina de faces paralelas.
★ O padrão interferométrico é constituído por máximos com a forma de finos anéis
circulares. Para cada cdo, constitui-se um sistema de anéis, muito finos (a
Finesse tem de ser sempre elevada).
★ Se a fonte for constituída por vários CDO, existirão outros tantos sistemas de
anéis, e podem-se distinguir e identificar os cdo associados.
Com este interferómetro foi possível entender que a célebre risca amarela do
sódio, na realidade, era um dobleto, constituída por duas riscas muito finas e muito
próximas.
128
Resumindo:
★ Sobrepondo ondas, obtemos padrões espaciais de irradiância com propriedades
muito específicas, normalmente associados a franjas que representam máximos
de interferência construtiva, separados por mínimos de interferência destrutiva.
★ É a diferença de fase entre as ondas, variável de ponto para ponto no detector,
que determina o valor da irradiância em cada ponto.
★ Para cada caso, para cada interferómetro, o valor da diferença de fase, delta deve
ser bem modelado. Quase sempre, uma das ondas constitui uma referência para
a outra, e a interferometria permite medir a diferença de fase de uma em relação
à outra, a de referência (permite medir os cosseno da diferença de fase, não a
fase directamente).
★ Delta depende de inúmeras variáveis, direta ou indiretamente. Controlamos o
interferómetro de modo a garantir que o que se pode medir diretamente
(número, forma das franjas e a sua localização espacial no plano do detector) se
consegue relacionar quantitativamente com a grandeza em análise.
3.3. Interferómetros
3.3.1. Young
Em 1801, Thomas Young realizou uma experiência
fundamental para demonstrar a interferência e a natureza
ondulatória da luz. A luz monocromática de um único furo ilumina
uma tela opaca com dois furos ou fendas adicionais. A luz
difunde-se a partir destes orifícios e ilumina uma tela de
visualização a uma distância grande em relação à separação dos
orifícios. Como a luz que ilumina os dois orifícios provém de uma
única fonte, as duas frentes de onda difratadas são coerentes e
formam franjas de interferência onde os feixes se sobrepõem. Com
o interferómetro de Young, demonstrou-se a natureza ondulatória
da luz e também de feixes de partículas (electrões, protões, etc).
É constituído por dois pequenos furos (ou fendas), iluminados pela mesma
radiação que se pretende estudar. De cada um dos furos temos uma onda, e da sua
sobreposição no espaço, na zona do detector, resulta um padrão de interferências
simples (pode ter várias configurações).
É o exemplo típico de um interferómetro de divisão da frente de onda (DFO): os
dois furos, ou fendas, selecionam diferentes zonas da frente de onda, no mesmo
instante ou em instantes diferentes, consoante a inclinação do feixe incidente. Trata-se
de um interferómetro fundamental para se caracterizar a coerência espacial da
radiação.
O OPD (Optical Path Difference) calcula-se facilmente se se baixar a
perpendicular de S1 para a linha S1P, o que só é válido para pequenos valores de theta. A
partir do OPD, a fase phi obtém-se multiplicando por k. Note-se que as fases iniciais são
iguais, o que significa que as ondas estão em fase em x=0 – caso contrário, o padrão
129
estaria centrado noutro ponto. Traçando uma linha de S1 a B que é perpendicular ao
segundo raio. Como L é muito maior que d, as distâncias de B a P e S1 a P são
aproximadamente iguais.
Trata-se, todavia de uma aproximação no âmbito da qual as franjas, paralelas ao
eixo dos y, são periódicas em x, com período p e com um perfil sinusoidal (cos phi).
Efeitos da largura (D) da fenda (D << d)
Nas abordagens iniciais, considera-se que as fontes S1 e S2 são pontuais (os focos
dos hiperbolóides). Na realidade, qualquer furo ou fenda tem dimensões finitas (D). Os
efeitos da abertura finita manifestam-se num sinc^2 que depende da dimensão D, e que
é responsável por reduzir a visibilidade / contraste das franjas quando nos afastamos do
centro.
A luz utilizada para produzir o padrão de interferência é difratada pelos orifícios.
As interferências só são possíveis se a luz for dirigida nessa direcção. O padrão total de
intensidade de interferência é, portanto, modulado pelo padrão de difracção de um furo
(assumindo aberturas de fenda):
Um padrão de interferências depende criticamente do cdo, p é aliás proporcional
ao cdo. Se a radiação incidente for policromática, teremos vários padrões
monocromáticos coincidentes na franja central, mas com diferentes períodos. Na
sobreposição de todos, apenas a franja central e pouco mais, em torno, será visível.
130
Podemos visualizar:
➔ A variação do período do padrão de interferências com o CDO;
➔ O impacto da aproximação feita no paralelismo das franjas;
➔ A diminuição transversa da visibilidade das franjas;
➔ Uma outra visualização do padrão e interferências para radiação policromática.
Outros interferómetros de divisão de frente de onda
É importante notar que todas estas configurações se reduzem ao interferómetro
de Young! Basta calcular a imagem da fonte pontual inicial dada pelos dois elementos
ópticos representados: pares de prismas, espelhos, parte central da lente bloqueada....
Bi-prisma (Fresnel)
Podemos usar interferómetros para caracterizar impulsos laser ultra-curtos (fs).
O bi-prisma de Fresnel (dois prismas com base comum) gera duas ondas com diferentes
inclinações, mas em que ocorre também uma espacialização da frequência luminosa.
131
O padrão de interferência excita um cristal não linear (óptica não-linear) e os
sinais gerados permitem recuperar a forma temporal do impulso ultra-curto. É
também um interferómetro de DFO, pois uma parte da onda passa através de um dos
prismas e a restante através do outro prisma.
Espelho de Loyd
O espelho de Loyd tem todavia uma diferença relevante, que iremos encontrar
várias vezes. A franja ao nível do espelho é escura, embora as distâncias geométricas das
duas fontes ao ponto P sejam as mesmas. E há interferência destrutiva, o que significa
que as ondas, por alguma razão, estão desfasadas de pi. De facto, como veremos com as
equações de Fresnel, no paradigma eletromagnético, a reflexão altera a fase da onda
reflectida em relação à onda incidente, o que significa que tem de ser tida em conta esta
desfasagem (há apenas uma, no caso de duas reflexões este efeito compensar-se-ia) no
cálculo da diferença de fase entre as duas ondas em P.
Em muitas situações reais, existem componentes ópticos que são iluminados e
que podem dar origem a este tipo de franjas de Young, muitas vezes inadvertidamente,
constituindo, portanto, ruído que deve ser descontado ou filtrado, de alguma forma,
para não contaminar o sinal.
132
DFO funciona com base no estabelecimento de uma situação de nulo, que acontece
sempre que a diferença de fase entre as duas ondas seja constante, não havendo,
portanto, franjas discretas, visualizáveis.
O interferómetro Fizeau compara uma superfície óptica com outra, colocando-a
na proximidade imediata. A fonte alargada é filtrada para ser quasimonocromática.
Forma-se uma pequena caixa de ar entre as duas superfícies ópticas e observam-se
franjas de igual espessura entre as duas superfícies.
Interferência de duas ondas planas com a mesma intensidade:
2 ondas planas que interferem segundo:
★ a mesma direcção padrão de interferência uniforme
★ um ângulo, q franjas lineares e paralelas, de período
Ópticas de referência em linha com a superfície em análise. Dimensões das
ópticas de referência semelhantes às da superfície ou lente em teste. As franjas existem
em volume, e intersectam o detector.
No caso limite em que d é constante (não depende de r), o interferograma é
homogéneo: não há franjas - irradiância constante. Havendo franjas, há desvios
relativamente à situação ideal, e cada inter-franja corresponde a 1l de OPD.
A injecção de um feixe único e a recolha das duas ondas é feita através de um
separador de feixe (beam splitter). O feixe é colimado por uma lente tão perfeita quanto
possível: a onda utilizada no interferómetro deve ser plana. Existe sempre um elemento
que gera uma onda refletida. No caso de cima, é a 2ª superfície de uma lâmina de faces
paralelas perfeita (planicidade, lambda/100), que retro-reflete parte do feixe incidente,
e constitui a onda de referência tão plana quanto a onda incidente. A onda refletida
transportará irregularidades topográficas.
Temos assim duas ondas que se propagam da direita para a esquerda, que têm
histórias de fase diferentes a partir da superfície plana de referência, e o padrão de
interferências que vierem a constituir descreverá tais diferenças através de franjas: dois
pontos separados por uma interfranja estarão separados de lambda/2, em z,
133
relativamente à superfície de referência, o que permite construir uma boa ideia da
topografia da superfície.
Se a superfície em teste for verdadeiramente plana e for paralela à superfície
plana de referência, ela refletirá uma onda plana segundo a mesma direcção da onda
plana de referência, e o padrão de interferências não revelará franjas, pois a DPO entre
as duas ondas é constante. Se houver franjas e se estas forem paralelas e equidistantes,
tal apenas revelará que as duas ondas fazem entre si um certo ângulo e que as duas
superfícies não são paralelas: tratar-se-ia de um problema de alinhamento, não de falta
de planicidade. Muitas vezes é preferível partir de uma situação estruturada (com
franjas) do que de uma situação homogénea (sem franjas).
A óptica de referência pode gerar uma onda esférica perfeita focada para F, o que
permite testar um espelho esférico desde que o seu centro de curvatura, C, coincida
com F – o que é apenas, uma questão de operação do IF. Se o espelho não for esférico
ou não tiver o raios de curvatura certo, teremos uma situação de interferência entre
duas ondas esféricas separadas longitudinalmente. Por vezes utiliza-se PSI com 4
interferogramas, sendo possível recuperar a topografia da superfície.
Neste caso (acima) o espelho é asférico. Utiliza-se um Holograma Gerado por
Computador para gerar a onda de referência adequada à forma asférica do espelho. No
teste, se o espelho tiver a forma asférica prevista, as duas ondas interferentes são
idênticas, delta é constante, e não se devem observar franjas.
134
Teste de um espelho (esférico ou não) de grande raio de curvatura contra um
plano. As ondas não serão nunca idênticas, mas se R for elevado, o número de franjas é
contável e o esqueleto das franjas é identificável. Do padrão de franjas é possível estimar
a curvatura do espelho.
Na zona de toque (espessura de ar nula), na superfície em teste, ocorre uma
variação de fase de pi. A franja central é portanto escura, pois aí a interferência é
destrutiva.
135
À esquerda, Michelson utilizou um interferómetro não só para concluir que a
hipótese do éter (século XIX) não tinha sustentação, como também para medir o
diâmetro angular de uma estrela que não se podia resolver, recorrendo ao contraste de
franjas de interferência.
O interferómetro de Michelson tem uma arquitectura simples: o feixe
proveniente da fonte é dividido em dois por um separador de feixe (beam splitter) cada
um segue para um espelho.
Há reflexão e recombinação após passagem pelo mesmo beam splitter. Como
podem ter ocorrido diferentes “histórias” a cada um dos feixes, o resultado da
sobreposição informa-nos sobre a diferença entre tais “histórias”.
O interferómetro de Michelson é o exemplo típico de um interferómetro de
divisão de amplitude: as duas ondas que interferem tem a mesma forma, as mesmas
superfícies de igual fase, mas transportam diferentes quantidades de energia: ocorre
uma divisão da amplitude complexa (e não uma partição especial da frente de onda).
136
O IM é composto por dois ramos perpendiculares, funcionando em
retro-reflexão, muitas vezes com um dos espelho móvel e o outro ramo protegido. A
história de fase dos dois feixes deve ser conhecida a partir do separador de feixe. A
diferença de fase inicial entre os dois feixes é kn(L2-L1) e a irradiância no detector é o
seu cos. Os dois feixes estão sobrepostos no ramo do detector, e a medida é feita ao
longo do tempo, num detector colocado num ponto fixo, P.
Imaginemos que o espelho móvel se desloca de L. A diferença de fase varia com
L, e cada vez que L se alterar de lambda/2, a diferença de fase varia de 2pi: o detector
detecta um período de oscilação. Uma aplicação imediata é a medida de deslocamentos:
cada ciclo no detector corresponde a meio cdo. Se se contarem os ciclos durante um
certo intervalo de tempo, temos directamente a velocidade do espelho.
Se o espelho se deslocar de L:
OP D = 2L
Dj = k 2L
S e L = 1/2, Dj = 2p (1 ciclo de variação)
Podemos medir a fase de sinais periódicos no tempo (amplificadores lock-in,
phase meters, ...). Podemos dividir um ciclo de variação em 32, 64 partes, e ter uma
resolução da medida da distância. Para lambda = 0.6 mícron, isto significa 0.01 mícron
de resolução. Para para aproveitarmos esta resolução, não podemos perder nenhuma
oscilação no detector (necessário pôr limites à velocidade máxima de deslocamento do
espelho móvel, para não exceder a largura de banda da nossa electrónica de detecção).
137
Uma limitação desta abordagem simples é que não é possível saber em que
sentido é que o espelho se desloca. Para tal, teremos de usar dois detectores e OU usar
duas polarizações nos dois feixes, OU usar uma fonte laser com duas frequências.
Exemplos: Confirmação da hipótese do éter; detecção de ondas gravitacionais
(LIGO, 2018, embora com uma resolução muito, muito superior, por força das cavidades
ressonantes que são implementadas em cada um dos braços do IF).
Variações do Interferómetro de Michelson
O interferómetro de Michelson tem diversas “variantes” (Twyman-Green,
Mach-Zhender, Fizeau, ...), da maior importância na caracterização micrométrica e teste
de lentes, espelhos, etc. São todos interferómetros de divisão de amplitude, a dois feixes,
embora com diferentes geometrias e formas de materializar o feixe de referência.
São ainda interferómetros de Michelson os utilizados para detecção de ondas
gravitacionais (na Terra - LIGO, ou no espaço - LISA, em construção) ou para realizar
biópsias da retina através de Optical Coherence Tomography, ou OCT.
Nos primeiros, a onda gravitacional altera de forma diferente os dois ramos do
interferómetro, e essa diferença é mensurável através da constituição ou alteração de um padrão
de interferências. Na OCT depende da coerência da fonte laser, e exige ainda um varrimento
mecânico de um espelho, para ir selecionando a radiação retro-difundida pelas várias camadas
microscópicas da retina. Para além da resolução transversa, é igualmente importante a resolução
longitudinal (tal como, aliás, ocorre em ecografia ultrassónica).
Sistemas
A dimensão física dos interferómetros é a que for necessária à geometria dos
feixes luminosos envolvidos.
138
À esquerda: um interferómetro de Michelson industrial para medir
deslocamentos e ângulos a lambda/32 (ou melhor...). À direita: um interferómetro de
feixes múltiplos (Fabry-Perot) para analisar o espectro de um feixe laser.
Sagnac
Uma outra configuração de muito interesse é a de Sagnac, em que numa
cavidade ou num anel de fibra, com entradas e saídas dos feixes, se geram ondas que se
propagam em sentidos contrários, e em que as acelerações mecânicas do sistema geram,
por efeito Doppler, variações de frequência entre as duas ondas. Através da medida da
diferença entre frequências ópticas (com interferometria), podemos calcular o valor da
aceleração mecânica do dispositivo.
Os sistemas de navegação muito precisos (aviões, satélites) utilizam 3
interferómetros de Sagnac para medir as 3 componentes da aceleração e, por
integração da equação de Newton do movimento, recuperar ou prever a trajectória
seguida, viabilizando a navegação autónoma de precisão.
139
3.3.3.1. Frequency Sweeping Interferometry (FSI)
Uma variante do IM permite medir distâncias sem que haja deslocamento de um
dos espelhos. Utiliza-se um laser sintonizável em frequência (2-20 GHz) – alterando-se o
comprimento da cavidade ressonante, com atuadores piezo-elétricos - varia-se a
frequência e detectam-se os ciclos de variação do sinal no detector (parte inteira e parte
não inteira, N). A variação de frequência DNIU é medida com um analisador espectral
(interferómetro de Fabry-Perot de Finesse elevada). Com base em N e em DNIU,
obtém-se uma medida de L, tanto melhor quanto maior for DF (nenhum ciclo pode ser
perdido...).
140
Este tipo de interferometria com luz “branca” – melhor dito, fontes de coerência
controlada, coerência muito menor que a dos lasers – permite atingir resoluções da
ordem de nanómetro, utilizando-se díodos super-luminescentes, que têm uma largura
de banda de ~10-50 nm.
Trata-se, portanto, de um IM em que, em cada ponto da retina, o espelho de
referência oscila longitudinalmente, desta forma permitindo “sondar” em profundidade
a estrutura da retina nesse ponto, antes de passar para o ponto seguinte ao longo dessa
linha.
141
As atuais implementações da OCT baseiam-se em fibras ópticas e guias de onda,
e cada vez menos em componentes discretos. A sua arquitectura, e processamento de
sinal, estão associados às qualificações “time-domain” (sequencial no tempo, com fontes
de baixa coerência) e “frequency domain” (paralela no tempo, e com fontes
policromáticas).
A OCT fornece um corte plano, perpendicular à retina, e dá informação sobre as
suas diversas camadas. A sua geometria global de funcionamento é muito semelhante à
da ecografia clínica, embora com outro tipo de radiações: ondas EM em vez de
ultrassons.
Se a radiação que se injecta num IM for não monocromática – sendo, portanto,
parcialmente coerente – e se o espelho de referência realizar um varrimento periódico,
criam-se condições para que componentes monocromáticas da radiação interfiram em
torno da configuração de equilíbrio do IM.
A modulação temporal do sinal no detector pode ser localmente caracterizada
pela sua Visibilidade [(Imax-Imin)/(Imax+Imin)] que, demonstra-se, é o grau complexo
142
de coerência da radiação, gama. Por transformação de Fourier, obtém-se a densidade
espectral de potência, vulgo, o espectro da radiação.
A Espectroscopia por Transformada de Fourier (Fourier Transform Infra Red
Spectroscopy, FTIR) é muito usada no infravermelho, e tem inúmeras implementações
em espectroscopia de elevada resolução, tanto em laboratório como em satélites, para
análise espectral da radiação emitida pela atmosfera (canal ascendente).
É também um interferómetro de nulo: se as características do elemento em
teste estiverem conforme às características dos componentes de referência, a
interferência faz-se entre duas ondas planas que se propagam ao longo do mesmo eixo, e
não há franjas. Quaisquer diferenças, traduzem-se em franjas que nos permitem
quantificar as aberrações:
143
3.3.5. Interferómetro de Mach-Zehnder
Trata-se de um interferómetro único para analisar objetos de fase. Um dos feixes
é de referência, e o ramo correspondente deve ser protegido. O objecto de fase é
inserido no 2º ramo.
Com componentes discretos (espelhos, prismas, separadores e feixe, etc), este
interferómetro tem uma geometria de um paralelogramo e as duas ondas, à saída,
propagam-se segundo a mesma direcção, e são totalmente sobrepostas. Na configuração
inicial, a diferença de fase entre as duas ondas é nula, pois os percursos geométricos são
idênticos. As duas ondas são idênticas à saída, a DPO é nula, e a diferença de fase é nula.
O padrão de interferências é uniforme, não há qualquer franja.
Qualquer perturbação que afete a fase
da onda no ramo de teste de phi(x,y), traduz-se
numa diferença de fase de phi(x,y) e a condição
phi=(2m+1)pi determina as franjas em que a
interferência é destrutiva.
O IMZ pode ser implementado com guias de
ondas em inúmeros moduladores de luz, ou em sensores
de variáveis que afetem, de algum modo, o índice de
refracção do guia de ondas. Nestas configurações, a
geometria em paralelogramo deixa de ser relevante, e o
que é distintivo do IMZ é a DPO=0 entre os dois ramos
na ausência de perturbação. O IMZ, juntamente com o
interferómetro de Young, é muito importante para a
implementação experimental de conceitos de óptica quântica.
144
3.4. Conceitos complementares
Um exemplo adicional do interferómetro de Fizeau com PSI. As franjas são
compatíveis com uma superfície plana, embora ligeiramente inclinada relativamente à
superfície de referência. É fundamental que, no seu movimento mecânico, se assegure
sempre o paralelismo da referência, sem o que, a densidade de franjas e/ou a orientação
do padrão de franjas se altera.
145
3.4.2. Phase Unwrapping
Quando se não aplica PSI, a “recuperação” da fase – o levantamento da
ambiguidade – pode ser feito através da operação de “desembrulhar a fase” (phase
unwrapping), técnica aplicável a pequenas regiões no interior das quais se pode
considerar que não há variações da concavidade / convexidade da superfície em
análise.
Em 1D, o processo é relativamente simples de apreender, em 2D é necessário
entrar em conta com o gradiente 2D local e garantir coerência nas extrapolações.
Aceita-se que a DPO deve variar lentamente, pois não existirão razões físicas para
alterações dramáticas da superfície em teste, o que permite construir uma estimativa
globalmente aceitável da configuração em teste.
Em 1, num interferómetro de Mach-Zhender, vemos que o padrão só se pode
constituir na região de sobreposição. Apenas uma lente (não representada) poderia criar
materializar um padrão de interferências real, imagem de um padrão de
interferências-objecto virtual. Em 2, os feixes apenas se sobrepõem numa pequena
região limitada do espaço, e as franjas estão naturalmente confinadas.
Já analisámos 3, mas da esquerda para a direita quando se estudou o
interferómetro de Fabry-Perot. Mas façamo-lo agora, do ecrã para a fonte. As ondas de
146
que forçamos a interferência no plano focal, são necessariamente aquelas que emergem
organizadas sob a forma de ondas planas do interferómetro. O que significa que se o
alvo não se encontrasse à distância focal da lente, a lente estaria a selecionar outro tipo
de ondas, convergentes ou divergentes, que porventura emergissem do interferómetro.
É o que acontece em 4, em que a lente e a sua orientação angular em relação à
lâmina de faces paralelas, de facto seleciona as ondas que pretendemos ver interferir. Se
a lente se aproximar da normal à lâmina, vai recolher ondas planas que emergem ao
longo da normal, e que darão origem a outros padrões de interferência. A lente
seleciona a direção ao longo da qual se pretende analisar um dado interferómetro. Esta
é a situação das películas de óleo, bolas de sabão, etc, em que a lente representa o nosso
olho. Duas pessoas a olhar para a mesmo filme fino, a partir de diferentes direções, não
vêem o mesmo padrão nem as mesmas cores....
3.4.4. Coerência
Coerência tem a ver com “previsibilidade” da
variação da amplitude e da fase ao longo do tempo num
ponto P, ou do valor da amplitude e da fase em Q
conhecidos os valores em P. Estas duas perspectivas
remetem para conceitos associados à coerência temporal e
à coerência espacial. Se a 1ª depende do espectro da onda, a
2ª tem a ver com a distribuição espacial das frentes de onda.
Em 1 e 2 vemos que consoante as relações de
amplitude e de fase entre várias ondas componentes, o
resultado da sobreposição/interferências, pode ter uma
elevada correlação ao longo de janelas temporais maiores (1)
ou mais pequenas (2). Essa correlação assume valores
significativos durante, em média, um tempo de coerência,
no interior do qual as nossas previsões são aceitáveis – mas
nada se pode dizer para janelas temporais maiores.
Vemos de que forma a regularidade
(depende da previsibilidade) pode ser
transposta de um sinal no tempo,
147
para um no espaço. Se a onda em 3b fosse usada num interferómetro de Young, o
padrão refletiria a diferença de fase entre as aberturas, e alterar-se-ia se esta variasse.
(Se a variação for muito rápida, reduzido tempo de coerência, nenhum padrão é observado.)
A Função de Coerência Mútua mede a correlação espácio-temporal da função de
onda, V(r,t) (solução da equação de ondas), entre dois pontos e em diferentes momentos,
separados de τ , realizando as médias adequadas. Note-se a semelhança entre o termos
de interferências, I12, e Gama. Esta será a razão pela qual o contraste de um padrão de
interferências constitui uma medida de uma versão normalizada de Gama, e que o
interferómetro de Young seja o instrumento para caracterização da coerência de
campos luminosos arbitrários. Da função de coerência mútua, Gama, dependem todas
as demais funções de coerência, tanto do domínio espácio-temporal, como no espaço
de Fourier, em termos de frequências temporais (espectrais) e espaciais
Resumo do capítulo:
Um interferómetro (a 2 feixes) é um instrumento de “nulo”: ondas idênticas dão
origem a padrões de interferência uniformes (sem franjas), contra o qual o nosso
fenómeno se deixa “visualizar”.
Nos interferómetros de 2 ondas, uma funciona como referência (instrumento
comparador). Os elementos ópticos (lentes, espelhos, elementos ópticos difrativos, …)
que a geram têm de ser perfeitos e estáveis (monocromáticas, coerência elevada)! A
qualidade da medição depende da qualidade das referências... [Hubble...]: componentes
ópticos e feixe.
Ondas muito diferentes dão origem a franjas em excesso, que podem não ser
resolvidas pelo sistema de detecção. Um interferómetro deve ser configurado de modo
a que as superfícies de igual fase das ondas envolvidas sejam semelhantes, e as franjas
resolúveis e contáveis. Todos os fatores de fase da onda utilizada devem ser
cuidadosamente identificados e controlados. As franjas permitem medir o valor do cos
d (r,t). A informação física reside numa ou várias das variáveis que determinam a
diferença de fase entre as duas ondas: d = d {l, n, n(T), L(T), …}.
A função cos é par: sem PSI, é impossível saber se a referência está atrasada ou
adiantada em relação à outra onda: há ambiguidade na recuperação da DPO, que muitas
vezes não é necessário levantar. A função acos só é definida módulo 2p. A fase deve ser
148
“desembrulhada” (phase unwrapping) para se obterem as variações efectivas das
grandezas físicas.
O perfil das franjas depende do tipo de interferómetro, da razão entre os feixes,
da coerência da radiação e dos factores de perca (associados aos fatores de reflexão e de
transmissão em amplitude das superfícies: r, r’, t, t’ ). O ruído óptico coerente (speckle)
afecta particularmente o processamento digital de interferogramas.
As “franjas” num interferómetro podem ser espaciais ou temporais (variação do
sinal num ponto tipicamente associado a uma variação temporal num dos ramos)
[Michelson]. As franjas podem ser espacialmente localizadas (fontes extensas) – reais ou
virtuais (é preciso uma lente para as materializar) - ou não localizadas (na região de
sobreposição).
A amplitude em qualquer ponto resulta então da sobreposição das pequenas
ondas.
O padrão de bandas características é mais pronunciado quando a onda oriunda
de uma fonte coerente (e.g. um laser) encontra uma fenda cujas dimensões são
comparáveis ao seu comprimento de onda, como mostra a imagem seguinte.
149
Isto deve-se à adição ou interferência de diferentes pontos da frente de onda (ou
equivalentemente, de cada ondícula) que viajam por percursos óticos de diferentes
comprimentos. Contudo, se houver múltiplas aberturas espaçadas, pode ser obtido um
complexo padrão de intensidade variável.
Estes efeitos também ocorrem quando uma onda luminosa viaja num meio de
índice de refração variável (ou quando uma onda sonora viaja num meio de impedância
acústica variável).
O Princípio de Huygens-Fresnel é o princípio básico da propagação / difração
de ondas. Para além da imagem mental que proporciona – baseada na interferência
entre ondas esféricas geradas a partir de fontes virtuais - é relevante relacioná-lo com o
princípio de Huygens da Óptica Geométrica: as superfícies de igual fase são,
essencialmente, as superfícies de onda geométricas.
À luz da ótica geométrica, o princípio de Huygens (PH) consiste no modelo
prático para calcular frentes de onda geométricas (FOG) a partir de outras. É um
princípio alternativo ao princípio de Fermat, baseado na modelação da luz em termos de
famílias de frentes de onda geométricas (o princípio de Fermat atua sobre feixes de raios
luminosos). Baseia-se então na operação de envolvente, uma superfície que “delimita”
uma família de superfícies parametrizadas por 1 ou vários parâmetros.
À luz da ótica ondulatória, o princípio de Huygens-Fresnel traduz-se na seguinte
questão:
Como propagar uma onda, conhecida a sua posição inicial em ∑, num dado plano?
As FOG são facilmente visualizáveis em termos de lugares geométricos de pontos
do espaço atingidos simultaneamente pela perturbação luminosa. Baseia-se na ideia de
ondículas virtuais emitidas a partir de fontes pontuais e virtuais, e na operação
matemática de envolvente, que permite calcular a superfície que “toca” tangencialmente
todas as superfícies de uma família de superfícies.
150
Nos termos do PH, a última frente de onda conhecida é “forrada” por um
contínuo de fontes pontuais virtuais, que radiam frentes de onda esféricas virtuais
(wavelets, ou ôndulas ou ondículas), que se propagam com a mesma velocidade da onda
principal até aí, e, em cada instante, a envolvente permite calcular a frente de onda
propagada.
Assim se demonstra que as FDO planas ou esféricas se propaguem como planas
ou esféricas, respectivamente, e que as ondas se refractam numa superfície plana de
acordo com a lei de Snell-Descartes, que os ângulos são iguais na reflexão em espelhos.
Assim se podem construir frentes de onda transmitidas por lentes com potência não
nula, aplicando o PH a cada uma das superfícies.
O PH tem alguns graus de liberdade: as ondículas podem ser elipsoidais e não
esféricas, as velocidades de propagação podem ser diferentes segundo os respectivos
eixos principais, e foi deste modo Huygens explicou o fenómeno da dupla refracção na
calcite.
E o PH tem também algumas dificuldades: prevê uma 2ª onda que se propaga na
direcção oposta (retropropagação), o que não é possível. Em adição, a ideia de
sincronismo e de tempo de propagação está subjacente à ideia de fase que, para uma
onda monocromática, é uma medida do tempo; mas a utilização da envolvente não tem
qualquer correspondência com conceitos ondulatórios.
A óptica ondulatória permite gerar novas ondas a partir de outras ondas
conhecidas: a operação de soma (ou de integral), pois a Equação de Ondas e a de
Helmholtz são equações lineares, e qualquer combinação linear de soluções é ainda
solução.
Considere-se apenas a questão da propagação de ondas monocromáticas; como
as ondas não-monocromáticas são combinações lineares de ondas monocromáticas, a
propagação das primeiras decorre da propagação das segundas.
Atentando na geometria (ver imagem): abertura Sigma (𝚺) plana, no plano (x1,y1);
P1 é um ponto corrente de 𝚺. Pretende-se calcular o campo em pontos P0 de um plano à
distância z, com coordenadas (x0,y0). P1P0 faz um ângulo 𝛉 com o eixo dos z. r01 é a
distância entre P1 e P0.
151
O campo é conhecido em 𝚺. Geralmente ilumina-se 𝚺 com uma onda controlada
por nós, conhecida. Conhecemos 𝚺, sabemos modelar o que esta abertura faz à onda no
plano z=0. O resultado é U(x1,y1).
Admita-se então que cada um dos pontos P1 em 𝚺 radia uma onda esférica
(centrada em P1) e cuja amplitude é conhecida nesse plano, U(x1,y1). Tais ondas
propagam-se como ondas esféricas. Cada uma delas está definida em P0. Todas se
sobrepõem em P0. O campo resultante é a soma dos campos interferentes em P0 é o
que representa o integral. Uma soma de ondas esféricas produzidas por cada um dos
pontos de 𝚺, que interferem, e o campo em P1 é o resultado dessas interferências.
Para melhor entender o princípio de Huygens-Fresnel, é pertinente analisar a
matemática inerente à equação de Helmholtz.
Matemática da Equação de Helmholtz
152
Spot de Poisson
Inicialmente o princípio de Huygens-Fresnel não foi bem aceite: Poisson
demonstrou que se o PHF fosse correto, seria inevitável observar um spot luminoso no
centro da sombra geométrica de uma esfera opaca (tinha de haver um máximo central! -
conforme sugere a seguinte imagem).
A experiência levada a cabo por Arago (o spot de Poisson também pode ser
designado spot de Arago) comprovou a existência do referido ponto luminoso:
153
Nesta imagem considera-se que o plano de observação é paralelo ao plano da
abertura difractante – z será portanto um parâmetro, que consideraremos fixo para
cada situação experimental.
Pode colocar algumas dificuldades no caso de objectos não planares, com espessura
longitudinal – mas vamos considerá-los delgados.
.
Denominador: r01 ~ z.
2π
Expoente: termos de 2ª ordem, pois k= λ é muito grande, em geral.
Daqui decorre que a aproximação de Fresnel é válida apenas para distâncias z
bem superiores a uma quantidade que depende de λ, mas também da distância
transversa máxima entre pontos, um na abertura difractante, Σ, e o outro no detector.
Quanto maior for lambda, mais cedo começa a região do espaço em que a
aproximação de Fresnel é válida (e vice-versa).
´É́ de salientar que na aproximação de Fresnel, o campo no detector se pode
obter por convolução, entre o campo em Sigma e a função h, logo que a difracção em
regime de Fresnel se pode considerar um sistema linear invariante, ou ,
alternativamente, que a propagação se pode encarar como um filtro espacial.
154
4.1.2. Aproximação de Fraunhofer
Para a aproximação de Fraunhofer é necessário garantir que o termo de fase
que se despreza é << 1rad, o que se traduz numa condição adicional sobre a distância de
observação, z. Note-se que esta condição incide apenas sobre as dimensões da abertura
difractante, através do seu “raio” máximo.
Nessas condições, estamos na aproximação de Fraunhofer da difracção.
Isto compreender-se-á melhor quando
separarmos o campo U(z=0) em dois factores,
um que tem a ver com a onda incidente, e outro
que apenas depende da natureza e geometria
do objecto.
A “opacidade” do objeto fora de Σ será
descrita pela função de transmissão em
amplitude do objecto.
A amplitude complexa em (x,y), no plano de observação, é proporcional à
Transformada de Fourier (TF) do campo, calculada para a frequência espacial 2D (fX, fY):
Como se aplica agora o princípio de Huygens-Fresnel?
Pode-se considerar que o campo no plano de observação resulta da interferência
de um número infinito de ondas planas definidas no plano z=0 (que também são
aproximações de ondas esféricas quando R ➝ထ)
Na aproximação de Fraunhofer, o campo no detector calcula-se fazendo a
transformada de Fourier do campo emergente da abertura Σ, e esta transformada é
calculada para valores específicos das frequências espaciais, fx e fy, determinados pela
geometria do problema no detector (x,y,z) e por lambda, naturalmente. Em cada ponto
155
do detector (x,y), materializa-se o valor da TF do campo emergente da abertura para as
frequências espaciais (f X,fY).
Este resultado é crítico para todas as aplicações operacionais da difracção, e
determinam, como se verá, a resolução de um sistema baseado em radiações EM, isto é,
a dimensão do mais pequeno detalhe que pode ser preservado na imagem de um objecto
de que se constitui uma imagem através de um sistema de formação de imagem (óptico,
electrónico, ultrassons, …).
Em iluminação paralela, for inserida uma lente positiva de distância focal f entre
a abertura e o observador, e o espectro de difracção for observado no plano focal da
lente - basta fazer nas equações: z à f
Com uma fonte de luz distante da abertura, a aproximação de Fraunhofer pode
ser usada para modelar o padrão difratado num plano de observação distante da
abertura (campo longínquo - far field). Em termos práticos, pode ser aplicada ao plano
focal de uma lente positiva.
Quando a distância entre a abertura e o plano de observação (no qual o padrão
difratado é observado) é grande o suficiente para que o percurso ótico se estenda desde
as bordas da abertura até um ponto de observação muito menor que o comprimento de
onda da luz, os percursos ópticos de propagação das ondículas individuais de todos os
pontos da abertura até ao ponto de observação podem ser tratados como paralelos -
define-se então o campo longínquo (far field). O campo distante é então localizado a
2
uma distância significativamente maior que Wλ , onde λ é o comprimento de onda e W
é a maior dimensão na abertura. A difração de Fraunhofer é usada para modelar esta
situação.
Por exemplo, se uma abertura circular de
0,5 mm de diâmetro for iluminada por um laser
com c.d.o de 0,6 μm, a equação de difração de
Fraunhofer pode ser empregue se a distância de
visualização for maior que 1000 mm.
Resumindo:
156
Regimes de Difração:
4.1.3 Princípio de Babinet
O princípio de Babinet afirma que o padrão de difração de um objeto opaco é
idêntico ao de uma abertura com o mesmo tamanho e formato, excetuando a
intensidade geral do feixe - princípio geral que permite relacionar em irradiância
padrões de difracção de aberturas complementares.
➢ O padrão de difracção de um objecto opaco, T, e do seu
complementar, T’, são idênticos.
➢ A soma dos dois campos difratados por T+T’, deve ser igual ao
campo associado ao feixe não perturbado por nenhum deles.
➢ Em pontos do campo iluminante em que Etotal = 0, os campos
devidos a T e a T’ devem ser simétricos, pois Etotal = ET + ET’ = 0.
➢ Nesses casos, ET = - ET’ mas as irradiâncias são iguais: IT = IT’ . Os
padrões de difracção são idênticos!
➢ Como implementar Etotal = 0 ? Para objectos inseridos algures
no sistema óptico se a observação dos padrões de difracção
for feita fora da imagem da fonte pontual, a condição anterior
é cumprida.
157
Por linearidade, o campo resulta da combinação dos
campos emergentes das diversas sub-aberturas consideradas
isoladas - aqui a abertura envolvente S1, e o padrão S2.
Nas imagens da direita, a semelhança dos padrões
complementares é bem visível. A estrutura de fundo é devida
ao ruído (speckle) do próprio feixe iluminante.
A abordagem da FTA presume que os objectos sejam delgados e/ou que
introduzem variações lentas da fase – é o correspondente a uma aproximação paraxial.
O objeto imprime a sua marca sobre U-, sem que ocorra qualquer tipo de propagação.
Tudo se passa no mesmo plano, antes e depois.
Quase todos os objectos são híbridos pois, mesmo quando são de fase, são sempre
finitos, e a sua dimensão finita tem de ser descrita através da FTA, quase sempre através
de valores nulos da FTA for a dos limites do objecto.
É o melhor que se consegue para incluir, em óptica ondulatória, o conceito de sombra –
em óptica electromagnética, as coisas serão diferentes.
Sequência de eventos:
158
Como se descreve o objecto, de forma a calcular a onda emergente?
Considera-se o objecto inscrito num paralelepípedo, com faces planas.
Define-se a Função de Transmissão em Amplitude, t(x,y), [FTA]
tal que:
U+(x,y) = t(x,y) U-(x,y)
|U+(x,y)| = |t(x,y)| |U-(x,y)| e φ+(x,y) = Φ (x,y) + φ-(x,y)
A FTA pode ser de:
Amplitude ⇽ amplitude complexa, equação de Helmoltz
Transmissão ou Reflexão
Objecto: limitado por planos paralelos, normais a ZZ
Amplitude Complexa incidente: U-(x,y)
Amplitude Complexa transmitida: U+(x,y)
Função de transmissão / reflexão em amplitude, t(x,y):
U+(x,y) = t(x,y) U-(x,y)
Variação de fase de uma onda plana que se propaga de uma distância d:
159
Amplitude incidente: U- (x,y,0)
Amplitude transmitida: U+(x,y,d)
Função de transmissão em amplitude: t(x,y) = U+(x,y,d) / U-(x,y,0)
0 < z < d : Onda plana – U(x,y,z) = U (x,y,0) exp (-ink0z) (incidência normal)
Uma lâmina de espessura d (no ar) introduz uma variação de fase de:
Incidência normal: Δφ = nk0d = 2πd/λ
Incidência segundo θ: Δφ = nk0d cos θ1, com sinθ = n sinθ1
A função de transmissão em amplitude de uma lâmina de faces paralelas é:
t(x,y) = exp (-ink0d cos θ1)
160
Trata-se de um elemento de fase:
t(x,y) = h’0 exp [-ink0d(x,y)] exp {-ik0 [d0 - d(x,y)] }
t(x,y) = h0 exp [-i(n-1) k0 d(x,y)]
Prismas
O modelo geral é facilmente aplicável a um
prisma. Para pequenos ângulos, recupera-se
facilmente o desvio angular já bem conhecido da OG,
δ=(n-1)α.
Note-se a forma como esta FTA permite descrever
os efeitos de dispersão cromática, através da
variação do índice com o CDO.
t(x,y) = h0 exp {-i[n(l)-1] k0 d(x,y)}
Tem-se:
d(x,y) = x tan α ≈ x α
t(x,y) = h0 exp [-i(nλ-1) k0 αx]
U-(x,y,z=0) = 1 U+(x,y,z=d) = t(x,y) = exp(-2πi (nl-1)αx
U+ representa uma onda que se propaga fazendo um ângulo θ com o eixo dos z, e
cosθ = (n-1)α – resultado já conhecido do estudo dos prismas, e que dá a deflexão do
feixe, para pequenos ângulo.
Lentes Delgadas
Uma lente constituída por duas faces esféricas pode ser considerada como duas
lentes plano-esféricas, cuja espessura geométrica se calcula facilmente, uma vez mais
aplicando uma aproximação paraxial.
Ao contabilizar as duas espessuras transversas, todas as constantes físicas (n, R1
e R2) deixam-se naturalmente incluir numa constante única, f, que recupera a equação
da potência de uma lente delgada no ar.
O conceito de distância focal, ou de potência, de uma lente emerge assim,
naturalmente, na óptica ondulatória.
FTA geral: t(x,y) = h0 exp[-i(n-1)k0d(x,y)]
Espessura de uma lente plano-convexa de raio R:
161
e a espessura é:
Para uma lente completa, com raios de curvatura R1 e R1:
x2 +y 2
t(x, y ) = h0 e−ik 2f
E os termos constantes agrupam-se naturalmente em:
Recupera-se a distância focal de uma lente delgada!
Se fizermos incidir uma onda plana unitária, segundo o eixo dos z, numa lente, a
onda emergente é U+=t, isto é, descreve uma onda esférica na aproximação
paraboloidal, com centro à distância f da lente: Ponto Focal Imagem , F’.
Se fizermos incidir uma onda esférica emitida a partir de P1, real, à distância z1 da lente,
devemos multiplicá-la pela FTA da lente em z=0 e analisar a sua fase: esta é a de uma
onda esférica, também na aproximação paraxial, centrada em P2, à distância z2 da lente.
z1, z2 e f satisfazem a equação dos planos conjugados, que assim se recupera em óptica
ondulatória.
U-(x,y, z=0) = 1
x2 +y 2
U+(x,y, z=f) = t(x,y) = h0 e−ik 2f
Se U- for uma onda esférica / paraboloidal:
Uma lente positiva de distância focal f, transforma:
● Ondas planas em ondas paraboloidais
convergentes para o foco.
● Uma onda paraboloidal centrada em P1 (objecto)
noutra centrada em P2,(imagem), isto é, conjuga
planos que satisfazem a Eq. dos Planos Conjugados: 1/z1 + 1/z2 = 1/f
162
4.2.3. GRIN - Gradient Index
Componentes GRIN
Se o nosso componente for uma lâmina de faces paralelas mas com um índice
variável, a FTA calcula-se da mesma forma! É possível construir lentes GRIN, de
potência positiva ou negativa, controlando o gradiente transverso do índice de
refracção
Óticas GRIN
A óptica do índice de gradiente (GRIN) é o ramo da óptica que abrange os efeitos
ópticos produzidos por um gradiente do índice de refração de um material. Essa
variação gradual pode ser usada para produzir lentes com superfícies planas ou lentes
que não possuem as aberrações comuns nas lentes esféricas tradicionais. As lentes com
índice de gradiente podem ter um gradiente de refração esférico, axial ou radial.
A seguinte imagem mostra uma lente GRIN com variação parabólica do índice de
refração, n, consoante a distância radial, x. (Esta lente foca a luz do mesmo modo que as
lentes convencionais):
163
4.2.4. Redes de Difração de Fase
Em óptica, uma rede de difração é um componente óptico com uma estrutura
periódica que divide e difrata a luz em vários feixes que viajam em direções diferentes.
As redes de difracção de fase (que normalmente actuam em reflexão, não em
transmissão), têm uma topografia regular e muito fina, e um perfil topográfico
sinusoidal, binário, em dente de serra, etc. No domínio óptico, em espectroscopia, por
exemplo, têm, frequências entre 500 e 3000 linhas/mm.
Por exemplo, os hologramas são quase sempre redes de difracção de fase.
Estas redes são feitas com litografia laser,por feixes de electrões, com radiação UV
através de máscaras, etc.
t(x,y) = h0 exp[-i(n-1)k0d(x,y)]
A FTA será:
Podemos simplificar a FTA e dar-lhe a forma de uma combinação linear de
funções simples (senos e cossenos), embora em número potencialmente infinito (na
prática) o número de ordens de difracção é sempre finito. A importância relativa dos
vários termos é dada por valores de funções de Bessel, dependendo do factor de
modulação da topografia, m.
A FTA simplifica-se então recorrendo à função geradora das funções de Bessel
de 1ª espécie:
164
4.2.5. Pupilas
Pupilas Retangulares
A função rect(ângulo) em nada altera a onda incidente dentro da abertura, e
anula-a totalmente fora, pois t=0 fora da abertura.
Estes objetos serão, portanto, objetos de amplitude, e não afectam a fase da
onda incidente.
É um exemplo de uma função 2D separável, a sua definição 2D obtém-se a partir
do produto de funções 1D.
Todos os objectos são sempre finitos: a função rect, ou outras equivalentes,
determinam os respectivos limites e procuram emular o conceito de “sombra
geométrica”.
Um rectângulo 2D é um produto de dois rect 1D:
Pupilas Circulares
A função circ(ulo) em nada altera a onda incidente dentro da abertura, e anula-a
totalmente fora, pois t(r)=0 fora da abertura.
É um exemplo de uma função 2D não separável.
Estes objetos serão, portanto, objectos de amplitude, e não afectam a fase da
onda incidente.
Todos os objectos são sempre finitos: a função circ, ou outras equivalentes,
determinam os respectivos limites e procuram emular o conceito de “sombra
geométrica”.
165
4.2.6. Exemplos de FTA’s
166
4.2.7. Ação de Lentes Sobre Feixes
Será que um feixe Gaussiano permanecerá Gaussiano quando é transmitido
por uma lente delgada?
Conhecendo U- e a FTA da lente, podemos de imediato escrever o campo U+
imediatamente após a lente (na face plana de saída do paralelepípedo envolvente.
167
Parâmetros do feixe gaussiano transmitido:
Nota: Etendue ou Étendue é uma propriedade da luz num sistema óptico, que caracteriza a formo
como a luz está "espalhada" em área e ângulo. Corresponde ao produto do parâmetro de feixe (BPP) na
óptica de feixes gaussianos.
A reter:
168
4.2.8. Formatação de Feixes Gaussianos
Em aplicações tais como:
➔ Laser scanning
➔ Impressão laser
➔ Leitura de CD
➔ Fusão laser
➔ Bisturi laser
➔ Processamento de materiais por laser
W’0 deve ser tão pequeno quanto possível:
λ e f tão pequenos quanto possível
W0 tão grande quanto possível
Diâmetro mínimo da lente de focagem: D= 2 W0. Logo:
É importante ter presente que a Irradiância do feixe incidente + coeficiente de
absorção do material à potência óptica absorvida à variação de temperatura do meio, e a
temperatura condiciona as mudanças de fase no meio, ou a desnaturação das proteínas
em materiais biológicos, etc.
Uma transformação ou uma transformada de Fourier (FT) é uma transformação
matemática que decompõe uma função (geralmente uma função do tempo ou de um
sinal) em suas frequências constituintes. O termo transformada de Fourier refere-se à
representação no domínio da frequência e à operação matemática que associa a
representação no domínio da frequência a uma função do tempo.
169
Na figura anterior figura tem-se representado na primeira linha o gráfico da
função de pulso unitário f (t) e sua transformada de Fourier f̂ (ω), uma função da
frequência ω. A translação (isto é, atraso) no domínio do tempo é interpretada como
mudanças de fase complexas no domínio da frequência. Na segunda linha, é mostrado g
(t), um pulso unitário atrasado, ao lado das partes reais e imaginárias da transformação
de Fourier. A transformação de Fourier decompõe uma função em autofunções para o
grupo de translações.
Os seguintes conceitos são fundamentais em 1D, e directamente aplicáveis em
2D.
Séries de Fourier
Uma função periódica, g(x), de período λ ou frequência f0, deixa-se representar
em série de Fourier:
É vantajoso usar exponenciais complexas e coeficientes de Fourier, Cn, complexos:
170
SÍNTESE DE FOURIER
❏ Em Física, esta relação pode ser 1D (tempo), 2D (imagem), 3D (cristais), ...
❏ Os coeficientes de Fourier são complexos: Cn= |Cn|exp (i𝝋)
❏ Apenas quando g(x) é uma função real se tem Cn = C-n*.
❏ O argumento da exponencial vem expresso em rad. O
factor multiplicativo de x, tem as dimensões inversas:
frequências (espaciais, temporais, ...): fn = n/λ.
❏ Todas as frequências são múltiplas da frequência
fundamental, f0 = 1/λ: fn = n f0 (harmónicas)
❏ No tempo/frequência (Hz), fn à nn, logo, exp(-2πinnt) à
exp(-iwnt)
Transformada Integral de Fourier (1D e 2D)
Sinais não periódicos (anarmónicos) não admitem desenvolvimento em série de
Fourier. Todavia, considerando um sinal não periódico como um sinal periódico com um
período infinito, podemos generalizar a série de Fourier num Integral de Fourier e
aplicá-lo a qualquer função:
❏ A TF de f(x), F( ξ ) fica definida no espaço das frequências (temporais,
espaciais 1D, 2D ou 3D).
❏ O kernel de Fourier (exponencial complexa) é linear na variável de
integração.
❏ A variável independente ξ da Transformada de Fourier é o coeficiente de
x, dividido por 2πi.
❏ A utilização de 2π no argumento, fixa o significado físico de ξ ( frequências
lineares vs angulares).
171
A generalização do Integral de Fourier a 2D (e, em geral, a nD) é imediata:
Frequência espacial 2D u = (u,v), muitas vezes referida como ξ = ( ξ η)
A passagem da série para o integral de Fourier, do caso periódico para o não
periódico, faz-se recorrendo ao artifício de se considerarem os objectos não periódicos
como objectos periódicos de período infinito. Em Física, as grandezas físicas satisfazem
sempre as condições de existência do integral: a energia de um sinal é sempre finita,
não existem infinitas descontinuidades, e pode demonstrar-se que o integral existe.
Mantém-se inalterado significado das frequências (espaciais ou temporais), que
agora variam continuamente – deixa naturalmente de existir uma frequência
fundamental.
Releva-se a importância da escolha do factor de 2πi no argumento, na posterior
utilização física de tais frequências, e o domínio de integração, que expressa
explicitamente poder ser posta em evidência a necessidade de frequências muito
elevadas.
A generalização 1D à 2D é natural, em termos formais. As frequências são agora
vetores 2D, viabilizando explicitamente a análise de padrões periódicos segundo
direções arbitrárias. É muito frequente, em óptica, a utilização das variáveis (u,v) ou ( ξ
,η) para as duas componentes cartesianas de tais vectores.
É ainda mais útil o estabelecimento de coordenadas polares no espaço 2D de
frequências, que nos permite utilizar o módulo como valor absoluto da frequência
segundo a direcção da periodicidade, e o ângulo (argumento) como a orientação de tal
direcção de periodicidade.
A parte real do kernel de Fourier,
172
No caso de funções f(x,y) pares, a parte imaginária do kernel é irrelevante, e
qualquer função real se deixa sintetizar através da soma (sobreposição) de inúmeros
padrões sinusoidais deste tipo, com amplitudes |F(u)| e fases arg(F(u)) determinados pela
TF de f(r).
O mesmo se passa com funções reais, sendo necessário considerar frequências
negativas explicitamente, pois F(u) = F(-u)* - note-se que, em tais casos, |F(u)| = |F(-u)|,
logo a densidade espectral de potência nada revelará, pois |F(u)|2 = |F(-u)|2:
No caso de funções reais, podemos mesmo afirmar que qualquer imagem se pode
considerar como soma de um número infinito, denso de padrões periódicos, com
diferentes frequências, direcções de periodicidade, amplitude e fases.
A amplitude de um padrão tem basicamente a ver com o seu contraste (diferença
entre máximos e mínimos).
A fase de um padrão representa, basicamente, um indicador da sua posição
translacional no espaço 2D.
F(0,0) representa o valor médio da função f(r):
Propriedades da Transformada de Fourier
Seguem-se algumas propriedades da TF - inversa, dupla transformação,
linearidade – e outras menos triviais mas da maior importância em física e para o estudo
da difração: as propriedades da TF perante a translação ou mudança de escala da função.
Definições:
Dupla transformação:
Linearidade:
173
Translação:
Escala:
Energia / T. Parseval:
É de salientar as propriedades da TF perante a translação e perante a translação e
a mudança de escala:
Translação Mudança de Escala
TF do rect 2D à sinc
A TF de um rect calcula-se facilmente. O seu resultado, em óptica, costuma ser
expresso através da função “seno cardinal” ou sinc, que é a função sinx/x, mas em que x
se expressa em unidades de π. Note-se que, desta forma, os zeros do sinc são inteiros!
174
Salienta-se que:
➔ Os zeros se distribuem regularmente, e que
as envolventes (dos máximos e dos mínimos)
decaem com 1/|x|.
➔ A função sinc “ocupa” os 4 quadrantes com
valores não nulos.
➔ A sua representação como imagem (valores
codificados em níveis de cinzento) é quase
sempre a representação do sinc^2.
TF do circ à somb
O circ é uma função 2D não separável, e a sua TF
tem de ser calculada em 2D. Tratando-se de uma função
estritamente radial, o cálculo da sua TF é igualmente
feito em coordenadas polares no plano de frequências espaciais (u,v). Para se obter o
resultado final, são utilizadas propriedades das funções de Bessel da família da que já
vista aquando do estudo da FTA de uma rede de difração de fase. A Transformada de
Fourier em coordenadas esféricas (ρ,ϕ), para funções com simetria radial, é conhecida
como transformada de Fourier-Bessel. Para a função circ:
ρ = (u2+v2)1/2
175
No caso do circ, a sua TF é a função “chapéu mexicano” ou “sombrero”, assim
chamada por razões óbvias:
(À direita temos o resultado da TF da função circ, com aspecto de sombrero)
A função de Bessel J1 tem um comportamento muito semelhante ao sin, embora
os zeros não sejam regularmente espaçados nem a sua amplitude seja constante.A razão
J1(x)/x tem um comportamento muito semelhante ao sinc.
Funções de Bessel de 1ª ordem (n = 0, 5):
176
Uma vez que a transformada de Fourier de uma função é já nossa conhecida, o
integral de difracção, na aproximação de Fraunhofer tem agora uma leitura simples: à
parte os factores multiplicativos iniciais, a amplitude é a TF do campo emergente da
177
abertura Σ, sendo a transformada calculada para as frequências espaciais f X e fY que
dependem da geometria e física do problema.
Repare-se que se o nosso detector for suficientemente grande, ele detetará
frequências espaciais elevadas, pois f X é proporcional a x.
Vamos então concretizar a difracção, em regime de Fraunhofer para alguns
objectos descritos pela sua FTA.
O padrão de irradiância é descrito por dois sinc2 , com diferentes escalas, pois
trata-se de um rectângulo mais alongado segundo a horizontal – logo, o seu padrão de
difracção será mais comprimido segundo a horizontal:
178
Note-se, na figura à direita:
● A relação entre os zeros do sinc e o centro das franjas
escuras ou mínimos de irradiância;
● A significativa redução do máximo do 2º lobo
relativamente ao máximo do lobo central (< 0.1);
● A largura total do lobo central, definida entre os
valores -1 e +1 do argumento, e que varia
inversamente com w, e directamente com o CDO e com
z.
Note-se que esta equação – muito
usada nos livros mais simples, identifica os
mínimos, não os máximos - como acontece
com a equação das redes de difracção, em
que são os máximos que são muito bem
definidos.
Para uma fenda de largura a, o mésimo MÍNIMO ocorre segundo a direcção θm tal que:
Na seguinte imagem tem-se a diferença nos padrões obtidos para uma fenda
larga e uma fenda estreita.
179
4.4.1.3. Abertura Circular
Abertura circular de raio w e área A.
Calculamos, neste caso, a TF analiticamente, necessariamente em termos das
variáveis naturais no espaço de Fourier, que neste caso, será a frequência espacial radial,
ro – mas logo de seguida, concretizamo-las em função exclusivamente dos dados físicos
do problema.
O padrão de difracção vem descrito em termos da função de Bessel J1, sob a
forma de um chapéu mexicano, e mantém, naturalmente, a simetria radial do objecto
difractante, com um disco central e vários anéis concêntricos e com energia
progressivamente menor.
180
4.4.2. Redes de Difração
Conforme já visto, tem-se em baixo a FTA de uma rede sinusoidal de amplitude,
finita, de frequência f0 e modulação m, inscrita num quadrado de lado 2w.
Vejamos como se fazem as contas para uma rede 1D, pois os aspectos
matemáticos são os mesmos.
181
Façamos m = 1, para eliminar uma constante. (amplitude das ondas)
Seguindo as imagens anteriores:
❏ Conhece-se a TF de um rect de largura 2w: é um sinc, e tem de se corrigir a
escala
❏ O 1º factor é a soma de 1 com um cos. Conhece-se a TF do cos (dois impulsos
centrados em +/-f0). A TF de uma constante é um impulso na origem.
❏ Tomem nota que a TF de um produto é a convolução das TF’s dos factores, MAS
que o impulso é o elemento neutro da convolução, e que se limita a “transferir” o
seu argumento na convolução.
❏ O resultado são 3 sincs, centrados na origem, e em +/- f0.
❏ Materializando a frequência espacial, obtém-se directamente a amplitude
complexa, e daí a irradiância.
❏ No último passo, simplifica-se, considerando que f0 é suficientemente elevado
para que os sincs consecutivos só se intersectem nos lobos de muito reduzida
intensidade. Os produtos cruzados desprezam-se e a irradiância é basicamente
a soma dos quadrados dos 3 sincs.
A 2D, as contas são as mesmas, mas é necessário transportar as duas dimensões,
tanto no espaço directo como no espaço de frequências.
Retomando a função de transferência em amplitude:
-
Iluminação por onda plana (em z=0 ): Ui( ξ , η ) = 1.
Campo no plano da rede ( ξ , η ), logo depois da rede (em z=0+): U( ξ , η ,0) = tA( ξ , η )
Teorema da Convolução:
Transformadas de Fourier dos dois factores:
O δ-Dirac é o elemento neutro da convolução:
Como o δ-Dirac é o elemento neutro da convolução, o campo no infinito é:
182
Note-se que como a rede é periódica segundo o eixo dos x, o sinc em y pode ser
posto em evidência.
Para se calcular a Irradiância no infinito, I(x,y) ~|U(x,y)|2. Se:
f0 >> 1/w (ou wf0 >> 1 - muitos ciclos de variação no interior da abertura)
Os três sinc’s não se sobrepõem. Os produtos cruzados serão desprezáveis. Isto
é, a aproximação que se faz para se garantir que os três sincs não se sobrepõem é
equivalente à condição f0 >> 1/w, ou seja, para uma dada dimensão da rede de difracção,
a rede tem de ter uma frequência superior a um dado limiar, isto é, w.f0>>1.
Obtemos assim a distribuição espacial da irradiância para redes de difracção
sinusoidais em amplitude.
Aparece aqui o conceito de “ordem de
difracção”: o feixe difractado
divide-se em três feixes, um central
(ordem 0) e um par de ordens
simétricas, desviadas angularmente. O
aparecimento de 3 ordens decorre
exclusivamente do perfil sinusoidal
da rede, descrito pelo factor 1+cos na
FTA da rede.
Repare-se que cada ordem tem
uma microestrutura, descrita por um
sinc. O sinc vem da forma da rede. Se
a rede fosse circular, por exemplo, não
teria aparecido o sinc mas sim um
sombrero!
Como a dimensão da pupila é muito maior que a
dimensão característica da rede (1/f0), os sincs
traduzem uma micro-estrutura, presente em cada
ordem.
Este espectro é caracterizado por:
● Separação entre ordens (λz f 0 ), que aumenta com f0.
● Largura de cada “ordem” (lobo central), que varia com λz/w – inversamente
proporcional à dimensão da rede.
● A modulação da rede, m, determina a distribuição de energia pelas 3 ordens,
2
através do factor m4 .
●Ao longo da direcção de y, a irradiância é descrita por um sinc semelhante, já que
se considerou que a abertura era quadrada.
Note-se, finalmente, a variação linear da separação e espessura das ordens com o CDO
– razão pela qual as redes de difracção são componentes críticos de quase todos os
espectrómetros.
183
Na seguinte figura perceciona-se claramente as três ordens e a dispersão
cromática decorrente da variação rápida das características da rede com o CDO.
Na realidade, esta rede não será estritamente sinusoidal – vêm-se resíduos de
um novo par de ordens (+/-2), embora com muito pouca energia, o que revela que os
desvios a uma FTA sinusoidal são mínimos.
184
O resultado final no espaço de Fourier, é um número infinito de ordens (descritas
por sinc) igualmente espaçadas de 1/b. A amplitude de cada sinc é determinada pelo
valor de sinc(a/b.n), que irá diminuindo quando n aumenta, dadas as características o
sinc.
185
Após difracção, e para uma dada ordem bem definida, constituem-se feixes
monocromáticos colimados com diferentes orientações angulares, que são focados em
zonas diferentes de um detector, por um 2º espelho côncavo.
A medida é feita no detector, no qual existe uma relação única entre a posição no
detector e o λ.
A calibração de um espectrómetro é feita com vários feixes laser com λ’s
conhecidos.
186
4.4.2.4. Redes de Difração de Fase
Como já foi referido, na modelação da FTA
de uma rede de fase, estas estão associadas a um
número infinito de ordens de difracção – na
prática, sempre finito, mas sempre maior que o
número de ordens nas redes de amplitude.
Rede de fase, periódica, linear, segundo o
eixo x, 2D, de frequência espacial f0, modulação m,
inscrita num quadrado de semi-largura w.
Função de transmissão em amplitude (complexa):
(Vimos já a FTA de uma rede de fase de perfil sinusoidal, de frequência f0 e
modulação m).
O campo difratado, em condições de Fraunhofer, é calculado de forma
semelhante. Recorde-se a identidade que envolve as funções de Bessel, e que
transforma uma função complicada numa soma de funções simples (exponenciais
complexas – com a forma do kernel de Fourier!)
As TF dos dois factores da FTA são simples de obter – consultando uma tabela de
transformadas, a TF de uma exponencial complexa linear é um δ-Dirac.
187
As duas TF combinam-se por convolução pois o δ-Dirac é o elemento neutro da
convolução – o argumento do δ é simplesmente transferido para a função ao qual se
aplica, os sinc.
Combinando:
O resultado é uma amplitude complexa constituída por um número infinito de
sincs ao longo do eixo dos x, igualmente espaçados, mas cuja amplitude máxima é
determinada por funções de Bessel de ordem q, para o valor m/2.
Para calcular a irradiância, impõe-se uma vez mais que o número total de
períodos da rede seja elevado, para que os inúmeros sincs não se sobreponham, e a
irradiância seja, basicamente, uma soma de sinc2 .
188
Na figura acima tem-se um conjunto de ordens igualmente espaçadas, cuja
intensidade é definida por funções de Bessel de 1ª espécie – porventura, para algumas
ordens, a sua intensidade será nula ou muito reduzida e elas não serão observáveis
(ordens ausentes).
A estrutura fina do espectro é determinada pelo padrão de difracção da
abertura confinante (se rectangular, um sinc, se circular, um somb, etc).
Estas redes de perfil harmónico têm pares de ordens simétricas em termos da
distribuição de energia. Não são utilizáveis em espectrómetros, pois serão pouco
eficientes.
189
Sintetizando: Redes de amplitude VS. Redes de fase
190
É necessário então invocar agora, depois de tratar da mudança de escala, aquela
propriedade da TF que permite lidar com translações do objecto no plano, pois é a esta
propriedade a que se deve a constituição de um padrão com zeros periodicamente
distribuídos.
O resultado final, é um sinc2 (resultante das aberturas individuais) que modula
um cos2 (resultante da existência de duas fendas).
Como as fendas são mais pequenas que a separação entre elas, as escalas dos
padrões correspondentes é inversa, isto é, são as características da fenda que modulam
o padrão de interferências a dois feixes – e não o contrário.
191
Se aumentarmos o número de fendas MAS mantivermos a separação entre elas,
obtemos variantes deste padrão.
É conveniente relembrar alguns conceitos de interferometria:
Irradiância:
Diferença de percurso óptico entre feixes
consecutivos: OPD = d sin θ
Diferença de fase entre feixes consecutivos :
φ = k OPD = (2π/λ)d sin θ = (2π/λ0) nd sin
θ = k0 nd sin θ
Condição para os Máximos de irradiância:
φ = 2πm → d sinθ = mλ
Distribuição da Irradiância:
❏ Na região comum a todas as ondas
❏ Determinada pelo padrão de difracção das
fendas
É de salientar como varia a largura de cada máximo com o número de ondas
interferentes
Uma rede de difracção de amplitude pode ser considerada uma colecção de finos
retângulos paralelos entre si, num fundo opaco. Imagine-se que a rede é iluminada por
uma onda plana segundo o eixo dos z. Segundo cada uma de tais direções, a onda
emergente de cada uma das fendas está em fase com todas as demais, e este conjunto
de muitas ondas pode interferir construtivamente.
Isto significa que, ao invés, para todas as outras direcções que não satisfaçam
essa condição, a interferência é, globalmente destrutiva, e nenhuma luz deverá
emergir segundo tais direcções.
192
Quanto maior for o número de fendas iluminadas pela onda incidente, mais
bem definidas estão tais direcções.
★ Nas redes, N
aberturas idênticas de largura a, estão periodicamente distribuídas (período d).
★ O espectro de difracção da abertura fixa a intensidade relativa das várias ordens.
★ A equação das redes (d sin θm = mλ, para incidência normal) fixa, através de d, as
direcções segundo as quais ocorrem máximos (as ordens de difracção).
★ Quanto menor for d (e maior a frequência da rede, f = 1/d) maior o ângulo entre
ordens consecutivas (e maiores são os valores dos ângulos de difracção).
★ Quanto maior for N, menor é a largura de cada ordem, e mais reduzido é o nível
do sinal entre as ordens.
★ As distâncias entre ordens no plano de observação (à distância z da rede) não são
constantes. Se xn representar a posição do máximo de ordem n:
xn = nλz (d2-n2λ2)-1/2
n ≤ d/λ.
★ Consoante a relação entre a e d, podem não ser visíveis todas as ordens
193
Múltiplas Aberturas Idênticas
Quando temos muitas aberturas idênticas que constituem um padrão extenso, o
seus padrão de difracção pode variar significativamente, em função da regularidade da
distribuição.
Nos casos periódicos, seja em 1D como em 2D ou 3D (raios-X e cristais), os
máximos ocorrem segundo direcções muito bem definidas, e a envolvente geral do
padrão observável é determinado pela difracção da abertura individual.
A fase do campo difratado por cada uma das aberturas vai variar de acordo com
as coordenadas do dentro de cada abertura.
No caso de distribuições não regulares / periódicas, o padrão tem
características completamente distintas
A amplitude do padrão de difracção G(u) é determinada pelo padrão de difracção
do motivo, F(u), multiplicado por uma função, H(u), com máximos tanto mais bem
definidos quanto mais periódica for a
distribuição e maior o número de
repetições. (Equação das rede, Teorema
matricial).
No caso não periódico geral, H(u)
varia estocasticamente em função de u (não esquecer que a frequência especial u é dada
pelo valor de x/λ.z), e nada de especialmente relevante se observará, em geral, dentro da
envolvente do padrão, que é determinada pela difracção do motivo individual.
194
195
Fazendo incidir uma onda plana U-(x,h) = 1 numa lente (distância focal f, raio r ), a
primeira é difratada pela lente, e a onda difratada propaga-se (vai-se então considerar
que a lente é, ela própria, o objecto difratante).
A FTA da lente tem de incluir os efeitos da sua pupila finita, por exemplo, um
círculo de raio ρ:
Temos de considerar a forma e dimensões da pupila de saída, por exemplo, um
círculo, descrito pela função circ. A Pupila pode ser anular, rectangular, conter
obstruções internas, etc, e nesses casos não seria o circ a função adequada. De uma
maneira geral, vamos chamar Função Pupila, P( ξ , η ), à componente da FTA que tem
toda a informação necessária sobre o sistema óptico, com excepção da fase quadrática.
Sabemos, em princípio, o que esta lente vai fazer: transformar a onda plana numa onda
esférica convergente para F’.
196
Note-se quais são os valores das frequências espaciais que são utilizados: f X →
x/λf. É agora a distância focal, f, que determina a escala do padrão de difracção. Nesse
sentido, para reduzir a escala basta diminuir a distância focal. Salienta-se que esta é a
situação de formação de imagem que ocorre quando o nosso objecto está no infinito –
uma estrela, por exemplo.
O que se observa no plano focal não é portanto apenas a simples convergência de
uma onda esférica para o Foco Imagem – é um padrão de difracção da pupila do
sistema óptico, tanto mais proeminente quanto menor for a pupila, tanto mais
concentrado quanto maior for a pupila.
FTA da lente:
Propagação para o plano focal da lente (z = f) (condições de Fresnel):
No plano focal, a irradiância é descrita pelo quadrado do módulo da TF da pupila, P(ξ,η) :
–Uma onda plana e uma pupila circular à um padrão de Airy
–Duas ondas planas angularmente próximas à dois padrões de Airy, porventura
parcialmente sobrepostos.
Esta é a situação normal de formação de imagem de objetos no infinito.
A estrutura fina da imagem é determinada pela difracção na Pupila.
Raio w, Diâmetro D = 2w →
Diâmetro do lobo central:
Para z → f, o diâmetro do círculo de Airy é 1.22cdo.f/w.
O valor do disco de Airy é instrumental para se objetivar o conceito de resolução,
através do critério de Rayleigh.
197
Critério de resolução de Rayleigh: duas fontes incoerentes podem ser resolvidas
por um sistema limitado por difracção e com uma pupila circular quando o centro do
padrão de irradiância de Airy de uma coincidir com o primeiro zero do padrão de Airy da
outra.
A seguinte figura ilustra este conceito:
Um sistema que satisfaça o critério de Rayleigh diz-se limitado por difracção –
não é útil prosseguir com a redução das aberrações, pois a mancha luminosa (a imagem)
está já condicionada pela difracção na pupila.
Nas aplicações médias e mais exigentes, o utilizador necessita de sistemas
limitados por difracção.
O critério de Rayleigh é “conservador”; foi feito para estabelecer uma condição
suficiente para o olho humano. Se o critério de Rayleigh for satisfeito (e se as estrelas
tiverem a mesma intensidade) o observador verá dois objectos distintos (se lá
estiverem).
Com detectores mais sensíveis, de menor ruído, é possível distinguir mínimos
menos cavados entre os dois máximos adjacentes, o que significa um “ganho” em
resolução.
Mesmo sendo conservador, o critério de Rayleigh funciona como referência para
a especificação da qualidade e do desempenho dos sistemas ópticos.
O critério de Rayleigh tem a vantagem de ser quantificável, pois conhece-se a
posição do 1º zero da função de Bessel. A partir daí, infere-se a separação mínima entre
padrões de Airy no plano imagem, e daí passa-se para a separação mínima entre
objectos a distância finita, ou para a separação angular entre estrelas no infinito.
198
Note-se que f determina a escala transversa no plano focal (plano imagem) mas
que a resolução angular, directamente aplicável ao espaço objecto, é unicamente
determinada pelo diâmetro da pupila, D.
O 1º zero de J1 ocorre para πx = 1.22.
A separação mínima radial no plano imagem (z=f) é
metade da largura do lobo central (d) do padrão de Airy:
d = 0.61 λf/w à 1.22 λf/D
A separação angular (no espaço objecto), d/f, será:
θ = 1.22 λ/D (rad)
Duas estrelas serão resolvidas se a separação entre os
dois padrões de Airy satisfizer o critério de Rayleigh!
Critério de Rayleigh Angular
Em termos angulares, basta usar a geometria e relacionar ângulos no espaço
objeto e distâncias transversas no plano imagem. Destaca-se importância dos pontos
nodais para a determinação de ângulos.
Note-se que a resolução transversa, é determinada pelo f/#, mas que a
resolução angular apenas de depende do diâmetro da pupila (para além do cdo,
evidentemente).
x = f tan θ = 0.61 λf / w = 1.22λf / D = 1.22 λ/ f#
tan θ ~ θ = 1.22 λ / D
Lente de diâmetro D = 2w e distância focal f
θ– Resolução angular
O critério de Rayleigh também se pode aplicar ao olho, por exemplo, para
diferentes estados de dilatação da pupila
A difracção determina que a resolução do olho com a pupila aberta (8 mm), seja
superior à do olho com a pupila mais fechada (2 mm). Tal verifica-se, mas o olho não é
um sistema limitado por difracção, e as aberrações aumentam significativamente com
o diâmetro da pupila.
199
Três notas finais:
❏ O critério de Rayleigh é conservador – sensores mais sensíveis e com menor nível
de ruído, permitem ir mais além - com os critérios de Sparrow ou de Dawes
(também devido a Lord Rayleigh), conseguimos ganhar cerca de 20%.
❏ O critério de Rayleigh deixa de ser condição suficiente se as intensidades dos
dois objectos são muito diferentes.
❏ O critério Rayleigh aplica-se a luz monocromática, mas NÃO para luz coerente.
Com feixes laser, por exemplo, podem ocorrer mínimos no padrão de
interferência entre as ondas provenientes de objetos muito próximos que tanto
podem melhorar a resolução, como piorá-la.
As imagens astronómicas de campos de estrelas (objectos pontuais, que não se
deixam resolver – com excepção do Sol) são imagens de padrões de Airy de difracção
pela pupila do telescópio. Os padrões são os mesmos em toda a imagem, embora
possam ter maior ou menor energia consoante a magnitude da estrela.
Quanto maior for o diâmetro da pupila, mais concentrados são os padrões de
Airy (ou outros, caso as pupilas não sejam circulares – anulares, quase sempre,
rectangulares).
Tais padrões de difracção não têm relevância astronómica – são efeitos espúrios
do instrumento de observação. É possível camuflá-los: basta escolher um sensor cujo
pixel tenha a dimensão do disco de Airy, ou parecido.
No plano focal, a difracção é observável, mas na imagem digital, os padrões de
difracção estarão fortemente atenuados.
200
O mesmo se passa nas várias microscopias (óptica ou confocal), com sistemas que
têm de ser limitados por difracção. Todavia, a difracção pela pupila não é tão visível, por
várias razões:
1. Em observação visual, a iluminação é policromática ou com luz incoerente, e os
padrões de difração estão sobrepostos mas com diferentes escalas – a
microestrutura esvai-se visualmente.
2. Os objectos são extensos, não pontuais, o que contribui para a menor relevância
visual que a difracção parece ter – mas tem...
3. Em microscopia confocal, o pequeno furo antes do detector final, apenas permite
passar a luz de uma pequena parte do centro do padrão de difracção.
À direita, o diagrama representa
graficamente o critério de Rayleigh, relacionando a
resolução angular (em abcissas), o diâmetro da
pupila (em ordenadas) e o comprimento de onda
(na diagonal, a -45º). Estão representados inúmeros
telescópios, o olho humano, o Hubble, etc.
O segredo da resolução de um instrumento –
um telescópio, por exemplo – está na pupila:
monolítica, anular, com diferentes suportes
mecânicos do secundário, que intersectam e
difratam a luz, constituídos por múltiplos
segmentos triangulares, hexagonais, etc.
Tudo deve ser objecto de descrição na função Pupila, parte da FTA da óptica.
Tudo determina a distribuição de energia nos espectros de difracção observados.
Tudo condiciona a resolução angular e transversa do instrumento.
As imagens de objectos pontuais não só não são pontuais como têm uma
microestrutura complexa. Normalmente estão associadas a um máximo central
proeminente, mas a distribuição de energia em torno do máximo pode perturbar a
visibilidades de outros objetos mais ténues próximos, que podem ficar completamente
obscurecidos.
201
Recuperando a aproximação de Fraunhofer, é agora pertinente notar que:
➔ Uma lente de diâmetro D e distância focal f, sempre finita, permite, de facto,
beneficiar da aproximação de Fraunhofer a distâncias reduzidas, desde que o
campo seja observado no seu plano focal.
➔ A relação entrada / saída (entre amplitudes complexas) é regida pela
transformada de Fourier.
➔ A escala do padrão é determinada por λ.f/D. As vantagens que esta configuração
oferece são consideráveis, permitindo usar f para controlar a resolução e
adaptar o sistema óptico às características do sensor, designadamente, à
dimensão do pixel.
➔ Com a ajuda da TF, desde que saibam modelar a FTA dos objectos difratantes,
sabem calcular e controlar o campo luminoso onde precisarem de o usar.
➔ Nalguns casos, saber-se-á calcular o padrão analiticamente, noutros ele será
facilmente calculado numericamente, com o auxílio de algoritmos rápidos (-
Fourier Fast Transform - FFT).
202
Objetivos de aprendizagem: Propagação e Difração
1. O Princípio de Huygens-Fresnel é o princípio básico da propagação / difracção
de ondas. Para além da imagem mental que proporciona – baseada na
interferência entre ondas esféricas geradas a partir de fontes virtuais - é
relevante relacioná-lo com o princípio de Huygens da Óptica Geométrica: as
superfícies de igual fase são, essencialmente, as superfícies de onda geométricas.
2. É possível estabelecer dois regimes de aproximação do integral de
Huygens-Fresnel, consoante a distância, isto é, os ângulos decorrentes de
distâncias longitudinais e a dimensão transversa das regiões de interesse, tanto
no plano z=0, como no plano de observação.
3. Com as aproximações de Fresnel (aproximações parabólicas às ondas esféricas) e
de Fraunhofer (aproximações planas às ondas esféricas) pode-se determinar o
campo escalar, Uout, num plano com base no conhecimento do campo escalar Uin
noutro plano paralelo ao primeiro. A difracção, em Óptica Ondulatória,
formaliza-se entre planos paralelos.
4. Na aproximação de Fraunhofer, a relação entre Uout e Uin, é simples: Uout é
basicamente a transformada de Fourier de Uin - abstraindo de factores de fase
sem relevância no cálculo da irradiância – calculada para valores especiais das
frequências espaciais.
5. Assim, desde que seja conhecida a Função de Transmissão em Amplitude no
plano z=0, t(x,h), é possível calcular a Amplitude Complexa (e a irradiância)
difractada em qualquer ponto (x,y,z) a uma distância z que satisfaça a condição
de Fraunhofer.
6. A representação da Amplitude Complexa no plano z=0 através da modelação
completa da Função de Transmissão em Amplitude no plano z=0 é crítica. Alguns
modelos simples para aberturas retangulares, circulares – tanto de fase como de
amplitude – únicas ou regularmente distribuídas (redes de difracção), constituem
objectivos relevantes da disciplina, designadamente o modelo de uma lente
dotada da respectiva fronteira.
7. A aproximação de Fraunhofer impõe uma distância considerável. A interposição
de uma lente, de distância focal f, e a observação no seu plano focal, são
equivalentes, matematicamente, à aproximação de Fraunhofer: a mesma
equação, desde que z à f.
203
8. Como consequência, nos sistemas que formam imagens de objectos no infinito –
com imagens no plano focal da lente – como os telescópios ou o olho humano, a
imagem é descrita pelo padrão de difracção de Fraunhofer da pupila de saída da
lente.
9. Daqui decorre a teoria do limite de resolução (de Rayleigh), que remete para a
estrutura de difracção de uma abertura circular, isto é, para a função sombrero
(ou chapéu mexicano, dada pela razão entre a função de Bessel, J1(x)/x)
Fórmulas Importantes:
204
5. Ótica Eletromagnética - Materiais
Os fenómenos luminosos que envolvem interação entre a radiação e a matéria
podem-se agrupar em dois grandes grupos:
❏ Fenómenos de superfície - decorrentes da existência de descontinuidade entre
meios;
❏ Fenómenos de volume - decorrem da forma como os campos E e H de ondas
luminosas afetam a microestrutura da matéria e são, por sua vez, afetados por
tais alterações do estado da matéria.
A análise dos fenómenos de superfície revela-nos as equações de Fresnel e a forma
como, numa interface, o fluxo se reparte numa componente refletida e numa
componente refratada.
A análise dos fenómenos de volume explica-nos a base física do índice de refração e da
fenomenologia de dispersão, ou seja, a forma como o índice de refração varia com o
comprimento de onda ou com a frequência; permite o estudo da absorção das ondas EM
pela matéria de modo a compreendermos as propriedades óticas dos dielétricos e dos
metais; abre a porta à ótica não-linear.
205
5.1.1. Condição de Fronteira entre Dielétricos
Recuperando algumas noções de Eletromagnetismo:
A Lei de Gauss aplicada a volumes infinitesimais que incluem dois meios e a
respectiva descontinuidade, e as leis de Ampère e de Faraday aplicadas a um pequeno
circuito que atravessa a superfície de separação entre dois meios, estão na base – após
passagem ao limite - das continuidades exigidas (ou descontinuidades possíveis) aos
campos E, D, H e B, através das respectivas componentes tangenciais ou normais à
superfície de descontinuidade.
Num meio homogéneo, E, H, D e B são funções da posição.
As condições de continuidade decorrem diretamente das equações de Maxwell.
Na fronteira entre dois meios dielétricos, sem cargas nem correntes (r = 0, J = 0):
As componentes tangenciais de E e H são contínuas
➔ Leis da reflexão e da refracção (geometria)
As componentes normais de D e B são contínuas
➔ Equações de Fresnel (radiometria)
Em superfícies irregulares (não planas) a normal à superfície varia
continuamente, logo as próprias componentes tangencial e normal variarão. Os
fenómenos físicos que daqui decorram serão diferenciados de ponto para ponto.
206
Veja-se agora o que significam as continuidades impostas, comparando os
campos imediatamente acima (P1) e abaixo (P2) da superfície de descontinuidade – na
passagem ao limite, P1→ P2.
Nos esquemas que se seguem:
➔ À esquerda, o campo tangencial é contínuo
➔ À direita, o campo normal é contínuo
Os campos 3D variam de forma descontínua, mas
as condições fronteira de Maxwell são respeitadas.
207
5.1.3.Polarização
Nas ondas planas monocromáticas, o campo E é transverso (atenção: não é
assim, sempre).
Consoante a orientação de E, perpendicular a k, assim o plano de incidência
pode ser paralelo, perpendicular, ou fazer um ângulo qualquer com o plano de
incidência.
Os dois casos limite são os casos em que o plano
de polarização é paralelo ou perpendicular ao plano de
incidência.
Quando o campo E tem outra orientação (não é
nem paralelo nem perpendicular ao plano de incidência)
pode sempre ser decomposto em dois campos, um paralelo
e outro perpendicular ao plano de incidência, e serem
calculadas as respectivas componentes lineares.
Estes dois campos têm de ser analisados
separadamente na interface, em termos de reflexão e de
transmissão. Como as equações de Maxwell são lineares,
após análise, podemos recombinar linearmente estas duas
projecções e recuperar o campo global das ondas refletida
e transmitida.
O conceito de polarização (de uma
onda EM) está ligado à forma como o Plano de Polarização (PP) varia ao longo do tempo
– na realidade, só é fácil apreendê-lo no caso da polarização linear.
Os diferentes estados de polarização definem-se pela geometria e velocidade de
variação do PP de uma onda.
No paradigma clássico (≠paradigma quântico), considera-se que o PP está
sempre definido, em cada instante, mesmo que varie indeterminada e abruptamente no
tempo, seja qual for a escala de tempo que se considere.
Definem-se alguns estados de polarização úteis:
★ Na polarização elíptica, o PP roda
com velocidade angular variável.
★ Na polarização linear, o PP
mantém-se constante (seja qual
for a sua orientação no referencial
natural de trabalho).
★ Na polarização circular, o PP roda
com velocidade angular constante,
no sentido directo ou retrógrado
(PCD ou PCE).
208
★ Na luz não polarizada (ou natural), a orientação do PP varia caoticamente ao
longo do tempo.
As equações de Fresnel são construídas para estados de polarização lineares.
Não se trata de uma limitação, pois é possível descrever:
❏ Estados circulares em termos de 2 estados lineares perpendiculares;
❏ Estados lineares em termos de 2 estados circulares direito e esquerdo.
A componente tangencial de E total na interface tem de ser contínua:
Na interface (e ao longo do tempo), as dependências espácio-temporais das 3
ondas devem ser comuns:
Daqui decorre, necessariamente que:
Logo:
Estas últimas 2 equações impõem condições sobre
as orientações dos vectores, e deixam-se trabalhar para
conduzir às leis bem conhecidas da reflexão e da refracção.
209
5.1.5. Equações de Fresnel
Passemos agora ao enquadramento das equações de Fresnel e dos 4 coeficientes de
Fresnel, “semelhantes” a coeficientes de transmissão e de reflexão em amplitude ou a FTA com
que se estudou no contexto da óptica ondulatória – só que, agora, estão em causa campos
vectoriais cuja orientação é relevante.
As equações de Fresnel são aplicáveis apenas a materiais não magnéticos:
5.1.5.1. Coeficientes de Fresnel
Teremos um par de coeficientes para a reflexão, e outro par para a transmissão.
Em cada par, cada um lidará com polarizações diferentes.
Os coeficientes são complexos. O módulo traduzirá uma atenuação, o argumento,
um desfasamento da segunda onda em relação à onda incidente.
Relativamente ao Campo Eléctrico, E, as equações de Fresnel são 4 relações
lineares entre as amplitudes transmitidas ou reflectidas do campo eléctrico e a
amplitude do campo elétrico incidente.
Para polarizações paralela (||) e perpendicular (⊥) ao Plano de Incidência, através
de 4 coeficientes de reflexão (r⊥, r||) e de transmissão (t⊥, t||) em amplitude:
r = |r| e iΨ t = |t| e iΦ
Os 4 coeficientes r e t são complexos, com um módulo |r| ou |t| que traduz uma
atenuação, e um argumento Ψ ou Φ que traduz uma variação da fase da onda incidente
relativamente à onda reflectida ou transmitida.
210
5.1.5.2. Polarização Perpendicular
Quando o plano de polarização é perpendicular ao plano de incidência
(Transverse Electric - TE):
ATENÇÃO: em materiais não dielétricos, materiais que absorvam, tal como os
metais, o índice de refracção é complexo, mas as equações de Fresnel são ainda válidas
e continuam a relacionar as ondas incidente, refletida e transmitida ou simplesmente as
ondas evanescentes, caso nenhuma onda se possa propagar no meio absorvedor. Isto é
assim, pois elas só dependem de uma propriedade muito básica: continuidades das
diversas componentes dos campos numa interface entre dois meios.
As equações de Fresnel vêm expressas em termos dos parâmetros físicos
habituais, designadamente dos índices de refracção e das permeabilidades magnéticas.
211
Novamente, em meios não dielétricos, o índice de refracção é complexo:
212
5.1.5.5.Ângulo de Brewster
É de salientar que nas expressões para os 3 primeiros
coeficientes de Fresnel, acima expressas, surgem no
denominador somas de ângulos ( θi + θt ) .
Com efeito, quando a soma dos dois ângulos tende para
π
2 , a tangente tende para infinito e r∣ ∣ tende para 0.
O Ângulo de Brewster é então o valor do ângulo de
incidência, para o qual a soma é π2 .
213
5.1.6. Reflexão Externa
Na reflexão externa, o índice do 2º meio é superior ao do 1º meio (interface ar →
vidro, por exemplo).
De seguida representam-se os coeficientes de Fresnel (reais) à esquerda, e
apenas as fases à direita. Está assinalado o ângulo de Brewster.
Nos módulos:
★ Em transmissão, os t’s são sempre positivos – a onda transmitida está em fase
com a incidente.
★ Em transmissão, os t’s decaem regularmente para 0, caso da incidência rasante
em que não há onda transmitida e toda a energia é reflectida.
★ Na reflexão perpendicular, a onda reflectida está sempre em oposição de fase
com a incidente.
★ Na reflexão paralela, até ao valor do ângulo de Brewster, ambas estão em fase.
Nas fases:
★ Tomam apenas os valores 0 e π – os coeficientes de Fresnel são reais, podendo
ser positivos ou negativos.
★ Em polarização perpendicular, ocorre sempre um desfasamento de π na
reflexão.
★ Em polarização paralela, a onda reflectida está em fase com a onda incidente até
ao ângulo de Brewster, e desfasada de π para além.
214
5.1.7. Reflexão Interna
Na reflexão interna, o índice do 2º meio é inferior ao do 1º meio (interface vidro
→ ar, por exemplo).
Nas figuras seguintes, representam-se os coeficientes de Fresnel (reais) à
esquerda, e apenas as fases à direita. Estão assinalados o ângulo de Brewster e o ângulo
crítico (para a reflexão interna total).
Em reflexão:
★ A partir do ângulo crítico, a reflexão é total, seja qual for a polarização.
★ Em polarização paralela, a onda reflectida está desfasada de PI em relação à
incidente.
★ As fases têm um comportamento complexo, sendo o desfasamento fortemente
dependente do ângulo de incidência e da polarização incidente.
O valor do ângulo crítico pode ser obtido com base nos coeficientes de Fresnel
para a reflexão, ou directamente da lei de Snell-Descartes, como vimos em OG.
O seu valor é próximo do do ângulo de Brewster, mas em nada afecta a (ou é
afectado pela) polarização das ondas envolvidas.
215
5.1.8.Reflexão Interna Total
Quando n1 > n2 e sin (θt) = 1, a energia não pode fluir para o 2º meio e ocorre
reflexão interna total (RIT)
nt/ni < 1 θi → θi – Ângulo crítico sin (θc) = nt / ni
A seguinte imagem ilustra o fenómeno da reflexão interna total:
Aplicações importantes do fenómeno da
reflexão interna total:
★ Na formação do arco-íris,
★ Na detecção de biomoléculas que alteram n2,
logo alteram a intensidade e o espectro do
feixe refletido internamente,
★ Na reflexão da luz implementando a função de
“espelho” – e quase todos os prismas se
baseiam na RIT.
★ Na condução de luz em guias de onda
216
Para uma onda monocromática, o vector de Poynting, S, oscila à frequência n.
A média temporal de |S| (um período) representa a taxa efectiva de propagação
do fluxo EM. Para uma onda plana linearmente polarizada:
217
Fluxo – W
Irradiância – W/m2
Numa superfície, A, o fluxo incidente (I) pode ser reflectido
(R), transmitido (T) e absorvido (A):
ΦI = ΦR + ΦT + ΦA
A Irradiância nos vários feixes depende da área da secção
transversa perpendicularmente à direcção de propagação:
E = Φ / Área
Reflectância: R = ΦR / ΦI
Transmitância: T = ΦT / ΦI
O feixe incidente incide numa área A da superfície, logo as
secções transversas dos vários feixes são:
Ai = A cos ፀi
Ar = A cos ፀr = Ai
At = A cos ፀt
Refletância:
Transmitância:
Conservação de Energia:
Para duas polarizações:
218
Portanto:
➔ No caso da reflectância, devida à simetria imposta pela lei da reflexão, R
relaciona-se directamente com os coeficientes de Fresnel.
➔ No caso da transmitância, há uma assimetria, e tem de se considerar
explicitamente a inclinação do feixe transmitido.
➔ Garante-se naturalmente que o princípio de conservação de energia é
respeitado.
➔ Não há nenhuma assimetria relativamente às duas polarizações da onda
incidente.
Em incidência normal não há distinção entre as polarizações paralela (pois o
plano de incidência não está definido) e as duas equações tornam-se idênticas.
Note-se que numa interface ar-vidro normal, ~4% do fluxo incidente é refletido
– o que explica a razão pela qual nós nos vemos “ao espelho” no vidro de uma janela
normal, desde que a intensidade exterior da luz não seja excessiva.
219
Em incidência normal (ፀ = 0 deg):
Em reflexão externa (no ar , com ni = 1):
5.2.1. Dielétricos
Nos dielétricos os eletrões estão ligados, pelo que são
materiais isolantes que não suportam corrente elétrica.
Os dielétricos deixam-se polarizar sob a ação de um campo
elétrico dando origem a dipolos. Esta polarização interna
(que se pode traduzir através da deformação das nuvens
eletrónicas ou através da rotação de moléculas polares) cria
um campo interno que reduz o campo elétrico global no
interior do dielétrico.
A compreensão da interação de uma onda luminosa com o
meio é feita através de um modelo baseado na criação e na alteração das propriedades
de um conjunto de dipolos elétricos estabelecidos em volume. Neste contexto, é o
campo eléctrico de uma onda luminosa que está em causa e que é responsável pela
220
criação de dipolos e pela sua dinâmica temporal.luminosa que está em causa e que é
responsável pela criação de dipolos e pela sua dinâmica temporal.
A - Átomo com a respetiva nuvem eletrónica e centro de cargas positivo;
B - A ação do campo elétrico de uma onda que se propaga no meio causa a deformação
da nuvem eletrónica;
C - O centro de cargas positivo acaba por se distinguir do centro de cargas negativo
(dipolo). Surge então um momento dipolar elétrico que varia ao longo do tempo de
acordo com a própria variação do campo elétrico da onda luminosa.
Não esquecer :
● O campo elétrico de uma onda luminosa varia no tempo e no espaço;
● Os dipolos são, exclusivamente, de natureza eletrónica e os eletrões têm uma
massa muito pequena, logo o dipolo constituído vai seguir, ao longo do tempo, a
própria variação do campo elétrico;
● Se o dipolo varia devido a uma maior ou menor separação dos centros de carga
positivo e negativo, as linhas de força do campo dipolar associado ao dipolo
também variam no tempo;
● As equações de Maxwell asseguram que existindo uma variação do campo
elétrico existirá também uma rotação (rotacional) do campo magnético, ou seja, a
variabilidade da distribuição do campo elétrico induzido pela interação do meio
com o campo elétrico da onda luminosa irá gerar um campo elétrico adicional;
● Todo o ambiente eletromagnético no interior do meio se altera com a
propagação de uma onda luminosa!!!
221
As propriedades de um meio dielétrico são totalmente descritas através da relação entre
a densidade de polarização elétrica P(r,t) e o campo elétrico E(r,t), ou seja, esta relação
varia consoante as propriedades físicas dos meios permitindo classificação dos mesmos:
❏ Um meio é linear se P(r,t) e E(r,t) se relacionam linearmente em cada ponto;
❏ Um meio é homogéneo se a relação entre P(r,t) e E(r,t) não depende de r;
❏ Um meio é não dispersivo se P(r,t) apenas depende de E(r,t) no mesmo instante
- é um caso limite;
❏ Um meio é isótropo se a relação entre P(r,t) e E(r,t) não depende da direção de E
- os dois vetores são paralelos.
Qualquer função “bem comportada” (sem singularidades, sem descontinuidades, sem
divergências, …) admite uma tangente em qualquer ponto. Portanto se o campo elétrico
e a sua gama de variação forem reduzidos, então podemos linearizar a relação entre
P(r,t) e E(r,t).
Definindo χ(t′) = 0 se t′ > t garante-se que polarização que se acumula até um
determinado instante t depende apenas daquilo que se passou com o campo até esse
instante e a memória do sistema tem em conta os efeitos elétricos anteriores
produziram sobre a matéria ( χ(t − t′)E(t′) ). Quando expressa desta forma, ε0 χ E ,
entende-se que a densidade volúmica de polarização é uma convolução1 entre a
resposta do meio ( ε0 χ ) e o campo elétrico ( E ). Logo, por se tratar de uma convolução,
as respectivas transformadas de Fourier (nos domínios tempo/frequência)
multiplicam-se:
1
Convolução - operador linear que, a partir de duas funções dadas, resulta numa
terceira que mede a soma do produto dessas funções ao longo ao longo da região
subentendida pela superposição delas em função do deslocamento existente entre elas,
ou seja, que expressa como a forma de uma é modificado pela outra.
222
Temos, portanto, uma caraterização da polarização espetral que se obtém
multiplicando o campo monocromático por uma constante que depende da frequência.
Trata-se de um modelo para meios dispersivos para dipolos excitados por uma onda
monocromática, de frequência ν . χ(ν) representa a suscetibilidade elétrica do meio e é
necessariamente variável com a frequência para se salvaguardar o princípio da
causalidade (a resposta do meio tem que seguir as causas e nunca o contrário).
223
No caso dos meios cristalinos em a relação entre P e E é mediada, não por um
número, mas por uma matriz de números, ε0 χij . Como consequência a relação
entre os vetores de deslocamento e o campo elétrico toma também uma forma
matricial através de três equações lineares que relacionam as três componentes
do vetor de deslocamento com as três componentes do campo elétrico. Os
coeficientes deste sistema de equações constituem a primitividade do meio
(matriz 3 × 3 ).
Embora nos cristais, a relação entre P e E seja linear, é necessário considerar a
anisotropia (existência de eixos de simetria em torno dos quais as propriedades
são diferentes porque as configurações orbitais são também diferentes). É este o
princípio de explicação para a birrefringência2 da calcite
Na calcite os grupos C o3 são paralelos
entre si e a extensão da nuvem
eletrónica a eles associada é muito
diferente caso seja considerado o plano
dos grupos carbonato ou o plano
perpendicular a este. Portanto se o
cristal de calcite interagir com uma
onda polarizada com o plano de
polarização no plano dos grupos C o3 ,
o campo elétrico da onda vai dar
origem a dipolos com propriedades que
são determinadas pela maior extensão
dos orbitais eletrónicos. Por outro lado,
se a onda luminosa estiver polarizada
perpendicularmente ao plano dos grupos C o3 , as nuvens eletrónicas estarão
muito mais confinadas em torno da posição central do plano e os dipolos
elétricos construídos pelo campo elétrico da onda luminosas possuirão
propriedades muito diferentes. É esta relação entre as direções de P e de E que
permitem explicar a birrefringência da calcite.
Foi na calcite ( C aCo3 ) que se observou pela primeira
vez o fenómeno da dupla refração.
2
Birrefringência - propriedade óptica de um material que possui diferentes índices de
refração para diferentes direções de propagação da luz.
224
225
Os índices d, F e C fazem parte de uma notação que se refere às riscas espectrais
facilmente observáveis (em materiais como o Na, H, Fe, Hg, ...). A risca F está associada
ao azul, a risca d ao amarelo e a risca C ao vermelho. Quanto menor for a variação do
índice no visível, maior é V.
Os fenómenos simples apenas envolvem a 1ª derivada do índice de refração em ordem
ao comprimento de onda. Todavia, a propagação de impulsos ultra-curtos (<ps) em guias
de onda leva a uma difração à saída exigindo que tenhamos também em conta a 2ª
derivada.
O modelo de Lorentz permite-nos compreender a natureza física da suscetibilidade
elétrica, χ .
A imagem ao lado demonstra como a
nuvem eletrónica varia, ao longo do tempo,
com a variação do campo elétrico da onda
luminosa.
226
A equação geral do movimento de um eletrão num campo elétrico é:
Nesta equação encontramos um termo de aceleração (termo quadrático), um termo de
atrito (termo linear) e um termo que representa a força de restituição caraterizada pela
constante de restituição β e pela distância x do eletrão ao centro de restituição. O
conjunto dos mesmos encontra-se igualado a um termo que representa a força externa
que força o movimento do eletrão com uma frequência ω .
227
Ao aplicar as mudanças de variáveis chegamos à conclusão de que χ se deixa
descrever por uma função complexa que admite uma parte real χ ’ e uma parte
imaginária χ ’’’.
A parte imaginária tem uma resposta em termos de frequência muito estreita (
Δν ) centrada em ν 0 , pelo que é essencialmente desprezável para frequências muito
afastadas da frequência natural do eletrão.
Quanto à parte real, verifica-se que esta tende rapidamente para 0 para
frequência superiores a ν 0 , tem uma assíntota horizontal para frequências bem
inferiores a ν 0 e tem uma variação/oscilação rápida centrada em ν 0 . Este
comportamento abrupto está na origem de fenómenos como o controlo da
transparência de um material saturando-o.
Distribuição de Lorentz/Cauchy:
Forma canónica:
Consequências de χ complexo:
● Para meios dispersivos, não magnéticos:
228
Sendo o índice complexo, pode-se representar na forma:
● Como se comportará a Amplitude Complexa?
Se α > 0 , a amplitude varia com exp( − 21 αz ) e a irradiância varia de acordo com a
Lei de Beer:
α(ω) é o coeficiente espetral de absorção (extinção ou atenuação). O espetro de
absorção é um observável experimental.
β representa o número de ondas, k, e é a constante de propagação, permitindo
calcular o valor do índice de refração efetivo, n:
A onda desloca-se com velocidade de fase c = c0 /n .
Em muitos meios, temos situações extremas, em que a aborção é fraca ou forte, e
existem fórmulas simplificadas úteis:
Absorção fraca: χ′′ ≪ 1 + χ′ Absorção forte ∣χ′′∣ ≫ ∣1 + χ′∣
229
Num meio com múltiplas ressonâncias ( ν 0 ), com n2 = εr = 1 + χ , pode-se aplicar
uma equação como a Equação de Selleier, n(λ) :
Para materiais densos é necessário fazer uma correção ao modelo de Lorentz - .equação
de Lorentz-Lorenz ou Clausius-Mossotti. É necessário adicionar o campo devido às
cargas e dipolos da vizinhança ( E despolarização ) , tal que E local = E externo + E despolarização
5.2.2. Metais
230
∂
Em metais, para ondas monocromáticas, ∂t = iω logo:
231
Com esta dependência da condutividade, a permitividade elétrica εe é:
Para frequências elevadas, ω >> 1/τ c :
No vazio, temos a frequência de plasma, ω p e vem:
A propagação de ondas num metal depende da relação entre ω , ω p e γ = 1/τ c .
Diferentes metais, com diferentes ω p têm diferentes colorações.
Portanto, as contas com metais são feitas indo às expressões gerais dos dielétricos e
particularizando-as para a permitividade efetiva em termos da frequência de plasma.
Tal como foi esquematizado na figura acima podemos identificar três situações:
● ω > ω p → εe > 0 → temo um β real (onda se propaga-se normalmente), o metal
comporta-se como um meio “dielétrico”, sem absorção → banda plasmónica
(Raios X)
Sendo os raios X ondas de frequência elevada relativamente à frequência de
plasma é natural que estes se propaguem pelos metais com facilidade.
232
● ω < ω p → εe < 0 → a permitividade é negativa, o número de ondas, k, é imaginário
( não temos constante de propagação, não há onda) → banda proibida (espelhos)
Se as ondas não se propagam no material e se elas são incidentes no metal, pelo
princípio da conservação da energia elas têm que ser refletidas.
233
Uma forma de se introduzirem não-linearidades na resposta dipolar do meio, é
definindo a dinâmica dipolar por termos de ordem mais elevada, que dependam das
várias potências da força eléctrica que se exerce sobre os electrões na constituição dos
dipolos em volume.
Para campos elétricos luminosos que não possam ser considerados pequenos
relativamente ao campo atómico do átomo de hidrogénio ( 10+12 V/m) utiliza-se o
seguinte modelo:
Note-se que o valor reduzido dos coeficientes não-lineares (d e χ(3) ) não impede que a
2º ou a 3º parcelas tomem valores significativos para os valores de campos eléctricos
que se podem obter nos volumes focais de feixe de laser focados tanto em regime
contínuo como em modo pulsado ultra-curto com impulsos da ordem de ps ou fs.
Embora os campos luminosos se aproximem do campo eléctrico sofrido por um eletrão
no átomo de H ( 10+12 V/m), enquanto estes valores forem inferiores a este limiar, o
campo elétrico externo não será suficiente para o ionizar (destruindo estruturalmente a
matéria), conduzindo antes a uma oscilação forçada e pouco harmónica.
Em particular, os meios em que a densidade de polarização (P) depende do quadrado ou
do cubo do campo elétrico (E) permitem compreender muitos fenómenos óticos. Isto
porque nestas situações há interação não linear, o material tem uma resposta não linear,
a frequência da luz deixa de ser um invariante e passa a ser possível que a luz controle
a luz através do meio.
Vejamos alguns exemplos dos fenómenos que podemos observar em meios não-lineares
de 2º ordem::
Graficamente, a relação P(E) de segunda ordem pode ser representada por uma
parábola e o feixe resultante será o resultado da inserção do campo elétrico incidente
nesta “função de transferência”.
234
Recordemos que um sinal descrito
diretamente por um cosseno quadrado pode
ser traduzido pela sobreposição de um sinal
constante com um sinal de frequência dupla
(2º harmónica).
★ Geração de harmónicas
A imagem abaixo é uma esquematização da geração de uma onda de 2º ordem.
Um campo elétrico que oscila em torno de 0 com uma frequência angular ω
interage com um meio ótico não-linear de 2º ordem. Desta interação resulta uma
variação da polarização não linear de frequência 2ω e, visto que a parábola se
encontra acima do eixo dos E, esta será sempre positiva ao longo do tempo. Este
sinal possuirá um valor médio não nulo e portanto poderá ser decomposto numa
componente contínua (dc) com ω = 0 e numa componente alternada com
frequência angular 2ω que tanto admite valores positivos como negativos.
★ Soma ou diferença de frequências
A soma ou diferença de frequências é um processo ótico não linear de segunda
ordem em que a frequência e direção do feixe resultante provém da soma ou
diferença, respetivamente, das frequências e vetores direcionais dos feixes
incidentes.
A imagem abaixo ilustra a soma de dois feixes laser de comprimentos de onda
λ1 = 1, 06μm e λ2 = 10, 6μm , logo o feixe resultante terá um comprimento de onda
λ3 −1 = λ1 −1 + λ2 −1 = 0, 96μm .
235
★ Efeito eletro-óptico
Se polarizarmos o material com um campo de uma onda, E (ω) , e com um campo
estático, E (0) , obtemos o efeito electro-óptico, que permite controlar
“instantaneamente” o valor do índice através de uma tensão eléctrica aplicada, e
criar ou alterar a birrefringência de cristais fazendo com que o seu
comportamento seja sensível ao estado de polarização da onda.
Vejamos alguns exemplos dos fenómenos observáveis em meios não-lineares de 3º
ordem:
Recordemos que a expressão do cosseno ao
cubo se pode decompor num termo de tripla
236
frequência (3º harmónica) e ainda num termo de igual à inicial.
★ Variação do índice de refracção de um meio com a intensidade da onda que
nele se propaga
Efeito de Kerr - o índice é perturbado proporcionalmente à irradiância local do
feixe (de particular relevância em guias de onda e em fibras ópticas)
Portanto, a variação do índice de refração depende da constante não-linear de 3º
ordem ( χ - susceptibilidade elétrica), depende da impedância ótica do meio ( η )
e ainda do índice de refração ( n ).
★ Auto-modulação da fase
Se o índice de refração pode variar por efeito de Kerr, se iluminarmos o material
com uma onda gaussiana que é mais intensa no centro que na periferia, vamos
modular o valor do índice de uma forma mais significativa no eixo do que na
periferia e, portanto, podemos constituir lentes que alteram a convergência ou
divergência de um feixe.
A este processo chamamos de auto-modulação da fase uma vez que temos a
intensidade da onda a determinar as superfícies de igual fase da onda enquanto
ela atravessa o meio não-linear.
★ Geração de 3º harmónica
A geração de 3º harmónica decorre diretamente da identidade trigonométrica
que dita que um feixe monocromático de frequência ω , ao atravessar um meio
237
não-linear de 3º ordem, se decompõe em duas componentes com frequências
3ω e ω .
Com isto é possível, com lasers no IR, gerar radiação coerente no UV (domínio
em que é difícil constituir lasers, por ser difícil encontrar materiais metaestáveis,
isto é, com níveis excitados de vida média longa de modo a garantir que o ganho
é suficiente).
★ Geração do super-contínuo
É possível a partir de um impulso de laser com uma frequência muito bem
definida gerar um espetro contínuo.
★ Espelhos de fase conjugada
É possível, criando redes de difração em materiais não lineares de 3º ordem
constituir os chamados espelhos de face conjugada. Estes permitem implementar
a função espelho garantindo que a onda refletida emerge segundo a direção da
onda incidente recuperando todo o seu percurso.
238
★ Compensação de deformações de fase induzidas pelo meio na onda
(turbulência atmosférica, efeitos térmicos, …)
Os espelhos de fase conjugada permitem compensar as deformações da fase
induzidas por perturbações não homogéneas do meio (turbulência).
239
240