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No documento O livro para crianças em tempos de Escola Nova = Monteiro Lobato & Paul Faucher
(páginas 39-44)
Na fronteira entre os séculos XIX e XX já havia muitas revistas e instituições dedicadas ao estudo da infância e
à propagação de novas teorias relativas à educação como, por exemplo, a Société libre pour l'étude
psychologique de l'enfant. Criada em 1899 por Ferdinand Buisson, a instituição francesa foi dirigida por Alfred
Binet a partir de 1902, e teve entre seus membros e colaboradores Roger Cousinet – talvez o principal
militante pela Escola Nova na França e inspetor do ensino primário desde 1910. Em decorrência dos
com o objetivo de formar o educador moderno, ou seja, aquele que conhece a personalidade das suas crianças e
O nome Escola Nova foi adotado pela primeira vez por Cecil Reddie quando criou, em 1889, The New
School, numa propriedade rural de Abbotsholme, interior da Inglaterra. O termo passou a ser usado para
designar lares-internato situados no campo, de práticas pedagógicas inovadoras, onde a experiência pessoal
da criança era o motor da aprendizagem. Nessas escolas, onde as turmas eram de poucos alunos, as
sistema de co-educação dos sexos que estimulava a autonomia do educando sob o princípio da
liberdade regido pelo chamado self-government. Esse sistema pressupõe um conselho de estudantes que
toma decisões sobre o cotidiano escolar e no qual o professor seria um agente facilitador.
Algumas nuances foram matizando esse conceito de escola “nova”, de sorte que foram incluídas no rol das
suas práticas educativas as seguintes atividades: artes (desenhar, colorir, música, canto, dança, modelagem,
recorte, colagem, dobradura, etc.); ginástica natural;40 jogos e brincadeiras; trabalhos individuais e também
trabalhos em grupo; tarefas diversas (marcenaria, gráfica, jardinagem, agricultura, cuidar de animais, pequenos
Após longas temporadas visitando escolas novas de vários países europeus, Ferrière publica em 1919 um
opúsculo onde ele retoma uma definição – que já havia sido publicada por ele em 1915 – sobre os trinta
traços característicos das escolas novas. A quarta edição desse texto com os trinta pontos, revista e ampliada,
é publicada sob a forma de um artigo na P.E.N. n° 15, em 1925.42 Esta parece ser a mais completa descrição do
que era e do que pretendia uma instituição nesses moldes; em certa medida, aqui estaria uma receita de como
deve ser o cotidiano de crianças e jovens em período de escolarização, pelo menos do ponto de vista europeu.
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Uma vez que esta tese trabalha com a hipótese de que Monteiro Lobato e Paul Faucher fizeram livros para
crianças a partir de uma concepção escolanovista da infância, é pela expectativa de leitura que eles tinham do
seu público – crianças ativas – que eles orientaram a sua produção. A adesão de ambos aos princípios do
movimento, a maneira como cada um se apropria dessas concepções, a leitura que cada um faz das teorias
40 A ginástica natural – valorizando a interação do corpo com a natureza – era uma prática disseminada pelo movimento
escoteiro (scoot), que era contemporâneo à Escola Nova e também se deu no Brasil.
41 Estimulava-se a iniciativa dos alunos dando-lhes a liberdade de escolher as atividades segundo os próprios interesses e
42 É justamente esse artigo da P.E.N. que Lourenço Filho traduz e inclui no seu livro de 1929, Introdução
ao Estudo da Escola Nova (pp. 162-164) – que veio a se tornar uma referência na história da literatura
pedagógica brasileira. Observamos que, além de fazer uma adaptação do texto original, ele menciona apenas
29 dos trinta pontos enunciados por Ferrière. O item excluído do original é o 23°, que trata das tarefas sociais
que os alunos devem exercer, todavia, não cabe a esta tese detalhar uma comparação entre os textos de
escolanovistas é que explicaria, em parte, as apostas que eles teriam feito em suas iniciativas editoriais. A fim
de melhor compreender a criança “ativa” a quem Lobato e Faucher se dirigiam, optamos ainda por reproduzir
- ela visa a preparar as crianças para a vida moderna, com suas exigências materiais e morais;
- a Escola nova promove nas crianças trabalhos livres (atividades que ela escolha fazer);
- a escola nova entende por cultura geral a cultura do julgamento e da razão (método científico: observação,
- a escola nova baseia seu ensino sobre os fatos e experiências; - a Escola nova recorre à atividade pessoal da
- a Escola nova estabelece seu programa a partir dos interesses espontâneos da criança;
- a classe será mais freqüentemente uma classe-laboratório ou uma classe-museu do que um lugar de
abstração pura;
- a escola nova forma em certos casos uma república escolar (onde uma assembléia geral toma todas as
- esse regime supõe uma influência moral preponderante do diretor sobre os “condutores” naturais da
pequena república; - na Escola nova procedemos à eleição de chefes (os alunos preferem ser conduzidos antes
- a escola nova faz a educação da consciência moral (apresentando, todas as noites, às crianças leituras ou
43 Tradução nossa. Para conferir o texto original, na íntegra, cf. FERRIÈRE, Adolphe. L’Ecole « nouvelle » et le Bureau
pioneiros, sobretudo o de Pestalozzi e o de Fröbel. A influência do pedagogo teórico que foi Rousseau, e das
práticas experimentadas por esses dois inovadores, foi declarada no discurso de abertura do Congresso de
Montreux em 1923, pelo principal representante do movimento na Europa, Adolphe Ferrière – o texto foi
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Nouvelle.44 De fato, os livros II e III do Emílio de Rousseau parecem um esboço da forma como a Escola Nova
trataria algumas questões. Eis alguns dos temas tratados: - educação da sensibilidade (incluindo “o bem-
estar da liberdade”)
- educação moral
- educação intelectual (incluindo “partir do interesse sensível”; experiências, e não discursos”; “construção de
máquinas”)
-educação do corpo (incluindo “exercícios físicos” e “preceitos de higiene”) - educação sensorial (abordando os
cinco sentidos)
estão muito próximas ao modelo de educação prescrito por Rousseau; assemelham-se aos métodos pioneiros
de Pestalozzi e de Fröbel, para os quais cada criança é única em sua maneira de sentir e estar no mundo,
cada uma com suas características e aptidões inatas, que devem ser respeitadas. Para que se desenvolva
pedagógico que marcaria as décadas de 20 e 30 do século XX, atingindo também a escola pública em alguns
países. Diretores de escola e professores primários insatisfeitos com os métodos tradicionais de ensino
começaram a se reunir, trocar suas experiências em congressos e artigos; cientistas e intelectuais ligados à
educação começaram a publicar seus estudos e teorias, criando um circuito de idéias e ações em larga escala,
que traz em
44 FERRIÈRE, Adolphe. L’Ecole active et l’esprit de service. Discours d’inauguration. In : Pour l’Ère
Nouvelle : Revue internationale d’éducation nouvelle. Genève, n° 8, 2ème année, pp. 72-79, octobre 1923. 45
si diversas correntes de pensamento. O movimento ganhou mais teorias, mais adeptos, diferentes aplicações e
Para Martin Stauffer – que estudou a Escola Nova brasileira e sua posição (injustamente) marginalizada na
pedagogia internacional – o movimento renovador da educação no Brasil foi mais importante do que as suas
manifestações na Europa e Estados Unidos “porque essas Escolas Novas se concentraram nas escolas privadas
Entre os educadores brasileiros que já escreveram sobre a Escola Nova, foi justamente Lourenço Filho
ao Estudo da Escola Nova (1929). A obra foi um marco tanto para a literatura pedagógica
nacional, quanto para garantir o prestígio e a circulação internacional do autor; foi vertida em outras línguas,
teve muitas reedições, uma delas prefaciada por Paul Fauconnet e elogiada por Édouard Claparède,47 Henri
Piéron, entre outros nomes que lideravam o movimento na Europa. Começando pela origem do termo
Esse singelo nome foi por alguns adotado para caracterização do trabalho em estabelecimentos que dirigiam
e, logo também, por agremiações criadas para permuta de informações e propagação dos ideais de reforma
escolar. Mais tarde, passou a qualificar reuniões nacionais e internacionais, bem como a figurar no título de
revistas e séries de publicações consagradas ao assunto. Dessa forma, a expressão escola nova [grifo do autor]
adquiriu mais amplo sentido, ligado ao de um novo tratamento dos problemas da educação, em geral.
Nessa acepção, ainda agora se emprega. Não se refere a um só tipo de escola, ou sistema didático
determinado, mas a todo um conjunto de princípios tendentes a rever as formas tradicionais do ensino. [grifo
nosso] Inicialmente, esses princípios derivaram de uma nova compreensão das necessidades da infância,
inspirada em conclusões de estudos da biologia e da psicologia. [grifo nosso] Mas alargaram-se depois,
relacionando-se com outros muito numerosos, relativos às funções da escola em face de novas exigências,
46 STAUFFER, Martin. A Escola Nova brasileira como referência internacional. s/d, p. 2. Artigo gentilmente enviado por
e-mail pelo pesquisador Dr. Stauffer, da Universidade de Berna (Suíça), com quem troquei algumas idéias que
contribuíram bastante para a elaboração deste capítulo da tese. 47 Cf. carta de Fauconnet a L. Filho, prometendo o
artigo solicitado sobre seu livro, no anexo n° 6. 48 LOURENÇO FILHO, Manoel Bergström. Introdução ao Estudo da Escola Nova.
Mas qual poderia ser considerado o ponto de partida oficial da Escola Nova? O estudo de RAYMOND
mesmo que tenha se originado de um conjunto de práticas que vinham, desde o século XIX, sinalizando uma
nova compreensão da infância em vários países, a escola nova se estabelece oficialmente, como
movimento organizado, junto com a criação da Liga, durante o Congresso de Calais, em 06 de agosto de 1921.
Teria surgido, portanto, a partir da institucionalização dessas teorias, que ganham propostas definidas, carta de
princípios e planos de ação coordenados por órgão oficiais e divulgados por uma imprensa destinada
No documento O livro para crianças em tempos de Escola Nova = Monteiro Lobato & Paul Faucher
(páginas 39-44)
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OUTLINE
A ESCOLA NOVA: origem, conceito e pressupostos
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A revista Pour l’Ère Nouvelle
As idéias circulam porque as pessoas circulam
A Revista do Brasil e a Escola Nova
O que dizem as cartas
František Bakule
O Brasil em Locarno
A guerra do papel
Leitura e livros durante uma década de crise (anos 20)
A Comissão de Literatura Infantil
As pesquisas de opinião sobre a leitura infantil
Lançamentos e reedições por gênero
Quanto aos dispositivos formais
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