Você está na página 1de 1

1as Jornadas da Unidade de Psicologia Clínica do CHUC

A Terapia da Aceitação e Compromisso (ACT)


aplicada à Perturbação Depressiva Major:
Uma Intervenção Terapêutica Alternativa
Marques, 1
Sara ; Duarte, 2
Fernanda ; 3
Gomes, Ana ; Pita, Ana 1
Sofia ; Raposo, Vera 2
1Alunado Mestrado Integrado em Psicologia na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da UC; Estagiária no Centro de Responsabilidade Integrada de Psiquiatria do CHUC; 2Psicóloga Clínica especialista no Centro de
Responsabilidade Integrada de Psiquiatria do CHUC; 3Docente na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra; Membro do CINEICC.

Objetivos
Segundo Abreu (2006), a ACT tem o objetivo principal de resolver o evitamento emocional, o excesso número de respostas rigorosas ao conteúdo cognitivo
e a inaptidão de assumir e manter compromissos de mudança comportamental. Assim, a ACT centra-se na rutura do controlo do estímulo problemático,
possibilitando o contato com fontes alternativas de reforço. No entanto, esta intervenção não serve para que os doentes possam viver sem a perturbação,
mas sim para lhes permitir que se libertem dos seus conflitos com ela, de forma a viverem com a mesma, sentindo-se bem (Zettle, 2007).

Modelo Hexagonal da ACT


A ACT tem como conceito nuclear a flexibilidade psicológica, que consiste na habilidade de entrar em contacto com o momento presente e perseverar ou
alterar a procura de valores e objetivos pessoais.

É a ação de acolher as experiências internas no momento em


É a atenção voluntária, flexível e fluida
para as questões internas e externas
Estar presente que estão a acontecer, isto é, envolve uma postura em que
aceita a experiência como ela é, diminuindo o esforço de a
ocorrendo sem avaliação ou julgamento,
controlar.
ajudando a vivenciar o mundo como é e
diminuindo o impacto de um mundo
construído cognitivamente. Aceitação Valores
São escolhidos individualmente e dão
motivação para a realização de atividades.
Está associada à modificação das Flexibilidade
funções indesejáveis dos pensamentos, Psicológica
em vez de alterar a sua forma ou É o redireccionamento continuado
frequência, procurando diminuir a do comportamento, de forma a
qualidade de literalização do construir modelos de
Desfusão Ação
pensamento, diminuindo a tendência comportamentos eficazes e flexíveis
para tratar o pensamento como se fosse
cognitiva Comprometida aliados a valores.
aquilo a que se refere (e.g., “Estou a ter
o pensamento de que Eu não presto” em É a avaliação do Eu como estando envolvido num contexto
vez de “Eu não presto”). Eu como contexto ambiental, sem avaliações das questões psicológicas.
(Monteiro, Ferreira, Silveira & Ronzani, 2015)

Estratégias Terapêuticas
 Desamparo Criativo – consiste em mostrar ao doente que, no contexto em que está inserido, não existe resolução, sendo que a estratégia atual da
solução do problema é inoperante, devido ao comportamento ser encoberto. Desta forma, devido à instabilidade comportamental o doente tem tendência a
incrementar novas estratégias de resolução do problema;
 Controlo de Eventos Privados – consta em descrever ao doente as contingências relacionadas com o seu comportamento de evitamento, que,
maioritariamente, é um comportamento encoberto;
 Discriminação entre o Eu e o Comportamento – baseia-se na promoção da separação entre o indivíduo e o seu comportamento, desenvolvendo um
contexto em que seja possível a aceitação de condutas emocionais indesejáveis;
 Escolha e Valorização de uma Direção – constitui-se na alteração dos comportamentos abertos, ao invés de controlar os comportamentos encobertos;
 Abandono do Conflito – expressa-se na aprendizagem da aceitação dos seus sentimentos, sendo que a disputa do doente com os seus sentimentos é
abandonada;
 Compromisso com a Mudança – consiste na procura de uma redução no evitamento emocional e de um aumento das capacidades de assumir e manter
um compromisso de mudança comportamental.
(Cardoso, 2011)

ACT aplicada na Perturbação Depressiva Major


A ACT tem sido apreciada como sendo uma proposta terapêutica promissora para diversas formas de sofrimento humano, incluindo a Perturbação
Depressiva Major (PDM; Monteiro, Ferreira, Silveira & Ronzani, 2015). Segundo Abreu (2006), os doentes apresentam como principal queixa a tentativa de controlo
do seu sofrimento, isto é, de eliminação de emoções negativas e impulsos. Dado isto, é de relevante importância fazer referência aos resultados de Zettle
(2007), que afirmam que os níveis da sintomatologia depressiva têm diminuído quando o foco é aumentar a flexibilidade psicológica, a fim de ter uma vida
mais valorizada e não a diminuição dos sintomas.
Na perspetiva da ACT, o "problema" da PDM não é o humor disfórico ou os pensamentos depressivos em si, mas sim os contextos que ligam esses eventos
internos a um padrão de vida ineficaz. Desta forma, se o contexto que suporta a manutenção de pensamentos e sentimentos pode ser enfraquecido, então,
torna-se desnecessário modificá-los para que os indivíduos deprimidos avancem na vida. Isto possibilita a transformação das funções que os eventos
internos, como tristeza e pensamentos pessimistas, têm e altera o contexto onde a PDM ocorre. No entanto, muitos dos fatores contextuais são de origem
omnipresente e social-verbal, dado às propriedades da linguagem humana e da cognição (Zettle, 2007). Esta terapia tende a interromper os processos de
aprendizagem provenientes dos contextos socio-verbais presentes na sociedade. Dado que estes processos levam à não-aceitação e ao comportamento de
evitamento de determinados sentimentos, como forma de resolução de problemas (Cardoso, 2011).
Referências Bibliográficas:
Abreu, P. R. (2006). Terapia Analítico-Comportamental da Depressão: Uma Antiga ou Uma Nova Ciência Aplicada?. Revista de Psiquiatria Clínica, 33(6), 322-328.
Cardoso, L. R. D. (2011). Psicoterapias Comportamentais no Tratamento da Depressão. Psicologia Argumento, 29(67), 479-489.
Monteiro, E. P., Ferreira, G. C. L., Silveira, P. S. & Ronzani, T. M. (2015). Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) e Estigma: Revisão Narrativa. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 11(1), 25-31. doi:10.5935/1808-
5687.20150004.
Zettle, R. D. (2007). Act for Depression: A Clinician's Guide to Using Acceptance & Commitment Therapy in Treating Depression. Canada: Raincoaste Books.

Você também pode gostar