do diabetes tipo 2 eram bem limitadas. Basicamente o que tínhamos em mãos era a boa e
velha metformina e sulfonilureias. As glitazonas tinham sofrido um duro golpe após os estudos
Ou seja, o armamentário para controlar a glicemia destes pacientes não era lá grandes
coisas. Além disso, os estudos que haviam sido publicados até então mostravam redução
apenas de desfechos microvasculares (ex: retinopatia) com o uso destas medicações. Havia
alguns estudos sugerindo que a metformina poderia reduzir eventos macrovasculares como
relevantes como morte, infarto e insuficiência cardíaca. Com isso, todo o paradigma do
familiaridade com essas novas medicações. E isso não é uma opção! Todo médico
atualmente tem que ter boas noções sobre as novas classes de antidiabéticos até porque
esses pacientes precisam de uma abordagem multidisciplinar envolvendo endocrinologistas,
Pensando nisso, compilamos boa parte da vasta literatura que temos no Cardiopapers sobre o
assunto e organizamos aqui para você de forma gratuita. Tenho certeza que a leitura será
proveitosa.
Eduardo Lapa
rastreio para diabetes mellitus (DM)? Em teoria, não. A American Diabetes Association (ADA)
OBS: Nos 3 primeiros casos, recomenda-se a repetição do exame para confirmação a não
Previamente o exame era utilizado apenas para acompanhamento principalmente por falta de
Vantagens:
– pode ser utilizado no lugar do GTT de 2h em pacientes com glicemia de jejum alterada
(IAM, Sepse, Pós operatório) em que é comum haver hiperglicemia e muitas vezes o paciente
Desvantagens:
– pacientes com hemoglobinopatias, anemias ou outras condições que afetem o turnover das
hemáceas não podem usar a HbA1C nem como diagóstico nem como acompanhamento
– em alguns grupos étnicos como negros é sabido que HbA1C superestima o diagnóstico e
nos idosos pode subestimar diagnóstico.
– não há correlação perfeita entre glicemia de jejum e HbA1C, mas também não há entre
glicemia de jejum e glicemia 2h pós GTT e mesmo assim esses dois métodos já são
consagrados no diagnóstico.
Resumindo: mais uma arma diagnóstica que, por prescindir do jejum, pode ajudar a detectar
precocemente pacientes diabéticos (apenas 30% dos pctes com DM do Brasil sabem ter
esse diagnóstico)
sangue fazem com que parte desta HbA sofram glicosilação, gerando a chamada
hemoglobina glicada (HbA1c). Esta está presente em qualquer pessoa normal, sendo o seu
nível fisiológico em torno de 5% do total das moléculas de HbA. Por isso que no exame
laboratorial vem dizendo que a hemoglobina glicada normal fica <5% (podendo haver
Quanto maiores forem os níveis de glicose no sangue, maior será a glicosilação das
A hemoglobina glicada reflete os níveis séricos de glicose dos últimos 2-3 meses. Por quê?
Basicamente isto dependerá da meia-vida das hemácias. A glicosilação da hemoglobina é
irreversível. Assim sendo, uma vez tendo acontecido, só com a destruição daquela hemácia
com hemoglobina glicosilada e a reposição por uma nova que os níveis de HbA1c tenderiam a
voltar ao normal.
(subestimada), não sendo portanto confiável para diagnóstico de DM. Mesmo pacientes com
traços destas doenças apresentam alteração nos níveis de HbA.
2- hemólise ou perda aguda de sangue: nestes casos a meia-vida das hemácias fica bem
Nestes casos, o teste recomendado para o diagnóstico continua sendo o teste oral de
tolerância à glicose.
Resumão do nosso livro Cardiologia Cardiopapers pode ser visto na tabela abaixo:
O guideline de colesterol da AHA/ACC de 2013 cita que para pacientes usando dose
moderada de estatina há aumento de 1 caso de diabetes para cada 1.000 pctes tratados
por ano. Já pctes em uso de dose alta da medicação, o risco aumenta para 3 casos a
Esta incidência maior de DM com uso de doses elevadas de estatina veio de uma
metanálise publicada no Jama. Este artigo mostrou, contudo, que ao mesmo tempo que
ocorria elevação de novos casos de DM, 6,5 novos eventos cardiovasculares (ex: IAM)
eram prevenidos a cada 1.000 pctes tratados. Ou seja, para cada 1 novo caso de DM
glicemia de jejum > 100 mg/dL, HbA1c > 6%, IMC > 30 kg/m2.
Resumo:
Sim, estatinas parecem aumentar o risco de DM mas este impacto é de pequena monta e é
não há motivos para deixar de prescrever estatina para um paciente com indicação precisa
cardiovasculares).
Resposta: TG elevado, HDL baixo e LDL quantitativamente normal mas com partículas
Mas o que explica a elevação dos triglicerídeos no DM mal controlado? Para entendermos a
VLDL. Acontece que os quilomícrons são detectáveis no sangue, normalmente, até 8-10h
após a última refeição. A SBC sugere que o perfil lipídico seja colhido após jejum de 12h. Ou
seja, neste caso os quilomícrons não são mais detectados e assim os níveis de TG
basicamente serão dependentes dos níveis de VLDL circulantes. OK. Então, TG elevados =
VLDL elevado. E o que pode causar aumento dos níveis de VLDL? Ou ele está sendo
produzido em maior quantidade pelo fígado ou está sendo metabolizado em velocidade menor.
principalmente dos músculos e do tecido adiposo. O que ocorre no DM mal controlado é que a
insulina ausente (no DM tipo 1) ou com ação diminuída (DM tipo 2) termina por inibir a ação da
lipase lipoproteica o que faz com que o VLDL fique mais tempo na circulação. Além disso, há
um aumento dos ácidos graxos livres (AGL) na circulação. Quanto mais AGL chegam ao
degradado em menor velocidade. Isto faz com que seus níveis sanguíneos se elevam. VLDL
E o que fazer para diminuir estes TG? Iniciar fibrato? Esta medicação até pode ser associada
em casos com TG muito elevados mas a conduta principal é compensar o DM, geralmente
para prevenção de DM2 e dentre eles modificação do estilo devida, uso de metformina,
NOW study). Um total de 602 pacientes foi randomizado para receber pioglitazona em doses
de 45mg ou placebo por 2,4 anos. A incidência anual de DM2 caiu de 7,6% no grupo placebo
para 2,1% (RR 0,28 IC 0,16-0,49), o que determinou uma diminuição de 72% do risco de
desenvolver DM (NNT 8 em 2,2 anos). Também houve leve decréscimo da PAD, redução da
5,7%-6,4%- deve ser orientado a perda de peso de pelo menos 7% e atividade física
150min/semana. Esses foram os alvos atingidos no clássico estudo DPP (Diabetes
Prevention Program NEJM 2002) que mostrou maior redução do desenvolvimento de diabetes
(58% em 3 anos) com mudanças intensivas do estilo de vida, com eficácia superior à
metformina (31%).
seguinte:
obtidos em pacientes com IMC>35kg/m2, < 60 anos e com glicada > 6,0%.
pode ler nosso resumo desse trial aqui. Esse trial não incluiu pacientes diabéticos uma vez
que havia já um trial avaliando essa questão especificamente nesta população. O trial é o
comparada ao placebo.
Detalhes metodológicos
1. idade ≥ 40 anos
2. DM
Endpoint primário de eficácia: morte cardiovascular + IAM não fatal + AVC não fatal +
AIT
visão ou, em última instância, qualquer sangramento que levasse o paciente a ser
Resultado
uso do AAS (de 9,6% para 8,5%), mas, associadamente, também foi encontrado
Opiniões pessoais:
população.
No final das contas, pelos dados do trial teríamos que tratar 91 pacientes durante mais
tratados teríamos um evento de sangramento maior. Fica meio que elas por elas. Ah,
mas um evento cardiovascular com AVC ou IAM traz bem mais morbidade para um
use prevented serious vascular events in persons who had diabetes and no evident
cardiovascular disease at trial entry, but it also caused major bleeding events. The
Será que não daria para reduzir a quantidade de sangramentos? É possível. O principal
sítio de sangramento, como esperado, foi o trato gastrointestinal. Contudo, apenas 1/4
cardiovasculares prévios? De forma rotineira, certamente não parece ser uma conduta
atrativa. O que poder-se-ia fazer seria tentar escolher pacientes com alto risco
cardiovascular mas com baixo risco de sangramento. Na prática clínica, contudo, isso é
difícil de fazer. Muitos dos fatores que aumentam o risco cardiovascular como idade
mais avançada aumentam também o risco de sangramento. Isso pode ser facilmente
moderado e alto, nota-se que neste último o risco de eventos CV dobrou. E o que
Resumo da ópera:
Cada vez mais as evidências apontam contra o uso de rotineiro de aspirina na prevenção
primária em pacientes diabéticos. O atual trial mostrou uma leve redução de risco
cardiovascular com o uso da medicação mas que foi praticamente anulado pelo aumento do
pacientes com doença cardiovascular (CV) aterosclerótica prévia, a metformina deve ser
considerada como primeira opção de tratamento antidiabético. Tal recomendação se baseia
pacientes obesos com DM2. Entretanto, com a chegada dos inibidores de SGLT2 (sodium
debate em relação a recomendar ou não metformina como primeira opção ganha força
novamente.
metformina em cerca de 12 mil pacientes com DM2 e doença CV ou múltiplos fatores de risco
cardíaca (IC). Adicionalmente, não houve redução de mortalidade em pacientes com histórico
Cirurgia bariátrica deve ser considerada no tratamento de pacientes com diabetes tipo 2 e IMC entre
30 e 34,9 kg/m2
Metformina ainda é a primeira opção no tratamento do diabetes?
O que esses resultados significam? Em primeiro lugar, vale ressaltar que o uso de metformina
não era randomizado, de tal maneira que, apesar de todos os complexos e elegantes ajustes
estatísticos feitos no estudo, a associação pode ser explicada por fatores de confusão
residuais (ou seja, a associação na verdade não significa necessariamente que a metformina
reduza mortalidade, mas apenas que outras características que se associam ao uso de
metfomina é que são a real explicação para essa maior sobrevida). Já a aparente ausência de
benefício em pacientes com função renal deprimida ou com IC poderia também ser devido à
tratadas com terapias de prevenção secundária atuais, tais achados sugerem que ela ainda
deva reinar absoluta como primeira opção nas diretrizes. Vale lembrar que, além disso, é um
sódio-glicose renal foi a florizina. Ela foi isolada da casca da raiz de uma macieira em 1835.
Demorou mais de 150 anos até os iSGLT2 começarem a ser investigados a fundo.
salgueiro como já vimos neste post. A digoxina por sua vez vem da Digitalis pupurea.
você sabe como estas drogas atuam? Como o nome indica (sodium glucose linked
transporter), o SGLT2 é uma proteína que existe no túbulo proximal do néfron, fazendo com
que a glicose que foi filtrada pelo glomérulo seja reabsorvida. Caso essa proteína seja inibida,
Mas então essas drogas podem causar hipoglicemia, certo? Se estou perdendo glicose na
Dica:
O risco de hipoglicemia com os inibidores da SGLT2 é baixo. Isso porque a ação da droga é
mais intensa em casos de glicemia alta. À medida que a glicemia vai baixando devido ao
Dica:
Baseado no mecanismo de ação dos inibidores da SGLT2, tem como intuir qual o principal
efeito colateral? Certamente. Se ocorre maior eliminação de glicose na urina, o que pode
ocorrer? Crescimento bacteriano! Esta classe de drogas aumenta o risco de infecção do trato
presentes na primeira porção do túbulo contorcido proximal e são responsáveis por 90% da
glicose reabsorvida nos rins. E os outros 10%? São reabsorvidos pelos receptores SGLT1
presentes nas porções mais distais do túbulo contorcido proximal. A cada molécula de sódio
cotransportador, fazendo com que glicosúria só ocorra com valores próximos de 250mg/dL. O
uso dos inibidores de SGLT2 traz o limiar de excreção renal de glicose para em torno de 80-
90mg/dL, fazendo com o que o diabético apresente glicosúria a partir desses valores
reduzido em pacientes com normoglicemia, bem como que o risco de hipoglicemia com estas
medicações é baixo.
Em termos de potência hipoglicemiante, não é das classes mais potentes como metformina
Além desses efeitos, também resulta numa perda de peso média de 2-3 kg. Esta costuma
ocorrer nos primeiros 6 meses de tratamento e depois estabiliza. Qual seria o mecanismo? O
mais simples seria explicar pela perda de glicose na urina a qual pode gerar déficit calórico de
200 kcal por dia. Contudo, parece que isso faz com que o indivíduo tenha aumento da fome o
que pode fazer com que o efeito de perda de peso não se mantenha a longo prazo. Outros
Outro benefício dos iSGLT2 é que eles provocam uma queda média de 3 a 5 mmHg na PAS,
sem contudo aumentar a frequência cardíaca. Um dos mecanismos através dos quais isso
drogas aumentam a metabolização de cetonas e ácidos graxos livres pelo coração o que
parece levar a uma melhor eficiência energética. O consumo de corpos cetônicos também
reabsorção de magnésio e potássio nos rins poderia ser responsável pelo efeito dos iSGLT2
em reduzir morte súbita. A própria hiperglicemia está ligada a ativação do sistema renina-
angiotensina-aldosterona o qual por sua vez pode causar HVE e fibrose miocárdica. Estudos
contorcido proximal, chega mais sódio no túbulo contorcido distal, onde está localizada a
mácula densa. Isso faz com que ocorra vasoconstrição da arteríola aferente, o que reduz a
pressão intraglomerular. Tal fato é benéfico por reduzir a hiperfiltração glomerular e o stress
Assim como ocorre com inibidores da eca, nas primeiras semanas pode haver uma leve piora
mL/min/1.73m² neste período. Após isso, a função renal estabiliza e os iSGLT2 reduzem a
progressão da nefropatia.
Por fim, como potencial malefício metabólico com uso dessa classe de drogas, temos o
achado que os iSGLT2 aumentam o LDL em 3 a 5 mg/dL, em média, mas impacto deste
(DCV). Cerca de 80% dos óbitos em pctes com DM sâo devido a DCV. Assim, a busca de
(coronariopatia, avc, etc) sempre foi grande. Contudo, as evidências de que medicações
Eis então que em 2015 foi publicado o trial EMPA-REG OUTCOME que avaliou o papel da
O que faz a medicação? Ela é um inibidor do cotransportador de sódio e glicose 2. O que isto
significa? Resumindo, ela diminui a reabsorção de glicose no rim, o que faz com que mais
glicose seja eliminada na urina levando, por sua vez, à diminuição da glicose no sangue. Além
disso, há evidência que a medicação tem outras ações como diminuir a pressão arterial e
urinário e da região genital devido ao aumento de glicose nestes locais o que predispõe à
proliferação bacteriana.
Como foi o desenho do estudo? Estudo randomizado, duplo-cego, controlado. Definiu-se que o
trial seria conduzido até o momento que houvesse eventos cardiovasculares em ao menos
691 pacientes.
Pctes com DM2, >18 anos, IMC < 45, ClCr> 30 mL/min, COM DOENÇA
trials de cardiologia – morte por causas cardiovasculares + IAM não fatal + AVC não fatal.
Finalmente, que drogas usar para tratar o diabetes e baixar o risco cardiovascular do seu paciente?
Mudança de paradigma no tratamento do diabetes mellitus?
12,1%.
empaglifozina.
0,1%).
Cirurgia bariátrica deve ser considerada no tratamento de pacientes com diabetes tipo 2 e IMC entre
30 e 34,9 kg/m2
Mudança de paradigma no tratamento do diabetes mellitus?
relação ao trial é: como a medicação diminuiu morte por eventos cardiovasculares sem
ter alterado a incidência de IAM ou de AVC? Outras medicações que mostraram nas
explicaria a redução de mortalidade no EMPA-REG? Isto não está ainda bem definido.
Tais achados podem ser extrapolados para todos os pacientes diabéticos? Não. Os
Isto faz com que o risco de morte seja maior e, portanto, magnifica os benefícios do
tratamento. Os achados do estudo não podem ser extrapolados para pctes diabéticos
Há ainda a questão do custo. A medicação custa cerca de 150 por mês e isso
maior redução de HbA1c, além de perda de peso sustentada e baixo risco de hipoglicemia.
Apesar disso, ainda são pouco utilizados, principalmente por não endocrinologistas.
alguns positivos e outros neutros, o que pode gerar algumas confusões. Vou tentar clarificar
um pouco os estudos.
tempo no mercado e mais vendido), que demonstrou redução do desfecho primário em 13%,
CV (mais de 60 anos com fatores de risco). Esse resultado positivo modificou guidelines de
para reduzir eventos CV e mortalidade em pacientes DM2 de alto risco CV, e não apenas com
semaglutida e a dulaglutida.
não inferioridade, com objetivo de se descartar um intervalo de confiança que passasse o 1.8.
Assim, foi um estudo bem menor e com menor duração. Apesar disso, os resultados foram
surpreendentes, pois houve redução do desfecho primário. A maior redução, porém, foi vista
em redução de AVC. A rigor, por ser um estudo de não inferioridade, pode-se dizer que o
resultado positivo pode apenas ser especulado, visto que não foi desenhado para
superioridade, mas não há dúvidas que, exatamente por ter mostrado resultados em
população pequena e duração curta, o resultado é animador. O ponto negativo foi um pequeno
aumento em retinopatia diabética, que atribui-se exatamente à uma queda muito rápida da
Há porém, dois estudos CV com análogos de GLP-1 e resultados neutros: o EXSCEL, com
exenatida semanal (porém que esteve perto de atingir significância e houve redução de
mortalidade) e o ELIXA, com a lixisenatida (esse, bem neutro), um análogo de GLP-1 de ação
curta.
Há duas explicações mais discutidas: a primeira é que tanto a exenatida como a lixisenatida
lagarto norte-americano) enquanto os outros são análogos do GLP-1 humano. Essa diferença
Porém, uma outra explicação é de ordem mais prática: a lixisenatida é um análogo de ação
curta, e era prescrito apenas 1 vez ao dia. Talvez o tempo de GLP-1 biodisponível ao longo
das 24 horas fosse curto para um efeito cardiovascular positivo. E a exenatida, embora de
ação longa, tinha uma caneta de difícil manejo, o que aumentou consideravelmente a taxa de
De toda forma, análises recentes mostraram que a prescrição de análogos do GLP-1 por
cardiologistas quase não foi afetada pelos resultados dos estudos cardiovasculares e isso é
primário, puxado de forma mais significativa por uma redução de AVC. O REWIND se junta a
outros estudos com análogos de GLP-1 que demonstram benefício cardiovascular, (como o
LEADER, com liraglutida, e o SUSTAIN-6 com semaglutida), mas ele tem uma característica
que o torna um estudo de certa forma revolucionário: apenas 30% da população tinha DCV
estabelecida no basal. Portanto, a grande maioria da população do estudo era de prevenção
primária (embora fossem pacientes na maioria acima dos 60 anos de idade, devido aos
critérios de inclusão). Dessa forma temos, pela primeira vez, uma medicação antidiabética
prévia de DCV! Lembro que o estudo DECLARE, com a dapagliflozina (um inibidor de SGLT2)
também tinha uma população de menor risco no basal, e houve redução de hospitalização por
insuficiência cardíaca (mesmo em população sem IC de base), o que já era um dado bastante
Durante muito tempo, tratamos o diabetes pensando “apenas” em reduzir glicemia e assim,
reduzir complicações a longo prazo. Isso começou a mudar com estudos como o EMPA-
REG e o já citado LEADER, que demonstraram que algumas medicações tinham uma
mas eram estudos com população de alto RCV. Isso levou a mudanças de diretrizes que
pacientes com DCV prévia e iSGLt2 peferencialmente para aqueles com IC ou IRC prévia.
Com esse novo estudo, poderemos entrar na era de se tratar o diabetes tipo 2 pensando em
prevenção cardiovascular em todo o espectro da doença, e não somente como prevenção
secundária. E faz sentido, ao imaginar que a provável ação da dulaglutida e demais análogos
insulina. Particularmente, acredito que o efeito dos inibidores de SGLT2, por ser mais
como IC ou IRC iniciais, e eventualmente não diagnosticadas (o que não reduz a sua
importância no tratamento).
Infelizmente, mesmo com todos os estudos CV já publicados com análogos de GLP-1 e alta
potência, são ainda medicações pouco utilizadas. O custo alto obviamente é uma das
barreiras, assim como o fato de serem injetáveis. O medo com efeitos colaterais graves
também existe, a despeito de uma série de meta-análises não mostrarem aumento de risco
de pancreatite e tumores. Essa é outra força do REWIND, pois foi um estudo com mais de 5
O tratamento do diabetes tipo 2 está mudando muito rápido, e sem dúvida, o REWIND é um
LIRAGLUTIDE
arterial.
de mortalidade geral.
Para uma interessante visão crítica a este estudo, recomendo ler este post.
SEMAGLUTIDE
principal hipótese que justificaria esta discordância entre o LEADER e o SUSTAIN seria
o fato da quantidade pacientes deste último trial ter sido bem menor, o que aumentaria o
diabetes mellitus. Isso porque nos últimos anos uma profusão de novas medicações foi
lançada como podemos ver neste post. Mas e aí? O que você que não é endocrinologista tem
que saber para tratar melhor seus pacientes com diabetes? Recentemente foi lançado um
Em pacientes com DM2 e doença cardiovascular, a terapia farmacológica deve se voltar para
Europa. Dessa forma, a ESC orienta preferir a empaglifozina e/ou a liraglutida como terapia de
escolha.
Embora os dados sejam mais limitados, a ampla experiência clínica, o custo reduzido e a
segurança na combinação com outras drogas ainda fazem com que a metformina seja a
Finalmente, que drogas usar para tratar o diabetes e baixar o risco cardiovascular do seu paciente?
Finalmente, que drogas usar para tratar o diabetes e baixar o risco cardiovascular do
seu paciente?
Se esses fármacos não são o suficiente para atingir ou alvos terapêuticos ou são contra-
podem ser as próximas drogas. Lembrando que não existe evidência que justifique o uso de
inibidores de DDP-4 com agonistas de GLP-1.
Referências:
Niessner A, Tamargo J, Koller L, Saely CH, Schmidt TA, Savarese G et al. Non-insulin
Cirurgia bariátrica deve ser considerada no tratamento de pacientes com diabetes tipo 2 e IMC entre
30 e 34,9 kg/m2
Diabetes + coronariopatia: e agora? Que antidiabéticos usar?
Nós tínhamos algumas opções apenas: a boa e velha metformina; sulfonilureias como
glibenclamida que eram muito usadas pelo baixo custo; glitazonas já olhávamos meio que de
lado devido aos estudos mostrando complicações cardiovasculares. Não resolveu com isso,
basicamente mandava para o endocrinologista. Bem, não vou entregar a idade mas isso já
tem mais de 10 anos. Nesse meio tempo surgiram inúmeras medicações novas para
Bem, agora o acervo terapêutico é bem maior. Mas como resumir isso tudo para o não
Muitas vezes preferimos ter poucas opções para não ficar em dúvida. Resumão:
DECLARE mas diminuiu internação por IC. Canaglifozina reduziu eventos mas
aumentou amputação de MMII, então ficou meio que relegada a segundo plano na
prática.
Olha aí a coisa melhorando. Então agora sobraram inibidores da SGLT2 e agonistas da GLP1,
E por que no caso de insuficiência cardíaca dá-se preferência aos inibidores da SGLT2?
Porque nos estudos citados uma das grandes vantagens desse classe de medicações foi
DICA:
Dica:
Lembrar que os agonistas de GLP1 citados são injetáveis. Já o inibidores da SGLT2 são
comprimidos.
Esta medicação é segura nestes pacientes. Lembrar que em outros tipos de insuficiência
Diabetes + insu ciência cardíaca: qual a medicação de escolha para controlar a glicemia?
Quais as principais mudanças dos guidelines de tratamento de DM em 2020?
American Diabetes Association que é lançada anualmente e norteia muito da prática clínica de
manejo de DM ao redor do mundo.
Na versão mais recente os principais pontos de mudança no que diz respeito ao tratamento
do DM foram os seguintes:
principalmente porque muitos deles aos diagnóstico já têm glicada 1,5-2 pontos acima
do alvo e quase nenhuma droga em monoterapia consegue reduzir esses valores para
medidas para avaliar alvo glicêmico como o TIR (time in range). Esse é uma métrica
obtida através de sensores de glicose contínuos como o Free Style Libre®, e que reflete
enquanto a glicada é uma média e pode estar próxima do normal, mesmo se o paciente
tratamento que: deve ser considerado o uso de análogos de GLP-1 ou iSGLT2 em todos
My Ebook
O que fazer com os hipoglicemiantes orais quando o paciente começa a perder função
renal?
velocidade de perda de função renal com um bom controle. Daí a importância de saber como
Referência: Approach to the Patient with Type 2 Diabetes and Progressive Kidney Disease ER
O que fazer com os hipoglicemiantes orais quando o paciente começa a perder função renal?
Nova diretriz da SBC de prevenção: quais as mudanças em diabetes?
Também pode-se considerar solicitar BNP ou NT-proBNP. Caso os níveis destes sejam
superiores a 50 Pg/mL ou > 125 pg/mL, respectivamente, o paciente seria classificado como
na categoria de risco diretamente acima (se era baixo risco, passa a ser moderado, se era de
Mas, qual a importância de eu classificar este risco? O que isso vai mudar na minha conduta
em relação a este paciente? A diretriz recomenda que em pctes diabéticos de risco elevado
ou muito elevado de IC, deve-se introduzir um inibidor da SGLT2. Como vimos nos estudos
diabéticos.
A nova diretriz coloca como classe III (nao deve ser feito) o uso de aspirina como prevenção
Outro ponto importante em se calcular o risco de IC futura em pctes diabéticos. Caso esse
descompensação de IC.
diabéticos assintomáticos
A diretriz ratifica o que inúmeras outras já disseram. Não há evidência para ficarmos pedindo
Em pctes diabéticos com risco cardiovascular entre 5 e 20%, pode-se considerar a realização
do escore cálcio. Caso o mesmo seja de zero, pode-se considerar deixar o paciente sem
estatina.
Aqui temos uma divergência para a diretriz americana. Esta diz que se o paciente for diabético
e tiver entre 40 e 75 anos, deve-se usar estatina de forma rotineira. Neste caso mesmo um
A nova diretriz diz que em pacientes diabéticos com doença cardiovascular manifesta (risco
muito alto) ou com risco alto (este, a maioria dos diabéticos já que é difícil achar um diabético
de moderado risco pela diretriz) deve-se prescrever um agonista da GLP-1. Aqui a coisa já
fica controversa. As diretrizes internacionais colocam que nestes casos podemos considerar
Não controlou com uma medicação apenas? Associar antagonista de canal de cálcio ou
tiazídico.
se risco muito alto (ex: doença cardiovascular manifesta, deixar < 55 m/dL)
Ou seja, nesse aspecto o guideline europeu fica praticamente idêntico ao brasileiro (não é
igual porque a meta de muito alto risco no brasileiro é menor que 50 mg/dL mas isso é uma
Mas como eu defino quem é o diabético de alto risco ou moderado risco? Basicamente
assim:
Moderado risco – Pcte com < 50 anos, com diabetes há menos de 10 anos e sem
Alto risco – pcte com diabetes há mais de 10 anos, sem lesão de órgão-alvo e
Na prática, não é comum encontrar pcte de risco moderado. A maioria vai ser de risco
alto para cima porque vai ter obesidade, ou LDL alto ou HAS.
Como chegar a estes alvos? Primeira escolha – estatina. Não controlou? Ezetimibe.
Pcte diabético vai precisar de anticoagulação devido a FA? Preferir NOACs a varfarina.
Bem, mas o que você quer saber mesmo é como fica o tratamento com os novos
receptor GLP1 como primeira escolha ao invés da metformina nos pctes com doença
Ah, mas isso muda tudo então, não? Na verdade, não. A enorme maioria dos pacientes
com diabetes irá precisar de mais de uma medicação para atingir o alvo de glicada
então do ponto de vista prático a maioria irá usar metformina + uma segunda droga
apenas metformina e com glicada no alvo? A diretriz dá entender que nesse caso
acima).
estabelecida.
DICA: NÃO usar glitazonas ou saxagliptina em pctes com IC. Aumentam o risco de
descompensação.
relevante. Pcte multiarterial com indicação de revasc? Não precisa calcular Syntax
score, em teoria. É cirurgia e pronto. Lesão de tronco? Aí se for Syntax baixo (até 22),
tanto faz ATC ou cirurgia. Se intermediário (23 a 32), cirurgia tem evidência maior mas
ATC pode ser considerada. Se Syntax alto, aí cirurgia.