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Texto 1
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da
graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu
sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a
ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua
guerreira tribo da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a
verde pelúcia que vestia a Terra com as primeiras águas. (p.5)
[...]
— Guerreiro branco, Iracema é filha do pajé, e guarda o segredo da jurema. O guerreiro
que possuísse a virgem de Tupã morreria.
— E Iracema?
— Pois que tu morrias!...
Esta palavra foi sopro de tormenta. A cabeça do mancebo vergou e pendeu sobre o peito;
mas logo se ergueu.
— Os guerreiros de meu sangue trazem a morte consigo, filha dos tabajaras. Não a temem
para si, não a poupam para o inimigo. Mas nunca fora do combate eles deixarão aberto o
camucim da virgem na taba de seu hóspede. A verdade falou
pela boca de Iracema. O estrangeiro deve abandonar os campos dos tabajaras.
— Deve, respondeu a virgem como um eco.
Depois sua voz suspirou:
— O mel dos lábios de Iracema é como o favo que a abelha fabrica no tronco da
guabiroba: tem na doçura o veneno. A virgem dos olhos azuis e dos cabelos do sol guarda
para seu guerreiro na taba dos brancos o mel da açucena. (p.12)
[...]
Quando veio a manhã, ainda achou Iracema ali debruçada, qual borboleta que dormiu no
seio do formoso cacto. Em seu lindo semblante acendia o pejo vivos rubores; e como entre
os arrebóis da manhã cintila o primeiro raio do Sol, em suas faces incendidas rutilava o
primeiro sorriso da esposa, aurora de fruído amor.
Martim vendo a virgem unida ao seu coração, cuidou que o sonho continuava; cerrou os
olhos para torná-los a abrir.
A pocema dos guerreiros, troando pelo vale, o arrancou ao doce engano: sentiu que já não
sonhava, mas vivia. Sua mão cruel abafou nos lábios da virgem o beijo que ali se
espanejava.
— Os beijos de Iracema são doces no sonho; o guerreiro branco encheu deles sua alma.
Na vida, os lábios da virgem de Tupã, amargam e doem como o espinho da jurema.
A filha de Araquém escondeu no coração a sua alegria. Ficou tímida e inquieta, como a
ave que pressente a borrasca no horizonte. Afastou-se rápida, e partiu.
As águas do rio depuraram o corpo casto da recente esposa.
A jandaia não tornou à cabana.
Tupã já não tinha sua virgem na terra dos tabajaras.
1
(ALENCAR, Iracema, 1999, p.34)
Texto 2
[...] A lua vinha assomando pelo cimo das montanhas fronteiras; descobri nessa ocasião, a
alguns passos de mim, uma linda moça, que parara um instante para contemplar no
horizonte as nuvens brancas esgarçadas sobre o céu azul e estreladas. Admirei-lhe do
primeiro olhar um talhe esbelto e de suprema elegância. [...] Ressumbrava na sua muda
contemplação doce melancolia e não sei que laivos de tão ingênua castidade, que o meu
olhar repousou calmo e sereno na mimosa aparição Que linda menina! Exclamei para o
meu companheiro, que também admirava. Como deve ser pura a alma que mora naquele
rosto mimoso! (p.13)
[...]
Uma ocasião, sentados no sofá, como estávamos à gola de seu roupão azul abriu-se com
um movimento involuntário, deixando ver o contorno nascente de um seio branco e puro,
que o meu olhar ardente devorou com ardente voluptuosidade. Acompanhando a direção
desse olhar, ela enrubesceu como uma menina e fechou o roupão; mas doce e
brandamente, sem nenhuma afetação pretensiosa. (p.18)
[...]
Lúcia ergueu a cabeça com orgulho satânico, e levantando-se de um salto, agarrou uma
garrafa de champanha, quase cheia. Quando a pousou sobre a mesa, todo vinho tinha lhe
passado pelos lábios [...] Lúcia saltava sobre a mesa. Arrancando uma palma de um dos
jarros de flores, trançou-a nos cabelos [...] num requebro sensual, arqueou os braços e
começou a imitar uma a uma as lascivas pinturas. (p.42)
[...]
Maria da Glória é meu nome. Foi nossa Senhora, minha madrinha quem mo deu [...] Eu
tive supremo alívio de comprar com a minha desgraça a vida de meus pais e de minha
irmã [...] Nisto uma moça quase da minha idade veio a morar comigo [...] Lúcia morreu de
tísica; quando veio o médico passar o atestado, troquei os nossos nomes. Meu pai leu no
jornal o óbito de sua filha. (ALENCAR, Lucíola, 1987, p.109-112)
Texto 3
Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela. Desde o momento de sua ascensão
ninguém lhe disputou o cetro; foi proclamada a rainha dos salões. Tornou- se a deusa dos
bailes; a musa dos poetas e a ídola dos noivos em disponibilidade. Era rica e formosa. [...].
Tinha ela dezoito anos quando apareceu a primeira vez na sociedade. Não a conheciam; e
logo buscaram todos com avidez informações acerca da grande novidade do dia.
[...] régia fronte, coroada de diadema de cabelos castanhos [...], fada encantada [...].
Se o lindo semblante não se impregnasse constantemente, ainda nos momentos de cisma
e distração, dessa tinta de sarcasmo, ninguém veria nela a verdadeira fisionomia de
Aurélia, e sim a máscara de alguma profunda decepção.
Como acreditar que a natureza houvesse traçado as linhas tão puras e límpidas daquele
perfil para quebrar-lhes a harmonia com o riso de uma pungente ironia?
Os olhos grandes e rasgados, Deus não os aveludaria com a mais inefável ternura, se os
destinasse para vibrar chispas de escárnio.
[...]
2
E o mundo é assim feito; que foi o fulgor satânico da beleza dessa mulher, a sua maior
sedução. Na acerba veemência da alma revolta, pressentiam-se abismos de paixão; e
entrevia-se que procelas de volúpia havia de ter o amor da virgem bacante.
[...]
Desejo como é natural obter o que pretendo o mais barato possível; mas o essencial é
obter; e, portanto até metade do que possuo, não faço questão do preço. É a minha
felicidade que vou comprar.
(ALENCAR, Senhora, 1986, p. 28).
Esses três perfis femininos, Iracema, Lúcia e Aurélia, não se deixaram dominar nem pelo
meio, nem pela família. São mulheres que mesmo sob um olhar romântico, em uma época
onde não se cogitava que a mulher tivesse o poder de decisão, apresentam outra postura,
não são submissas ao sistema da sociedade vigente. Cada uma à sua maneira em busca
de um ideal ultrapassa limites, barreiras e estabelece o seu próprio modo de ser, sua
própria postura em busca de autonomia.
1. Faça um outline com as respostas das perguntas a seguir, embasadas nas discussões
em aula e seu conhecimento sobre o romance romântico. (2 pontos)
2. Alencar com seus perfis femininos permitiu ao público-leitor da época, feminino ou não,
transportar-se para as páginas dos romances, espelharem-se nas heroínas, adornando-se
dos dons em comum que possuíam.
Use as suas respostas escritas no outline em um texto de 20 linhas/ 300 palavras que
analise a importância das heroínas românticas de José de Alencar. (4 pontos)
Recorra aos seus conhecimentos sobre a receita de sucesso dos romances românticos e
faça uma sinopse de uma típica história romântica. Diga onde se passa e em que
época. Caracterize o par romântico (cada um com suas características próprias) e o
conflito da história. Revele o final da história. Dê um título para o seu romance. (4 pontos)
3
4