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Escola Americana do Rio de Janeiro

Portuguese A 10th grade


Ms. Myrtes Folegatti
Aluno:_________________________________________________ Grade: _______

Leia a seguir fragmentos de três romances alencarianos, Iracema, Lucíola e Senhora.

Texto 1

Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da
graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu
sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a
ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua
guerreira tribo da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a
verde pelúcia que vestia a Terra com as primeiras águas. (p.5)
[...]
— Guerreiro branco, Iracema é filha do pajé, e guarda o segredo da jurema. O guerreiro
que possuísse a virgem de Tupã morreria.
— E Iracema?
— Pois que tu morrias!...
Esta palavra foi sopro de tormenta. A cabeça do mancebo vergou e pendeu sobre o peito;
mas logo se ergueu.
— Os guerreiros de meu sangue trazem a morte consigo, filha dos tabajaras. Não a temem
para si, não a poupam para o inimigo. Mas nunca fora do combate eles deixarão aberto o
camucim da virgem na taba de seu hóspede. A verdade falou
pela boca de Iracema. O estrangeiro deve abandonar os campos dos tabajaras.
— Deve, respondeu a virgem como um eco.
Depois sua voz suspirou:
— O mel dos lábios de Iracema é como o favo que a abelha fabrica no tronco da
guabiroba: tem na doçura o veneno. A virgem dos olhos azuis e dos cabelos do sol guarda
para seu guerreiro na taba dos brancos o mel da açucena. (p.12)
[...]
Quando veio a manhã, ainda achou Iracema ali debruçada, qual borboleta que dormiu no
seio do formoso cacto. Em seu lindo semblante acendia o pejo vivos rubores; e como entre
os arrebóis da manhã cintila o primeiro raio do Sol, em suas faces incendidas rutilava o
primeiro sorriso da esposa, aurora de fruído amor.
Martim vendo a virgem unida ao seu coração, cuidou que o sonho continuava; cerrou os
olhos para torná-los a abrir.
A pocema dos guerreiros, troando pelo vale, o arrancou ao doce engano: sentiu que já não
sonhava, mas vivia. Sua mão cruel abafou nos lábios da virgem o beijo que ali se
espanejava.
— Os beijos de Iracema são doces no sonho; o guerreiro branco encheu deles sua alma.
Na vida, os lábios da virgem de Tupã, amargam e doem como o espinho da jurema.
A filha de Araquém escondeu no coração a sua alegria. Ficou tímida e inquieta, como a
ave que pressente a borrasca no horizonte. Afastou-se rápida, e partiu.
As águas do rio depuraram o corpo casto da recente esposa.
A jandaia não tornou à cabana.
Tupã já não tinha sua virgem na terra dos tabajaras.

1
(ALENCAR, Iracema, 1999, p.34)

Texto 2

[...] A lua vinha assomando pelo cimo das montanhas fronteiras; descobri nessa ocasião, a
alguns passos de mim, uma linda moça, que parara um instante para contemplar no
horizonte as nuvens brancas esgarçadas sobre o céu azul e estreladas. Admirei-lhe do
primeiro olhar um talhe esbelto e de suprema elegância. [...] Ressumbrava na sua muda
contemplação doce melancolia e não sei que laivos de tão ingênua castidade, que o meu
olhar repousou calmo e sereno na mimosa aparição Que linda menina! Exclamei para o
meu companheiro, que também admirava. Como deve ser pura a alma que mora naquele
rosto mimoso! (p.13)
[...]
Uma ocasião, sentados no sofá, como estávamos à gola de seu roupão azul abriu-se com
um movimento involuntário, deixando ver o contorno nascente de um seio branco e puro,
que o meu olhar ardente devorou com ardente voluptuosidade. Acompanhando a direção
desse olhar, ela enrubesceu como uma menina e fechou o roupão; mas doce e
brandamente, sem nenhuma afetação pretensiosa. (p.18)
[...]
Lúcia ergueu a cabeça com orgulho satânico, e levantando-se de um salto, agarrou uma
garrafa de champanha, quase cheia. Quando a pousou sobre a mesa, todo vinho tinha lhe
passado pelos lábios [...] Lúcia saltava sobre a mesa. Arrancando uma palma de um dos
jarros de flores, trançou-a nos cabelos [...] num requebro sensual, arqueou os braços e
começou a imitar uma a uma as lascivas pinturas. (p.42)
[...]
Maria da Glória é meu nome. Foi nossa Senhora, minha madrinha quem mo deu [...] Eu
tive supremo alívio de comprar com a minha desgraça a vida de meus pais e de minha
irmã [...] Nisto uma moça quase da minha idade veio a morar comigo [...] Lúcia morreu de
tísica; quando veio o médico passar o atestado, troquei os nossos nomes. Meu pai leu no
jornal o óbito de sua filha. (ALENCAR, Lucíola, 1987, p.109-112)

Texto 3

Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela. Desde o momento de sua ascensão
ninguém lhe disputou o cetro; foi proclamada a rainha dos salões. Tornou- se a deusa dos
bailes; a musa dos poetas e a ídola dos noivos em disponibilidade. Era rica e formosa. [...].
Tinha ela dezoito anos quando apareceu a primeira vez na sociedade. Não a conheciam; e
logo buscaram todos com avidez informações acerca da grande novidade do dia. 
[...] régia fronte, coroada de diadema de cabelos castanhos [...], fada encantada [...].
Se o lindo semblante não se impregnasse constantemente, ainda nos momentos de cisma
e distração, dessa tinta de sarcasmo, ninguém veria nela a verdadeira fisionomia de
Aurélia, e sim a máscara de alguma profunda decepção.
Como acreditar que a natureza houvesse traçado as linhas tão puras e límpidas daquele
perfil para quebrar-lhes a harmonia com o riso de uma pungente ironia?
Os olhos grandes e rasgados, Deus não os aveludaria com a mais inefável ternura, se os
destinasse para vibrar chispas de escárnio.
[...]

2
E o mundo é assim feito; que foi o fulgor satânico da beleza dessa mulher, a sua maior
sedução. Na acerba veemência da alma revolta, pressentiam-se abismos de paixão; e
entrevia-se que procelas de volúpia havia de ter o amor da virgem bacante.
[...]
Desejo como é natural obter o que pretendo o mais barato possível; mas o essencial é
obter; e, portanto até metade do que possuo, não faço questão do preço. É a minha
felicidade que vou comprar.
(ALENCAR, Senhora, 1986, p. 28).

Esses três perfis femininos, Iracema, Lúcia e Aurélia, não se deixaram dominar nem pelo
meio, nem pela família. São mulheres que mesmo sob um olhar romântico, em uma época
onde não se cogitava que a mulher tivesse o poder de decisão, apresentam outra postura,
não são submissas ao sistema da sociedade vigente. Cada uma à sua maneira em busca
de um ideal ultrapassa limites, barreiras e estabelece o seu próprio modo de ser, sua
própria postura em busca de autonomia.

1. Faça um outline com as respostas das perguntas a seguir, embasadas nas discussões
em aula e seu conhecimento sobre o romance romântico. (2 pontos)

a) Como você descreveria as personagens femininas?


b) Das três personagens, qual você achou mais feminina? Por quê?
c) O que há de semelhança entre elas?
d) E de diferente?
e) Qual das personagens representa melhor as características do Romantismo? Por
quê?
f) José de Alencar mostra certa constância no perfil feminino? Por quê?

2. Alencar com seus perfis femininos permitiu ao público-leitor da época, feminino ou não,
transportar-se para as páginas dos romances, espelharem-se nas heroínas, adornando-se
dos dons em comum que possuíam.

Use as suas respostas escritas no outline em um texto de 20 linhas/ 300 palavras que
analise a importância das heroínas românticas de José de Alencar. (4 pontos)

3. No contexto da literatura sentimental, o encontro amoroso é uma promessa de felicidade


que se dará a partir do momento em que “dois corações se deixem arrebatar pelo amor”. A
mensagem é clara: na história milenar da humanidade, só o amor permanece como
garantia de felicidade.

Recorra aos seus conhecimentos sobre a receita de sucesso dos romances românticos e
faça uma sinopse de uma típica história romântica. Diga onde se passa e em que
época. Caracterize o par romântico (cada um com suas características próprias) e o
conflito da história. Revele o final da história. Dê um título para o seu romance. (4 pontos)

3
4

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