Witkoski (2009, p. 565-567) destaca que é uma falácia do oralismo a afirmação que se o
surdo utilizar da linguagem oral, ele se integrará a comunidade ouvinte. Mesmo que desenvolva a
oralidade, ele continua sendo visto e tratado como deficiente e visto com preconceito. Além disso,
aponta que o oralismo impede o direito dos surdos à comunicação e formação significativas.
A autora (2009, p. 565, 566) afirma que o que ocorre é uma pseudointegração, que mascara
o preconceito em relação aos surdos e surdez, uma vez que não ocorre a aceitação de fato da
diferença linguística desse grupo, seu modo de perceber o mundo e forma de ser. Com o oralismo, a
linguagem de sinais, língua de caráter visual-motor, não é reconhecida como uma fala, apenas as
línguas que são processadas pelo canal auditivo-oral o são. Invalidando, assim, os pensamentos e
individualidades dos surdos. Ao mesmo tempo, para quem não ouve, a comunicação oral é ainda
muito limitada, representando funções comunicativas muito básicas (WITKOSKI, 2009, p. 566).
Para Witkoski (2009, p. 566), o desejo de fazer com que o surdo se comunique do mesmo
modo que os ouvintes perpetua a questão do surdo ser percebido sempre pelo foco da deficiência.
Mesmo quando consegue falar oralmente o português, o surdo continua sendo identificado como
deficiente e não é aceito de fato pela comunidade ouvinte, “em função do que muitos referem de “o
jeito surdo” de falar, em referência à fala truncada, à diferença na pronúncia ou na clareza
articulatória das palavras” (WITKOSKI, 2009, p. 566). E, ainda que disponha de uma fala
considerada compreensível e fluente pelos ouvintes, o preconceito pelos surdos permanece,
caracterizando sempre uma falta, uma deficiência, seja por não entender as informações faladas,
pelo uso da prótese auditiva ou dificuldade em modulação da voz em determinados contextos.
Witkoski (2009, p. 567) ainda questiona que integração é essa produzida pelo oralismo, uma
vez que o indivíduo surdo continua a ter o acesso fluente negado às informações produzidas via
língua auditivo-oral. Desse modo, não tem acesso a diversas produções e situações existentes em
nosso meio cultural, como programas audiovisuais que não possuem traduções em libras ou
legendas em português, além de acesso de qualidade as informações em sala de aula no ensino
regular. A autora (2009, p. 568) critica também a construção da ideia de um “paraíso ouvinte”, como
se ser ouvinte fosse extinguir todos os seus problemas do indivíduo surdo, sendo que os ouvintes
possuem problemas de outras ordens.
Um mito destacado por Witkoski (2009, p. 568, 569) é que a leitura labial apresenta a
possibilidade de compensar a falta de audição e ter acesso às informações orais de modo
significativo. A leitura labial se baseia em uma espécie de adivinhação, baseado em pistas
encontradas no contexto, o que permite que o indivíduo surdo leia as intenções. Não é uma tradução
exata, porque existe diferença de tempo entre a realização da leitura, mais lento, e o ritmo da fala.
Outros fatores dificultam a leitura labial, como:
“o tipo de articulação do locutor, a proximidade ou distância dele, a
importância da perspectiva frontal dos lábios do falante em relação ao surdo
(posicionado horizontalmente em relação aos seus olhos), a semelhança
articulatória de determinadas letras e o prévio conhecimento das palavras
pronunciadas” (Witkoski, 2009, p. 569).
Referência:
WITKOSKI, Silvia. Surdez e preconceito: a norma da fala e o mito da leitura da
palavra falada. Revista Brasileira de Educação. 2009, v. 14 n. 42, p.565-576.