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A.

ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA:

RELAÇÃO JURIDICA - Toda e qualquer relação entre os homens na vida social, que seja regulada pelo direito, em que existe
um sujeito que tem um poder (direito subjectivo) e um outro que tem um dever (vinculação).

1. SUJEITO DA RELAÇÃO JURÍDICA – pessoas entre as quais a relação jurídica se estabelece. Podem ser pessoas singulares
ou colectivas, consoante se trate de indivíduos ou organizações.
 SUJEITO ACTIVO: o titular do direito subjectivo, que detém o poder.
 SUJEITO PASSIVO: o que sofre a correspondente vinculação jurídica.

2. OBJECTO DA RELAÇÃO JURÍDICA – tudo aquilo sobre que incidem os poderes do titular activo da relação. Podem ser
pessoas, prestações, coisas corpóreas ou coisas incorpóreas.
 COISAS (art. 202º): coisa é tudo aquilo que pode ser objecto da relação jurídica.
i. COISAS CORPÓREAS: são coisas que podem se apreendidas através dos sentidos (ex.: um livro, uma casa, …)
ii. COISAS INCORPÓREAS: são as coisas que não tendo existência física não podem ser concebidas
intelectualmente (ex.: inventos)
iii. COISAS NO COMÉRCIO: são as coisas que podem ser objecto de propriedade privada de relações do direito
privado.
iv. COISAS FORA COMÉRCIO (art. 0º,2): são as coisas que não podem ser objecto de Dto. privado. (Ex. de
domínio público); são insusceptíveis de apropriação individual (ex. a luz, o ar)
v. COISAS IMÓVEIS (art. 204º): são as coisas imóveis, os prédios rústicos, urbanos, as águas, ….
vi. COISAS MÓVEIS (art. 205º): são todas aquelas não compreendidas no art. 204º.
vii. COISAS SIMPLES: individualidade unitária (natural, pedra preciosas; artificial, um copo de vinho)
viii. COISAS COMPOSTAS (art. 206º): é constituída por várias coisas simples, que estão munidas pela sua função
económico-social comum – unidas, significam um todo ex. um rebanho, colecção de selos. (as coisas singulares
que compõe as compostas podem ser objecto jurídico)
ix. COISAS FUNGÍVEIS (art. 207º): são aqueles que no comércio jurídico são substituíveis por outras do mesmo
género e quantidades. (ex.: o dinheiro)
x. COISAS NÃO FUNGÍVEIS: todas as outras coisas que no comércio jurídico não são substituíveis (ex.: um quadro
do pintor x)
xi. COISAS CONSUMÍVEIS (ART. 208º): uso regular que conduzem á destruição ou alienação.
a. CONSUMO MATERIAL: destruição integral das coisas (ex. alimentação e combustível)
b. CONSUMO JURÍDICO: alienação da coisa. (ex. sai do património de uma pessoa para o de outra – dinheiro)
xii. COISAS Ñ CONSUMÍVEIS: a sua utilização regular não implica a suas destruição ou alienação – podem sofrer
uma deterioração +- lenta.
xiii. COISAS DIVISÍVEIS (art.209º): tudo o que se pode fraccionar sem perda da sua função prória ou do seu valor
(ex. biblioteca).
xiv. COISAS IMPREVISÍVEIS: não se podem fraccionar. (ex. um animal vivo, uma estátua, quadro)
xv. COISAS PRINCIPAIS: existem independentemente de outras. (ex. uma casa, um livro)
xvi. COISAS ACESSÓRIAS OU PERTENÇAS (art. 210º): estão ligadas ás coisas principais por um vínculo de
subordinação económica ou funcional, e delas estão excluídas as partes integrantes que se caracterizam por uma
ligação material á coisa principal. (ex. animais, utensílios de lavoura em relação aos prédios rústicos)
xvii. COISAS PRESENTES: são aquelas que existem e pertencem a uma determinada pessoa em certo momento.
xviii. COISAS FUTURAS (art. 211º): as que não estão em poder do disponente ou a que não tem direito, ao tempo da
declaração negocial. (ex. qdo uma pessoa tenta vender determinada coisa que não seja sua, pode colocar hipótese
de se efectivar a venda se conseguir comprar essa coisa, a coisa em causa representa um bem futuro).

3. FACTOS JURIDICOS – são os actos humanos ou acontecimentos naturais que dão origem a uma relação jurídica.
 FACTO JURÍDICO VOLUNTÁRIO - são manifestações de vontade, quer do sujeito, quer de quem o represente, com
relevância jurídica. (ex.: o testamento)
i. ACTOS LICITOS: é o acto jurídico que é conforme o Dto. Objectivo

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a. NEGÓCIOS JURÍDICOS: são factos voluntários, cujo núcleo essencial é integrado por uma ou mais
declarações de vontade a que a ordem jurídica atribui efeitos jurídicos concordantes com a vontade do seu
autor.
b. SIMPLES ACTOS JURIDICOS: são factos voluntários cujos efeitos jurídicos se produzem, mesmo que não
tenham sido previstos pelos seus autores.
ii. ACTOS ILÍCITOS: acto jurídico que não é conforme o Dto. Objectivo, viola ou ofende o Dto. Objectivo.
a. ILICITO CIVIL: quando há violação de interesses meramente individuais ou particulares.
b. ILICITO CRIMINAL: quando há violação de interesses de ordem colectiva
c. ILICITO INTENCIONAL OU DOLOSO: quando for praticado com intuito condenável de causar danos,
havendo uma conduta dolosa por parte do agente
d. ILICITO MERAMENTE CULPOSOS: quando o seu autor apenas manifestou negligência ou imprudência.
 FACTOS NATURAIS: resultantes de causas da natureza, não dependem da vontade humana. (ex.: nascimento,
morte, incêndio)
 FACTO JURÍDICOS CONSTITUTIVOS: quando atribuem direitos a pessoas podendo ser originários quando não se
baseiem em direito anterior, caso contrário são direitos derivados.
 FACTO JURÍDICOS MODIFICATIVOS: quando alterando a realidade inicial (sujeito ou objecto) se mantém a relação
jurídica.
 FACTO JURÍDICOS EXTINTIVOS: quando o direito deixa de existir na esfera jurídica do sujeito (298º), ficamos
perante caducidade (este prazo não se suspende nem interrompe), prescrição (309º) e não uso (direitos de
propriedade: usufruto e servidão não prescrevem, podem é extinguir-se pelo não uso).

B. ESTRUTURA DA RELAÇÃO JURÍDICA

1. DIREITO SUBJECTIVO – é o poder atribuído pela ordem jurídica a uma pessoa de livremente exigir ou pretender de outro
certo comportamento positivo (acção) ou negativo (omissão), ou de por um acto de livre vontade, só de “per se”, ou
integrado por um acto de uma autoridade pública, produzir determinados efeitos jurídicos inevitáveis na esfera jurídica
alheia.

2. DIREITO POTESTATIVO - ao titular passivo da relação jurídica corresponde uma sujeição, ou seja, a situação em que ele
se encontra de não poder evitar que determinadas consequências se produzam na esfera jurídica. Podem dividir-se em
constitutivos, modificativos ou extintivos.

C. SUJEITOS DA RELAÇÃO JURIDICA

1. PERSONALIDADE JURÍDICA (art. 66º,1) - susceptibilidade de se ser sujeito de direitos e obrigações. É uma noção
puramente qualitativa que podemos definir como a qualidade de um ente ser susceptível de lhe serem atribuídos direitos e
impostas vinculações jurídicas.
a. O Homem adquire personalidade jurídica no momento do nascimento com a vida e perde-a com a morte. (art.
68º, 1)
b. A lei não se limita a proteger o ser que nasceu, é também extensiva, em certos casos e condições, a seres não
nascidos, é permitido aos nascituros adquirir por doacção e sucessão. (art. 952º / 2033º)

2. CAPACIDADE JURÍDICA: consiste na possibilidade de as pessoas serem sujeitos activos ou passivos de relações jurídicas,
quando a lei não o proíba. É uma noção qualitativa e quantitativa. (art. 67º)
 CAPACIDADE DE GOZO: é inerente à personalidade jurídica. É uma noção simultaneamente qualitativa e quantitativa, é
a quantidade de direitos e vinculações jurídicas de que uma pessoa é susceptível de ser sujeito.
 CAPACIDADE DE EXERCÍCIO: possibilidade de alguém por si e livremente exercer direitos e contrair obrigações. Se
não poder exercer por si pode esta incapacidade ser suprida através de um representante ou assistente. A capacidade
plena de exercício de direitos atinge-se com a maioridade.

3. ESFERA JURÍDICA: é o conjunto de direitos e vinculações de que uma pessoa é titular em determinado momento.
 VALOR PATRIMONIAL: susceptíveis de serem avaliados em dinheiro (ex.: o direito do credor à prestação do devedor
pode ser avaliada em dinheiro).

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 INSUSCEPTÍVEIS DE AVALIAÇÃO PECUNIÁRIA: ao que não são avaliados em dinheiro (ex.:o direito à fidelidade
conjugal por parte de ambos os conjugues)

4. INCAPACIDADES:
 INCAPACIDADE DE GOZO (art. 2189º e ss / 1601º): consiste na impossibilidade de uma pessoa ser titular de certos
direitos e vinculações, ou de ser sujeito de dadas relações jurídicas. É uma proibição absoluta, que afecta os respectivos
incapazes, de realizarem determinados actos jurídicos sob pena de estes serem inválidos. É insuprível.
 INCAPACIDADE DE EXERCICIO: consiste na insusceptibilidade de uma pessoa praticar validamente certos actos
jurídicos por si só, i.é, pessoal e livremente, traduzindo-se numa proibição de o respectivo incapaz realizar esses actos.
Não é uma proibição absoluta, estes actos podem ser praticados por outrem em seu nome e representação, ou noutros
casos pelo incapaz desde que autorizado por outra pessoa, para o efeito designado na lei. É suprível por:
 Representação - o incapaz não pode agir, nem pessoal nem livremente.
 Assistência - age pessoal, mas não livremente.

 MENORIDADE (art. 123º): a menoridade acarreta uma incapacidade geral de exercício, i.é, abrange em principio todos os
actos, quer de natureza pessoal, quer de natureza patrimonial.
 Excepções (art. 127º/1601º/2189º/1850º) - há todavia excepções que o menor pode praticar e que constituem
excepções à respectiva incapacidade.
 Efeitos (art. 125º) - diz-nos que os actos praticados pelo menor não são salvaguardados por lei, são susceptíveis de
anulação (anulabilidade) a pedido do seu representante, do próprio menor ou de seus herdeiros.
 Duração (art. 122º/129º/130º/133º/132º) - termina quando o menor atinge os 18 anos de idade ou for
emancipado. A emancipação resulta do casamento e pode ter lugar aos 16 anos.
 Suprimento da incapacidade do menor - A incapacidade por menoridade é suprida pela figura de representação que
reveste 3 formas: poder paternal, tutela e administração de bens. Há um caso em que a incapacidade põe ser suprida
pelo instituto de assistência, no caso do casamento dos menores que tenham 16 anos deve ser celebrado com
autorização.
 Poder Paternal (art. 187º e ss) – os filhos estão sujeitos ao poder paternal até à maioridade e emancipação
 Tutela (art. 1927º e ss) - é o meio normal de suprimento do poder paternal, devendo ser instaurada quando ocorra
alguma circunstância, previstas no art. 1921º. É exercida por um conjunto de órgãos (tutor, protutor e conselho de
família) sob vigilância do tribunal dos menores.
 Administração dos bens (art. 1922º/1967º/1968º) - a instituição dos bens, como meio de suprimento da
incapacidade dos menores, terá lugar coexistindo com a tutela ou com o poder paternal.

 INTERDIÇÃO (art. 138º): podem ser interditos todos aqueles que por anomalias psíquicas, surdez mudez, cegueira se
mostrem incapazes de governar suas pessoas e bens. É necessária uma sentença judicial que declare a incapacidade.
 Âmbito da Interdição (art. 139º) – a interdição dá lugar a uma incapacidade geral.
 Efeitos (art.147º/ 150º/257) - os seus actos são anuláveis. Aos actos praticados antes do processo de interdição ou
antes de publicados os anúncios de interdição, é aplicável o regime de incapacidade acidental.
 Suprimento da incapacidade dos interditos (art. 143º/144º/145º) - a incapacidade dos interditos é suprida por
meio do instituto de representação.
 Termo (art. 151º) - pode ser levantada pelo tribunal quando desaparecer o motivo natural que a tenha determinado.

 INABILITAÇÃO (art. 152º): é originada pelos mesmos motivos que os da interdição, bem como aqueles que pelo seu
comportamento, como a prodigalidade, estupefacientes, abuso bebidas alcoólicas que pela sua habitualidade levam a que a
pessoa se revele incapaz para governar os seus bens.
 Suprimento da incapacidade dos Inabilitados (art. 153º/154º,1) - é feito através do instituto da assistência,
sendo designado um curador ( pessoa encarregada para suprir a incapacidade). Pode também ser feito pelo instituto de
representação, quando o curador além de assistir o inabilitado, também administra os seus bens.
 Efeitos (art. 156º) – só poderão se anulados os actos indevidamente praticados pelo inabilitado, compreendidos no
âmbito da sua incapacidade.

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 Termo (art. 155º) – Cessa quando a inabilitação for levantada pelo tribunal. Porém nos casos de prodigalidade, abuso
de bebidas alcoólicas ou estupefacientes tem de respeitar o prazo de 5 anos após a sentença ter transitado em julgado
para provar a sua regeneração.

 INCAPACIDADES ACIDENTAIS (art. 257º): resulta das causas como a hipnose, embriagues, intoxicação.
 Efeitos - os actos são anuláveis, mas serão válidos se praticados em momentos de lucidez.

 INCAPACIDADES CONJUGAIS: trata-se de proibições que a lei estabelece, visando defender os interesses do outro
cônjuge e da família.
 DIREITOS (art.1678º,2) – Cada um dos conjugues tem a administração dos seus próprios bens. Aos bens comuns cada
um deles poderá praticar actos de administração ordinária. Os actos de administração têm que ter consentimento de
ambos. A alienação dos móveis comuns carece de consentimento de ambos, salvo se considere administração alienaria
(art.1682º). Bens imóveis, com o consentimento de ambos, salvam sob o regime de separação de bens (art. 1682,a).
Casa de morada de família carece sempre de consentimento de ambos os conjugues (art. 1682,a,2/1682º,b). Repúdio de
Heranças ou Legados, como consentimento de ambos, excepto no regime de separação de bens (art. 1683º,2).
 Suprimento – as ilegitimidades são supridas através do instituto de assistência, mediante o consentimento do outro
conjugue.
 Efeitos – os actos praticados pelos conjugues, que para tal não tenham legitimidade são anuláveis; tem de ser exercida
nos 6 meses subsequente à data em que o requerente teve conhecimento e nunca depois de ter decorrido 3 anos da sua
celebração (art. 1687º)

 NULIDADE (art. 286º) - a nulidade é invocável a todo o tempo, por qualquer interessado e pode ser declarada
oficiosamente pelo tribunal.
 ANULABILIDADE (art. 287º) - Tem de ser invocada por pessoa com legitimidade, e determinadas.

D. NEGÓCIO JURIDICO:

1. NEGÓCIOS JURÍDICOS – São factos jurídicos voluntários, cujo núcleo essencial é integrado por uma ou mais declarações

de vontade, a que o ordenamento jurídico atribui efeitos jurídicos concordantes com o conteúdo da vontade das partes. (ex.:
o testamento e os contratos)

2. NEGÓCIOS JURÍDICOS UNILATERAIS - Aqueles onde há uma só declaração de vontade, ou várias, mas formando um só

grupo (ex.: o testamento, a renúncia à prescrição, etc.)


a. NEGÓCIOS JURÍDICOS UNILATERAIS RECEPTÍCIOS – Aqueles em que a declaração só é eficaz quando for dirigida e
levada ao conhecimento de certa pessoa. (ex.: revogação do mandato, rescisão contrato trabalho)

b. NEGÓCIOS JURÍDICOS UNILATERAIS NÃO RECEPTÍCIOS – Aqueles cuja eficácia se efectiva pela simples emissão
da declaração de vontade. (ex.: testamento).
3. NEGÓCIOS JURÍDICOS BILATERAIS (contratos) - Aqueles onde há duas ou mais declarações de vontade, de conteúdo

oposto, mas convergente na comum pretensão de produzir resultado jurídico unitário, embora com um significado para cada
parte. Há por um lado uma oferta ou proposta e por outro uma aceitação que se conciliam num consenso.

E. CONTRATOS:

1. ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CONTRATO:

A. CAPACIDADE E LEGITIMIDADE DAS PARTES - a incapacidade de gozo provoca, regra geral, a nulidade dos negócios

respectivos e é insuprível; a incapacidade de exercício tem como consequência a anulabilidade dos contratos, mas é suprível,
através do instituto de representação ou do de assistência.
B. MÚTUO CONSENSO (art. 217º) - é o acordo resultante do encontro e fusão das manifestações ou declarações de vontade

das partes. Numa declaração negocial distinguem-se os seguintes elementos:


i. ELEMENTO EXTERNO – a declaração propriamente dita, que consiste no comportamento declarativo.
ii. ELEMENTO INTERNO - a vontade consiste no querer, que coincidirá com o sentido objectivo da declaração. Este pode
decompor-se em três sub elementos:
1. Vontade de Acção – consiste na voluntariedade do comportamento declarativo.
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2. Vontade de declaração – consiste em o declarante atribuir ao comportamento declarativo querido o significado de
uma declaração negocial.
3. Vontade Negocial - consiste na vontade de celebrar um negócio jurídico de conteúdo coincidente com o significado
exterior da declaração.
iii. DECLARAÇÃO NEGOCIAVEL (art. 217º): comportamento que tende a interiorizar uma vontade negocial, dando a
conhecer tanto a sua existência como o seu conteúdo.
1. DECLARAÇÃO EXPRESSA – quando é feita por palavras, escrito, ou de qualquer outro meio directo de manifestação
de vontade.
2. DECLARAÇÃO TÁCITA (art. 217º) – quando se deduz de factos que a revelam.
iv. DIVERGÊNCIA DA DECLARAÇÃO E DA VONTADE: o declarante não diz o que pretendia.
1. INTENCIONAL: é voluntária e portanto consciente e livre.
a. DECLARAÇÃO NÃO SÉRIA (art. 245º) - o declarante emite uma declaração que não coincide com a sua vontade
real, sem intenção de enganar terceiros, pois pensa que o destinatário se apercebe do carácter não sério da
declaração. (Ex. A declara a B vender-lhe um carro que vale 10 mil contos por 500 contos e B acredita, trata-se de
uma declaração não séria na medida em que A não tem intenção de vender por aquela valor. Mas se B levar a sério,
pode ser pedida indemnização.)
b. RESERVA MENTAL (art. 244º) - o declarante emite uma declaração que não coincide com a sua vontade real
sem conluio com o declaratário visando apenas enganar este. (Ex. A declara a B emprestar-lhe dinheiro quando não
tem essa vontade, pois a intenção foi dissuadir B de se suicidar.)
c. SIMULAÇÃO: quando os sujeitos concertam vontades para fingirem a celebração de um negócio, com a intenção
de enganar terceiros, o negócio simulado é nulo (240 n.º 2) qualquer interessado pode declarar a anulidade (286º).
Ver (245 e 245, n.º 2). Pode dividir-se em:
i. Simulação absoluta: quando se pratica um acto, cujos efeitos não se pretende. Ex. o falido para evitar perder
um bem, vende-o a terceiro sem receber o preço, combinado ainda que oportunamente lhe será devolvido. (as
partes não querem celebrar negócio nenhum). Sempre nulo.
ii. Simulação relativa: quando se pretende atingir um objectivo económico, sem ser pelo meio jurídico
adequado. Ex. Celebrar escritura pública da venda de um prédio, sem se receber o preço, pois o que pretendia era
doá-lo.
2. NÃO INTENCIONAL:
a. ERRO NA DECLARAÇÃO (art. 247º): quando o declarante emite uma declaração diferente da sua vontade real,
sem ter consciência de que o fez, ou seja, trata-se de um engano, um lapso ou um equívoco. (Ex. Quando o
declarante está equivocado sobre o nome de um objecto e dá-lhe uma outra denominação, correspondendo a um
outro objecto.) Efeitos: anulabilidade (287º e 289º)
b. COACÇÃO FÍSICA (art. 246): quando o declarante é transformado num autómato, sendo forçado a dizer ou
escrever o que não quer, sendo utilizada força física que o leva a adoptar um comportamento contra a sua vontade.
Negócio anulável com base em usura (282º)
v. VÍCOS DA VONTADE: podem acarretar a invalidade do contrato; implicam ausência de conhecimentos e/ou liberdade; o
declarante diz o que pretende dizer – há coincidência entre os elementos externos e internos.
1. ERRO:
a. ERRO VÍCIO (art. 246º) – é espontâneo, ou seja, o declarante engana-se.
i. FALTA DE CONSCIÊNCIA DA DECLARAÇÃO (art. 246º): quando o declarante emite uma declaração sem
ter consciência que emitiu uma declaração negocial, podendo mesmo faltar completamente a vontade de agir. (Ex.
Quando um sujeito entra numa sala onde está a decorrer um leilão e faz um gesto para cumprimentar uma amigo
e é entendido como interessado no lance.)
b. Dolos (art. 253º) – é provocado, os outros levam-no ao engano,
2. ESTADO DE NECESSIDADE: o medo leva a adoptar um comportamento contrário á sua vontade. (Ex. Um terceiro
ameaça matar um sujeito ou um dos seus filhos, caso este não pague o triplo do valor de um cheque que
emitiu e de que é portador). Negócio anulável com base em usura (282º)
3. COACÇÃO MORAL – sob receio ou ameaça de medo.
4. INCAPACIDADE ACIDENTAL – leva à anulabilidade,

C. OBJECTO POSSÍVEL (ART. 280º) – pode ser mediato e imediato;

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i. OBJECTO IMEDIATO - inclui os efeitos jurídicos a que o contrato tende.
ii. OBJECTO MEDIATO - consiste nas realidades sobre que incidem esses efeitos, i. é, nos bens e serviços a esses efeitos
se referem.
iii. CONDIÇÃO DA POSSIBILIDADE DO OBJECTO:
1. POSSIBILIDADE FÍSICA E LEGAL – significa que não deverá existir qualquer possibilidade material ou natural na
prossecução do fim – possibilidade física; nem tão pouco qualquer obstáculo legal insuperável como o que as leis da
natureza põem aos fenómenos fisicamente possíveis – possibilidade legal.
2. Ñ CONTRÁRIA À LEI OU À ORDEM PÚBLICA: conformidade com os bens costumes e têm de ser um objecto
determinado.

2. ELEMENTOS DO CONTRATO:

1. ELEMENTOS NATURAIS – decorrem das normas supletivas, i.e., as partes não têm de estipular qualquer clausula
para que se produza os efeitos negociais. Podem ser excluídos por estipulação legal. (ex. art. 885º/1030º)
2. ELEMENTOS ACIDENTAIS – tudo o que é convencionado pelas partes, logo decorrem da abdicação das normas
dispositivas – traduzem clausulas acessóricas dos negócios jurídicos. (ex. clausulas de juros, que estabelecem o tempo e
lugar de cumprimento da obrigação; condição; resolução; termo) (ex. art. 270º/278º/2244º).
3. INTERPRETAÇÃO DO CONTRATO (art. 236º) – Trata-se de um principio geral objectivista orientado na defesa e
protecção do declaratário, que confere à declaração o sentido mais razoável em face do comportamento do declarante e
não no sentido que este efectivamente lhe quis atribuir. Esta regra sofre, todavia, duas limitações: a primeira diz-nos que
o sentido objectivo da declaração só valerá se puder ser imputado ao declarante; e a segunda vem temperar o
objectivismo do princípio geral, estabelecendo que a declaração valerá de acordo com a vontade real do declarante,
sempre que o declaratário a conheça.
1. CORRENTE OBJECTIVISTA – pouco interessa o sentido que o declarante emite, interessa sim o sentido do
declaratário.
2. CORRENTE SUBJECTIVISTA – interessa o sentido que o declarante emite (ex. declarações testamentárias).
3. INTEGRAÇÃO (art. 239º) – um contrato pode ser lacunado, ou seja, pode nem toda a matéria estar convencionada;
quando assim acontece, temos de procurar o que é que as partes teriam convencionado (vontade presumível), salvo as
normas supletivas existentes. (ex. art. 888º).

4. ALGUMAS ESPÉCIES DE CONTRATOS:


i. CONTRATOS FORMAIS (ART. 219º) - os contratos em que o acordo de vontades deve revestir uma certa forma,
legalmente prescrita. (ex. art. 1143º/875º/947º/1239º/2204º)
ii. CONTRATOS NÃO FORMAIS - todos os outros contratos, aqueles em que os contraentes podem exteriorizar a sua
vontade como lhes aprouver, sem a exigência de qualquer formalismo
iii. CONTRATOS REAIS - contratos cuja validade se exige a transferência de posse de um contraente para o outro, do
objecto mediato do contrato. (ex. contrato mútuo) (ex. art. 1185º/1142º/1144º)
iv. CONTRATOS NÃO REAIS - aqueles que produzem efeitos independentemente da transferência de posse. (ex. compra e
venda)
v. CONTRATOS SINALAGMÁTICOS - emergem recíprocas obrigações para as duas partes. (ex. compra e venda,
arrendamento, empreitada); são plurilaterais ou bilaterais; em regra são onerosos.
vi. CONTRATOS NÃO SINALAGMÁTICOS – resultam obrigações só para uma das partes. (ex. doacção ou comodáto): são
unilaterais.
vii. CONTRATOS GRATUITOS – uma das partes proporcionam uma vantagem à outra, sem nenhuma contrapartida.
viii. CONTRATOS ONEROSOS – a vantagem patrimonial de cada um dos contraentes tem uma contrapartida na vantagem
proporcionada ao outro.
ix. CONTRATOS NOMINADOS/ TÍPICOS: aqueles que a lei expressamente prevê, regula. (ex. art.874º)
x. CONTRATOS ATÍPICOS/INOMINADOS (art. 405º): as partes criam e regulam fora dos esquemas e moldes legais, ao
abrigo do princípio da liberdade contratual ou autonomia da vontade.
xi. CONTRATOS MISTOS: resultam da fusão ou combinação de dois ou mais tipos contratuais, previstos na lei; a sua
disciplina, cumprimento, decorre entre dois ou + contratos nominados.
xii. CONTRATOS DE ADESÃO – o seu conteúdo é fixado antecipadamente e unilateralmente por uma das partes. (ex. gás,
luz, água,...)
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xiii. CONTRATOS NORMATIVOS – o seu conteúdo impõe como padrão ou modelo de futuros contratos, sendo as suas
disposições genéricas e portanto aplicáveis a uma generalidade de pessoas e não apenas aos outorgantes. (ex. contrato
de trabalho)
xiv. CONTRATO PROMESSA (art. 219º/410º,1/412º,1/412º,2/424º,1/415): convenção por via da qual as partes se
obrigam a no futuro celebrar entre si certo contrato que se denomina contrato definitivo. Se mortis causa, se entre vivos,
cessão de posição. Quanto á forma, não depende da observância de forma especial, e pacto aplicam-se.

G. REVOGAÇÃO (art. 448º/230º/235º) - é uma forma de extinção de um negócio jurídico, por manifestação de vontade, em
regra discricionária, do seu autor ou por acordo entre as partes (se se tratar de contrato).
i. Excepções (art. 1858º/1989º/2311º/2312º/2313º) - escapam à possibilidade de revogação.
ii. Efeitos - sem efeitos retroactivos - “ex nunc” (desde agora)

H. RESOLUÇÃO (art. 432º) - rescindir; é vinculada, equipara-se à nulidade ou anulabilidade.


i. Excepções (art.1047º)
ii. Forma (art. 436) - sem vínculo de forma
iii. Efeitos – tem efeitos retroactivos - “ex tunc” (desde então)

I. DENÚNCIA (art. 227º/239º/437º/762º,2) – é uma forma de extinção de contrato de execução duradoura e que não foi
estipulado prazo. A denúncia parte da comunicação de uma parte à outra de que não quer contrato.
i. Excepções (art. 68º/69º RAU) - contrato de arrendamento pois uma das condicionantes deste é a não
estipulação de prazo, e o contrato de arrendamento tem de estabelecer um prazo de durabilidade.
ii. Efeitos - sem efeitos retroactivos - “ex nunc” (desde agora)

J. CADUCIDADE (art. 1051º) - forma de extinção dos contratos que opera em consequência da verificação de um facto
jurídico “stricto sensu” a que a lei ou a vontade das partes atribuem esse efeito extintivo.
i. Excepções (art. 139º/141º) - o contrato de trabalho a termo, findo o prazo torna-se contrato de trabalho
sem termo.
ii. Forma (art. 1141º/1621º/1716º/1760º/1766º/2317º) - os contratos também caducam quando a lei
manda, ou seja, não opera por um facto jurídico voluntário, mas sim em função das que estipularem ou que a
própria lei atribua esse efeito. (ex. convenção antenupcial, comodáto, testamento).

1) CONTRATO PROMESSA:
1. TERRENO – valor 50000€; sinal 3000€;
a. Comprador desfaz negócio / Vendedor aceita –> comprador devolve o sinal; contrato fica resolvido.
b. Comprador desfaz negócio / Vendedor ñ aceita (art. 442º,2) –> o comprador perde o sinal; ao abrigo do art.
410º,3, pode ser afastada a execução específica pode ser afastada, apenas se o comprador provar que o sinal ñ
convenciona o afastamento da execução específica.
c. Vendedor pretende 70000€ (art. 442º,2) –> o comprador pode pedir o sinal em dobro, pode requerer a
execução específica (art. 830º,1) desde que prove que o sinal ñ afasta a execução específica; Pode pedir a exigência
do valor acordado e o oferecido, + o sinal, se tiver havido a tradição da coisa (art. 442º,2).
2. AUTOMÓVEL
a. Promessa de venda –> valor 25000€; sinal 5000€;
i. Clausula do Contrato –> 1000€ por cada mês de atraso;
ii. Comprador reclama –> sinal em dobro; + 2000€ pelos danos causados –> (art.442º,4) o vendedor não tem
que pagar os 2000€, apenas teria de pagar 10000€ (sinal em dobro).
3. CONTRATO DE PROMESSA –> A compromete-se ceifar os cereais de B; valor 10000€; sinal 2000€ a A;
i. Ñ há ceifa por parte de A –> quando não estamos perante um contrato de compra e venda temos de
especificar a existência de Principio de Pagamento, sendo que nos contratos de Compra e Venda, propriamente
ditos, presume-se que estejamos face à existência de sinal. Se nada for especificado, o A não tem de devolver o
sinal ou o Principio de Pagamento a B
4. VENDA DE BEM FUTURO –> A vende a B coisa de C –> sim, art.893º, mas as partes têm de conceder um carácter
de bens futuros sob pena do negócio ser nulo (art. 892º)
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5. CONTRATO DE ARRENDAMENTO PODE CONTAR DE ESCRITURA PÚBLICA (art. 220º) –> pode, apesar e
segundo o art. 220º, o negócio fosse nulo, o 364º dá a possibilidade de efectuar tal negócio. Pois a lei que permite
mais permite menos.

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