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v.8, n.

2 – Julho/Setembro 2015
ISSN 1983-3687
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INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS - MG


DIRETORIA DE PESQUISA E PROTEÇÃO À BIODIVERSIDADE
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- Avifauna de Floresta em Monte Verde

- O mosaico vegetacional em Monte Verde

- Dicksonia sellowiana Hook. (xaxim)


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MG. BIOTA Belo Horizonte v. 8, n. 2 jul./set. 2015


SUMÁRIO

Editorial ............................................................................................................................................ 03

O mosaico vegetacional em Monte Verde, APA Fernão Dias, MG

Kelly de Almeida Silva, Júnia Maria Lousada, Camila Bauchspiess, Lucas de Siqueira Cardinelli, Sebastião
Venâncio Martins ....................................................................................................................................... 04

Avifauna em um fragmento da oresta

Graziele Hernandes Volpato, Sebastião Venâncio Martins........................................................................... 23

Em Destaque:
Dicksonia sellowiana Hook

Lucas de Siqueira Cardineli, Júnia Maria Lousada, Camila Bauchspiess, Kellyde Almeida Silva, Sebastião
Venâncio Martins ............................................................................................................................. 41

2 MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015


EDITORIAL

Esta edição do MG.Biota reúne artigos sobre a fauna e a ora encontradas na região
de Monte Verde, distrito do município de Camanducaia, inseridos na Área de Proteção
Ambiental (APA) Fernão Dias, localizado no Sul do Estado. Os estudos trazem detalhes das
diferentes formações vegetais encontradas na região, bem como sobre a avifauna.
Monte Verde e toda a região de Camanducaia possuem imensa importância biológica
devido à presença de remanescentes de vegetação nativa e de espécies da fauna e da
ora, que são raros, ameaçados de extinção e endêmicos. A APA Fernão Dias foi criada em
1997, pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) de Minas Gerais, com intuito de proteger
toda esta riqueza e as bacias hidrográcas da região, importantes para o abastecimento de
água de cidades de Minas Gerais e São Paulo, entre outros.
Abrindo a edição, pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV) detalham
o mosaico vegetacional encontrado na região de Monte Verde. A área está inserida na
Serra da Mantiqueira e no domínio da Mata Atlântica. As variações no relevo e pluviosidade
ampliam o número de paisagens e espécies encontradas.
Outro trabalho desenvolvido em Monte Verde, também por pesquisadores da UFV,
estuda a avifauna encontrada num fragmento de Floresta com Araucária, típica da Mata
Atlântica. A pesquisa aborda a relação entre as árvores e as aves e a importância de um e
de outro para a sobrevivência do todo.
O Em Destaque da edição é um artigo sobre o xaxim, Dicksonia sellowiana Hook,
samambaia arbórea encontrada nas orestas do Brasil, ocorrendo nas regiões Sul e
Sudeste. A espécie está em perigo de extinção e é alvo de atenção para sua conservação
e restauração.
Os trabalhos reunidos no MG.Biota buscam difundir os resultados sobre os estudos
cientícos em curso em todo o Estado para conhecer melhor a biodiversidade mineira. Isso
estimula as pessoas e organizações e possibilita o sucesso de ações em prol da natureza.

Janaína Aparecida Batista Aguiar


Gerente de Projetos e Pesquisas – IEF

MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015 3


O mosaico vegetacional em Monte Verde, APA Fernão Dias, MG

Kelly de Almeida Silva1, Junia Maria Lousada2, Camila Bauchspiess³, Lucas de Siqueira
Cardinelli4, Sebastião Venâncio Martins5

Resumo

A APA Fernão Dias encontra-se em uma região prioritária para conservação da biodiversidade de Minas
Gerais, na Serra da Mantiqueira, domínio da Mata Atlântica. A região é composta por um rico mosaico
vegetacional. O objetivo deste estudo foi realizar uma caracterização tosionômica desse mosaico, no distrito
de Monte Verde, inserido na APA Fernão Dias. Realizou-se visitas de campo e posteriormente levantamento
bibliográco de trabalhos orísticos da região. As principais tosionomias encontradas no mosaico foram
Campo de Altitude e de Altitude em aoramento rochoso, Floresta Ombróla Mista Alto-montana e Floresta
Ombróla Densa Alto-montana. Devido à elevada importância da região para a conservação da biodiversidade
e para o abastecimento de água em escala regional, destaca-se que foram escassos os estudos orísticos
encontrados.

Palavras chave: Mata Atlântica, tosionomia, Serra da Mantiqueira, Unidade de Conservação.

Abstract

APA Fernão Dias lies in an important region to biodiversity conservation of Minas Gerais, in Mantiqueira Range,
inserted in Atlantic Forest domain. The region is formed by a rich vegetation mosaic. The aim of this study is
to perform a phytophysiognomical charcacterization of the vegetation mosaic, in the district of Monte Verde,
which is inserted in the APA Fernão Dias. Field trip was held and bibliographical works of previous oristic
studies of the region were carried out. The main phytophysiognomies found were Campo de Altitude and
Altitude rocky outcrops, Floresta Ombróla Mista Alto-montana and Floresta Ombróla Densa Alto-montana.
Floristic studies of the region were quite scarce despite its great importance to biodiversity conservation and
water supply in regional scale.

Keywords: Mata Atlântica, phytophysionomy, Mantiqueira Range, Conservation Unit.

1
Engenheira Florestal, Doutoranda em Ciência Florestal, LARF – Laboratório de Restauração Florestal, UFV - Universidade Federal de
Viçosa,CEP
Viçosa, CEP36570-900,
36570-900,Viçosa,
Viçosa,MG.
MG.
2
Bióloga, Doutoranda em Biologia Vegetal, LARF, UFV, CEP 36570-900, Viçosa, MG.
3
Engenheira Florestal, Mestranda em Ciência Florestal, LARF, UFV, CEP 36570-900, Viçosa, MG.
4
Engenheiro Florestal, Mestrando em Biologia Vegetal, LARF, UFV, CEP 36570-900, Viçosa, MG.
5
Engenheiro Florestal, Dr. Professor do Departamento de Engenharia Florestal, LARF, UFV, CEP 36570-900, Viçosa, MG. Email:
venancio@ufv.br
venancio@ufv.br

4 MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015


Introdução de rios da região, importantes para o
abastecimento de cidades de Minas Gerais
Monte Verde é um distrito do município e São Paulo, entre outros (IEF, 2008).
de Camanducaia localizado no sul de Minas A Mata Atlântica apresenta grandes
Gerais e situado na extensão mais a oeste variações no relevo, na pluviosidade e nas
da porção sul da Serra da Mantiqueira, um unidades togeográcas, formando um mosaico
dos maiores conjuntos montanhosos da vegetacional de elevada biodiversidade
região Sudeste do Brasil (SIQUEIRA, 2006). (MITTERMEIER et al., 2004; OLIVEIRA-FILHO
A Serra da Mantiqueira na porção mineira & FONTES, 2000). O mosaico vegetacional é
corresponde a 20% dos remanescentes de formado tanto pela inuência do clima quanto do
Mata Atlântica no estado, além de abrigar solo (RIZZINI, 1997). As discussões acerca dos
mais da metade da fauna ameaçada de limites geográcos da Mata Atlântica e de quais
extinção de Minas Gerais (IEF, 2008). tosionomias compõe o domínio ainda não
A região de Camanducaia, MG, foi alcançaram um consenso sobre o tema, mas
indicada como de importância biológica propostas embasadas em estudos orísticos e
especial devido à elevada riqueza de estruturais continuam avançando nesse sentido
espécies da fauna e ora apresentando várias (RIBEIRO et al., 2009; OLIVEIRA et al., 2006;
espécies raras, ameaçadas e endêmicas de OLIVEIRA-FILHO & FONTES, 2000).
plantas, mamíferos, aves e anfíbios; devido Em termos de origem da ora que
à presença de signicativos remanescentes compõe atualmente parte da região sudeste,
de vegetação nativa com alto grau de destaca-se a Serra da Mantiqueira, que
conectividade e a beleza paisagística, abriga refúgios isolados da antiga “Floresta
sendo incluída como área prioritária para de Coniferales” (Araucaria-Podocarpus) e
conservação da biodiversidade do Estado também outros refúgios mais numerosos da
de Minas Gerais (COSTA et al., 1998; ora das angiospermas (IBGE, 2012).
DRUMMOND et al., 2005). Atualmente são reconhecidas
Juntamente com outros sete municípios legalmente como parte da Mata Atlântica
Camanducaia faz parte da Área de Proteção as tosionomias Floresta Ombróla
Ambiental (APA) Fernão Dias (FIG. 1), Densa, Mista e Aberta, Floresta Estacional
unidade de conservação de uso sustentável Semidecidual e Decidual, Campos de
criada em 1997, pelo Instituto Estadual de Altitude, manguezais, restingas, brejos
Florestas (IEF) de Minas Gerais. A criação interioranos e encraves orestais do
da APA visa proteger os remanescentes da Nordeste (BRASIL, 2006).
Mata Atlântica e a fauna silvestre, fortalecer Neste contexto, o presente estudo teve como
o corredor ecológico da Mantiqueira, objetivo realizar a caracterização tosionômica
ordenar o turismo e a agricultura na região do mosaico vegetacional existente no distrito
de forma sustentável, promover a educação de Monte Verde, MG, pertencente à Área de
ambiental, proteger as bacias hidrográcas Proteção Ambiental Fernão Dias.
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FIGURA 1 - Localização e abrangência dos municípios da APA Fernão Dias, MG.
Fonte: Moretti, 2011.

Material e métodos A elevada altitude caracteriza o clima


subtropical de altitude ou temperado chuvoso
Área de estudo (Cwb) de acordo com a classicação de
Köppen com verão fresco (AYOADE, 1998).
O presente estudo foi realizado As temperaturas variam entre 14ºC e 19ºC,
no distrito de Monte Verde, município podendo atingir, no inverno, temperaturas
de Camanducaia, MG. O distrito está mínimas absolutas inferiores a 4ºC (DER/
localizado nas coordenadas geográcas MG, 1998) e com frequência temperaturas
22°51’ S e 46°02’ W e apresenta cotas negativas e fortes geadas. Os pluviômetros
altitudinais que variam de 1550 m a 2082 da estação meteorológica local registram
m (MEIRELES et al., 2008). médias anuais de chuvas superiores a 1500
Com relação ao relevo, Monte Verde mm, podendo chegar até 2500 mm nas cotas
enquadra-se em um setor planáltico altitudinais mais elevadas (NIMER, 1989).
elevado e maturamente dissecado,
circundado por regiões serranas formadas Caracterização do mosaico vegetacional
por embasamento de rochas graníticas e
granitóides indiferenciadas (SIQUEIRA, Em julho de 2014 foram realizadas visitas
de campo para vericar quais tosionomias
2006). O município de Camanducaia
compunham o mosaico vegetacional no
apresenta as seguintes classes de solo:
distrito de Monte Verde. Posteriormente às
Cambissolo Háplico distróco, Latossolo visitas, realizou-se pesquisa bibliográca
Vermelho-Amarelo distróco e Argissolo para levantar trabalhos de orística e
Vermelho-Amarelo distróco (IEF, 2008). tossociologia realizados na região.
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Análise de solo Os valores encontrados foram
interpretados de acordo com as referências
Para a análise química dos solos foram propostas para análises de solos de Alvarez
coletadas amostras compostas de solo nas et al. (1999).
diferentes tosionomias, na profundidade
Resultados e discussão
de 0-10 cm, na cota altitudinal de 1600 m
em duas tosionomias distintas, Campo de
Caracterização do mosaico vegetacional
Altitude graminoso e Floresta Ombróla Mista,
e na altitude de 1800 m na tosionomia de A variação da altitude, temperatura e tipos
Floresta Ombróla Densa. As amostras foram de solo constituem os fatores determinantes
encaminhadas ao Departamento de Solos da da ocorrência das diferentes tosionomias.
Universidade Federal de Viçosa, MG, para Essa variação pode ocorrer em uma escala
vericar composições químicas conforme espacial muito pequena, determinando a
recomendações da Embrapa (1997). distribuição desses tipos vegetacionais em
Foram analisados pH em água, P e um mosaico complexo (SCHAEFER et al.,
K disponíveis (extrator Mehlich 1), Ca2+, 2012), como o observado em Monte Verde
Mg2+ e Al3+ trocáveis (extrator KCl - 1 (FIG. 2), composto por:
mol/L), H + Al (extrator acetato e cálcio 0,5  Campo de Altitude;
ml/L - pH 7,0), soma de bases trocáveis (SB),  Floresta Ombróla Mista Alto-
capacidade de troca catiônica efetiva (t), montana;
capacidade de troca catiônica a pH 7,0 (T),  Floresta Ombróla Densa Alto-
Índice de saturação por bases (V), Índice de montana;
saturação por alumínio (m), matéria orgânica  Campo de Altitude em aoramento
(MO) e fósforo remanescente (P-REM). rochoso.
Foto: Martins, S.

FIGURA 2 - Mosaico vegetacional


em Monte Verde, MG.
Gradiente Campo de
Altitude e Floresta
Ombróla Mista Alto-
montana em primeiro
plano, nas cotas mais
baixas; Floresta Ombróla
Densa Alto-montana nas
encostas e Campo de
Altitude em Aoramentos
Rochosos nos cumes dos
picos.
MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015 7
Floresta Ombróla Mista Nectandra) (IVANAUSKAS & ASSIS,
2012).
A Floresta Ombrófila Mista tem o Caracteriza-se também pela grande
pinheiro brasileiro Araucaria angustifolia densidade de Podocarpus lambertii,
(Bertol.) Kuntze como seu principal Araucaria angustifolia, presença de espécies
elemento, sendo também conhecida como das famílias Lauraceae e Myrtaceae e um
Mata de Araucária ou Pinheiral (VELOSO número signicativo de epítas, lianas,
et al., 1991; HERRMANN, 2008). O termo líquens e musgos. Nas baixadas mais
“ombrófila”, de origem grega, significa úmidas e áreas ciliares, há adensamento de
“amigo das chuvas” (VELOSO, 1992) e a indivíduos de Podocarpus, com seu maior
denominação “mista” refere-se à presença porte, e nos locais sombrios das baixadas
de gimnospermas (Araucaria angustifolia úmidas, são encontrados agrupamentos
e Podocarpus lambertii Klotzch ex Endl.) de pteridótas, formados por Blechnum
consorciadas com angiospermas (gêneros brasiliense Desv. e Dicksonia sellowiana
como Drymis, Ocotea, Cryptocarya e Hook. (SEIBERT et al., 1975) (FIG. 3).

Foto: Bauchspiess, C.

FIGURA 3 - Floresta Ombróla Mista Alto-montana em Monte Verde, MG.

É um tipo de vegetação associada é baixa, como nas porções elevadas das


à elevada umidade e temperaturas serras do Mar e Mantiqueira. Essa última
baixas, com maior frequência no Planalto sendo o local de origem da dispersão
Meridional, área considerada como o seu de A. angustifolia que se expandiu para
atual “clímax climático”. Contudo, essa o Planalto Meridional via Bacia do Rio
oresta apresenta disjunções orísticas em Paraná (IBGE, 2012). Outros gêneros
pontos isolados onde a temperatura média primitivos, como Podocarpus e Drymis,
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FIGURA 4 - Perl esquemático das formações que compõe a Floresta Ombróla Mista (Mata de Araucária).
Fonte: Veloso et al., 1991.

também colonizaram o Planalto Meridional coníferas são frequentemente utilizadas


a partir dos refúgios alto-montanos do como indicadoras de paleoclimas
Escudo Atlântico (IBGE, 2012; VELOSO et (SIQUEIRA, 2006).
al., 1991). O clima temperado e a sazonalidade
Em nível de Brasil, a Floresta Ombróla da temperatura, com incidência de geadas
Mista apresenta quatro formações em trechos de elevadas altitudes da Serra
distintas: Aluvial, em terraços antigos ao da Mantiqueira, permitem a ocorrência
longo da rede hidrográca; Submontana dessas espécies características da
até 400 m de altitude; Montana, de 400 a Floresta Ombrófila Mista, comuns em
1000 m de altitude; Alto-montana situada Campos do Jordão e Monte Verde e
a mais de 1000 m de altitude (FIG. 4) que também ocorrem na região Sul
(VELOSO et al., 1991) do Brasil. Associadas às espécies
No distrito de Monte Verde a oresta características do dossel, espécies
está localizada em altitudes em torno latifoliadas de Lauraceae e Myrtaceae,
de 1550 e 1650 m, em áreas mais foram amostradas tanto como árvores
planas e associadas aos cursos d’água de grande porte quanto como arvoretas
(MEIRELES, 2003). No Parque Estadual no sub-bosque. Espécie que merece
de Campos do Jordão (SP) a Floresta destaque devido à sua importância para
Ombróla Mista Alto-montana apresenta a conservação é Dicksonia sellowiana, o
composição orística com dominância da xaxim, samambaia arborescente típica
Araucaria angustifolia que sobressai no do sub-bosque desta floresta (SOUZA
dossel da oresta e também ocorre no et al., 2012), que juntamente com a A.
estrato dominado, porém associada com angustifolia são categorizadas como
Podocarpus lambertii, Drimys brasiliensis “Em Perigo” na Lista Nacional Oficial
Miers (Winteraceae), Cedrela ssilis Vell. de Espécies da Flora Ameaçadas de
(Meliaceae) e espécies de Lauraceae e Extinção (BRASIL, 2014).
Myrtaceae (VELOSO et al. 1991). Atualmente, com a retração de sua zona
Esta formação é considerada muito de abrangência, restaram alguns pontos
sensível às variações climáticas e suas isolados onde o clima frio ainda persiste.
MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015 9
Entre eles, a Serra da Mantiqueira, onde se Cabe destacar que devido à restrição
localiza a APA Fernão Dias. Nela a Floresta ao corte pela legislação vigente, extensas
Ombróla Mista ocorre de duas formas: orestas plantadas de Araucária no distrito de
orestas naturais e orestas plantadas. Monte Verde estão aos poucos transformando-
As orestas com Araucária predominam se em orestas restauradas, com abundante
nas regiões da Serra da Bocaina, da sub-bosque e regeneração natural da própria
fazenda Boa Vista e entre Monte Verde Araucária (FIG. 6A) e de D. sellowiana,
e Gonçalves, onde ocorrem ao longo de igualmente ameaçada (FIG. 6B) e de P.
margens de cursos d’água e em extensos lambertii (FIG. 6C) representativa da Floresta
plantios (IEF, 2008). Ombróla Mista o que aumenta a importância
A região de Monte Verde contém um ecológica do distrito. Esta situação corrobora
dos grandes remanescentes da primitiva com estudos que indicam que o reorestamento
Floresta com Araucária na Serra da homogêneo com A. angustifolia pode atuar
como oresta catalizadora de regeneração
Mantiqueira, onde é possível encontrar
natural na Serra da Mantiqueira, como
um dos maiores exemplares da espécie A.
constatado no Horto de Campos do Jordão, SP
angustifolia (FIG. 5) localmente conhecido
(RIBEIRO et al., 2012).
como “Pinheiro-Velho”, apresentando 32 m
de altura e 4,70 m de CAP (circunferência
na altura do peito a 1,30 m do solo) ou 1,50
m de DAP (diâmetro na altura do peito).

FIGURA 6 - Regeneração natural da Floresta Ombróla Mista


Alto-montana em Monte Verde, MG.
FIGURA 5 - “Pinheiro-Velho”, maior exemplar da espécie Araucaria A) Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze
angustifolia (Bertol.) Kuntze. na Floresta Ombróla B) Dicksonia sellowiana Hooker.
Mista em Monte Verde, MG. C) Podocarpus lambertii Klotzch ex Endl.

10 MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015


BB

Fotos: Bauchspiess, C.

MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015 11


Estudo realizado por Siqueira (2006), o Calibrachoa linoides (Sendtn.) Wijsman,
qual visou reconstruir a história ambiental da Croton pallidulus Baill., Drimys brasiliensis
oresta com Araucária, na região de Monte Miers, Dalbergia frutescens (Vell.) Britton,
Verde (MG) utilizou-se da palinologia para o Daphnopsis fasciculata (Meisn.) Nevling,
estudo dos grãos de pólen das angiospermas Fuchsia regia (Vell.) Munz, Hatiora
e gimnospermas presentes na área. Algumas salicornioides (Haw.) Britton & Rose,
famílias e gêneros identicados foram: Ilex paraguariensis A. St. Hil., Jacaranda
Anacardiaceae (Anacardium), Apocynaceae puberula Cham., Maytenus evonymoides
(Aspidosperma), Aquifoliaceae (Ilex), Reissek, Mikania hemisphaerica Sch.
Araucariaceae (Araucaria), Arecaceae Bip. ex Baker., Myrcia retorta Cambess.,
(Acrocomia, Allagoptera, Euterpe, Syagrus), Nectandra barbellata Coe-Teix., Ocotea
Begoniaceae (Begonia), Bignoniaceae puberula (Rich.) Nees, Plantago tomentosa
(Jacaranda, Tabebuia), Boraginaceae Lam., Podocarpus lambertii Klotzch ex
(Cordia), Celastraceae (Maytenus), Endl.,Polygonum acuminatum Kunth,
Cunoniaceae (Weinmannia), Dicksoniaceae Psychotria brachypoda (Müll.Arg.) Britton,
(Dicksonia), Euphorbiaceae (Alchornea, Rhamnus sphaerosperma Sw., Rhipsalis
Croton), Fabaceae (Myrocarpus), Lauraceae, occosa Salm-Dyck ex Pfeiff., Rudgea
Melastomataceae (Miconia), Primulaceae jasminoides (Cham.) Müll.Arg., Rudgea
(Myrsine), Myrtaceae (Eugenia, Myrcia, sessilis (Vell.) Müll.Arg., Schinus polygamus
Psidium), Podocarpaceae (Podocarpus), (Cav.) Cabrera, Sinningia douglasii
(Lindl.) Chautems, Solanum inodorum
Rhamnaceae (Gouania, Scutia), Rosaceae
Vell., Solanum granulosoleprosum Dunal,
(Fragaria, Prunus), Rubiaceae (Borreria),
Symplocos uniora (Pohl) Benth., Tillandsia
Sapindaceae (Matayba), Sapotaceae
stricta Sol., Vernonanthura divaricata
(Pouteria), Symplocaceae (Symplocos),
(Spreng.) H.Rob., Vriesea pardalina Mez,
Winteraceae (Drymis).
Zanthoxylum rhoifolium Lam.
Em um levantamento orístico realizado
por Meireles (2003) nas sionomias
Floresta Ombróla Densa
da Floresta com Araucária em Monte
Verde foram encontradas 77 espécies A Floresta Ombrófila Densa está
distribuídas em 36 famílias e 62 gêneros. relacionada a fatores climáticos tropicais
Destas espécies, 36 eram arbóreas, 11 de elevadas temperaturas e alta
arbustos, oito subarbustos, nove ervas, pluviosidade bem distribuída ao longo
três lianas e 10 epítas. Algumas das do ano (IBGE, 2012; IVANAUSKAS &
espécies coletadas foram: Alatiglossum ASSIS, 2012). Sua vegetação se mostra
cogniaxianum (Schltr.) Baptista, Annona em equilíbrio com o clima regional
emarginata Schltdl., Araucaria angustifolia condicionando a vegetação presente nas
(Bertol.) Kuntze, Aegiphila obducta Vell., regiões de sua ocorrência. A presença
Azara uruguayensis (Speg.) Sleumer, de fanerófitos (macro e mesofanerófitos),
12 MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015
assim como lianas lenhosas e epífitas em Alto-montana, acima de 1500 m; Montana,
abundância, são características desta de 500 m a 1500 m; Submontana de 50
fitofisionomia (IBGE, 2012). m a 500 m; Terras baixas de 5 m a 50 m e
Em nível de Brasil, a Floresta Ombróla Aluvial ao longo dos úvios (FIG. 7) (IBGE,
Densa é subdividida em cinco formações 2012; IVANAUSKAS & ASSIS, 2012), com
com diferentes sionomias condicionadas ocorrência na região de Monte Verde da
pelas variações de suas faixas altimétricas: Floresta Ombróla Densa Alto-montana.

FIGURA 7 - Perl esquemático das formações que compõe a Floresta Ombróla Densa.
Fonte: Veloso et al., 1991.

A Floresta Ombróla Densa Alto- de espécies arbustivas ou arbóreas baixas,


montana possui sionomia característica isoladas ou em grupos (IVANAUSKAS &ASSIS,
que a distingue das demais formações 2012), e a sua localização sobre Neossolos
(Montana, Submontana, Terras baixas e Litólicos, solos rasos, apresentando também
Aluvial), como a existência de neblina (FIG. acumulações turfosas nas depressões onde
8) em quase todos os dias do ano, presença está a oresta (IBGE, 2012).

Foto: Almeida, K.

FIGURA 8 - Floresta Ombróla Densa Alto-montana, em Monte Verde, MG. Destaque para a presença de neblina,
à esquerda.

MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015 13


Esse tipo vegetacional, também biologicamente seco durante o ano, com
chamado de Floresta Nebular (POMPEU et limitação do crescimento em altura de
al., 2010) ou Mata Nebular (IBGE, 2012), espécies arbóreas (REDEMAP, 2007). É
possui um alto endemismo de espécies característica da Floresta Ombróla Densa
vegetais devido às pressões seletivas a presença de fanerótos, lianas lenhosas
exclusivas (SCHEER & MOCOCHINSKI, e epítas em grande quantidade (IBGE,
2009), clima úmido, sem período 2012) (FIG. 9).

Foto: Martins, S.
FIGURA 9 - Floresta Ombróla Densa Alto-montana, em Monte Verde, MG.
Destaque para a presença de espécies epítas.

Um estudo realizado em Monte Verde se mostraram exclusivas das menores cotas


por Meireles et al. (2008) avaliou as variações altitudinais (1820 – 1840 m) como Myrceugenia
na composição orística e na estrutura myrcioides e Myrceugenia scutellata D.
tossociológica da formação Floresta Ombróla Legrand, assim como Aureliana fasciculata
Densa Alto-montana, obtendo como espécies (Vell.) Sendtn., Citronella paniculata (Mart.) R.
de maior valor de importância Pimenta A. Howard e Myrsine gardneriana A.DC. que
pseudocaryophyllus (Gomes) Landrum, Roupala ocorreram preferencialmente próximas ao
rhombifolia Mart. ex Meisn., Drimys brasiliensis, curso d’água. Já nas altitudes maiores (1920
Miconia cinerascens Miq., Myrceugenia – 1940 m) as espécies Chusquea leptophylla
myrcioides (Cambess.) O.Berg, Myrceugenia Nees, Chusquea aff. meyeriana Rupr. ex Döll,
brevipedicellata (Burret) D. Legrand & Kausel. Eugenia involucrata DC. e Roupala rhombifolia,
Algumas espécies levantadas nesse estudo apresentaram-se restritas.
14 MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015
Nas altitudes maiores de Monte Verde autor (Campos Rupestres, Campos de
(acima de 1940 m) as espécies arbóreas Altitude, Campos Quartizíticos, Campos
apresentam altura máxima menor em relação Altimontanos, Campos Alpinos, Refúgios
às altitudes menores (1820 m), podendo Vegetacionais Altomontanos entre outros).
estar relacionado à maior exposição ao vento Benites et al. (2003) adotaram o termo
e ocorrência de formação de neblina nessas sugerido por Semir (1991) de “Complexos
maiores altitudes (MEIRELES et al., 2008). Rupestres de Granito”, que ocorrem na Serra
A importância orística das famílias da Mantiqueira e na Serra do Mar, ambas
Myrtaceae, Lauraceae, Winteraceae, no domínio da Mata Atlântica e “Complexos
Proteaceae, Melastomataceae, Monimiaceae, Rupestres de Quartzito” que são encontrados
Cunoniaceae e Asteraceae, para orestas em ao longo da Cadeia do Espinhaço, Chapada
altitudes elevadas na Serra da Mantiqueira dos Veadeiros, Chapada dos Guimarães, no
são observadas nos estudos de França & norte de Roraima e em locais isolados de
Stehmann (2004), Meireles et al. (2008) e quartzito como na Serra da Canastra e no
Pompeu et al. (2010), com exceção da família Ibitipoca. Esse segundo complexo rupestre
Monimiaceae neste último. está geralmente associado ao Domínio do
Neste contexto, a preservação desta Cerrado, mas ocorrem também associados
tosionomia é de extrema relevância devido à Caatinga e à Mata Atlântica (Floresta
as suas características intrínsecas relatadas. Estacional Semidecidual).
O grande número de espécies vegetais Porém, de acordo com Vasconcelos
endêmicas (SCHEER & MOCOCHINSKI, (2011), os termos mais utilizados pelos
2009), a sucessão vegetacional mais lenta botânicos e togeógrafos são os que
dessas orestas de altitude (SANTANA, foram propostos por Ferri (1980), “Campos
2010), a grande quantidade de nascentes, de Altitude” (se referindo aos campos de
aliados aos poucos estudos sobre esta rochas ígneas ou metamórcas, como
formação no sudeste brasileiro, em especial o granito) e “Campos Rupestres” (se
na região da Serra da Mantiqueira (FRANÇA referindo aos campos quartzíticos).
& STEHMANN, 2004; CARVALHO et al., Em ambos complexos rupestres as
2005; MEIRELES et al., 2008), destacam características do solo são semelhantes,
ainda mais a importância da preservação da sendo solos rasos, pobres em nutrientes,
Floresta Ombróla Densa Alto-montana. matizes amarelados, textura arenosa,
elevados teores de alumínio trocável e
Campos de Altitude a cor escura nos horizontes superciais
devido ao acúmulo de matéria orgânica.
A nomenclatura usada para a No entanto, os Campos de Altitude
vegetação que ocorre nos complexos apresentam solos um pouco mais
rupestres apresenta algumas variações profundos e com maiores teores de matéria
de acordo com a proposição de cada orgânica (BENITES et al., 2003).
MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015 15
Tanto no Campo Rupestre como no e mesmo de levantamentos orísticos e
Campo de Altitude observa-se a formação faunísticos realizados nessa tosionomia.
de um mosaico vegetacional que varia Padrões biogeográcos da ora
de sionomia aberta, com predomínio de e composição de espécies sobre os
herbáceas, à sionomia com presença de aoramentos rochosos do Planalto do
arbustos e pequenas árvores; com ou sem Itatiaia, na Serra da Mantiqueira, com
aoramentos rochosos (VASCONCELOS, enfoque na ora que se distribui em ilhas
2011). Os Campos de Altitude ocorrem vegetacionais foram estudados por Ribeiro
em geral acima de 1500 m de altitude et al. (2007). As famílias dominantes
(VASCONCELOS, 2011) e sua ora neste estudo foram Asteraceae e
apresenta expressiva similaridade com a Poaceae, seguidas de Melastomataceae,
ora da região andino-patagônica e com Cyperaceae, Orchidaceae e Rubiaceae,
as serras do sul do Brasil (SAFFORD, em contraste com outros estudos em
1999; VASCONCELOS, 2011). Nesse aoramentos rochosos cuja riqueza
contexto, ressalta-se que as comunidades de Orchidaceae e Bromeliaceae são
ocorrentes acima de 1800 m e cuja elevadas. Espécies xerótas e hidrótas
vegetação difere em aspectos orísticos habitam concomitante as ilhas de
e sionômicos da vegetação dominante, vegetação destes campos demonstrando
como por exemplo nos Campos de a forte heterogeneidade ambiental em
Altitude, constituem os chamados refúgios pequena escala. Quanto às formas de
ecológicos. Normalmente esses refúgios vida predominaram as hemicriptótas,
estão sob condições muito sensíveis enquanto as geótas foram raras, mas são
aos distúrbios, possuem características espécies oportunistas típicas de distúrbios
especícas e vegetação reliquiária, (RIBEIRO et al., 2007).
como comumente encontradas em áreas Em outro estudo com Campos de
turfosas e nos cumes litólicos das serras Altitude no Parque Estadual da Serra do
(IBGE, 2012). Brigadeiro, extremo Norte da Serra da
Embora os Campos de Altitude estejam Mantiqueira foi encontrada maior riqueza
localizados em uma região reconhecida de espécies em Orchidaceae e Asteraceae,
internacionalmente por possuir elevada e hemicriptótas (CAIAFA & SILVA, 2005).
diversidade e endemismo de espécies Porém, para a região de Monte Verde
(leste do Brasil), apresentar evidências de nenhum trabalho publicado foi encontrado
conexão entre as oras andina e brasileira para a referida tosionomia.
e pelo papel das mudanças climáticas A importância de se estudar e
do Pleistoceno em denir a fauna e ora conservar os Campos de Altitude da Serra
moderna nas montanhas brasileiras da Mantiqueira (FIG. 10A e 10B) relaciona-
(SAFFORD, 1999), ainda hoje são poucos se ao valor ecológico como refúgios de
os trabalhos de ecologia, togeograa espécies endêmicas e ameaçadas da ora
16 MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015
e da fauna e também pela sua relevância pesquisa o tema sobre a biodiversidade
no sistema de captação de água para os nas montanhas brasileiras.
recursos hídricos (SAFFORD, 1999), uma
vez que a origem de muitos riachos e rios Análises dos solos
está associada às nascentes encontradas
nessa vegetação campestre. Além disso, Os resultados das análises químicas
o mosaico Campo de Altitude/Floresta dos solos das diferentes tosionomias
com Araucária é importante para a própria estão apresentados na Tabela 1. Verica-
“movimentação” dinâmica da araucária se que os solos das três tosionomias
nesta paisagem. Nesse sentido, Martinelli do mosaico vegetacional de Monde Verde
(2007) discute a importância de incluir apresentam baixa fertilidade (distrócos) e
nas agendas nacionais de conservação e elevada acidez (ALVAREZ et al., 1999).

Foto: Martins, S.

A B

FIGURA 10 - Campos de Altitude em Monte Verde, MG.


A) Campo de Altitude em aoramento rochoso.
B) Campo de Altitude

MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015 17


TABELA 1

Características químicas de amostras de solo (0-10 cm de profundidade) coletadas em três fitofisionomias


(Fitof.) distintas, Campo de Altitude (CA), Floresta Ombrófila Mista Alto-montana (FOM) e Floresta Ombrófila
Densa Alto-montana (FOD), no distrito de Monte Verde, MG

pH P K Al3+ Ca2+ Mg2+ H+Al SB t T V m MO P-rem


Fitof.
2
HO mg/dm³ --------------------cmolc/dm³--------------------- ----%---- dag/kg mg/L
CA 5,5 3,2 95 0,3 2,0 0,3 6,9 2,6 2,9 9,5 27,1 10,1 7,2 22,5
FOM 5,0 6,5 55 1,9 0,8 0,1 15,1 1,0 2,9 16,1 6,4 64,0 10,6 7,6
FOD 4,2 7,0 60 2,5 1,0 0,2 21,8 1,4 3,9 23,2 6,0 64,1 21,3 5,20
Nota: SB = soma de bases trocáveis, t = capacidade de troca catiônica efetiva, T = capacidade de troca
catiônica a pH 7,0, V = Índice de saturação por bases, m = Índice de saturação por alumínio, MO =

O solo da região de Campo de Altitude rasos, sobre variações de Cambissolos


possui teores de fósforo muito baixo, de húmicos e Neossolos Litólicos húmicos
potássio bom e de magnésio baixo, acidez (FIG. 11), com predomínio de espécies nativas
trocável baixa, saturação por alumínio muito herbáceas e subarbustivas. Aparentemente
baixa, CTC efetiva média, CTC pH 7 boa e a profundidade do solo é o principal fator que
baixa saturação por bases (ALVAREZ et al., limita o avanço da oresta sobre a vegetação
1999). Estes valores caracterizam o solo sob campestre atual. Foi observado um gradiente
Campo de Altitude como de baixa fertilidade, de profundidade crescente do topo do Campo
e com teor muito bom de matéria orgânica. de Altitude em direção ao fundo dos vales da
Esses Campos de Altitude ocorrem em solos Floresta Ombróla Mista.

Foto: Martins, S.

FIGURA 11 - Perl do solo em Campo de Altitude, em Monte Verde, MG.

18 MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015


A Floresta Ombróla Mista ocorre nas organismos produzem uma alta quantidade
cotas mais baixas do distrito de Monte Verde, de biomassa, sendo os responsáveis
preferencialmente nas grotas e fundos de pelo acúmulo de matéria orgânica e
vale, próximos a cursos d’água. Os solos formação de um solo inicial, sobretudo no
desta tosionomia são mais profundos que interior das falhas e caneluras do granito.
no restante da paisagem, característica que A partir daí, uma variedade de plantas
favorece a ocorrência de A. angustifolia. O vasculares rupícolas, como Bromeliaceae,
solo coletado na Floresta Ombróla Mista Asteraceae, Melastomataceae e tapetes de
possui teor de fósforo e potássio médio, monocotiledôneas, encontram condições
magnésio muito baixo, acidez trocável para se desenvolver e estabelecer.
3+
(Al ) alta, saturação por alumínio (m) alta, Portanto, o mosaico vegetacional de
CTC efetiva (t) média, CTC pH 7 (T) muito Monte Verde é composto por formações que
bom e saturação por bases (V) muito baixa variam de vegetações que ocorrem sobre
(ALVAREZ et al., 1999). aoramentos rochosos à feições orestais. A
Já a Floresta Ombróla Densa ocorrência dessas formações se relaciona,
Alto-montana, apresentou algumas em uma escala regional, principalmente
características de solo semelhantes à da com a inuência do clima, relevo e solo. Já
Floresta Ombróla Mista, possuindo teor de em uma escala local a distribuição destas
fósforo e potássio médio, magnésio baixo, tosionomias está intimamente relacionada
3+
acidez trocável (Al ) muito alta, saturação ao relevo e solo, estabelecendo-se um
por alumínio (m) alta, CTC efetiva (t) média, gradiente pedológico e vegetacional.
CTC pH 7 (T) muito bom e saturação por
bases (V) muito baixa (ALVAREZ et al., Considerações nais
1999). Essa tosionomia ocorre sobre
solos rasos, geralmente com acúmulo de A diversidade do mosaico vegetacional
matéria orgânica no horizonte supercial e presente em Monte Verde-MG, os
elevada umidade do ar, devido a formação poucos estudos realizados para essas
de neblina diária, o que evita a perda de tosionomias e a existência de espécies
água das plantas. endêmicas e principalmente espécies
Por m, nos cumes dos picos de ameaçadas de extinção, como Araucaria
Monte Verde observa-se uma vegetação angustifolia e Dicksonia sellowiana destaca
pioneira sobre os aoramentos rochosos. a importância de estudos mais detalhados
A sucessão primária que vem ocorrendo da ora presente nesta região da Serra da
nesse ambiente inicia com a colonização Mantiqueira.
de liquens e outros microorganismos que A criação da Área de Proteção
modicam a superfície da rocha e xam Ambiental Fernão Dias, que abrange
nitrogênio da atmosfera, permitindo a o distrito de Monte Verde-MG, revela a
entrada de briótas no sistema. Esses importância da conservação e preservação
MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015 19
dos remanescentes orestais e campestres CARVALHO, D. A.; OLIVEIRA-FILHO, A. T.; van
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Universidade de São Paulo, São Paulo. 2006. Estudos Ambientais, 1991. 123 p.

22 MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015


Avifauna em um fragmento de Floresta com Araucária em Monte Verde,
APA Fernão Dias, Minas Gerais

Graziele Hernandes Volpato1, Sebastião Venâncio Martins2

Resumo

O presente estudo tem como objetivo apresentar o primeiro estudo da avifauna em fragmento de Floresta
com Araucária inserida na matriz urbana de Monte Verde, Camanducaia, APA Fernão Dias. O levantamento
da avifauna foi realizado nas trilhas do fragmento conhecido como “Trilha do Pinheiro Velho” em janeiro de
2015. Foram registradas 76 espécies, sendo 23 aves endêmicas da Mata Atlântica e oito ameaçadas. O
resultado do presente estudo demonstra que, apesar da alta proporção de aves com pouca exigência com
a conservação do habitat orestal, a presença de aves orestais-especialistas (dependentes de ambientes
orestais e sensíveis a sua alteração), como os insetívoros escaladores de troncos e galhos, sugere que o
fragmento atua como um importante habitat para a avifauna local.

Palavras chave: Aves, Floresta Ombróla Mista, endêmica da Mata Atlântica, fragmento urbano.

Abstract

The present word aims to present the rst study of the avifauna in an Araucaria forest fragment inserted in the
urban area of Monte Verde, Camanducaia, APA Fernão Dias. The survey of the avifauna was carried out on
the trails of the fragment known as “Trilha do Pinheiro Velho” in January 2015. Seventy-six bird species were
recorded, being 23 Atlantic forest endemic birds and 8 endangered. The results of the present study demonstrate
that despite the high proportion of birds with little requirement with the conservation of forest habitat, the
presence of forest-specialists birds (dependent on forest environment and sensitive to its disturbance), as the
trunks and branches climbers insectivores, indicating that the fragment acts as an important habitat for the
local birds.

Keywords: Birds, Mixed Ombrophilus Forest, Atlantic forest endemic birds, urban fragment.

1
Bióloga, Pós-Doutorado em Ciência Florestal, Universidade Federal de Viçosa, CEP 36571-000, Viçosa, MG.
2
Engenheiro Florestal, Dr. Professor do Departamento de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Viçosa, CEP 36571-000,
Viçosa,MG.
Viçosa, MG.Email:
Email:venancio@ufv.br
venancio@ufv.br

MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015 23


Introdução âmbito nacional como global, com especial
atenção a riqueza de espécies e a alta taxa
A Floresta Ombróla Mista ou Floresta de endemismo da fauna e da ora (STOTZ
com Araucária, caracterizada pelo domínio et al., 1996; DRUMMOND et al., 2005;
de araucárias (Araucaria angustifolia (Bertol.) BENCKE et al., 2006; RIBEIRO et al., 2009;
Kuntze 1898), pertence ao Bioma Mata VASCONCELOS & D’ANGELO NETO, 2009).
Atlântica e originalmente ocorria em grande Na Serra da Mantiqueira, em especial, o
parte do estado Paraná (40% do estado), isolamento e a forte ameaça em consequência
Santa Catarina (30% do estado) e Rio Grande da expansão urbana e turística confere a
do Sul (25% do estado) e em agrupamentos importância da conservação das Florestas
menores no estado de São Paulo (3% do com Araucária (BENCKE et al., 2006).
estado) e nos estados do Rio de Janeiro e Na porção sul da serra da Mantiqueira
Minas Gerais (1% dos estados) (VELOSO et no estado de Minas Gerais, destaca-se o
al., 1991; KLEIN, 1960). No estado de Minas distrito de Monte Verde (pertencente ao
Gerais, as Florestas com Araucária ocorrem município de Camanducaia) por apresentar
de forma isolada e em grandes altitudes agrupamentos nativos de Floresta com
(acima de 1500m). A origem e evolução Araucária (SIQUEIRA, 2006). Monte Verde
desta oresta na Serra da Mantiqueira está inserido em uma bela paisagem
provavelmente estão relacionadas com as montanhosa com diferentes formações
grandes mudanças climáticas ambientais orestais da Mata Atlântica (SILVA et al.,
associadas a oscilações paleoclimáticas neste volume) e que com o crescimento
do Quaternário Tardio (SIQUEIRA, 2006). urbano, principalmente em consequência
Acredita-se que com as mudanças climáticas do aumento do turismo, sofreu e sofre com
relacionadas ao aumento da temperatura, o a fragmentação dos habitats naturais, sendo
limite norte da distribuição das Florestas com possível observar remanescentes orestais
Araucária recuou para o sul, restando alguns em meio a matriz urbana. Um desses
pontos isolados na Serra da Mantiqueira remanescentes de Floresta com Araucária
onde o clima frio ainda persiste até os dias se destaca na região central de Monte Verde
atuais (SIQUEIRA, 2006). Esse processo por manter uma vegetação original, incluindo
torna as Florestas com Araucárias da região indivíduos de araucárias centenários.
únicas quando comparadas as Florestas da Estudos da fauna, incluindo a avifauna,
região sul do país. apesar de terem uma importante contribuição
Em decorrência da redução da cobertura para determinar o estado de conservação de
original, estimada em apenas 12% (RIBEIRO uma área ou região (SILVEIRA et al., 2010)
et al., 2009), as Florestas com Araucária ainda são escassos nas Florestas com
possuem grande destaque em avaliações Araucárias da Serra da Mantiqueira mineira,
mundiais sobre conservação da biodiversidade com exceção de trabalhos mais recentes
e com prioridade de conservação tanto no de Vasconcelos (1999, 2008) para a Serra
24 MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015
dos Papagaios em Aiuruoca e Vasconcelos mínimas absolutas inferiores a 4ºC (DER/
& D’Angelo Neto (2009) para as formações MG, 1998) e com frequência temperaturas
orestais do município de Gonçalves. Assim, negativas e fortes geadas. A precipitação
o presente trabalho teve como objetivo anual pode variar entre 1600 a 1800 mm
apresentar o primeiro levantamento da (NIMER, 1989). A vegetação de Monte
avifauna em remanescente nativo de Floresta Verde é caracterizada por um mosaico
com Araucária inserido na matriz urbana do formado por Campo de Altitude graminoso
distrito de Monte Verde, APA Fernão Dias. e Floresta Ombróla Mista Altomontana
nas cotas altitudinais mais baixas (Floresta
Metodologia com Araucária), Floresta Ombróla Densa
Altomontana nas cotas mais altas e Campo
O estudo foi conduzido no distrito de de Altitude com Aoramento Rochoso nos
Monte Verde, município de Camanducaia, cumes dos picos (SILVA et al., neste volume).
MG. O distrito está inserido na porção sul da A Floresta Ombróla Mista em Monte Verde
serra da Mantiqueira e apresenta elevações está localizada em torno de 1500 e 1650 m de
entre 1550 m a 2082 m (MEIRELES et al., altitude, em áreas mais planas e associadas
2008). A elevada altitude caracteriza o clima aos cursos d’água (MEIRELES, 2003).
subtropical de altitude ou temperado chuvoso O presente estudo foi realizado em
(Cwb) de acordo com a classicação de um fragmento de Floresta Ombróla Mista
Köppen com verão fresco (AYOADE, 1998). Altomontana de aproximadamente 18 hectares
As temperaturas variam entre 14ºC e 19ºC, localizada no centro urbano de Monte Verde
podendo atingir, no inverno, temperaturas (FIG. 1).

FIGURA 1 - A) Mapa do Brasil;


B) Detalhe da área localização da Área de Proteção Ambiental Fernão Dias no estado de Minas Gerais (em cinza) e do
distrito
distrito de de Monte
Monte Verde.
Verde. Fonte:
Fonte: http://www.rbma.org.br/gestores/gestores_3_ucs_mg.asp;
http://www.rbma.org.br/gestores/gestores_3_ucs_mg.asp;
C) Detalhe do fragmento (pontilhado em branco) presente na área urbana do distrito de Monte Verde.
Fonte: Google Earth.

MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015 25


C

A área é conhecida por “Trilha do (Podocarpus lambertii (Klotzsch ex Endl.) e


Pinheiro Velho”, sendo composta por mata Samambaiaçu (Dicksonia sellowiana (Presl.)
nativa, campo limpo e áreas reorestadas Hooker). A área é cortada pelo córrego do
com Pinus sp. A mata nativa é caracterizada Cadete e apresenta diversas trilhas abertas
pela presença de araucária, pinheiro-bravo a visitação (FIG. 2 A, B, C, e D).

FIGURA 2 - A) Limite do fragmento de Floresta com Araucária com campo natural presente no distrito de Monte Verde, APA
Fernão
Fernão Dias,
Dias, MG;MG;
B) e C) Detalhe das trilhas da área avaliada;
D) Detalhe de uma das trilhas utilizadas com abundância de Samambaiaçu (Dicksonia sellowiana).

26 MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015


Fotos: Volpato, GH
C

MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015 27


Para o levantamento da avifauna foi invertebrado), onívoros (consumo de
utilizado o método de Censo Auditivo invertebrados, pequenos mamíferos,
e Visual (BIBBY et al., 1992). O Censo sementes, folhas) e nectarívoros (consumo
Auditivo e Visual consistiu em caminhadas preferencial de néctar).
em velocidade lenta e regular por trilhas na Os status de conservação de todas
área de estudo com a observação direta as espécies de aves registradas foram
para o registro das espécies, com base na vericados considerando listas ocias
visualização ou no reconhecimento do canto. de fauna ameaçada: “Lista vermelha
Para o registro das espécies foi considerado de espécies ameaçadas” (IUCN, 2015),
um raio de 25 m de detecção para evitar “Lista de espécies ameaçadas no Brasil”
espécies em voo e fora do fragmento. Para (BRASIL, 2014) e “Lista da fauna brasileira
o auxílio nas identicações foram utilizados ameaçada de extinção em MG” (MACHADO
binóculos, gravador e máquina fotográca. et al., 2005). Foram também identicadas
Para este método foram utilizadas as trilhas as espécies endêmicas, conforme Benckle
existentes no local, que foram percorridas et al. (1999). A lista de classicação das
no período da manhã por aproximadamente espécies de aves seguiu o Comitê Brasileiro
quatro horas, durante três dias não de Registros Ornitológicos (CBRO, 2014).
consecutivos, em janeiro de 2015.
As espécies de aves registradas foram Resultados e discussão
classicadas quanto à dependência ao
habitat de orestal em orestais-especialistas Um total de 76 espécies de aves foi
(espécies encontradas principalmente no registrado no fragmento Floresta com
interior de oresta natural) e em orestais- Araucária presente na matriz urbana do
generalistas (espécies que podem ser distrito de Monte Verde (TAB. 1 e FiG. 3
encontradas no interior de orestas, mas que A, B, C, D, E, F, G e H). Um estudo mais
são registradas frequentemente em bordas recente realizado na região por Vasconcelos
de oresta ou mesmo em áreas abertas & D’Angelo Neto (2009) no município de
e urbanas). A classicação das espécies Gonçalves, próximo ao distrito de Monte
nestes dois grupos seguiu os critérios de Verde, registrou 206 espécies de aves. A
Zurita et al., (2006) e Volpato et al., (2010). diferença no número de espécies registrada
Os hábitos alimentares de cada espécie pelo estudo de Vasconcelos & D’Angelo
registrada foram determinados considerando Neto (2009) pode ser justicada pelo maior
observações de campo e informações da número de amostragem e de habitats
literatura (ALEIXO, 1999; ANJOS, 2001; avaliados, incluindo trechos de Floresta
VOLPATO et al., 2010) e categorizadas Ombróla Densa, campos de altitudes e
como: frugívoros especialistas (consumo áreas urbanizadas. Do total de espécies
preferencial de polpa de frutos), frugívoros registrada no presente estudo, cinco não
generalistas (consumo de polpa de frutos, foram registradas no estudo de Vasconcelos
sementes, folhas e pequenos invertebrados), & D’Angelo Neto (2009), são elas Amazona
insetívoros (consumo preferencial de vinacea (papagaio-de-peito-roxo), Florisuga
28 MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015
fusca (beija-or-preto), Xiphorynchus et al. (2010) registraram um total de 93
fuscus (arapaçu-rajado), Lanio melanops espécies de aves em um trecho Floresta
(tié-de-topete) e Phibalura avirostris com Araucária altamente conectado e bem
(tesourinha-da-mata). Contudo, estudos preservado. Assim, os resultados obtidos
com características mais semelhantes ao mostram-se satisfatórios para uma primeira
realizado pelo presente trabalho mostram caracterização da avifauna de fragmento
uma riqueza similar. Anjos (1990) registrou urbano de Monte Verde. Entretanto, estudos
88 espécies em um pequeno remanescente adicionais, incluindo diferentes períodos do
de Floresta com Araucária em Curitiba, PR ano, podem enriquecer a composição de aves
e Gimenes e Anjos (2000) registraram 86 para o local, principalmente para espécies
espécies de aves em um fragmento de raras e conspícuas (p.ex. Pyroderus scutatus
Floresta estacional semidecidual na cidade - pavó) e com comportamentos migratórios
de Maringá, PR. No sul do Paraná, Volpato (p. ex. Vireo chivi - juruviara) (SIGRIST, 2006).
TABELA I
Lista de espécies e características ecológicas das espécies de aves registradas em Floresta
com Araucária em Monte Verde, APA Fwernão Dias, MG

(Continua...)
Dependência
Famílias e espécies Nome comum Hábito alimentar
florestal
Cracidae
Penelope obscura jacuaçu FRU-ESP GEN
Odontophoridae
Odontophorus capueira (MA) uru FRU-GEN ESP
Accipitridae
Rupornis magnirostris carrapateiro ONI GEN
Rallidae
Aramides saracura (MA) saracura-do-mato ONI GEN
Columbidae
Patagioenas picazuro pombão FRU-GEN GEN
Leptotila rufaxilla juriti-gemedeira FRU-GEN GEN
Trochilidae
Phaethornis eurynome (MA) rabo-branco-de-garganta-rajada NEC GEN
Florisuga fusca (MA) beija-flor-preto NEC GEN
Colibri serrirostris beija-flor-de-orelha-violeta NEC GEN
Stephanoxis lalandi (MA) beija-flor-de-topete NEC GEN
Chlorostilbon lucidus besourinho-de-bico-vermelho NEC GEN
Thalurania glaucopis (MA) beija-flor-de-fronte-violeta NEC GEN
Leucochloris albicollis (MA) beija-flor-de-papo-branco NEC GEN
Picidae
Picumnus cirratus pica-pau-anão-barrado INS* ESP
Veniliornis spilogaster picapauzinho-verde-carijó INS* ESP
Psittacidae
Psittacara leucophthalmus periquitão-maracanã FRU-ESP GEN
Pyrrhura frontalis (MA) tiriba-de-testa-vermelha FRU-ESP ESP
Pionus maximiliani maitaca-verde FRU-ESP GEN
Amazona vinacea (MA) papagaio-de-peito-roxo FRU-ESP GEN
Thamnophilidae
Thamnophilus caerulescens choca-da-mata INS* GEN
Rhinocryptidae
Scytalopus speluncae (MA) tapaculo-preto INS* ESP

MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015 29


(Continua...)
(
Dependência
Famílias e espécies Nome comum Hábito alimentar
florestal
Dendrocolaptidae
Sittasomus griseicapillus arapaçu-verde INS* ESP
Xiphorynchus fuscus (MA) arapaçu-rajado INS* ESP
Lepidocolaptes falcinellus (MA) arapaçu-escamado-do-sul INS* ESP
Dendrocolaptes platyrostris arapaçu-grande INS* ESP
Xenopidae
Xenops rutilans bico-virado-carijó INS* ESP
Furnariidae
Lochmias nematura João-porca INS* ESP
Philydor rufum limpa-folha-de-testa-baia INS* ESP
Heliobletus contaminatus (MA) trepadorzinho INS* ESP
Syndactyla rufosuperciliata trepador-quiete INS* ESP
Leptasthenura setaria (MA) grimpeiro INS* GEN
Synallaxis spixi joão-teneném INS* GEN
Cranioleuca pallida (MA) arredio-pálido INS* GEN
Pipridae
Chiroxiphia caudata (MA) tangará FRU-GEN GEN
Tityridae
Pachyramphus polycopterus caneleiro-preto FRU-GEN GEN
Cotingidae
Phibalura flavirostris tesourinha-da-mata FRU-ESP ESP
Pipritidae
Piprites pileata (MA) caneleirinho-de-chapéu-preto FRU-GEN ESP
Rhynchocyclidae
Mionectes rufiventris (MA) abre-asa-de-cabeça-cinza INS* ESP
Phylloscartes ventralis borboletinha-do-mato INS ESP
Tolmomyias sulphurescens bico-chato-de-orelha-preta INS ESP
Poecilotriccus plumbeiceps tororó INS GEN
Myiornis auriculares (MA) miudinho INS ESP
Hemitriccus nidipendulus (MA) tachuri-campainha INS* GEN
Tyrannidae
Elaenia mesoleuca tuque INS ESP
Capsiempis flaveola marianinha-amarela INS GEN
Phyllomyias fasciatus piolhinho INS GEN
Pitangus sulphuratus bem-te-vi FRU-GEN GEN
Myiodynastes maculatus bem-te-vi-rajado FRU-GEN GEN
bentevizinho-de-penacho-
Myiozetetes similis FRU-GEN GEN
vermelho
Tyrannus melancholicus suiriri INS GEN
Lathrotriccus euleri enferrujado INS ESP
Knipolegus cyanirostris maria-preta-de-bico-azulado INS GEN
Vireonidae
Cyclarhis gujanensis pitiguari FRU-GEN GEN
Hylophilus poicilotis (MA) verdinho-coroado INS* ESP
Corvidae
Cyanocorax cristatellus (CE) gralha-do-campo FRU-GEN GEN
Hirundinidae
Pygochelidon cyanoleuca andorinha-pequena-de-casa INS GEN
Turdidae
Turdus leucomelas sabiá-barranco FRU-GEN GEN
Turdus rufiventris sabiá-laranjeira FRU-GEN GEN
Turdus amaurochalinus sabiá-poca FRU-GEN GEN
Parulidae
Basileuterus culicivorus pula-pula INS* GEN
Myiothlypis leucoblephara pula-pula-assobiador INS* GEN
(MA)

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(Conclusão)

Dependência
Famílias e espécies Nome comum Hábito alimentar
florestal

Icteridae
Cacicus chrysopterus tecelão FRU-GEN ESP
Thraupidae
Coereba flaveola cambacica FRU-GEN GEN
Saltator similis trinca-ferro-verdadeiro FRU-GEN GEN
Tachyphonus coronatus (MA) tiê-preto INS GEN
Lanio melanops tiê-de-topete INS ESP
Tangara desmaresti (MA) saíra-lagarta FRU-GEN GEN
Tangara sayaca sanhaçu-cinzento FRU-GEN GEN
Tangara cayana saíra-amarela FRU-GEN GEN
Stephanophorus diadematus sanhaçu-frade FRU-ESP ESP
Pipraeidea melanonota saíra-viúva FRU-GEN GEN
Dacnis cayana saí-azul FRU-GEN GEN
Poospiza lateralis quete INS GEN
Fringillidae
Sporagra magellanica pintassilgo INS GEN
Euphonia chlorotica fim-fim FRU-ESP GEN
Euphonia cyanocephala gaturamo-rei FRU-ESP ESP
Nota: As espécies foram classificadas quanto aos hábitos alimentares: INS: Insetívoro; FRU-ESP: Frugívoro
especialista; FRU-GEN: Frugívoro generalista; ONI: Onívoro; NEC: Nectarívoro e à dependência ao habitat
florestal: ESP: florestal-especialista; GEN: florestal-generalista. Espécies endêmicas estão indicadas entre
parênteses na primeira coluna (MA: Mata Atlântica; CE: Cerrado).
* Indica as espécies insetívoras especializadas em forragear em diferentes substratos.

MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015 31


A

FIGURA 3 – Exemplos de espécies de aves registradas em Monte Verde, APA Fernão Dias, MG.
A) Colibri serrirostris (beija-or-de-orelha-violeta);
B) Picumnus cirratus (pica-pau-anão-barrado);
C) Veniliornis spilogaster (picapauzinho-verde-carijó);
D) Lepidocolaptes falcinellus (arapaçu-escamado-do-sul);
E) Lochmias nematura (João-porca);
F) Cranioleuca pallida (arredio-pálido);
G) Turdus leucomelas (sabiá-barranco);
H) Turdus ruventris (sabiá-laranjeira).

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C

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E

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Fotos: Volpato, GH
G H

No presente estudo foram identicadas & BALMFORD, 1999). Entre o total de


23 espécies (30,1%) endêmicas da Mata espécies endêmicas, seis estão ameaçadas
Atlântica. Apesar das Florestas com de extinção: A. vinacea (papagaio-de-peito-
Araucárias estarem inseridas no domínio da roxo), categorizada como Em perigo no
Mata Atlântica e assim esperadas a presença âmbito global e regional (MACHADO et al.,
de espécies endêmicas a esse bioma, foi 2005, IUCN, 2015) e Vulnerável no âmbito
também registrado a presença de uma nacional (BRASIL, 2014), Leptasthenura
espécie endêmica do Cerrado: Cyanocorax setaria (grimpeiro) como Quase ameaçada
cristatellus (gralha-do-campo). A expansão a nível global (IUCN, 2015), Piprites pileata
da gralha-do-campo em áreas da Mata (caneleirinho-de-chapéu-preto), como
Atlântica tem sido documentada em diversas Vulnerável globalmente e regionalmente
regiões do seu domínio, incluindo a Serra da (IUCN, 2015; MACHADO et al., 2005) e
Mantiqueira (VASCONCELOS & D’ANGELO Odontophorus capueira (uru) categorizada
NETO, 2009) e Rio de Janeiro (MACIEL como Vulnerável para o estado de Minas
et al., 2009). A importância das espécies Gerais (MACHADO et al., 2005). Outras
endêmicas é com frequência apontada duas espécies, não endêmicas, também
como uma estratégia na manutenção da estão categorizadas como Vulnerável
biodiversidade (PIMM et al., 1995; BROOKS para o estado de Minas Gerais: Penelope
MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015 35
obscura (jacuaçu) e Phibalura flavirostris peito-roxo, Leucochloris albicollis (beija-
(tesourinha-da-mata), sendo a tesourinha- or-de-papo-branco), grimpeiro, Elaenia
da-mata também categorizada como mesoleuca (tuque), Phylloscartes ventralis
Quase ameaçada a nível global (IUCN, (borboletinha-do-mato), Knipolegus
2015). cyanirostris (maria-preta-de-bico-
A Floresta com Araucária avaliada azulado), caneleirinho-de-chapéu-preto,
no presente estudo destaca-se pela Poospiza lateralis (quete), Stephanophorus
presença de diversas espécies de aves diadematus (sanhaçu-frade) (FIG. 4 A, B,
associadas a esta fitofisionomia. Stotz C, D, E e F). Contudo, a maioria dessas
et al. (1996) descrevem 28 espécies espécies tem uma ampla distribuição na
de aves associadas as Florestas com Mata Atlântica (SIGRIST, 2006), sendo que
Araucárias no sul e sudeste do Brasil do total das espécies registradas, apenas
(57 se considerar as aves associadas duas aves são fortemente associadas
aos Bosques com Araucária da região às Florestas com Araucárias, são eles o
dos Andes). Das espécies descritas por papagaio-de-peito-roxo e grimpeiro. Fato
Stotz et al. (1996), 11 foram registradas esse, que leva essas espécies ao status de
no presente estudo: Aramides saracura ameaçadas de extinção por consequência
(saracura-do-mato), Pyrrhura frontalis da destruição e desmatamento do seu
(tiriba-de-testa-vermelha), papagaio-de- hábitat (IUCN, 2015).

A B
FIGURA 4 – Exemplos de espécies de aves associadas à Floresta com Araucária registradas em Monte Verde, APA Fernão Dias, MG.
A) Aramides saracura (saracura-do-mato);
B) Amazona vinacea (papagaio-de-peito-roxo);
C) Leucochloris albicollis (beija-or-de-papo-branco);
D) Knipolegus cyanirostris (maria-preta-de-bico-azulado);
E) Poospiza lateralis (quete);
F) Stephanophorus diadematus (sanhaçu-frade).

36
C

MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015 37


Fotos: Volpato, GH
E

Do total de espécies registradas, 64,5% bordas e até mesmo vegetação secundária


(49 espécies) foram categorizadas como perturbada e áreas abertas e urbanas
orestais-generalistas que por serem menos arborizadas, como por exemplo, Tangara
exigentes quanto ao habitat, frequentam sayaca (sanhaçu-cinzento), Poospiza
tanto o interior de orestas como suas lateralis (quete) e Pitangus sulphuratus

38 MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015


(bem-te-vi). Essa característica generalista e pela fragmentação da Mata Atlântica
que esse grupo possui está relacionada com (WILLIS, 1979; ALEIXO & VIELLIARD,
a maior capacidade de deslocamento entre 1995; CHRISTIANSEN & PITTER, 1997;
habitats para procura de alimento e abrigo, o GALLETI & ALEIXO, 1998; ALEIXO, 2001).
que as torna menos seletivas para qualidade Entre os insetívoros registrados no presente
do habitat (RENJIFO, 1999; LENS et al., estudo, 21 espécies (mais 50% do total dos
2002). Assim, a alta proporção de espécies insetívoros) se enquadram na categoria de
orestais-generalistas (mais de 60% do total especialistas (TAB. 1), como por exemplos
de espécies) no presente estudo pode ser as aves insetívoras escaladoras de tronco
um reexo de possíveis perturbações da e galhos registradas das famílias Picidae e
qualidade do habitat (BROOK et al., 2006), Dendrocolaptidae e alguns furnarídeos, como
resultante de uma degradação e exploração Picumnus cirratus (pica-pau-anão-barrado),
dos recursos naturais ao longo dos anos, Lepidocolaptes falcinellus (arapaçu-
como já observado em outras áreas na escamado-do-sul) e Cranioleuca pallida
Serra da Mantiqueira (BENCKE et al., (arredio-pálido) e as aves insetívoras de
2006). As aves dependentes de ambientes busca ativa, como Lochmias nematura (João-
orestais, ou seja, as orestais-especialistas porca), Scytalopus speluncae (tapaculo-
que habitam preferencialmente o interior preto) e Basileuterus culicivorus (pula-pula).
de orestas, evitando bordas e habitats Vale destacar que entre os insetívoros
alterados representaram 35,5% do total (27 especialistas registrados, 14 espécies
espécies). São exemplos de aves orestais- são aves orestais-especialistas. Durante
especialistas: caneleirinho-de-chapéu- as amostragens também foi observada
preto, trepadorzinho, tapaculo-preto. a participação de diversos insetívoros
A representatividade de aves insetívoras especialistas em bandos mistos, como
na presente estudo foi de 47,4%. Apesar Sittasomus griseicapillus (arapaçu-verde),
de apresentarem a mesma dieta, as aves Xiphorynchus fuscus (arapaçu-rajado),
insetívoras podem ser categorizadas em dois arapaçu-escamado-do-sul, arredio-pálido e
principais grupos, os que são especializados Philydor rufum (limpa-folha-de-testa-baia),
em forragear em determinados estratos entre outros. Bandos mistos de aves são
e substratos da vegetação, como os associações multiespecícas de espécies,
escaladores de troncos e galhos e insetívoros onde o objetivo é aumentar a eciência de
terrestres e de sub-bosque (ALEIXO, 2001), forrageamento e reduzir o risco de predação
e os mais oportunistas que geralmente (MORSE, 1977; POWELL, 1985). Diversos
apresentam estratégias de espera e estudos na Mata Atlântica apontam que 1/3
captura. Os primeiros são compostos por da comunidade de aves local participa de
aquelas espécies com requisitos ecológicos bandos mistos (MACHADO, 1999; ALEIXO,
mais especícos e compõem um perl 1997; DEVELEY & PERES, 2000; BRANDT
das espécies mais ameaçadas pela perda et al., 2009). A presença de bando mistos em
MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015 39
uma área é um bom indicativo da qualidade porte, como papagaio-de-peito-roxo, tiriba-
do habitat, uma vez que a composição e de-testa-vermelha, tesourinha-da-mata e
estrutura de bandos mistos se alteram ou Penelope obscura (jacuaçu) e indica um
mesmo desaparecem em fragmentos com bom estado de conservação da área, uma
habitat alterado e descaracterizado (STOTZ, vez que aves que tem os frutos com item
1993; STOUFFER & BIERREGAARD, 1995; principal de sua dieta geralmente necessitam
MALDONADO-COELHO & MARINI, 2004). de extensas áreas de vida, pois dependem
Outro grupo que teve grande de recursos alimentares (frutos) distribuídos
representatividade na composição de de forma disjunta espacial e temporalmente
espécies foi o dos frugívoros, representando (LUCK & DAILY, 2003; MANNING et al.,
40,8% das espécies. No presente estudo 2006) e por esta razão são as primeiras
esse grupo foi dividido em Frugírovos- a desaparecer em ambientes fragmentos
generalistas (29%) e Frugívoros- e alterados (GRAY et al., 2007). Contudo,
especialistas (11,8%). Considerando a a presença dessas espécies na área de
importância do consumo de frutos pelas estudo também pode estar relacionada
aves para a dispersão de sementes, no com a grande capacidade de voo que essas
presente estudo as espécies com ampla aves possuem e a presença de uma grande
variedade alimentar e que incluía frutos na cobertura orestal no distrito de Monte
sua dieta, mesmo que eventualmente, foi verde, que permite o deslocamento dessas
categorizada como frugívoro-generalista, aves para outros fragmentos orestais em
apesar de muitos autores as categorizarem busca de alimento. Anjos (1990), avaliando
como onívoras (p.ex. SILVA, 2006; GALINA um fragmento de Floresta com Araucária
& GIMENES, 2006). Em função de uma dieta na região metropolitana de Curitiba,
variada, diversos frugívoros-generalistas atribui a ausência de grandes frugívoros
apresentam uma grande capacidade de a ausência de outros fragmentos próximos
deslocamento entre habitats à procura ao estudo por ele realizado, ocasionando
de recursos alimentares (VOLPATO et al. o seu isolamento.
2015). Esse comportamento potencializa Os nectarívoros e onívoros tiveram uma
o transporte de sementes entre habitat e menor representatividade na composição
é apontado em diversos estudos como o das espécies, somando juntos 11,8%. Os
principal responsável pela manutenção nectarívoros foram compostos por sete
e diversidade de espécies de plantas em espécies, todos pertencentes à família
paisagens fragmentadas (PIZO, 2004; Trochilidae (beija-ores). Os beija-ores
VOLPATO et al., 2015). No presente estudo, desempenham um importante papel
o sanhaçu-cinzento, bem-te-vi, trinca-ferro- ecológico relacionado à polinização. Entre
verdadeiro se enquadram nesse caso. as aves que utilizam o ambiente orestal,
Entre frugívoros-especialistas destaca- os beija-ores provavelmente são os mais
se a presença de espécies de grande generalistas quanto à dependência orestal,
40 MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015
uma vez que a especicidade alimentar os o fragmento atua como um importante
leva a circular entre diferentes ambientes, habitat para a avifauna local. Contudo,
como o interior de uma oresta, borda de estudos adicionais são necessários para
oresta, capoeira, área aberta e urbanizada vericar possíveis variações sazonais da
(RENJIFO, 1999). Assim, sua presença pode
comunidade de aves.
ser atribuída à disponibilidade de alimento e
Monte Verde está inserido em bela
não a qualidade do habitat. Em relação aos
paisagem na Serra da Mantiqueira, com
onívoros, apenas duas espécies compõem
forte apelo turístico. Embora a importância
este grupo: a saracura-do-mato e o Rupornis
magnirostris (gavião-carijó). Essas duas econômica que o turismo gera para região,
espécies consomem uma ampla variedade a sua prática se não bem planejada,
de itens, incluindo pequenos vertebrados e pode trazer consequências negativas
insetos (SICK, 1997). para a conservação e manutenção das
áreas naturais (BENCKE et al., 2006).
Conclusões Em áreas fragmentadas a manutenção
de remanescentes em bom estado de
O fragmento de Floresta com Araucária,
conservação facilita o deslocamento de
apesar de estar inserido em uma paisagem
diversas espécies e consequentemente
urbana, apresenta aves tipicamente dessa
aumenta a conectividade de habitats
toosionomia, sendo possível observar
espécies globalmente ameaçadas como (RENJIFO, 1999; GASCON, et al.
o papagaio-de-peito-roxo, que dependem 2006). Assim, uma maior atenção
das sementes da araucária como recurso conservacionista para esta área em Monte
alimentar durante o inverno e o garimpeiro, Verde objetivando a manutenção da
uma espécie Quase Ameaçada globalmente diversidade de espécies de aves.
(IUCN, 2015) e fortemente associada à
presença de araucárias (SICK, 1997). Além Referências
da presença de espécies ameaçadas, a
avifauna da área também é composta por ALEIXO, A.; VIELLIARD, J. Composição e dinâmica
da comunidade de aves da Mata de Santa Genebra,
espécies orestais e também sensíveis a
Campinas, SP. Revista Brasileira de Zoologia, v.
alteração de habitat, como os insetívoros 12, n. 3, p. 493-511, 1995.
escaladores de troncos e galhos. Também foi
ALEIXO, A. Composition of mixed-species bird ocks
observada uma alta proporção de espécies
and abundance of ocking species in a semideciduous
generalistas, incluindo aves usualmente forest of southeastern Brazil. Ararajuba, v. 5, n. 1, p.
encontradas no ambiente urbano o que 11-18, 1997.
demonstra a inuência da matriz urbana
ALEIXO, A. Effects of selective logging on a bird
na composição da avifauna no fragmento. community in the Brazilian Atlantic forest. Condor, v.
Essa diversidade de espécies sugere que 101, n. 3, p. 537-548, 1999.

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44 MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015


Em Destaque:

Dicksonia sellowiana Hook.

Família: Dicksoniaceae
Nome vulgar: Xaxim
Situação no Brasil: Em perigo de extinção

Dicksonia sellowiana é uma samambaia De acordo com Mantovani (2004), o


arbórea da família Dicksoniaceae conhecida principal fator de degradação da Floresta
popularmente como xaxim e ainda Ombróla Mista foi a extração seletiva de A.
samambaiaçu-imperial, xaxim-verdadeiro angustifolia iniciada nas primeiras décadas
ou xaxim-bugio (FORZZA et al., 2012). do século XX. Atualmente, o corte dessa
Encontra-se distribuída por toda América espécie é ilegal, o que freou a marcha de
Latina (TRYON & TRYON, 1982) e no Brasil, destruição dos últimos remanescentes das
ocorre em todos os estados das regiões Sul Florestas com Araucária do Brasil. Além
e Sudeste, no domínio da Mata Atlântica disso, muitos programas de restauração
(FORZZA et al., 2012). desses ecossistemas tem tido importantes
É uma planta típica de sub-bosque,
resultados para conservação, não só da
crescendo na sombra de outras árvores da
Araucária, mas também das outras espécies
Floresta Ombróla Densa e, principalmente,
autóctones, como D. sellowiana e Podocarpus
da Floresta Ombróla Mista. De fato, a
lambertii Klotzsch ex Endl. (RIBEIRO et al.,
distribuição de D. sellowiana no Brasil
2012; RIBEIRO et al., 2013).
apresenta uma estreita semelhança com a
A extração de D. sellowiana foi até
distribuição de Araucaria angustifolia (Bertol.)
recentemente motivada principalmente
Kuntze, espécie indicadora de Floresta
pelo emprego do seu caule, por ironia,
Ombróla Mista. Em áreas conservadas,
como vaso/substrato para cultivo de plantas
forma grandes adensamentos, sempre
próximos a cursos d’água ou, pelo menos, ornamentais, como outras samambaias
onde o solo é mais úmido (MANTOVANI, (muitas exóticas), bromélias, orquídeas,
2004; HIGUCHI et al., 2013). etc., devido a sua característica brosa dada
Dicksonia sellowiana é uma espécie pelo emaranhado de raízes adventícias que
categorizada como “Em Perigo” de recobre toda a superfície do caule (BIASI
extinção (BRASIL - MINISTÉRIO DO MEIO & VALLE, 2009). Na natureza, uma grande
AMBIENTE, 2014) e se enquadra nas listas diversidade de epítas utiliza D. sellowiana
divulgadas pelo IBAMA desde 1992. A perda como substrato para crescimento,
de habitat e a extração predatória são as dentre elas, algumas pteridótas das
duas principais causas da redução das suas famílias Aspleniaceae, Blechnaceae,
populações naturais. Dryopteridaceae, Hymenophyllaceae,
MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015 45
Polypodiaceae, Vittariaceae (SCHMITT et tolera alta irradiância, sendo necessário
al., 2005). um sombreamento superior a 80% para
Entretanto, devido a sua condição de o crescimento de mudas (BIASI & VALLE,
ameaça e vulnerabilidade, a exploração 2009), o que exige um estádio mais avançado
comercial e extração de xaxim foram de regeneração da oresta para que haja
proibidas em todo território nacional a partir um fechamento do dossel adequado para o
da Resolução 278 do CONAMA, de 24 de reestabelecimento da espécie.
maio de 2001. A principal limitação para a No distrito de Monte Verde, na APA Fernão
recuperação das populações naturais de Dias, ainda é possível encontrar populações
D. sellowiana é o seu crescimento muito de D. sellowiana bem preservadas (FIG. 1 e
lento, menos de 5 cm por ano (SCHMITT 2), com elevada densidade de indivíduos no
et al., 2009). Ou seja, ela demoraria cerca sub-boque da Floresta com Araucária, o que
de 26 anos para alcançar a altura do reforça a necessidade de conservação destes
peito, ou 1,3 m. Além disso, a espécie não remanescentes de Floresta Ombróla Mista.

Foto: Martins, S

FIGURA 1 – Indivíduo adulto de Dicksonia sellowiana Hook. com 2,5 m de CAS (circunferência ao nível do solo) e 3,5 m de altura, em
Floresta Ombróla Mista, em Monte Verde, MG

46 MG BIOTA, Belo Horizonte, V.8, n.2, jul./set.2015


Fotos: Volpato, GH
FIGURA 2 – Indivíduos de Dicksonia sellowiana Hook. em Floresta Ombróla Mista Alto Montana, em Monte Verde, MG.

Lucas de Siqueira Cardinelli Kelly de Almeida Silva

Engenheiro Florestal, - Mestrando em Biologia Engenheira Florestal, Doutoranda em


Vegetal, LARF– Laboratório de Restauração Ciência Florestal, LARF, UFV CEP 36570-
Florestal, UFV, Universidade Federal de 900, Viçosa, MG.
Viçosa, CEP 36570-900 Viçosa, MG.
Sebastião Venâncio Martins
Júnia Maria Lousada Engenheiro Florestal, Dr. Professor do
Bióloga, Doutoranda em Biologia Vegetal, Departamento de Engenharia Florestal,
LARF, UFV, CEP 36570-900, Viçosa, MG.
LARF, UFV, CEP 36570-900, Viçosa, MG.
Email: venancio@ufv.br
Camila Bauchspiess
Engenheira Florestal, Mestranda em Ciência
Florestal, LARF, UFV, CEP 36570-900,
Viçosa, MG.
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