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ESTÁGIO DE DOCÊNCIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA: CONSTRUINDO

SABERES PELA PRÁTICA.


Ermelinda Nóbrega de Magalhães1
Luiz Arlindo Ramos de Melo2
Patrícia Segtowich3
Luiz Rocha da Silva

Resumo
Neste artigo discutimos a prática pedagógica docente a partir de uma análise sobre
os estágios de docência praticados nas licenciaturas do CEFET-PA. Compreendemos que
o estágio na formação de professores é uma parte importante do currículo, mas que sua
apresentação prática ainda está muito distante da teoria. A preocupação que explicitamos
é por compreendermos ser primordial valorizar a prática de ensino por meio de uma
revisão dos atores envolvidos neste processo, sendo eles: academia, escolas, docentes e
discentes, além da imbricação da teoria com a prática, diminuindo-se então a distância
entre estas. Finalizamos sugerindo que as políticas públicas considerem importante
estabelecer prioridades na formação docente, formando assim um profissional mais
sensibilizado e socialmente comprometido com a educação.

Palavras-chave: Saberes, conhecimento, estágio docente, teoria e prática.

O Estágio Docente

Este trabalho é resultado de uma investigação sobre o estágio na formação


docente nos cursos de Licenciatura do Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará
– CEFET-PA e parte de um estudo acerca do trabalho inicial na formação dos
licenciandos, quando estes mantêm o primeiro contato com a instituição escolar na
qualidade de professor estagiário. Para caminharmos com nossos estudos utilizamos a
análise documental como método investigativo, além de observarmos algumas aulas
teóricas de vivência na prática educativa4, assim tentamos fazer uma avaliação destas
percebendo sua importância para a formação e constituição de saberes. Pretendemos, a
partir da Análise dos instrumentos avaliativos escritos em forma de relatórios individuais
de investigação da prática apresentados pelos discentes cujos critérios são: capacidade
crítico-reflexiva sobre as observações de campo e das temáticas que envolvem o
processo de investigação compartilhado pelos grupos nos encontros de apoio e reflexão,

1
Pedagoga, Especialista em Psicopedagogia, e professora da disciplina Vivência na Prática Educativa do CEFET-PA.
2
Professor especialista em Ensino de Física, ex-coordenador do Curso de Licenciatura Plena em Física do CEFET-PA.
Mestrando em Educação em Ciências e Matemáticas – NPADC – UFPA.
3
Professora especialista em Conservação, Preservação e Manejo de Recursos Naturais. Mestranda em Educação em
Ciências e Matemáticas – NPADC – UFPA.
4
Disciplina que orienta o estágio nas licenciaturas do CEFET-PA
como também a participação dos alunos em atividades complementares de ensino e
extensão e da observação encontrar respostas aos nossos questionamentos em relação
ao assunto.
Em todos os cursos de licenciatura, conforme legislação vigente é obrigatório o
estágio de docência ou da prática pedagógica educativa, relacionadas às disciplinas dos
programas curriculares das instituições de níveis superiores, ou seja, os alunos que estão
se preparando para ser professores devem ter em suas atividades discentes o
conhecimento sobre o aprender a ensinar, tanto em nível teórico de conteúdo quanto em
nível didático pedagógico.

Estas práticas podem em algumas organizações de ensino estar no currículo por


exigência burocrática, pois o relacionamento da teoria com a prática solicita no mínimo
uma avaliação presencial do formador de professores – falamos do acompanhamento
acadêmico – o que não ocorre em muitos cursos de formação. Assim, enquanto algumas
universidades se preocupam, pouco a pouco, em oferecer na formação docente,
possibilidades para que os novos professores possam conhecer mais e melhor a maneira
como se desenvolve o processo de aprender a ensinar, com estágios consistentes,
procurando seguir as diretrizes curriculares nacionais propostas e a carga horária
adequada; outras deixam os alunos à vontade, sendo estes responsáveis diretos pela sua
formação prática.

Uma das grandes preocupações hoje é fazer parte de uma instituição de nível
superior e grande parcela da população estudantil busca os cursos de licenciatura, onde
na maioria das vezes não possuem informação adequada sobre o curso que irão
freqüentar a que se propõe seu objetivo, que fazer depois de formado5, qual o papel do
licenciado na sociedade e a complexidade do ofício de ser professor.

“O conhecimento pertinente deve enfrentar a complexidade.


Complexus significa o que foi tecido junto; de fato, há complexidade
quando elementos diferentes são inseparáveis constitutivos do todo
(como o econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o afetivo,
o mitológico), e há um tecido interdependente, interativo e inter-
retroativo entre o objeto de conhecimento e seu contexto, as partes
e o todo, o todo e as partes, as partes entre si. Por isso, a
complexidade é a união entre a unidade e a multiplicidade. Os
desenvolvimentos próprios a nossa era planetária nos confrontam
cada vez mais e de maneira cada vez mais inelutável com os
5
Atualmente grande parte dos concursos públicos, solicita que o candidato tenha formação mínima em nível de 3º grau,
assim muitos procuram as instituições de ensino superior pelo simples fato de ter formação neste nível.
desafios da complexidade. Em conseqüência, a educação deve
promover a “inteligência geral” apta a referir-se ao complexo, ao
contexto, de modo multidimensional e dentro da concepção global
“(MORIN, 2004, p. 38-39)”.

A partir desta problemática consideramos que Estágio de Docência é uma parte do


currículo das licenciaturas muito importante na formação do futuro professor por atender
as expectativas do aluno em relação ao ato de ser professor. Neste sentido, devem ser
considerados alguns aspectos como tempo de duração dos estágios, número de alunos
por professor orientador para que este tenha tempo de acompanhar academicamente
seus orientandos, discussão das situações vividas durante os estágios para que os
conhecimentos adquiridos possam ser validados ou não para o exercício docente.

Com o resultado obtido no estágio o novo professor vai desvelar ou não sua
aptidão para o exercício da docência. Há necessidade de reestruturação dos atores
envolvidos na construção prática da teoria, sendo eles orientador, estagiário, professor e
escola com condições organizacionais que permitam o desenvolvimento do professor
profissional, que segundo Altet (2001, p. 26) “é aquele que é antes de tudo um
profissional da articulação do processo ensino-aprendizagem em uma determinada
situação, um profissional da interação das significações partilhadas”.

O estágio curricular supervisionado, considerando a legislação vigente, é a


disciplina que oportuniza ao licenciando o exercício da atividade profissional que irá
exercer, sendo um espaço de formação que deve priorizar a vivência do aluno na
realidade, através da prática de como ser professor, não apenas de sala de aula, mas
aquele que participa de todas as atividades desenvolvidas pela escola. É uma disciplina
que deve oportunizar concretamente a efetivação da atuação do professor sob a
supervisão de um orientador experiente, num processo de ensino-aprendizagem que o
fará autônomo quando da profissionalização deste estagiário.

A prática pedagógica é compreendida como trabalho por ter potencial de ensinar,


de gerar conhecimento, não necessariamente inédito, o que lhe confere valor
social. Ela constitui um espaço social que articula a ação com o pensamento, a
teoria com a prática e viabiliza a relação do profissional em educação com o
mundo físico, social e político, apresentando-se, portanto, como ponto de partida
e de chegada de um estudo educacional crítico e reflexivo e como um dos
possíveis caminhos de aproximação do processo educativo real (ARNONI, 2001.
p. 26).

Mas, são muitas as críticas sobre a forma de operacionalização deste importante


espaço educativo. ARNONI (2001, p.22) comenta que o Estágio Supervisionado, por não
apresentar objeto de estudo próprio, passou ser entendido como um componente
secundário da disciplina a qual se vincula ou, simplesmente, como horas a serem
cumpridas na escola onde são realizados os estágios. Infelizmente, críticas como estas
acontecem porque o trabalho de orientação e supervisão da prática pedagógica tem sido,
muitas vezes, relegado a uma situação secundária em relação aos demais elementos
curriculares.

Defendemos que o estágio deve ser considerado tão importante quanto os demais
conteúdos do currículo. ALARCÃO (1996) afirma que, nem os docentes, nem as
universidades até o momento, deram o devido valor à prática da formação do professor.
Segundo essa autora, ‘o estágio pedagógico é considerado, “o parente pobre de todas as
disciplinas”. A Universidade se demite da sua função de ajudar o aluno a relacionar teoria
e prática e, a saber, servir-se do seu saber para com ele resolver problemas práticos’. É
preciso então que haja uma valorização deste trabalho, mas para isto é, é necessário que,
além de encaminhar o aluno para o local de estágio, se defina qual o papel deste estágio,
e quais modelos que mais favorecem o desenvolvimento profissional docente, com a
constante presença do professor-orientador a fim de acompanhar e orientar o aluno
durante todo o processo, articulando para que este consiga relacionar os conhecimentos
teórico-práticos, com vistas a sua inserção no contexto escolar e o estabelecimento da
reflexão crítica da prática educativa e da formação acadêmica desse futuro professor.

“Schön propõe uma formação profissional baseada numa


epistemologia da prática, ou seja, na valorização da prática
profissional como momento de construção de conhecimento, através
da reflexão, análise e problematização desta, e o reconhecimento
tácito, presente nas soluções que os profissionais encontram em ato.
Esse conhecimento na ação e os conhecimentos tácitos, implícitos,
interiorizado que está na ação e que, portanto, não a precede. É
mobilizado pelos profissionais no seu dia-a-dia, configurando um
hábito” (PIMENTA, 2005, p. 19-20).

Na teoria se constituem saberes; na prática, conhecimentos.

Ao sentar-se no banco de uma instituição de nível superior o acadêmico chega


cheio de esperanças. É a universidade, um sonho de muitos que se realiza. Nela o
estudante deseja encontrar conhecimentos e saberes que irão contribuir para o seu futuro
profissional. Os conhecimentos logo chegam provenientes de Mestres e Doutores,
pesquisadores que buscam interagir com os novos acadêmicos suas experiências e seus
saberes docentes, mas teoricamente toda teoria requer uma prática, e nesta prática é que
o estudante vai experimentar a teoria, assim acreditamos que: Na teoria se constituem
saberes; na prática, conhecimentos.

Antes de entrarmos neste mérito seria plausível que tentássemos diferenciar um


termo do outro. Qual seria então a diferença entre saber e conhecimento? É complexo
responder uma pergunta que para muitos parece ter o mesmo significado, mas pensamos
que o saber abarca a vivência do indivíduo desde o seu nascimento, ou seja, parece ser
hereditário, cultural se constitui a partir das práticas sociais e não científicas da vivência
humana. É constantemente praticado, se renova a partir das necessidades sociais e deve
ser respeitado pela ciência. Em muitos casos o saber não admite interferência, isto pelo
seu caráter de hereditariedade6, assim ele se torna culturalmente válido.

Já o conhecimento parte do princípio de que todo individuo possui saberes, ou


seja, o conhecimento é um saber que se transforma de acordo com as práticas, ou se
constitui a partir desta, pensamos que a própria ciência surge da necessidade humana de
querer saber mais, assim o conhecimento ao se transformar, interfere no saber da
sociedade, podendo ou não mudar os hábitos de um grupo, seja pela conscientização,
seja pela imposição7. Quando se pesquisa para validar hipóteses, se constitui pela prática
conhecimentos. Assim quando afirmamos que na teoria se constituem saberes, falamos
daqueles já vivenciados pela prática de outros, mas somente a teoria comprovará para
nós sua validade científica, assim pela prática se testa saberes teoricamente constituídos
e se constitui conhecimentos novos, momentaneamente válidos ou não.

A constituição de saberes e conhecimentos pela prática docente

Para ser válida, pensamos que toda teoria requer uma prática. Nos cursos de
licenciaturas do CEFET-PA a prática se dá através da disciplina Vivência na Prática
Educativa, do Estágio Supervisionado ou Vivência Educacional como é denominado
diferentemente em várias instituições, porém utilizaremos aqui o termo Estágio na
Docência.

É no Estágio na Docência que o futuro professor colocará em prática os saberes


teoricamente adquiridos durante o Curso, mas o mais importante é que na escola
laboratório ele vai encontrar outros conhecimentos já constituídos pela prática de outros
6
Falamos aqui do saber dos pajés e dos curandeiros indígenas. Eles não permitem que a ciência médica mude seus
rituais.
7
Falamos aqui da imposição da religiosidade cristã, sobre os índios da América.
professores. Pensamos que é a partir desta interação de idéias que o futuro professor
construirá saberes necessários para sua prática, assim como refletirá sobre ela.

Mas será que o estágio docente que está sendo praticado nas licenciaturas vem
refletindo esta realidade? Para ser válido o estágio requer interação e reflexão sobre a
prática, então sua validade dependerá a nosso ver da interação ensino, pesquisa e
extensão. O aluno da licenciatura interage na universidade, ele pesquisa saberes e
durante este processo ele estende para a sociedade os conhecimentos construídos entre
a academia, a escola, o professor que esta na escola e o professor que esta na
academia, constituindo assim conhecimentos reflexivos sobre / para sua prática.

“Os professores aprendem sua profissão por vários caminhos, com


a contribuição das teorias conhecidas de ensino e aprendizagem e
inclusive com a própria experiência. O aprender a ser professor, na
formação inicial ou continuada, se pauta por objetivos de
aprendizagem que incluam as capacidades e competências
esperada no exercício profissional de professor” (LIBÂNEO, 2005, p.
73).

A consciência de que estamos em estado de aprendizagem, nos lança como seres


no mundo, responsáveis pelo projeto de vida de cada um, pela auto-educação
aprendendo a ser, para depois ser responsável pelo projeto de vida institucional,
permeado pela pesquisa, pelos saberes e por aquilo que se desconhece. Então ao seguir
para o estágio o aluno busca aquilo que ele ainda não conhece que é a prática, não
podendo assumi-la sozinho.

Compreendemos que o licenciando em estágio já é um profissional docente que irá


incorporar na prática competências, saberes e habilidades de criatividade e inovação, de
cooperação e de trabalho em equipe, de gestão e tomada de decisões, de aquisição e
produção de conhecimentos, de expressão e comunicação, que muitas vezes ele já traz
consigo, não sendo somente reprodutor de conhecimentos já estabelecidos, muitas vezes
longe da prática do ofício de professor.

Trata-se de um profissional novo, construindo possibilidades de atuação na


docência visando à aprendizagem multidimensional e a compreensão da prática
pedagógica como um processo de investigação, de desenvolvimento e de aprimoramento
contínuo; busca estabelecer relações entre as áreas do conhecimento e o contexto social
que atua.

No estágio o novo professor terá possibilidades de desempenhar um papel


transformador da realidade de forma a contribuir para o desenvolvimento da ciência,
tecnologia, arte, cultura, encontrará a diversidade; e a partir desta promoverá a formação
de cidadãos para uma sociedade fundada no conhecimento, no trabalho e na necessária
reflexão sobre valores éticos, de justiça e de integração social. Estas possibilidades
dependem da relação de reciprocidade entre orientando – orientador – escola – professor.

Porém, GATTI (1997 apud ARNONI, 2001, p.19 - 20), ao levantar questões em
torno da qualidade da formação de professores, aponta o Estágio como um de seus
pontos críticos. Para ela, o problema do Estágio não é recente, parece datar desde sua
instituição. E, apesar dessa problemática ser sobejamente conhecida, continua sem
solução nas instituições formadoras.

Sua programação e seu controle são precários, sendo a simples


observação de aula a atividade mais sistemática. A participação em
atividades de ensino depende das circunstâncias e da
disponibilidade do professor da sala. Não há, de modo geral, um
acompanhamento, de perto, das atividades por um supervisor na
maioria das escolas. O controle se dá muito mais por meio de
relatórios bimestrais ou semestrais. (GATTI, 1997 apud ARNONI,
2001, p.19 - 20).

Percebemos assim que a interação cujo fizemos referencia anteriores, não vem
sendo cumprida nas licenciaturas, tendo-se como resposta a precariedade citada por
GATTI (1997). Se compreendermos que o estágio é o exercício da prática sua avaliação
deve conter processualmente a prática, sendo assim os relatórios de estágio são fontes
importantes para futuras consultas e avaliação. Também pensamos que o estágio na
docência representa uma ocasião privilegiada para investigar o processo de aprender a
ensinar, nestes termos a oportunidade não se restringe a quem estagia, mas também a
escola e a quem orientam o estágio docente.

Estudos realizados por GARCIA (1998) em sua pesquisa sobre formação de


professores enfatizaram a importância do estágio na formação inicial destes em diferentes
paises e chegaram à conclusão que os principais problemas que afetam os estágios são a
assessoria e a supervisão inadequadas por parte dos professores universitários e a falta
de colaboração entre a escola e a universidade. Em uma outra linha de pesquisa, o
estudo revela que as tarefas que habitualmente os estagiários são designados são as
relacionadas como explicar lições, ajudar os alunos a fazerem a tarefa, observar como se
dirigem a classe e corrigir o trabalho do aluno. Sendo assim o estágio acaba por perder o
seu valor como prática de formação, nestes casos a contribuição para construção de
conhecimentos e a interação escola academia fica prejudicada, além do estagiário não
responder na prática o que lhe foi teoricamente apresentado.

Estágio na formação docente: união teoria - prática, contribuições didáticas.

Um ponto importante a discutir é que durante muito tempo, e até hoje ainda vigora
em algumas instituições superiores de ensino, a presença de uma grade curricular
dicotomizada entre disciplinas específicas e disciplinas pedagógicas, que se mantiveram
ou mantêm-se separadas seguindo caminhos independentes até o final do curso, quando
enfim culminavam ou culminam com o estágio curricular obrigatório.

A disciplina Vivência na Prática Educativa constitui-se num componente curricular


obrigatório dos Cursos de Formação de Professores e Licenciaturas do CEFET-PA, cujo
desenvolvimento ocorre de forma articulada e integrada às demais disciplinas que
compõem a matriz curricular dos cursos, promovendo a articulação entre as diferentes
práticas, numa perspectiva interdisciplinar, de acordo com as diretrizes preconizadas no
Art.13 da resolução CNE/CP 1/2000. A carga horária obrigatória para o referido projeto é
de 1000 horas, sendo distribuídas ao longo do curso, de modo a propiciar ao aluno a
vivência de experiências no campo da prática profissional desde o início de sua formação,
sendo que 400 horas dessa carga horária são destinadas ao estágio curricular obrigatório.
Percebe-se que o referido projeto rompe com o modelo tradicional de formação de
educador, que fundamentado no modelo de racionalidade técnica, coloca a vivência
prática para o período de conclusão do curso.

Para MELLO (2000, p. 11) A prática do curso de formação docente é o ensino,


portanto cada conteúdo que é aprendido pelo futuro professor no seu curso de formação
profissional precisa estar permanentemente relacionado com o ensino desse mesmo
conteúdo na educação básica. Isso implica em um tipo de organização curricular que em
todas as disciplinas do curso de formação permita também, a transposição didática do
conteúdo aprendido pelo futuro professor e a contextualização do que está sendo
aprendido na realidade da educação básica. Evitando assim, o distanciamento entre as
disciplinas de conteúdos específicos das de conteúdos pedagógicos.
Ainda segundo esta autora, de acordo com esse princípio, desde o primeiro ano e
em todas as disciplinas de uma licenciatura especializada, por exemplo, a de Física, o
exercício de transposição didática do conteúdo e a prática de ensino deveriam estar lado
a lado, ministrados pelo mesmo professor ou por outro professor que também seja
especialista na área. Entendemos que a transposição didática requer prática pedagógica
em união com a teoria em todas as disciplinas do currículo desde o primeiro ano na
universidade e não somente nas disciplinas pedagógicas.

Considerações Finais

Dimensionar uma prática cujos reflexos provêm de uma teoria afastada pode ser
difícil, o certo talvez fosse compreender teoria e prática imbricadas, e assim refletir mais
sobre o fato do licenciando ter de ir buscar na prática aquilo que ele teorizou. Ao professor
orientador seria imprescindível tempo e autonomia, para construção de uma prática
relativamente válida, mas é importante compreender também que, quem supervisiona
qualquer prática, deve também ter relacionamento com a teoria aplicada a ela, aliás, este
é um dos fatores que o currículo fragmentado proporciona um distanciamento das
disciplinas pedagógicas das licenciaturas das disciplinas específicas. Acreditamos que
uma prática relacionada cujos princípios didáticos estejam na disciplina em si de forma
específica e não na distribuição de disciplinas teóricas versus práticas-pedagógicas pode
contribuir em muito para uma prática reflexiva.

Enfim acreditamos que o consenso entre os diferentes profissionais da educação, a


necessidade de um professor preparado para lidar com as exigências da sociedade atual,
com respostas que nasçam da análise e da reflexão da nossa realidade imediata com
significados sociais e político, com reflexos educacionais nos currículos e que envolvam
compromisso na formação docente, podem contribuir para o redirecionamento das
práticas nas licenciaturas, porém, não bastam apenas mudanças em nível das políticas
públicas educacionais, mas transições voltadas para a formação de um profissional
docente sensibilizado. Portanto, a profissionalização docente deve se impor como
prioridade absoluta na agenda das políticas nacionais de educação.

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