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ADENOCARCINOMA EM CÉLULAS GÁSTRICAS PRODUTORAS DE MUCO EM CÃO


– RELATO DE CASO

Julia Iracema Moura Pacheco¹, Camilla Valéria Muchau Machado¹, Maicon Roberto Paulo²,
Ana Luiza de Souza Andretta², Ana Carolina Camargo de Oliveira Aust 3

¹Discente de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná – jjuliapacheco12@gmail.com

² Médicos Veterinários no Hospital Veterinário São Bernardo – Curitiba – PR

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Professor orientador da Universidade Tuiuti do Paraná

Palavras-chave: estômago; maligno; neoplasia

INTRODUÇÃO

O adenocarcinoma em células produtoras de muco no estômago é uma neoplasia maligna


com origem nos tecidos glandulares que assume crescimento infiltrativo e difuso. É
responsável por 70% a 80% dos cânceres de estômago em cães, normalmente
encontrado na porção da curvatura menor. Tal localização facilita, assim, os linfonodos
regionais serem alvos de metástase (WITHROW e VAIL, 2007). Acredita-se que pode ser
desenvolvido por ingestão de compostos carcinogênicos (agrotóxicos ou água com
excesso de nitrato) ou colonização da mucosa por Heliobacter pylori (WILLARD,1997). Os
sinais da doença são emagrecimento, dor abdominal, náusea, diarréia, hiporexia,
cansaço, êmese, melena e podem apresentar pólipos múltiplos ou únicos (DALECK C. et.
al. 2009). O diagnóstico baseia-se atualmente nos critérios da OMS, partindo de uma
avaliação composta de diversas caraterísticas clínicas e laboratoriais que visam
principalmente a exclusão de infecções no estômago. Dentre os procedimentos
realizados, podemos destacar o raio-x e o ultrassom, sendo este último responsável por
indicar o formato da lesão, evidenciar espessamento de parede gástrica e identificar
linfadenomegalia (SOBRAL et. al, 2009). Após o diagnóstico conclusivo, o principal
tratamento é a intervenção cirúrgica para gastroplastia. O prognóstico é excelente para
tumores sem metástase após cirurgia de retirada.
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RELATO DE CASO
Um paciente canino, macho, não castrado, Chow Chow, de 10 anos, pesando 20 kg foi
atendido no Hospital Veterinário São Bernardo em Curitiba-PR, com queixa de
emagrecimento progressivo, êmese e hiporexia há aproximadamente duas semanas.
Durante o exame físico não foi observado nenhuma alteração. Foram realizados exame
de ultrassom e raio-X, onde foi observado estômago preenchido por conteúdo
predominantemente líquido, gasoso e alimentar. Também foi possível observar motilidade
diminuída, espessura severamente aumentada (1,48 cm) com perda da estratificação da
parede gástrica. Com base nesse resultado, o procedimento indicado foi celiotomia
exploratória. No momento do procedimento cirúrgico, foi encontrado massa em parede de
curvatura menor do estômago e realizada a gastroplastia parcial. O material foi enviado
para análise histopatológica onde foi confirmado o Adenocarcinoma. O pós operatório do
paciente foi realizado com antibioticoterapia, analgésico, protetor gástrico e alimentação
pastosa em pequena quantidade durante 10 dias. Além disso, optou-se por associação de
ciclofosfamida para ação quimioterápica. O paciente permaneceu em remissão durante 8
meses e retornou para reavaliação após dois episódios de êmese. Foi realizada uma
ultrassonografia abdominal exploratória que revelou recidiva do tumor gástrico, optando-
se então, por nova intervenção cirúrgica, finalizando cerca de 70% do estômago retirado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Classificado como raro na literatura, o câncer de estômago na espécie canina possui
como principais sinais a ocorrência de vômitos crônicos, melena, dor abdominal e
ptialismo (WITHROW e VAIL, 2007). Porém, no presente caso, o paciente não
apresentava melena ou hematêmese, somente encontrado trombocitopenia no exame de
sangue.
De acordo com Froes (2004) a espessura gástrica esperada em um paciente canino
saudável é de 3 a 5 milímetros, contudo, o paciente apresentava um aumento
considerado de 1,48 cm, o que demonstra uma anomalidade. No exame histopatológico
observou-se uma massa tecidual, medindo 46 x 30 x 20 mm, com coloração
esbranquiçada, células neoplásicas poliédricas dispostas de maneira desordenada
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formando blocos celulares coalescentes, as quais, exibem núcleo redondo central e


citoplasma abundante por material mucoso. Como cita Webb (2009) as células
neoplásicas cromatina possuem discreta e fina rima de citoplasma granular.
No dia seguinte a operação o paciente apresentou mucosa pálida, indicando sinal de
anemia com o restante dos parâmetros dentro da normalidade. O tratamento
medicamentoso foi realizado através de ranitidina (25mg/kg/BID), ampicilina
(22mg/kg/BID), tramadol (4mg/kg/TID), citrato de maropitant (1mg/kg/SID) e suplemento
vitamínico.
Pelo fato de não haver metástase a terapia instituída foi a cirúrgica para remoção de
lesões conforme sugere Sobral et. al. (2009).

CONCLUSÃO
O adenocarcinoma de células produtoras de muco no estômago é uma neoplasia maligna
com crescimento infiltrativo de rápido desenvolvimento considerado agressivo, porém,
com uma anamnese completa, atenção do Médico Veterinário aos sinais clínicos,
correlação de exame clínico com exames complementares é possível fazer o diagnóstico
certo e optar pela intervenção cirúrgica no local da curvatura menor, mesmo sendo uma
área delicada por conter muitos vasos. A partir desses cuidados, o prognóstico se torna
favorável e aumenta a expectativa de vida do paciente.

REFERÊNCIAS

FROES T. R. Ultrassonografia do trato gastrointestinal. In: Carvalho CF. Ultra-sonografia


em pequenos animais. São Paulo: Editora ROCA; 2004. p.147-64.

SOBRAL R. A.; DALECK C.R.; RODASKI S.; DE NARDI A. B.; PASCON J. P. E.


Neoplasias do Sistema Digestório. In DALECK C. R. Oncologia em Cães e Gatos. São
Paulo: Roca, 2009. p. 318-324.

WEBB J. L.; RAKICH P. M.; LATIMER K. S. Diagnóstico Citológico e Hematologia de


Cães e Gatos. 3. ed – São Paulo: MedVet, 2009.

WILLARD, M. D. Afecções do Estômago. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado


de Medicina Interna Veterinária, Editora Manole, v. 2, p. 1583-1595, 1997.
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WITHROW S. J.; D. M. VAIL. Withrow & MacEwen’s Small Animal Clinical Oncology 4 TH
Edition. Editora ELSEVIER, 2007.

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