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VÍRUS DA ZICA: ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS PARA O ENSINO DE BIOLOGIA

Conference Paper · December 2018

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3 authors, including:

Luciana Veiga Frederico Cruz


Federal University of Rio de Janeiro Federal Rural University of Rio de Janeiro
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VÍRUS DA ZICA: ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS PARA O ENSINO DE BIOLOGIA
Luciana Lima de Albuquerque da Veiga [1], Frederico Alan de Oliveira Cruz [2], Marta Assis de Araújo
[3]
[1] Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Saúde – Universidade
Federal do Rio de Janeiro, lucianalimaveiga@gmail.com
[2] Professor Adjunto do Departamento de Física da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
frederico@ufrrj.br
[3] Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro,
martassis33@yahoo.com.br

Resumo: O presente artigo tem como objetivo relatar a utilização de algumas estratégias
didáticas para abordar o tema vírus da zica em uma sala de aula do Ensino Médio. As aulas
foram divididas em seis partes, promovendo momentos de reflexões e diálogos entre os
participantes das aulas. Ao final foi percebido que os estudantes apresentavam muitas dúvidas
e conceitos equivocados, e que as estratégias didáticas foram instigantes e educativas para
todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, essa experiência
promoveu um aprendizado mais significativo sobre o tema, contribuindo para a prevenção da
doença.
Palavras-chave: Aedes aegypti, Arboviroses, Estratégia didática, Ensino de ciências.

Resumen: El presente artículo tiene como objetivo relatar la utilización de algunas estrategias
didácticas para abordar el tema zika virus en un aula de la Enseñanza Media. Las clases se
dividieron en seis partes, promoviendo momentos de reflexión y diálogos entre los participantes
de las clases. Al final se percibió que los estudiantes presentaban muchas dudas y conceptos
equivocados, y que las estrategias didácticas fueron instigadoras y educativas para todos
involucrados en el proceso de enseñanza-aprendizaje. De esta forma, esa experiencia promovió
un aprendizaje más significativo sobre el tema, contribuyendo a la prevención de la
enfermedad.
Palabras claves: Aedes aegypti, Arbovirosis, Estrategia didáctica, Enseñanza de ciencias.

Abstract: This article aims to report the use of some didactic strategies to approach the zika
virus theme in a high school classroom. The classes were divided into six parts, promoting
moments of reflection and dialogue between the participants of the classes. At the end it was
noticed that the students presented many doubts and misconceptions, and that the didactic
strategies were instigating and educational for all involved in the teaching-learning process. In
this way, this experience promoted a more meaningful learning on the subject, contributing to
the prevention of the disease.
Keywords: Aedes aegypti, Arboviroses, Didactic strategy, Science teaching.

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1. Introdução

O atual cenário socioeconômico e a realidade presente na maioria das escolas públicas


brasileiras têm demandado um grande esforço por parte dos profissionais da educação para
motivar os estudantes, permitindo a eles compreenderem a necessidade de uma formação mais
ampla para entender o mundo em que vive e assim mudar a sua realidade social. Dentro dessa
perspectiva, buscar temas atuais que estejam em consonância com os conteúdos que devem ser
abordados em consonância com o currículo estabelecido pelas secretarias de educação é um
grande passo para a motivação dos estudantes em relação a aprendizagem.
Vale ressaltar que é fundamental envolver os alunos com temas associados a sua própria
realidade local, seja como elemento motivador ou como conclusão de algum tema que esteja
sendo apresentado pelo professor, visto que esse ambiente, a escola, em alguns casos é o único
espaço para a discussão de problemas sociais que possa ser oportunizar para debate entre esses
indivíduos, promovendo um ambiente fecundo para o processo de ensino-aprendizagem.
Muitos pesquisadores têm utilizado algumas práticas do quotidiano como tema em sala de aula,
como: qualidade da água, poluição sonora, doenças infectocontagiosas, melhoria no trânsito,
equidade racial e tantos outros de interesse social para criar um ambiente propício para a
aprendizagem (Anacleto & Bilota, 2015; Daane, Decker, & Vashiti, 2017; Pereira, 2017; Theisen
et al, 2014).
Esse tipo de proposta educativa tem como ideia perceber que:
“[...] quanto mais o homem for capaz de refletir sua realidade, maiores condições terão de agir sobre
ela, comprometendo-se assim em mudá-la, pelo fato de sentir-se inserido, partícipe, produtivo nela.
Assim, o trabalho educativo será expressão da consciência crítica, quando os homens que o fazem,
manifestam a capacidade de diálogo orientada para a práxis” (Schram & Carvalho, 2003, p. 5).
Além disso, diversos documentos oficiais, federais, estaduais e municipais, sempre sugerem
como deve ser o processo formativo dos alunos. Indicando que: “... é imprescindível considerar
o mundo vivencial dos estudantes, sua realidade próxima ou distante, os objetos e fenômenos
com que efetivamente lidam, ou os problemas e indagações que movem sua curiosidade”
(Brasil, 2004, p. 23 (Brasil, 2004, p. 23). Visto que:
“O saber assim adquirido reveste-se de uma universalidade maior que o âmbito dos problemas
tratados, de tal forma que passa a ser instrumento para outras e diferentes investigações. Essas duas
dimensões, conceitual/universal e local/aplicada, de certa forma constituem-se em um ciclo dinâmico,
na medida em que novos saberes levam a novas compreensões do mundo e à colocação de novos
problemas.” (Brasil, 2004, p. 23)

Dentro desse ideal, deve a escola:


“[...] formar um cidadão para viver no mundo em constante transformação. Um ser capaz de ser crítico
e autônomo, capaz de se sair bem nas mais variadas situações, ou seja, ter um conhecimento global, do
mundo no qual vive. Estar preparado para qualquer situação da vida diária.” (Almi, 2009, p. 32)

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2. O tema abordado e relação com a realidade local
O tema abordado nessa prática tem relação com o impacto das doenças produzidas por
mosquitos, na perspectiva de associar os conteúdos presentes nos livros e o mundo real vivido
pelos estudantes. Sendo assim, na busca por um tema de interesse, a ideia foi abordar os casos
da doença do vírus da zica que tiverem grande impacto na saúde pública brasileira a partir de
2015, quando:
“[...] o nascimento de crianças com microcefalia motivou a ida de uma missão da vigilância em saúde
federal a Recife, acompanhada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que se uniram às
equipes das secretarias de Saúde do estado de Pernambuco e do município. Não havia números, mas
relatos clínicos que já se tornavam volumosos, olhares angustiados, dúvidas, desorientação. Imagens
que impregnam a memória: crianças, fotos, exames de tomografia e ultrassom. Muitos profissionais
traziam históricos clínicos detalhados, organizados, sobre as crianças e as mulheres sob seus cuidados.”
(Brasil, 2017, p. 52)
O que começou de forma isolada em uma região se estendeu por grande parte do país, fazendo
com que mais de cinco mil casos fossem confirmados desde os primeiros meses de 2015 até
fevereiro de 2016, obrigando que, apesar de certo conhecimento sobre a doença, fossem
realizadas pesquisas para a sua completa compreensão e tentativa de minimizar o número de
casos da doença.
A grande questão é que o vetor responsável pela transmissão da doença é um velho conhecido
dos brasileiros: o mosquito Aedes Aegypti, que está ligado diretamente aos casos de dengue.
Essa doença, que pode ter níveis leves (assintomático) e graves (com efeitos hemorrágicos
capaz de levar a morte), já atingiu um número considerável de brasileiros nas últimas duas
décadas (Soares, Fragoso, & Cruz, 2017) e pode ser considerado hoje um dos maiores
problemas de saúde pública do país.
No município de Seropédica, por exemplo, que está localizada na Baixada Fluminense, e é um
dos mais pobres entre os municípios que compõem a região (Cardoso, 2008), foram registrados
mais de dois mil casos da doença (Sanavria et al, 2017) com um aumento de mais de 600% entre
2014 e 2015 (SESRJ, 2016), ou seja, o mosquito responsável por essa doença deve ter se
proliferado pela falta de saneamento básico e cuidados dos habitantes/autoridades locais em
combater focos nas residências/locais públicos.
Diante desse cenário e da enorme gama de informações nas mídias sobre os episódios de zica,
surge a motivação desse trabalho que tem como objetivo geral apresentar a experiência
realizada na disciplina de biologia no ensino médio sobre o tema zica vírus, de forma a
potencializar experiências e conhecimentos que produzam possibilidades de prevenção e
combate ao agente causador da doença. Tendo ainda como objetivos específicos, investigar os
conhecimentos dos estudantes sobre o assunto e estimular uma aprendizagem mais
participativa, estimulante e potencialmente significativa.

3. A proposta de intervenção pedagógica e suas bases conceituais


Diante da gravidade do tema exposto anteriormente e da necessidade de promover uma
mudança signifcativa na aprendizagem dos estudantes em relação a práticas que pudessem ser

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difundidas em suas vidas cotidianas, este trabalho tem como pespectiva a construção da
proposta baseada na teoria da aprendizagem significativa (TAS).
A TAS teve sua origem na análise de situações no processo de ensino, ou seja, com foco na
aprendizagem promovida na escola, diferenciando como esta pode ocorrer: mecanicamente ou
significativamente. Quando ocorre uma aprendizagem significativa, o estudante consegue
relacionar o novo conhecimento que lhe é apresentado com os conhecimentos prévios que se
encontram presentes na sua estrutura cognitiva, e que o psicólogo estadunidense David
Ausubel considerou como sendo os subsunçores. Estes elementos são fundamentais para a
aprendizagem, pois são eles que irão auxiliar a ancoragem dos novos conhecimentos e assim
promover um processo de organização (ou reorganização) do conhecimento (Ausubel, 2000).
Em outro ponto, temos que (Rogers, 1969, p. 157-163, apud Moreira, 1999, p. 140-141): “... o
aluno tem um desejo natural de aprender e esta é uma tendência” e “a pessoa aprende
significantemente apenas aquilo que ela percebe como envolvido na manutenção e
engrandecimento do seu próprio eu.”
Baseando-se nessas ideias e visando contribuir para que os estudantes pudessem refletir sobre
a sua realidade local, foi realizado um estudo orientado por uma perspectiva descritiva
qualitativa, visando apresentar um relato de experiência acerca da vivência da professora e dos
estudantes em uma sala de aula de biologia a partir da busca de possibilidades para construção
e reflexão das temáticas envolvendo o tema já mencionado por meio de atividades teóricas e
práticas. Tais atividades visaram promover o processo de ensino-aprendizagem de conceitos de
natureza científica presentes no quotidiano doa estudantes do Ensino Médio (que compreende
os 10º, 11º e 12º anos de escolarização).
A atividade foi realizada durante o ano de 2016, com estudantes do segundo ano do ensino
médio (11º ano de escolarização), de uma Escola Pública da rede estadual de educação
localizada na cidade de Seropédica, que como tantas outras da região sofre com a falta de
estrutura para o atendimento adequado para a formação escolar.
O processo de intervenção seguiu a seguinte sequência lógica:
Aula expositiva e dialogada - O objetivo dessa etapa foi fazer um panorama sobre
o tema proposto de forma a possibilitar a imersão do diálogo entre os diversos atores:
estudante-professor e estudante-estudante;
Leitura de artigo – A escolha de realizar uma leitura de artigo sobre o tema da
doença do vírus da zica, teve como intenção demonstrar para os estudantes que o
conhecimento acerca do tema ainda encontra-se muito no campo das pesquisas, e que
muitos conceitos a respeito do assunto precisam ser elucidados na comunidade
científica;
Construção de mapa conceitual sobre o problema – Os mapas conceituais tem
sido uma ferramenta bastante utilizada na educação nos últimos anos, e por isso, a
inserção dessa atividade tem como propósito promover uma organização dos
conhecimentos adquiridos durante as etapas anteriores dessa intervenção didática;

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Dinâmica com o uso de história em quadrinhos (banda desenhada) - A finalidade
dessa etapa foi utilizar uma linguagem próxima a dos adolescentes por meio de
imagens presentes nesse material;
Debate – Essa atividade teve como intuito criar uma dinâmica que possibilitasse
aos estudantes a liberdade de exporem suas opiniões, em relação ao tema para
discutirem com os demais colegas;
Avaliação – Por fim foi realizada uma avaliação, aplicando-se um questionário
buscando conhecer o que os estudantes compreenderam, ao longo do conjunto de
atividades, sobre o tema.
Dessa forma, a escolha por desenvolver diferentes práticas pedagógicas teve como objetivo
geral promover a inserção de conhecimentos de uma maneira que pudesse cativar os
estudantes e também por permitir uma atitude mais ativa para a aprendizagem.

4. Discussão e avaliação da implementação da proposta

Dentro do que foi estabelecido inicialmente, a atividade ocorreu ao longo de cem minutos de
discussão dos conteúdos, em função da disponibilidade da disciplina Biologia dentro da grelha
de horários da Secretaria Estadual de Ensino do Rio de Janeiro (quadro 1).

Quadro 1 - Descrição das etapas das atividades realizadas em sala de aula


IDENTIFICAÇÃO
ESTRATÉGIAS TEMPO
DA ATIVIDADE
Aula expositiva e
Exposição do conteúdo por meio de apresentação em PowerPoint. 20 minutos
dialogada
Leitura de artigo Uso de artigo “Mais uma do zika (Chagas, 2016)”, para estudo. 10 minutos
Construção de
Construção de Mapa Conceitual no quadro com a ajuda dos
Mapa Conceitual 10 minutos
estudantes (Figura 01 a).
sobre o problema
Dinâmica com o Propor a leitura da história em quadrinhos (banda desenhada), do
uso de história em personagem Luluzinha, visando para auxiliar na interpretação do
30 minutos
quadrinhos (banda tema por meio de uma linguagem mais aproximada dos estudantes
desenhada) e menos formal (Figura 01 b).
Momento de debate e reflexão sobre os aprendizados das
Debate 20 minutos
atividades realizados.
Aplicação de Questionário com perguntas de acordo com as
Avaliação 20 minutos
atividades.

Na etapa da aula expositiva, que teve um caráter mais informativo e menos formal que de
costume, foi possível perceber que apesar dos estudantes prestarem bastante atenção na fala
do professor, quando estes são indagados ou convidados a participarem da explanação,
sentem-se tímidos e preferem ficar quietos. Isso demonstra que esse tipo de atividade, apesar

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de ter sua importância, não deve ser utilizada isoladamente, pois não tem grande potencial
dialético.
Seguindo a metodologia proposta, após o período de explanação foi entregue aos estudantes
uma cópia do artigo intitulado “Mais uma do Zika vírus” (Chagas, 2016), que tem uma
linguagem menos técnica, apesar de ainda com caráter científico, para facilitar a leitura em sala
de aula. Os estudantes se dividiram em duplas para fazer a leitura do texto e nesse momento
puderam conversar mais à vontade com o colega sobre o assunto, onde foi possível perceber a
boa aceitação dessa atividade por parte dos alunos.
A terceira etapa da atividade teve como ponto de partida um levantamento das palavras que os
estudantes achavam que estavam relacionadas com o assunto. Para isso foi realizado um
“brainstorming” (figura 01a), visando à construção de um de um mapa conceitual coletivo. Essa
ideia pretendeu mostrar a todos os estudantes todas as relações existentes com os seus
conhecimentos e o tema de interesse, oferecendo os estímulos adequados para uma
aprendizagem significativa.
Na sequência foi introduzida a revistinha em quadrinhos (banda desenhada) intitulada
“Luluzinha Teen” (figura 01.b), que foi recebida com muito espanto pelos estudantes e alguns
deles perguntaram se o conteúdo realmente fazia parte da disciplina. Esse tipo de
comportamento mostra como o modelo tradicional, sem o uso de técnicas distintas do
convencional, ainda é a forma mais usada na exposição dos conteúdos.
A abordagem se mostrou positiva, visto que os estudantes consideraram que a linguagem
utilizada pelo autor do material era bem simples, demonstrando a potencialidade de inserção
deste tipo de atividade ilustrativa em sala de aula. Vale ressaltar que o conteúdo da cartilha é
sobre a dengue, porém os cuidados para prevenção e combate são iguais à do zica vírus, por se
tratar do mesmo vetor, sendo bastante útil durante esta intervenção didática.

(a) (b)
Figura 1 - (a) Brainstorming para Mapa Conceitual, (b) capa da revista em quadrinhos (banda
desenhada) usada na atividade

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Posteriormente, para possibilitar a participação de todos por intermédio de um diálogo, na
quinta etapa dessa intervenção, houve a realização de um debate por meio de uma roda de
conversa. Os estudantes se sentiram instigados a falar e perguntar, o que levou a uma boa
interação entre a professora e os estudantes, promovendo um ambiente reflexivo e de dialógico
como preconizado por Freire (1996).
A avaliação final da atividade sobre zica vírus foi realizada com a aplicação de um questionário
contendo cinco perguntas de respostas abertas. Que possuíam as seguintes indagações:
Como o vírus da zica chegou ao Brasil?
Há pesquisas em andamento sobre esse vírus no país? Comente.
Qual a relação entre o vírus da zica e a microcefalia?
Mulheres que já tiveram o vírus da zica devem evitar a gravidez? E as que
não tiveram?
O que você tem feito, ou pode fazer, para ajudar a erradicação do vetor
Aedes aegpity?
Numa avaliação percentual de acertos, na avaliação das quatro primeiras questões, apenas 25%
dos itens foram considerados totalmente corretos (TC), quase 65% foram respostas
parcialmente corretas (PC), isto é, tinham fundamento até certo ponto, e aproximadamente
10% delas estavam completamente erradas (TE) (figura 02).

Figura 2 - Relação das respostas dos estudantes, sendo TC: Totalmente correta, PC:
Parcialmente correta, e TE: Totalmente errada

Na primeira pergunta do questionário ocorreu grande dificuldade para os alunos responderem,


isto porque na introdução da apresentação realizada durante a aula teórica e dialogada, foi
citado que a zica teria chegado no Brasil provavelmente em 2013 na copa das confederações,
mostrando que o tema até certo ponto interessou os estudantes.

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Para responder à questão referente a realização e o andamento das pesquisas sobre o o vírus da
zica no país, embora a maioria tenha respondido “sim”, que há pesquisas no país, muitos deles
não conseguiram responder de forma clara. Foram encontradas respostas como: “Há pesquisas
na Fiocruz”, “Existem pesquisas nos Estados Unidos” (um estudante), “Há estudos em busca da
cura da doença do vírus da zica, a qual tem relação com a microcefalia, assim como a relação
com as mortes de bebês no país” (dois estudantes), “Ainda não foi desenvolvida a vacina e
existem muitas dúvidas em relação ao o vírus da zica, como, por exemplo, sobre a possibilidade
de serem mosquitos modificados cientificamente e sobre quais formas eles pode transmitir a
zica” (um estudante), “Existem pesquisas em vários laboratórios de diferentes estados,
principalmente onde a incidência da doença tem sido grande” (um estudante), “Há pesquisas
para o desenvolvimento de vacina, assim como para investigar a origem do vírus e de como
realizar a sua prevenção a fim de evitar a contaminação” (um estudante).
No que tange a questão sobre a microcefalia, umas das consequências gravíssimas da zica, a
avaliação por meio do questionário demonstrou que os estudantes não tinham muito
conhecimento sobre o assunto, e apenas uma parte conseguiu relacionar os casos de zica com a
microcefalia. Isto chamou a atenção pois durante a apresentação do tema e na leitura do artigo,
haviam claramente essas informações. Mas de certa forma, corrobora com a percepção de que
em alguns momentos da aula teórica boa parte dos estudantes estavam dispersos.
Já na questão que abordou sobre a possibilidade de evitar a gravidez no período de surto da
doença, as respostas obtidas atenderam o resultado esperado, pois a maioria dos estudantes
responderam satisfatoriamente, que é necessário evitar a gravidez no período do surto, mas
sem muita clareza se aquelas que tiveram o contato com o vírus poderiam engravidar depois de
algum tempo.
Na questão relacionada a prevenção em relação ao agente causador da doença, esta também
foi respondida de forma satisfatória, uma vez que todos os estudantes responderam que
deveriam eliminar objetos que acumulem água parada, porém, os estudantes comentaram que
na prática não estão realizando este controle.

5. Considerações Finais

De forma geral percebeu-se que nas atividades mais dinâmicas e lúdicas, como a construção do
mapa conceitual, a roda de conversa e a leitura do gibi, a turma demonstrou bastante interesse
no assunto e buscaram interagir contando seus casos. Porém na hora de responder o
questionário, mostraram desinteresse em colocar a sua opinião no papel, ficando evidente que
não gostam muito de escrever, indicando a necessidade de encontrar os motivos para essa
resistência e se existem formas de contornar essa situação.
O resultado dessa prática apenas corrobora o discurso de Lourenço & Paiva (2010, p. 133), onde
afirmam que: “... a motivação dos alunos é um importante desafio com que nos devemos
confrontar, pois tem implicações directas na qualidade do envolvimento do aluno com o
processo de ensino e aprendizagem”.

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Junto a isso, reintegramos a nossa preocupação inicial, de incentivar os estudantes a interagir os
conhecimentos presentes no seu quotidiano com as aulas de biologia, afim de criar um
ambiente em que o diálogo possa imergir, tornando as aulas mais agradáveis e promovendo
uma aprendizagem com mais significado. Desta forma, acreditamos que é necessário promover
o envolvimento dos estudantes com os conteúdos a serem ensinados. Para isto, sabemos que
existe um universo de estratégias que vem sendo pesquisadas e que tem sido eficiente, mas que
cada escola, cada ambiente, cada grupo de estudantes e cada indivíduo, possuem suas
particularidades.
Nesse sentido, acreditamos que as diferentes atividades propostas nesse trabalho
possibilitaram motivar e promover um movimento dialógico dos estudantes com os estudante e
dos estudantes com a professora. Além disso, foi percebido que mesmo com tantas
informações vinculadas na mídia os estudantes ainda possuíam conceitos equivocados e / ou
confusos sobre o tema proposto, zica vírus, portando sendo a escola ainda um local propício
para esclarecer e promover a troca de experiências entre os conhecimentos adquiridos na vida
quotidiano e os conhecimentos ditos científicos.
Finalmente, vale lembrar que Pozo & Crespo (2009) destacam que é preciso situar a educação
científica no contexto de uma sociedade em que sobra informação e faltam marcos conceituais
para interpretá-las, de modo que a transmissão de dados não possa ser a finalidade principal da
educação científica, na verdade, o ensino de ciências deveria estar pautado em dar sentido ao
mundo que nos rodeia, a compreender as leis e os princípios que o regem. Sendo assim, buscar
uma alternativa para abordar esses temas de uma maneira menos formal, pode ser uma forma
de permitir que os estudantes compreendam e correlacionem os conceitos científicos com a
vida quotidiana, proporcionando a verdadeira educação para exercício de sua cidadania.

Referências

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