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ME Andrey Felipe Lacerda

PSICOLOGIA ANALÍTICA JUNGIANA


CAPÍTULO - I

Sumário: 1. História de Carl Jung; 2. Método inicial; 3. O rompimento com Freud; 4.


Diferenças conceituais e metodológicas entre Freud e Jung; 4.1 O inconsciente para
Carl Jung; 4.2 Persona ou máscara; 4.3 Anima e Animus; 5. A unificação com o todo;
6. Os Complexos; 7. O inconsciente coletivo e o DNA; 8. Psicologia, Religião e
Inconsciente coletivo 9. Os arquétipos; 10. A cura; Conclusão

Introdução
Freud talvez seja mais lembrado, sendo certo que a importância de Jung em nossa
cultura, é resumida por Marie-Louise Von Franz: “No tocante a Jung, a originalidade e
a criatividade de suas descobertas e ideias se relacionam com todo o ser humano,
tendo portanto ecoado nas mais variadas áreas exteriores à psicologia: seu conceito de
sincronicidade, por exemplo, refletiu-se na física quântica e na sinologia; sua
interpretação psicológica dos fenômenos religiosos, na teologia; sua concepção
fundamental do homem, na antropologia e na etnologia; sua contribuição para o
estudo dos fenômenos ocultistas, na parapsicologia – para mencionar uns poucos
casos” (VON FRANZ, 1997).
Ressalte-se, de antemão, que a separação entre Freud e Jung gira em torno do que é
religioso/místico ou metafísico na psique.
Quanto às razões para ser fazer uma terapia junguiana pode-se destacar que essa é
uma pergunta muito frequente. A avaliação de quanto tempo vai durar a terapia ou o
se ela vai proporcionar algo de diferente no sujeito ou na coletividade, em termos de
mudança e autoconhecimento, é tão variável quanto são os indivíduos.
Contudo, podemos salientar que todos nós acumulamos uma vasta experiência
psíquica que se torna inconsciente, podendo resultar em distúrbios como: neuroses,
depressão, manias, problemas com a sexualidade, intentos suicidas, personalidade
voltada para o crime e instintos suicidas. Inicialmente estabelecemos como premissa
que as pessoas são extremamente diferentes. Frequentemente nos deparamos com
isso e achamos que “todo homem é igual”, que “toda mulher faz ou pensa assim” ou
então pensamos que existem tipos ou grupos de pessoas parecidas, assim como fazia
webber.
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A verdade é que a individualidade é um fato. Mesmo alguém sendo perfeitamente


“normal”, seu código genético é diferente, suas referências histórico-culturais
também, sendo certo que todos buscam inspiração para modelar o seu caráter ou
persona, imitando e modelando-se conforme “os outros” a quem admira ou tem
aversão.

1. História de Carl Jung – Ele deixou de se tornar um neurocirurgião porque1, na sua


visão, a psiquiatria lhe daria a oportunidade de reunir duas áreas de seu maior
interesse: as ciências naturais (medicina) e as ciências humanas (o estudo da psique de
pacientes com sérios transtornos mentais).
Tanto na faculdade da Universidade da Basileia quanto no Hospital Burgholzli, Jung foi
orientando pelo psiquiatra Eugen Bleuler, criador do conceito de esquizofrenia – que
anteriormente era chamada de demência precoce. Começam então duas atividades
que são fundamentais ao longo da carreira de Jung: a pesquisa empírica e teórica das
doenças mentais, por um lado e, por outro, a prática clínica – a tentativa de ajudar ou
de melhorar o quadro dos pacientes em sofrimento.
2. Método inicial – Inicialmente consistia em livre associação, assim como Freud, Carl
Jung iniciou uma séria de pesquisas utilizando o teste de associação de palavras. Neste
teste, há duas pessoas: o paciente e o médico. O médico cria uma série aleatória de
palavras, em torno de cem, e a cada palavra o paciente deve responder com a primeira
que lhe vier à cabeça. Em todos os casos analisados, em algumas palavras específicas,
o paciente não respondia ou demorava muito para responder; enquanto que para
outras palavras indutoras (gatilhos mentais), respondia apenas com sons semelhantes
(como, por exemplo, responder à palavra pai – com cai)2.
Ao contrário de Freud, Jung via nestas palavras, para as quais os pacientes não davam
respostas, uma interferência que o paciente (conscientemente) não percebia, e que,
portanto, tentava esconder. A partir de tais experiências, Jung cunhou o conceito de
complexo de tonalidade afetiva, que pode ser definido como um forte afeto, ou
1
Diferente de outros médicos de sua época tratava cada paciente com humanidade, como indivíduo e
não como um diagnóstico a ser descoberto; a isto denominamos “visão de alteridade” alter – ego.
2
Segundo Freud isso caracterizava-se como um ato falho - A psicanálise só se desenvolveu como
ciência a partir do momento em que Freud se deu conta de que o método da hipnose era improdutivo,
pois esbarrava em “mecanismos de defesa” da mente, provocando fuga, recalcamento, atos falhos e,
por vezes ataques histéricos. Em suas palavras “ A teoria do recalque é a pedra angular sobre a qual
repousa toda a estrutura da psicanálise. É a parte mais essencial dela e, todavia, nada mais é senão a
formulação teórica de um fenômeno que pode ser observado quantas vezes se desejar se se empreende
a análise de um neurótico sem recorrer à hipnose. Em tais casos encontra-se uma resistência que se
opõe ao trabalho da análise, pois o paciente alega falhas de memória. O uso da hipnose ocultava essa
resistência, portanto.
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padrão emocional, ligado a uma palavra ou um grupo de palavras (as palavras com
alteração na resposta). De acordo com o autor: “Os complexos devem sua relativa
autonomia à sua natureza emocional, sua expressão sempre depende de uma rede de
associações agrupadas em torno de um centro carregado de afeto” (JUNG, 1991, 601)
A criação do conceito de complexo foi a primeira contribuição de Jung à área da
psiquiatria e influenciou a psicanálise e a psicologia.
Ainda no que diz respeito a diferença metodológica entre Freud e Jung pode-se dizer
que o método analítico, ou redutivo, nos moldes aristotélicos, procura dividir as partes
de um conteúdo psíquico – como um sonho ou sintoma – em várias partes e analisar o
sentido existente ali; trata-se de um modelo cartesiano, portanto, encontrando na
análise de cada parte a chave da interpretação. O método sintético ou hermenêutico
de Jung procura fazer uma síntese de todo o conteúdo, sem analisar cada parte com
associações livres, já que associar livremente a partir de um material levaria à outros
conteúdos.
Por exemplo, se o paciente havia sonhado com um leão em sua casa junto da presença
de sua mãe, a interpretação da psicanálise dividiria cada parte do conteúdo, buscando
associações para cada parte: para o leão, para a casa, para a mãe. Assim, o paciente
iria pensar livremente primeiro sobre o significado de leão (tudo o que lhe ocorresse),
depois sobre o sentido de casa, e assim por diante. Possivelmente, a interpretação
correta estaria mais nas associações retiradas de cada parte do que do próprio
conteúdo. Já a interpretação sintética visa não fugir do conteúdo. Um leão é um leão e
não deve ser associado com qualquer outro conteúdo.
Outra diferença é que Freud, em sua interpretação, retrocedia à história anterior do
indivíduo, indo, frequentemente, parar na infância do paciente. Para Jung (assim como
para Alfred Adler), era igualmente importante considerar o para que, o sentido
teleológico do conteúdo psíquico, ou seja, considerar não apenas as causas, mas
também as finalidades, a direção que o conteúdo tomaria ou poderia tomar no futuro.
(Jung, 1985, 16)

Em um de seus últimos livros,  Prática da Psicoterapia, publicado em 1951, dez anos


antes de sua morte Jung escreve: “Nos casos mais graves de neurose, não se deveria
aplicar indistintamente um ou outro método, mas, dependendo do tipo do problema, a
análise deve seguir de preferência os princípios de Freud e Adler. Quando as sessões
começam a ficar monótonas e repetitivas (…) está na hora de abandonar o tratamento
analítico-redutivo e de tratar os símbolos analogicamente, ou sinteticamente, o que
equivale ao método dialético e à individuação” (Jung, 1985, 16).
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O terapeuta junguiano, por meio de métodos expressivos verbais e não verbais –


sonhos, desenhos, sand play3, mitologia, contos de fada, entre outros – ajuda o
paciente a acessar seu inconsciente, encontrando o caminho da cura. Esses métodos
precisam ser utilizados justamente porque a linguagem do inconsciente é simbólica e
os dois juntos – terapeuta e paciente – vão decodificá-la, aproximando-se do
inconsciente e gerando um processo de verdadeira transformação.

3. O rompimento com Freud


Com a publicação do último capítulo do livro Símbolos da Transformação da
Libido, intitulado “O Sacrifício”. Jung discorda abertamente da concepção de libido de
Freud, que, naquele momento, possuía ênfase apenas na sexualidade. Para Jung, a
libido ou energia psíquica era mais ampla, englobando não só a sexualidade como
outras áreas importantes da vida psíquica, como o poder, a alimentação, a
espiritualidade, etc.
No período após o rompimento, ao longo das obras de Jung, pode-se notar diversas
críticas à psicanálise de Freud. Duas são especialmente frequentes: a crítica à
importância ou papel excessivo da sexualidade na psique e a crítica ao método
interpretativo. No devido tempo, explicaremos também a diferença das concepções
sobre a religião ou religiosidade.
4. Diferenças conceituais e metodológicas entre Freud e Jung
Não obstante os dois autores trabalharem com a ideia de inconsciente/consciente,
existem diferenças substanciais entre os dois autores. Para Freud o inconsciente é
composto pelo Ego, Superego e Id. Obviamente não existe tal seccionamento entre
essas “partes” da mente, contudo, a divisão cartesiana serve apenas para observar
fenômenos psíquicos e distúrbios da psique individual de natureza diversa e sob um
prisma diferente, propiciando a compreensão do mecanismo mental como um todo.
Nesse sentido, Id, Ego e Superego são instâncias que formam a psique humana, de
acordo com a Teoria da Personalidade, desenvolvida por Sigmund Freud. O Id,
portanto, é a parte instintiva ou animal do ser humano; consiste nos desejos, vontades
e pulsões primitivas, formado principalmente por padrões comportamentais e
emocionais dirigidos par obter prazer ou evitar uma dor psíquica. A partir do Id, na

3
Sandplay é uma atividade terapêutica que proporciona a oportunidade de brincar (trickster). Ao fazê-
lo, as crianças desenvolvem o humor, a imaginação, a curiosidade, a espontaneidade, a invenção;
imitando, contando, sentindo e vivenciando histórias, estabelecendo relações de tempo e espaço.
Aproxima-se de um modelo de “story telling” onde ela é a protagonista da sua história e cúmplice do
enredo metafísico, de sonho ou imaginação ativa que desenvolve seu espírito ou alma. A psicoterapia
que utiliza o Sandplay propicia um tipo de brincar simbólico.
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visão freudiana, outras duas instâncias se formam gradativamente com o crescimento


da criança: Ego e Superego.
O Ego surge a partir da interação do ser humano com a sua realidade, adequando os
seus instintos primitivos (o Id) com o ambiente em que vive. O Ego é, assim, o
mecanismo responsável pelo equilíbrio da psique, procurando/tentando regular os
impulsos do Id. Assim como um termostato, o Ego tem uma dupla função: ao mesmo
tempo que tenta satisfazer alguns desejos e impulsos do id, permitindo que alguns
impulsos ganhem visibilidade e sejam satisfeitos, de outro lado, recalca outros que
poderiam causar dor ou emoções de natureza aflitiva, capazes de despertar
sentimentos de vergonha, de autocensura e dor psíquica. Tudo isso surgiria,
inconscientemente, como defesa, isto é, uma forma de censura por parte do ego do
paciente à ideia ameaçadora, forçando-o manter-se fora da consciência; e a resistência
era o sinal extremo dessa defesa.
Já no que diz respeito ao Superego, verifica-se que a ideia central  desenvolve-se a
partir do Ego e consiste na representação dos ideais e valores morais e culturais do
indivíduo em determinado espaço-tempo. O Superego atua hora como Censor, hora
como “conselheiro” para o Ego, alertando-o sobre o que é ou não moralmente aceito,
de acordo com os princípios, fatos, traumas e cultura que foram absorvidos pela
pessoa ao longo de sua vida.
No que tange a perspectiva junguiana, a personalidade total ou psique, como é
chamada por ele, consiste de vários sistemas isolados, mas que atuam uns sobre os
outros de forma dinâmica.
Os principais subsistemas correspondem, na psicologia analítica de Jung, ao ego, ao
inconsciente individual e ao inconsciente coletivo, à persona, à anima ou animus, e à
sombra. Tais elementos, como um todo, formam a personalidade total ou Self, que
representa a unificação com todo após um processo de individuação.
O ego ou eu é o responsável pela identidade e continuidade, e é encarado, do ponto
de vista da pessoa, como sendo o centro da personalidade (ou encarnado). Também é
denominado mente consciente, isto é, aquela que tem foco. A consciência, portanto, é
constituída de percepções, images, memórias, pensamentos e sentimentos
conscientes. Funciona, mais ou menos, como o lado esquerdo racional do cérebro,
porém não tanto reflexivo como o superego de Freud.
4.1 O inconsciente para Carl Jung
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Contrapondo-se à consciência há o inconsciente, que é subdividido em duas regiões: o


inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo4.
No livro Aion, estudos sobre o simbolismo de Si-Mesmo, Jung escreve: “os conteúdos
do inconsciente pessoal são aquisições da existência individual, ao passo que os
conteúdos do inconsciente coletivo são arquétipos que existem sempre e a priori”.
O inconsciente individual é uma região adjacente ao ego, e consiste em experiências
que foram reprimidas, suprimidas, esquecidas ou ignoradas. Tais conteúdos são
acessíveis à consciência, e há muitas trocas de conteúdos entre este e o ego.
Os conteúdos do inconsciente coletivo são arquetípicos5, ou seja, são inatos, de
natureza universal e são os mesmos em toda a parte e em todos os indivíduos. O termo
arquétipo não tem por finalidade denotar uma ideia herdada, mas sim um modo
herdado de funcionamento psíquico, assim como uma mitologia, religião ou
ensinamento tribal que tem significado emocional e espiritual. Podem ser
demonstrados pelo diálogo que, por vezes o eu de percepção consciente tem com
outro centro autônomo, assim como em conversas ou diálogos interiores. Vale
ressaltar que os arquétipos também denotam situações experenciadas por toda a
humanidade como a guerra, a celebração da paz, a maternidade, as relações familiares
de amor ou traição, sempre retratados em histórias e pela literatura.
Os arquétipos que se caracterizam mais nitidamente são aqueles que mais frequente e
intensamente afetam o eu. São eles: a persona, a sombra, a anima e o animus.
O inconsciente, segundo Jung é “a totalidade de todos os fenômenos psíquicos em
que falta a qualidade da percepção consciente” (Os arquétipos e o inconsciente
coletivo, p.69). Nele está contido tudo o que um dia foi consciente e logo após
reprimido por ser doloroso demais para permanecerem na consciência, bem como
lembranças rudimentares que foram perdidas por serem muito primitivas para

4
Trata-se de uma camada mais profunda do inconsciente que não tem sua origem em conteúdos
reprimidos ou experiências pessoais – como um trauma de infância p. ex. – o termo “coletivo” denota o
fato de essa parte inconsciente ser compartilhada de forma simbólica e universal. Assim,
contrariamente a psique individual, essa estrutura universal possuí conteúdos e modos de
comportamento, os quais cum grano salis são os mesmos em toda parte e em todos os indivíduos.
5
São formados por determinados padrões emocionais, sentimentos inconscientes, aromas, imagens,
ideias, formas e percepções carregados de determinada energia e informação. O arquétipo se relaciona
com a simbologia e não esgota seu sentido por meio de uma observação, ele sempre apresenta um
conteúdo inconsciente, o qual se modifica através de sua conscientização e percepção, assumindo
matizes que variam de acordo com a consciência individual na qual se manifesta. Exemplificando: Para
um ser “primitivo”, não basta ver o Sol nascer e declinar; esta observação deve corresponder – para ele
– a um acontecimento anímico ou metafísico, isto é, o Sol deve representar em sua trajetória o destino
de um deus ou herói que, no fundo, habita unicamente a alma do homem.
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tornarem-se conscientes. A estes conteúdos, Jung denominou “inconsciente pessoal”,


e afirmou que ele é constituído em sua maioria por complexos e constelações 6.
No entanto, é neste ponto que se encontra o diferencial da psicologia analítica de
Jung, pois, segundo ele, existem conteúdos do inconsciente, que jamais passaram pela
consciência. São constituídos por – instintos, frequências, padrões emocionais,
atitudes, atos de fala, funções e formas – que estão presentes em todo tempo e em
todo lugar. Eles formam o que Jung denominou de “inconsciente coletivo”, por serem
universais e uniformes e não participarem apenas da individualidade de cada
indivíduo.
No inconsciente coletivo encontram-se todos os arquétipos. Eles representam todas as
situações tipificadas da nossa vida e são ativados dependendo das situações que
vivenciamos. Por exemplo: arquétipo materno e paterno – quando vivenciamos a
relação com nossos pais ou nossos filhos; arquétipo do casamento – quando nos
unimos amorosamente a alguém; arquétipo do velho sábio – ao nos depararmos com
uma situação de ensino/aprendizagem; arquétipo da criança – situações que
despertam o lúdico dentro de nós; e assim por diante.
Todo arquétipo possui um lado positivo e um lado negativo e dependendo das nossas
vivências pessoais, valorizamos mais um ou o outro polo. Este desequilíbrio é
prejudicial à nossa saúde psíquica além de atrapalhar nossas relações sociais e
pessoais. A consciência, segundo Jung “propicia um trabalho bem ordenado de
adaptação, isto é, põe freios aos instintos e, por isso, é indispensável. Só quando o
homem possui a capacidade de ser consciente é que se torna verdadeiramente
homem” (Os arquétipos e o inconsciente coletivo, p.147).
Para ampliar nosso grau de consciência e promover a cura, este modelo junguiano do
inconsciente atribui aos arquétipos uma energia própria e criativa. Dessa forma, ao
acessar os conteúdos arquetípicos, iniciamos um processo de enfrentamento e
transformação. Para acessarmos os arquétipos a psique se utiliza de símbolos. Os
símbolos se manifestam por meio de vivências significativas do nosso dia a dia, como,
por exemplo, num conflito interno em que algo parece nos colocar em direção oposta
6
Este termo exprime o fato de que a situação exterior desencadeia um processo psíquico que consiste
na aglutinação e na atualização de determinados conteúdos. (A natureza da psique – § 198). A
expressão “está constelado” indica que o indivíduo adotou uma atitude preparatória e de expectativa,
com base na qual reagirá de forma inteiramente definida. A constelação é um processo automático que
ninguém pode deter por própria vontade. (A natureza da psique – § 198). Esses conteúdos constelados
são determinados complexos que possuem energia específica própria. Quando a experiência em
questão é a de associações, os complexos em geral influenciam seu curso em alto grau, provocando
reações perturbadas, ou provocam, para as dissimular, um determinado modo de reação […]. (A
natureza da psique – § 198). Constelar, portanto, significa ativar e conteúdos constelados são aqueles
com energia própria suficiente para provocar reações involuntárias no indivíduo. Equivale a uma
“possessão demoníaca”.
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do que queremos ou através dos nossos sonhos escrita e desenhos, quando lemos
mitologia, literatura ou contos de fada. Esta é a linguagem do inconsciente. Através
dos símbolos, da mitologia, histórias ou da religião acionamos maneiras criativas de
solucionar conflitos, contidas nos próprios arquétipos.
A função do símbolo é ser um intermediário, um “mediador” entre o consciente e o
inconsciente. Uma vez que o símbolo surge do lado criativo do arquétipo, ele vem
prenhe de significado. A parte consciente da psique capta esse significado para utilizá-
lo na solução de conflitos, ou no próprio processo de amadurecimento do indivíduo.
Além disso, o símbolo também é um transformador psíquico de energia. Isto significa
que ele possui um caráter de cura e restauração. É ele o responsável pelo movimento
da psique, uma vez que alivia as tensões de um conteúdo do inconsciente coletivo que
quer se manifestar, dando sentido e atingindo o consciente, evitando, desta forma a
formação de novas aglomerações de energia.
Em determinados momentos de vida, torna-se difícil encontrar esta comunicação com
o inconsciente por estarmos muito envolvidos com atividades cotidianas e
burocráticas, ou por termos vivenciado algum sofrimento profundo, ou porque esta
comunicação nunca foi valorizada em nosso ambiente.

4.2 Persona ou máscara


A persona é a máscara, mas não denota um sentido pejorativo, apenas uma forma de
se proteger em determinado ambiente social, usada pelo indivíduo em resposta às
solicitações da convenção e da tradição social e às suas próprias necessidades
arquetípicas trazidas do inconsciente coletivo para o pessoal. O conceito se refere às
máscaras (persona) usadas pelos atores na Antiguidade grega, em peças ritualísticas
solenes ou rituais de magia. Corresponde como imagem (imago dei) representacional
do arquétipo de adaptação, pois somente através da persona é que o indivíduo
consegue se adaptar ao mundo. Nesse ponto, é interessante fazer uma aproximação
com o conceito de superego de Freud, pois é a máscara que garante livre trânsito
social sem que a pessoa seja considerada estranha, maníaca ou excêntrica.
Vale salientar que quando a formação do indivíduo é inadequada devido a um treino
social insatisfatório ou à rejeição das formas sociais, este não consegue ou se recusa
a representar os papéis sociais que lhe são destinados, podendo transformar-se em
um trickster ou apresentar “mal comportamento” para os padrões convencionais. De
outro lado, caso a pessoa identifique-se somente com sua máscara termina por
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confundir o seu ego/identidade com a persona 7, assim sendo, o ser humano em


questão assume apenas uma posição social representando uma figura fixa, perdendo
toda a beleza e abundância que a vida plena pode lhe proporcionar, podendo causar
neuroses ou transtornos obsessivos compulsivos.
Na visão de Jung, há um relacionamento de oposição entre a persona e a sombra.
“A sombra – escreve Jung, no já citado livro – constitui um problema de ordem moral
que desafia a personalidade do eu como um todo”, pois a sombra apresenta “aspectos
obscuros da personalidade”. Como se passa no romance “O Fausto de Goethe”, ou na
história de O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll and Mr. Hyde).
Portanto, quanto mais clara a persona, mais escura será a sombra. Quanto mais
identificação houver entre o que se representa no mundo mais repressão haverá em
relação aos elementos que não se coadunam com tal representação, aumentando o
recalque e a energia escura condensada da sombra, podendo resultar nas mais
variadas doenças psíquicas.
4.3 Anima e Animus Em relação aos arquétipos8 da anima e do animus, Jung escreve
que sua manifestação pode ou deve ocorrer em personificações numinosas 9 ou em
sonhos, visões ou fantasias, ou seja, representarão personalidades inconscientes com
os quais o ego deverá lidar.
A anima e o animus são arquétipos daquilo que, em cada sexo, é inteiramente o
oposto. A anima constitui no homem as qualidades femininas, e o animus, na psique
da mulher, as qualidades masculinas, os quais podem ser representados pela filosofia
chinesa do Tao.
7
Tornando-se, desse modo, egocêntrico.
8
Na Teoria do Caos podemos encontrar uma resposta mais aproximada da configuração de um
arquétipo, já que estes não tem forma pré definida e se incluem em
sistemas  dinâmicos rigorosamente deterministas, mas que apresentam um fenômeno fundamental de
instabilidade chamado sensibilidade às condições iniciais que, modulando uma propriedade suplementar
de recorrência, torna-os não previsíveis na prática a longo prazo.
A alta sensibilidade às condições iniciais dá ao sistema não linear a característica de instabilidade, o que
faz com que seja incorretamente confundido com um sistema aleatório. A formação de uma nuvem no
céu, por exemplo, pode ser desencadeada e se desenvolver com base em centenas de fatores que
podem ser o calor, a pressão, a evaporação da água, os ventos,o tempo e o clima, condições do Sol, os
eventos sobre a superfície e inúmeros outros. Se as condições de todos estes fatores forem conhecidas
com exatidão no momento (ou momentum em física) presente, o exato formato de uma nuvem no
futuro pode ser previsto com exatidão. Porém, como as condições atuais exatas não são conhecidas, o
comportamento futuro também é difícil de prever.
Além disso, mesmo que o número de fatores influenciando um determinado resultado seja pequeno,
ainda assim a ocorrência do resultado esperado pode ser instável, desde que o sistema seja  não-linear.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_do_caos
9
Adjetivo - influenciado, inspirado pelas qualidades transcendentais da divindade.
"estado de alma”
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A anima, como imagem luminosa, ou seja, imago dei, afetiva espontaneamente


produzida pela psique, representa o feminino eterno. É a mãe, irmã, amada, a
prostituta, donzela, bruxa… Enfim, a anima é, para o homem, tudo o que uma mulher
pode ou deve ser. Ao passo que na mulher, durante o seu processo de individuação, se
confronta com o animus, sendo compensada pela natureza masculina, o animus,
significa razão, lógica, assertividade ou espírito (Lucífer, Jesus, amante, provedor,
Professor...).

5. A unificação com o todo


Para se alcançar a totalidade, faz-se necessário, como pré-requisito indispensável,
defrontar-se com a anima ou com o animus, superando dores, traumas e qualquer
material inconsciente a fim de alcançar uma união, ou a “coniunctio oppositorum” -
nos termos da alquimia- uma unificação dos opostos.
“Embora essa totalidade, à primeira vista, não pareça mais do que uma noção abstrata
(como a anima e o animus), é uma noção empírica, antecipada na psique por símbolos
espontâneos ou autônomos. Entre estes símbolos, podemos citar em especial os
símbolos da quaternidade, de circularidade e os que forma mandalas ou fractais10
(formas circulares geométricas euclidianas ou não), representados por uma função de
onda em física.
O processo de individuação liga todos os sistemas (ou partes) da psique até agora
definidos, num todo coerente.
No livro “O eu e o inconsciente”, Jung circunscreve o processo do seguinte modo: “há
uma destinação, uma possível meta além das fases (ou sistemas). Individuação
significa tornar-se um ser único, na medida em que por individualidade entendermos
nossa singularidade mais íntima, última e incomparável, significando também que nos
tornamos nosso próprio Si-Mesmo (nosso próprio deus ou rei interior). É no realizar-se
do Si-Mesmo”, fase que no esoterismo podemos chamar de unificação com a centelha
divina ou com o seu Deus11 interior, uno e múltiplo ao mesmo tempo.

10
A geometria fractal é o ramo da matemática que estuda as propriedades e comportamento dos
fractais. Descreve muitas situações que não podem ser explicadas facilmente pela geometria clássica, e
foram aplicadas em ciência, tecnologia e arte gerada por computador. As raízes conceituais dos fractais
remontam as tentativas de medir o tamanho de objetos para os quais as definições tradicionais
baseadas na geometria euclidiana falham.
Um fractal é um objeto geométrico que pode ser dividido em partes, cada uma das quais semelhante ao
objeto original. Diz-se que os fractais têm infinitos detalhes, são geralmente autossimilares e de escala.
Em muitos casos um fractal pode ser gerado por um padrão repetido, tipicamente um processo
recorrente ou iterativo. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fractal
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Nesse sentido, o objetivo de uma terapia, na abordagem da psicologia analítica ou


junguiana, é o processo de individuação, no qual o paciente “confrontando-se” com o
seu próprio inconsciente, tanto o coletivo, quanto o pessoal, chegará a ser a sua
própria totalidade, chegará à plenitude, ou seja, à sua personalidade total.
Portanto, podemos concluir que o conceito de personalidade para Jung não pode ser
reduzido ao termo persona (persona+lidade), pois a persona é apenas um dos
elementos que constituem a personalidade total, que, em psicologia analítica, então,
só pode ser considerada se o for em sua totalidade.
Para isso, temos que estudar todos os conceitos e a “geografia psíquica” ou “mapa da
alma”12.

6. Os Complexos
Jung percebe que um mesmo caso pode ser visto através de dois ângulos: sob o ponto
de vista de Freud (sexualidade – complexo de édipo) e sob o ponto de vista de Adler
(poder – complexo de inferioridade). Adler insiste que a principal questão que o
psicanalista deve lidar não é o complexo de Édipo, mas o complexo de inferioridade, no
qual os sentimentos infantis de ser inferior – física e psiquicamente – são
contrabalanceados com a vontade de poder, o desejo de ser superior aos demais.
Jung percebe que um mesmo caso poderia ser analisado e ter bons resultados se fosse
interpretado sob o ponto de vista de Freud ou de Adler. Surge então uma questão que
será recorrente em sua obra: a questão dos tipos psicológicos. Pois, não somente cada
paciente possui um tipo psicológico – como Freud e Adler são representantes de tipos
psicológicos totalmente opostos, ou que, no mínimo, não podem ser explicados pelos
mesmos princípios.
O segundo grande livro de Jung após o rompimento, Tipos Psicológicos  (1920), procura
responder à problemática dos diferentes tipos de personalidade e é seu livro mais
conhecido e vendido. Nele, há a definição de termos que serão conhecidos por todos
como introversão e extroversão, além dos tipos pensamento, sentimento, sensação e
intuição.
7. O inconsciente coletivo e o DNA

11
Embora Jung seja considerado muitas vezes um místico – por estudar os símbolos de muitas religiões –
ele se autoconsiderava um empirista, um cientista que trabalhava com material psíquico produzido e
que poderia ser visto, descrito e comparado.
12
Murray Stein o mapa da alma.
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Outra questão crucial é a diferença feita por Jung entre o inconsciente pessoal –
conceito que, apesar de já existir de certo modo antes de Freud, foi praticamente
elaborado e divulgado por ele – e inconsciente coletivo. No livro  Os arquétipos e o
inconsciente coletivo, Jung define inconsciente coletivo: “Uma camada mais ou menos
superficial do inconsciente é indubitavelmente pessoal. Nós a
denominamos inconsciente pessoal. Este porém repousa sobre uma camada mais
profunda, que já não tem sua origem em experiências ou aquisições pessoais, sendo
inata. Esta camada mais profunda é o que chamamos inconsciente coletivo” (JUNG,
2000, p. 15). Para psicanalistas mais contemporâneos, como Murray Stain 13, esses
conhecimentos ou imagens arquetípicas podem ser observados pelo código genético
do DNA das espécies, assim como pássaros aprendem, intuitivamente, as rotas
migratórias, ou como as tartarugas marinhas conhecem o caminho para depositar os
seus ovos a salvo de predadores hostis.
 O inconsciente pessoal seria objeto de pesquisa da psicanálise, tudo o que foi
reprimido ou recalcado e que faz parte da história pregressa de cada um de nós. O
inconsciente coletivo, por sua vez, constituí um dos temas mais estudados em
psicologia junguiana e diz respeito à determinados conteúdos simbólicos que podem
ser encontrados em culturas totalmente diferentes ou em tempos remotos, conteúdos
que são arquetípicos. Na autobiografia de Jung, Memórias, Sonhos e Reflexões, há a
definição de arquétipo: “O conceito de arquétipo (…) deriva da observação reiterada
de que os mitos e os contos da literatura universal encerram temas bem definidos que
reaparecem sempre e por toda parte. Encontramos esses mesmos temas nas fantasias,
nos sonhos, nas ideias delirantes e ilusões dos indivíduos que vivem atualmente”
(JUNG, 2006, p. 485).

8. Psicologia, Religião e Inconsciente coletivo


A forma como se observam os fenômenos religiosos e espirituais também era
considerada de forma diferente para um e para outro teórico. Como escreve Phillipe
Julien, no livro A Psicanálise e o Religioso: Freud, Jung, Lacan: “Se Jung se separou de
Freud a partir de 1913, não foi somente devido ao lugar que Freud concede à
sexualidade. Sua oposição concerne, sobretudo, à função religiosa no psiquismo,
função que Jung considera positiva se soubermos definir melhor o religioso” (JULIEN,
2010, p. 25).
A definição dada por Jung para o que é religião – e para o que é numinoso –  pode ser
encontrada na obra Psicologia e Religião. Esta obra é a transcrição de três
conferências sobre o tema da psicologia da religião dadas na Universidade de Yale,
13
STAIN, Murray. Jung: O Mapa da Alma: Jung: O Mapa da Alma. Cultrix.
Prof. ME Andrey Felipe Lacerda

as Terry Lectures. No que diz respeito ao termo religião, Jung utiliza-se da etimologia
proposta por Cícero, a religião como oriunda da palavra latina relegere14: “Antes de
falar de religião, devo explicar o que entendo por este termo. Religião é – como diz o
vocábulo latino relegere – uma acurada e conscienciosa observação daquilo que
Rudolf Otto acertadamente chamou de numinoso, isto é, uma existência ou um efeito
dinâmico, não causados por um ato arbitrário. Pelo contrário, o efeito se apodera e
domina o sujeito humano, mais vítima do que seu criador” (JUNG, 1995, p. 9).
Encaro a religião como uma atitude do espírito humano,
atitude que de acordo com o emprego ordinário do termo:
‘religio’, poderíamos qualificar a modo de uma consideração e
observação cuidadosa de certos fatores dinâmicos concebidos
como “potências”: espíritos, demônios, deuses, leis, ideias,
ideais, ou qualquer outra denominação dada pelo homem a tais
fatores; dentro de seu mundo próprio a experiência ter-lhe-ia
mostrado suficientemente poderosos, perigosos ou mesmo
úteis, para merecerem respeitosa consideração, ou
suficientemente grandes, belos e racionais, para serem
piedosamente adorados e amados (JUNG, 1991, p. 10).
Diante disso, o religioso15, para Jung é extremamente importante, desde que seja
definido de forma correta, é uma questão que não pode ser ignorada por uma teoria
psicológica. Como as culturas são muito variadas e, neste sentido, cada cultura
apresenta sua forma de lidar com o religioso de forma particular, faz-se necessário um
amplo estudo. Com o conceito de inconsciente coletivo, este estudo passa a ser
importante não apenas para a antropologia, história da religião ou ciências da religião,
mas igualmente importante para a psicologia. Pois conteúdos simbólicos, as metáforas
e alegorias que foram elaborados ou expressos em culturas totalmente diferentes,
aparecem em sonhos e sintomas dos pacientes na clínica, como resultado de
paranoias, manias de perseguição, transtornos obsessivos compulsivos, psicoses e
neuroses.
Nesse sentido, Jung passa a desenvolver uma concepção totalmente diferente da
psique e da energia psíquica. Expandindo-a para outros conteúdos, tendo sempre em
mente o conceito de inconsciente coletivo e arquétipo e, também, uma outra forma de
interpretação que não reduza tais conteúdos à história de vida de cada um, mas
relacione-os com a história da humanidade, já que fazem parte do inconsciente
coletivo.

14
Que significa religar-se com o todo
15
Espiritualidade e autoconhecimento.
Prof. ME Andrey Felipe Lacerda

Com o texto de 1912, Jung passa, então, a pensar a libido não como uma “força”
psíquica apenas sexual. Para ele, a libido deveria ser pensada como uma energia em
geral, que poderia ser transformada ou reutilizada em outros âmbitos e áreas. Como
trabalho, a música, a arte, a poesia e a escrita.

9. Os arquétipos
No inconsciente coletivo encontram-se todos os arquétipos. Eles representam todas as
situações emocionais/espirituais tipificadas da nossa vida e são ativados dependendo
das situações que vivenciamos. Por exemplo: arquétipo materno e paterno – quando
vivenciamos a relação com nossos pais ou nossos filhos; arquétipo do casamento –
quando nos unimos amorosamente a alguém; arquétipo do velho sábio – ao nos
depararmos com uma situação de ensino/aprendizagem; arquétipo da criança –
situações que despertam o lúdico dentro de nós; e assim por diante.
Todo arquétipo possui um lado positivo e um lado negativo e dependendo das nossas
vivências pessoais, valorizamos mais um ou o outro polo. Este desequilíbrio é
prejudicial à nossa saúde psíquica além de atrapalhar nossas relações sociais e
pessoais. A consciência, segundo Jung “propicia um trabalho bem ordenado de
adaptação, isto é, põe freios aos instintos e, por isso, é indispensável. Só quando o
homem possui a capacidade de tomar consciência daquilo que é arquetípico é que se
torna verdadeiramente homem” (Os arquétipos e o inconsciente coletivo, p.147).
A função do símbolo é ser um intermediário, um “mediador” entre o consciente e o
inconsciente. Uma vez que o símbolo surge do lado criativo do arquétipo, ele vem
carregado de significado. A parte consciente da psique capta esse significado para
utilizá-lo na solução de conflitos 16, ou no próprio processo de amadurecimento do
indivíduo.
Além disso, o símbolo também é um transformador psíquico de energia. Isto significa
que ele possui um caráter de cura e restauração. É ele o responsável pelo movimento
da psique para um ou outro lado, uma vez que alivia as tensões de um conteúdo do
inconsciente coletivo que quer se manifestar, dando sentido e atingindo o consciente,
evitando, desta forma a formação de novas aglomerações de energia. Podemos utilizar
o símbolo do anzol mental como algo que nos mantém presos a um pensamento ou
centro de consciência que não corresponde a quem realmente somos ou a uma
situação que não queremos permanecer.
16
Aqui é preciso delimitar bem a diferença entre ser e significar, caso contrário pode-se romper com a
barreira da realidade e ingressar em um estado de confusão mental. A questão se torna mais complexa
ao passo que o paciente descobre a dualidade onda/partícula e descobre o véu de Isis, acreditando,
sentindo e se comunicando em outras frequências e linguagens estranhas aos padrões convencionais;
confundindo e questionando a “realidade da matéria”.
Prof. ME Andrey Felipe Lacerda

Em determinados momentos de vida, torna-se difícil encontrar esta comunicação com


o inconsciente por estarmos muito envolvidos com atividades cotidianas e
burocráticas, ou por termos vivenciado algum sofrimento profundo, ou porque esta
comunicação nunca foi valorizada em nosso ambiente comunicativo.

10. A cura
O terapeuta junguiano, por meio de métodos expressivos verbais e não verbais –
sonhos, desenhos, sand play, simbologia, contos de fada, entre outros – ajuda o
paciente a acessar seu inconsciente, encontrando o caminho da cura. Esses métodos
precisam ser utilizados justamente porque a linguagem do inconsciente é simbólica e
os dois juntos – terapeuta e paciente – vão decodificá-la, aproximando-se do
inconsciente e gerando um processo de verdadeira transformação.

Conclusão
Conclui-se, destarte, que Jung buscou entender como determinados símbolos
psíquicos, não são sexuais, ou relacionados ao poder, devem ser compreendidos
hermeneuticamente diante de sua relação com os símbolos da tradição histórica,
literária ou religiosa, não apenas de nossa cultura, como também de todos as demais.
Uma dada concepção do que transcende o cotidiano e as experiências do dia a dia está
e estará sempre presente e deve ser objeto da psicologia analítica cultural.
Voltando à nossa questão sobre as razões para se fazer uma terapia analítica –
igualmente – de que modo termina ou para onde vai, pesquisei em diversos livros e
fontes essa resposta. Como sou um estudioso da obra de C. G. Jung, não podia deixar
de escolher um trecho de seu livro “A Psicologia e a Alquimia” (no qual ele analisa mais
de 800 sonhos de um paciente de sua clínica). Neste trecho, ele diz o seguinte:
“No processo analítico, isto é, no confronto dialético do
consciente e do inconsciente constata-se um desenvolvimento,
um progresso em direção a uma certa meta ou fim cuja
natureza enigmática me ocupou durante anos a fio. Os
tratamentos psíquicos podem chegar a um fim em todos os
estágios possíveis do desenvolvimento, sem que por isso se
tenha o sentimento de ter alcançado uma meta.
Certas soluções típicas e temporárias ocorrem:
1) depois que o indivíduo recebeu um bom conselho;
Prof. ME Andrey Felipe Lacerda

2) depois de uma confissão mais ou menos completa;


3) depois de haver reconhecido um conteúdo essencial, até então inconsciente, cuja
conscientização imprime um novo sentido ou impulso à sua vida e às suas atividades;
4) depois de libertar-se da psique infantil após um longo trabalho efetuado;
5) depois de conseguir uma nova adaptação racional a condições de vida talvez difíceis
ou incomuns;
6) depois do desaparecimento de sintomas dolorosos;
7) depois de uma mudança positiva do destino, tais como exames, noivado,
casamento, divórcio, perda de um grande amor ou ente querido, mudança de
profissão, etc;
8) depois da redescoberta de pertencer a uma crença religiosa ou de uma conversão;
9) depois de começar a erigir em seu coração uma nova filosofia de vida (“filosofia”, no
antigo sentido da palavra”). Se bem que a esta enumeração possam ser introduzidas
diversas modificações, ela define de um modo geral as principais situações em que o
processo analítico ou psicoterapêutico chega a um fim provisório, ou às vezes
definitivo.
Podemos notar então 9 razões e 9 fins para a terapia. Como ele mesmo menciona,
poderíamos fazer modificações a respeito de cada um destes pontos. Neste contexto,
está a reta senda do espírito e a unificação com o todo.
Faça sua vida valer a pena!

ANDREY FELIPE LACERDA


26.05.2019: 12:04

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