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Curso de EFA – Nível Secundário

Início em Setembro 2008

Corpus textual – A cidade

Máximas sobre a cidade

“Deus fez o campo, e o homem fez a cidade”

Fonte: "The Task"


Autor: Cowper , William    

A cidade não é a solidão porque a cidade aniquila tudo o que povoa a solidão. A cidade é
o vazio

Fonte: "Gilles"
Autor: La Rochelle , Pierre    

Os sentimentos mais genuinamente humanos logo se desumanizam na cidade

Fonte: "A Cidade e as Serras"


Autor: Queiroz , Eça    

Uma cidade é um mundo se amarmos um dos seus habitantes

Autor: Durrell , Lawrence    

Gostava de estar no campo para poder gostar de estar na cidade

Fonte: "Livro do Desassossego"


Autor: Pessoa , Fernando    

As cidades não são pátrias. É na província que se encontra o carácter e a mística duma
nação, e os grandes escritores deixam-se amarrar ao espírito das terras nulas e sensatas
a que extraem um brilho que a pedra polida da capital não tem

Autor: Bessa-Luís , Agustina    

O valor das cidades modernas está em incentivarem em nós o desejo de


felicidade dos que sabemos que nelas viveram e que sobre elas sentiram
e amaram
Fonte: "Sobre a cidade de Paris" Eduardo Prado Coelho
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A cidade na Literatura
A Prosa da Cidade
A Vida Vazia da Cidade

Instalámo-nos, portanto, na cidade. Aí toda a vida é suportável para as pessoas infelizes. Um homem pode viver
cem anos na cidade, sem dar por que morreu e apodreceu há muito. Falta tempo para o exame de consciência.
As ocupações, os negócios, os contactos sociais, a saúde, as doenças e a educação das crianças preenchem-
nos o tempo. Tão depressa se tem de receber visitas e retribuí-las, como se tem de ir a um espectáculo, a uma
exposição ou a uma conferência.
De facto, na cidade aparece a todo o momento uma celebridade, duas ou três ao mesmo tempo que não se pode
deixar de perder. Tão depressa se tem de seguir um regime, tratar disto ou daquilo, como se tem de falar com os
professores, os explicadores, as governantas. A vida torna-se assim completamente vazia.
Leon Tolstoi, in "Sonata a Kreutzer"
O Mal da Cidade

O Homem pensa ter na Cidade a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria. Vê,
Jacinto! Na Cidade perdeu ele a força e beleza harmoniosa do corpo, e se tornou esse ser ressequido e
escanifrado ou obeso e afogado em unto, de ossos moles como trapos, de nervos trémulos como arames, com
cangalhas, com chinós, com dentaduras de chumbo, sem sangue, sem fibra, sem viço, torto, corcunda - esse ser
em que Deus, espantado, mal pode reconhecer o seu esbelto e rijo e nobre Adão! Na cidade findou a sua
liberdade moral: cada manhã ela lhe impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para uma
dependência: pobre e subalterno, a sua vida é um constante solicitar, adular, vergar, rastejar, aturar; rico e
superior como um Jacinto, a Sociedade logo o enreda em tradições, preceitos, etiquetas, cerimónias, praxes,
ritos, serviços mais disciplinares que os dum cárcere ou dum quartel... A sua tranquilidade (bem tão alto que
Deus com ela recompensa os Santos) onde está, meu Jacinto? Sumida para sempre, nessa batalha desesperada
pelo pão, ou pela fama, ou pelo poder, ou pelo gozo, ou pela fugidia rodela de ouro!
Alegria como a haverá na Cidade para esses milhões de seres que tumultuam na arquejante ocupação de
desejar - e que, nunca fartando o desejo, incessantemente padecem de desilusão, desesperança ou derrota? Os
sentimentos mais genuinamente humanos logo na Cidade se desumanizam! Vê, meu Jacinto! São como luzes
que o áspero vento do viver social não deixa arder com serenidade e limpidez; e aqui abala e faz tremer; e além
brutamente apaga; e adiante obriga a flamejar com desnaturada violência. As amizades nunca passam de
alianças que o interesse, na hora inquieta da defesa ou na hora sôfrega do assalto, ata apressadamente com um
cordel apressado, e que estalam ao menor embate da rivalidade ou do orgulho. E o Amor na Cidade, meu gentil
Jacinto? Considera esses vastos armazéns com espelhos, onde a nobre carne de Eva se vende, tarifada ao
arrátel, como a de vaca! Contempla esse velho Deus do Himeneu, que circula trazendo em vez do ondeante
facho da Paixão a apertada carteira do Dote! Espreita essa turba que foge dos largos caminhos assoalhados em
que os Faunos amam as Ninfas na boa lei natural, e busca tristemente os recantos lôbregos de Sodoma ou de
Lesbos!...
Mas o que a Cidade mais deteriora no homem é a Inteligência, porque ou lha arregimenta dentro da banalidade
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ou lha empurra para a extravagância. Nesta densa e pairante camada de Ideias e Fórmulas que constitui a
atmosfera mental das Cidades, o homem que a respira, nela envolto, só pensa todos os pensamentos já
pensados, só exprime todas as expressões já exprimidas: - ou então, para se destacar na pardacenta e chata
rotina e trepar ao frágil andaime da gloríola, inventa num gemente esforço, inchando o crânio, uma novidade
disforme que espante e que detenha a multidão como um mostrengo numa feira. Todos, intelectualmente, são
carneiros trilhando o mesmo trilho, balando o mesmo balido, com o focinho pendido para a poeira onde pisam,
em fila, as pegadas pisadas; - e alguns são macacos, saltando no topo de mastros vistosos, com esgares e
cabriolas. Assim, meu Jacinto, na Cidade, nesta criação tão antinatural onde o solo é de pau e feltro e alcatrão, e
o carvão tapa o Céu, e a gente vive acamada nos prédios como o paninho nas lojas, e a claridade vem pelos
canos, e as mentiras se murmuram através de arames – o homem aparece como uma criatura anti-humana, sem
beleza, sem força, sem liberdade, sem riso, sem sentimento, e trazendo em si um espírito que é passivo como
um escravo ou impudente como um histrião… E aqui tem o belo Jacinto o que é a bela Cidade!
Eça de Queirós, in ‘A Cidade e as Serras’

As Virtudes da Cidade
Amo o ruído e a constante agitação das grandes cidades. O movimento contínuo obriga à observação dos
costumes. O ladrão, por exemplo, ao ver toda a actividade humana, pensa involuntariamente que é um patife, e
esta imagem alegre em movimento pode vir a melhorar a sua natureza decadente e arruinada. O boémio sente-
se talvez mais modesto e pensativo quando vê todas as forças produtivas, e o devasso diz possivelmente a si
mesmo, quando lhe salta aos olhos a docilidade das massas, que não é mais do que um sujeito miserável,
estúpido e vaidoso, que só sabe ufanar-se com soberba. As grandes cidades ensinam, educam, e não com
doutrinas roubadas aos livros. Não há aqui nada de académico, o que é lisonjeiro, pois o saber acumulado rouba-
nos a coragem.
E depois há aqui tanto que incentiva, que sustenta e ajuda. Quase não conseguimos dizê-lo. É tão difícil dar uma
expressão viva ao que é refinado e bom. Agradecemos as nossas vidas modestas, sentimo-nos sempre um
pouco gratos quando somos empurrados, quando temos pressa. Quem tem tempo para esbanjar não sabe o que
o tempo significa, é por natureza um ingrato. Nas grandes cidades qualquer moço de recados conhece o valor do
tempo e nenhum ardina quer perder o seu tempo. E tudo o que há nisto de sonho, de pintura e de poesia! As
pessoas passam com pressa e empurram-nos. Ora isto tem um signifcado, isto excita, isto põe o espírito em
movimento vivo. Quando hesitamos por um momento já nos passaram cem, centenas de coisas pela cabeça e
pelos olhos, e percebemos então nitidamente como somos vadios e madraços. Aqui todos têm pressa, porque
todos pensam a cada momento que seria bom lutar por alguma coisa e consegui-la. A vida ganha um fôlego
magnífico. As feridas e as dores são mais profundas, o júbilo de alegria é mais alegre e duradoiro que noutras
partes, pois quem aqui se sente alegre pensa sempre tê-lo merecido árdua e justamente pelo trabalho e pelas
fadigas.
Robert Walser, in “Jakob von Gunten”
A Cidade
Se fosse possível observar do espaço a história recente do nosso planeta, o aparecimento de grandes e
pequenas cidades assemelhar-se-ia a uma estranha proliferação de fungos, a qual, num espaço de tempo
relativamente curto, se alargaria a grandes zonas da superfície da Terra, tragando campos, florestas, montanhas e
desertos. A rapidez da expansão deste fenómeno poderia ainda sugerir que a amplitude deste tapete de cidades
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acabaria por, eventualmente, absorver todo o planeta. Alguns profetas da destruição antevêem o Mundo como
uma só cidade e preconizam que a Humanidade caminha na via infernal que conduz da grande metrópole à
necrópole. O excesso de população e os nefastos bairros de lata, os engarrafamentos de trânsito, a poluição da
atmosfera e o ruído insuportável contribuem para que o crescente desenvolvimento das cidades seja um dos
grandes problemas do nosso tempo.
Qual a origem das cidades? Onde, quando e porquê abandonaram os nossos antepassados nómadas a
sua vida errante, para se fixarem e construírem as primeiras habitações permanentes, originando assim o que
passou a ser considerado como sinónimo de civilização – a cidade?
(…)
Todas as comunidades nascem de uma necessidade – de segurança, convivência, permuta -, mas é impossível
uma comunidade subsistir sem alimentos. O fenómeno decisivo que levou à transformação de seres nómadas que
viviam da caça e da recolha de alimentos em habitantes da cidade foi o desenvolvimento dos meios de produção
de alimentos suficientes para as suas necessidades, evitando assim a dependência das contingências da caça.
Este facto ocorreu cerca de 8000 anos antes de Cristo’. ( … )
Estas cidades não só constituem uma tentativa deliberada e racional de adaptação ao meio ambiente,
como também uma tentativa de organização das relações humanas.

May Veber, Os Últimos Mistérios do Mundo


De olhar por esta janela
De olhar por esta janela este céu de cidade....
De cidade, digo eu... Este céu, sem traço de vida, sem cor, sem uma silhueta de terra nem de árvores,
extraordinariamente esbranquiçado... De o olhar só, me vem uma grande opressão! Sinto-me perdida
num infinito apagado, e incapaz de toda a fixação.
Como somos difíceis de conquistar! Julgamo-nos às vezes a pisar terra firme, a conhecer os lugares e as
pessoas, e basta uma impressão destas, um nada, para nos abater. Não é saudade que sinto, é
desapego, é falta de segurança.
Irene Lisboa, Solidão,

O PAPALAGUI
O chefe dos índios da ilha de Samoa situada na Polínésía. visitou a Europa e ficou
impressionado com o que observou. Regressado à sua terra fez vários discursos onde
contou os costumes e hábitos do Papalaguí (homem branco de uma forma muito crítica).
O Papalagui mora, como o mexilhão do mar, dentro duma concha dura. Tem pedras a toda a
volta de lado e por cima. A sua cabana assemelha-se a um baú de pedra posto ao alto; um baú cheio de
cubículos e de buracos.
É pois nestes baús que o Papalagui passa a vida.
Há, na Europa, tantos homens a viverem deste modo quantas palmeiras há em Samoa, ou mesmo muito
mais. Alguns hão-de ter, por certo um desejo ardente de ver a floresta, o sol e a luz; mas isso é
geralmente tido por doença a precisar de remédio. Quando alguém se não mostra contente com aquela
vida vivida no meio das pedras, dizem: «É um indivíduo desnaturado», o que quer dizer: ignora o que
Deus destinou para o homem.
Esses baús de pedra encontram-se em grande número e muito próximos uns dos outros;
nenhuma árvore, nenhum arbusto os separa: encontram-se ombro a ombro, como homens, e em cada
um deles há tantos Papalaguis como numa aldeia de Samoa. Do outro lado, à distância de uma pedrada,
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encontra-se uma outra fila de baús, igualmente ombro a ombro e habitados por homens. Entre essas
duas filas há uma estreita greta a que o Papalagui chama «rua».
Essa greta é, às vezes, tão longa como um rio e coberta de pedras duras. Pode-se deambular dias
inteiros entre essas gretas antes de se dar com uma floresta ou um naco de céu azul.
Nunca, no meio das gretas, se vê, na realidade, a cor do céu. É que em cada cabana há pelo
menos um, e por vezes vários sítios onde se faz fogo, e assim o ar está sempre cheio de fumo e de cinza,
como acontece durante a erupção da grande cratera de Savaii. Esse ar insinua-se pelas gretas, de modo
que os baús de pedra mais altos parecem-se com os limos dos pântanos de «mangrove», e os homens
apanham com terra negra nos olhos e nos cabelos e com areia dura nos dentes.
Mas isso não impede que os homens percorram as tais gretas desde manhã até à noite.
Alguns sentem mesmo com isso um especial prazer. Em certas gretas reina a confusão: são as
ruas que comportam enormes caixas de vidro onde estão dispostas todas as coisas de que o Papalagui
necessita para viver: panos, ornamentos para a cabeça, peles para os pés e para as mãos, provisões de
comida, carne, alimentos a sério como sejam os frutos, os legumes, e muitas coisas mais. Tudo ali está
para tentação dos homens. Mas ninguém tem o direito de tirar o que quer que seja, mesmo em caso de
extrema necessidade; para isso é preciso ter recebido uma licença especial e feito uma oferenda.
Nessas gretas, o perigo ameaça por todo o lado, pois não só os homens caminham em tropel,
como também circulam em todas as direcções ou se fazem transportar em grandes baús de vidro que
deslizam sobre rampas metálicas. O barulho é enorme.
Resumindo: baús de pedra com os seus muitos homens, fundas gretas de pedra correndo para
um lado e para outro, quais mil e um rios, com seres humanos lá dentro, barulho e estrondo, poeira
negra e fumo por toda a parte, árvore alguma no horizonte e nada de céu azul, nada de ar puro ou de
nuvens - a isto chama o Papalagui uma «cidade», criação de que muito se orgulha; quando muitos há,
que ali vivem, que nunca viram uma floresta, um céu lavado ou o Grande Espírito, face a face.
Orgulhar-se-á o Papalagui desses calhaus que assim juntou?
O Papalagui, Discursos de Tuiavii Recolhidos por Erich Scheurmann

Pastoril
Os rebanhos que pastam entre as urbanizações quase que não são de ovelhas. Chegam-nos ao
longe como avisos do exterior, a recordamos de que nunca estamos completamente a salvo desde
que a selva engoliu pedra a pedra todo o esplendor das cidades maias. Onde passarem serão sinais
de estranheza, rumores da inquietude vaga que por vezes visita o sono de uma civilização quando
ela dorme. Os rebanhos que pastam entre as urbanizações, como toda a gente sabe, não existem.
E, no entanto, conhecíamos de cor estas paisagens. Têm ruas ainda em pó ao longo de traçados
geométricos e pedras dentro das goelas dos buracos, ervas bravas nas bermas, flores amarelas
depois de chover. As casas formam grandes paralelepípedos de cores alternadas, amarelo e rosa,
azul e castanho à volta da rede de quadrados desenhada pelas janelas. As varandas são de
alumínio brilhante contra o sol se houver sol, e pode ser que os vãos de escada corram à vista,
celebrando ainda, mais uma vez, a memória colonial dos países quentes. Há candeeiros de quatro
braços, passeios desordenados, o desconforto quase imperceptível de um imagem que ficou por
terminar e deixou atrás de si os baloiços abandonados dentro de um círculo de terra batida.
Adivinha-se a ideia no papel de um projecto, mas nunca se vê a linha clara e limpa dos perfis que
se pressentem. Há automóveis, são muitos, alguns estão cobertos de oleado. Em qualquer esquina
aparecem as montras de uma loja que está para vender, com os vidros foscos cheios de riscos de
tinta branca. Ao lado fica o café. Um letreiro luminoso está pendurado sobre a porta. E, de
repente, passa o rebanho.
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É sempre um rebanho de ovelhas muito sujas, que trazem a lã toda em desmazelo, repassada de
fumos e poeiras. Um rebanho verdadeiro, com um rapaz experimentado nas funções de pastor, a
manejar o cajado como antes mesmo de se ver se espera de quem guarda rebanhos.
O cão trota-lhe sobre os passos, é pequeno e ladra às ovelhas. Não se sabe de onde saíram, para
que servem, que papel misterioso lhes cabe na economia das urbanizações. Mas a qualquer hora,
sobre qualquer via rápida, em qualquer rotunda de um acesso ao centro, eles podem passar como
se cruzassem uma herdade. Vieram não se sabe de onde, como não se poderá saber onde fica a
pastagem a que rumam. As ovelhas têm em qualquer parte do mundo os mesmos olhos, os
mesmos cascos finos nas patas sem graça. Só a pelagem encardida lhes trai aqui uma origem
bastarda, pobres enganos nascidos por descuido do ventre de uma imagem que já não devia,
nunca mais, gerar ovelhas.
Os rebanhos que passam pelas urbanizações são por regra muito grandes, atravessados no meio
do trânsito de um momento para o outro.
Os cordeirinhos hão-de saltar assustados quando virem relampejar um pára-choques, balidos
revolvem o ar, lançam chamadas trémulas de um lado ao outro do tropel. Comportam-se em tudo
como os rebanhos verdadeiros, e poderiam sem dúvida deixar leite borbulhante nas queijarias se
lhes dessem agora redis e noites de Inverno, onde espreitassem da neve os olhos amarelos dos
lobos, e os medos. Trotam e berram, revolvem a terra, sabemos que não podem deixar de ser
mentira. Mas as ovelhas cinzentas param por momentos a tasquinhar na relva. O rapaz atira uma
pedra, agita o cajado, assobia ao cão. Saltam para o passeio e começam a subir a encosta por trás
dos prédios.
Exactamente como se existissem mesmo.
Clara Pinto Correia, A música das Esferas, 1965

Poesia da cidade
CIDADE
Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Carrossel da vida na cidade
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Desde que acordo até que me deito
Saber que existe o mar e as praias nuas,
não paro de girar
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
O coração fica a saltar no peito
Que o mais vasto desejo,
de tanto acelerar
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Mais uma volta e fico tonta
Os muros e as paredes, e não vejo
de velocidade
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.
No carrossel da vida na cidade
 
Saber que tomas em ti a minha vida
Espero na bicha pelo autocarro
E que arrastas pela sombra das paredes
que tarda em chegar
A minha alma que fora prometida
Fumo cigarro atrás de cigarro
Às ondas brancas e às florestas verdes.
p’ra me controlar
Sophia de Mello Breyner Andresen
Engarrafamento Gritam as cores dos cartazes
de publicidade
Luzes ! amarelo No carrossel da vida na cidade
entre o verde
A vida é como um carrossel
e o encarnado
Dentro da cidade a vida é um carrocel
é o elo.
 
Chego a casa ao fim de mais um dia
de mais uma corrida
Quero pensar e sinto-me vazia
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Enervado
fuma outro cigarro.
Parado está o carro.
Carros, muitos carros,
carros, muitos cigarros.
Buzinas,
fortes e finas.
Só um apito
no meio desse infinito,
no meio desse cruzamento
com tanto movimento
e tão pequeno andamento.
Sinais,
muitos sinais,
muitos gestos,
sinais banais,
buzinas e protestos,
confusão,
poluição,
avenidas,
avenidas sem saídas,
multidão,
aflição,
nervos, nervos
em grandes acervos.

António San Payo Araújo

Uma Cidade

Uma cidade pode ser


apenas um rio, uma torre, uma rua
com varandas de sal e gerânios
de espuma. Pode
ser um cacho
de uvas numa garrafa, uma bandeira
azul e branca, um cavalo
de crinas de algodão, esporas
de água e flancos
de granito.
                     

Uma cidade
pode ser o nome
dum país, dum cais, um porto, um barco
de andorinhas e gaivotas
ancoradas
na areia. E pode
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ser
um arco-íris à janela, um manjerico
de sol, um beijo
de magnólias
ao crepúsculo, um balão
aceso

numa noite
de junho.

Uma cidade pode ser


um coração,
um punho.

Albano Martins, in "Castália e Outros Poemas"

Divórcio
Cidade muda, rente a meu lado,
Como um fantasma sob a neblina...
Há cem mil rostos. Tanto soldado
E tanto abraço desesperado
Nesta cidade tão masculina!

Cidade muda como um soldado.

Cidade cega. Todos os dias,


A nossa vida fica mais breve,
As nossas mãos ficam mais frias...
Todos os dias, todos os dias,
A morte paga, paga a quem deve.

Cidade cega todos os dias.

Cidade oblíqua. Sexo pesado.


Rio de cinza, lúgubre e lento...
Bandeira negra, barco parado,
Nunca o teu nome foi baptizado
Nem o teu beijo foi casamento!

Cidade minha, do meu pecado...

Cidade estranha, sabes que existo?


Os homens passam... Para onde vão?
Só tem amores quem não for visto.
Por isso canto, só porque insisto
Em dar combates à tentação.

Oh! a volúpia de não ser visto!  


Pedro Homem de Mello, in "Grande, Grande Era a Cidade..."

Lisboa
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Lisboa com suas casas


De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores...
À força de diferente, isto é monótono.
Como à força de sentir, fico só a pensar.

Se, de noite, deitado mas desperto,


Na lucidez inútil de não poder dormir,
Quero imaginar qualquer coisa
E surge sempre outra (porque há sono,
E, porque há sono, um bocado de sonho),
Quero alongar a vista com que imagino
Por grandes palmares fantásticos,
Mas não vejo mais,
Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras,
Que Lisboa com suas casas
De várias cores.

Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa.


A força de monótono, é diferente.
E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.

Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,


Lisboa com suas casas
De várias cores.

Álvaro de Campos, in "Poemas"


Heterónimo de Fernando Pessoa

Poesia da cidade no campo ou vice-versa


Ontem à Tarde um Homem das Cidades
Ontem à tarde um homem das cidades
Falava à porta da estalagem.
Falava comigo também.
Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que têm fome,
E dos ricos, que só têm costas para isso.
E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O ódio que ele sentia, e a compaixão
Que ele dizia que sentia.
(Mas eu mal o estava ouvindo.
Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supõem que sofrem?
Sejam como eu — não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os
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outros,
Quer para fazer bem, quer para fazer mal.
A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
Querer mais é perder isto, e ser infeliz.)
Eu no que estava pensando
Quando o amigo de gente falava
(E isso me comoveu até às lágrimas),
Era em como o murmúrio longínquo dos chocalhos
A esse entardecer
Não parecia os sinos duma capela pequenina
A que fossem à missa as flores e os regatos
E as almas simples como a minha.
(Louvado seja Deus que não sou bom,
E tenho o egoísmo natural das flores
E dos rios que seguem o seu caminho
Preocupados sem o saber
Só com florir e ir correndo.
É essa a única missão no Mundo,
Essa — existir claramente,
E saber faze-lo sem pensar nisso.
E o homem calara-se, olhando o poente.
Mas que tem com o poente quem odeia e ama?

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXXII"


Heterónimo de Fernando Pessoa

Eu Sou do Tamanho do que Vejo

Da minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no Universo...


Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.

Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,


Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema VII"


Heterónimo de Fernando Pessoa

Num Bairro Moderno


Dez horas da manhã; os transparentes
Matizam uma casa apalaçada;
Pelos jardins estancam-se as nascentes,
E fere a vista, com brancuras quentes,
A larga rua macadamizada.

Rez-de-chaussée repousam sossegados,


Abriram-se, nalguns, as persianas,
E dum ou doutro, em quartos estucados,
Ou entre a rama do papéis pintados,
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Reluzem, num almoço, as porcelanas.

Como é saudável ter o seu conchego,


E a sua vida fácil! Eu descia,
Sem muita pressa, para o meu emprego,
Aonde agora quase sempre chego
Com as tonturas duma apoplexia.

E rota, pequenina, azafamada,


Notei de costas uma rapariga,
Que no xadrez marmóreo duma escada,
Como um retalho da horta aglomerada
Pousara, ajoelhando, a sua giga.

E eu, apesar do sol, examinei-a.


Pôs-se de pé, ressoam-lhe os tamancos;
E abre-se-lhe o algodão azul da meia,
Se ela se curva, esguelhada, feia,
E pendurando os seus bracinhos brancos.

Do patamar responde-lhe um criado:


"Se te convém, despacha; não converses.
Eu não dou mais." È muito descansado,
Atira um cobre lívido, oxidado,
Que vem bater nas faces duns alperces.

Subitamente - que visão de artista! -


Se eu transformasse os simples vegetais,
À luz do Sol, o intenso colorista,
Num ser humano que se mova e exista
Cheio de belas proporções carnais?!

Bóiam aromas, fumos de cozinha;


Com o cabaz às costas, e vergando,
Sobem padeiros, claros de farinha;
E às portas, uma ou outra campainha
Toca, frenética, de vez em quando.

E eu recompunha, por anatomia,


Um novo corpo orgânico, ao bocados.
Achava os tons e as formas. Descobria
Uma cabeça numa melancia,
E nuns repolhos seios injetados.

As azeitonas, que nos dão o azeite,


Negras e unidas, entre verdes folhos,
São tranças dum cabelo que se ajeite;
E os nabos - ossos nus, da cor do leite,
E os cachos de uvas - os rosários de olhos.

Há colos, ombros, bocas, um semblante


Nas posições de certos frutos. E entre
As hortaliças, túmido, fragrante,
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Como alguém que tudo aquilo jante,
Surge um melão, que lembrou um ventre.

E, como um feto, enfim, que se dilate,


Vi nos legumes carnes tentadoras,
Sangue na ginja vívida, escarlate,
Bons corações pulsando no tomate
E dedos hirtos, rubros, nas cenouras.

O Sol dourava o céu. E a regateira,


Como vendera a sua fresca alface
E dera o ramo de hortelã que cheira,
Voltando-se, gritou-me, prazenteira:
"Não passa mais ninguém!... Se me ajudasse?!..."

Eu acerquei-me dela, sem desprezo;


E, pelas duas asas a quebrar,
Nós levantamos todo aquele peso
Que ao chão de pedra resistia preso,
Com um enorme esforço muscular.

"Muito obrigada! Deus lhe dê saúde!"


E recebi, naquela despedida,
As forças, a alegria, a plenitude,
Que brotam dum excesso de virtude
Ou duma digestão desconhecida.

E enquanto sigo para o lado oposto,


E ao longe rodam umas carruagens,
A pobre, afasta-se, ao calor de agosto,
Descolorida nas maçãs do rosto,
E sem quadris na saia de ramagens.

Um pequerrucho rega a trepadeira


Duma janela azul; e, com o ralo
Do regador, parece que joeira
Ou que borrifa estrelas; e a poeira
Que eleva nuvens alvas a incensá-lo.

Chegam do gigo emanações sadias,


Ouço um canário - que infantil chilrada!
Lidam ménages entre as gelosias,
E o sol estende, pelas frontarias,
Seus raios de laranja destilada.

E pitoresca e audaz, na sua chita,


O peito erguido, os pulsos nas ilhargas,
Duma desgraça alegre que me incita,
Ela apregoa, magra, enfezadita,
As suas couves repolhudas, largas.

E, como as grossas pernas dum gigante,


Sem tronco, mas atléticas, inteiras,
Curso de EFA – Nível Secundário
Início em Setembro 2008
Carregam sobre a pobre caminhante,
Sobre a verdura rústica, abundante,
Duas frugais abóboras carneiras.
Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde'

NA CIDADE NASCI

Na cidade, quem olha para o céu?


É preciso que passe o avião...
Quem me dera o silêncio, a solidão,
Onde pudesse, alguma vez, ser eu!

Na cidade nasci; nela nasceu


A minha dispersiva inquietação;
E o meu tumultuoso coração
Tem o pulsar caótico do seu.

A! Quem me dera, em vez de gasolina,


O cheiro da terra húmida, a resina,
A flores do campo, a leite, a maresia!
Em vez da fria luz que me alumia,

O luar sobre o mar, em tremulina...


– Divina mão compondo uma poesia.

Poesia de Carlos Queirós

O Camponês Trata das Leiras


1

O camponês trata das leiras


Mantém em forma as vacas, paga impostos
Faz filhos pra poupar criados e
Está dependente do preço do leite.
Os da cidade falam do amor ao torrão
Da sadia cepa campesina e
Que o camponês é o fundamento da Nação.

Os da cidade falam do amor ao torrão


Da sadia cepa campesina e
Que o camponês é o fundamento da Nação.
O camponês trata das leiras
Mantém em forma as vacas, paga impostos
Faz filhos pra poupar criados e
Está dependente do preço do leite.

Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'


Tradução de Paulo Quintela

O RATO DA CIDADE E O RATO DO CAMPO


Curso de EFA – Nível Secundário
Início em Setembro 2008

O Sr. Rato da Cidade foi visitar o seu amigo Rato do Campo, que o tinha convidado a passar uma tarde
com ele. Habituado ao conforto da casa da cidade em que vivia, o Sr. Rato da Cidade não gostou do
buraco pobre, sem tapetes nem asseio, em que morava o seu amigo Rato do Campo. Este, coitado, bem
fez tudo para lhe agradar, mas o Rato da Cidade mostrava-se cada vez mais enjoado com o que via.
Ao jantar, o Rato do Campo trouxe-lhe o que tinha de melhor: uns pedacinhos de queijo velho, uns
bocados de pão, uma batata, raízes e alguma fruta. Ofereceu tudo ao amigo e ele pôs-se a roer uma palha
dura e a aproveitar as migalhas que caíam.
Depois de comer, o rato da Cidade disse ao amigo, com ar importante:
 Sabes que mais? Não sei como podes viver assim. Aqui não há comer, nem há nada. Eu, no teu lugar,
dizia adeus a esta miséria e ia para a cidade. Lá é que é viver! Com boa comida e boa toca: é uma vida
regalada!
O pobre Rato do Campo, envergonhado com a pobreza e seduzido com as belezas de que o amigo lhe
falava, resolveu ir com ele para a cidade.
Quando lá chegou e entrou na casa onde o Rato da Cidade tinha a sua toca, ficou admirado com a riqueza
que via e com os tapetes em que se afundava ao passar. Por toda a parte havia boas comidas e com
fartura.
Contentíssimo, o Rato do Campo regalou-se a comer do melhor que encontrava, e o outro ria-se de o ver
tão palerma no meio daquilo tudo.
Estavam os dois no melhor da festa, a comer e a rir, quando aparece um grande gato, que se atira a eles
de um pulo. O da casa depressa enfiou para o seu buraco e fugiu ao gato. Mas o do campo, coitadinho!
Aos saltos e às corridas, sem conhecer a casa, lá se escondeu do gato conforme pôde.
Quando o gato desistiu de apanhá-los e o susto passou, o pobre ratinho saiu do seu esconderijo e foi falar
com o outro à porta da casa dele.
 Vou-me embora, amigo. Isto pode ser muito bom e muito bonito, melhor do que a minha casa
pobrezinha, mas é perigoso. Lá na minha casa como do que posso e quando há, mas estou
descansado. Passa muito bem, que eu contento-me com o que tenho.
Antes magro no mato do que gordo na boca do gato.
E voltou a correr para a sua casa.
Esopo

Trabalho de uma aluna do 12.º ano – ensino diurno


Curso de EFA – Nível Secundário
Início em Setembro 2008

Vida na cidade
Movimentada, agitada e electrizante. È assim a vida na cidade.
Um mundo de correrias frenéticas alheio a quem nos rodeia, ninguém se cumprimenta, ninguém se fala,
ninguém se conhece. Onde o tempo custa ouro, senão mesmo diamantes, pois temos que apanhar o metro, o
eléctrico, o comboio, o autocarro, o táxi, o barco e o carro para podermos chegar a casa depois de um longo e
exausto dia de trabalho onde as reuniões e os telefonemas são o prato do dia. Chegamos a casa com um zumbido
nos ouvidos e assim continuamos pois a auto-estrada passa mesmo por debaixo da nossa janela, mais ainda assim
vamos ver televisão ou navegar na Internet ate de madrugada.
Além de todas estas correrias esta vida consegue ter mais coisas boas como os assaltos, os roubos, os
engarrafamentos no trânsito, a falta de segurança e a poluição de todos os tipos que caracteriza o céu cinza que é
rasgado pelos aviões que sobrevoam a cidade e as buzinas barulhentas que nunca dão descanso aos nossos
ouvidos. Tudo acontece ao mesmo tempo, o stress acumulado do trânsito congestionado, a falta de
companheirismo, o desemprego; oferecendo-nos prendinhas como enxaquecas, úlceras ou gastrites.
Por outro lado há quem não consiga fugir desta rotina pois as oportunidades são muitas e o “ter tudo à mão” é
prático. Há quem se sinta mais livre numa cidade pois ninguém conhece ninguém, as pessoas não comentam as
vidas dos outros pois nem têm tempo para isso. Quem nasce na cidade dificilmente se habitua a viver no campo.
Em comparação com a vida bucólica, a vida urbana é aterrorizante, um inferno. Aqui, onde uma filinha de
carros já é motivo para dores de cabeça, onde uma romaria que se realiza uma vez por ano é a única altura em
que se pode queixar de poluição sonora, estamos no céu. Aqui na vila onde a vida é sinónimo de paz de espírito,
também tendo as suas desvantagens mas estando livre do stress urbano, conseguimos viver melhor.
A qualidade de vida no interior é muito melhor, pois a segurança existe, o stress é vendido em pequenas
quantidades e o tempo vale prata pois há tempo para tudo, ate para falar da vida da vizinha Alexandrina que
vende queijadinhas às escondidas.
A vida nas cidades acaba por tirar à qualidade de vida o que oferece em oportunidades e assim
recomendo a fuga para o interior que apesar de não termos tudo à mão temos tudo o que é necessário para
termos uma vida saudável e de qualidade.
Rita Mestre, nº30
A vida na Cidade (remodelado)

“Não pensei que a vida na cidade fosse assim/Tenho mil motivos para achar tudo ruim”, “Essa vida na cidade/Eu
já não suporto mais” este excerto pertence à letra de uma banda brasileira designada The Fevers que descreve a
vida na cidade. Enquanto uns afirmam que viver na cidade só traz desvantagens outros dizem não conseguir
abandonar a rotina agitada cheia de correrias que a cidade oferece.
Além de todas as correrias a vida na cidade consegue ter mais desvantagens como os assaltos, os roubos,
os engarrafamentos no trânsito, a falta de segurança e a poluição de todos os tipos. Tudo acontece ao mesmo
Curso de EFA – Nível Secundário
Início em Setembro 2008

tempo, o stress acumulado do trânsito congestionado, a falta de companheirismo, o desemprego e como


consequência ainda se recebe como bónus as enxaquecas, úlceras ou gastrites.
Por outro lado há quem não consiga fugir desta rotina pois as oportunidades são muitas e o “ter tudo à
mão” é prático. Há quem se sinta mais livre numa cidade pois ninguém conhece ninguém, as pessoas não
comentam as vidas dos outros pois nem têm tempo para isso. Quem nasce na cidade dificilmente se habitua a
viver no campo.
Mas a questão que se levanta é a seguinte: “as pessoas preferem viver no campo ou na cidade?”. Foi
realizado um relatório, com base em inquéritos, sobre a qualidade de vida na Europa e os dados falam por si. Em
relação ao rendimento e à educação as pessoas que vivem no campo consideram-se menos bem pagas, em
comparação com as pessoas que vivem na cidade; e do mesmo modo, as pessoas que vivem no campo têm um
nível de educação inferior às que vivem na cidade. Já a conciliação entre a vida profissional e familiar é um
indicador homogéneo na União Europeia: as pessoas que vivem na cidade são consideravelmente mais
optimistas.
Em conclusão “O relatório demonstra que a ideia de que as pessoas que vivem nas zonas rurais têm uma melhor
qualidade de vida não é correcta. As desvantagens de quem vive nas zonas rurais não parecem ser compensadas
por uma visão especialmente positiva da vida.”
Para mim a qualidade de vida no campo é muito melhor, pois a segurança existe, o stress é vendido em pequenas
quantidades e o tempo vale prata pois há tempo para tudo, até para falar da vida da vizinha Alexandrina que
vende queijadinhas às escondidas.
A vida nas cidades acaba por tirar à qualidade de vida o que oferece em oportunidades e assim recomendo a fuga
para o interior que apesar de não nos dar tudo de mão beijada.
Rita Mestre

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