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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PERNAMBUCO – UPE

CAMPUS PETROLINA
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

VAN DIAS DA SILVA BATISTA

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Atividade avaliativa II apresentada como


requisito parcial para a avaliação na disciplina
História Contemporânea I, do curso de
História da UPE, ministrada pelo Prof. Dr.
Joachin Melo de Azevedo.

PETROLINA-PE
AGOSTO/2022
A Inglaterra no final do século XVIII foi palco de uma forte mudança gradual nos
meios de produção a partir da Revolução Industrial. Segundo o historiador Eric Hobsbawn
(2009) em seu livro A era das revoluções (1789-1848), essa revolução se iniciou na Grã-
Bretanha durante os anos de 1780. No que tange a sua terminologia, a mesma foi construída
após a década de 1820 por socialistas e franceses, que passaram a denominar como
“revolução industrial” essa modificação no cenário econômico, político e social britânico e
mundial em decorrência do processo de industrialização.
Primeiramente, é importante destacar que a expansão que ocorre no final do século
XVIII não resultou de forma súbita e instantânea na revolução e na criação de uma economia
autossuficiente, além de ressaltar que o pioneirismo inglês na revolução não foi resultado de
uma superioridade tecnológica, uma vez que a França, por exemplo, já se encontrava em
estágios mais avançados de desenvolvimento científico. Nesse sentido, Eric Hobsbawn (2009)
atribui a esse avançado britânico às bases governamentais já estabelecidas na Inglaterra, onde
o acúmulo de riquezas, o lucro e o desenvolvimento já estavam intrínsecos às políticas
governamentais, o que significa dizer que as bases de uma futura sociedade industrial já
estariam pré-estabelecidas. Ademais, é importante destacar também que os setores agrícolas
passaram a ser responsáveis pela produção de alimentos e recursos que viriam a abastecer o
comércio e os centros urbanos, o que já o tornava um importante meio de acúmulo de capital.
Tendo em vista o forte desenvolvimento da indústria têxtil, a Inglaterra passa a criar
um mercado próprio, além de produzir produtos que antes eram apenas importados, embora
ainda se mantenha dependente de exportações do mercado externo (HOBSBAWN, 2009).
Dentre esses produtos, destaca-se o algodão, considerado uma de suas principais matérias
primas de baixo custo. Logo, essa passa a se expandir a partir de um recurso já existente,
buscando assim alavanca-lo. Aqui vale ressaltar que o algodão não era um produto nativo da
Inglaterra, onde sua produção passou a ser direcionada para as colônias ao Sul do atual
território dos Estados unidos, uma vez que possuíam um clima subtropical, favorável para o
cultivo, além de contar com uma economia baseada no regime de plantations e no trabalho
escravo, que passavam a produzir o algodão com o objetivo de exportá-lo via ultramar para a
metrópole inglesa.
Acompanhado ao processo de desenvolvimento da produção e exportação de tecidos, a
Inglaterra passa a concentrar um grande processo de êxodo rural, onde homens, mulheres e
crianças saem dos campos e migram para os centros urbanos, formando assim uma grande
concentração de vilas operárias ao redor das fabricas. Aqui destaca-se a forte presença do
trabalho feminino e infantil, sendo esse último responsável por corrigir erros nas engrenagens
das grandes máquinas por possuírem uma pequena estatura corpórea, o que resultou no
surgimento de taxas de mortalidade infantil devido à acidentes (HOBSBAWN, 2009).
Em seu capítulo Os trabalhadores pobres, introduzido ainda na sua obra A era das
revoluções (1789-1848), Eric Hobsbawn (2009) chama atenção para debates e questões
sociais voltados para os trabalhadores durante a revolução industrial, destacando que esse
processo abrupto de urbanização e industrialização, que resultou no rápido crescimento das
cidades e áreas industriais, teve como consequência a ausência de recursos como limpeza,
saneamento e serviços sanitários nas localidades que concentravam as vilas e os cortiços que
residiam os operários e suas famílias. Tais fatores corroboraram para o surgimento de crises
epidêmicas, sobretudo de doenças a qual seus vetores eram transmitidos pela água, a exemplo
da Cólera e do Tifo Epidêmico após 1830. Esse cenário demonstra a ausência de recursos
habitacionais para os trabalhadores, tão pouco importantes para a classe dos detentores do
monopólio industrial.
Retomando a temática do algodão, Eric Hobsbawn (2009) destaca que após consolidar
um forte mercado produtor dessa matéria prima, que passava a simbolizar a vitória do
mercado exportador na primeira metade do século XIX, o algodão britânico passou a ser
requisitado e adquirido pela Ásia, África e demais localidades fora dos Estados Unidos,
permitindo assim que a balança comercial da Grã-Bretanha se tornasse favorável, ou seja,
exportando mais do que recebendo do Oriente que passou a se tornar mercado para a compra
do algodão produzido, com destaque nas indústrias de Lancashire. Destarte, esse
desenvolvimento se deu em decorrência do comércio marítimo e do trabalho de africanos
escravizados. Com o crescimento da indústria algodoeira, os teares manuais utilizados
anteriormente pelos artesãos perdem a sua utilidade, abrindo espaço para a tecelagem
mecanizada a partir das máquinas de fiar e do tear movido à água, por exemplo, necessários
para suprir as necessidades desse desenvolvimento.
De fato, a indústria do algodão teve um papel fundamental para a revolução, que se
deu pelo fato do algodão possuir um processo mais simples de produção, em comparação a
produção de cervejas por exemplo, além de ser algo lucrativo, uma vez que diversos países da
américa latina passaram a dar atenção para a tecelagem, além de destacar a sua facilidade de
produção, uma vez que essa dependia do trabalho escravo, a qual comércio era recorrente nas
américas, e da abertura e compra de novas áreas de cultivo (HOBSBAWN, 2009).
Ao passo em que a revolução passava a beneficiar uma elite industrial que lucrava
com o comércio têxtil, essa nova fase econômica é marcada também pelo descontentamento e
pela revolta dos operários diante aos regimes de trabalho nas fábricas e pelos pequenos
comerciantes e burgueses, resultando em duas correntes ideológicas, o ludismo e o cartismo.
A primeira passa a denominar a máquina como o principal problema para o trabalhador, uma
vez que a partir do processo de mecanização, a mão de obra braçal passa a ser substituída pela
maquinofatura, resultando assim na miséria e no desemprego. Nisso, defendiam a necessidade
de destruí-la, pois “a máquina é uma arma de guerra dirigida contra essas barreiras de
resistência que são os operários de ofício. Ela permite eliminá-los, substituí-los [...].”
(PERROT, 1988, p.24). Destarte, o cartismo diz respeito ao processo inicial de mobilização
em busca de condições dignas de trabalhos pelos operários e operárias. Em suma, a revolução
acontecia, os pequenos grupos sofriam enquanto os grandes grupos lucravam e acumulavam
riquezas.
Ademais, os donos dos meios de produção passam a estabelecer rígidos regimes de
trabalho, onde o operário deve agora agir segundo as regras disciplinares dos patrões. Nessa
discussão, é possível destacar os estudos de Edward Thompson (2005) sobre o controle do
tempo de trabalho. Segundo o autor, a industrialização marca uma transição forçada de um
ritmo de trabalho natural para um ritmo de trabalho alienado e sincronizado conforme os
interesses lucrativos da elite de modo a atender as suas necessidades capitalistas, o lucro.
Aqui o operário passa a ser submetido a rígidas disciplinas, à baixos salários em
comparação a quantidade de horas trabalhadas e ao pagamento de multas caso esse se atrase
ou cometa alguma ação que desregule o ritmo das indústrias, por exemplo, de modo a utilizar
o tempo como forma de exploração e de retirar do indivíduo a autonomia da sua vida
produtiva (THOMPSON, 2005). Dentro dessa perspectiva, Arthur Young (1741-1820)
constrói uma analogia entre o comportamento humano e o funcionamento de uma máquina a
vapor, onde os seres humanos deveriam internalizar o ritmo, o compasso e a eficiência das
máquinas para torná-los mais eficientes, fazendo esta, portanto, parte da mentalidade nesse
contexto industrial.
Destarte, é indubitável questionar a forte influência que a construção dos trens e das
locomotivas passaram a exercer nesse período, simbolizando o que se havia de mais
tecnológico e facilitando o transporte de cargas pesadas. Junto a essas, destaca-se a invenção
das ferrovias que passariam a modificar completamente esse cenário industrial. Destarte, antes
de discutir especificamente sobre tais mudanças, faz-se necessário entender que, ao passo em
que os anos de 1830 possuíram destaque no que diz respeito a esse desenvolvimento
industrial, esse também é lembrado como um forte período de crises, uma vez que junto à
mecanização surge a redução dos custos com a mão de obra. Nesse período, a mão de obra era
em sua maioria formada por mulheres e crianças.
Sobre a atuação feminina nas fábricas, é importante mencionar os estudos de Michelle
Perrot (1988). Segundo a autora, os donos de indústria vão ser responsáveis por idealizar a
figura da mulher operária a partir de um símbolo de passividade, sendo essa dócil, fácil de ser
controlada, difícil para se rebelar diante as explorações dentro das fábricas e sujeitas à baixos
salários. Ao contrário do que se é difundido, a mesma defende que as mulheres foram
pioneiras na maquinaria e nas lutas e reinvindicações defendidas pelo ludismo durante o
século XIX, sobretudo na França e na Inglaterra industrial.
Por conseguinte, a urgente pressão e busca pela mecanização em contraposição a
redução de curtos com a mão de obra passará a influenciar o surgimento de um novo mercado
a partir de um recurso já existente, sendo essa a indústria da mineração e da metalúrgica,
tendo como base a utilização do carvão mineral enquanto principal fonte de energia durante o
século XIX. Como consequência do avanço e da livre competição entre os setores de
produção de carvão, essa indústria passa a impulsionar a criação das ferrovias, se tornando os
principais meios de transporte desse carvão das minas e, posteriormente, de pessoas e
produtos de importação. Nesse sentido, a Inglaterra passará a fornecer recursos financeiros,
tecnológicos e de matéria prima para a construção das ferrovias em outros países.
Para Eric Hobsbawn (2009), a revolução industrial modificou não só os modos de
produção e as estruturas econômicas, mas passou a influenciar também a mudança de padrões
sociais. Com ela, surgirão também novos padrões femininos que buscarão ditar e construir um
modelo de mulher ideal segundo os moldes da etiqueta europeia ligados ao comportamento e
às vestimentas, por exemplo, além de ressaltar que as capelas e toda a arquitetura religiosa
como um todo passará a ser construída em estilos grandiosos de modo que toda uma
sociedade acompanhe os desenvolvimentos e mudanças propostas pela revolução.
De fato, a lógica de mercado se modifica, e com ela são descartadas as preocupações
com as condições humanas, que até então sempre foram substituídas pela preocupação em
gerar lucros às custas das explorações da mão de obra industrial. Com isso, o
desenvolvimento britânico e mundial foi sim concretizado segundo os objetivos da elite, mas
foi efetivado às custas de uma nova categoria de proletariado fabril não livre, submetidos a
castigos, multas, altas jornadas de trabalho e controle, devendo esse se adaptar e aceitar o
novo ritmo industrial (HOBSBAWN, 2009; THOMPSON, 2005) pelo menos na concepção
dos patrões, pois segundo Tocqueville (1805-1859), a barbárie sempre acompanhará o
progresso. Todavia, ao passo em que essa exploração colocava os operários e as operárias em
uma categoria de subalternização, essa mesma exploração foi o motivo pela qual se erguerá na
Europa e no mundo fortes movimentos, lutas, organizações sindicais e greves durante o século
XIX contra tais regimes e por mais direitos trabalhistas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HOBSBAWN, Eric J. A Revolução Industrial. In. A Era das Revoluções: 1789-1848.
Tradução de Marcos Penchel & Maria L. Teixeira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009.

HOBSBAWN, Eric J. Os trabalhadores pobres. In. A Era das Revoluções: 1789-1848.


Tradução de Marcos Penchel & Maria L. Teixeira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009.

THOMPSON, Edward. Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial. In: Costumes


em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. Tradução de Rosaura Eichenberg. São
Paulo: Companhia das Letras, 2005.

PERROT, Michelle. Os excluídos da história: operários, mulheres, prisioneiros. 4ª ed.


Tradução de Denise Bottmann. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

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