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Supremo Tribunal Federal

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 790.655 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


RECTE.(S) : JORGE FIORAVANTE GOMES MARI
ADV.(A/S) : PAULO ROBERTO ALVES RAMALHO
RECTE.(S) : ALEX BARROS TAVARES
RECTE.(S) : WILSON MARTINS FILHO
RECTE.(S) : ANDRÉ LÚCIO GARCIA DA SILVA PEREIRA
ADV.(A/S) : CÉSAR TEIXEIRA DIAS
RECDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : JÚLIO CÉSAR ALVES ROBERTO

DECISÃO:
Trata-se de dois agravos. Um interposto por Jorge Fioravante Gomes
Mari e o outro, por Alex Barros Travares, Wilson Martins Filho e André
Lúcio Garcia da Silva Pereira. Os recursos têm como objeto decisões que
negaram seguimento aos respectivos recursos extraordinários interpostos
contra acórdão do Superior Tribunal de Justiça, assim ementado:

“RECURSO ESPECIAL. PROCESSO PENAL. OFENSA


AO ART. 619 DO CPP NÃO CONFIGURADA. DENÚNCIA
POR CRIME DE CONCUSSÃO. CAPITULAÇÃO ERRÔNEA.
OFERECIMENTO DE NOVA PEÇA ACUSATÓRIA.
EXTORSÃO E TORTURA. EXORDIAL QUE ALTERA TÃO
SOMENTE A DEFINIÇÃO JURÍDICA DOS FATOS
NARRADOS. ALEGAÇÃO DE EMENDATIO LIBELLI. NÃO
OCORRÊNCIA. RITO DO ART. 514 DO CPP.
INAPLICABILIDADE. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DO
PROMOTOR NATURAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284/STF.
SUBSTITUIÇÃO DE TESTEMUNHA. NULIDADE.
INEXISTÊNCIA. PERDA DO CARGO PÚBLICO.
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
1. Tendo os dois primeiros recorrentes sido condenados,
cada um, à pena de 1 ano e 2 meses de detenção, pela prática de
tortura, sem recurso do Ministério Público, constata-se que já
decorreram mais de quatro anos desde a publicação da
sentença condenatória, operando-se a prescrição da pretensão

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punitiva, nos termos do art. 109, inciso V, c/c o art. 110, § 1º,
ambos do Código Penal, uma vez que não ocorreu qualquer
causa interruptiva desde então.
2. No tocante ao art. 619 do Código de Processo penal, não
vislumbro a alegada ofensa, uma vez que todas as questões
necessárias ao deslinde da controvérsia foram analisadas e
decididas pelo Tribunal de origem, ainda que de forma
contrária à pretensão dos recorrentes, não havendo nenhuma
omissão ou negativa de prestação jurisdicional.
3. Quanto ao mais, observa-se que os recorrentes foram
denunciados, inicialmente, como incurso nas penas dos arts.
316, caput (concussão), do Código Penal. Antes do recebimento
da exordial acusatória, o Juiz de primeiro grau, entendendo que
os fatos ali narrados não se subsumem ao referido tipo penal,
remeteu os autos ao Ministério Público que, constatando a
irregularidade apontada, ofereceu espontaneamente nova
denúncia, agora, pela prática dos crimes previstos nos art. 158, §
1º, todos do CP, e art. 1º, I, "a", c/c o § 4º, I e III, da Lei n.
9.455197.
4. Tratando-se, no caso, de ação pública incondicionada, o
Ministério Público, como dominus litis, pode alterar a
capitulação legal do delito, ainda que motivado pelo Juízo
processante, uma vez inalterados os fatos descritos na exordial.
Tal ato não se reveste de ilegalidade, a teor do art. 569 do
Código de Processo Penal.
5. A hipótese, portanto, não configura emendatio libeli,
instituto previsto no art. 383 do Código de Processo Penal,
quando o próprio Juiz perfaz a correção da capitulação dos
crimes descritos na denúncia.
6. De qualquer forma, não se desconhece a existência de
julgados desta Corte no sentido de ser indevida a
desclassificação da conduta em juízo antecipado da exordial
acusatória, por ser medida mais apropriada para a fase da
prolação da sentença.
7. Entretanto, em razão das alterações promovidas pela
Lei n. 11.719/08, o Superior Tribunal de Justiça vem entendendo

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que, quando o magistrado verificar, de plano, que a conduta


narrada na inicial não se amolda ao tipo penal capitulado, por
questão de economia processual e para evitar nulidades de atos
processuais, poderá corrigir, desde logo, a definição jurídica aos
fatos ali narrados.
8. No caso, o Juiz de primeiro quis evitar tumultos
processuais, visto que a nova capitulação jurídica dos fatos,
repita-se, promovida pelo Parquet, fez com que a ação penal
tivesse nova tramitação, a qual observou o rito ordinário, ao
invés do especial.
9. Também não há se falar em violação do comando
inserto no artigo 384 do Código de Processo Penal, porque o
referido dispositivo diz respeito à mutatio libelli, vale dizer,
quando das provas colhidas na instrução se evidenciar a
ocorrência de delito não narrado, implícita ou explicitamente,
na denúncia. Ora, na espécie, isso não ocorreu, até mesmo
porque nenhuma audiência chegou a ser realizada antes do
oferecimento da nova proemial.
10. De mais a mais, os réus defendem-se dos fatos e não da
capitulação dada ao crime. Assim, descabe falar em nulidade do
processo, na hipótese de mero ajustamento do nomen juris,
como se verifica no caso vertente.
11. Diante desse quadro, improcede também a alegação de
nulidade por inobservância do rito previsto no art. 514 do CPP.
Isso porque tal preceito somente é aplicável aos crimes
funcionais afiançáveis. Na hipótese, diante da desclassificação
operada, os recorrentes foram denunciados por crimes não
sujeitos a tal rito.
12. Outrossim, a nulidade do processo por suposta
violação do princípio do promotor natural não deve ser
acolhida, uma vez que os recorrentes não indicaram qual
dispositivo legal teria sido infringido pelo Tribunal de origem,
atraindo a incidência da Súmula 284 do Supremo Tribunal
Federal.
13. Ainda que assim não fosse, inexiste qualquer
ilegalidade na remessa dos autos à Promotoria de Justiça da 26ª

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Vara Criminal, a qual ofertou a nova denúncia contra os


recorrentes, por se tratar de atribuição concorrente, definida em
Resolução interna da Procuradoria Geral de Justiça.
14. Como é sabido, o art. 397 do Código de Processo Penal,
com a redação anterior à Lei n. 11.719/2008, admitia a
possibilidade de substituição de testemunha, em virtude de sua
não localização, competindo ao juiz da causa verificar se a
diligência não tinha por fim frustrar o disposto nos arts. 41, in
fine, e 395 do Código de Processo Penal.
15. Na espécie, constata-se que o alegado prejuízo à
defesa, em decorrência da substituição de testemunha, foi
afastado de forma clara pelo acórdão impugnado, não podendo
tal conclusão ser revista na via estreita do especial, por
demandar a incursão em aspectos fático-probatórios, o que é
vedado a teor do contido na Súmula 7/STJ.
16. Por fim, a perda do cargo público foi requerida pelo
Parquet na inicial acusatória e decretada pelo Juiz sentenciante,
com fulcro no art. 92, I, "b", do CP, em decisão devidamente
fundamentada.
17. Recursos especiais prejudicados, em parte e, na outra
extensão, desprovidos.”

O recurso extraordinário interposto por Jorge Fioravante Gomes


Mari busca fundamento no art. 102, inciso III, a, da Constituição Federal.
O recorrente alega que “várias normas de leis ordinárias violadas, mas na
verdade a decisão fere a norma maior que assegura aos acusado em geral o direito
à ampla defesa, daí o cabimento da via eleita”. Requer a concessão de habeas
corpus de ofício em seu favor.
O recurso extraordinário interposto por Alex Barros Travares,
Wilson Martins Filho e André Lúcio Garcia da Silva Pereira busca
fundamento no art. 102, III, a, da Constituição Federal. Os recorrentes
sustentam violação ao princípio do devido processo legal.
As decisões agravadas negaram seguimento aos recursos sob o
fundamento de ausência de indicação dos dispositivos constitucionais
tidos por violados, incidindo, nos casos, a Súmula 284/STF.

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Os recursos são inadmissíveis, tendo em vista que a jurisprudência


do Supremo Tribunal Federal afasta o cabimento de recurso
extraordinário para o questionamento de alegadas violações à legislação
infraconstitucional sem que se discuta o seu sentido à luz da
Constituição. Nessa linha, veja-se a seguinte passagem da ementa do AI
839.837-AgR, julgado sob a relatoria do Ministro Ricardo Lewandowski:

“[...]
II - A jurisprudência desta Corte fixou-se no sentido de
que a afronta aos princípios constitucionais da legalidade, do
devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, se
dependente de reexame prévio de normas infraconstitucionais,
em regra, seria indireta ou reflexa. Precedentes.”

Ademais, para chegar a conclusão diversa do acórdão recorrido,


imprescindível seria uma nova apreciação dos fatos e do material
probatório constante dos autos (Súmula 279/STF), procedimento inviável
em recurso extraordinário.
Por fim, ao contrário do que alega o recorrente Jorge Fioravante
Gomes Mari, não se evidencia nenhuma ilegalidade flagrante ou abuso de
poder que pudesse justificar a concessão de habeas corpus de ofício.
Diante do exposto, com base no art. 38 da Lei nº 8.038/1990 e no art.
21, § 1º, do RI/STF, nego seguimento aos recursos.
Publique-se.
Brasília, 30 de março de 2015.

Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO


Relator

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