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BACHARELADO EM ARQUEOLOGIA
Laranjeiras/SE
2017.1
INTRODUÇÃO
O conceito de Cultura é bastante complexo, são muitas as suas definições e todas elas
são baseadas em uma ou mais correntes teóricas que figuravam no tempo de cada autor. A
Cultura também é diversa: pelos muitos modos de comportamento existentes entre os
diferentes grupos humanos que dividem a Terra; e dinâmica: por manifestar o que o ser
humano vive, sente, pensa e faz, e essas ações se modificam continuamente.
A definição formal de Cultura é atribuída a Edward Burnett Tylor, que a conceituou
pela primeira vez no livro “Primitive Culture”, em 1871; em uma de suas passagens, ele
defende que “Cultura ou civilização, tomada em seu mais amplo sentido etnográfico, é aquele
todo complexo que inclui conhecimento, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras
capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade” (p. 69).
Nas palavras de Nepomuceno e Assis (2008, p. 2), “a compreensão antropológica de
cultura foi gradativamente construída”, resulta de um processo de construção histórica e do
amadurecimento científico no campo da análise social, fruto da necessidade de entendimento
do que é ser humano. É um conceito que passou por uma infinidade de modificações, mas
sempre esteve relacionado à concepção de algo que se opunha ao natural, ao biológico.
Veiga-Neto (2003, p. 7), dá a ideia de que a modernidade aceitou sem muitos
questionamentos a designação de cultura para tudo aquilo que a humanidade havia produzido
de melhor em termos materiais, artísticos, filosóficos, científicos, literários, etc., de modo que
por muito tempo ela foi pensada como sendo única e universal. Para o autor, o que evidencia
o conceito de cultura é o uso que se faz dele, e em muitos casos é tido como um “ elemento de
diferenciação assimétrica e de justificação para a dominação e a exploração”.
Nessa perspectiva, ainda na linha de raciocínio do autor, a busca de todos os povos
devia ser por “formas mais elevadas da Cultura, tendo por modelo as conquistas já
realizadas pelos grupos sociais mais cultos”. E essa ideia de Cultura ainda vigora em muitas
sociedades, inclusive em grande parte da brasileira; não é raro atribuir a um sujeito que
entende de diferentes áreas do conhecimento como alguém “culto”, enquanto subestima os
conhecimentos de outro, em muitos casos, o tratando por “inculto”, e isso quase sempre está
associado às distinções de classes sociais geradas pelo capitalismo.
Já para Laraia (1986, p. 105), “não resta dúvida que grande parte dos padrões
culturais de um dado sistema não foram criados por um processo autóctone, foram copiados
de outros sistemas culturais”. A antropologia denomina esses “empréstimos culturais” de
difusão, e muitos antropólogos parecem convencidos de que essa difusão cultural é a
responsável pelo “desenvolvimento” que o ser humano vive atualmente.
E esse pensamento remete a ideia das diferentes culturas que através do processo de
difusão foram adquirindo e incorporando elementos de uma cultura para outra, como modo de
garantir a sua própria sobrevivência e alcançando com isso um melhoramento em suas
práticas sociais.
Entrementes, Laraia (1986), em sua discussão sobre o que chamou de “dilema: a
conciliação da unidade biológica e a grande diversidade cultural da espécie humana”,
afirma que as diferenças de comportamentos entre povos distintos “não podem ser explicadas
através das diversidades somatológicas ou mesológicas”, pois os determinismos geográfico e
biológico se mostraram incapazes de resolver “o dilema”.
Como pode ser visto, a cultura tem sido objeto de estudo de diversas áreas do
conhecimento e, como tal, foi conceituada por muitos pesquisadores. Entretanto, ainda que
considerando a complexidade de suas definições, o foco objetivo deste trabalho é apresentar
os conceitos de cultura numa perspectiva a partir da escola antropológica evolucionista,
baseando-se nos pensamentos de seus principais representantes, também considerados os pais
da Antropologia: Edward Burnett Tylor, Lewis Henry Morgan e James George Frazer; e é sobre as
suas ideias a respeito da Cultura que vamos discutir a partir de agora.
A CULTURA NUMA PERSPECTIVA EVOLUCIONISTA
Para ele, todos os grupos que estão no mesmo grau civilizatório têm algo em comum.
E analisando cuidadosamente suas culturas é fácil notar as diversas semelhanças entre
diferentes povos, mesmo estando há quilômetros de distância uns dos outros, vivendo em
ambientes totalmente diferentes.
Nesta obra o autor cita o provérbio italiano: “o mundo todo é uma aldeia” (tutto il
mondo è paese) para falar da semelhança geral na natureza humana que podem ser notadas
quando estudadas focando na “comparação de raças que se encontram em torno do mesmo
grau de civilização” (p.75).
E esse é um ponto interessantes, inclusive as comparações que ele usa para explicar
essa ideia faz, de certo modo, até muito sentido:
Machadinha, enxó, cinzel, faca, serra, raspadeira, broca, agulha, lança e cabeça de
flecha, e, desses a maior parte, se não a totalidade, pertence, com pequenas
diferenças de detalhe, às mais variadas raças. O mesmo se passa com as ocupações
selvagens: cortar madeira, pescar com rede e linha, caçar com funda e lança, fazer
fogo, cozinha, enrolar fios e trançar cestas repetem-se com maravilhosa
uniformidade nas prateleiras dos museus que ilustram a vida das raças inferiores,
de Kamchatka à Terra do fogo, e do Daomé ao Havaí (Tylor, 1871, p.75).
Nesta obra ele defende que a medida que avançamos na direção do passado da
humanidade, seguindo o que ele chama de “as diversas linhas de progresso”, temos as
invenções e descobertas de um lado e as instituições de outro, de modo que as primeiras tem
uma relação progressiva entre si, enquanto as últimas foram se desdobrando, estando as
instituições plantadas desde a barbárie, e suas origens foram transmitidas a partir do período
anterior de selvageria.
Segundo ele, os fatos que indicam a formação gradual e o desenvolvimento das ideias,
aspirações e paixões humanas estão organizadas da seguinte forma:
I – Subsistência: aumentada e aperfeiçoada por uma série de artes sucessivas,
introduzidas ao longo do tempo e conectadas com as invenções e descobertas;
II – Governo: buscado por gentes no status de selvageria, em formas cada vez mais
avançada até se estabelecer a sociedade política;
III – Linguagem: desenvolvida a partir de formas mais rudes e de expressões mais
simples (gestos e sinais);
IV – Família: Sistema de consanguinidade e afinidade nos costumes, como os
casamentos, onde a história da família pode ser seguramente traçada;
V – Religião: tratando da natureza imaginativa e emocional humana;
VI – Vida doméstica e arquitetura: ligadas a forma da família e o plano de vida
doméstica, ilustrando o progresso da selvageria até a civilização;
VII – Propriedade: surgida durante a selvageria e requereu experiência até a barbárie
para desenvolver e preparar o cérebro humano para aceitar sua influência controladora.
Ele também deu status de inferior, intermediário ou superior tanto da selvageria
quanto da barbárie como formas de marcar o começo de diversos períodos e encontrar os
testes de progresso que expliquem essas fases em todos os continentes.
Ao finalizar seu livro, ele nos lembra que ao estudar as condições de tribos e nações
nos diferentes períodos étnicos, estamos lidando com as antigas histórias e tradições de nossos
próprios ancestrais.
Enfim, os antropólogos evolucionistas aceitavam a ideia de que todo ser humano teria
uma origem comum e explicavam a diversidade cultural entre os povos baseados na evolução,
onde havia um caminho obrigatória a ser trilhado pelas sociedades, partindo do estágio
selvagem, passando pela barbárie até chegar à civilização.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como tudo é relativo, os conceitos dado a “cultura” não poderiam ser diferentes, assim
como a forma de vê-la, a relatividade sempre está presente. Os pensadores das diferentes
escolas antropológicas buscavam, dentro de suas possibilidades temporais, estudar os diversos
grupos humanos baseados em suas crenças e influenciados por outros teóricos na tentativa de
explicar como se dava as diferenças e semelhanças entre os povos, suas organizações sociais e
visão de mundo.
Ainda hoje o conceito de cultura é amplo, e talvez por isso ao iniciar este trabalho
trazia em mente discutir o conceito dado a Cultura na perspectiva de autores que condissesse
com as minhas próprias ideias a respeito do tema, entretanto, e ao pesquisar mais compreendi
que é enriquecedor saber também como pensam os que pensam diferentes de nós, e sobretudo,
respeitar isso.
Sendo assim, a escolha do tema; embora pareça ter ficado explícito minha aversão às
ideias evolucionistas sobre a cultura; se justifica na crença pessoal de que é necessário
compreender, de um modo geral, todas as hipóteses possíveis antes de descarta-las, e se
tratando de um objeto específico de estudo, aqui representada pela Cultura, é imprescindível
que se conheça todo o seu histórico. Desse modo, a dedicação a esta pesquisa teve a missão de
expandir o universo de conhecimento disponível para o ser humano aprender, e essa missão
me foi fielmente cumprida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS