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Quando escolhi o tema desse seminário tinha em mente uma noção um pouco
diferente do que seria uma floresta antropogênicas e admito que quando fui estudar e
acabei percebendo que era muito mais complexo do que eu imaginava, devido as
múltiplas ciências que os pesquisadores utilizam para fazer estudos cada vez mais
acurados sobre a relação homem e natureza. Então eu fiz um recorte sobre o tema,
vou falar um pouco sobre a corrente de pensamento que guia os estudos nessa área e
vou dar alguns exemplos práticos, porém não irei focar nas metodologias e sim nas
potencialidades que esses estudos nos proporcionam para o entendimento da relação
indissociável entre os grupos indígenas que viviam no brasil no período pré-colonial e
os atuais.
Então essas duas críticas, tanto ao pronapa, quanto a ecologia histórica ligada a
biogeografia fez com que os pesquisadores associados do museu Emílio Goeldi, como é
o caso do Ballé, Chico Noelli e outros, se espelhassem em ideias que vinha surgindo
junto com a arqueologia pôs processual, de pensar como a agencia humana atua na
construção de significados dos ambientes e consequentemente os altera e a adoção da
perspectiva de longa duração, como proposta por Braudel em 1958 e destrinchada por
outros pesquisadores no início da década de 90, como o Ian Hodder.
No estudo ela se foca não nas variedades botânicas no gerais de araucárias, mas
nas etnovariedades, ou seja, as variedades locais associadas e percebidas no
conhecimento local. E a Nathalia trabalhou em santa Catarina e buscou destrinchar a
nomenclatura local, em nível inclusive de individuo, ela fala que as pessoas tem
relações com indivíduos de araucária, dão nome e inferem características morfológicas
pra cada uma dessas variedades
Ai eu trouxe essa tabela e nessa parte aqui podemos ver os vários nomes, mas
uma coisa interessante é que além dessa mudança de nome, elas também tem uma
amplitude de frutificação e consequentemente, de disponibilidade e maturidade dessas
sementes e como podemos observar aqui no quadro essa amplitude vai de fevereiro até
novembro e que essa variedades dão conta de produzir semestres ao longo do tempo. o
que ela ressalta é que as pessoas ainda hoje manipulam essas variedades, então ela
entende que o processo de estudo da forma como essa variedades estão sendo
manipuladas hoje pode ajudar a entender a manipulação passada e que as próprias
espécies de araucária atuais podem ser resultado de um intenso processo de seleção de
algumas características, favorecendo assim essa amplitude de disponibilidade e
variedade dessas sementes em ciclos que não deixam faltar sementes e frutos durante a
maior parte do ano. (ADAN, 2016)
(ADAN, 2016, p.15)
Agora Trazendo um pouco pra área que gosto de falar, trago uma reflexão da
querida Juliana Machado, que como a maioria deve saber, foi nossa professora e
trabalha de maneira multidisciplinar entre a arqueologia, história e antropologia social,
partindo disso ela reflete essa relação entre manejo, biodiversidade e florestas
antropogênicas, a partir do lugar humano, ou seja, sobre o sentir e sentidos que as
pessoas criam nessas experiências de manejo, o entendimento de lugar que elas
possuem, e noção de pertencimento que essas relações geram entre os grupos e o meio
ambiente.
Então ela desloca o pensamento, pra pensar como a gente constrói
culturalmente/ socialmente um “saber”. Por que como eu já disse, o termo floresta
antropogênica já indica uma ação direta dos seres humanos, mas para as pessoas
“fazerem a floresta” é preciso nos perguntamos como essa saber fazer é orientado em
termos de sentido, de significados das relações que fazem com que todas essas
experiências em relações aos lugares, as florestas e as plantas possam nos levar ao
entendimento do que vemos hoje, como uma floresta e toda sua diversidade.
Temos vários exemplos etnográficos que mostram que a grande maioria dos
povos indígenas que habitam as mais várias regiões do pais, não fazem uma separação
entre grupos indígenas x seres não humanos. Esse não humano podem ser entendidos
de maneira ampla, animais, espíritos, plantas e etc. Então, a Juliana diz que essas
relações de parentesco, de pertencimento, de identidade são construídos de maneira
conjunta em um emaranhado bastante complexo de multiespecies. Essa noção foi o que
fez o Eduardo viveiro de Castro desenvolver o “Perspectivismo ameríndio”, onde ele
estudou essa relação direta e intima entre os indígenas homens e a caça. Mas irei me
focar no exemplo da Juliana. Como todos sabemos ela além de pesquisadora de grupos
indígenas ela atua ativamente de maneira política em seus trabalhos, e esse olhar a fez
se voltar pra tentar compreender como essa noção de continuidade é expressa nos
discursos políticos de várias mulheres indígenas que atualmente tem tomado cada vez
mais espaço politicamente atuando na preservação do meio ambiente. Esse olhar mais
antropológico, Fez Juliana perceber que essa noção de relação entre corpo e território
além de um discurso político, é um continuo e não uma diferenciação objetiva, os
corpos humanos as plantas os animais e o saberes são contínuos culturais que se
influenciaram durante o tempo. Ela cita os trabalhos feitos com mulheres Waiwai e a
sua relação com as roças de mandioca, que fez surgir a ideia de unidade subjetiva da
mulher é dívida ao mesmo tempo entre o corpo da mulher e a mandioca e essas
duas materialidades se costuram em uma relação intersubjetiva. Segundo a juliana,
essa relação entre mulheres e plantas é bem marcada nos trabalhos etnográficos
brasileiros atuais, mas ganham mais força e evidencias com o avançar da articulação das
mulheres indígenas, e esse movimento a provocou a pensar novamente sobre a
profundidade dessas conexões. Ai aqui trago duas citações diretas da juliana:
Ainda não se sabe exatamente como esse solos foram feitos no passado, mas
cada vez mais o entendimento dos pesquisadores tem avançado com os trabalhos de
diversas disciplinas como ecologia, arqueobotanica, etnoarqueologia, pedologia e etc. e
o mais interessante é que a Fabíola silva diz que ainda hoje é possível ver populações
tradicionais que produzem processos análogas de transformações no solos, com isso a
etnoarqueologia pode ser fundamental para a compreensão desse tipo de solo artefato.
Uma vez que esse solos são criados em contextos de lixeira, basicamente no entorno das
casas, através dessa distribuição concentrada de vários mateiras orgânicos e a queima
que é vista como um dos processos fundamentais para que esses solos se formem e pra
sua estabilidade ao longo do tempo. Sabemos que na região amazônica eles são datados
entre 500 e 4000 anos. (JUNQUEIRA, 2021)
Esses sítios de terra presta estão espalhados pela Amazônia inteira, mas
principalmente na sua parte central, e aqui eu trago um mapa feito em 2021 por vários
pesquisadores, mostrando a distribuição conhecida desses sítios na Amazônia. Em preto
podemos ver os sítios arqueológicos e em laranja os sítios de terra preta. É importante
destacar que estou falando de sítios de terra preta na Amazônia, mas não quer dizer que
em outras partes do brasil também não encontremos sítios de terra preta, como é o caso
da Bahia que possuímos vários, mas segundo o pesquisador André Junqueira e a Fabíola
silva, os solos de terra preta da encontrados na Amazônia são parte de um processo
próprio da região, sendo um fenômeno amazônico (SILVA, 2004)
PEREIRA CRUZ, Aline et al. Pre-colonial Amerindian legacies in forest composition of southern
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