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Dias CD, Furtado GRD, Viotti M, Lobo MM

Manejo
clínico de
complicações
com ácido hialurônico
em bioplastia nasal

Management of complications
with hyaluronic acid in nasal
bioplasty: literature review

1
Mestra em Ciências, área de concentração em Patologia Oral – FO/USP;
Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial – HCFM/USP; Pós-
graduação em Harmonização Orofacial – Faipe/MEC.
Carla Dinelli Dias1 2
Especialista em Ortodontia – SL Mandic; Habilitação em Harmonização Orofacial –
Gisele Rosada Donola Furtado2 Instituto de Anatomia Aplicada, Miami.
Marcia Viotti3 3
Especialista em Dentística – UCCB, Anatomista atuante MARC – Instituto
Maristela Maia Lobo4 Altamiro Flávio; Habilitação em Harmonização Orofacial – MARC Institute;
Professora de cursos livres em Harmonização Orofacial – (em qual instituição?).
4
Doutora em Dentística e Mestra em Cariologia – Unicamp; Especialista em
Periodontia – EAP/APCD; Professora horista dos cursos de pós-graduação em
Odontologia Estética e Especialização em Implantodontia – Centro Universitário
Senac/SP; Professora de cursos livres de imersão em Perio-Implantodontia
Plástica aplicada à Odontologia Estética Multidisciplinar e Imersão em Visagismo e
Harmonização Orofacial – (por qual(is) instituição(ões)?).

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Relato de Caso Clínico

RESUMO ABSTRACT
Nas últimas décadas, os materiais preenchedores vêm revolu- In recent decades, fillers have been revolutionizing non-invasive
cionando os tratamentos estéticos faciais não invasivos, sendo cosmetic facial treatments, with injectable hyaluronic acid being
o ácido hialurônico (AH) injetável o mais comumente utilizado the most commonly used for such procedures. Among them,
para tais procedimentos. Entre eles, a bioplastia nasal surge com nasal bioplasty appears with great prominence and demand.
grande destaque e procura. Concomitantemente a essa aplica- Concomitant with this increasing applicability, the rate of
bilidade crescente, o índice de complicações e eventos adversos complications and adverse events is also increasing. A review
também tem se tornado cada vez maior. No presente estudo, foi of the literature was carried out from 2008 to 2018 through the
realizada uma revisão da literatura no período de 2008 a 2018, PubMed/MEDLINE, SciELO and Cochrane Library databases, with
através das bases de dados do PubMed/MEDLINE, SciELO e the key words “nose”, “dermal fillers”, “rhinofiller”, “hyaluronic acid”,
Cochrane Library, com as palavras-chave “nose”, “dermal fillers”, “complications” and “treatment”, as well as related management,
“rhinofiller”, “hyaluronic acid”, “complications” e “treatment”, complications and treatments of nasal bioplasties with the use of
assim como estudos conexos referentes ao manejo, complicações hyaluronic acid. The articles selected were inherent to the title, with
e tratamentos das bioplastias nasais com uso de AH. Os artigos clinical and anatomical studies privileged, as well as systematic
selecionados foram pertinentes ao título, sendo privilegiados os reviews of a total of 41 articles. To achieve success in the treatment
estudos clínicos e anatômicos – além das revisões sistemáticas –, of nasal bioplasty and decrease in the risks of complications
totalizando 41 artigos. Para a obtenção de sucesso no tratamento requires an advanced anatomical knowledge of the structures
de bioplastia nasal e diminuição nos riscos de complicações, é related to the nose. Complications can be divided according to
necessário o conhecimento anatômico avançado das estruturas severity or onset time and the operator should be able to diagnose
relacionadas ao nariz. As complicações podem ser divididas de the etiology of the complication and to intervene quickly with the
acordo com a severidade ou pelo tempo de início, devendo o most appropriate treatment. Nasal bioplasty with injection-based
operador estar apto a diagnosticar a etiologia da complicação e hyaluronic acid based filling has become a minimally invasive
a intervir rapidamente com o tratamento mais adequado. A bio- possibility of aesthetic treatment. Although it requires advanced
plastia nasal com preenchimento à base de AH injetável tornou-se skill, this procedure requires respect to the clinical technique, the
uma possibilidade minimamente invasiva de tratamento estético. anatomical knowledge, the rheological characteristics of the fillers,
Embora exija habilidade avançada, esse procedimento requer o as well as early diagnosis and quick intervention in case of problems
respeito à técnica clínica, aos conhecimentos anatômicos, às ca- to minimize the risks of sequelae.
racterísticas reológicas dos preenchedores, além de diagnóstico Key-words – Nose; Dermal fillers; Nasal bioplasty; Hyaluronic acid;
precoce e rapidez na intervenção no caso de intercorrências para Complications.
minimizar os riscos de sequelas.
Palavras-chave – Nariz; Preenchedores dérmicos; Bioplastia nasal;
Ácido hialurônico; Complicações.

Recebido em fev/2019.
Aprovado em fev/2019.

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Dias CD, Furtado GRD, Viotti M, Lobo MM

| Introdução | • Assepsia;
• Uso de cânulas ao invés de agulhas;
O uso do ácido hialurônico (AH) injetável tem ocupado • Injetar pequena quantidade do preenchedor, com
posição dominante e incontestada na abordagem estética velocidade controlada de injeção;
orofacial. De acordo com a American Society of Aesthetic • Preferir pequenos bolus à retroinjeção linear;
Plastic Surgery, mais de 2,4 milhões de tratamentos es- • Conhecer a anatomia facial e nasal e identificar áreas
téticos com esse preenchedor foram realizados no ano de risco;
de 2016. Possivelmente, esse resultado advém da sua • Diagnóstico de possíveis sinais clínicos imediatos ou
aplicabilidade, eficácia, previsibilidade, segurança do ma- mediatos de compressão e/ou oclusão vascular;
terial pela biodegradação (reabsorvível), resultados clínicos • Acompanhamento pós-operatório em 24/48/72h
rápidos/significativos, reduzida reação imunogênica – por e 15 dias.
se tratar de uma estrutura química idêntica a que compõe Os sinais iniciais de comprometimento vascular po-
os tecidos humanos. O AH do organismo humano também dem ser sutis, por isso o paciente deve ser instruído, por
sofre degradação enzimática pelo uso da hialuronidase, escrito, sobre os cuidados pós-tratamento (evitar exercí-
uma proteína solúvel que ainda não possui aprovação pela cios físicos, viagens aéreas, bebidas alcoólicas, exposição
FDA para uso cosmiátrico, mas que pode ser empregada solar, diferenças extremas de temperatura, manipulação
off-label no manejo de complicações clínicas1-8. da área injetada e aplicação de vasoconstritores nasais), e
Entre os procedimentos com o uso de AH injetável, a os números de contato devem ser disponibilizados, sendo
bioplastia nasal tem sido um procedimento cada vez mais recomendável reavaliar o paciente no dia seguinte do pro-
comum, mesmo não sendo o padrão-ouro de tratamento cedimento11. Nesse contexto, o objetivo desta revisão da
para as deformidades estéticas nasais. Corresponde a uma literatura é elucidar o manejo das possíveis intercorrências
alternativa minimamente invasiva na correção de defeitos nas bioplastias nasais com o uso de AH.
discretos, complementando e/ou substituindo a rinoplastia
cirúrgica4,9. No entanto, é preciso considerar que se trata | Material e métodos |
de uma técnica mais avançada e só deve ser praticada por
operadores experientes10. Foi realizada revisão da literatura no período de 2008
O índice de complicações e eventos adversos também a 2018 através das bases de dados do PubMed/MEDLINE,
tem se tornado cada vez maior, gerando complicações que SciELO e Cochrane Library, com as palavras-chave: “nose”,
demandam tratamentos imediatos para minimizar ou “dermal fillers”, “rhinofiller”, “hyaluronic acid”, “compli-
diminuir os riscos de sequelas e morbidades na vida dos cations” e “treatment”, assim como estudos conexos
pacientes8,11. As complicações com AH em bioplastia nasal referentes ao manejo, complicações e tratamentos das
podem ser divididas de acordo com a severidade (leve, mo- bioplastias nasais com uso de AH. Os artigos selecionados
derada, severa/grave), pelo tempo de início (imediato, me- foram pertinentes ao assunto do título do presente arti-
diato ou tardio – até um ano ou mais após o procedimento) go, sendo privilegiados os estudos clínicos e anatômicos,
ou, ainda, por categorias: alérgicas; nódulos/granulomas/ além de revisões sistemáticas no total de 41 artigos. Como
inflamações; infecções e eventos intravasculares (necrose existem poucos artigos na literatura sobre esse assunto,
tecidual e cegueira)11. Aproximadamente, 100 casos de nenhum dos artigos foi excluído.
cegueira estão documentados na literatura. O clínico deve
estar apto a diagnosticar a etiologia da complicação e a | Resultados |
intervir rapidamente com o tratamento mais adequado12-15,
uma vez que não existem protocolos definidos para muitas Os preenchimentos dérmicos injetáveis são os
destas intercorrências. procedimentos mais comumente realizados na cosmia-
Possíveis complicações com o uso do AH em bioplastia tria orofacial. Na última década, a bioplastia nasal vem
nasal podem ser reduzidas ou evitadas por meio de uma exponencialmente ocupando importante espaço nessa
abordagem sistemática e cautelosa que consiste em: terapêutica, mesmo com a rinoplastia cirúrgica sendo
• Seleção, documentação, fotografias e anamnese ainda o padrão-ouro entre os procedimentos de correção
do paciente; nasal1,10. Alguns autores chegaram a sugerir que em muitos
• Escolha correta do material preenchedor (monofásico, casos clínicos a bioplastia nasal pode servir como substi-
de média reticulação); tuto da rinoplastia cirúrgica, suavizando as assimetrias

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Relato de Caso Clínico


Entre as vantagens de uso do AH injetável, o grande
destaque é seu potencial de reversibilidade através do uso
da hialuronidase, uma enzima que existe naturalmente
na derme e que age por despolimerização, aumentando
temporariamente a permeabilidade e a absorção tecidual
ao AH. Sua utilização na área cosmiátrica é crescente,


porém ainda de modo off-label.

anatômicas2,9,16. A bioplastia nasal, ou rinomodelação, pacientes15,22. Vários métodos de classificação categori-


caracteriza-se pelo uso de preenchedores à base de AH zam os preenchedores démicos injetáveis: biodegradação
em diversas regiões do nariz (base, columela, dorso, tip (moderada ou longa duração/reabsorvível, semiabsorvível
e supratip – pontas), visando modificar ou melhorar sua ou permanente); partículas (concentração e tamanho);
estética ou funcionalidade10. e cross-linking. Vários tipos de preenchedores à base de
Algumas contraindicações locais/sistêmicas do seu AH ganham o mercado anualmente e os aspectos que os
uso incluem: rosácea vascular; cicatrizes na área a ser trata- diferem são o tipo e grau de reticulação, combinações de
da; terapia anticoagulante/distúrbios sanguíneos; alergias alto e baixo peso molecular; viscosidade e viscoelasticidade;
a anestésicos locais/tópicos e ao AH; e expectativas irreais coesividade; força de extrusão em tensão de cisalhamento
sobre o resultado final, comum em pacientes com perfil G e compressão E; propriedades reológicas específicas;
psicológico alterado17. Os riscos do procedimento incluem concentração total do ácido e durabilidade23-24.
complicações graves, raras, em sua maioria vasculares, Entre as vantagens de uso do AH injetável, o grande
com frequência estimada de 0,001%18. Quando ocorrem, destaque é seu potencial de reversibilidade através do uso
tornam-se devastadoras, tanto para o paciente quanto da hialuronidase, uma enzima que existe naturalmente
para o profissional, principalmente quando ocorrem casos na derme e que age por despolimerização, aumentando
de necrose tecidual e cegueira11. Os eventos oftalmológicos temporariamente a permeabilidade e a absorção tecidual
de perda de visão exigem contato imediato com o médico ao AH. Sua utilização na área cosmiátrica é crescente,
especialista (oftalmologista) e acompanhamento do pa- porém ainda de modo off-label. Sua ação dependerá do
ciente em consulta no prazo máximo de 90 minutos, na tempo em que o AH foi aplicado, ou seja, quanto menor o
tentativa de reverter a perda visual11. tempo do AH e menor a estabilidade desse ácido no sítio
O AH é um polissacarídeo linear – glicosaminoglicano de aplicação, melhor sua eficácia, durando de 24hs a 48hs
(GAG) de alto peso molecular que representa o principal após sua aplicação7-8,25-26. O uso de furosemida, benzodia-
componente da matriz extracelular. Composto de unidades zepínicos e fenitoína produzem interações farmacológicas
alternadas e repetidas de ácido D-glicurônico e N-acetil-D- com a enzima, sendo, portanto, contraindicado o seu uso.
-glicosamina unidas por ligações β, possui propriedades Doses elevadas de salicilatos, corticosteroides, estrógenos
hidrofílicas, o que proporciona a volumização ou o aumento ou anti-histamínicos requerem maiores quantidades de
do tecido injetado, pois na presença de água forma um hialuronidase7,27. O teste alérgico cutâneo à hialuronidase
gel viscoso com biocompatibilidade e reversibilidade4,7,19-21. é discutível em vários artigos por depender da dose admi-
Torna-se imprescindível compreender as diferentes nistrada: as reações alérgicas são comumente localizadas e
características dos AH para que se possa minimizar os leves, com incidência de 0,05% a 0,69%, incluindo eritema,
riscos de complicações e melhorar os resultados para os edema, dor e prurido, sendo de fácil reversibilidade7,21.
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Figuras 1 – A e B. Estrutura vascular (venosa e arterial) relacionada ao nariz: supraorbital, supratroclear dorsal do nariz e facial, que inclui a labial
superior e a angular – as quais se anastomosam na ponta do nariz. A artéria oftálmica localiza-se na parte interna medial da cavidade orbital,
podendo ser visualizada na dissecação da pálpebra e do músculo orbicular dos olhos. O comprometimento arterial ou venoso após preenchimento
com ácido hialurônico – por oclusão ou compressão vascular – pode resultar em necrose tecidual e/ou cegueira.

A aplicação da hialuronidase pode ser feita em doses ço, característica indolor e não radioativa13,26,32-33. Também
fixas e repetidas diariamente, dependendo do diagnóstico pode-se empregar a angiografia computadorizada34 e a
da complicação. Sua aplicação também pode ser realizada ressonância magnética, nos casos de extrema complexida-
em doses seriadas, com variáveis até a resolução do proble- de, como a migração do material preenchedor e a presença
ma. Nas isquemias vasculares nasais, devem ser utilizadas de abscessos18.
altas doses dessa enzima com variantes de 500 UI a 1500 No manejo das complicações clínicas, podem ser uti-
UI por área/hora11,26,28. As respostas diferem de acordo com lizados medicamentos por via oral, injetáveis ou tópicos:
o tipo, a reticulação do AH e o tempo após a injeção29. • Anti-inflamatórios não esteroides ou esteroides orais/
Para obtenção de sucesso no tratamento de bioplastia injetáveis (ibuprofenos/dexametasona/prednisona)
nasal e diminuição nos riscos de complicações é necessário ou intramusculares (dipropionato de betametasona
um conhecimento anatômico avançado da estrutura vascu- 5 mg/mL) devido sua ação rápida;
lar relacionada ao nariz: as artérias supratroclear, supraorbi- • Antibióticos (cefalexinas, ciprofloxacinas, macrolídeos
tal; artérias dorsais e a artéria facial que inclui a artéria labial e quinolonas);
superior e angular – as quais se anastomosam na ponta do • Antivirais (aciclovir) pré e pós-operatório, quando
nariz. Adicionalmente, a artéria oftálmica, cuja obliteração relatada, na anamnese, a possibilidade de ocorrência
pode ocasionar cegueira irreversível (Figura 1)30-31. de herpes;
A Tabela 1 classifica as complicações possíveis nas • Anti-histamínicos (antialérgicos), como Fenergan 25
bioplastias nasais com o uso do AH injetável, desde as mg e Hixizine 25 mg;
mais leves até as mais graves e raras, seguida de seu • Antiagregantes plaquetários/anticoagulantes (AAS
diagnóstico, tempo de evolução e tratamento. Com relação 500 mg/heparina sódica/bissulfato de clopidogrel)
ao diagnóstico, além da avaliação clínica das principais e, nos casos mais graves de complicações vasculares,
lesões associadas ao procedimento, pode-se utilizar a ul- citrato de sildenafila35;
trassonografia com Doppler na identificação de processos • Pomadas/cremes de corticoide, como a Diprogenta;
inflamatórios em suas diversas fases e a dilatação arterial, • Injetáveis locais (hialuronidase)7,12,14,18,20;
possibilitando a avaliação do fluxo sanguíneo local13,26,32-33. • Pomada de nitroglicerina 2%, venodilatador de uso
Essa é uma importante e rápida ferramenta de avaliação controverso2,26. Utilizar quando houver a remissão total/
das camadas da pele, pela facilidade de acesso, baixo pre- local (dois a três dias após a aplicação da hialuronidase).
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Também podem ser empregadas terapias comple- É de suma importância o conhecimento dos diversos
mentares: tipos de AH existentes no mercado atualmente, pois as
• A oxigenioterapia hiperbárica (HBO2) tem sido utiliza- características de fabricação, propriedades reológicas e
da como forte aliada nas complicações, principalmente coesivas dos géis fazem diferença em sua região de apli-
as de envolvimento vascular, apresentando resultados cabilidade, devido às propriedades físicas/mecânicas dos
extremamente rápidos e eficazes12,34. Essa terapia tecidos, estando, assim, relacionado aos resultados do
gera oxigenação/reperfusão dos tecidos isquêmicos tratamento, às complicações e aos efeitos adversos24,37.
e promove angiogênese e maturação da síntese de As complicações com o uso de preenchedores à base
colágeno, diminuindo a produção de lactato e a aci- de AH na bioplastia nasal, podem ocorrer desde as mais
dose dos tecidos, e atuando sinergicamente com os leves, como inflamação; eritemas; efeito Tyndall/desco-
antibióticos. O tratamento deve ser instaurado por loração e nódulos, até mesmo as mais graves, temidas
médico especialista e intervencionista, logo que seja e severas como as necroses nasais; a isquemia ocular; a
diagnosticada a intercorrência. Protocolos, sessões e perda de visão e o infarto cerebral1,38-40. As causas vascula-
manejo da terapia hiperbárica dependem de consenso res representam a maior preocupação e complexidade de
e avaliação médica, diferenciando-se para cada caso e manejo clínico, e geralmente estão associadas à excessiva
extensão das lesões11. quantidade de material aplicado, ou técnica errônea que
• LIP (luz intensa pulsada), LEDs e laser de Nd:Yag resulte em compressão e/ou embolização vascular, e re-
auxiliam na recuperação da área, aumentando a vas- dução da perfusão vascular local imediata ou mediata (por
cularização e estimulando a cicatrização local12,18,20,34-35. ação hidrofílica)3,41.
Protocolos preestabelecidos não se mostram consen- Para evitar as complicações nas bioplastias nasais,
suais na literatura. recomenda-se que pequeno volume de AH de média reticu-
lação seja injetado, de maneira lenta e suave, somente após
| Discussão | aspiração prévia e uso de cânulas, pois a região da anatomia
nasal é repleta de vasos da artéria facial que se anastomo-
O uso de AH injetável no nariz é um procedimento que sam, sendo, dentre todas, a região de columela nasal a área
deve ser utilizado com cautela e segurança, em pacientes onde pode-se trabalhar com maior segurança, porém, com
que almejem melhorias estéticas ou funcionais sem pro- cautela, devido às suas características anatômicas14,17.
cedimento cirúrgico. Os riscos e os benefícios devem ser Na maioria das complicações, tanto nos episódios
considerados e sempre discutidos, pois complicações preci- adversos agudos quanto na reversão de tratamentos in-
sam ser prevenidas e tratadas prontamente se necessário10. satisfatórios, o uso da hialuronidase é de extrema eficácia,
O diagnóstico clínico pré-tratamento e o conhecimento devendo ser de domínio técnico a todos os profissionais
anatômico profundo das estruturas nasais são de extrema que utilizam o AH8. Essa proteína é capaz de dissolver nó-
importância para o sucesso do resultado17. dulos subcutâneos ou corrigir quantidades excessivas de
Os benefícios do uso de preenchedores com AH in- preenchedor injetado, ou até mesmo reverter inicialmente
jetáveis nas bioplastias nasais incluem: método rápido e os processos necróticos21. Porém, não existe consenso nos
não invasivo, sem necessidade de anestesia geral; tempo protocolos de uso, os quais são altamente discutíveis e
de inatividade mínimo e/ou nenhum; menor custo de dependem de inúmeros fatores como: tipo de reticulação
tratamento quando comparada à rinoplastia cirúrgica e do AH, quantidade e local aplicado, tempo da aplicação do
correções cirúrgicas secundárias com menor risco e tempo. material e tipo de intercorrência29. Não existe protocolo de
O material é temporário, reversível com o uso de hialuro- quantidade, periodicidade, aplicabilidade e resultados21, por
nidase, biodegradável, e ainda útil para preservar a altura isso seu uso clínico é off-label.
anatômica do nariz. As limitações se relacionam à curta Para a potencialização do tratamento, é necessário
durabilidade do efeito necessitando, portanto, de retrata- o diagnóstico preciso de cada tipo de intercorrência, para
mento contínuo17. O uso de preenchedores permanentes no que sejam instaurados o manejo e a medicação correta,
nariz deve ser evitado, devido à associação com formação assim como terapias auxiliares, tendo em vista que as
de granulomas, complicações de difícil manejo36. intercorrências possuem um padrão individual.

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Dias CD, Furtado GRD, Viotti M, Lobo MM

TABELA 1 – COMPLICAÇÕES, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO (ADAPTADA DE ALMEIDA & SALIBA)7.

Tipos de Tempo de
Diagnóstico Sinais/sintomas Tipos de tratamento
complicações evolução

Compressa morna,
massagem local vigorosa,
Hiperemia, sensibilidade,
Reações locais Clínico Imediato/horas. anti-inflamatórios não
isquemia e hematoma.
esteroides, esteroides orais
e/ou IM, anti-histamínicos.

Corticosteroide tópico, anti-


Eritema transitório Clínico Vermelhidão. Imediato. histamínico, corticosteroide
oral.

Vermelhidão persistente Corticosteroide tópico, anti-


Imediato/horas/
Eritema persistente Clínico (excluir hipersensibilidade/ histamínico, corticosteroide
dias.
infecção). oral, LED, LIP e laser

Anti-inflamatório não
Coloração azulada após hormonal, corticosteroide
Edema Clínico injeção superficial de Imediato/horas. oral, anti-histamínico,
material. aplicação de gelo
(hialuronidase) (S/N).

Compressa morna,
Coloração azulada após
massagem local vigorosa,
Efeito tyndall Clínico injeção superficial de Imediato/dias.
hialuronidase drenagem
material.
(S/N).

Antibioticoterapia
Eritema, endurecimento
oral (macrolídeos e
à palpação, sensibilidade
quinolonas), drenagem de
dolorosa (moderada/
Infecção Clínico Dias. abscesso (S/N) – biofilme
intensa), prurido, nódulos
deve ser considerado,
flutuantes, febre e
hialuronidase (sete dias após
calafrios.
antibioticoterapia) (S/N).

Hialuronidase, anti-
Aumento volumétrico inflamatório não
Nódulos não
Clínico (reação de corpo estranho/ Imediato/tardio. hormonaloral (considerar
infectados
acúmulo de produto). corticosteroide tópico/oral),
drenagem (S/N).

Antibioticoterapia
Aumento volumétrico, oral (macrolídeos e
sensibilidade dolorosa quinolonas), drenagem de
Nódulos infectados Clínico (moderada/intensa), Imediato/tardio. abscesso (S/N) – biofilme
eritema, prurido, ponto de deve ser considerado,
flutuação, abcesso. hialuronidase (sete dias após
antibioticoterapia).

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Relato de Caso Clínico

Tipos de Tempo de
Diagnóstico Sinais/sintomas Tipos de tratamento
complicações evolução

Anti-inflamatório
Aumento volumétrico
não hormonal oral,
ETIP (Edema Tardio persistente local e ou
anti-histamínico oral,
Intermitente Clínico circunscrito, eritema com Tardio (30 dias).
considerar corticosteroide
Persistente) ou sem sensibilidade à
oral, hialuronidase,
palpação.
antibioticoterapia (S/N).

Telangectasia Clínico Vasos sanguíneos visíveis. Tardio (30 dias). Luzes (LED, LIP, laser).

Pacientes com histórico


Ativação herpética Clínico Vesículas. Imediato/tardio.
herpético (profilaxia antiviral
sistêmica) ou após ativação.

(Oclusão, compressão ou Doses altas e pulsadas de


trauma vascular) hialuronidase entre (500
Branqueamento transitório UTR a 1500 UTR área/hora),
(duração de segundos), massagem local vigorosa,
hiperemia reativa compressas quentes, ácido
(minutos), descoloração acetil salicílico (AAS) –
preta-azulada (dez mastigáveis ou sublingual,
Alterações
Clínico/Ultrassom/ minutos/horas), formação ou anticoagulantes
vasculares Imediato/horas/
MRI/Angiografia de bolhas (horas/dias), (Clopidogrel), pomada tópica
(isquemia ou dias.
computadorizada necrose e ulceração de nitroglicerina 2% (seu
necrose)
cutânea (dias/semanas). uso é iniciado dois a três
Interromper a injeção (dor, dias após a aplicação da
branqueamento da pele ou hialuronidase); considerar
alteração de cor). terapia de oxigênio
Obs.: gelo e epinefrina hiperbárico e também
mascararam os sinais e os debridamento (conduta
sintomas. médica).

Embolização arterial (zona


de risco – dorso nasal).
Clínico/Ultrassom/ Comprometimento Imediato – até Urgência: contato imediato
Cegueira
MRI/Angiografia da artéria oftálmica e 90 min. após o com oftalmologista e
Isquemia cerebral
computadorizada circulação intracraniana. incidente. neurocirurgiões.
Dor ocular, diminuição e/ou
perda da visão.

Legenda – (S/N): se necessário; (MRI): ressonância magnética; (LIP): luz intensa pulsada.

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Dias CD, Furtado GRD, Viotti M, Lobo MM

| Conclusão | Nota de esclarecimento


Nós, os autores deste trabalho, não recebemos apoio financeiro para pesquisa dado por organizações que
A bioplastia nasal com preenchimentos à base de possam ter ganho ou perda com a publicação deste trabalho. Nós, ou os membros de nossas famílias, não
AH injetável tornou-se uma possibilidade minimamente recebemos honorários de consultoria ou fomos pagos como avaliadores por organizações que possam ter
ganho ou perda com a publicação deste trabalho, não possuímos ações ou investimentos em organizações
invasiva de tratamento estético para os pacientes que que também possam ter ganho ou perda com a publicação deste trabalho. Não recebemos honorários
possuem algum tipo de imperfeição anatômica. Com de apresentações vindos de organizações que com fins lucrativos possam ter ganho ou perda com a
publicação deste trabalho, não estamos empregados pela entidade comercial que patrocinou o estudo
técnicas de aplicabilidade adequada, superfície tecidual e também não possuímos patentes ou royalties, nem trabalhamos como testemunha especializada, ou
da pele cuidadosamente preparada, toda paramentação/ realizamos atividades para uma entidade com interesse financeiro nesta área.
esterilização do ambiente/profissional, além de profundo
Endereço para correspondência
conhecimento e das características reológicas dos tipos
Carla Dinelli Dias
de AH injetáveis disponíveis no mercado, o procedimento Rua Cantagalo, 692 – Sala 717 – Tatuapé
pode tornar-se padrão-ouro no tratamento das bioplastias 03336-010 – São Paulo-SP
Tel.: (11) 2941 63 95
nasais. O diagnóstico e a intervenção rápida e precoce das
complicações minimizam significativamente os riscos de
sequelas em curto, médio e longo prazos, e para isso é de
suma importância que o profissional seja capacitado e
experiente, pois a bioplastia nasal é um procedimento que
exige técnica e habilidade mais avançadas.

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