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Mas os contos de fadas não são reais, como a vida gosta de lembrá-la.
Alguns dragões, você simplesmente não pode matar, não importa o quanto
você lute. E quando ela volta, respirando fogo, ela é forçada a enfrentar
alguns horrores inimagináveis. Mas há um cavaleiro branco em botas de
combate por aí que não tem medo de monstros.
Veja bem, é impossível ter medo de algo que você vê todos os dias no
espelho.
―――――――――――――
A testa dela franziu. Não era Natal. Não mais. Eles perderam o Natal.
Papai Noel não veio. ― É um ano novo agora.
Use suas palavras. Ele sempre dizia isso, como se ela não tivesse
permissão para ter pensamentos que pertencessem a ela. Ela tem que
transformar eles em palavras e entregar a ele. Ele estava sempre levando
tudo.
Ele parou atrás dela, sua sombra cobrindo a mesa como se uma nuvem
de tempestade tivesse entrado e bloqueado todo o sol. Ele tocou seu ombro
e a menina congelou, sussurrando ― Eu quero que você vá.
A mão dele disparou assim que ela disse isso, segurando sua
mandíbula com tanta força que ela gritou. Parecia uma garra de metal. Ele
puxou seu rosto para cima, forçando sua cabeça para trás, batendo contra
a cadeira enquanto a fazia olhar para ele. Sua expressão era dura, seus
olhos tão frios quanto gelo enquanto olhava para ela. Seu toque áspero
deixou marcas em forma de dedo na pele pálida que ela recebeu de sua
mãe.
― Ela tem tudo de mim. Eu amo essa suka mais do que ela jamais
poderia entender. Eu a amo até a morte, gatinha. No momento em que a
vi, eu sabia que ela seria minha. Eu dei tudo a ela, e tudo o que ela tinha
que fazer era me amar de volta.
Ele fechou os olhos, como se aquelas palavras o machucassem,
enquanto sua mão se mexia novamente, pressionando contra sua garganta
até que ela não conseguia respirar. Ela tentou, sugando o ar, mas parecia
que seus pulmões estavam quebrados, como se tivessem um buraco neles,
então tudo vazou até que ela estivesse sufocando.
Sufocando.
Ou melhor, eu disse que não estava com fome e ele disse, ‘foda-se,
estou pegando um e você vai comer’, como o cavalheiro que ele é. Sou grata
por isso, apesar de ter atacado ele.
― Não acredito que você nunca comeu lá. ― diz ele. ― Eu pensei que
era um requisito de ser um nova-iorquino.
― Sim.
Eu rio, olhando para ele, vendo que ele está me olhando com
curiosidade. A luz muda e as pessoas nos rodeiam, mas ele não se move.
Não imediatamente.
― Não há nada errado em ser louco. ― diz ele. ― É tudo apenas uma
questão de percepção. Inferno, acho que meu irmão é louco, trabalhando
em um emprego de merda com sua namorada rainha da beleza estudando
o que ela está estudando, gastando dezenas de milhares por um pedacinho
de papel que a declarará competente o suficiente para conseguir seu
próprio emprego de merda onde ela ganhara nem mesmo uma fração do
que eu ganho, quando eu nem terminei o ensino médio. Mas o mundo
pensa que isso é normal e, na verdade, tudo isso é normalidade - é a porra
de qualquer tipo de loucura que a maioria tem.
Ele continua tanto tempo, olhando para mim, que a luz muda
novamente e as pessoas se reúnem ao nosso redor.
Leva 45 minutos para chegar à casa dele. Assim que entramos, ficamos
cara a cara com Leo e Melody, que estão vestidos para o dia e saindo. Leo
trabalha em algum restaurante chique, um que exige que ele use um
smoking, enquanto Melody está carregando sua mochila cheia de livros
para a aula. É tudo tão perfeito.
Normal.
Leo nos olha. ― Noite longa? Vocês dois parecem um inferno esta
manhã.
Assim que ele diz isso, olho para a sala, vendo um familiar sofá de
couro preto com detalhes dourados. Oh Deus, ele seriamente...?
― Sim?
― Provavelmente a mesma merda que meu irmão faz, mas isso não
importa. Eu desinfetei.
― Você desinfetou.
― Sim, peguei uma lata de Lysol e joguei por toda essa merda.
― Então vamos lá. ― diz ele, passando por mim. ― Vamos para a cama.
Eu não discuto com isso. A cama parece um belo lugar para se estar,
então eu o sigo lá pra cima. Assim que chegamos ao quarto dele, tiro os
sapatos e arranco o moletom, caindo na cama com um suspiro, ainda
segurando o maldito urso.
Lorenzo tira toda a roupa, como sempre, antes de subir ao meu lado.
Não sei quanto tempo passa antes de voltar a acordar, mas meu corpo
está dolorido e o quarto está turvo, ficando mais escuro, então sinto que é
tarde. Eu dormi o dia inteiro. Grogue, esfregando os olhos, me levanto para
sentar quando algo cai no meu colo.
Buster.
Me bate de novo então, quando eu pego o urso. A pressão no meu
peito me faz sentir como se estivesse sufocando. Meus dedos exploram o
rosto machucado do urso, acariciando o pelo imundo e empurrando a
espuma de volta para nos buracos.
Eu também.
Ele sabe que sou eu. Não sei bem como. Eu mantenho meu número
bloqueado por esse motivo, mas, de alguma forma, ele sempre sabe.
― Você gostou do seu presente? Sei que o Natal foi meses atrás, mas é
melhor tarde do que nunca, não é? ― Há uma leveza no tom dele, como se
ele estivesse se divertindo com tudo isso. ― Estou assumindo que o seu
brinquedo marcado deu a você, desde que você está ligando ... a menos
que esteja simplesmente sentindo minha falta hoje.
― Sinto falta das suas lições. ― diz ele, parecendo quase melancólico.
― Despir você, foder você forte, deixando todos assistirem. Você se
lembra? O jeito que eles se caiam sobre si mesmos para vê-la, esperando
que eu estivesse de bom humor e deixasse que eles te experimentassem.
Você sente falta disso? Você pode admitir. Eu não vou contar pra ninguém.
Não direi a eles o quanto você era boa garota, como chorava tão baixo, para
não incomodar quando eles se revezavam...
― Pare. ― Minha voz falha quando essa palavra sai dos meus lábios,
lágrimas ardendo nos meus olhos. ― Simplesmente pare.
― Está tudo bem. ― Continua ele. ― Volte para casa e eu farei tudo
melhor. Prometo. E talvez, se você for uma boa menina, depois de
finalmente aprender sua lição, eu lhe direi o que aconteceu com sua
gatinha.
Eu não respondo.
― Então adeus por enquanto, menina bonita. Tenho certeza de que nos
veremos novamente em breve. Eu te amo.
Felizmente, não fazendo sexo - parece que ele está ajudando ela com a
lição de casa – mas ugh, esse sofá.
Se eles soubessem...
― Depois das nove horas. ― Leo diz com uma risada. ― Você acabou
de acordar?
― Ugh, sim. ― Eu coço minha cabeça, meu cabelo está uma bagunça.
― Acho que eu estava realmente cansada.
Esquisito.
Ah não.
― Não, não é. ― diz ela, revirando os olhos. ― Eles são adultos, então
não é da sua conta.
― Mas...
Leo não parece decepcionado. Muito pelo contrário, de fato. Ele sorri
como um maníaco. Melody, por outro lado, abre seu livro novamente,
resmungando, “fale sobre romantismo.”
― Sim. ― Eu digo.
Antes que Leo possa entrar, e sem responder sua pergunta, Lorenzo
agarra a porta da biblioteca e bate com força na cara de Leo. Eu estremeço
novamente, desta vez da realização. Fiquei tão distraída com olhar Lorenzo
em um terno que não me ocorreu que ele me pegou procurando em sua
biblioteca.
A biblioteca dele.
― Com um policial?
1
Ela fez um trocadilho com a palavra Suit que significa tanto Adaptar e Terno.
― Detetive Jones. ― Eu digo. ― Você sabe, aquele que você chama de
meu amigo policial?
― Às vezes você tem que fazer o papel, Scarlet. Você sabe disso.
Quando a maioria das pessoas pensam em caras como eu, ainda imagina
alguém como Michael Corleone, e é isso que eles recebem. É meio
engraçado, realmente. Eles têm mais pavor de mim em um terno com
sapatos brilhantes do que quando estou usando botas de combate e
carregando uma arma carregada.
Ele ri, afrouxando o colarinho. ― Você mija nas calças quando está
excitada também?
Antes que ele possa responder, inclino a cabeça para baixo, fungando,
tentando ser sutil, mas ele entende o que estou fazendo e ri.
― Agora mesmo?
― Sim, foi a última vez que tomei banho. ― Digo, passando por ele. ―
Agora mesmo.
Bem então...
― Sim. ― Diz ela, fazendo uma careta. ― Eu pensei que seria divertido
me formar nisso.
― Isso é apenas... uau. Quero dizer, acho que posso ver, sabe? Você
parece... bem...
Seu rosto fica vermelho quando ela balança a cabeça. ― Quero dizer,
como alguém que não dá a mínima para o que alguém pensa dela.
Ela olha para mim como se quisesse perguntar alguma coisa, mas
antes que ela pudesse encontrar as palavras, faróis piscam pela janela
quando um carro entra na garagem.
Saindo, eu quase bato no Leo quando ele entra pela porta da frente.
Ele para, olhando para mim, sua expressão caindo em algum lugar entre
surpresa e confusão. ― Sério? Uma filha?
Antes que eu possa responder, Lorenzo entra atrás dele, agarrando
Leo pela cabeça e o empurrando por mim, para a sala de estar. ― Fatti i
cazzi tuoi.2
Uau.
Ele ri. ― Vamos lá para cima, e eu vou falar todas as palavras sujas que
você quiser.
2
Cuide da sua vida.
3
Gíria dos anos 50 ou 60. Significa ‘Puxa, coisas acontecem.’
4
Se tornar excessivamente chateado ou emocional com algo, especialmente aquilo que é
trivial ou sem importância.
Me afastando, agarro sua mão, agarrando com força enquanto o
arrasto pelas escadas. Assim que chegamos ao quarto, ele bate à porta,
tirando o paletó novamente e o jogando na cômoda.
Lanço um olhar curioso, mas o sacudo, distraída quando ele puxa uma
arma para fora da cintura para colocá-la de lado. Ele chega para mim,
puxando minhas roupas, mas eu tiro suas mãos. Em vez disso, pego sua
calça, desafivelando-a enquanto caio de joelhos na frente dele. Lorenzo fica
parado, sem se mexer.
Eu não hesito, trazendo meus lábios até a ponta, minha língua girando
em torno da cabeça antes de lentamente, eu o colocar na minha boca, seu
pau deslizando pela minha garganta.
São alguns minutos - três, talvez quatro, no máximo, antes que ele
puxe a mão do meu cabelo, estendendo a mão para cutucar meu queixo.
Eu não tenho ideia do que ele está dizendo, nem uma pista, mas o som
dessas palavras envia faíscas através de mim quando elas rolam
diretamente de sua língua. Eu o chupo mais rápido, sugando com mais
força, um sorriso em seus lábios quando seus olhos novamente se fecham.
Mais uma vez, ele inclina a cabeça para trás, a mandíbula ficando
frouxa, enquanto sua mão novamente se enrosca no meu cabelo.
Ele olha para mim quando digo isso, me dando um olhar tipo 'eu
gostaria de ver você fodidamente tentar', tentando ser intimidador, mas é meio
difícil levá-lo a sério quando seu pau está apenas suspenso nas calças.
5
Minha doce e pequena amiga de foda.
6
Ver meu pau entre esses belos lábios é uma fantasia que me assombra desde o momento
em que nos conhecemos.
Eu sorrio. ― Você sabe, provavelmente ficaria muito mais assustador
se o seu lixo não estivesse pendurado na minha cara.
Ele faz uma pausa quando começa a se despir, tirando o traje, como a
reciprocidade pode não só acontecer, mas também pode ir ainda mais
longe. ― Eu disse que fantasiava sobre esses belos lábios em volta do meu
pau desde o momento em que te conheci.
― Sério?
7
Aspirador de pó.
Um sorriso lento se espalha por seu rosto quando ele se inclina para
mais perto, me beijando suavemente, beijinhos rápidos nos meus lábios,
antes que ele se levante, dizendo ― Descubra, Scarlet.
Leo olha para mim quando eu apareço. Ele tem perguntas, eu sei, mas
não estou com disposição para falar sobre essas coisas, então eu o
interrompo.
― O que é?
― É uma... amiga.
― Uma amiga.
Leo está prestes a dizer outra coisa, mas eu não dou a ele a chance de
falar e subo as escadas. Inacreditável. Eu ouço a água correndo no banheiro
e nem hesito, abrindo a porta e entrando desde que ele nunca tranca nada.
Ele fica embaixo do spray, a água caindo em cascata no peito nu. Isso
me distrai momentaneamente, diminuindo minha raiva, enquanto sigo a
trilha de água em seu corpo.
Eu faço uma careta, olhando para o rosto dele. Ele está sorrindo. Filho
presunçoso de uma... ugh. Antes que eu possa responder, ele me agarra,
me puxando para baixo do spray. Eu quase tropeço na borda da banheira
quando ele me puxa para ele, completamente vestida.
Com cuidado, aponto, alinhando pelo que parece a vigésima vez, mas
minha mão desliza além do meu alvo, mais uma vez, em vez disso, de
alguma forma, me fazendo furar o polegar.
― Chefe?
Eu me viro, de frente para ele. Ele parece o seu habitual eu, de rosto
fresco e bem acordado, apesar de estar por volta das cinco horas da manhã,
o sol ainda não brilhando. Ele provavelmente já tomou café da manhã.
Provavelmente transou com a esposa antes de sair de casa. Provavelmente
tem alguns lanches extras escondidos nos bolsos. Provavelmente fez isso
tudo enquanto eu estava sentada aqui como um maldito idiota, lutando
para enfiar essa linha estúpida na agulha.
Ele olha para mim com cautela, como você considera um animal
selvagem, como se tivesse medo do que eu poderia estar me metendo nesta
manhã.
Três segundos
― A qualquer hora, chefe. ― Diz ele. ― É tudo o que você precisa? Foi
por isso que você ligou?
― Você acha mesmo que eu faria você vir para o Queens apenas para
enfiar uma porra de linha na agulha para mim às cinco horas da manhã?
― Sim.
Eu gostaria.
― Não brinca? Pensei que ela não trabalhava mais desde que você foi
solto e começou a ganhar dinheiro novamente.
― Ela ainda trabalha um pouco aqui e ali. ― diz ele. ― Repara fantasias
para alguns shows quando eles precisam. Ela gosta, e bem, não vai recusar
dinheiro extra, sabe?
Depois que meu padrasto causou estragos e tomou conta dos bosques,
ele decidiu capitalizar essa demanda. A conveniência de ter propriedades
na Flórida significava que eles podem entrar e sair de Cuba sob o nariz de
todos. Depois que ele morreu e eu peguei tudo de volta, mantive o mercado
funcionando. A maior parte do produto ainda fica no Sul, e alguns caras
administram tudo enquanto acompanham os bosques, mas pedidos
especiais são feitos para mim aqui em cima.
De volta à costura.
― Só estou dizendo que você não parece ter pressa de crescer. ― Diz
ele. ― O que não há nada de errado. Mas eu? Eu me acomodei na minha
vida. Você ainda está encontrando a sua.
Cara... essa é uma boa pergunta. A única resposta que ele recebe é, ―
Quem sabe?
Ele ri. Novamente. ― Olha, encontre um tecido, corte ele para caber no
espaço, termine as bordas cruas e costure-o.
Jogo o urso em cima da mesa ao lado do kit de costura quando ele diz
isso. Parece muito trabalho com uma alta probabilidade de algo dar errado.
Também não dá fazer muito pelo resto do urso. Não posso substituir a
orelha. Não é possível colocá-lo na lavadora sem despedaçar. E certamente
não posso devolver o olho perdido, considerando que eu só tenho um.
― Quem?
8
Personagem de Star Wars.
Suspirando, me levanto, tirando meus óculos e colocando sobre a
mesa. ― Só estou dando um passe pra você nisso por causa do prequel9,
mas se você me disser que nunca viu O Império Contra-Ataca10, estou lhe
dando um tiro na cara.
― Vi algumas vezes.
― Você pode esperar no carro. ― Digo a ele. ― Não irei segurar isso
contra você.
9
Prequel é uma obra que conta alguma história anterior em relação ao filme original.
10
Filme da saga Star Wars.
11
Os Sith são uma ordem de guerreiros seguidores do Lado Sombrio da Força que se
opõem aos Jedi no universo de Star Wars.
Ohhh, sua voz de policial - sem besteira, sem humor. Acho que se
estamos fazendo a coisa de policial bom/policial mau, isso me torna o bom.
A ironia...
A oficial o observa com cautela, como se ela pudesse ter uma ideia de
quem ele é. ― Nome?
― Vou avisar ele que você está aqui. ― Diz ela, apontando para o
saguão. ― Sente-se, alguém vai...
― Oh, não, ele está aqui. ― diz Seven. ― Provavelmente deve desviar
o olhar, a menos que você queira dar uma olhada.
― Não brinca?
Ele olha para mim. ― Não tenho tempo para visitantes hoje. Estou
ocupado.
― Jones.
― Vejo que sua escolha de amizades não melhorou.
― Senhor. ― Interrompi antes que ele pudesse dizer Scar. ― Você pode
me chamar de senhor, se isso lhe der arrepios. Caso contrário, vamos ficar
com Gambini.
Olho de volta para o detetive. ― Acho que eu também não. Estou aqui
apenas para checar um caso.
12
É uma pessoa que ninguém gosta de ter por perto. É uma pessoa “babaca e muito
irritante”, só de olhar para a cara da pessoa já dá nojo.
― Marque um horário. ― Diz ele.
Acho que ele pensa que vou desistir e ir embora, ou que farei algo para
justificar que eu seja expulso do prédio, mas sou mais esperto do que isso
e sou teimoso. Ficarei aqui por uma semana em silêncio, se isso significa
que eu irei ganhar.
Mas não leva uma semana. Inferno, leva apenas alguns minutos.
Alguns minutos dele tentando ignorar minha presença antes que ele ceda.
Fraco.
― Bem! ― Ele joga as mãos para cima. ― Me diga o que você quer de
mim e depois vá embora.
― Kassian Aristov.
Ele apaga.
― Não posso falar com você sobre um caso que não envolve você. ―
Diz ele, escolhendo suas palavras com cuidado.
― Morgan Myers.
― Bem? ― Eu estalo meu dedo para ele. ― Quanto mais cedo você
começar, mais cedo eu irei embora.
― Pergunte a ele como ele soube. ― Seven diz. ― Pergunte a ele como
ele descobriu que eu estava na folha de pagamento deles.
― Oh, não preciso perguntar. ― Digo. ― Ele entregou você para salvar
a própria bunda.
13
Personagem de Star Wars.
― Ele teria, ― disse o detetive ― se pensasse por um momento que eles
acreditariam. Eles me chamaram de herói por essa prisão. De que outra
forma você acha que eu tenho esse escritório privado e confortável?
Não é muitas vezes que fico sem palavras, mas isso vem acontecendo
bastante ultimamente, e sempre parece ter algo a ver com Scarlet
― Olha, eu não sei o que ela disse, Gambini, mas não houve sequestro.
Aristov tem direito à filha. Morgan escondeu a garota dele por anos antes
disso, e ela também não foi acusada de sequestro. Então, como eu disse, é
uma questão civil. Se ela quer que façamos alguma coisa, ela precisa o
processar pela custódia e obter uma ordem arquivada nos tribunais, algo
que pode ser cumprido. E da última vez que verifiquei, a senhorita Myers
ainda estava muito viva, o que significa que não houve um assassinato.
― Não há provas de que ele tentou matar ela. ― Diz ele. ― No máximo,
com apenas o testemunho dela em que confiar - se ela testemunhar, o que
ela não vai fazer - é aceito como um ataque simples. Ele paga uma multa,
a raiva assume o controle, e esse é o fim. Ela também pode pedir aos
tribunais uma ordem de restrição. Novamente, isso é algo que podemos
fazer.
Ele tem uma resposta para tudo, uma desculpa do por que eles não
estão fazendo nada para ajudá-la.
― Huh, então você ignorou esse pequeno fato ou ele nunca assinou a
certidão de nascimento, o que significa que ele é culpado de estupro
estatutário ou culpado de sequestrar sua filha. Qual é, detetive?
Mas isso também significa que ele não tem direito legal sobre ela.
― Está tudo bem, você pode admitir. ― Continuo. ― Todos nós temos
nossas esquisitices. Aposto que você ama quando eles veem você pelas
suas costas e o tratam como uma putinha.
― Eu sei que você vendeu uma mãe de luto e sei que você deu a ela
um monte de besteira sobre como você iria ajudar. Eu sei que ela deixou
você enfiar nela, porque ela ama sua filha, pensando que você era um cara
legal que iria ajudá-la com isso. Mas você nunca planejou fazer nada por
ela, não é?
― Estou fazendo tudo o que posso por Morgan. ― Diz ele com os
dentes cerrados, as narinas dilatadas. Parece que ele quer me despedaçar.
Impressionante. ― Você acha que eu não gostaria de poder pegar a criança
de volta pra ela? Se fosse de alguma forma possível, eu teria feito, mas
minhas mãos estão atadas. Você simplesmente não atravessa Aristov.
― Eu não sei.
― Nada.
― Eu sei que se você colocar outro dedo em Morgan, vou cortar seu
pau e te foder com ele. ― Eu digo. ― E então, quando terminar, vou enfiá-
lo na garganta de sua mãe enquanto a fodo. Você me entendeu?
― Veja, isso foi uma ameaça. Seven diz se levantando. ― Eu ouvi dessa
vez.
― Uh, chefe. ― Diz Seven, parando ao meu lado. ― Pode não ser o
melhor lugar para aceder isso.
― Provavelmente.
A geladeira dele.
― Sério? Você acha que ele a está mantendo em sua geladeira? Jesus
Cristo, Seven, quem é ele, Jeffrey Dahmer?
― Não, eu não estou dizendo que ele... você sabe. Mas quando
estávamos na casa dele, quando fui à cozinha esperar... havia um papel na
geladeira. Um desenho, bonequinhos e uma casa. Você sabe, coisas que as
crianças desenham.
Merda.
Eu sento lá, mesmo depois que ele desliga o motor do carro, olhando
pelo para-brisa para minha casa. É depois do nascer do sol agora, o que
significa que Scarlet provavelmente está acordada, vagando por aí.
Acho que a vida continua sem Scarlet, o mundo ainda está girando e
isso vai machucá-la. Veja bem, isso é o luto... parece consumir tudo. Faz
parecer que o tempo para, porque para você, faz. A vida como você
conhece deixa de existir, mas para todos os outros, ela continua. E, às vezes,
você sabe, se parar por muito tempo, não há muita chance de você se
atualizar.
14
Música do Tupac
Não digo nada, apenas a observo. A música muda para Hit ‘Em Up.
Ela conhece menos ainda essa, vomitando parte de uma linha de vez em
quando, violenta e vulgar, tão deslocada com sua voz melosa que eu rio.
Ela me encara de cara séria, sua expressão muito fria quando diz ―
Vou cortar um filho da puta.
― Parece que você pode desfrutar de uma boa foda. ― Eu digo. ― Além
disso, lençóis limpos... não há melhor momento do que agora para foder
pela cama toda.
15
Mulher Bonita.
Ela joga o edredom em cima dele, fazendo um trabalho meio merda
no resto, antes de cair no chão sobre suas mãos e joelhos, olhando embaixo
da cama.
É fodidamente inacreditável.
A música muda, Picture Me Rollin está tocando pela casa, mas nesses
três segundos que leva para a música voltar, eu ouço o som inconfundível
de gemidos.
Andando até o quarto do meu irmão, bato com o punho contra a porta,
forte o suficiente para tremer ela, antes de agarrar a maçaneta e empurrar
a porra da coisa aberta.
16
Fogo de artifício ou Foguete.
― Jesus, mano! ― ele brada. ― Você se importa?
Eu me afasto quando ele grita algo comigo, algo que tem a ver comigo
sendo um idiota, como se eu já não soubesse desse pequeno fato sobre
mim. Desço as escadas, indo para a biblioteca, quase batendo em Scarlet.
― Isso... costurou.
É por isso que eu não faço merda assim. Por que não tento ajudar as
pessoas. Por que eu não me preocupo. Eu acho que é importante para ela,
vamos fazer algo a respeito, porque talvez eu nem sempre seja um idiota,
talvez eu possa ser um cara legal às vezes, mas eu deveria saber melhor do
que pensar em qualquer coisa que meu lado legal faça poderia ser bom o
suficiente para outra pessoa.
Ela vira na porta, olhando para mim. ― Você costurou? Você fez isso?
― Sim, e daí?
Sento na minha cadeira, olhando para ela enquanto ela pisca
rapidamente, como se de repente ela não entendesse inglês, me encarando
como se eu fosse um estranho, como se ela não soubesse quem eu sou.
A porta bate e eu olho para cima, tenso. Ela ainda está de pé na sala,
ainda me encarando.
― Sobre o que?
― O que?
Ela sobe direto no meu colo, forçando seu caminho na cadeira, jogando
o urso em cima do meu quebra-cabeça sobre a mesa enquanto ela me
monta. Sem hesitar, a mulher revira os quadris, moendo contra mim,
enquanto passa os dedos pelos meus cabelos grossos.
Ainda há lágrimas nos olhos dela. ― Parece que você quer chorar.
― Porque é a coisa mais legal que alguém já fez por mim, Lorenzo.
Você está tentando consertar as coisas.
Eu agarro suas bochechas, emoldurando seu rosto com as mãos, e a
encaro diretamente nos olhos, muito sério, quando digo ― Se você vai
começar a chorar, eu preciso que você não faça isso enquanto está sentada
meu colo.
Ela solta uma risada leve, agarrando meus pulsos, puxando minhas
mãos para longe de seu rosto, forçando meus braços ao redor dela.
― Você não precisa dar a buceta para mostrar gratidão. ― Digo a ela.
― Um simples "obrigado" será suficiente.
Trinta segundos. É o tempo que passou antes que alguém abra a porta
da biblioteca sem bater. Filho da puta. Eu puxaria minha arma por
princípio, como sempre, mas Scarlet está sentada nela, então eu tenho que
tirar ela primeiro.
Olho por cima, vendo meu irmão na porta, bem a tempo do choque
passar pelo rosto dele enquanto ele levanta as mãos. ― Sério? Como você
se sente sendo interrompido? Hã?
― Não me incomoda. ― Digo a ele, mas ele sabe disso. Meu olhar se
volta para Scarlet, que ainda está olhando para mim. ― Isso te incomoda?
Ela zomba, sem parar o que está fazendo. ― Perdi as contas de quantas
vezes fui assistida.
― Então, você está com fome? ― Eu pergunto enquanto ela olha para
o urso. ― Eu vou fazer panquecas.
― Uh... claro.
Olha, vou ser sincero com você - esqueci que o cara estava aqui. Ele é
bom em ser invisível. ― Sua esposa cozinhou para você hoje de manhã,
Seven?
Claro.
― Quem?
― Jones. ― Diz ele. ― Ele tem algo sobre Aristov, algo incriminador,
por precaução.
Quase pergunto como ele sabe disso, mas é uma pergunta estúpida e
tento nunca fazer essas perguntas eu mesmo.
― Eu aprecio isso, chefe. ― Diz Seven. ― Tenho certeza que você terá
muitas chances depois para atirar nele.
― Eu não acho que ela aceitou bem. ― diz Seven depois que ela se foi.
― Talvez você deva ir falar com ela.
― E dizer o que?
― Diga a ela que tudo ficará bem, que as coisas vão dar certo. Talvez
isso a faça se sentir melhor.
― E então o que?
Viro uma panqueca antes de me virar para ele. ― E então ela consegue
a vida de merda de conto de fadas que quer com a filha.
― E você?
Mais meses.
Mais semanas.
Mais dias.
Tantas horas.
A garotinha não sabia contar tão alto, mesmo que o Leão Covarde
ainda tentasse fazer ela aprender o tempo todo. Ela não falou muito,
fazendo o que lhe foi dito, comendo seu mingau e usando suas palavras.
Ela não chorou mais, como se tivesse esgotado todas as lágrimas, e
enfrentava o Homem de Lata sempre que ele estava por perto, porque não
queria que ele a assustasse.
O jogo de dados ficou fácil demais para ela, afirmou ele, então agora
ela somava seu dinheiro todos os dias. Na maioria dos dias eram dólares e
moedas, mas alguns dias eram papéis mais coloridos. Dinheiro engraçado,
ela chamou.
Seria difícil.
Ela começou a separá-lo em pilhas, as coisas que sabia e depois tudo o
mais. Ela pegou uma das notas - uma vermelha - e seus olhos se
arregalaram com o grande número. ― Uau! Quanto é isso?
― Rublos17.
― O que?
― São rublos.
― Como rubis?
Ele riu disso enquanto passos seguiam para a cozinha onde estavam
sentados. O homem de Lata. Ele estava carregando alguma coisa, mas a
garotinha não olhou, cuidando de seus próprios negócios, para que ela não
o provocasse.
17
Moeda Russa.
18
Um termo popular russo levemente pejorativo para cidadãos dos EUA, muitas vezes
imaginado como um patriota americano estereotipado e gordo.
19
Bolo russo de Mel.
― Seu aniversário.
A testa dela franziu. Como poderia ser? Ela pensou que seu
aniversário foi antes do Natal. Já era quase mais um ano de novo? ― Como
você sabe?
― Não.
― Essa não é a música certa. ― Disse ela, estendendo a mão pelo balcão
e passando a mão na boca dele, tentando detê-lo. ― Não cante isso!
Ela soprou com força, apagando todas elas com uma respiração. O
Homem de Lata retirou as velas, jogando-as no lixo antes de ir embora.
Assim que ele se foi, o Leão Covarde pegou um par de garfos, jogando
um para ela enquanto puxava o bolo para mais perto. Ele pegou um pedaço
do recipiente, enfiando na boca. ― Bem, o que você está esperando? Coma!
A garotinha se levantou novamente no balcão e deu uma mordida no
bolo. Não era tão doce e realmente não tinha cobertura, mas tinha um sabor
muito melhor do que tudo o que ele a fazia comer.
Ela ficou sentada ali, com o Leão Covarde, rasgando o bolo, comendo
tudo, não deixando nada para mais ninguém.
Ele riu de sua própria piada, mas ela apenas fez uma careta para ele
enquanto jogava o garfo no balcão. Às vezes ele podia ser legal, mas outras
vezes ele dizia coisas ruins que a menininha não gostava.
― Por que você está aqui? ― Ela perguntou, arrancando a mão dele. ―
Você está sempre está aqui.
― Sim, bem, ele é meu irmão. ― Disse ele. ― E ele meio que me faz
também.
Eu a verei novamente?
Leo olha para o prato, para o café da manhã intocado. Ele parece
nervoso.
― O diabo que você vai. ― Diz Lorenzo, deixando cair o garfo com um
estrondo. ― Você não vai a lugar nenhum.
― Sim.
― E como você vai fazer isso, hein? Como você vai pagar por isso?
Antes que Leo possa terminar, Lorenzo bate as mãos contra a mesa, o
estrondo ecoando pela cozinha, sacudindo pratos e derrubando bebidas. ―
Existem várias razões pelas quais você não pode sair. Você precisa que eu
as nomeie para você, Leonardo?
Olho para ele quando ele diz meu nome, observando enquanto ele sai
da cozinha, percebendo que ele está me dizendo para levantar minha
bunda e sair também. Meu olhar pisca pela cozinha, aterrissando em
Lorenzo, que parece estar a alguns segundos de virar a mesa. Merda.
― Depende.
― Do que?
Olha, eu sei que não sou mais velha que ela, mas já passei tanto que
parece que tenho algumas vidas sob o meu cinto. Quando olho para
Melody, vejo muito uma criança que passou a vida protegida do mundo e,
no momento, ela parece assustada.
― Leo sabia que ele não aceitaria bem. ― Diz ela. ― É por isso que ele
não falou sobre isso até agora, mas eu o empurrei para isso... sinto que a
culpa é minha.
― Não é sua culpa. ― Digo a ela. ― Leo tem permissão para ter sua
própria vida, então não se sinta culpada. Lorenzo é apenas...
― Tenho certeza. ― Eu digo. ― Ele pode não gostar, mas vai lidar com
isso.
Ela sorri quando digo isso, mas não dura muito tempo, quando um
ruído alto ecoa pela casa, o som de algo batendo, coisas barulhentas.
Adeus, panquecas.
Melody parece preocupada novamente, mas eu rio levemente, me
afastando. ― É claro que ele tem que fazer sua pequena birra primeiro, mas
tudo dará certo no final.
― Eu estou bem. ― Diz ele, parecendo bem, mas eu sei que ele não
está. Ele está tão longe de estar bem que não há nenhuma palavra sobre
como esse homem está.
― Cinco. ― Eu digo. ― Ela fez cinco anos depois que ele a levou.
― Verdade. ― Eu digo. ― Mas não muda como eu sei que você está se
sentindo. Você o criou. Você quer impedir ele de fazer escolhas erradas.
― Quero que ele não seja tão fodidamente idiota. ― Diz Lorenzo,
sentando-se ao meu lado.
― É doce. ― Digo a ele. ― Só porque você não quer tudo isso não
significa que não vale a pena. E sério, vamos ser reais... você esperava que
ele morasse com você para sempre? Ele cresceu, e você e ele... vocês são
pessoas diferentes. Ele quer abraçar e assistir filmes românticos com a
namorada. Você quer atirar em coisas e roubar sofás molestados por
strippers. Isso foi meio inevitável.
Eu não olho para ele, apenas obtendo um vislumbre pelo canto dos
meus olhos. Se o que eu disse o irritou, ele não diz uma palavra sobre isso,
apenas me olha em silêncio enquanto mexo no urso.
Ele ri, sentando, sua mão deixando minhas costas para, em vez disso,
bagunçar meu cabelo. Que diabos? Ele se levanta da cama, caminhando em
direção ao banheiro.
― Você vai fazer isso. Eu vou... fazer alguma coisa, eu não sei.
― Faz o que você quiser, Scarlet. ― Diz ele, que está rapidamente se
tornando sua frase favorita - mesmo que ele tenha se arrependido
totalmente da última vez que disse isso. ― Apenas me faça um pequeno
favor e se mantenha longe de problemas, porque não estou com vontade
de brincar de Cavaleiro Branco agora.
Tão bonita, mas tão estúpida. É por isso que não se pode confiar em você para
tomar decisões, suka.
Quantas vezes ele me disse isso? Quantas vezes ele usou essas
palavras para justificar a brutalidade que infligiu à minha vida?
Eu nunca comprei uma vez, nunca acreditei nas besteiras dele, mas
sentada aqui em uma mesa de piquenique de madeira no calçadão de
Coney Island, fico imaginando se talvez ele gostou de algo sobre mim.
Ainda era uma criança no coração, mas parecia muito com uma
mulher do lado de fora.
Eu só queria comida.
Meus olhos dispararam para o homem que a segurava. Ele era bonito,
quase como uma obra de arte, com tinta escura cobrindo seus dedos e parte
do pescoço, vestindo um terno escuro, apesar do calor.
― Pegue ― ele disse, acenando com o dinheiro para mim, seu sotaque
estrangeiro forte.
― Não.
Bem ali. Bem ali. Apenas a alguns metros de onde estou sentada agora.
Kassian Aristov tinha me observado por mais de uma hora enquanto eu
implorava por trocados, faminta, antes de entrar no meu mundo e dominar
minha vida.
Ele me disse uma vez que era minha resistência que o intrigava. Eu era
firme, determinada a me cuidar, e isso o deixou curioso.
Ele sabia, naquele momento, que eu seria dele. Ele não queria nada
além de me quebrar.
Ele ri. ― Eu sei, Jenny. Entendo. Precisamos comer agora, para que
possamos chegar em casa. Voltaremos outra vez, prometo.
― Cinco.
― Até cem! ― Ela exclama. ― Você quer me ouvir fazer isso? Eu posso!
Estou prestes a dizer que sim, porque você não rejeita uma proposta
como essa, quando o pai dela fala. ― Por mais que gostássemos de ouvir,
querida, precisamos ir embora.
O pai dela me lança um olhar que diz que ele não gostou muito da
minha sugestão, como se talvez ela já praticasse demais, mas eu não me
sinto mal por ele, nem um pouco.
Ele é tão fácil. Isso é tudo o que preciso. Eu posso ver a desconfiança
em seus olhos, mas ele não perderá uma oportunidade se achar que existe.
Assim que estou ao seu alcance, ele me agarra, me arrastando para mais
perto. Envolvo meus braços em volta dele, fazendo uma careta quando ele
enterra o rosto no meu pescoço, beijando e mordendo a pele.
― Onde está o seu pequeno cão de ataque? ― Ele pergunta, uma pitada
amarga em sua voz. ― Você sabe, o vira-lata que você enviou aqui para me
ameaçar esta manhã?
― Quem?
― Scar. ― Diz ele - embora não muito tempo atrás ele alegou nunca ter
ouvido falar de alguém com esse nome. ― Me diga que você não se
envolveu com esse cara, Morgan. Eu te disse...
― Claro que tem. ― Diz ele. ― Ele me disse que cortaria meu pau se
eu te tocasse novamente.
Gabe se afasta um pouco para olhar para mim, suas mãos vagando.
Faz minha pele arrepiar, e eu fecho minhas mãos em punhos, me
impedindo de dar um soco nele.
― Sim, mas...
Então eu mexo nas coisas, procurando por algo que possa ser alguma
coisa, mas tudo parece não ser nada. Sem arquivos, sem documentos, sem
diários, sem pen drives. Merda. Estou prestes a desistir, a ponto de entrar
em pânico, quando minha mão bate em algo preso ao longo do fundo na
parte inferior.
UM DVD.
20
Krampus é uma criatura mitológica que acompanha São Nicolau durante a época do
Natal, segundo lendas de várias regiões do mundo.
― Whoa, para onde você está indo? ― ele pergunta, agarrando meu
braço para me parar. ― Venha aqui.
― O que? ― Ele agarra mais forte o meu braço. ― Do que você está
falando?
― Eu sinto muito.
Acho que parte de mim significa essas palavras. Deus sabe que eu
provavelmente não deveria. Eu não deveria me arrepender de nada,
especialmente se ele estiver trabalhando para Kassian, e este DVD no meu
bolso certamente está sugerindo que pode realmente ser o que está
acontecendo.
Mas é o que é, e não posso ficar por aqui, então saio do vestiário para
me afastar da delegacia... rápido. Provavelmente tenho um minuto antes
de Gabe descobrir o que estou fazendo.
Não tenho tempo para esperar o elevador, então vou para as escadas,
descendo elas o mais rápido que minhas pernas me levam até o primeiro
andar do prédio.
Merda.
Merda. Merda.
Armas.
Ok, não é a primeira vez que alguém aponta uma arma para mim e,
como a minha vida foi para o inferno, acho que provavelmente também
não será a última vez. Mas, no momento, existem três, e parece que eles
podem atirar.
Gabe passa por eles, no beco, e vem direto para mim, respirando
pesadamente, com o rosto vermelho. Oh, cara, ele está chateado.
Instintivamente, dou um passo para trás, minhas mãos vacilando, até os
policiais começarem a gritar ― Não se mexa porra!
― Não. ― Ele sussurra, sua boca perto da minha orelha. ― Vou ligar
para Aristov para que ele possa vir buscar sua pequena fugitiva... assim
como eu fiz com sua filha quando ela chegou ao meu escritório no mês
passado.
Eu quase desmaio.
― Ah, mas eu fiz. ― Diz ele. ― Ela fugiu dele, chorando sobre como
queria sua mãe. Você a perdeu por cerca de dez minutos naquela manhã.
Pena, realmente, já que provavelmente é o mais próximo que você poderá
chegar dela novamente, sua puta idiota.
Algo em mim se quebra quando ele diz isso, meu último pingo de
civilidade em relação a esse homem se foi.
BAM.
Ele solta seu aperto em mim, grunhindo, pego de surpresa pelo golpe,
e eu torço meu próprio braço, quase quebrando ele para me afastar dele.
Ele se recompõe, mas não é rápido o suficiente, porque levanto o pé e o
chuto nas bolas.
BAM.
Ele se agacha, soltando um grito infernal, enquanto eu o empurro para
fora do meu caminho, mal dando três passos antes que a realidade me
atinja.
Armas, lembra?
Oh, me foda...
Foda-se ele.
Horas.
Tantas horas.
As placas postadas em todos os lugares garantem que o processo
terminará dentro de vinte e quatro horas, mas, quando supero as vinte e
três, começo a pensar que as placas estão mentindo para mim.
― Você pode fazer três ligações. ― Diz o oficial, olhando para mim. ―
Faça elas rapidamente.
Então, eu tento pela terceira vez, pensando que estou sem sorte. Ou o
número está bloqueado no identificador de chamadas ou ele reconhece o
número e não aceita chamadas da prisão. Toca, toca e toca, e eu franzo a
testa, prestes a desistir quando a linha clica e sua voz corta, aborrecimento
em cada sílaba. ― Gambi...
Ele não diz nada, mas eu sei que ele está ouvindo.
Ou então, ele ainda não desligou, então eu sei que ele ainda está lá -
fingindo ouvir, pelo menos.
― Fui visitar o meu distrito favorito e fui presa no beco perto dele. Eu
serei acusada amanhã em algum momento. Mas realmente, isso não vem
ao caso. Eu só... ― Merda, como digo isso sem abrir mão da mercadoria? ―
― Lembra da época no meu apartamento em que caímos do telhado do
prédio e eu joguei um pouco de esconde-esconde? Meu esconderijo era tão
bom que eles não me encontraram, mas você... você me encontrou
facilmente. Eu estava esperando jogar novamente, você sabe, se você
quiser fazer alguma busca, o mesmo esconderijo desta vez.
Ele ainda está quieto.
Mas não posso apenas dizer 'olhe para a merda da lixeira ao lado da
delegacia', porque quem sabe quem mais está ouvindo e pode ir olhar por
si mesmo?
― Você me entendeu?
― Entendi.
Não sei se ele me entendeu de verdade, mas espero que ele faça isso.
Desligando, olho para o oficial, que me observa com curiosidade, como se
eu estivesse falando em enigmas e ele está tentando decifrar o código.
Parece que ele quer me dar um soco, mas como há câmeras em todos
os lugares, ele não pode. Em vez disso, ele agarra meu braço e me arrasta
de volta para uma cela, sussurrando, ― Você provavelmente deveria ficar
confortável. ― Antes de me empurrar.
Mais horas.
Acabo sendo acordada, levada para outra cela. O tempo passa, quase
mais um dia inteiro, antes que alguém grite meu nome. ― Morgan Myers!
Ele olha para mim como se eu fosse louca. ― Você provavelmente vai
acabar em Rikers por anos.
Ugh, também não quero isso, mas não tenho certeza de que sair daqui
é algo possível. Estou parada por muito tempo sob meu nome real, o que
significa que Kassian teve quarenta e oito horas para farejar minha
localização muito pública.
Ele.
Eu congelo.
Ele apenas olha para mim, sua expressão uma máscara em branco.
― Senhorita Myers?
Ele diz outra coisa. Eu não sei. Meus ouvidos estão entupidos, tudo
enevoado quando meu coração bate loucamente. Olho para trás
novamente, parando desta vez quando encontro o canto traseiro vazio.
Kassian se foi.
O juiz ainda está falando, mas tudo que eu fico pensando é que
Kassian está aqui em algum lugar, escondido nas sombras, esperando para
atacar.
― A senhorita Myers está ordenada a ser mantida para ser levada para
a décima sétima delegacia...
Uau.
― O que?
Cara, ele parece que gostaria de me bater com o martelo, mas, em vez
disso, ele diz ― Sim, senhorita Myers?
É isso aí.
Conspiração.
Impressionante.
É apenas uma hora dessa vez para alguém vim me pegar, dois homens
à paisana, apenas os distintivos entrega eles como oficiais. Grandes e
construídos, do tipo áspero. O policial que estava me observando recua,
soltando um assobio baixo. ― O esquadrão criminoso violento, hein? Você
deve ser problema.
O que significa que não há motivo para eles virem para mim.
21
É o mesmo modelo do carro da polícia.
― Tudo isso é realmente necessário? ― Eu pergunto, minhas algemas
tilintam quando me viro para o homem de terno, olhando para ele através
das barras da cela.
― Sim.
Meu coração dispara tanto que meu peito começa a doer. Olho pelas
janelas a vizinhança ao nosso redor, mas é difícil ver muita coisa. Eu sei
que não estamos na cidade, no entanto. Ainda não cruzamos uma ponte,
mas deveríamos ter feito agora, acho que ainda estamos no interior do
Brooklyn.
― Detetive. Claro. Bem, detetive, você não é o único que pode detectar
merdas, você sabe, e eu estou detectando que essa pequena excursão que
estamos fazendo não é para a décima sétima delegacia para um mandado
de conspiração.
― Então você vai me levar até ele, hein? Quanto ele está pagando? Seja
o que for, vou dobrar. Triplicar. Apenas me deixe sair aqui e o dinheiro é
seu.
― Por quê?
Ele ri disso. Ri. ― Ele não vai te matar... ou, bem, eu acho que não.
Espero que não. Ele disse que não iria, de qualquer maneira. Eu disse a ele
que não iria me envolver se isso estivesse levando a um assassinato.
Quase lá.
Isso significa que estou ficando sem tempo. Eu preciso descobrir algo
rápido. O SUV recua e vejo luzes piscando, mas antes que eu possa dar
uma boa olhada no que está acontecendo, fazemos uma curva fechada.
Então outra.
E outra.
Sem testemunhas.
Foda-se isso.
Agora ou nunca.
BAM.
Eu não posso dar um soco, não posso chutar, mas diabos, eu posso dar
uma cabeçada, então bato minha testa bem no rosto dele. BAM. Toda essa
segurança extra que ele trouxe e eu ainda vou quebrar a porra do nariz
dele, como fiz com o de Gabe. O detetive grita e minha visão fica embaçada,
a dor ecoando em mim, então eu sei que ele está com dor.
Essa voz corre através de mim quando estou de pé. Estou tonta, mas
consigo me afastar daqueles braços para me virar, olhar para ele.
Lorenzo.
― Sério? ― Eu grito, olhando para ele com descrença enquanto ele está
na minha frente. ― Era você?
Os olhos de Lorenzo se arregalam antes que ele solte uma risada. Uma
risada. Ele está rindo. Que porra é essa?
Os caras dele, todos os presentes, vêm direto para nós, como se fosse
uma reação instintiva para proteger o chefe, mas Lorenzo os interrompe
levantando uma mão, a outra agarrando meu quadril. ― Uau, fiquem
parados, pessoal. Ainda somos todos amigos aqui. Scarlet está um pouco
chateada. Nada demais.
Ele olha para mim, sua mão ainda me tocando, seu rosto a centímetros
do meu. Quero quebrar o nariz dele também, enquanto estou nisso, por
causa do brilho divertido nos olhos dele.
Mas não posso negar o alívio que corre por mim ao perceber que
provavelmente não vou ser jogada desta cobertura hoje à noite, a
percepção de que alguém pulou através dos aros para colocar as mãos em
mim, mas que esse alguém não era Kassian.
― E eu pensei que tinha dito para você ficar longe de problemas. Diz
ele, me xingando. ― Eu até falei gentilmente.
Mulher. Ele lança essa palavra para mim como se fosse um termo
carinhoso. ― Não posso me ajudar, eu acho.
Ele estende a mão, afastando os cabelos do meu rosto, passando as
costas da mão ao longo da minha bochecha macia. Ele não parece zangado.
Ele nem parece mais divertido. Não, ele parece preocupado. ― Você parece
um inferno.
― Eu sinto isso.
Sua mão desce para o meu pescoço, as pontas dos dedos acariciando
um lugar lá. ― Me diga o que aconteceu.
Ugh, eu não quero, mas sei que preciso contar a ele, então apenas
despejo toda a coisa, começando por ir para Coney Island e vacilo quando
reconto o confronto no beco.
Lorenzo absorve cada palavra, esperando até que eu fique quieta antes
que ele diga ― Eu vou matar ele.
― Não, mas agora tenho que fingir que você nunca disse isso.
Lorenzo ri, se virando para os policiais, agradecendo-lhes por sua
assistência, dizendo-lhes para sair dali. Ele gira o dedo indicador no rosto
do detetive quando o cara se afasta do lado do carro para subir nele. ― Me
envie a conta do nariz, Jameson.
O Crown Vic vai embora, seguido pelo SUV, me deixando aqui com
apenas Lorenzo e seus caras, que parecem estar me observando com
cautela por algum motivo. Até o Seven está mais tenso que o normal, ao
lado, meio atrás de Lorenzo. Distante.
O DVD que eu joguei embaixo da lixeira, Aristov está escrito nele com
um marcador preto desbotado.
― Você achou?
― Assista ele, se você sentir necessidade. ― Diz ele, com a voz baixa.
― Só não diga que eu não te avisei, Scarlet.
―――――――――――――――――――
Veja bem, as pessoas realmente não ouvem mais, não... elas ficam
sentadas esperando que todos os outros calem a boca, esperando até que
seja finalmente a sua vez de conversar. Para frente e para trás, um ciclo
interminável que não nos leva a lugar algum, porque ninguém realmente
se importa com o que está sendo dito.
Ruído branco.
Eu a avisei. Eu disse que ela não queria ver, mas, contra o meu
conselho, ela colocou o disco na unidade e olhou para o pequeno filme
caseiro.
O que você diz sobre isso? Vai ficar tudo bem? Queixo pra cima, botão
de ouro, pelo menos você está viva? Foda-se isso. Palavras não significam
nada, elas não apagam o que está no DVD, então eu apenas fico aqui,
trabalhando no meu quebra-cabeça, mergulhando nele.
― Chefe?
― Eles viram.
Ela ri. ― Eu aposto que você diz isso para todas as meninas.
― Sim.
― Sim, estou tentando melhorar isso. ― Diz ela. ― Acho que encontrei
alguns decentes.
Bem, com exceção do Seven, talvez. Ele tem esposa e filhos, lembra?
Ele é muito mais cauteloso que os outros.
― Fugiu para ver uma mulher. ― Diz Five. ― Disse que ele tinha que
cuidar de algo rápido.
Five me lança um olhar. Ele sabe que estou falando sério, mas ele ri,
independentemente. ― Você poderia.
Parece que ela pensou que eles a tratariam de maneira diferente, mas
eles não. Eles não são assim. Eu não os deixaria entrar na minha casa, perto
do meu irmão, se eu pensasse que eles podem ser uma variedade de
mentirosos traiçoeiros. Eles viram não mais que trinta segundos do DVD,
e cada um deles ficou furioso além das palavras, tenso e nervoso e pronto
para matar alguém por isso.
Não demora muito para que a fumaça encha a sala, meus olhos
vermelhos, ardendo, enquanto meus músculos formigam. Sinto como se
estivesse flutuando, muito alto, uma sensação de euforia se instalando no
meu peito.
É bom não ter uma britadeira na minha cabeça pela primeira vez.
E uma mulher.
― Eu não queria fazer isso. ― Diz ela na defensiva. ― Eu juro que não.
Eu gosto de você, Declan. Você sempre foi tão legal, mas o Sr. Aristov...
― Eu ouvi. ― Eu digo.
Quanto mais Three fala, mais a mulher parece que vai ter um colapso...
mas ela não é a única. Scarlet fica rígida, e antes que a última sílaba saia
dos lábios de Three, sua voz interrompe. ― Isso é o suficiente.
― Ele às vezes tem essas festas em casa, ele e os caras que trabalham
para ele... eles se reúnem e algumas meninas são levadas, mas nem sempre
voltam. Às vezes... bem, às vezes...
22
Piu-Piu personagem do Looney Tunes.
23
Personagem de Looney Tunes, nome que Piu-Piu dá ao Frajola.
O lábio inferior de Scarlet treme, mas, fora isso, ela não reage, ainda
não está olhando para a mulher.
― Havia uma garota lá, ― ela deixa escapar ― uma garotinha. Sua
filha. Ela estava lá. Ele a estava escondendo, então nenhuma de nós sabia
que ela estava por perto, mas ela desenhou uma foto para ele e queria dar
a ele, então esgueirou-se escada abaixo.
― Você a viu?
Ela assente.
Olho para Scarlet, imaginando como ela está levando isso, mas ela está
sentada, ouvindo em silêncio, ainda cutucando as unhas.
Three pula para trás alguns passos, se afastando, porque ele sabe que
minha mira é uma merda e se ele estiver muito perto, ele poderá levar um
tiro. Além disso, acho que ele ainda está traumatizado por ter sido sujo
com matéria cerebral da última vez. A mulher fica tensa quando o terror
corre através dela. Eu posso ver, o horror em seus olhos, seu corpo
tremendo. Ela não levanta as mãos, não se mexe, olhando diretamente para
24
Passarinho.
mim, mas as comportas se abrem. Lágrimas cobrem suas bochechas,
palavras saindo de seus lábios.
― Por favor, não faça isso. ― Ela chora. ― Por favor... eu estou te
implorando... você não precisa fazer isso!
― Mas talvez você não precise atirar em ninguém. ― Diz ele. ― Ela é
de dentro. Podemos usá-la de alguma forma.
― Como?
― Sim, chefe.
Ele agarra o ombro dela, puxando-a para longe, arrastando ela para
fora da casa, assim como ele a arrastou para dentro. Agarrando a garrafa
de bebida, eu tomo um grande gole antes de bater de volta na mesa de café
ao lado de Scarlet.
― Sim, você vai fazer isso. ― Eu digo, esfregando as mãos no rosto com
frustração. Cego por boceta. É o Three, sem dúvida. Ele vai se matar por
uma mulher. ― Mantenha contato.
― Não tenho certeza de que seja uma boa ideia. ― Diz Seven. ― Essa
coisa toda... é um grande risco. Tem certeza de que é isso que você quer
fazer?
Eu gemo.
― É bom ter você de volta. ― Diz ele. ― Ele está... ele está bem?
― Vida difícil. ― Eu corrijo, olhando para ele, grato por tudo ficar
parado. ― Vou sobreviver.
― Tenho certeza que sim. ― Diz Leo, franzindo a testa, olhando para
seu pequeno Firecracker, que parece extremamente nervosa agora por
algum motivo.
Ele me encara, como se esperasse que eu tenha mais a dizer, mas como
há mais de um milhão de apartamentos na cidade de Nova York, não é
exatamente uma notícia chocante que eles encontraram um, é?
― O que você quer que eu diga, Pretty Boy? Que eu espero que você
não seja alérgico a baratas, porque Deus sabe que com o que você faz
provavelmente você estará dividindo a porra do aluguel com milhares
delas.
― Claro que você fez. Claro que eu faria, certo? Não é como se eu fosse
uma pessoa decente. ― Eu rio secamente. ― Só passei os últimos vinte anos
do caralho cuidando de você depois que seus pais de merda tentaram me
colocar no chão.
Vou para o meu quarto, bebo o rum, e bato a garrafa na cômoda antes
de cair na cama de costas. Olho para o ventilador de teto, observando-o
girar e girar, esperando que me acalme para dormir, mas estou tenso e
nervoso.
Quero que ela diga outra coisa, qualquer outra coisa, apenas para
apagar essas palavras que agora assaltam minha mente.
Não gosto nada disso, porque, quando ela diz essas palavras, percebo
que, no momento, esse sentimento pode ser mútuo.
― Quando foi a última vez que você dormiu?
― Hoje de manhã ― Digo a ele, deixando de fora o fato de que não foi
mais de uma hora. Eu tinha muito em mente. ― Você vai me perguntar
sobre meus sentimentos a seguir, doutor? Talvez me prescrever um
calmante para manter os pesadelos à distância?
― Ele teve dois strikes já. ― Eu digo. ― Se chove em mim, ele está
pegando a culpa e é isso para ele.
― Compreensível.
Seven olha para o meu telefone, sua expressão cautelosa enquanto ele
o segura.
― Número do Brooklyn.
Filho da puta.
― Estou curioso se você está com Morgan agora, ― diz ele ― se ela
estiver aí, onde quer que você esteja.
― Você não pensa seriamente que eu vou lhe dizer isso, não é?
― Bem, merda difícil, porque você não está recebendo nada de mim.
O telefone muda de novo, sua voz aguda quando ele diz: ― Diga olá
para o homem.
― Olá. ― Eu digo, sem ter ideia do que mais dizer, se eu deveria dizer
alguma coisa.
― Eu também sinto falta dela. ― Diz ela, e eu posso ouvir sua voz
enquanto ela treme, a esperança substituída por devastação. ― Você sabe
onde mamãe foi?
De repente, sou grato que Scarlet não está aqui, que ela não está
ouvindo isso.
― Eu a silenciei.
― Você a sufocou.
― Você sabe o que eu quero. ― diz ele. ― Eu quero que minha gatinha
tenha sua mãe de volta.
― Tsk, tsk. Você sabe que não vai funcionar assim. ― Ele ri. ― Diga-
me onde encontrar a suka. Eu também estou me cansando deste jogo e não
vou jogar por muito mais tempo. Se você não me der o que eu quero, todos
que você conhece pagarão o preço. Seus amigos, suas famílias... até seu
próprio irmão. Sim, eu sei sobre ele, senhor Scar. Eu não quero machucá-
los, então não me faça fazer. Tudo o que quero é minha linda garota de
volta para casa, para que possamos ser uma família.
― Chefe...
― Você pode esperar aqui fora. ― Eu digo. ― Tire uma soneca para
mim ou algo assim.
― Certo.
Ele entrega, sem argumento, rasgando o bico para mim. Eu bebo direto
da garrafa, apenas sentado em silêncio, mexendo com uma montanha-
russa até Jameson aparecer.
Ele acena para mim, dizendo. ― Não posso mexer com essas coisas
fortes. ― Antes de apontar para o barman, pedindo o que quer que esteja
na torneira.
― Disse aos caras do trabalho que meu neto me bateu com uma bola,
mas eu contei a verdade para minha esposa. ― diz ele, cortando os olhos
para mim. ― Fui atingido por um criminoso.
Jameson faz uma cara de dor. ― Ele deve estar ficando desesperado.
― Ele está, o que significa que provavelmente ficará feio em breve. Vou
tentar manter tudo sob o radar, então você não é puxado, mas eu queria
lhe dar um aviso, para que você não seja pego de surpresa.
Ele assente, bebendo sua cerveja. ― Faça o que você tem que fazer pela
sua garota, Gambini.
― É princípio. ― Digo a ele. ― Quanto mais cedo isso acabar, mais cedo
minha vida pode voltar ao normal.
― Eu já olhei para o outro lado pra muita merda, Gambini. ― Ele diz.
― Eu enterrei muitas evidências para você voltar anos atrás. Deixei seu
amigo fazer o caminho pra levar todos aqueles chefes, porque você veio a
mim, um favor por um favor, quando eu tinha mais do que o suficiente
para prendê-lo pelo resto da vida. Então, preciso que essa situação em
particular termine com os russos, ok?
Ele não está falando sério, mas eu sei sobre o que ele está falando. ―
Você quer que eu deixe o detetive FuckFace em paz.
― Está bem então. Se o cara parar de respirar, não será por mim. É isso
que você quer ouvir?
― Sim.
Ele murmura algo antes de acenar para o barman para lhe trazer outra
cerveja.
― Claro. ― diz ele. ― Disse a eles que ele era um ótimo garoto,
trabalhador, responsável e respeitável.
― Nada. ― Ele repetiu, indo na direção dela, seus passos medidos. Oh-
oh. Ele parou bem na frente dela, agachando-se ao nível dos seus olhos. ―
Nada parece mentira, gatinha. Deseja mudar sua resposta?
Sua voz estava baixa quando ela disse ― Mas eu apenas sinto falta
dele.
― Diga-me, por que ele é tão especial para você? Ele é velho, feio e
fede. Por que ele importa?
Ela encolheu os ombros. ― Eu não sei.
― Mais uma mentira. ― disse ele. ― Minta mais uma vez e você viverá
para se arrepender de ter aberto sua boca para mim, tenha muito cuidado.
Vou perguntar novamente e quero uma resposta... o que torna o seu Buster
tão especial?
― Ela também te deu a sua vida, mas você não parece se importar com
isso. ― Disse ele, segurando o queixo dela, apertando as bochechas com os
dedos, como costumava fazer. ― Você não me leva a sério? Esse é o
problema? Você acha que eu estou apenas brincando com você? Porque o
que eu disse que aconteceria se você tocasse naquele urso?
― E?
― E...
― Como?
Antes que a garotinha pudesse dizer outra palavra, ele atacou. A mão
esquerda dele agarrou a parte de trás do pescoço dela, prendendo-a no
lugar, enquanto a mão no queixo dela se mexia, os dedos apertando o nariz
dela enquanto a palma da mão cobria sua boca.
― Vor!
― Eu sempre odiei quando ele fazia sua mãe chorar. ― Disse ele. ―
Tantas noites, ela chorava, mas encontrou coragem por você. E eu sei que
você quer aquele urso, doce menina, mas não é o urso que você ama. É sua
mãe.
Olho para mim mesma, para o pequeno vestido casual listrado preto
e branco com mangas compridas. Vai quase até os joelhos. Comprei porque
tem bolsos, o que é quase um milagre para as roupas femininas. Os bolsos
são como homens que comem buceta por diversão - unicórnios.
Ele fica lá, de costas para mim, como se algo o tivesse surgido, antes
que ele lentamente se virasse novamente. ― Você está indo para algum
lugar?
― Sim.
― Eu sei.
― Ir com você.
― Sim.
― Sim.
Ainda está tenso. E estranho. Eu posso sentir isso. Você pode? Quero
dizer, olha, eu sei o quão estúpida provavelmente estou soando no
momento, mas estou tão fora do meu elemento aqui. Não é exatamente
como seu eu fosse fluente em relacionamentos. Não tenho amigos...
nenhuma família além da minha filha... nunca tive um namorado, se
estamos sendo técnicos. Apenas uma série de homens que me usaram pelo
meu corpo e agora eu o tenho, e o que quer que seja, e tudo é tão estranho.
Mas as coisas parecem estranhas, ele está certo, e eu realmente não sei
como melhorar.
― Impressionante.
Eu, com meu rosto todo raspado pela briga do beco, e ele sendo, bem...
ele. Estamos fora do lugar aqui, mas Lorenzo parece não perceber. Ele entra
pela porta como se fosse o dono do lugar, aproximando-se da anfitriã e
dizendo ― preciso de uma mesa para dois ― como se latir isso anulasse a
placa ‘somente com reserva' pendurada perto de nós.
Oh okay.
25
É uma expressão usada quando você sai de um restaurante sem pagar.
Ela nos mostra uma pequena mesa no canto de trás, deixando dois
pequenos menus de uma página cheios de merda que são estranhas para
mim, como Miyazaki Wagyu (algum tipo de bife chique, de acordo com
Lorenzo). Estou lendo, fazendo caretas enquanto tento decifrá-lo. ― Você
já comeu aqui antes?
Claro, faz sentido, uma vez que o reconheceram. ― Você sabe, jantar e
correr só funciona se você conseguir fugir, o que não é um bom presságio
para nós, já que eles sabem o seu nome.
Reviro os olhos, me virando para Leo. ― Você tem algo frutado, como
a porcaria que vem com pequenos guarda-chuvas?
Leo assente.
― Rum.
Rum. Claro.
― Sim.
Ele sorri levemente. ― Me perdoe por não gritar como uma putinha
sobre isso. É muito trabalho para não render muito. É meio deprimente,
depois de passar mais de quinze anos trabalhando de sol a sol,
arrebentando minha bunda para manter os negócios da família
funcionando e não bancando nem uma fração do que fiz desde que cheguei
a Nova York. E eu nem sequer suo aqui, você sabe. Vale a pena ser um
idiota não sentimental.
― Uh, eu não sei. ― Eu digo. ― Talvez por causa do que você passou
por lá, com seu padrasto e sua mãe e...
― Não importa. ― Diz ele, me cortando. ― Meu pai construiu o local
e deixou para mim. Nada que eles pudessem fazer arruinaria isso. Eu me
recuso a deixar.
Eu sei que ele está mentindo. Como eu sei disso? Porque foi quando
eu disse isso a ele no telhado todas aquelas semanas atrás, que eu vim para
Manhattan por causa dos Muppets.
― Algo parecido.
Lorenzo me encara, como se talvez ele não soubesse o que dizer sobre
isso. Começa a ficar estranho de novo, com ele não falando, então sou
muito grata quando a comida começa a chegar. Graças a Deus. Leo deixa
dois pratos, e eu faço uma careta quando ele explica o que é - algum tipo
de molho de nata com ostras e caviar.
Trufas.
― É por isso que estou aqui. ― Diz ele. ― Eu sei que isso soa falso, mas
é verdade. Fiquei entediado e queria uma mudança. Laranjas não eram o
único legado de meu pai. Ele cresceu na máfia, dirigiu essas ruas por anos,
até que a família Genova o expulsou da cidade... foi assim que ele acabou
na Flórida. Mas, mesmo assim, eles não o deixaram ser. Então eu pensei,
você sabe, por que não voltar de onde ele parou? Então eu apareci, tirei
todos eles, e aqui estou eu, entediado de novo... ou pelo menos estava.
― No momento, não.
Ele é louco.
― Quem disse que estou tentando voar sob o radar? ― Ele pergunta.
― Quero dizer, vamos lá, baby... olhe meu rosto. Não há sentido em me
esgueirar por aí.
Eu olho para ele, não porque ele acabou de me dizer, mas por causa
da palavra que ele usou. Baby. Faz o tipo de coisa no meu peito que me
deixa desconfortável – o espremer, apertar e o tamborilar de merda. Ugh,
pare com isso, coração. Você não tem nenhum negócio reagindo a ele.
Aponto para o rosto dele, acenando com o dedo. ― Sim, bem, isso não
significa que você precisa se exibir.
Além disso, ele está tocando minha mão. Segurando minha mão.
Esquisito.
― Sim?
― O Rei Leão.
― Sim?
― Sim.
Seus passos vacilam tanto que eu quase esbarro nele. ― Como é o seu
favorito, se você nunca viu?
― Sim.
― Isso é...
― Patético?
Precisava disso.
Serenidade.
Começo a argumentar, mas ele não para para ouvir uma palavra da
minha argumentação, entrando exatamente no mesmo momento em que
outros entram. O homem que trabalha na porta olha para Lorenzo,
desviando os olhos rapidamente em reação.
O cara pede nossos ingressos, mas Lorenzo fala sobre ele sair do
caminho dele, passando por mais dois trabalhadores e por um funcionário,
como se eles estivessem com muito medo de dizer "não" a ele. Encontramos
alguns lugares vazios nos fundos, lá em cima, mas não vou reclamar nem
um pouco. Estou muito chocada por estar no teatro. O intervalo está
terminando, o segundo ato é iniciado. Perdemos todo o começo, mas foda-
se... Eu nunca pensei que veria tanto.
Eu assisto, lágrimas nos meus olhos que eu luto para segurar, uma
pressão no meu peito como se meu coração fosse explodir. Estou
estourando de sentimentos e não sei o que fazer. É como ser arrastada por
um tornado e estou esperando que ele me deixe em algum lugar.
Eu me viro para Lorenzo. Ele está apenas olhando para frente. Ele
corta os olhos para mim, como se pudesse sentir minha atenção e faz uma
careta porque estou chorando.
Ele não precisa ser avisado duas vezes. Ele está fora da cadeira e
caminhando pela multidão enquanto os artistas ainda estão se curvando.
Eu limpo meu rosto enquanto saímos, sabendo que minha maquiagem
deve estar uma bagunça.
― Mas você está falando. ― Ele faz um boneco com a mão enquanto o
segura, bem na minha cara, dizendo: ― blá, blá, blá, blá, blá...
26
Uma pessoa velha, chata, sem humor, ranzinza, sem imaginação.
Afastei a mão dele com uma risada. ― Foda-se.
Ele olha para mim e sorri. Ele sorri. É genuíno, não é mais do que um
lampejo de felicidade, mas está lá, e eu vejo, e faz algo comigo.
― Oh não...
― Parece um.
― Bem, não é.
Não tenho certeza do que ele está pensando agora, mas meu estômago
revira. Merda.
Roxas. E rosas.
Sério, ele tem flores roxas e rosas levando à sua porta da frente.
Ele está parado na porta, vestido como sempre, mas descalço, seus
olhos nos examinando com confusão, como se fossemos as últimas pessoas
que ele esperava ver quando a campainha tocou um momento atrás.
― Bruno, amor, quem é? ― A voz de uma mulher chama por trás dele
de dentro da casa.
― É...
Seven não termina, mas ele realmente não precisa, porque a mulher
aparece na porta ao lado dele. Ela é tudo o que você espera de alguém com
vasos de plantas que leva à sua porta, o tipo de mulher que parece fazer
lanches saudáveis para o marido antes de enviá-lo para o trabalho - blusa
bordada Borgonha, saia lápis preta, com cabelo loiro perfeitamente liso,
usando o tipo de maquiagem que não se parece com maquiagem.
Ela olha para nós, os olhos arregalando apenas um pouco. Ou ela tem
uma cara de pôquer ou se acostumou a Lorenzo. ― Olá, Sr. Gambini.
Seu olhar muda para mim enquanto ela sorri. ― Olá! Eu sou Sarah.
Você é...?
― Você também. ― Digo, porque não sei mais o que dizer sobre isso.
― Oh, uau, isso é ótimo. ― Diz Sarah, ainda sorrindo para mim. ― Eu
estava terminando o jantar. Nós estamos comendo tacos. Vocês gostariam
de se juntar a nós? Há muito o que fazer.
Não tenho como tentar descobrir a troca deles, porque meu estômago
está roncando e a mulher disse tacos. Dando de ombros, subo os degraus,
meu movimento trazendo Lorenzo de volta à realidade.
Não sei se Seven concorda com isso, porque ele não diz nada, muito
preocupado quando a esposa pede que ele coloque mais dois lugares na
mesa.
― Cuidado com o que você fala. ― Continua ele. ― Não fale sobre
roubar, matar ou foder...
― Eu não sei. ― Diz ele. ― O que quer que as pessoas conversam não
é sobre essas coisas.
Eu vou para a cozinha, porque bem, não há como fugir disso agora.
Tacos, ao que parece, não são o tipo de tacos que eu estava pensando. Eles
são tacos de frango sofisticados caseiros com algum tipo de molho de
iogurte. Sentamos à mesa e eles abençoam a comida com uma oração.
Oh, garoto.
Estou esperando que um dos caras me ajude, mas não. Estou sozinha
aqui.
Ela aponta para Lorenzo, que está comendo ansiosamente como o cara
nunca comeu antes, evitando ter que conversar. Típico.
Lorenzo engasga.
Sem brincadeira.
Seven pula, como se estivesse prestes a fazer uma RCP, mas Lorenzo
se recompõe antes que o homem possa tocá-lo.
Lorenzo corta os olhos na minha direção. Sei que ele tem algumas
palavras para mim agora, mas ele continua com seu melhor
comportamento.
Seven nos leva para fora, parando perto dos vasos de plantas enquanto
eu desço para a calçada para esperar. Tão estranha, a sua pequena e
perfeita vida. Eu não esperava isso.
― Claro, chefe.
Ele se afasta.
Não sei para onde estamos indo, e ele não me pede ideias dessa vez,
então tenho certeza de que ele tem outro destino em mente.
Oh okay.
Antes que eu possa questionar isso, ele escala a cerca ao redor do lugar
e segue em direção a casa. Merda.
Eu dou de ombros. ― Por que não? Não será a primeira vez que um
cara pisou em cima de mim.
Ele ri, balançando a cabeça. ― Na verdade, pode ser mais fácil se eu te
ajudar a subir.
― Sim.
Olha, eu nem vou fingir que balançar nos postes dia após dia não tem
seus benefícios. Assim que ponho as mãos no parapeito, me levanto, sem
problemas. Escalar é moleza. Descer é geralmente uma história diferente,
no entanto. A gravidade pode ser uma vadia.
Trancada. É claro.
― Boa menina.
Eu giro, fazendo uma careta para essas palavras enquanto olho para
ele. ― Sério?
27
Os integrantes de cada dupla devem, então, subir um nos ombros do outro e tentar
derrubar na água o integrante da dupla adversária que estiver em cima. Quem fizer isso primeiro
é o vencedor.
Ele me acena. ― Apenas desça e me deixar entrar, mulher.
Lorenzo começa a procurar na casa. Não sei o que ele está procurando,
mas apenas vago com ele, vagando pela cozinha e encontrando uma pilha
de correspondência no balcão. Olho para o envelope superior, congelando
enquanto meus olhos brilham sobre o nome nele.
Gabriel Jones.
― Não.
― Como?
Ele ri.
― Sim!
Ele diz isso de maneira tão descontraída que quase não registro.
― Sim.
Eu pisco para ele e sei que ele está prestes a rir de novo enquanto se
dirige para mim. ― Você é insano.
― Você acha?
― Esfregue seu clitóris. ― Diz ele, sua voz tensa enquanto empurra. ―
Faça você mesma gozar.
― Lorenzo?
― Sim?
Ele ri, zombando de mim enquanto diz: ― Tenho certeza de que esse
é o seu trabalho.
Eu aperto em volta dele, apertando seu pau.
Ele geme.
Isso faz.
Ele goza.
Casa de Gabe.
Eu quero discutir, mas não posso, porque precisamos sair daqui agora.
Lorenzo abre a porta do terraço, acenando para que eu vá, e ele me segue
para fora, fechando novamente a porta.
Eu? Eu cai.
― Então?
― Não importa. ―Diz ele. ― O que ele vai fazer, chamar a polícia?
Haha, nada foi roubado, mas alguém invadiu e fodeu na minha cama.
Eu olho para ele. Não sei bem o que dizer, o que pensar, o que fazer,
então apenas repito. ― O que?
Eu sinto que estou sendo sufocada. Dói respirar. ― O que você disse?
― Eu disse que você não estava lá, mas que você sente falta dela. Então
eu disse a ela para colocar o pai no telefone, porque ele a estava usando
para tentar obter sua localização, e eu não estava tendo essa merda.
Nada do que ele está dizendo faz sentido, como se eu não conseguisse
entender. Ele falou com ela. Ele ouviu a voz dela. ― Ela estava com ele esta
manhã?
Lorenzo assente.
― Sério, mano?
Não vou ser duro com meu irmãozinho nem ferrar a coisa boa que ele
tem acontecendo naquele lugar. Ele mantém um dos meus cartões de
crédito com ele, para emergências, e ele o usa sempre que eu faço essa
merda.
Ele me dá um inferno por isso, é claro, mas ele lida com essas coisas
como o adulto respeitável que ele é.
Ela tem uma vantagem sobre mim, mas tenho uma boa ideia de onde
encontrá-la.
― Sim.
― No escuro?
― Sim.
― Sem promessas.
Ele não gosta dessa resposta, mas eu não fico por aqui e a torno melhor
para ele. Ele é um garoto grande. Ele pode lidar com essa merda.
Há uma linha tênue entre corajosa e estúpida, e ela está seguindo essa
linha indo por ela sozinha.
Sozinha.
Suponho que isso significa que ela não encontrou o que procurava, o
que significa que provavelmente está chateada neste momento. Uma parte
de mim quer deixá-la aqui, se afastar e dar-lhe algum espaço, mas a maioria
de mim sabe que ela está agindo loucamente, por isso, se eu for embora,
talvez nunca mais a veja.
Antes que você pergunte, não, não quero falar sobre o que está
acontecendo, porque foda-se.
Chegando mais perto, pego a escada, subindo para me juntar a ela. Ela
não olha para mim. Ela não me cumprimenta. Eu também poderia ser
Casper, o fantasminha camarada, do jeito que ela não reage a mim. Ela
apenas fica lá, olhando para o nada, então eu a deixo ter seu silêncio
enquanto me sento ao lado dela no telhado. Há uma janela atrás de nós, e
eu me viro, olhando através dela.
Giz de cera quebrado cobre uma pequena mesa ali mesmo com uma
pilha de papel em branco e um gato de pelúcia ao lado. Parece ser um
quarto. Dela, suponho, mas ela não está no momento.
― Quanto tempo isso vai durar? ― Ela pergunta. ― Quanto tempo até
você parar de vir atrás de mim?
Olha, eu sei que é uma piada de sexo esperando para acontecer, mas
agora não é o momento para isso, então mantenha-o na sua merda de
calças.
Ela ri. É um som triste, como se a merda não fosse engraçada, mas é
rir ou chorar e ela chorou o suficiente esta noite.
Ela ri... de novo... mas desta vez é mais genuíno. ― Vou me lembrar
disso.
― Mas...
― O único 'mas' que eu quero agora é sua bunda saindo desse telhado.
Ha ha.
Foda-se.
― Essa coisa toda parecia quase paternal. ― Diz ela. ― Isso foi meio
quente.
Sério?
Rosna. Alto.
Ela ri.
28
Trail mix é um tipo de mix de lanches, normalmente uma combinação de granola, frutas
secas, nozes e às vezes chocolate, desenvolvido como um alimento a ser levado nas caminhadas.
― Todas essas coisas que fizemos hoje. ― Diz ela, gesticulando com o
pacote de Trail mix. ― Foi só porque você sabia que era meu aniversário e
não queria que eu o passasse sozinha?
― Eu nunca disse que não era. ― Diz ela, sentando no balcão. ― Ainda
gostaria de uma resposta.
― Talvez.
― Talvez?
― Parece que você gosta de brincar com as pessoas, ― diz ela ― tipo
brincando com a sua comida antes de você comer ela mais ou menos dessa
maneira.
― Às vezes.
― Só às vezes?
― Bem, agora, estou ficando muito irritado. ― Digo a ela. ― Existe uma
razão para você estar batendo no meu gabinete como se fosse um maldito
tambor?
― Sério?
Ela tirou uma página do livro do Leo e está pressionando meus botões
intencionalmente, como se ela achasse que eu não a mataria.
― Sem mim?
― Foda-se.
Ela ri, me seguindo para fora da cozinha, sem se deixar intimidar pela
minha atitude enquanto se junta a mim na cama.
Eu deveria contá-las.
Eu sempre as conto.
― Ligue para o Three, ― digo ― e diga a ele para vir contar essas
laranjas.
Enfio a mão no bolso, puxo minha lata e a abro. Vazia. Eu olho para
ela, tendo esquecido de rolar mais baseados, e fecho de volta, empurrando-
a para longe. ― Eu já volto, Seven. Estou indo no carro por um momento.
Aristov.
Meu instinto é pegar minha arma. Eu a seguro, mas não a retiro. Não,
algo me impede. Não tenho muita certeza do que é isso, mas deixo para o
momento, mantendo a calma. Não me aproximo mais, e ele não se
aproxima de mim, nós dois apenas de pé aqui.
― Ele disse que já está a caminho. ― Diz Seven, com a voz baixa. ― Ele
estará aqui em um minuto.
― Bom.
― Você não vai encontrar ela lá. ― Diz ele, sem mais rodeios. ― Ela se
foi agora.
29
Bob Esponja
entendeu? Eu não sou um corredor, nem sou um escondedor. Sou mais um
lobo que um tatu.
É cedo ainda.
O importante aqui, caso você não tenha feito as contas, é que o homem
que conseguiu localizar meu armazém, está a um passo de encontrar todo
o resto. Nada que possuo está em meu nome, não... a maioria está sob um
pseudônimo. Oliver Accardi. Mas basta uma simples pesquisa nesse nome
para encontrar todas as outras ações que tenho, incluindo minha casa no
Queens.
― Na próxima vez. ― Diz ele. ― Você tem certeza de que haverá uma
próxima vez?
Three parece muito perto de quebrar, prestes a atacar o cara por isso,
que é o que Aristov quer, então sim... não está acontecendo.
― Vou lhe dar uma chance de pensar nisso, ― diz ele, dando um passo
para trás ― mas sua chance não vai durar muito, então pense rapidamente,
senhor Scar.
Mas mais do que tudo isso, mais do que qualquer outra coisa, a
garotinha realmente amava Toy Story.
Ela pensou que seus brinquedos eram reais, que eles tinham
sentimentos e também ganhavam vida quando ela não estava olhando,
mas todos esses meses depois, ela não tinha mais certeza.
Ela deu uma última olhada no urso antes de voltar para o quarto que
eles diziam ser dela.
Ela estava assustada - muito assustada - mas não deixou que isso a
impedisse. Sua mãe disse-lhe para nomear seus medos, então ela chamou
Buzz Lightyear. Saltando pela janela, para o pequeno telhado, ela se arrastou
ao longo dele, os dentes batendo. Era apenas o segundo andar, mas ela
sentia como se estivesse no céu. Mas ainda assim, ela se sentou,
escorregando até a borda e respirou fundo.
― Seja como o Buzz. ― Ela sussurrou para si mesma. ― Ele pode cair
com estilo.
Seu braço doía e sua cabeça estava toda tonta, mas ela se levantou e
começou a andar, afastando-se do palácio que odiava.
A garotinha não tinha ideia de onde estava indo, nem onde o Homem
de Lata morava. Mas ela lembrou que era apenas uma estrada para a praia,
por isso seguiu por esse caminho, com nada mais do que a roupa do corpo
e o dinheiro vermelho que o Leão Covarde havia lhe dado.
Passando as placas que diziam que a praia estava fechada, ela vai para
a costa, a água fria tocando seus sapatos.
― Ei, você está aí. ― Uma voz chamou, uma luz piscando em sua
direção. ― O que você está fazendo?
A garotinha se virou, vendo um homem se aproximando - um homem
vestindo um uniforme azul. Um policial.
Oh-oh.
Ela balançou a cabeça. Ela não estava usando suas palavras para ele.
Ele era um estranho. Perigo desconhecido.
Nada.
― Conexão bêbada?
Achei que era impossível, mas seus olhos se arregalaram ainda mais.
― O que?
Ela zombou. ― Não, por causa de como ele olha para as pessoas, ou
seja, como ele olhou para mim.
― Como é isso?
Eu não quero fazer nenhuma das duas opções. A última vez que
comprei minutos, jurei que era isso... Teria minha filha de volta antes de
ficar sem tempo novamente.
― Eu aposto.
― Eu estava. ― Diz ele. ― Não mais que uma hora atrás. Todas as
coisas boas, é claro. Eu nunca diria uma palavra ruim sobre você. Prometo.
― Okay, certo.
Ele ri. ― Isso é duas vezes agora que você falou, gatinha. Você deve
estar se senti