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TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO RIO GRANDE DO SUL

CURSO DE CAPACITAÇÃO – NIVELAMENTO BÁSICO

MÓDULO III – INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL1

PROF. DR. CARLOS EDUARDO DIEDER REVERBEL


Doutor em Direito USP, Doutor em Direito UFRGS, Mestre em
Direito UFRGS, Especialista em Direito UFRGS, Professor da
Faculdade de Direito e do Programa de Pós-graduação em Direito da
UFRGS, Coordenador da Especialização em Direito do Estado da
UFRGS, Advogado, Parecerista.

1 Desenvolvido de acordo com o livro de MENDES, Gilmar Ferreira; GONET BRANCO, Paulo
Gustavo. Curso de Direito Constitucional. 15. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, capítulo 10;
REVERBEL, Carlos Eduardo Dieder. Jurisdição Constitucional na Ibero América. Porto Alegre: Brejo
Bliblio Bureau, 2012, passim; FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional.
39. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, capítulos 1º, 2º, 3º, 4º, capítulos 22 e 23 e capítulo 39; BULOS, Uadi
Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, capítulos 1, 2 e 3;
BARROSO, Curso de Direito Constitucional. 2ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, capítulos I, II e III da
parte I; JACQUES, Paulino, Curso de Direito Constitucional. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987, pp.
1-11; LENZA, Pedro. Curso de Direito Constitucional Esquematizado, capítulo do Poder Judiciário;
SOUZA JUNIOR, Cezar Saldanha; REVERBEL, Carlos Eduardo Dieder . O Tribunal Constitucional como
Poder. 2. ed. Revista dos Tribunais, 2016; REVERBEL, Carlos Eduardo Dieder. Reforma política e eleições:
retrospecto, diagnóstico e alternativas para o Brasil. Revista dos Tribunais, 2018; REVERBEL, Carlos Eduardo
Dieder; CHEVTCHIK, Mellany. O Berço dos Direitos Sociais: Cem Anos da Constituição Mexicana e
Alemã. REVISTA DO TRE-RS, v. 1, p. 53-76, 2019.
DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO

1. O Direito Constitucional é correlativo à ideia de Constituição. Trata


da estrutura organizacional dos Estados, dos poderes políticos, das liberdades públicas e
das atribuições e limitações dos privados. É o mais político de todos os Direitos,
estando sujeito às mutações normais da vida social. A Constituição é diretamente
impactada pela História, pela Cultura e pela Sociologia, refletindo o estado do avanço
social e suas leis naturais.
2. Como direito costumeiro a Constituição é tão antiga quanto a
civilização, pois sempre existiram leis que fixavam a estrutura e as funções dos Estados.
Para o Constitucionalismo moderno, porém, o termo Constituição tem um conteúdo
específico, um sentido mais claro e uma forma mais bem delimitada. Marca
normalmente a superação da ordem jurídica anterior, seja em face do Ancien Régime,
em França, a separação dos EUA da Inglaterra, reconstruindo o Estado numa ordem
nova.
3. O Direito Constitucional passou do costume ao Direito Positivo. Foi
Guizot, ilustre ministro de Luis Felipe quem, em 1834, introduziu a cadeira Direito
Constitucional na célebre Faculdade de Direito de Paris2. O liberal italiano, Pellegrino
Rossi, deu uma unidade didática ao tema, no seu famoso livro –– hoje já esquecido pela
manualística –– Cours de Droit Constitutionnel (2 vol.). Sendo um dado da realidade,
presente desde sempre, passou a ser uma realidade institucional, uma criação racional,
um documento escrito, solene, materializado, com vida, ganhando um sentido material
e formal.
4. Esse sentido moderno de limitação do poder passou a estabelecer um
conjunto de regras que passaram a definir a Organização Fundamental do Estado. O
homem, portanto, pode alterar o curso da história e modelar racionalmente uma nova
ordem constitucional, um novo texto, um novo marco… ou seja, ao lado do costume
apareceu a racionalização escrita desse poder, uma positivação desses costumes.
5. Ao nascer as Constituições idealizaram um modelo de Estado
conforme os princípios do liberalismo, um governo moderado, incapaz de abusos, em
que o Monarca ficasse, igualmente, limitado ao Direito. Tanto que o artigo 16 da
Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão expressamente determinou não possuir

2 Precisamente, em 26 de setembro de 1791, quando a Assembleia Constituinte Francesa determinou que


as faculdades ministrassem aulas sobre a Constituição Francesa. Ver, BULOS, p. 1.
constituição a sociedade na qual não esteja assegurada a garantia dos direitos e a divisão
dos poderes.
6. O constitucionalismo, portanto, visa estabelecer um governo
moderado, regimes constitucionais limitados em seus poderes e submetidos a ordem
constitucional. O planeta terra foi adotando ordens constitucionais, limitando o poder do
monarca, derrubando tronos, fortalecendo o poder dos administrados. O rompimento
entre metrópoles e colônias, culminou com a adoção de textos constitucionais escritos.
7. Com o fim da primeira guerra mundial esse liberalismo constitucional
exige um constitucionalismo de estado que promova o bem-estar social. Os partidos
socialistas, comunistas, solidaristas, cristãos passam a adquirir um peso maior, passando
o Estado de uma postura mais passiva para uma postura mais ativa, promovedor e
incentivador de políticas sociais, inclusivas, preocupados com a saúde, educação,
moradia, lazer, bem-estar, proteção à infância, à maternidade. O Estado não
intervencionista é substituído por um Estado mais ativo e intervencionista. Existe, no
pós-Primeira Guerra, uma ascensão dos Direitos Econômicos e Sociais.
8. Assim as constituições adquirem uma função social, uma ordem
política, reduzida a termos jurídicos para regular a ordem econômica, seja mais liberal
ou mais social. Portanto, no sentido material as constituições estabelecem o conteúdo
jurídico das normas fundamentais do Estado, organizando o exercício e o
funcionamento dos poderes políticos, obrando para delimitar os direitos fundamentais e
os valores e princípios a serem observados. Em resumo, as normas pertinentes à Forma
de Estado, Forma de Governo, Regime de Governo, Sistema de Governo, Sistema de
Poderes, modo de aquisição e exercício do poder. Já no sentido formal, a preocupação
é outra, pois centra-se na posição das normas, na superioridade e hierarquia, no modo de
produção e modificação das demais normas. Uma se preocupa com a matéria
fundamental. Outra com o procedimento dessas normas e suas relações.
9. Dentro do texto constitucional existem regras constitucionais auto
exequíveis, completas e bem definidas, quanto aos fins e funções, podem e devem ser
aplicadas de imediatamente. As não auto exequíveis não podem ter aplicabilidade
imediata, pois incompletas, pouco definidas, não delimitando o funcionamento correto
de um procedimento processual, por exemplo. Outras ficam condicionadas a uma
regulamentação futura, outras programáticas dependem de programas governamentais
futuros, leis ordinárias de complementação e regulação, de ordem administrativa, por
exemplo.
10. As constituições, em sua grande maioria, são escritas, solenes,
promulgadas, num texto, disposta em artigos, alíneas, incisos, parágrafos, numerais,
sistematizadas num único texto, cuja Constituição Norte-Americana de 1787 é a
primeira de todas. Mas existem constituições em textos esparsos, costumes,
convenções, acordos que foram sendo sedimentados/coagulados ao longo da história. O
maior exemplo de constituição não escrita, não positivada num documento formal e
solene é a Constituição Inglesa.
11. Temos ainda constituições outorgadas e promulgadas. As
promulgadas, também chamadas de democráticas, envolvem a participação popular,
seja diretamente mediante referendum e plebiscito, seja indiretamente, pela eleição de
uma constituinte exclusiva ou por representantes eleitos que deliberam um texto, que
igualmente pode conter a participação popular, emendas populares, participação mais
ativa das ruas, como pressão, incentivo, mídias sociais, televisão, rádio e outros meios
de comunicação. Mais comum é a eleição de representantes, os quais se incumbem
dessa tarefa, por meio da representação que o mandato lhes confere. Temos ainda as
constituições outorgadas, sem a participação popular, impostas por um agente supremo
que detém o poder político de fato, seja ele um rei ou um presidente.
12. Temos, ainda, quanto a estabilidade do texto, as constituições rígidas,
flexíveis e semi-rígidas. As rígidas estabelecem um processo mais complexo, mais
complicado para a alteração das normas constitucionais se comparado com as demais
normas do ordenamento jurídico. Ao passo que as constituições flexíveis, alterar a lei é,
em si, alterar a constituições, pois a constituição pode ser alterada pelo mesmo
procedimento utilizado para a alteração da legislação infraconstitucional, ou seja, não há
distinção entre normas, não há hierarquia entre elas. De outro lado, a constituição escrita
não equivale ao conceito de constituição rígida. O Estatuto Albertino era modificável
por lei ordinária. A Constituição de 1824, do império do Brasil, era semi-rígida. A
constituição semi-rígida permite a alteração de certas normas pelo procedimento
ordinário (em parte flexível), ao passo que adota um procedimento especial para a
alteração de um determinado grupo de normas (em parte rígidas).
13. As constituições podem ser mais sintéticas e mais analíticas. As
sintéticas, mais principiológicas e suscintas, colocam a estrutura geral do Estado e sua
relação com os cidadãos, sem descer a minúcias, portanto mais estáveis e abertas à
interpretação e à evolução, com é o caso dos EUA, cuja constituição segue a mesma,
desde 1787. As constituições analíticas, por sua vez, são detalhistas, prolixas,
“completas”, regulando tudo e todos, indo do direito constitucional ao direito ordinário,
descendo aos detalhes, ao concreto, ao efetivo, ao casual. Essas constituições tendem a
durar pouco tempo, pois logo se tornam defasadas, emendadas, retalhadas por
crescentes emendas, já que regula tudo, até mesmo o direito ordinário. É o caso das
atuais constituições da Espanha, Portugal e Brasil.
O PODER CONSTITUINTE

1. Foi Sieyès quem, pela primeira vez, trouxe ao cenário jurídico a teoria
do Poder Constituinte, separada dos Poderes Constituídos. Essa contribuição dos
franceses remanesce até hoje. O poder constituinte sempre existiu, pois, a Constituição
remonta à antiguidade, como vimos. A sua teoria é que moderna. O opúsculo ficou
conhecido com “Qu’est-ce que le Tier État?” panfleto pelo qual apresentou todas as
reivindicações do Terceiro Estado, em face dos estamentos privilegiados.
2. O panfleto reflete as dificuldades da época enfrentadas pela classe
burguesa e as suas dificuldades. O que é o terceiro estado? Tudo na concepção de
Sieyès, pois ele que leva a termo todas as atividades importantes da França, pois é a
mão de obra que faz a economia girar. Que tem sido o Terceiro Estado? Nada, na
concepção de Sieyès, pois carentes de direitos e garantias básicas, salário e direitos
mínimos. Que pretende ser o Terceiro Estado? Alguma coisa, nessa resposta é que
Sieyès expõe uma carta de reivindicações para reconhecimento dos Direitos básicos
dessa parte da população francesa.
3. Ele identifica o Terceiro Estado com a Nação e, após, formula a
distinção entre Poder Constituinte e Poder Constituído. O Poder Constituinte é a
vontade da nação, ilimitada pelos meios ordinários e mundanos. O Poder Constituído,
receberia as limitações do Constituinte, sendo juridicamente limitado. Assentou-se,
portanto, as bases da supremacia do direito, do controle de constitucionalidade, da
supremacia da constituição.
4. Assim as leis se subordinam à Constituição Suprema, pois cabe a ela
instituir os demais, eis o nome Constituinte. Ora, sendo ela superior, os atos que lhe
contrarie são nulos, devendo tornar-se sem efeito. Esse vício recebe o nome de
inconstitucionalidade.
5. A doutrina passou a dar o nome de Poder Constituinte Originário e
Poder Constituinte Derivado. A Constituição que substitui uma anterior, ou a que dá
vida a um novo Estado costuma ser chamada de Originária. O Poder Constituinte
Derivado pode completá-la, emendá-la, revisá-la. Os Estados Federados podem, em
decorrência da Constituição, exercerem o Poder Constituinte Decorrente dos Estados,
institucionalizando o seu texto, de conformidade com a Supremacia da Constituição.
6. Quem é o titular do Poder Constituinte? O Povo. Mas deve haver um
consenso em torno das matérias, dos procedimentos, da forma. Deve sobretudo existir
legitimidade. A aceitação é o cerne do consensus, pois sem a anuência geral não existe
governo estabelecido e, portanto, Estado, Constituição, Supremacia, Hierarquia…
Legalidade sem a legitimidade de nada vale. O poder vira direito somente com a
legitimidade, com o consentimento, com a anuência, o respeito… dos governados.
7. Ora, se o Poder Constituinte depende do consentimento popular, a
soberania repousa no Povo. Mas nem sempre o Agente do poder constituinte é o povo.
O Titular do Poder Constituinte é o povo, mas admite-se que o trabalho seja feito por
diferentes agentes. A Assembleia Geral Constituinte costuma ser o agente, porém é o
povo que é o titular. O agente (Assembleia Geral) edita a Constituição com a aceitação
do titular (povo). Ora, é o povo que elege a Assembleia. O texto produzido pela
Assembleia, pode ser remedido ao povo, para posterior referendum. O trabalho da
Assembleia se esgota com o texto, o do Povo remanesce hígido, perene, pois lhe é dado
constantemente o direito de rever a sua decisão.
8. O Poder Constituinte Originário precisa derrubar a ordem velha e
instaurar a ordem nova. A Constituição anterior perde eficácia, validade e vigência.
Esse vazio traduz um evento revolucionário. A revolução quebra a Constituição em
vigor, abrindo caminho para a nova Constituição. “A revolução é o veículo do PC
originário”. Mas nem sempre e necessariamente as constituições são fruto de
revoluções. A Constituição francesa de 1958 reforma a carta anterior, numa ampla
reforma. Outras decorrem diretamente de um Estado colonizador.
9. O Poder Constituinte Originário apresenta três características básicas:
(1) é inicial porque não se funda noutro, mas é dele que derivam os demais poderes; é
(2) ilimitado não sofrendo qualquer restrição do Direito Positivo e (3) incondicionado,
pois não tem fórmula prefixada nem forma estabelecida para a sua manifestação.
10. O Poder Constituinte Derivado apresenta três características básicas:
(1) Este poder é derivado (provém do originário); (2) subordinado (está abaixo do
originário, submetido a ele); e condicionado (só age nas condições postas e impostas
pelo Poder Constituinte Originário). O Poder Constituinte Derivado detém o poder de
revisão e emenda, mas igualmente existe o poder de institucionalizar os Estados, Poder
Constituinte Decorrente dos Estados.
11. O Poder Constituinte Originário coloca limitações a sua revisão. Essas
limitações são de três ordens: (1) Limitações Temporais só admitem revisão numa
determinada época, impossibilitando a sua alteração durante certo período –
Constituição da França de 1791 (Tít. VII, art. 3º); (2) Limitações Circunstanciais
proíbem a alteração em certos casos, já que presumível estarem sob coação, violenta
ameaça ou emoção. Normalmente estando o Estado sob a invasão de forças estrangeiras,
durante intervenção federal, estado de defesa ou estado de sítio. A CRFB/88 tem essas
limitações no artigo 60 § 1º; (3) Limitações Materiais diversas constituições deixam de
fora a alteração de certas matérias, por considerarem estas matérias mais fundamentais
que outras. As constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1967 consideram
inafastáveis a Federação e a República. Vide artigo 60, § 4º da atual Constituição
brasileira.
12. A revisão entrega o poder de iniciativa ao (1) Legislativo, caso da
Alemanha, no art. 79; (2) ao Executivo, caso de Portugal, 1933, art. 135; (3) Executivo,
e Legislativo, caso da França, 1958, art. 89; (4) Legislativo e ao Povo, reservado poder
de iniciativa popular, caso da suíça, art. 121; (5) na Forma Federativa de Estado pode
ser reservado o poder de iniciativa aos Estados-membros (EUA, art. V);
13. O Brasil convocou uma Assembleia Nacional Constituinte pela
Emenda Constitucional nº. 26, de 27 de novembro de 1985, à Constituição então vigente
de 1967-69. Estabeleceu no art. 1º que “os membros da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal reunir-se-ão, unicameralmente, em Assembléia Nacional Constituinte,
livre e soberana, no dia 1º de fevereiro de 1987, na sede do Congresso Nacional”.
14. Inexistiu no Brasil a ruptura revolucionária que normalmente
condiciona a manifestação do Poder Constituinte Originário. A Assembleia Nacional
Constituinte foi convocada pela Emenda Constitucional, em total respeito às normas que
determinavam a modificação da Constituição anterior. Foi alterado apenas o
procedimento de modificação da Constituição, a partir de 01 de fevereiro de 1987. O
procedimento de alteração para maioria absoluta dos membros da Câmara e do Senado,
em conjunto, em dois turnos. Eliminou as limitações referentes à abolição da República
e da Federação, bem como a proibição existente de emendas na vigência de intervenção
federal, estado de sítio e estado de emergência. (art. 47, par. 1º e 2º, da EC n. 1/69). Foi,
em verdade, um Poder Constituinte Derivado, porém liberto das limitações materiais e
circunstanciais anteriores.
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

1. O controle de constitucionalidade só existe quando há uma


Constituição Escrita, fator que foi consolidado somente na segunda metade do século
XVIII, com a Revolução Francesa e a independência americana.
2. Constituição estabelece as linhas básicas do Estado e estabelece
diretrizes e limites ao conteúdo da legislação vindoura. Essa constituição, portanto,
sofre influências do tempo e precisa ser colmatada, atualizada. Assim a constituição
sofre controle de constitucionalidade para se adaptar às mudanças político-sociais.
3. Para Jorge Miranda, constitucionalidade e inconstitucionalidade
designam conceitos de relação, i. é., “a relação que se estabelece entre uma coisa – a
Constituição – e outra coisa – um comportamento – que lhe está ou não conforme, que
com ele é ou não compatível. É uma relação de caráter normativo e valorativo”.
4. Os atos do parlamento que contrariem a Constituição são nulos e
írritos (sem efeito), devendo ser declarados nulos pelo Judiciário, natimorto, gerando a
inconstitucionalidade, no pensamento de Marshall e Rui Barbosa, efeitos ex tunc (desde
o momento da feitura da norma). A norma inconstitucional precisa ser invalidade e, para
tanto, se estabelece um procedimento para esta invalidade. Assim, para Kelsen é
necessário o procedimento de anulação do ato inconstitucional por um órgão
competente – nulidade ou anulabilidade.
5. As formas de controle de constitucionalidade são as mais diversas:
QUANTO AO ÓRGÃO – QUEM CONTROLA: Controle político – controle
exercido por órgão político, também chamado de controle francês. Assim o controle
realizado nas Casas Legislativas, pelas Comissões de Constituição e Justiça são
controles políticos. Outro exemplo vem a ser o veto exercido pelo chefe do Poder
Executivo (art. 66, § 1º). Controle jurisdicional é o exercido pelo juiz e tribunal, bem
como o exercido pelo Supremo Tribunal Federal.
6. Quanto AO MODO OU À FORMA DE CONTROLE, ele pode ser:
(1) Incidental (levantada no contexto de um processo ou ação judicial, em que a
questão da inconstitucionalidade configura um incidente. Liga-se ao modelo difuso de
controle de constitucionalidade, inicialmente aplicado pelos EUA e, posteriormente,
copiado por diversos países da América Central e América do Sul. (2) Principal (a
questão constitucional é suscitada autonomamente, em um processo ou ação principal,
sendo contestada a inconstitucionalidade da lei. Para esse acesso admite-se ação diretas,
in abstrato, para controle da lei ou do ato normativo.
7. Quanto AO MOMENTO DO CONTROLE, ele pode ser: Preventivo
antes do aperfeiçoamento do ato normativo, tendo como exemplo clássico o Direito
Francês. O Controle realizado pela Comissão de Constituição e Justiça e das Casas do
Congresso, bem como o veto pelo Presidente da República são considerados controle
preventivo. No Brasil o controle preventivo pode ser realizado pelo Judiciário, para
impedir a tramitação de projeto de emenda constitucional que viole as cláusulas pétreas
(art. 60, § 4º), caso em que é possível ser impetrado Mandado de Segurança. O Controle
Repressivo ou sucessivo é o controle realizado pelo judiciário. O processo se instaura
após a promulgação da lei ou mesmo de sua entrada em vigor.
8. O Controle de Constitucionalidade continua a ser dividido, para fins
didáticos, em modelo difuso e modelo concentrado, sistema americano e sistema
austríaco ou europeu-continental de controle de constitucionalidade. O modelo
concentrado confere o poder de controle de constitucionalidade a um órgão jurisdicional
superior ou a uma Corte Constitucional. O controle difuso, por sua vez, entrega o
controle de constitucionalidade a qualquer órgão judicial, numa contenda, num caso
concreto, com efeitos somente às partes litigantes do processo.
9. Há inconstitucionalidade formal (vícios que afetam o ato normativo,
ou seja, pressupostos relativos à formação da lei, tramitação, origem, rito) e material (o
vício relaciona-se à matéria, ao conteúdo e ao aspecto substantivo do ato).
10. Existe, ainda, inconstitucionalidade por ação e por omissão. A
inconstitucionalidade por ação pressupõe uma conduta positiva do legislador. Ao revés,
a inconstitucionalidade por omissão decorre, fundamentalmente, de uma lacuna
inconstitucional, ou do descumprimento da obrigação constitucional de legislar.
Exemplo: a constituição determinou a regulamentação da greve dos servidores públicos
e quais os serviços serão considerados essenciais. Essa lei não veio a ser promulgada.
Trata-se, pois, de uma omissão inconstitucional, já que prometida pela Constituição.
11. A Constituição do Império do Brasil outorgou ao Poder Legislativo a
atribuição de “fazer leis, interpretá-las, suspenda-las e revogá-las”, bem como “velar na
guarda da Constituição” (art. 15, n. 8º e 9º). Consagrava-se, no Império, a máxima da
Soberania do Parlamento, e o Rei era a chave dessa estrutura, com o Poder Moderador,
dispositivo expresso no artigo 98 da Constituição do Império.
12. O modelo difuso foi consagrado pela Constituição provisória de 1980
(art. 58,§ 1º, a , b). Já o Decreto n. 848, de 1890 (art. 3º) estabeleceu que o juiz só
intervirá no processo para a guarda da Constituição, por provocação da parte.
13. A reforma constitucional de 1926 manteve e consolidou, no Brasil, o
controle difuso de constitucionalidade. A Constituição de 1934 declarou que a
inconstitucionalidade somente poderia ser realizada pela maioria da totalidade de
membros dos tribunais. Ademais, tal texto constitucional determinou ser competência
do Senado Federal o poder de “suspender a execução, no todo ou em parte, de qualquer
lei ou ato, deliberação ou regulamento, quando hajam sido declarados inconstitucionais
pelo Poder Judiciário”. Aqui nasce o efeito erga omnes (para todos dessa decisão),
dispositivo que é repetido pelo artigo 52, X, da atual constituição. O art. 68 da
Constituição de 1934 vedou ao Poder Judiciário “conhecer das questões exclusivamente
políticas”. Hoje o Judiciário adentra bastante em questões eminentemente políticas.
14. A Constituição de 1937 não introduziu grandes modificações no
sistema de controle de constitucionalidade. Preservou o quorum especial para a
declaração de inconstitucionalidade (art. 96). Essa Constituição vedou ao Judiciário
conhecer das questões eminentemente políticas (art. 94). A Constituição de 1946
entregou ao Procurador Geral da República o poder da Representação de
Inconstitucionalidade, nos casos de violação dos princípios: a) forma republicana
representativa; b) independência e harmonia entre os Poderes; c) temporariedade das
funções eletivas, limitada a duração destas à das funções federais correspondentes; d)
proibição da reeleição de governadores e prefeitos para o período imediato; e)
autonomia municipal; f) prestação de contas da Administração; g) garantias do poder
judiciário (art. 8º, § ú, c-c o art. 7º, VII).
15. A Emenda n.16, de 1965, introduziu no Brasil o controle abstrato de
constitucionalidade de normas estaduais e federais. Manteve o controle difuso ao lado
do controle abstrato. A Emenda nº. 1 de 1969 previu o controle de constitucionalidade
de lei municipal, em face da Constituição estadual, para fins de intervenção no
Município. (art. 15, § 3º, d). Posteriormente, a Emenda nº 7 de 1977 introduziu no
ordenamento pátrio a representação para fins de interpretação de lei ou ato normativo
federal ou estadual. A legitimidade ficou a cargo do Procurador-Geral da República (art.
119, I, e).
16. A Constituição de 1988 manteve a Representação Interventiva
destinada a aferir a compatibilidade da Lei Estadual aos princípios sensíveis
estabelecidos no artigo 34, VII, c/c o art. 36, inciso III. Ampliou-se os legitimados para
propor a ação direta de controle de constitucionalidade (art. 103). Reforçou-se, portanto,
o controle abstrato em detrimento do controle in concreto, dito difuso de
constitucionalidade.
17. Em 1993 foi desenvolvido pela Emenda Constitucional nº 3 a Ação
Declaratória de Constitucionalidade. O objetivo maior era dar segurança jurídica às
relações tributárias, pois as empresas e contribuintes precisavam saber, tão logo quanto
possível, se o tributo, a alíquota é constitucional, para não ser surpreendido com uma
declaração de inconstitucionalidade, determinando a devolução/recolhimento de tributo
não pago, por conta de uma declaração de inconstitucionalidade. Assim, requeria-se tão
logo quanto possível, a declaração de constitucionalidade do tributo, o que acalmava e
dava maior segurança jurídica às empresas. A Emenda Constitucional nº 45/2004
ampliou e determinou os mesmos legitimados da ADI a propor a ADC. Existe,
entretanto, uma limitação ao objeto.
18. Outro instituto abstrato de controle de constitucionalidade veio a ser
desenvolvido com a Arguição de descumprimento de preceito fundamental – ADPF.
Existia uma gama de matérias (espaço residual) discutido no controle difuso que não
entravam, não estavam suscetíveis ao controle abstrato de normas, como a interpretação
de cláusulas constitucionais, controle de constitucionalidade de direito municipal, o que
não podia ser tratado no âmbito do Recurso Extraordinário. Para evitar uma gama de
interpretações divergentes (guerra das liminares) a ADPF permitiu o acesso ao STF para
que se antecipasse as decisões dessas controvérsias relevantes, com eficácia erga omnes
e efeito vinculante.
19. Outro avança em direção ao controle abstrato e concentrado de
constitucionalidade foi a exigência e o estabelecimento do requisito de Repercussão
Geral. Ou seja, os Recursos Extraordinários devem passar pela admissibilidade de uma
Repercussão Geral, qual seja, demonstrar que o tema suscita dúvidas em tribunais da
federação. O procedimento da Repercussão Geral passa pela sessão virtual, a qual tem a
duração de 20 dias corridos. O sistema fará o computo dos votos sobre a Repercussão
Geral. Se transcorrido esse prazo sem a manifestação dos ministros, presume-se,
portanto, existente a Repercussão Geral. Os Ministros que rejeitarem a Repercussão
Geral devem fazê-lo por manifestação expressa.
PODER JUDICIÁRIO

1. O Poder Judiciário detém como função precípua a função de julgar


imparcialmente as contendas levantadas. Mas ele possui funções atípicas executiva-
administrativa (art. 96, I, b) e funções de natureza legislativa, quando elabora o seu
regimento interno, art. 96, I, a.
2. A jurisdição, portanto, se exerce quando há uma pretensão resistida.
O judiciário, em regra, atua mediante provocação. Atualmente, entretanto, a legislação
tem aumentado os poderes instrutórios dos juízes: Apreciação de matérias de ordem
pública; convocação das partes, de ofício, para interrogá-las. Determinação de exibição
parcial de livros ou documentos. Determinação de realização de nova perícia.
Determinação de inspeção judicial. A abertura de inventário. Correção, de ofício, das
inexatidões materiais da partilha. Suscitar o conflito de competência.
3. As decisões do Judiciário são definitivas. Não podem ser alteradas. A
jurisdição no Brasil é, portanto, UNA (definitividade somente se dá pelo Poder
Judiciário) e indivisível (um só poder, um só órgão).
4. Em 2004 a Emenda Constitucional nº 45 alterou profundamente o
Poder Judiciário. Muitas modificações ocorreram. Resumir-se-á as mais relevantes
alterações engendradas por essa emenda. Nesse tópico segue-se integralmente o livro de
Pedro Lenza, quem minuciosamente analisou o tema, de forma muita didática, em 27
itens.

1) Ficou estabelecido a razoável duração do processo. Buscou-se maior celeridade


de tramitação dos processos, pois as partes precisam de uma decisão mais célere.
(art. 5º, LXXVIII e art. 7º da EC 45);
2) a previsão de real cumprimento do princípio do acesso à ordem jurídica justa,
estabelecendo-se a Justiça itinerante e a sua descentralização, assim como a
autonomia funcional, administrativa e financeira da Defensoria Pública Estadual
(arts. 107, §§ 2º, 3º; 115, §1º e 2º; 125, §§ 6º e 7º; 134, § 2º; 168; e art. 7º da EC
45);
3) A possibilidade de se criarem varas especializadas para a solução das questões
agrárias. Nessa linha de especialização em prol da efetividade Pedro Lenza
sugere, também, varas especializadas para a área do consumidor, ambiental,
coletiva, etc. (art. 126, caput);
4) A constitucionalização dos tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos, desde que aprovados pelo quórum qualificado das emendas
constitucionais (art. 5º, § 3º);
5) A submissão do Brasil à jurisdição do Tribunal Penal Internacional a cuja
criação tenha manifestado adesão (art. 5º, § 4º);
6) A federalização de crimes contra direitos humanos, por exemplo, a tortura e o
homicídio praticados por grupos de extermínio, mediante incidente suscitado
pelo PGR no STJ, objetivando o deslocamento da competência para a Justiça
Federal. Busca-se, acima de tudo, adequar o funcionamento do Judiciário
brasileiro ao sistema de proteção internacional dos direitos humanos (art. 109,
V-A, e § 5º);
7) A criação do Conselho Nacional de Justiça, que passa a ser Órgão do Poder
Judiciário, com sede na Capital Federal. Ampliação de hipóteses de
Impeachment, por crime de responsabilidade, a ser apurada pelo Senado Federal,
abarcando todos os membros do CNJ (e do CNMP). Criação de ouvidorias para
o recebimento de reclamações (arts. 52,II; 92, I-A, e § 1º; 102, I “r”; 103-B; e
art. 5º da EC 45)
8) A previsão de controle do MP por intermédio do Conselho Nacional do
Ministério Público, assim como a criação de ouvidorias para o recebimento de
reclamações (arts. 52, II; 102,I, r; 130-A; e art. 5º da EC n. 45-2004).
9) A ampliação de algumas regras mínimas a serem observadas na elaboração do
Estatuto da Magistratura, todas no sentido de dar maior produtividade e
transparência à prestação jurisdicional, na busca da efetividade do processo: Art.
93.
a) Previsão da exigência de três anos de atividade jurídica para o bacharel em
Direito como requisito para o ingresso na carreira da Magistratura (quarentena
de entrada);
b) Aferição do merecimento para a promoção conforme o desempenho, levando em
conta critérios objetivos de produtividade;
c) Maior garantia ao magistrado, já que a recusa da promoção por antiguidade
somente poderá implementar-se pelo voto fundamentado de 2/3 dos membros do
Tribunal a que ele estiver vinculado, conforme procedimento próprio e
assegurada a ampla defesa;
d) Impossibilidade de promoção do magistrado que, injustificadamente, retiver
autos em seu poder além do prazo legal, não podendo devolvê-lo ao cartório sem
o devido despacho ou decisão.
e) Previsão de cursos oficiais de preparação, aperfeiçoamento e promoção de
magistrados, constituindo etapa obrigatória do processo de vitaliciamento;
f) O ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por interesse
público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta (e não mais 2/3) do
respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla
defesa;
g) Na hipótese de processo que tramite sob segredo de justiça, existindo colisão de
dois grandes direitos fundamentais, quais sejam, a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo e o interesse público à informação, parece ter
o constituinte dado preferência a este último.
h) Previsão de serem as decisões administrativas dos tribunais tomadas em sessão
pública;
i) Modificação da sistemática de preenchimento das vagas dos integrantes do
Órgão Especial dos Tribunais, sendo metade por antiguidade e a outra metade
por eleição pelo Tribunal Pleno;
j) O fim das férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, tornando a
atividade jurisdicional ininterrupta;
k) Previsão de número de juízes compatíveis com a população;
l) Possibilidade de os servidores receberem delegação para a prática de atos de
administração e atos de mero expediente sem caráter decisório;
m) Distribuição imediata dos processos em todos os graus de jurisdição.

10) A ampliação da garantia de imparcialidade dos órgãos jurisdicionais por meio


das seguintes proibições:
a) vedação aos juízes de receber, a qualquer título ou pretexto, auxílio ou
contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as
exceções previstas em lei;
b) Instituição da denominada quarentena de saída, proibindo membros da
magistratura de exercera advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastaram por
aposentadoria ou exoneração pelo prazo de 3 anos. A quarentena também se
aplica aos membros do MP (arts. 95, § ú, IV e V, e 128, § 6º);

11) A previsão de que as custas e emolumentos sejam destinados exclusivamente ao


custeio dos serviços afetos às atividades específicas da Justiça, fortalecendo-a
(art. 98, § 2º);
12) A regulamentação do procedimento de encaminhamento da proposta
orçamentária do Judiciário e solução em caso de inércia. Proibição de realização
de despesas ou assunção de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos
na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a
abertura de créditos suplementares ou especiais (art. 99, §§ 3º, 4º e 5º);
13) A extinção dos Tribunais de Alçada, passando os seus membros a integrar os
TJs dos respectivos Estados e uniformizando, assim, a nossa Justiça (art. 4º da
EC 45);
14) A transferência de competência do STF para o STJ no tocante à homologação de
sentenças estrangeiras e à concessão de exequatur às cartas rogatórias (art. 102,
I, h (revogada); 105, I, i, e art. 9º da EC 45).
15) A ampliação da competência do STF para o julgamento de recurso
extraordinário quando se julgar válida lei local contestada em face de lei federal.
Muito se questionou sobre essa previsão. Observa-se que ela está correta, já que
quando se questiona a aplicação de lei, acima de tudo, tem-se conflito de
constitucionalidade, já que é a CF que fixa as regras sobre competência
legislativa federativa. Por outro lado, quando se questiona a validade de ato de
governo local em face de lei federal, acima de tudo, estamos diante de questão
de legalidade a ser enfrentada pelo STJ, como mantido na reforma. (arts. 102,
III, d; art. 105, III, b);
16) A criação do requisito da repercussão geral das questões constitucionais
discutidas no caso para o conhecimento do recurso extraordinário. Essa
importante regra vai evitar que o STF julgue brigas particulares de vizinhos
como algumas discussões sobre assassinato de papagaio ou furto de galinha já
examinadas pelo STF (art. 102, § 3º);
17) A adequação da Constituição, no tocante ao controle de constitucionalidade, ao
entendimento jurisprudencial já pacificado no STF, constitucionalizando o efeito
dúplice ou ambivalente da ADI e da ADC, assim como o seu efeito vinculante.
Ampliação da legitimação para agir. Agora os legitimados da ADC são os
mesmos da ADI (e não mais somente os 4 que figuravam no art. 103, § 4º,
revogado). Apenas para se adequar ao entendimento do STF e à regra do art. 2º,
IV e V, da Lei 9.868-99, fixou-se, expressamente, a legitimação da Câmara
Legislativa e do Governador do DF para a propositura da ADI e agora de ADC
(arts. 102, § 2º; 103, IV e V; revogação do § 4º do art. 103, e art. 9º da EC 45);
18) A ampliação da hipótese de intervenção federal dependendo de provimento de
representação do Procurador-Geral da República para, além da já existente ADI
interventiva (art. 36, III c-c o artigo 34, VII), agora, também, objetivando prover
a execução de lei federal (pressupondo ter havido a sua recusa). A competência
que era do STJ, passa a ser do STF (art. 34, VI, primeira parte, c-c o art. 36, III;
revogação do art. 36, IV; e o art. 9º da EC 45).
19) A Criação da Súmula Vinculante do STF (Art. 103 A e art.8º da EC 45);
20) A aprovação da nomeação de Ministros do STJ pelo quorum de maioria absoluta
dos membros do SF, equiparando-se ao quorum de aprovação para a sabatina
dos Ministros do STF, e não mais maioria simples ou relativa, como era antes da
Reforma (art. 104, § ú);
21) A previsão de funcionamento, junto ao STJ: a) da Escola Nacional de Formação
e Aperfeiçoamento de Magistrados, cabendo-lhe, dentre outras funções,
regulamentar os cursos oficiais para o ingresso e promoção na carreira; b) e do
Conselho da Justiça Federal como órgão central do sistema e com poderes
correicionais, cujas decisões terão caráter vinculante (art. 105, § ú, I, II);
22) No âmbito trabalhista, dentre tantas modificações, podemos destacar:
a) O aumento da composição do TST de 17 para 27 Ministros, não mais sendo
preciso ter de convocar juízes dos TRTs para atuar como substitutos;
b) Em relação ao sistema de composição, reduziram-se as vagas de Ministros do
TST oriundos da advocacia e do Ministério Público do Trabalho. Agora eles
ocupam somente 1-5, sendo os outros 4-5 preenchidos dentre juízes dos
Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da Magistratura da carreira,
indicados pelo próprio Tribunal Superior;
c) Fixação do número mínimo de 7 juízes para os TRTs;
d) Modificação da competência da Justiça do Trabalho;
e) Previsão de criação da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de
Magistrados do Trabalho e do Conselho Superior da Justiça do Trabalho, sendo
que este último deverá ser instalado no prazo de 180 dias;
f) A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não abrangidas
por sua jurisdição, atribuí-las aos juízes de direito, com recurso para o respectivo
Tribunal Regional do Trabalho;
g) Previsão de criação, por lei, do Fundo de Garantia das Execuções Trabalhistas,
integrado pelas multas decorrentes de condenações trabalhistas e administrativas
oriundas da fiscalização do trabalho, além de outras receitas (arts. 111, §§ 1º, 2º,
3º. (revogados); 111-A; 112; 114; 115; e arts. 3º, 6º e 9º da EC 45-2004);
23) Fixação de novas regras para a Justiça Militar (art. 125, §§ 3º, 4º e 5º);
24) Assim como fixado para a Magistratura (art. 99, §§ 3º a 5º), regulação do
procedimento de encaminhamento da proposta orçamentária do Ministério
Público e solução em caso de inércia. Proibição de realização de despesas ou
assunção de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na lei de
diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura
de créditos suplementares ou especiais (art. 127, §§ 4º, 5º e 6º);
25) Nos mesmos termos da Magistratura, diminuição do quorum de votação para a
perda da garantia da inamovibilidade de 2-3 para maioria absoluta (art. 128, § 5º,
I, b);
26) Ampliação da garantia de imparcialidade dos membros do Ministério Público:
a) Vedação do exercício de atividade político-partidária, sem qualquer exceção;
b) Vedação do recebimento, a qualquer título ou pretexto, de auxílios ou
contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privada, ressalvadas as
exceções previstas em lei;
c) Instituição, nos mesmos termos da Magistratura, da denominada quarentena de
saída, proibindo-os de exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se
afastaram por aposentadoria ou exoneração pelo prazo de 3 anos (art. 128,§ 5º,
II, “e”, “f” e § 6º);
27) No sentido de dar maior produtividade e transparência no exercício da função,
na busca da efetividade do processo, destacam-se, para o MP:
a) A obrigatoriedade de as funções só poderem ser exercidas por integrantes da
carreira, que deverão residir na comarca da respectiva lotação, salvo autorização
do chefe da instituição;
b) A previsão da exigência de 3 anos de atividade jurídica para o bacharel em
direito como requisito para o ingresso na carreira do MP (quarentena de
entrada);
c) A distribuição imediata dos processos;
d) E, no que couber, as regras já apresentadas em relação ao art. 93 para a
Magistratura (art. 129, §§ 2º, 3º, 4º, e 5º).

5. Passo seguinte será a análise minuciosa do artigo 93 da Constituição, e


seus incisos. Igualmente seguimos com Pedro Lenza, quem didaticamente resumiu os
principais pontos nessa matéria.

ART. 93, INCISO I, da CRFB/88 - Exigência de três anos de atividade jurídica.

a) STF asseverou que os três anos de atividade jurídica se contam da data da


conclusão do curso de Direito e que a expressão ‘atividade jurídica’ corresponde
ao desempenho de atividades privativas de bacharel em Direito. Considerou
ainda que a comprovação destes requisitos deve ocorrer na data da inscrição no
concurso. ADI 3.460. CNJ através da Resolução 75-2009 determinou que a
comprovação deva ser no momento da inscrição definitiva.
b) De acordo com a Resolução considera-se atividade jurídica:
I. Aquela exercida com exclusividade por bacharel em direito;
II. O efetivo exercício de advocacia, inclusive voluntária, mediante a
participação anual mínima em cinco atos privativos de advogado,
em causas ou questões distintas;
III. O exercício de cargos, empregos ou funções, inclusive de
magistério superior, que exija a utilização preponderante de
conhecimento jurídico;
IV. O exercício da função de conciliador junto a tribunais judiciais,
juizados especiais, varas especiais, anexos de juizados especiais
ou de varas judiciais, no mínimo de 16 horas mensais e durante 1
ano;
V. O exercício de atividade de mediação ou de arbitragem na
composição de litígios.

ART. 93, INCISO II, da CRFB/88 - Promoção de entrância para entrância,


alternadamente, por antiguidade e merecimento, atendidas as seguintes normas:
a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por 3 vezes consecutivas ou 5
alternadas em lista de merecimento;
b) a promoção por merecimento pressupõe 2 anos de exercício na respectiva
entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de antiguidade
desta, salvo se não houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago.
c) a aferição de merecimento conforme o desempenho e pelos critérios
objetivos de produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela
freqüência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de
aperfeiçoamento.
d) na apuração de antiguidade, o tribunal somente poderá recusar o juiz mais
antigo pelo voto fundamentado de 2-3 de seus membros, conforme
procedimento próprio, e assegurada ampla defesa, repetindo-se a votação até
fixar-se a indicação.
e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu
poder além do prazo legal, não podendo devolvê-lo ao cartório sem o devido
despacho ou decisão.

Art. 93, inciso III – O acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antiguidade
e merecimento, alternadamente, apurados na última ou única entrância;

Art. 93, inciso IV – previsão de cursos oficiais de preparação, aperfeiçoamento e


promoção de magistrados, constituindo etapa obrigatória do processo de
vitaliciamento a participação em curso oficial ou reconhecido por escola nacional de
formação e aperfeiçoamento de magistrados;

Art. 93, inciso V – O subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores


corresponderá a 95% do subsídio mensal fixado para os Ministros do STF e os
subsídios dos demais magistrados serão fixados em lei e escalonados, em nível
federal e estadual, conforme as respectivas categorias da estrutura judiciária
nacional, não podendo a diferença entre uma e outra ser superior a 10 % ou inferior
a 5%, nem exceder a 95 % do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais
Superiores, obedecido, em qualquer caso, o disposto nos arts. 37, XI, e 39, § 4º.

Art. 93, inciso VI – A aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus


dependentes observarão o disposto no art. 40;

Art. 93, inciso VII – O juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo autorização
do tribunal;

Art. 93, inciso VIII – O ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do


magistrado, por interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria
absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada
ampla defesa.

Art. 93, inciso VIII A – A remoção a pedido ou a permuta de magistrados de


comarca de igual entrância atenderá, no que couber, ao disposto nas alíneas a, b, c, e
do inciso II.
Art. 93, inciso IX – Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.

Art. 93, inciso X – As decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em


sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus
membros.

Art. 93, inciso XI – Nos tribunais com um número superior a 25 julgadores, poderá
ser constituído órgão especial, com o mínimo de 11 e o máximo de 25 membros,
para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da
competência do tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por antiguidade e a
outra metade por eleição pelo tribunal pleno.

Art. 93, inciso XII – A atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias
coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em que não
houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente.

a) aqui estamos diante do princípio da ininterruptibilidade da jurisdição, não


podendo haver flexibilidade dessa regra sequer por Resolução do CNJ. Assim as
regras legais que estabeleciam que os magistrados gozariam de férias coletivas
perderam seu fundamento de validade pela promulgação da EC 45. Está vedado,
portanto, férias coletivas de juízes e membros dos tribunais de segundo grau.

Art. 93, inciso XIII – O número de juízes na unidade jurisdicional será


proporcional à efetiva demanda judicial e à respectiva população.

Art. 93, inciso XIV – Os servidores receberão delegação para a prática de atos de
administração e atos de mero expediente sem caráter decisório.

Art. 93, inciso XV – A distribuição de processos será imediata, em todos os graus


de jurisdição.

AS GARANTIAS DO PODER JUDICIÁRIO

I) Institucionais – protegem o judiciário como um todo, como instituição. Podem


ser:

a) garantias de autonomia orgânico-administrativa (art. 96)


# eleger seus órgãos diretivos
# elaborar seu regimento interno
# organizar a estrutura administrativa interna, como concessão de férias, licença...

b) garantias de autonomia financeira (art. 99).


# Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos limites
estipulados conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes
orçamentárias.
# O encaminhamento da proposta orçamentária, ouvidos os outros tribunais
interessados, compete: a) no âmbito da União, aos Presidentes do STF e dos
Tribunais Superiores, com a aprovação dos respectivos tribunais; b) no âmbito dos
Estados e no DF e Territórios, aos Presidentes dos TJs, com a aprovação dos
respectivos tribunais.
# A EC 45 estabeleceu que se esses tribunais não encaminharem propostas
orçamentárias dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o
Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária
anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os
limites estipulados na forma do § 1º, do art. 99.
# Se as propostas orçamentárias forem encaminhadas em desacordo com os limites
estipulados na forma do § 1º do art. 99, o Poder Executivo procederá aos ajustes
necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual.
# Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a realização de
despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na lei
de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura
de créditos suplementares ou especiais.
# ainda para garantir autonomia financeira do judiciário a CF previu no art. 168 que
os recursos correspondentes às dotações orçamentárias, bem como os créditos
suplementares e especiais, ser-lhe-ão entregues até o dia 20 de cada mês.
# Por fim, fortalecendo a autonomia do poder judiciário, fixou-se que as custas e
emolumentos serão destinados exclusivamente ao custeio dos serviços afetos às
atividades específicas da Justiça (ar. 98, § 2º).

II - Funcionais ou de órgãos – asseguram:


a) a independência dos órgãos judiciários art. 95, I–III (vitaliciedade,
inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios)

III - Vitaliciedade – significa dizer que o Magistrado, (uma vez vitaliciado) só


perderá o cargo por sentença judicial transitada em julgado. Ao contrário do
magistrado, os demais servidores públicos são estáveis, ou seja, podem perder o
cargo não só por decisão judicial como também por processo administrativo.
# A vitaliciedade só será adquirida após dois anos de efetivo exercício do cargo,
superando o estágio probatório.
# Os tribunais tem a garantia da vitaliciedade, independentemente da forma de
acesso. Assim se um advogado ou membro do MP ingressarem pela regra do quinto
constitucional, no exato momento da posse adquirirá a vitaliciedade, não tendo que
passar por qualquer estágio probatório.

Exceções: Ministros do STF na hipótese de crime de responsabilidade serão


julgados pelo Senado Federal. Conselheiros do CNJ também serão julgados pelo
Senado Federal por crime de responsabilidade.
Inamovibilidade – garante-se ao juiz a impossibilidade de remoção, sem seu
consentimento, de um local para outro, de uma comarca para outra, ou mesmo de
sede, cargo, tribunal, câmara, grau de jurisdição.
# Essa regra não é absoluta, pois, como estabelece o art. 93, VIII, o magistrado
poderá ser removido (além de colocado em disponibilidade e aposentado), por
interesse público, fundando-se tal decisão por voto da maioria absoluta de respectivo
tribunal ou do CNJ, assegurada ampla defesa.
Irredutibilidade de subsídios – O subsídio dos magistrados não poderá ser
reduzido, garantindo-se, assim, o livre exercício das atribuições jurisdicionais. Tal
garantia é nominal, ou seja, não se está livre da corrosão de seus subsídios pela
inflação.
# O subsídio mensal dos membros do Judiciário não será superior ao subsídio
mensal dos Ministros do STF. Deverão respeitar os denominados subtetos, que, no
âmbito do Judiciário estadual e distrital, será o subsídio máximo pago aos
Desembargadores do TJ, limitado a 90,25% do subsídio mensal, em espécie, dos
Ministros do STF.
# O subsídio como forma de remuneração, está sujeito à tributação, devendo ser
fixado em parcela única, e obedecer ao escalonamento que se refere o art. 93, V.

A IMPARCIALIDADE DOS MEMBROS DO PODER JUDICIÁRIO art. 95, §


ú, I-V (vedações).

# Exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de


magistério;
# Receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;
# Dedicar-se à atividade político-partidária;
# Receber, a qualquer título, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades
públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei.
# Exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos
três anos de afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração – quarentena de
saída.

ESTRUTURA DO JUDICIÁRIO

a) Órgãos de convergência – pode-se afirmar que o STF e os Tribunais Superiores


(STJ, TST, TSE e STM) são órgãos de convergência, têm sede na Capital Federal
exercem jurisdição sobre todo o território nacional, nos termos do art. 92, § 2º.
# Estas justiças especiais (Trabalhista, Eleitoral e Militar), tem por cúpula seu
próprio Tribunal Superior, que é responsável pela última decisão nas causas de
competência dessa Justiça.
# Ressalva-se o controle de constitucionalidade, que sempre cabe ao STF. E quanto
as causas processadas na Justiça Federal ou nas locais, em matéria
infraconstitucional a convergência conduz ao STJ, que é um dos Tribunais
Superiores da União embora não integre Justiça alguma.

b) Órgãos de superposição – na medida que não pertencem a qualquer justiça,


podemos classificar o STF e o STJ não só como órgãos de convergência, mas ainda
como órgãos de superposição. Embora não pertençam a nenhuma justiça, as suas
decisões se sobrepõem às decisões proferidas pelos órgãos inferiores das Justiças
comum e especial.
# As decisões do STJ se sobrepõem àquelas da Justiça Federal comum, da Estadual
e daquela do Distrito Federal e Territórios, ao passo que as decisões do STF se
sobrepõem a todas as Justiças e Tribunais.

c) Justiça Comum - 1) Justiça Federal (Tribunais Regionais Federais e Juízes


Federais – arts. 106-110), bem como a criação de juizados especiais nos termos da
Lei Federal n. 10.259-2001 – art. 98, § 1º, CF-88); 2) Justiça do Distrito Federal e
Territórios (Tribunais e Juízes do Distrito Federal e Territórios, organizados e
mantidos pela União – arts. 21, XIII, e 22, XVII, que também criará os Juizados
Especiais e a Justiça de Paz); 3) Justiça Estadual comum (ordinária) (art. 125- juízos
de primeiro grau de jurisdição, incluídos os Juizados Especiais – art. 98, I – e a
Justiça de Paz – art. 98, II; bem como os de segundo grau de jurisdição, composto
pelos TJs).

d) Justiça Especial – 1) Justiça do Trabalho (composta pelo TST; TRTs e pelos


Juízes do Trabalho (Varas do Trabalho) – arts. 111-116).
PODER EXECUTIVO

1. O Poder Executivo é o fiscal e o executor das leis. O Legislativo dita


os rumos, traças as metas e objetivos, cabendo ao Poder Executivo a aplicação. Ao
Poder Executivo cabem duas funções essenciais: (1) a defesa externa e a (2)
manutenção da ordem interna. Atua a administração para o funcionamento dos serviços
públicos indispensáveis.
2. O Executivo, no passado, cuidava mais das relações exteriores, das
forças armadas. No século XX passou a se preocupar mais com o social (influência da
Constituição de Weimar e do México). O État-gendarme no Welfare State veio a
modificar as tradicionais funções exercidas pelo Poder Executivo, que passou a adotar
uma postura mais ativa, responsável por ser o promovedor de direitos sociais, amparar
os necessitados, propiciar o acesso à cultura, ao desporto, proteger a infância, a
maternidade, garantir a saúde, os direitos sociais, em geral. Isso se reflete até mesmo na
legislação, onde o Executivo passa a exercer o Poder Delegado, Decreto-Lei.
3. O órgão do executivo concentra a representação do Estado. Presidente
da República, no plano nacional, Governador, no plano estadual e Prefeito, no plano
local. O Poder Executivo compreende o Chefe de Estado, o Chefe de Governo e a
Administração.
4. O Governo delibera quais as ações fundamentais a serem
implementadas no Estado. A Administração trata de executá-los. Compreende a
burocracia que faz, que gere, que aplica, na ponta, as decisões tomadas pelo Governo.
5. As figuras básicas do Governo são três: (1) A Chefia do Estado,
cabendo-lhe a representação externa e interna do Estado Soberano. Representa a
unidade nacional, o todo, pensa no país e nas suas funções, nas fronteiras, no hino, na
bandeira, nas atividades que dizem respeito ao todo. É o guardião dos valores nacionais,
dos interesses do todo, do bem comum, podendo arbitrar conflito entre poderes. Essa
função era claramente definida no Império do Brasil, mormente na figura de Dom Pedro
II.
6. O Chefe de Estado abre jogos oficiais, preside cerimônias cívicas,
representa a nação perante Estados estrangeiros, recebe embaixadores, nomeia o alto
escalão de cargos e funções não essencialmente políticos, tem uma função de
aconselhamento, de árbitro dos conflitos, solucionando crises e estando o máximo
possível acima dos partidos e das ideologias.
7. A Chefia de Governo, ao contrário, é obra de partido, de uma
ideologia que venceu as eleições, orienta as decisões a serem implementadas pela
máquina pública e administrativa, lidera a política nacional, por isso, temporária, de
mandato fixo, de 4 em 4 anos no Brasil. Conduz os ministérios, as seções
especializadas, a máquina estatal, em geral.
8. Três são os tipos de organização do Executivo: o monocrático, o
dualista, ou colegiado, como classifica Manoel Gonçalves Ferreira Filho. A forma
monocrática é a mais simples, pois fusiona a função de Chefe de Estado com a função
de Chefe de Governo. É a fórmula adotada pelos países presidencialistas, cujo modelo
mais conhecido é o dos EUA e do próprio Brasil.
9. A forma dualista é mais complexa, pois se separa a Chefia do Estado
da Chefia do Governo. O Governo era entregue a um colegiado, um Conselho de
Ministros. Atualmente tende-se a nomear um Primeiro Ministro que concentra essas
funções e organiza uma pasta ministerial para lhe assessorar nas pastas e matérias
específicas do Governo. A forma dualista está presente nos sistemas parlamentaristas de
governo, seja em Monarquias, com a Inglaterra, seja nas Repúblicas, como a de
Portugal.
10. A forma colegiada se caracteriza por concentrar as funções de chefia
do Estado e as governamentais num único órgão coletivo. Ferreira Filho menciona
como exemplo o executivo colegiado uruguaio e o executivo diretorial suíço.
11. No Brasil, na Constituição do Império, existia um executivo
monocrático. O Rei exercia essa função de Chefe do Poder Executivo. Em 1847 foi
criado, no Brasil, a Presidência do Conselho de Ministros, o que dava a impressão de
existir um sistema dualista. De 1889 a 1961, não há dúvida ter sido monocrático o
Executivo.
12. A Emenda n. 4, estabeleceu por contingências históricas, o regime
parlamentarista, com Executivo dualista. Esse regime durou pouquíssimo tempo, vigeu
de 2.09.61 a 23.01.63, quando se promulgou a Emenda nº 6, revogando a Emenda nº 4,
restabelecendo o presidencialismo, retrocedendo ao Executivo Monocrático,
preponderando o poder e a influência do Presidente, cumulando a Chefia de Estado com
a Chefia de Governo. De 1963 até hoje remanesce um sistema de Executivo
Monocrático.
13. Na atual constituição, no artigo 84, o Presidente acumula as funções
de Chefe de Estado e de Chefe de Governo: (1) Representação do Estado nas relações
internacionais (art. 84, VII, VIII, etc.); (2) Constituinte de outros poderes do Estado (art.
84, XIV e XVI etc). Como Chefe de Governo o Presidente oriente a política global,
exerce a chefia da administração, vela pela segurança nacional e defende os interesses
públicos, o bem comum, tal qual disposto no artigo 84.
14. O Brasil previu sufrágio popular, direto, majoritário e num só turno
nas Constituições de 1891, 1934 e 1946. Em 1891 e em 1934 os presidentes foram
eleitos pelo Congresso. Em 1964, igualmente, após a deposição de João Goulart. De
1964 até 1990 elegeu-se os presidentes de modo indireto. A constituição de 1988
estabeleceu a eleição direta, por sufrágio universal, o voto direito, secreto, universal e
periódico. O presidente é eleito pela maioria absoluta. Não ocorrendo essa maioria no
primeiro turno, haverá um segundo turno de votação, com os dois candidatos mais
votados, momento em que bastará a eleição por maioria simples.
15. Fato novo ocorre em 1997, momento em que passa a se admitir a
reeleição, por igual período. A tradição republicana (de alternância do poder) não
admitia a reeleição presidencial. A Emenda Constitucional nº 16 de 1997 admitiu a
reeleição dos Chefes do Poder Executivo, para mais um mandato, podendo, pois, ficar o
Presidente 8 anos no poder, caso reeleito. Os norte-americanos fizeram o mesmo
raciocínio, embora o Presidente Roosevelt tenha fica mais de dois mandatos,
justificando motivo de guerra.
16. O mandato constitucional é hoje de 04 anos. Se o presidente é bom,
parece pouco tempo, se é ruim, moroso e tortuoso esperar novas eleições. A reeleição,
de certa maneira, veio a favorecer que Chefes de Executivo façam políticas de mais
longo prazo, remediando os problemas do presidencialismo. Ferreiro Filho resume
como variou o mandato presidencial nas constituições, de forma direta e clara: sob a
Constituição de 1891 (4 anos); a de 1934 (4 anos); a de 1937 (6 anos); a de 1946 (5
anos); a de 1967 (4 anos); a de 69 (5 anos). A emenda n. 8-77 (6 anos), a de 1988, 4
anos, embora o presidente Sarney tenha ficado cinco anos, submetendo a plebiscito em
1993 o sistema de governo (presidencialismo ou parlamentarismo) e a forma de governo
(monarquia ou república).
17. A constituição estabelece os requisitos para ser Presidente: 1º) ser
brasileiro nato; 2º) estar no gozo dos direitos políticos; 3º) ter mais de 35 anos; 4º) não
ser inelegível. A Vacância da Presidência ocorre por: 1º) por morte; 2º) por
incapacidade absoluta (jurídica) do seu titular; 3º) pela perda de qualquer dos requisitos
acima ou pela verificação da inexistência dos mesmos à época da eleição; 4º) pela
decisão que condenar o Presidente nos processos por crime comum ou de
responsabilidade (impeachment); 5º) pela ausência do País por mais de 15 dias, sem
permissão do Congresso; 6º) por não haver, salvo força maior, dentro de dez dias da
data fixada para a posse, assumido o cargo; 7º) por renúncia, o mesmo se diga ao Vice-
Presidente.
18. Em caso de vacância da presidência, este será sucedido pelo Vice.
Este estando impedido, pelo Presidente da Câmara, que impedido, será pelo Presidente
do Senado, e este pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal.
19. Os ministros de estado, auxiliares do Presidente, de livre nomeação e
exoneração, devem cumprir também certos requisitos para serem nomeados: 1º) ser
brasileiro; 2º) estar no gozo dos direitos políticos; e 3º) ter mais de 21 anos. A principal
função dos ministros é (art. 87, § ú, I, da Constituição) “exercer a orientação,
coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administração federal na área de
sua competência”.
20. São órgãos de apoio do Presidente da República o Conselho de
República e o Conselho de Defesa Nacional, ambos definidos Constituição, cujo
funcionamento e organização ficaram a cargo da Lei Ordinária. Compete ao Conselho
da República pronunciar-se sobre: I – intervenção federal, estado de defesa, estado de
sítio; II – questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas. Compete
ao Conselho de Defesa Nacional (§ 1º do art. 91) opinar em matéria ligadas à defesa do
território nacional, tais como: declaração de guerra, celebração da paz, decretação do
estado de sítio, de defesa e intervenção federal.
INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO

1. O direito, como as demais ciências, fala pela linguagem, se exprime


pela linguagem. As leis exprimem enunciados normativos, que por sua vez, exprimem
prescrições, mandamentos, ordens, proibições, permissões, anuências, concessões.
Enfim, as normas determinam os comportamentos, que as instituições jurídicas
fiscalizam. O Legislador detém o monopólio da orientação dos comportamentos, seja
estimulando, seja vedando condutas. O destinatário da lei deve obediência às normas
jurídicas.
2. O problema da interpretação decorre da própria legislação que não é
perfeita. A norma apresenta lacunas, problemas de redação, carrega consigo uma
policromia de significados, dubiedade de interpretação. O Legislador pensa em algo
que, por vezes, quando escrito no papel gera um outro significado, uma nova
interpretação, um novo sentido. O legislador não é perfeito, diz mal o que quer dizer e
isso gera problemas ao destinatário da norma, que compreende e capta mal a mensagem
gerada. De outro lado, o Direito possui uma linguagem muito própria.
3. Assim, é por meio da aplicação da norma ao caso concreto, pela via da
interpretação, que se busca o sentido e o alcance da norma. A interpretação é o trabalho
minucioso do intérprete que tem essa função, qual seja, a de encontrar o melhor sentido
para a norma. Interpretar é a capacidade de apreender a vontade do legislador, pensar
quase como ele, verificar o que se tinha em mente aquele legislador, quando escreveu
aquela norma. A interpretação pode ceder até mesmo aos imperativos da justiça.
Interpretação não é um desejo, nem fica adstrita a uma vontade político-ideológica do
intérprete, pois é um ato técnico, científico do agente que interpreta.
4. Não cabe ao examinador interpretar aquilo que lhe parece mais justo e
ir de encontro ao que o legislador normatizou. Deve seguir os ditames da lei. Está
vinculado à literalidade do dispositivo normativo. Num Estado de Direito é ao
Legislador que cabe essa função, pois é o representante legítimo da vontade popular,
expressa nas urnas.
5. O intérprete, na dúvida, deve se valer dos métodos de interpretação e
buscar o correto sentido e aplicação da norma. Ora, se duas pessoas se comunicam e se
entendem é porque atribuem o mesmo sentido às palavras que empregam. Se assim não
o fosse, não haveria convivência, diálogo e vinda em sociedade. Assim, existe uma
vagueza interpretativa, uma possível lacuna, mas com isso não se quer dizer que possa
ser preenchido esse vazio com qualquer coisa, sob pena de se pessoalizar as decisões e
interpretações. Pensar de maneira diferente seria dar a caneta do Legislador ao
intérprete. Em conclusão: o intérprete não pode produzir a norma, não pode criar a
norma como um ato de vontade. Essa ideia é a base da democracia, do respeito ao
Estado de Direito e, acima de tudo, ao princípio da Legalidade.
6. Para melhor identificação do sentido da norma se usa de métodos de
interpretação. Vários livros foram escritos sobre isso, sendo, entre os Brasileiros, Carlos
Maximiliano quem melhor tratou do tema, num livro clássico Hermenêutica e Aplicação
do Direito.
7. O primeiro método consiste na interpretação gramatical, na
interpretação da Letra da Lei. Por isso a gramática e o dicionário são bons parceiros
desse método. O problema é que, por vezes, a compreensão literal do dispositivo é
enganadora. São Paulo já dizia: “a letra mata, o espírito vivifica”. Por vezes, como
salientamos, esse método gramatical, por si só é falho, necessitando de outros métodos
para auxiliá-lo, diante da policromia de significados que as palavras carregam no seu
texto.
8. Assim, o método histórico auxilia na interpretação. Qual o sentido
que se imaginou àquela norma quando da sua tramitação. As razões que levaram a lei a
ser promulgada. As justificativas presidenciais para o veto, as emendas e o texto
originário e assim por diante. Acrescente-se, também, o método teleológico, do grego
“telos”, que significa fim, finalidade. A norma tem um fim, um sentido, um objetivo.
Deve o intérprete buscar qual é esse fim… qual o sentido que o legislador queria
alcançar… o valor que inspirou o legislador, o que estava por detrás da lei, qual o
sentido, o fim, a vontade do legislador. Por fim, mas não menos importante, existe o
método lógico-sistemático. O direito sendo um sistema, não pode ser interpretado
isoladamente. Deve ser aplicado no seu sistema, no seu conjunto, complexo e coeso.
9. Por vezes, esses métodos ainda não conseguem esclarecer o sentido e
o alcança da norma, recorrendo-se, pois, a interpretação autêntica, qual seja, aquele
que editou o texto legal se pronuncia sobre ele: “quando editado o texto normativo eu
queria dizer isso… assim… dessa forma… esse o sentido …”.
10. A interpretação jurisprudencial é aquela realizada pelo juiz. O
Supremo Tribunal Federal é o intérprete supremo e máximo, poder de dizer a última
palavra em matéria constitucional, capacitado para fazer o controle de
constitucionalidade das leis. As decisões dos juízes irão formando a jurisprudência.
Essas decisões, reiteradas, demonstram a interpretação dos juízes e tribunais sobre as
normas do legislativo. A leitura do mestre gaúcho Carlos Maximiliano é de fundamental
importância para o aprofundamento da matéria da interpretação da Constituição, sendo
ainda hoje, um dos maiores clássicos no tema.
AULAS GRAVADAS – LINKS DE ACESSO

Videoaulas sobre Separação dos Poderes e Evolução:

01: 1ª fase (concentração do poder)


https://youtu.be/d05XH5YMMaU
02: 2ª fase (bipartição dos poderes)
https://youtu.be/OHdGVwIG6wM
03: 3ª fase (tripartição dos poderes), parte 1
https://youtu.be/gAKprWpO3Es
04: 3ª fase (tripartição dos poderes), parte 2
https://youtu.be/PKNVn_0_zaI
05: passagem do século XVIII para o século XIX
https://youtu.be/LNc7JcsS_6A
06: 4ª fase (tetrapartição dos poderes)
https://youtu.be/obVrITjCjR0
07: 5ª fase (pentapartição dos poderes), parte 1
https://youtu.be/yxGH9048XOA
08: 5ª fase (pentapartição dos poderes), parte 2
https://youtu.be/Mr6yhYGB_-M
09: 6ª fase (hexapartição dos poderes), parte 1
https://youtu.be/VzEsgeG9k9g
10: 6ª fase (hexapartição dos poderes), parte 2
https://youtu.be/yorL1_jbGKc
11: 6ª fase (hexapartição dos poderes), parte 3
https://youtu.be/ygH4NkUFdkI

Videoaulas sobre Democracia e Regimes Patológicos:

Regime Democrático
https://youtu.be/4NmQLawoQ2E
https://youtu.be/rRpdgNO9HJg
https://youtu.be/6l5tvJCqXNU
https://youtu.be/ZoYkd1tRH_8
https://youtu.be/DFFuSqd-miw
https://youtu.be/xPtwGzEhrtE

Tipos Patológicos de Estado


https://youtu.be/bIj_t1JF7Nw
https://youtu.be/yt2O7OM85HE

Obs.: demais temas não contidos no presente material serão abordados em aula síncrona
com o Prof. Dr. Carlos Eduardo Dieder Reverbel.

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