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Devo tudo (tudo mesmo) à Herez Santos, Bacharel em Ciências Náuticas e Direito
e Capitão da Marinha.
Prefação.
Apesar disto, o homem, há mais de três milênios, não só tem tentado conquistar este
contingente líquido e, por assim dizer, sem fim, por meio da navegação, como tem
também procurado apropriar-se de grandes áreas dos oceanos para os seus próprios e
variados fins.
O que hoje se conhece como Direito do Mar, a exemplo de todas as outras áreas do
Direito Internacional, desenvolveu-se a partir de duas fontes, quer sejam, o costume e o
contrato.
Tem-se argumentado muitas vezes que toda a história do Direito do Mar deve ser
considerada como contínuo conflito entre dois conceitos diametralmente opostos,
embora coexistentes e até mesmo complementares: a soberania territorial do Estado e a
liberdade dos mares.
Sumário:
Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar - Convenção de Montego Bay -
Domínio fluvial, lacustre e marítimo - Mares internos - Águas interiores - Portos e
ancoradouros - Golfos e Baías – Estuários - Estreitos, canais e arquipélagos - Mar
territorial - Zona Contígua - Zona Econômica Exclusiva - Deveres do estado costeiro -
Direitos do estado costeiro - Passagem inocente - Jurisdição do estado costeiro -
Jurisdição do estado brasileiro – Casuística – Apêndice.
A Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar tem por objeto principal a
definição de normas jurídicas para os mares e oceanos, a serem respeitadas por todos
os países signatários da Convenção, com vistas ao fortalecimento da paz, da segurança
e da cooperação pacífica entre as Nações, de conformidade com os princípios de justiça
e de igualdade de direitos e pretendendo a promoção econômica e social de todos os
povos.
Levando em consideração a soberania dos Estados, a Convenção estabeleceu o
Regime Jurídico relativo ao mar territorial, a zona contígua, e a zona econômica
exclusiva. Definiu também normas relativas a estreitos utilizados para navegações,
águas dos arquipélagos-estados e outras situações, que não serão tratadas neste
estudo por fugirem ao seu objeto.
Domínio eminente. O vocábulo domínio provém do termo latino “dominium”, derivado de”
dominus”, e significa em linguagem corrente, segundo seu próprio sentido etimológico, a
propriedade ou o direito de propriedade que se tem sobre bens. O direito que se atribui
ao Estado e diz respeito ao exercício da soberania deste sobre seu território e sobre os
bens nele existentes é o que se denomina Domínio Eminente.
Rios nacionais. Os rios nacionais, de acordo com a doutrina mais corrente e a prática
internacional mais usual, são considerados como pertencentes ao domínio público do
estado em cujo território correm. Constituem parte integrante do território do estado e se
acham sob a dependência direta deste, que sobre eles podem exercer sua plena e
exclusiva jurisdição. Entretanto isto não impede que se admita em certos casos a sua
utilização por estados ou cidadãos estrangeiros, não como um direito próprio destes,
mas como um a concessão daquele a quem o rio pertence.
Domínio lacustre. O domínio lacustre estende-se aos lagos. Estes são porções mais ou
menos de água circundada em sua periferia por terra.
Pelo fato dos lagos que se comunicam com o oceano fazer esta ligação por meio de um
rio, as suas águas devem ser submetidas às mesmas regras estabelecidas para os rios.
O princípio geral da liberdade dos mares, que, desde o começo do século XVIII,
segundo os anais históricos, cada vez mais se vinha impondo, só foi consagrado pela
doutrina e pela prática das nações, no entanto, nos fins do primeiro quartel do século
XIX. Este princípio, cuja importância é, sem dúvidas, considerável, sofre, contudo, certas
restrições não só em tempo de guerra, mas também em tempo de paz. Ditas restrições
ou derivam da natureza das coisas - no sentido de que a liberdade de cada estado não
deve avançar por sobre a liberdade inerente a qualquer outro - ou provém de acordos,
ou, ainda, de convenções.
a) liberdade de navegação;
b) liberdade de sobrevôo;
c) liberdade de colocar cabos e dutos submarinos;
d) liberdade de construir ilhas artificiais e outras instalações permitidas
pelo Direito Internacional;
e) liberdade de pesca;
f) liberdade de investigação científica.
Mares internos.
Os mares internos são vastas porções de água salgada cercada de terras, com ou sem
comunicação navegável para o mar livre. Destes são exemplos o Mar Negro, o Mar de
Mamara, o Mar Cáspio e o Mar de Aral.
Se o mar interno se comunica com o mar livre é dito mar não fechado. Se, entretanto,
este não se comunica com aquele, é dito mar interno fechado ou encravado.
Quer o mar interno seja fechado quer este se comunique com o mar livre ou oceano, se
apenas as terras de um único estado o circunda, então sobre o mar prevalecerá a
soberania daquele estado.
Águas interiores.
Águas interiores são aquelas localizadas entre a costa e o limite interior do mar
territorial. O limite interior é a linha de base a partir da qual começa a medida da largura
do mar territorial.
O regime jurídico destas águas é fixado pelo estado costeiro que aí exerce sua
soberania plena, sem sofrer limitações.
Portos e ancoradouros.
Portos são, pode-se dizer, lugares do litoral arranjados pela mão do homem, para abrigo
de navios e operações de carga e descarga, embarques e desembarques.
Ancoradouros são bacias naturais ou artificiais, com saída livre para o mar, onde os
navios podem permanecer fundeados ou ancorados.
As águas dos portos são consideradas nacionais ou internas do estado ribeirinho.
Quanto aos ancoradouros, se estes são apenas prolongamentos ou dependências de
algum porto, acompanham o regime jurídico atribuído às águas do porto.
Golfos e Baías.
Por mais que teoricamente se distingam, na classificação geográfica a confusão entre os
termos golfo e baía é comum. Do ponto de vista das respectivas situações jurídicas,
entretanto, pouca diferença fará se ambas as definições venham a se confundir.
As águas internas dos golfos e das baías devem ser consideradas nacionais. Assim,
não só se encontram sob a soberania do estado cujas terras circunda um ou outro,
como também fazem partes mesmo deste. Isto significa que as águas situadas para o
lado de dentro da linha imaginária traçada à entrada do golfo ou da baía têm caráter
diferente do mar territorial.
Os direitos reconhecidos ao estado ribeirinho sobre estas águas são maiores do que os
que lhes são atribuídos em relação ao seu mar territorial.
Estuários.
Quando um rio, pouco antes de chegar ao oceano, perde o aspecto que tinha e toma o
de uma baía, diz-se que forma um estuário.
Ordinariamente, considera-se que se deve aplicar aos estuários as regras estabelecidas
para as baías.
Estreitos. Nos estreitos a que se refere, todos os navios e aeronaves gozam do direito
de passagem em trânsito que não será impedido a não ser que o estreito seja formado
por uma ilha de um Estado ribeirinho deste estreito e o seu território continental e do
outro lado da ilha exista uma rota de alto mar ou uma rota que passe por uma zona
econômica exclusiva, igualmente conveniente pelas suas características hidrográficas e
de navegação. Passagem em trânsito significa o exercício da liberdade de navegação
exclusivamente para fins de trânsito contínuo e rápido pelo estreito entre uma parte do
alto mar ou de uma zona econômica exclusiva e uma outra parte do alto mar ou uma
zona econômica exclusiva. Contudo, a exigência de trânsito contínuo e rápido não
impede a passagem pelo estreito para entrar no território do Estado ribeirinho ou dele
sair ou a ele regressar sujeito às condições que regem a entrada no território desse
Estado. Qualquer atividade que não constitua um exercício do direito de passagem em
trânsito por um estreito fica sujeita às demais disposições aplicáveis da presente
Convenção.
Deveres dos navios e aeronaves durante a passagem em trânsito por estreitos e canais.
Ao exercerem o direito de passagem em trânsito, os navios e aeronaves devem:
Mar territorial.
Durante séculos ocorreu ou das nações não se preocuparem com a extensão ou largura
do mar territorial, ou reinar a este respeito o arbítrio absoluto.
No fim do quartel do século VII, Grócio (Mare Liberum), que havia aceitado o limite do
raio visual como limite para o mar territorial, declarara no “De jure belli ac pacis” que a
jurisdição do estado ribeirinho se exerce no mar que banha as suas costas, se
estendendo até onde, do continente, é possível a tal estado fazer-se obedecer por
aqueles que passem no dito mar. Desde então, passou a ser geralmente admitido que o
alcance de um tiro de canhão era o que indicava o limite do mar territorial. Esta regra, de
certa forma, prevaleceu até princípio do século XX. Em 1982 a Convenção sobre o
Direito do Mar consagrou o limite de 12 milhas náuticas como a largura do mar territorial.
Águas territoriais e mar territorial não se confundem. Aquelas são gênero do qual este é
espécie. As águas territoriais, pois, compreendem o mar territorial e as águas nacionais
internas - “inland waters”.
Delimitação do mar territorial entre Estados com costas adjacentes ou situadas frente a
frente. Quando as costas de dois Estados são adjacentes ou se encontram situadas
frente a frente, nenhum desses Estados tem o direito, salvo acordo de ambos em
contrário, de estender o seu mar territorial além da linha mediana cujos pontos são
eqüidistantes dos pontos mais próximos das linhas de base, a partir das quais se mede
a largura do mar territorial de cada um desses Estados. Este critério não se aplica
quando, por motivo da existência de títulos históricos ou de outras circunstâncias
especiais, for necessário delimitar o mar territorial dos dois Estados de forma diferente.
Zona Contígua.
Seu conceito jurídico não deve ser confundido com o de mar territorial. Enquanto que
neste o Estado ribeirinho possui competência jurisdicional total, naquele exerce apenas
competência jurisdicional fragmentária e especializada.
A Zona Econômica Exclusiva é uma área de mar situada além do mar territorial,
limitada, porém, a uma faixa máxima de 200 milhas náuticas.
Na Zona Econômica exerce o Estado ribeirinho seu direito de soberania para fins de
exploração e aproveitamento, conservação e gestão de recursos naturais, vivos ou
não-vivos das águas sobrejacentes ao leito do mar e seu subsolo, e para a exploração e
aproveitamento de energia a partir das águas correntes e dos ventos, além das
investigações científicas que queira ali desenvolver, e, também, para proteger e
preservar o meio marinho.
O Estado costeiro pode, sem fazer discriminação de direito ou de fato entre navios
estrangeiros, suspender temporariamente em determinadas áreas do seu mar territorial
o exercício do direito de passagem inocente dos navios estrangeiros, se esta medida for
indispensável para proteger a sua segurança, entre outras, para lhe permitir proceder a
exercícios com armas. Tal suspensão só produzirá efeito depois de ter sido devidamente
tornada pública.
Passagem inocente.
Passagem inocente significa a navegação pelo mar territorial com o fito de:
a) atravessar esse mar sem penetrar nas águas interiores nem fazer escala
num ancoradouro ou instalação portuária situada fora das águas interiores;
b) dirigir-se para as águas interiores ou delas sair ou fazer escala num
desses ancoradouros ou instalações portuárias.
Não será considerada passagem inocente, dentre outras, quando no trânsito do navio
pelo mar territorial este desenvolver qualquer atividade que não esteja diretamente
relacionada com a passagem.
O Estado poderá, ainda, tomar, em seu mar territorial, as medidas necessárias para
impedir toda passagem que não seja inocente.
E o direito de passagem inocente não implica que o estado ribeirinho, soberano, não
institua medidas de caráter voltadas à segurança, ordem pública, interesses fiscais, ou
fiscalização de navios estrangeiros em suas águas territoriais.
Se, por outro lado, um navio estrangeiro, cruzando o mar territorial, viola as normas
estabelecidas pelo estado ribeirinho, poderá este a vir a exercer o seu direito de
perseguição - hot pursuit. Tal perseguição, no entanto, só poderá ser iniciada quando o
infrator se encontrar em águas interiores, no mar territorial, ou, zona contígua. E uma
vez iniciada, a perseguição poderá estender-se ao alto-mar, devendo ser interrompida
quando o perseguido alcançara águas territoriais de seu país ou de um terceiro estado.
Não será exercida jurisdição penal a bordo do navio estrangeiro que passe pelo mar
territorial ainda que seja para reprimir infração criminal praticada a bordo deste navio,
salvo nos casos de:
Daí porque os navios de guerra, bem como aqueles pertencentes a um Estado ou por ele
operados e utilizados unicamente em serviço oficial, não comercial, no alto mar, gozam de
completa imunidade de jurisdição relativamente a qualquer outro estado que não seja o da
sua bandeira.
Nenhum apresamento ou retenção do navio pode ser ordenado, nem mesmo como
medida de investigação, por outras autoridades que não as do estado da bandeira.
a) a pirataria;
b) o transporte de escravos;
c) o tráfico ilícito de estupefacientes e substâncias psicotrópicas;
d) as transmissões não autorizadas a partir do alto-mar;
e) o Direito de Visita;
f) o Direito de Perseguição;
g) os Tratados.
Nos casos acima citados, permite-se que navios de guerra ou a serviço oficial, exerçam
direito de polícia e fiscalização sobre navios que não naveguem sob mesma bandeira,
entretanto, apenas em ocasiões raras, e em casos de extrema necessidade.
Todo Estado pode apresar, em alto-mar ou em qualquer outro lugar não submetido à
jurisdição de qualquer Estado, um navio pirata, ou um navio capturado por atos de
pirataria e em poder dos piratas e prender as pessoas e apreender os bens que se
encontrem a bordo desse navio. Os tribunais do Estado que efetuou o apresamento
podem decidir as penas a aplicar e as medidas a tomar no que se refere aos navios ou
aos bens sem prejuízo dos direitos de terceiros de boa fé.
Transmissões não autorizadas. Da mesma forma que o tráfico de drogas, a questão das
transmissões clandestinas de rádio e televisão é um problema bem atual, entretanto,
mais facilmente detectável.
Haja visto que o alto-mar é zona de livre navegação e que qualquer navio que possua
instalações adequadas pode difundir sinais rádio-televisivos, os Estados acharam por
bem instituir, neste caso específico, o direito de polícia recíproco, a fim de que, normas
internacionais sejam respeitadas.
A Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar de 1982, em Montego Bay, a
respeito das transmissões não autorizadas a partir do alto-mar, no seu artigo 109, assim
delibera:
Nos termos do Código Penal Brasileiro, segundo diz Damásio E. de Jesus, Direito Penal,
Parte Geral, Vol. I, "para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território
nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do
governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar" (art. 5.o, § 1.o).
Os navios, diz o aclamado autor, podem ser públicos ou privados. Navios públicos são
os vasos de guerra, os em serviços militares, em serviços públicos (polícia marítima,
alfândega etc.), e os postos a serviço de soberanos, chefes de estado ou representantes
diplomáticos. Navios privados são os mercantes, de recreio etc. Quanto aos navios
públicos, quer se encontrem em mar territorial nacional ou estrangeiro, quer se achem
em alto-mar, são considerados parte de nosso território. Assim, é competente a nossa
Justiça para apreciar os crimes neles praticados (Cód. Penal art. 5.o, § 1.o, 1.a parte).
Com relação aos navios privados, quando em alto-mar, seguem a lei da bandeira que
ostentam. Quando surtos em portos estrangeiros, ou em mares territoriais estrangeiros,
seguem a lei do país em que se encontram (art. 5.o, § 1.o, 2.a parte). Sobre o assunto,
teceu Basileu Garcia as seguintes considerações:
E é ainda Damásio E. de Jesus que, citando Basileu Garcia, questiona onde deve ser
processado o marinheiro que, pertencendo a navio público, desce em porto de outro
Estado e pratica um crime? E emenda a seguir dizendo que, se desceu a serviço do
navio, fica sujeito à lei penal da bandeira que o mesmo ostenta. Se, porém, desceu por
motivo particular, fica sujeito à lei local.
Casuística
l Bibliografia
l Apêndice.
ART.1 - O mar territorial brasileiro compreende uma faixa de doze milhas marítimas de
largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular brasileiro,
tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente no
Brasil.
Parágrafo único. Nos locais em que a costa apresente recortes profundos e reentrâncias
ou em que exista uma franja de ilhas ao longo da costa na sua proximidade imediata,
será adotado o método das linhas de base retas, ligando pontos apropriados, para o
traçado da linha de base, a partir da qual será medida a extensão do mar territorial.
§ 1º A passagem será considerada inocente desde que não seja prejudicial à paz, à boa
ordem ou à segurança do Brasil, devendo ser contínua e rápida.
ART.4 - A zona contígua brasileira compreende uma faixa que se estende das doze às
vinte e quatro milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para
medir a largura do mar territorial.
ART.6 - A zona econômica exclusiva brasileira compreende uma faixa que se estende
das doze às duzentas milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que
servem para medir a largura do mar territorial.
ART.7 - Na zona econômica exclusiva, o Brasil tem direitos de soberania para fins de
exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou
não-vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo, e no
que se refere a outras atividades com vistas à exploração e ao aproveitamento da zona
para fins econômicos.
ART.8 - Na zona econômica exclusiva, o Brasil, no exercício de sua jurisdição, tem o
direito exclusivo de regulamentar a investigação científica marinha, a proteção e
preservação do meio marinho, bem como a construção, operação e uso de todos os
tipos de ilhas artificiais, instalações e estruturas.